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PAISAGEM, FOTOGRAFIA E MAPAS AFETIVOS: UM DIÁLOGO ENTRE A GEOGRAFIA CULTURAL E A PSICOLOGIA AMBIENTAL
SILVIA HELENY GOMES DA SILVA; ZULMIRA ÁUREA CRUZ BOMFIM; OTÁVIO JOSÉ LEMOS COSTA
SILVIA HELENY GOMES DA SILVA; ZULMIRA ÁUREA CRUZ BOMFIM; OTÁVIO JOSÉ LEMOS COSTA
PAISAGEM, FOTOGRAFIA E MAPAS AFETIVOS: UM DIÁLOGO ENTRE A GEOGRAFIA CULTURAL E A PSICOLOGIA AMBIENTAL
LANDSCAPE, PHOTOGRAPHY AND AFFECTIVE MAPS: A DIALOGUE BETWEEN CULTURAL GEOGRAPHY AND ENVIRONMENTAL PSYCHOLOGY
PAISAJE, FOTOGRAFÍA Y MAPAS AFETIVOS: UN DIÁLOGO ENTRE LA GEOGRAFÍA CULTURAL Y LA PSICOLOGÍA AMBIENTAL
GEOSABERES: Revista de Estudos Geoeducacionais, vol. 10, núm. 21, pp. 1-22, 2019
Universidade Federal do Ceará
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Resumo: O artigo discute a apreensão da realidade a partir da categoria de análise paisagem, pela perspectiva da geografia cultural e da psicologia ambiental. Para tanto, tomou-se como recorte de estudo o campus do Itaperi, na Universidade Estadual do Ceará (UECE), com o objetivo de conhecer como as relações afetivas são tecidas entre os estudantes e a universidade. Evidenciando como a apreensão da paisagem provoca afetos nos indivíduos e possibilita múltiplas maneiras de expressar a sua experiência sobre os lugares. A metodologia adotada foi a do Instrumento Gerador de Mapas Afetivos (IGMA).O estudo revela os sentimentos que permeiam a vivência cotidiana dos estudantes com a universidade, através das imagens de pertencimento, agradabilidade, insegurança e destruição elucidadas pelos mapas afetivos.

Palavras-chave:PaisagemPaisagem, Fotografia Fotografia, Mapas Afetivos Mapas Afetivos, Afetividade Afetividade, Campus do Itaperi Campus do Itaperi.

Abstract: The article discusses the apprehension of reality from the category of landscape analysis, from the perspectives of cultural geography and environmental psychology. To do so, the Itaperi campus, at the State University of Ceará (UECE), was taken as study, with the objective of knowing how affective relationships are woven between students and the university. By showing how the apprehension of the landscape causes feelings in individuals and enables multiple ways of expressing their experience about places. The methodology adopted was that of the Affective Maps Generator Instrument (IGMA). The study reveals the feelings that permeate the daily experience of students with the university, through the images of belonging, pleasantness, insecurity and destruction elucidated by affective maps.

Keywords: Landscape, Photography, Affective Maps, Affectivity, Itaperi Campus.

Resumen: El artículo discute la aprehensión de la realidad a partir de la categoría de análisis paisaje, a partir de las perspectivas de la geografía cultural y de la psicología ambiental. Para ello, se tomó como recorte de estudio el campus del Itaperi, en la Universidad Estatal de Ceará (UECE), con el objetivo de conocer cómo las relaciones afectivas son tejidas entre los estudiantes y la universidad. Evidenciando cómo la aprehensión del paisaje provoca afectos en los individuos y posibilita múltiples maneras de expresar su experiencia sobre los lugares. La metodología adoptada fue la del Instrumento Generador de Mapas Afectivos (IGMA). El estudio revela los sentimientos que permean la vivencia cotidiana de los estudiantes con la universidad, a través de las imágenes de pertenencia, agradabilidad, inseguridad y destrucción elucidadas por los mapas afectivos.

Palabras clave: Paisaje, Fotografía, Mapas Afectivos, Afecto, Campus del Itaperi.

Carátula del artículo

PAISAGEM, FOTOGRAFIA E MAPAS AFETIVOS: UM DIÁLOGO ENTRE A GEOGRAFIA CULTURAL E A PSICOLOGIA AMBIENTAL

LANDSCAPE, PHOTOGRAPHY AND AFFECTIVE MAPS: A DIALOGUE BETWEEN CULTURAL GEOGRAPHY AND ENVIRONMENTAL PSYCHOLOGY

PAISAJE, FOTOGRAFÍA Y MAPAS AFETIVOS: UN DIÁLOGO ENTRE LA GEOGRAFÍA CULTURAL Y LA PSICOLOGÍA AMBIENTAL

SILVIA HELENY GOMES DA SILVA
Universidade Federal do Ceará, Brasil
ZULMIRA ÁUREA CRUZ BOMFIM
Universidade Federal do Ceará, Brasil
OTÁVIO JOSÉ LEMOS COSTA
Universidade Estadual do Ceará, Brasil
GEOSABERES: Revista de Estudos Geoeducacionais, vol. 10, núm. 21, pp. 1-22, 2019
Universidade Federal do Ceará

Recepção: 21 Agosto 2018

Aprovação: 01 Abril 2019

INTRODUÇÃO

Cada indivíduo tece relações com as pessoas e os lugares à sua volta, e tomar conhecimento dessa gama de subjetividades requer uma abordagem interdisciplinar do assunto, já que tão variada quanto a mente são também os lugares e a maneira como se reage a eles.

Neste viés, o diálogo entre Geografia Cultural e Psicologia Ambiental dão suporte para a investigação do efeito dos ambientes sobre o comportamento das pessoas, corroborando a influência ambiental na psique humana, e vice-versa. Essa abordagem de vertente humanista, onde tanto homem e meio são elementos fundamentais na construção do espaço, com seus lugares, paisagens e territórios, enriquece o entendimento geográfico da realidade.

Para o presente artigo, teve-se como ponto de partida as relações afetivas construídas entre estudantes e a Universidade Estadual do Ceará (UECE). Investigar quais afetos perpassam esse encontro do ser estudantil e o meio ao qual ele encontra cotidianamente, é um interessante caminho a ser percorrido para se compreender o universo simbólico e subjetivo que cada pessoa constrói a partir dos lugares vivenciados.

Desta forma, utilizou como aporte metodológico o Instrumento Gerador de Mapas Afetivos (IGMA), desenvolvido por Bomfim (2010), onde se elucida imagens de pertencimento, agradabilidade, insegurança e destruição resultantes da relação entre o indivíduo e o meio. Para tanto, a fotografia também foi utilizada enquanto ferramenta metodológica junto dos mapas afetivos.

O SURGIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL E DO CONCEITO DE PAISAGEM

Nas décadas de 1950, 1960 e 1970 não houve uma grande valorização do homem enquanto modificador do espaço geográfico e nem sua consideração enquanto rico campo de estudos, o que fez com que métodos puramente racionalistas vigorassem. Dentro desse contexto, a Geografia Cultural passou por inúmeros momentos para ser considerada como um campo de investigações pertinente, ela que tem como base a cultura enquanto fenômeno que se espacializa nos seres e nos lugares. A cultura foi negligenciada dos estudos geográficos po bastante tempo, embora fosse citada de forma superficial em muitos trabalhos. A assimilação deste conceito ocorreu de forma lenta e limitada, entretanto foi fundamental para edificar um maior embasamento à Geografia.

De acordo com Corrêa e Rosendahl (2012, p. 7),

A geografia cultural, apresenta dois caminhos principais, ao longo dos quais as pesquisas são realizadas. Ambos distinguem-se entre si, sobretudo pela gênese e pelo percurso de cada um e pelo conceito de cultura adotado. Geografia cultural saueriana ou Escola de Berkeley e nova geografia cultural ou geografia cultural pós-80 designam os dois caminhos.

Carl Ortowin Sauer foi o precursor da Geografia Cultural, pois foi ele o primeiro a incorporar o conceito de cultura nos estudos geográficos, e partiu da influência da teoria norte-americana antropológica, desenvolvida por Alfred Kroeber e Robert Lowie, durante os primeiros anos do século XX. Teoria esta que considerava a cultura enquanto uma entidade supra-orgânica que pairava sobre os indivíduos e que determinava as suas ações, sendo estes últimos desprovidos da capacidade de incorporar e disseminar a cultura para outros. O maior erro desta concepção foi considerar o ser humano como agente passivo no processo cultural, analisando-o apenas por suas manifestações materiais.

Com a publicação do clássico "A Morfologia da Paisagem", em 1925, Sauer esquadrinhou os primeiros caminhos para o estudo da paisagem pela geografia. A definiu como "uma área composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e culturais" (SAUER, 2012, p. 187). Para tanto, classificou a paisagem em natural e cultural ou geográfica, onde ambas podem se relacionar e complementar. A natural diz respeito aos elementos físicos, tais como: vegetação, solo, relevo, hidrografia, clima etc. A cultural ou geográfica se refere à modificação da natureza pelo homem, tais como a construção de moradias e suportes de descolamento etc. Logo, a paisagem cultural apresenta como sustento o processo que lhe fabrica, a função que lhe dá finalidade e a forma que lhe representa visivelmente.

Processo, forma e função estão arraigados nos estudos de Sauer sobre a paisagem, constituindo a sua proposta da morfologia da paisagem, cuja identidade se determina pela visibilidade da forma. Carl Sauer foi um dos nomes que deram corpo ao que se chamou Geografia Cultural Tradicional, contudo, apenas os aspectos materiais já não explicavam a variedade que se chegou a influência das culturas no mundo.

É válido lembrar que o conceito de paisagem assim como o de cultura são polissêmicos e não possuem apenas uma linha de entendimento. A Geografia absorveu o termo paisagem da arte, mais especificamente da pintura desenvolvida nos Países Baixos, sob a forma de landskip, no século XV. A landskip representava um pedaço da natureza que podia ser vista a partir de uma janela. Na língua alemã é traduzida como landschaft, no inglês como landscape e no italiano traz a extensão de pays criando paesaggio de onde a derivação do termo em francês acontece.

A pintura busca reproduzir objetivamente um fragmento da natureza, mas o ponto de observação, o ângulo e o enquadramento da vista resultam de uma escolha. Existe, portanto, uma dimensão subjetiva na base de uma representação que se deseja tão fiel quanto possível. (CLAVAL, 2012, p. 246)

Diferentemente de antes, agora a cultura passa a ter uma conotação mais ampla e capaz de contemplar as várias extensões que os indivíduos carregam em sim. Paul Claval (2007, p. 63) explicita, dessa forma, que:

A cultura é a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em uma outra escala, pelo conjunto dos grupos de que fazem parte. A cultura é herança transmitida de uma geração a outra. Ela tem raízes num passado longínquo, que mergulha no território onde seus mortos são enterrados e onde seus deuses se manifestaram. Não é, portanto, um conjunto fechado e imutável de técnicas e de comportamentos. Os contatos entre povos de diferentes culturas são algumas vezes conflitantes, mas constituem uma fonte de enriquecimento mútuo. A cultura transforma-se, também, sob o efeito das iniciativas ou das inovações que florescem no seu seio.

Essa abordagem mais ampla do que era a cultura e como ela influenciava fez com que novas concepções tivessem espaço para dentro do debate científico. Cenário este que repercutiu na constituição da chamada Nova Geografia Cultural, Geografia Cultural Renovada ou Geografia Cultural Pós-80.

Augustin Berque teceu vigorosas contribuições quando lançou em 1984 um trabalho de pequena extensão, porém seminal, "Paisagem-marca, paisagem-matriz: elementos da problemática para uma Geografia Cultural", nele são efetuadas considerações importantes que perduram até os dias atuais. Berque (2012) enfatiza o sentido da paisagem como elemento fundamental na abordagem cultural, pois nele está contido os motivos pelos quais uma paisagem é produzida, reproduzida e transformada. Ela é marca, pois possui materialidade e representa um passado em convívio com o presente, ao mesmo tempo que é matriz, participa dos esquemas de percepção e valores que os indivíduos são providos. Participando de um esquema de percepção, de concepção e de ação, ou seja, que determina a cultura. Ainda conforme as palavras de Berque (2012, p. 86),

É preciso compreender a paisagem de dois modos: por um lado ela é vista por um olhar, apreendida por uma consciência, valorizada por uma experiência, julgada (e eventualmente reproduzida) por uma estética e uma moral, gerada por uma política, etc. e por outro lado, ela é matriz, ou seja, determina em contrapartida, esse olhar, essa consciência, essa experiência, essa estética e essa moral, essa política.

Fica evidente que cada indivíduo percebe o mundo diferentemente e é ele quem gera o sentido para a realidade em que habita. A sociedade também desempenha valores sobre o meio, contudo, é o ser humano quem vai determinar as suas próprias percepções e sentimentos em relação às suas experiências. É a dita paisagem plurimodal que Berque (2012) comenta, aquela que exerce forças sobre o homem, podendo ser ativa, passiva, potencial etc; e que é tanto direta (impõe valores) quanto indireta (cria várias percepções). As paisagens traduzem muito de cada cultura e estão eivadas de múltiplos significados.

Denis Cosgrove foi outro nome importante, pois seus estudos puseram as análises geográficas em contato direto com o mundo das significações, percepções, simbologias, sentimentos e emoções, uma verdadeira poética do saber geográfico. Cosgrove considerava que as paisagens possuem camadas de significados, cabendo ao geógrafo descobrir essas significações. Como ele mencionou: "A paisagem, de fato, é uma "maneira de ver", uma maneira de compor e harmonizar o mundo externo em uma "cena", em uma unidade visual" (COSGROVE, 2012, p. 223). Isto é, o significado de cada paisagem representa uma forma de percepção e sentimento para cada ser humano. Pensa-se imageticamente e constrói-se um mundo de signos e representações de acordo com as percepções e sensações de mundo. Portanto, a paisagem não se refere unicamente aos olhos, mas a todos os outros sentidos e imaginário que concerne a capacidade da mente humana.

Cosgrove propôs a classificação das paisagens em: paisagens da cultura dominante e paisagens alternativas. As primeiras dizem respeito a classe abastarda, e as segundas são representadas por grupos menos favorecidos economicamente e socialmente falando. Sendo as paisagens alternativas subdivididas em: residuais, emergentes e excluídas. As residuais são estabelecidas pelas paisagens que restaram, muito antigas, que estão esquecidas e que geralmente concebem o passado em sua configuração. As emergentes são aquelas de caráter efêmero e transitório, comumente desafiam a cultura dominante, por exemplo, a cultura hippie. As excluídas dizem respeito às paisagens marginalizadas, como as favelas, os locais onde os moradores de ruas habitam, as ruas onde as prostitutas trabalham etc.

Donald William Meining (2003), outra referência, propôs que a paisagem pode ser concebida de diversas formas e que ela não diz respeito somente ao que se manifesta frente aos nossos olhos, mas, sobretudo, ao que se esconde em nossas mentes. Segundo Meining (2003), a paisagem pode ser considerada como uma cena em que cada pessoa pode interpretá-la enquanto: I) Natureza, II) Habitat, III) Artefato, IV) Sistema, V) Problema, VI) Riqueza, VII) Ideologia, VIII) História, IX) Lugar e X) Estética. Embora as versões apresentadas das cenas que constituem a paisagem tenham sido apenas dez, Meining garante que as possibilidades de concepções da mesma não estão esgotadas nessa numerologia. Pois enquanto houverem apropriações do espaço geográfico, constantemente serão criadas novas ideias, cores, geometrias distintas etc. Ou seja, as construções e concepções de paisagem existirão enquanto existir vida.

Diferentemente da Geografia Cultural Tradicional, a Geografia Cultural Renovada ganha bastante expressão na década de 1980, justamente por esse "espraiamento" que os estudos de cunho cultural ganharam em relevância. Sabe-se que as resistências para que este campo de pesquisa fosse efetivado foram expressivas e que houveram inúmeros obstáculos para frear essas novidades no cenário acadêmico. A Geografia Cultural Renovada foi uma urgência de resposta para um mundo que se desenhava metamorfoseado a cada instante.

FOTOGRAFIA E GEOGRAFIA: CONVERSAÇÕES

A fotografia tem na sua história um engendrado de fios conectores de várias gerações e consequentes pensamentos. Cada contexto cultural se relaciona com ela de uma forma diferenciada e a utiliza de acordo com os seus desejos, ideologias e prazeres. Não se pode desconsiderar que uma infinidade de pessoas teve forte contribuição para que hoje se tenha esse arsenal de imagens sobre a humanidade, desde momentos fugazes até os considerados históricos no âmbito da política e das relações humanas. Desvencilhar os percalços da sua origem até a sua disseminação nos dias atuais seria pôr em risco partes importantes da sua constituição. Logo, pode-se comprovar com total certeza que o mundo-imagem desempenha uma forte influência no viés social, político, econômico e psicológico no espaço geográfico. A era da informação nunca se aproveitou tanto do poder que as imagens podem desempenhar na homogeneização de valores, condutas e saberes. Para além de entender essas teias de signos e significados que circulam no espaço físico e virtual, é necessário ter consciência dos efeitos que as imagens exercem na vida das pessoas e nos lugares.

De acordo com Costa (2003, p. 33), na abordagem sob a ótica da geografia,

O caráter simbólico dos lugares revela-se ao ser humano como algo que precede a linguagem e a razão discursiva, apresentando assim determinados aspectos do real, enfatizando as relações entre simbólico e o lugar. Estas relações são mediatizadas pelos símbolos que podem ser uma realidade material e que se unem a uma idéia, um valor, um sentimento. Entendemos, portanto, que as mediações simbólicas permeiam as atitudes pessoais em relação aos lugares de afetividade do reencontro.

A partir do trecho mencionado anteriormente, afirma-se que o caráter simbólico dos lugares perpassa pela relação de troca do indivíduo para com o meio e não se pode excluir também o papel que as imagens desempenham na construção desse lugar simbólico. Estas relações são mediatizadas pelos símbolos, ou seja, condição esta na qual as imagens não estão imunes. Pois cada indivíduo guarda imagens e memórias dos lugares que de alguma forma o tocou. Retrocedendo na visão histórica da ciência geográfica, sabe-se que a tradição do uso das imagens sempre foi classificada enquanto registro e documentação, para isto Gomes (2013) elucidou este pensamento corroborado por alguns autores:

Na longa história da Geografia, essas imagens foram mapas, desenhos, gravuras, pinturas, fotografias, blocos, diagramas, fluxogramas, esquemas, gráficos, tabelas e filmes etc, como nos foi dito em inúmeras oportunidades (BRUNET, 1980; HARLEY e WOODWARD, 1987; DANIELS, 1993; ANGOTTI-SALGUEIRO, 2005; CASTI, 2007; HERNANDO, 2009 apud GOMES, 2013, p.29)

Sob a perspectiva de Gomes (2013), as imagens foram utilizadas muito mais como ilustração do que um instrumento de percepção do mundo. Onde as mesmas poderiam muito bem serem empregadas como elemento primário de pesquisa, e não sendo negligenciadas. Pois elas são artefatos visuais muito potentes de percepção e compreensão do mundo, justamente por convocarem as sensibilidades e a potência da observação. Falar de imagens é falar de lugares, já que cada uma delas diz respeito a uma determinada localização espacial e temporal. Nesse contexto, a fotografia cabe perfeitamente e pode oferecer uma vastidão de possibilidades de olhares sobre a realidade.

Atualmente, o ato da experiência só é validado quando é convertido em recurso imagético, as pessoas estão demonstrando suas sensações e momentos cada vez mais a partir da uso da imagem fotográfica. Diferentemente de tempos passados, quando apenas os rituais de passagem eram registrados e colecionados nos famosos álbuns de família, na nova era da informação, a fotografia instantânea ganhou espaço e uma aceitação contundente. Não registrar é, bem dizer, não viver o momento.

No cenário da construção das bases da geografia, conforme apontou Gomes (2013), a observação foi o pilar mestre da evolução dos métodos de pesquisa. Ainda segundo Gomes (2013, p. 8-9):

Desde o final do século XVIII, ficou claro, pela voz de Alexandre von Humboldt, para todos aqueles que praticariam a geografia, que a contemplação da diversidade terrestre unia duas grandes fontes de prazer: aquela advinda da sensibilidade estética e aquela proveniente da possibilidade de compreensão dos fenômenos observados. A observação ou, para usar o vocabulário da época, a contemplação foi um atributo básico da Geografia Clássica. Nos anos mais recentes, no entanto, esse procedimento foi aos poucos sendo relegado e passou mesmo a ser malvisto, como se a observação não pudesse nos ensinar. Atualmente, a tendência mais valorizada é criar quadros teóricos cada vez mais complexos e enfeitados de muitos novos conceitos e expressões sem que isso, entretanto, mantenha qualquer correspondência necessária com um quadro de análise empírico. Por isso, as imagens perderam seu lugar como elementos de análise; no máximo, elas são tomadas como exemplos, meras ilustrações de propósitos autônomos, gerados independentemente de qualquer observação. O trabalho de campo em geografia se transformou assim em um procedimento metodológico secundário, momento de coleta de dados ou simples recurso pedagógico, demonstração de um saber que se constrói fora da observação.

Gomes (2013), faz uma crítica dura a essa desvalorização da observação e da imagem, quando na verdade se poderia utilizá-las para potencializar e enriquecer o trabalho teórico e empírico desenvolvido pelos pesquisadores. Atentar-se para essa questão é de uma urgência necessária, pois a fotografia representa uma linguagem não verbal rica de possibilidades de usos e discussões. O autor anteriormente citado dá um bom exemplo quando relata sobre a experiência do olhar móvel na vida cotidiana das cidades modernas.

Três são, portanto, as diferenças fundadoras da observação urbana: um olhar que se desloca, vagueia e escolhe; um olhar que é reflexivo, que é parte daquilo que observa; uma narrativa que não está fechada, organizada para um tipo de olhar, orientada para uma posição. (GOMES, 2013, p. 230)

Tais reflexões dão sustentação para esta proposta de aprofundamento nas subjetividades de cada olhar que foi pesquisado neste trabalho. É esse olhar que vagueia, que é reflexivo e que narra algo que se busca explicitar nas linhas que seguem. Para tanto, a fotografia foi uma das ferramentas utilizadas junto com os mapas afetivos construídos por cada entrevistado da pesquisa.

MAPAS AFETIVOS E O ESTUDO DA AFETIVIDADE NO CAMPUS DO ITAPERI

Yi-Fu Tuan (2012) denominou de topofilia o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. É o que ele chama de amor humano pelo lugar, uma espécie de sentimento que liga o homem às raízes mais profundas de um ambiente. Porém, ressalta que com o advento da globalização e os fluxos velozes de informações, a maneira de relacionamento das pessoas com os lugares tem mudado drasticamente. Segundo Tuan (2012, p. 142), é problemático pensar em uma relação saudável com o meio em que se vive, pois "para viver o homem deve ver algum valor em seu mundo".

Deste modo, compreender o sentido de lugar é vital para definir como as pessoas estão conectando as suas experiências entre elas mesmas e com os lugares a sua volta. . Pois "é no lugar que os problemas nos atingem de forma mais dolorida, e é também nele que podemos melhor nos fortalecer" (MANDAROLA JÚNIOR, 2012, p. 17).

Proponho que se defina o lugar como um centro de significados e, por extensão, um forte elemento de comunicação, de linguagem, mas que nunca seja reduzido a um símbolo despido de sua essência espacial, sem a qual torna-se outra coisa, para a qual a palavra "lugar" é, no mínimo, inadequada. (HOLZER, 1999, p. 76)

O que Holzer (1999) propôs foi que a definição de lugar é um rico campo de significados, onde a partir da comunicação e da linguagem ele se espacializa nas pessoas e na maneira como elas se relacionam com o mundo. Ou seja, falar de lugar é abrir um leque de interpretações que permeiam o campo do simbólico e seus consequentes significados, que só são possíveis a partir da sua dimensão espacial.

Para a presente análise tomou-se como foco a Universidade Estadual do Ceará (UECE), mais especificamente o campus do Itaperi, localizado em Fortaleza (CE). O mapa abaixo (Figura 1) mostra a grande extensão da instituição e ressalta que a mesma está circunscrita entre o bairro do Dendê e o bairro Itaperi, ambos pertencentes à Secretaria Executiva Regional - SER IV.



Figura 1 - Mapa de localização do Campus do Itaperi na cidade de Fortaleza.
Fonte: Elaborado por Yan de Abreu Gomes Vasconcelos (2017).

Dialogando a Geografia com a Psicologia Ambiental e Social é possível acessar conteúdos que contribuem com o presente trabalho. Estudar como ocorre essa relação entre pessoa e ambiente é reconhecer a interdisciplinaridade que perpassa tal abordagem. A Psicologia Ambiental é definida como o ramo de estudo da psicologia que estuda o comportamento humano em sua inter-relação com o meio ambiente, este inserido em um contexto social. Já a Psicologia Social é o ramo de estudo da psicologia que estuda o comportamento do indivíduo perante as suas relações sociais. Ou seja, tanto os estudos geográficos quanto os psicológicos ambientais e sociais conversam estreitamente nessa perspectiva.

As considerações no viés da Psicologia Ambiental também contribuem muito para entender o sujeito dentro do seu contexto ambiental. Como aponta Moser (1998, p. 8),

[...] a especificidade da Psicologia Ambiental é a de analisar como o indivíduo avalia e percebe o ambiente e, ao mesmo tempo, como ele está sendo influenciado por esse mesmo ambiente. É fato bastante conhecido que determinadas especificidades ambientais tornam possíveis algumas condutas, enquanto inviabilizam outras.

As pessoas influenciam no meio ao mesmo tempo em que são influenciadas por ele, gerando-se condutas pró-ambientais ou não. O espaço físico exerce um papel relevante, assim como a dimensão temporal também. Já que o ser humano é um ser histórico e social. Nessa perspectiva, tem-se que considerar que nessa interseção entre espaço físico e pessoa um emaranhado de afetos são estabelecidos. Entendê-los é um desafio que pode gerar novas descobertas quanto aos sentimentos que movem o indivíduo.

Na Psicologia Social, uma categoria analítica bastante rejeitada foi a afetividade, vista muitas vezes como perturbadora da razão e não como parte dela. O que fez com que os estudos racionalistas fossem predominantes durante um longo tempo, principalmente com os testes psicométricos tão difundidos por épocas. Contudo, essa consideração começou a perder espaço e as leituras de Vygotsky germinaram frutíferas contribuições a respeito do subjetivo ligado ao campo das emoções. De acordo com o citado autor,

Toda emoção é um chamamento à ação e ao pensamento ou renúncia a eles. Nenhum sentimento pode permanecer indiferente ou infrutífero no comportamento. As emoções são esse organizador interno das nossas ações e pensamentos que retesam, excitam, estimulam ou inibem essas ou aquelas reações. (VYGOTSKY, 2001, p. 139)

Ou seja, Vygotsky (2001) reconheceu a importância da emoção enquanto organizadora interna das ações humanas, logo, é reconhecível que toda objetividade parte da subjetividade. A Psicologia Social em sua vertente histórico-cultural, tal como proposto também pelas ideias de Vygotsky, busca compreender os fenômenos psicossociais na confluência com o mundo simbólico existente, onde cada indivíduo tem as suas concepções singulares e coletivas.

Kelvin Lynch, famoso urbanista e escritor, teceu uma formidável base conceitual sobre a relação do indivíduo com o ambiente a partir dos chamados mapas cognitivos, estes como expressão do mundo simbólico que atravessa essa relação. Segundo Lynch (2000, apud BOMFIM, 2010, p. 84), "Todo ciudadano tiene largos vínculos con una u otra parte de su ciudad, y su imagen está embebida de recuerdos y significados". Pode-se ler o espaço.

Ele propôs que todo cidadão tem largos vínculos com a cidade ou com qualquer outro lugar que habite, não sendo algo homogêneo e que varia de indivíduo para indivíduo e pode ser expressado por sentimentos distintos. Lynch (2000 apud BOMFIM, 2010) afirmou que a percepção ambiental dos sujeitos pode ser analisada segundo três elementos: estrutura, identidade e significado. Onde a identificação implica a capacidade de distinguir um objeto de outras coisas, implicando a sua identidade que lhe é particular. A estrutura se refere à viés espacial da relação do objeto com o observador.

É inegável que o desenvolvimento dos mapas cognitivos contribuiu e muito para um aprofundamento no conhecimento sobre as percepções, porém, uma lacuna que ficou aberta até hoje foi a referente aos significados, já que Lynch valorizava mais os elementos identidade e estrutura na representação urbana. O componente afetivo, os ditos significados, então, se apresentaram como um fértil campo a ser pesquisado. Dessa forma, Bomfim (2010) desenvolveu uma metodologia de apreensão dos afetos através de recursos imagéticos (metáforas e desenhos) como elementos básicos para a elaboração e compreensão dos chamados mapas afetivos. Estes que têm como base o preenchimento do Instrumento Gerador de Mapas Afetivos (IGMA). Os mapas cognitivos são o ponto inicial, entretanto, ultrapassar as suas potencialidades tomando os significados enquanto elemento fundamental é o que distingue a abordagem feita por Kelvin Lynch da abordagem de Zulmira Bomfim, pois vai além da representação e atinge a significação que as pessoas conferem ao meio que estão inseridas.

É necessário salientar que esta metodologia de apreensão dos afetos referencia-se na perspectiva histórico cultural de Vygotsky. Cujos afetos constituem o subtexto da linguagem sobre o objeto estudado, que no IGMA é acessado pela expressão afetiva. Segundo Bomfim (2010, p. 137),

Os desenhos e metáforas são recursos imagéticos reveladores dos afetos que, justamente com a linguagem escrita dos indivíduos pesquisados, nos dão um movimento de síntese do sentimento. O desenho é a criação de uma situação de aquecimento para a expressão de emoções e sentimentos e a escrita traduz a dimensão afetiva do desenho. As metáforas são recursos de síntese, aglutinadores da relação entre significados, qualidades e sentimentos atribuídos ao desenho.

O IGMA possui elementos em sua composição, tais como: a) o desenho, b) o significado do desenho, c) sentimentos, d) palavras-síntese, e) o que pensa da cidade, f) categorias da escala Likert (o sujeito responde a essa escala de respostas psicométricas, baseadas nos níveis de 1 a 5, cujas variáveis pertencimento, agradabilidade, insegurança e destruição aparecem - porém para esse estudo não será utilizada); g) comparação da cidade, h) caminhos percorridos e i) características sociodemográficas. As imagens que emergem dos mapas afetivos são as de pertencimento (onde a pessoa se identifica com o lugar), agradabilidade (onde ela sente sensações de prazer ao estar nele), medo (temer algo) e insegurança (estar sujeito a ser surpreendido por algum coisa ruim). Tais imagens não são reveladas no desenho, mas no significado que cada pessoa descreve sobre o ambiente.

Foi adicionado aos mapas afetivos a linguagem fotográfica enquanto complemento sobre os lugares que foram representados nas entrevistas. Todas as fotografias foram feitas pela pesquisadora e unidas aos desenhos criados pelos respondentes, associando o desenho ao lugar referenciado na realidade, transposição esta representada pela fotografia. O Quadro 1 apresenta a estrutura dos mapas afetivos, esclarecendo como ele é respondido. Vale destacar que tal configuração atende à pesquisa sobre as cidades de Barcelona e São Paulo, que Bomfim (2010) desenvolveu em sua tese.

O público entrevistado, ou grupo focal (como denomina a Psicologia), foram alunos da graduação de semestres e cursos variados para que se tenha um parâmetro geral dos vários olhares sobre a universidade. Foram realizadas a aplicação de 15 questionários (tal número justifica-se pelo intuito de aprofundar melhor cada mapa afetivo, primando pela qualidade e não pela quantidade), subdivididas em três partes, onde foram cinco para alunos do período da manhã, cinco para alunos da tarde e cinco para alunos da noite, onde cada um realmente pertencia ao período do dia que foi incluso. Esta preferência foi adotada para saber se o turno altera a interação dos estudantes com o campus do Itaperi, haja vista, que no período da noite a grande maioria dos alunos são trabalhadores, ou seja, trabalham pela manhã e/ou tarde e estudam pela noite. A estrutura do mapa afetivo foi alterada para melhor organizar com a fotografia, contudo, todas as partes continuam presentes.


Quadro 1 - Síntese do processo de categorização voltado para a elaboração do mapa afetivo da cidade

Elaborado por: Bomfim (2010).

O primeiro mapa afetivo aplicado foi o M1 (manhã 1), cuja entrevistada do curso de pedagogia compara o campus do Itaperi a uma casa. A imagem de contraste revela sentimentos ambíguos, entre amor e receio, porém mesmo assim é um considerado um lugar maravilhoso, apesar das condições estruturais e de segurança do campus. O contraste aqui expresso é potencializador, já que os sentimentos não se apresentam de forma negativa e remetem à agradabilidade. A estima de lugar é positiva.



Quadro 2 - Mapa afetivo M1
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo M2 (manhã 2), a entrevistada do curso de Pedagogia comparou o campus à vida, onde a imagem obtida foi de contraste, os sentimentos revelados foram de paz e amor e medo e angústia. Uma constatação feita na aplicação dos mapas foi de que os sentimentos não estão limitados à pergunta que se refere à eles em si, mas que aparecem nas demais respostas do questionário. O contraste é potencializador devido ao predomínio de sentimentos positivos.



Quadro 3 - Mapa afetivo M2
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo M3 (manhã 3), a entrevistada do curso de Geografia comparou o campus a um presente, a imagem de contraste aparece, cujos sentimentos foram os de felicidade, estresse, medo, surpresa, admiração, incerteza, insegurança. O campus-presente é aquele que você não sabe qual reação vai sentir quando descobrir, pois é imprevisível e desencadeia várias mudanças de pensamentos e comportamentos durante o convívio dentro da universidade. Ela também menciona questões sobre a precarização, falta de liberdade e insegurança dentro do campus, ao mesmo tempo que fala sobre o Itaperi como um lugar de encontros e experiências, onde você não sai sendo a mesma pessoa de quando entrou.



Quadro 4 - Mapa afetivo M3
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo M4 (manhã 4), a entrevistada do curso de Nutrição comparou o campus a um furacão/mar, onde a imagem obtida foi de contraste, pois desvendou sentimentos de agonia, tristeza, cansaço, amizade e afeto. Ela adverte que dentro da universidade acontece muito assalto, e menciona que apesar dessas intempéries de insegurança e sentimentos de agonia que se assemelham a um furacão, o campus também se assemelha ao mar por oferecer locais que trazem uma enorme tranquilidade.



Quadro 5 - Mapa afetivo M4
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo M5 (manhã 5), a entrevistada do curso de Nutrição revelou uma imagem de contraste, onde os sentimentos que traduzem tal constatação são os de amizade, tristeza, cansaço, afeto, compaixão, euforia, nostalgia, desespero e insegurança. O mapa dela é metafórico e a mesma comparou a UECE a uma balada, pois proporciona encontros com pessoas de pensamentos, ideias e estilos de vida diferentes. Ela inda menciona a grande quantidade de gatos dentro da instituição e como eles têm um valor simbólico que remete a memórias de acontecimentos de outrora.



Quadro 6 - Mapa afetivo M5
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo T1 (tarde 1), a entrevistada do curso de Matemática desenhou um mapa cognitivo representando uma praça de entrada da UECE. A imagem revelada por esse mapa é de agradabilidade, que é confirmada pelos sentimentos de liberdade, alegria, bem-estar, conforto, ar e poesia. Ela compara o campus a uma escola, pois ela se sente tão bem na universidade quanto se sentia na escola onde estudava.



Quadro 7 - Mapa afetivo T1
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo T2 (tarde 2), a entrevistada do curso de Matemática expôs um desenho cognitivo que representa os corredores abertos da UECE. A imagem que emerge é a de contraste, justamente porque os sentimentos listados foram de tranquilidade, insegurança, agradabilidade e perigo. Ela comparou o campus a uma casa antiga, onde é como se fosse uma segunda casa em que ela gosta de ficar, apesar da estrutura desgastada e a falta de segurança.



Quadro 8 - Mapa afetivo T2
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo T3 (tarde 3), o entrevistado do curso de Enfermagem comparou o campus a uma grande praça ao ar livre, onde os sentimentos de tranquilidade, bem-estar, harmonia, paz a amor são os mais sentidos por ele. Apesar da insegurança retratada pelo aluno em outros tópicos do mapa afetivo, a estrutura precária dos blocos e a falta de incentivo financeiro, a UECE é um lugar que transmite paz e é considerada um ótimo campus. A imagem que emerge deste mapa é a de agradabilidade.



Quadro 9 - Mapa afetivo T3
Fonte: Elaborado pelos autores.

O mapa afetivo T4 (tarde 4), a entrevistada do curso de Química fez um desenho metafórico em que retrata as plantas da UECE e outros elementos. A imagem revelada foi a de contraste, confirmada pelos sentimentos de amor, carinho, alegria, paz, desejo e insegurança. Ela comparou o campus a um abraço por ser um lugar acolhedor.



Quadro 10 - Mapa afetivo T4
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo T5 (tarde 5), o entrevistado do curso de Música comparou o campus a uma gaveta de roupas, onde as coisas são "organizadamente bagunçadas", segundo ele. Os sentimentos que surgiram no mapa foram de prazer, desanimação e oportunidades. Este participante foi o que mais demorou a preencher o instrumento (IGMA), usando aproximadamente uma hora. Ele relatou da dificuldade de falar de sentimentos, tanto que deixou alguns campos em branco. Externalizar o que se sente é uma tarefa difícil para muitas pessoas, e que quando as mesmas são instigadas a falar sobre esse assunto elas ficam confusas e perdidas. A imagem de contraste é a que emergiu e o desenho feito foi a de uma clave, fazendo referência ao curso do aluno entrevistado. O quadro 11, logo abaixo, exibe tais considerações tecidas pelo aluno.



Quadro 11 - Mapa afetivo T5
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo N1 (noite 1), o entrevistado do curso de História comparou o campus ao céu/inferno, em que representa o céu quando recorda dos amigos e das boas experiências que teve neste lugar, e representa o inferno por causa do medo constante dentro do campus e pelo fato das xerox serem caras. Ou seja, a imagem que emerge deste mapa é a de contraste que é ratificada com os sentimentos pelo sentimentos de: alegria, frustração, medo, ansiedade, amor, convivência e diversão. Mais uma vez as questões estruturais e de segurança da universidade foram levantadas. O aluno cursa o primeiro semestre e o seu olhar sobre o campus do Itaperié semelhante a muitos outros nesse quesito.



Quadro 12 - Mapa afetivo N1
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo N2 (noite 2), o aluno do curso de História comparou o campus a uma rede em um escritório, pois é onde se consegue relaxar, mas logo vem à cabeça todas as obrigações que precisam ser cumpridas. O desenho foi metafórico e significa as pessoas interagindo e muitas xerox rondando. A imagem de contraste é confirmada pelos sentimentos de tranquilidade, felicidade, relaxamento, sociabilidade, desespero e insegurança. Sobre uma qualidade apontada no questionário foi que apesar de sucateada pela falta de investimentos do governo, o Itaperi é um lugar aconchegante e liberto. É um lugar de novas descobertas.



Quadro 13 - Mapa afetivo N2
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo N3 (noite 3), o entrevistado do curso de Geografia comparou o campus do Itaperi com o campus Pimenta da URCA. A imagem que emerge é a de agradabilidade e é confirmada pelos sentimentos de amizade, curiosidade, sonho, esperança, amor e realização. O desenho faz referência à letra inicial do curso de geografia que dá nome ao bloco, e que segundo o aluno o símbolo representa o curso como um todo. A agradabilidade é predominante, mesmo frente ao déficit de organização, iluminação e segurança que foram mencionados. O entrevistado diz que o campus é como uma segunda casa, pois faz e aprende o que gosta. Neste momento, duas imagens entraram em conflito, a de agradabilidade e pertencimento, contudo, os sentimentos elencados dizem mais respeito à primeira.



Quadro 14 - Mapa afetivo N3
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo N4 (noite 4), o entrevistado do curso de Serviço Social comparou o campus à câmara dos deputados federais em Brasília. A imagem de contraste emerge através dos sentimentos de tristeza, angústia, raiva, esperança, inclusão, mudança, vida. O desenho apresentado foi o mais impactante de todos os outros da pesquisa. Ele faz referência à insegurança dentro da universidade, em que faca e arma amedrontam os alunos nas abordagens de roubo que sofrem. O aluno denuncia também o descaso do Governo Estadual que contribui para a desvalorização e precarização da instituição. Apesar de todos os pontos negativos listados, esse contraste ainda é potencializador, já que sentimentos de esperança e inclusão resistem dentre tantos outros negativos.



Quadro 15 - Mapa afetivo N4
Fonte: Elaborado pelos autores.

No mapa afetivo N5 (noite 5), a entrevistada do curso de Serviço Social comparou o campus a uma rosa sobre espinhos e lixo. A imagem que emerge é a de contraste, que é confirmada pelos sentimentos de amor, carinho, perigo, insegurança, familiaridade, beleza e encanto. A aluna diz que a UECE é como essa rosa que ela desenhou, pois possui os seus encantos e desencantos. Este mapa afetivo traz embutido em si uma denúncia bastante delicada e antiga sobre a utilização dos banheiros pelo público feminino no turno da noite. Tanto que a aluna externaliza esse sentimento assim: "Tenho medo de ir ao banheiro, pois estudo de noite".



Quadro 16 - Mapa afetivo N5
Fonte: Elaborado pelos autores.

Experimentar os lugares ultrapassa a sua estrutura física e adentra em meandros sentimentais. O campus do Itaperi, enquanto espaço de vários momentos na vida das pessoas, é muito mais que uma instituição, é um lugar de afetividades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das quinze entrevistas realizadas nesta pesquisa, ficou evidente que o campus do Itaperi representa um lugar de múltiplos sentimentos entre os estudantes. Onde vários elementos físicos e simbólicos se misturam nessas relações afetivas construídas cotidianamente com a universidade. Falar de um lugar é dizer sobre a sua estrutura e reconhecer as precariedades, falar das histórias que aconteceram e quais se sonha que aconteçam. É aceitar, acima de tudo, que sentimentos carregam em si a diversidade.

Os mapas afetivos construídos confirmam as muitas nuances que a Universidade Estadual do Ceará (UECE) possui para além da sua definição de instituição de ensino. O campus do Itaperi é reconhecido como um lugar agradável, que causa bons sentimentos e que é um ponto de encontro de pessoas e ideias. Porém, que junto destes, os sentimentos de insegurança, medo e destruição se misturam. Portanto, a afetividade encontrada é polissêmica.

Os resultados demonstraram que a figura de contraste foi a mais presente e que os desenhos metafóricos predominaram nos mapas afetivos, logo, afirma-se uma concepção bastante abstrata do campus do Itaperi. O imaginário dos entrevistados se mostrou bastante fértil. A fotografia foi adotada enquanto mecanismo de memória e narrativa, já que faz referência aos locais que foram listados no IGMA, cujo intuito foi apresentar que a apreensão de um lugar parte sempre de alguma referência espacial do mesmo. Os afetos se espacializam nas pessoas e nos lugares. Como bem ressaltou Tuan (2012, p. 338) "todos os homens compartilham atitudes e perspectivas comuns, contudo, a visão que cada pessoa tem do mundo é única e de nenhuma maneira fútil".

Material suplementar
REFERÊNCIAS
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BOMFIM, Zulmira Áurea Cruz. Cidade e Afetividade: Estima e Construção dos Mapas Afetivos de Barcelona e São Paulo. Fortaleza: Edições UFC, 2010.
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______. A paisagem dos geógrafos. In: CORRÊA, R. e ROSENDAHL, Z. (orgs.). Geografia cultural: uma antologia. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012.
CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny. A geografia cultural brasileira: uma avaliação preliminar. In: CORRÊA, R. e ROSENDAHL, Z. (orgs.). Geografia cultural: uma antologia. Rio de Janeiro: UERJ, 2012.
COSGROVE, Denis. A geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORRÊA, R. e ROSENDAHL, Z. (orgs.). Geografia cultural: uma antologia. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012.
COSTA, Otavio José Lemos. Memória e Paisagem: em busca do simbólico dos lugares. Espaço e Cultura, UERJ, RJ, n. 15, p. 33-40, Jan./Jun. de 2003.
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HOLZER, Werther. O lugar na geografia humanista. Revista Território, Rio de Janeiro, ano 4, n. 7, p. 67-78, jul./dez. 1999.
MANDAROLA JÚNIOR, Eduardo; HOLZER, Werther; OLIVEIRA, Lívia de. (Orgs). Qual o espaço do lugar? geografia, epistemologia, fenomenologia. São Paulo: Perspectiva, 2012.
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VYGOTSKY, L. S. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Notas


Figura 1 - Mapa de localização do Campus do Itaperi na cidade de Fortaleza.
Fonte: Elaborado por Yan de Abreu Gomes Vasconcelos (2017).

Quadro 1 - Síntese do processo de categorização voltado para a elaboração do mapa afetivo da cidade

Elaborado por: Bomfim (2010).


Quadro 2 - Mapa afetivo M1
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 3 - Mapa afetivo M2
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 4 - Mapa afetivo M3
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 5 - Mapa afetivo M4
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 6 - Mapa afetivo M5
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 7 - Mapa afetivo T1
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 8 - Mapa afetivo T2
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 9 - Mapa afetivo T3
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 10 - Mapa afetivo T4
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 11 - Mapa afetivo T5
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 12 - Mapa afetivo N1
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 13 - Mapa afetivo N2
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 14 - Mapa afetivo N3
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 15 - Mapa afetivo N4
Fonte: Elaborado pelos autores.


Quadro 16 - Mapa afetivo N5
Fonte: Elaborado pelos autores.
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