Visão dos preceptores quanto à preceptoria e o acolhimento do estudante de graduação na atenção primária à saúde
Vision of the preceptors on preparedness and hosting of the graduation student in primary health care
Visión de los preceptores en cuanto a la preceptoria y la acogida del estudiante de graduación en la atención primaria a la salud
Visão dos preceptores quanto à preceptoria e o acolhimento do estudante de graduação na atenção primária à saúde
Research, Society and Development, vol. 8, núm. 2, pp. 01-17, 2019
Universidade Federal de Itajubá
Recepção: 04 Agosto 2018
Aprovação: 12 Agosto 2018
Resumo: Esse estudo objetivou verificar a visão dos preceptores acerca da preceptoria e do acolhimento dos estudantes de graduação na Atenção Primária à Saúde (APS). Foi realizado estudo qualitativo descritivo-exploratório com preceptores dos serviços de saúde da APS da Gerência Distrital Norte/Eixo Baltazar de Porto Alegre/RS. Foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. A amostra foi de 31 preceptores. Os preceptores eram dos cursos de enfermagem, farmácia, fonoaudiologia e nutrição. As informações foram coletadas individualmente através de questionário semi-estruturado, com questões fechadas e abertas. Os dados do estudo foram apreciados conforme a análise de conteúdo do tipo temática. O estudo mostrou que 93% dos pesquisados estão satisfeitos em desempenhar a preceptoria. Relataram as dificuldades e facilidades em relação ao acolhimento dos estudantes. As dificuldades podem impactar negativamente sobre o rendimento dos acadêmicos nos estágios na APS. É importante que o preceptor tenha subsídios para uma preceptoria qualificada, como formação, reuniões permanentes com os docentes, dentre outros. Desse modo o estudante terá um bom aproveitamento do estágio que realizar.
Palavras-chave: preceptoria, acolhimento, atenção primária à saúde.
Abstract: This study aimed to verify the vision of preceptors about the preceptory and the reception of undergraduate students in Primary Health Care (PHC). A descriptive-exploratory qualitative study was carried out with preceptors from the PHC health services of the North District / Baltazar Hub of Porto Alegre / RS. It was approved by the Ethics Committee of the Federal University of Health Sciences of Porto Alegre and the Municipal Health Department of Porto Alegre. The sample consisted of 31 preceptors. The preceptors were from nursing, pharmacy, speech therapy and nutrition courses. The information was collected individually through a semi-structured questionnaire, with closed and open questions. The data of the study were evaluated according to the content analysis of the thematic type. The study showed that 93% of respondents are satisfied to perform the preceptory. They reported difficulties and facilities regarding the reception of students. Difficulties can negatively impact the academic performance of trainees in PHC. It is important that the preceptor has subsidies for a qualified teaching, such as training, permanent meetings with teachers, among others. In this way the student will have a good use of the stage that to realize.
Keywords: preceptory, host, Primary Health Care.
Resumen: Este estudio objetivó verificar la visión de los preceptores acerca de la preceptoria y de la acogida de los estudiantes de graduación en la Atención Primaria a la Salud (APS). Se realizó un estudio cualitativo descriptivo-exploratorio con preceptores de los servicios de salud de la APS de la Gerencia Distrital Norte / Eje Baltazar de Porto Alegre / RS. Fue aprobado por el Comité de Ética de la Universidad Federal de Ciencias de la Salud de Porto Alegre y de la Secretaría Municipal de Salud de Porto Alegre. La muestra fue de 31 preceptores. Los preceptores eran de los cursos de enfermería, farmacia, fonoaudiología y nutrición. La información fue recogida individualmente a través de un cuestionario semiestructurado, con preguntas cerradas y abiertas. Los datos del estudio se evaluaron según el análisis de contenido del tipo temático. El estudio mostró que el 93% de los encuestados están satisfechos en desempeñar la preceptoria. Informaron las dificultades y facilidades en relación a la acogida de los estudiantes. Las dificultades pueden impactar negativamente sobre el rendimiento de los académicos en las etapas en la APS. Es importante que el preceptor tenga subsidios para una preceptoria calificada, como formación, reuniones permanentes con los docentes, entre otros. De este modo el estudiante tendrá un buen aprovechamiento de la etapa que realizar.
Palabras clave: preceptoria, acogida, atención primaria a la salud.
Introdução
Os estágios curriculares foram inseridos na Atenção Primária à Saúde (APS) para formação de recursos humanos voltados às diretrizes e princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Para tanto, deve haver a integração docente-assistencial entre instituições de ensino e saúde, juntamente com a formação dos preceptores sobre as práticas pedagógicas (TRAJMAN et al, 2009).
A integração educação e saúde é definida como atividade coletiva, onde há integração e combinações entre os envolvidos (docente, discente, trabalhador de saúde e gestão). O objetivo é atingir a qualidade do atendimento prestado à população, formação do profissional e desenvolvimento e satisfação dos trabalhadores (ALBUQUERQUE et al, 2008).
O estudante necessita de um profissional responsável pelo seu acompanhamento no estágio. O preceptor é o profissional que trabalha nos locais onde o estudante aplicará seus conhecimentos teóricos na prática. Para tanto, ele necessita de habilidades clínicas e pedagógicas (BOTTI e REGO, 2008).
Na cidade de Porto Alegre/RS ocorre a Integração Docente Assistencial (IDA) no Distrito Docente Assistencial (DDA), que é um território geográfico, onde há locais para realização de estágios e atividades acadêmicas (UFCSPA, 2016).
Em 2011 a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre (PMPA) firmaram convênio. A partir desse convênio, todos estágios de graduação da universidade são realizados na região distrital Norte/Eixo-Baltazar da cidade (UFCSPA, 2016).
O presente artigo objetiva apresentar parte dos resultados da dissertação de mestrado intitulada "Manual de Apoio para o Acolhimento de Estudantes de Graduação na Atenção Primária à Saúde". Será verificado a visão dos preceptores quanto à preceptoria e o acolhimento dos estudantes de graduação na APS.
Metodologia
O estudo teve abordagem qualitativa, descritivo-exploratório. Foi utilizado questionário semi-estruturado, com questões abertas e fechadas. Foi desenvolvido análise temática das informações segundo Minayo e Gomes (2012). Realizado entre março e abril de 2017.
O estudo ocorreu com 31 preceptores de 21 serviços de saúde do DDA da região distrital Norte/Eixo Baltazar, pertencentes à administração da PMPA, a Farmácia Distrital (FD), o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e a Equipe Especializada em Saúde da Criança e Adolescente (EESCA). Os cursos envolvidos foram enfermagem, farmácia, fonoaudiologia e nutrição.
Os critérios de inclusão foram preceptores de estágio das Unidades de Saúde (US), EESCA, NASF, Gerência Distrital Norte Eixo Baltazar de Porto Alegre que possuíam ou que já possuíram (visto que há semestres que tem estagiários e semestres que não tem) estudantes em estágio da UFCSPA e que aceitassem participar da pesquisa.
Os critérios de exclusão foram preceptores que não aceitassem participar da pesquisa e que fossem de unidades de saúde administradas pelo Grupo Hospitalar Conceição. Foram excluídos preceptores que realizam preceptoria apenas do Seminário Integrador (PET-Saúde). Também os preceptores de odontologia, devido os alunos de graduação serem de outra Universidade e os preceptores da terapia ocupacional, por não existir mais curso em Porto Alegre.
O desenvolvimento da pesquisa ocorreu após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFCSPA, por meio do protocolo CAAE 56516116.8.0000.5345 e parecer número 1.827.445 e pelo CEP da PMPA, por meio do protocolo CAAE 56516116.8.3001.5338 e parecer número 1.895.073. Foi assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos participantes do estudo.
Não há conflitos de interesse e o estudo foi financiado pelas autoras.
Resultados e discussões
O perfil dos preceptores pesquisados foi firmado após avaliação da questão com dados sócio-demográficos. A idade variou de 26 anos a 60 anos, tempo de formação na graduação em média foi de 10 anos, tempo de atuação na APS foi de 7 anos e tempo de atuação na US atual foi de 2 anos. Apenas 2 pesquisados receberam formação para preceptoria.
O primeiro questionamento foi sobre o sentimento do preceptor quanto à preceptoria, onde as respostas poderiam ser “muito satisfeito”, “satisfeito” ou “insatisfeito” e os preceptores poderiam comentar sua resposta. Os preceptores muito satisfeitos e satisfeitos descreveram sobre o motivo.
A preceptoria traz para o profissional a oportunidade de estar novamente em contato com a universidade e com as atualizações referentes à profissão, que geralmente não costumam chegar com facilidade devido às demandas de trabalho e da vida pessoal (P4).
A atividade com os alunos é um campo intenso de troca de conhecimentos, sendo uma via de duas mãos onde o profissional preceptor e estagiários são igualmente beneficiados. Sinto-me satisfeita por poder participar deste processo tão rico (P5).
O estudante e preceptor aprendem e ensinam conjuntamente, pois é uma relação de trocas. O preceptor exerce um papel no estágio, onde deve guiar o aluno sempre o estimulando. Acontecem novas experiências e o contato próximo entre ambos auxilia a socialização do estudante no ambiente. O preceptor se preocupa com o aprendizado e com o desenvolvimento pessoal do aluno (BOTTI e REGO, 2008).
Foi comentado sobre as mudanças que ocorrem na equipe, onde o estudante traz novas idéias.
Gosto de receber os alunos e acredito que eles desacomodam a equipe trazendo novos olhares e idéias. No entanto, no início foi mais difícil visto que nunca recebi nenhum preparo para receber os alunos (P3).
Os alunos fazem os profissionais repensarem seu cotidiano, sugerindo idéias e trabalhando em equipe. A equipe precisa sair da acomodação das atividades diárias e trabalhar com essas novas idéias e sugestões. O profissional precisa acompanhar o estudante e, para isso, necessita de atualização e estudo (VASCONCELOS, STEDEFELDT E FRUTUOSO, 2016).
Os preceptores insatisfeitos também comentaram a respeito.
A falta de formação na área da docência me deixa um pouco insegura. Ajudamos na formação desses alunos, mas não somos reconhecidos. Sinto-me sobrecarregada em ter que dar aula, mostrar todos os fluxos e não receber nenhuma remuneração (P16).
Foi bastante difícil para mim ser preceptor de um aluno, sem receber uma orientação prévia de como eu deveria proceder, do que eu deveria fazer, cobrar, ensinar[...] Aos poucos fui desenvolvendo mais confiança, mas no início foi bastante exaustivo (P23).
A formação deficiente de preceptores pode dificultar a orientação dada ao aluno. A formação em saúde enfatiza ações assistenciais, ficando a docência mais enfraquecida. O papel formativo pedagógico de preceptores seria das Universidades, que devem utilizar o profissional para acompanhamento do aluno (SILVA et al, 2015).
O acolhimento do aluno constantemente é prejudicado pois os profissionais não aceitam a sobrecarga na rotina recebendo os alunos e também não sabem do seu papel respaldado nas Diretrizes Curriculares Nacionais (RODRIGUES et al, 2014).
O segundo questionamento foi sobre o primeiro contato com o aluno no estágio. As respostas foram divididas em 3 temas diferentes: expectativas e sentimentos, presença da Universidade e formação para preceptor e disponibilidade de tempo do preceptor.
Quanto às expectativas e sentimentos, 16% dos preceptores comentaram:
É o início de um relacionamento que traz expectativas para ambos, inclusive o usuário quando sabe que terá estagiários (P1).
Importante para tentar estabelecer uma dinâmica de relacionamento, afinar expectativas e possibilidades (P13).
Quando há planejamento das atividades com a equipe o aluno consegue aproveitar mais o estágio. Na Universidade de Piauí é realizado planejamento com a equipe com cronograma das atividades, onde todos interagem. As expectativas quanto ao estágio são planejadas nesse momento (LOPES, CASTRO e SILVA, 2013).
Quanto à presença da Universidade e formação para o preceptor, 26% dos pesquisados comentaram:
É um momento muito importante, que demanda tempo para as apresentações e que, preferencialmente deveria ser agendado e com a presença do professor (P4).
Acho que deveria ter um encontro na UFCSPA para aproximação do preceptor com a universidade (P16).
A integração entre as Universidades e serviços de saúde devem ter mais efetividade e facilidade. Ambos devem ser beneficiados, sendo que a Universidade ganha pelo campo de prática para o aluno e o serviço de saúde pelo processo de ensino e aprendizagem, melhorando o desenvolvimento do trabalho (BALDOINO e VERAS, 2016).
O preceptor deve ter preparo pedagógico, para que o aluno consiga transformar a prática vivenciada em aprendizagem. Se o preceptor está capacitado pedagogicamente ele ensinará de maneira que o aluno entenda o que está vivenciando (RIBEIRO e PRADO, 2013).
As instituições formadoras devem ser responsáveis pela preparação dos preceptores com formação, avaliação e monitoramento destes. É importante o preceptor estar sensibilizado e qualificado para função que exerce (ROCHA e RIBEIRO, 2012).
Quanto ao tempo destinado ao acolhimento do estudante para apresentar o espaço físico, equipe, fluxos, combinações, entre outros, e iniciar o vínculo entre preceptor e aluno, 55% dos preceptores comentaram:
O primeiro contato é o momento em que o preceptor deveria estar disponível para receber o estagiário e neste momento apresentar o serviço. Estabelecer algumas combinações como: regras do setor, atividades a serem desenvolvidas, responsabilidades e atribuições do aluno e do preceptor (P5).
Deve-se acolher o aluno com atenção e paciência, disponibilizando algum horário livre de agenda para mostrar o serviço e deixá-lo o mais a vontade possível (P6).
Importante acontecer acolhimento do estudante no serviço de saúde. A comunicação entre a Universidade e os serviços deve existir, direta e acessível. A Universidade tem o papel de verificar preceptores que realmente desejam ser preceptores (SILVA, VIANA e SANTOS, 2013).
Em um estudo realizado por Viana et al (2013) comentam que o preceptor deve ser o responsável pelo acolhimento do aluno, onde este momento deve ser especial e organizado formalmente.
O terceiro questionamento foi sobre dificuldades encontradas no acolhimento. Os fatores que podem tornar mais difícil o desenvolvimento das atividades de preceptoria, prejudicando o ensino-aprendizagem, são falta de tempo para preceptoria, falta de formação do preceptor, falta de infra-estrutura adequada, recursos e equipamentos escassos, entre outros (TRAJMAN et al, 2009).
As respostas foram agrupadas em temas conforme a tabela 1.
Tema | % |
Falta de tempo | 39 |
Acompanhamento da Universidade | 35 |
Falta de interesse do estudante | 23 |
Difícil aceitação pela equipe | 10 |
Falta de capacitação para o preceptor | 10 |
Espaço físico | 10 |
Violência e difícil acesso às US | 6 |
Falta de documento norteador | 6 |
O tema citado por 23% dos preceptores foi o pouco interesse do estudante do estágio na APS.
[...] Alguns alunos vêm para APS para cumprir requisitos da Universidade, mas não estão interessados em aprender (P8).
[...] O aluno não ter afinidade com atenção primária. O aluno não ter conhecimento dos programas da atenção primária e embasamento teórico (P16).
Quando os alunos não tiveram contato com a prática ainda, eles podem ter diferentes reações emocionais, com relações psicológicas, ideológicas e éticas a respeito da profissão. Influenciando no local de estágio, Universidade e com os preceptores. Os temores das atividades que realizarão, devido vários fatores, muitas vezes dificulta a comunicação e entrosamento com os profissionais do local de estágio (RUDNICKI E CARLOTTO, 2007).
Outro tema comentado por 10% dos preceptores foi a respeito da aceitação do estudante pela equipe, que muitas vezes não acontece.
“[...] alguns colegas não gostam da presença dos acadêmicos e acabam dificultando ou menosprezando a atuação dos mesmos.” (P7)
“[...] Outra dificuldade é ter de deixar as demandas da unidade para os outros colegas da equipe, que nem sempre aceitam muito bem.”(P22)
É importante que os profissionais participem do planejamento das atividades da Universidade a respeito dos estágios, pois melhorar a integração da Universidade com os serviços de saúde e a comunidade. Assim os profissionais repensariam atividades e cotidiano, normatizando um novo modo de fazer e fortalecendo o papel dos profissionais, sendo formadores de saúde no SUS (VASCONCELOS, STEDEFELDT E FRUTUOSO, 2016).
Um dos temas referenciados por 39% dos preceptores foi a falta de tempo para o acolhimento, gerando sobrecarga de trabalho ao preceptor.
As demandas do trabalho são muitas, e nem sempre há tempo suficiente para explicar ao aluno as especificidades do setor antes de inseri-lo no trabalho […] (P8).
Acredito que as dificuldades no acolhimento ao aluno podem estar relacionadas ao pouco tempo para planejamento ou discussão sobre as atividades e ações realizadas nas unidades de saúde e no território […] (P29).
Os preceptores necessitam uma reorganização do trabalho e tempo destinado à preceptoria, onde têm que reservar parte do dia de trabalho para função, demonstrando que gera sobrecarga nas atividades (GONÇALVES et al, 2014).
Houve 10% dos preceptores que referiram falta de capacitação como um dificultador.
O distanciamento entre a teoria e prática, a falta de subsídios do que foi abordado na teoria, para ser pontuado na prática (P11).
[...]é ter uma capacitação, talvez, as metodologia na atuação do campo de estágio para melhor passar nosso conhecimento ao aluno (P27).
As Instituições de Ensino Superior (IES) têm papel na formação dos preceptores, principalmente pedagógica. Devem fornecer cursos de atualização nas áreas específicas, eventos científicos, aproximando preceptor e Universidade, entre outros (SILVA, VIANA e SANTOS, 2013).
Outro assunto abordado por 10% dos pesquisados foi sobre dificuldade de espaço físico para acolhimento do aluno.
No meu entendimento as principais dificuldades são: falta de um local adequado para receber os alunos […] (P5).
Tempo e espaço (P24).
É importante que a infra-estrutura e os materiais ofertados no atendimento à população sejam adequados para uma boa qualidade de atendimento e um bom aprendizado dos alunos (GONÇALVES et al, 2014).
Os locais de estágio muitas vezes não condizem com a finalidade das IES. Assim, gera desafios e o planejamento conjunto, objetivando chegar a um modo benéfico para ambos. A revisão constante e interdisciplinar do trabalho é necessária (GARCIA, 2001).
O acompanhamento da universidade foi citado por 35% dos preceptores.
O distanciamento entre a teoria e prática, a falta de subsídios do que foi abordado na teoria, para ser pontuado na prática (P11).
O aluno chegar sem um contato antecipado […] falta de um histórico do aluno do que ele estudou até o momento da prática (P16).
A integração Universidade e serviço é afetada por fatores diversos. Em um estudo realizado foi verificado que os profissionais não sabiam o que os alunos e docentes realizavam no estágio, fato que acontecia pelo planejamento ser realizado apenas com a chefia do serviço (VASCONCELOS, STEDEFELDT E FRUTUOSO, 2016).
Há um distanciamento entre as IES e o campo de prática. A responsabilidade é passada ao preceptor pelo docente. Porém, o preceptor não participa do planejamento das atividades que deverão ser realizadas com os alunos. É importante que a Universidade deixe claro os objetivos do estágio, dialogando com o preceptor para que não haja enfraquecimento da preceptoria e não reflita negativamente no aluno (RODRIGUES, 2012).
Gonçalves et al (2014) também realizou um estudo em Florianópolis, onde foi verificado que os preceptores não participam do planejamento do estágio com as IES e não há espaço para diálogo, resultando em fragilidade quanto seus objetivos e métodos de avaliação.
Tiveram 6% dos preceptores que comentaram sobre dificuldade devido à violência na área do serviço de saúde e difícil acesso.
[...]A violência no território e o difícil acesso à US também é um entrave ao acolhimento (P4).
[...] o difícil acesso a algumas unidades […] (P29).
A realização de estágios nos serviços de saúde acontecem dificuldades e uma delas é o difícil acesso em alguns locais (PIZZINATO et al, 2012).
A falta de documento que norteie a preceptoria foi comentado por 6% dos preceptores.
[...] falta um “guia” de atribuições, digo, ambientação que facilite esse entrosamento (P2).
[...] falta de um documento onde esteja sinalizado uma rotina de atividades e temas que deveriam ser abordados com os alunos (P5).
O quarto questionamento foi sobre facilidades em relação ao acolhimento do estudante. As respostas dos preceptores foram divididas em temas, conforme a tabela 2.
Tema | % |
Interesse do estudante | 42 |
Auxílio nas atividades | 23 |
Vínculo com a Universidade/Presença do professor | 16 |
Aprendizado e atualização do professor | 16 |
Mudanças na equipe/desacomodação | 13 |
Interesse e disponibilidade do preceptor e equipe | 10 |
Conhecimento prévio do estudante | 10 |
Espaço físico | 3 |
Verificando as dificuldades e facilidades, alguns temas surgiram novamente, como interesse do estudante, vínculo com a Universidade e presença do professor, interesse e disponibilidade do preceptor e equipe, espaço físico e formação para o preceptor.
Tiveram 42% dos preceptores que citaram vontade do estudante em adquirir novos conhecimentos e ter afinidade pela APS como facilidade.
A facilidade é que os alunos estão sedentos de conhecimentos práticos, isto facilita (P1).
Estão cheios de vontade de aprender e praticar as atividades da profissão […] querem atuar nas diversas funções, aprender de tudo um pouco (P7).
O preceptor deve auxiliar na aprendizagem do estudante, intelectual e afetiva, sendo autêntico, evitar julgamentos e respeitar o conhecimento do aluno. É importante a organização do processo de trabalho, havendo diálogo para dúvidas e aquisição de novos conhecimentos. Tanto o aluno quanto preceptor devem ser responsáveis quanto ao território, educação e epidemiologia. O preceptor deve mostrar a educação em saúde, através do atendimento clínico às pessoas (BARRETO et al, 2011).
O vínculo com a Universidade apareceu novamente, onde 16% dos preceptores referem a importância do docente nos estágios.
[…] A presença do professor quando o aluno chega também ajuda (P3).
Quando todos estão presentes, inclusive o professor titular é mais fácil a recepção dos alunos no primeiro contato com a equipe […] (P17).
Ao preceptor cabe o condicionamento do aluno no estágio supervisionado. O preceptor necessita de conhecimento prático e teórico para que seu desempenho seja eficaz. Para tanto, as IES e os serviços de saúde precisam ter uma aproximação, refletindo pedagogicamente sobre mecanismos que serão utilizados no ensino-aprendizagem (RODRIGUES, 2012).
O conhecimento do aluno foi comentado por 10% dos preceptores como sendo uma facilidade.
[…] Que os alunos venham já com informações sobre a unidade de saúde e funcionamento da mesma (P17).
Facilidade quando o aluno é da enfermagem e já conhece as rotinas (P21).
Cada profissional tem seu papel, mas todos objetivando auxiliar o aluno na integração ao processo de trabalho. O docente deve verificar e propor soluções aos problemas encontrados e o preceptor fornecer todas informações sobre a prática e o campo de atuação. Deve integrar conhecimento teórico e prático, visando a formação do aluno (BREHMER e RAMOS, 2014).
Outra facilidade verificada é quando o preceptor e a equipe tem interesse e disponibilidade para receber alunos, onde 10% dos preceptores comentaram.
Há grande facilidade quando previamente foi organizado atividades para o aluno […] (P23).
[…] acolhimento das equipes de saúde das unidades (P29).
Foi referido que o preceptor procura se atualizar para ensinar e aprende com o aluno, 16% dos pesquisados comentaram sobre o tema.
[…] Faz com que o preceptor busque atualização para melhor orientá-lo em sua prática (P4).
Organização dos conhecimentos e necessidades de conhecimentos teóricos e práticos que deverão ser trabalhadas com o aluno durante o período (P15).
Há uma relação de trocas, onde ambos aprendem e ensinam. O preceptor tem papel de aconselhar, motivar, influenciar, inspirar e direcionar o aluno. O preceptor auxilia na integração do aluno no ambiente de trabalho, permitindo experiências. A preocupação com o conhecimento adquirido e o desenvolvimento pessoal do aluno é um sentimento que o preceptor demonstra durante o estágio (BOTTI e REGO, 2008).
Foi citado por 13% dos preceptores sobre mudanças para equipe com idéias trazidas pelos estudantes.
Acredito que os alunos possuam idéias inovadoras por ter um olhar de fora, após se engajarem nas rotinas da unidade fornecem um bom aporte nos atendimentos conjuntos (P12).
Contato com outra forma de pensar sobre as situações, propiciando repensar métodos, técnicas e tecnologias empregadas no cotidiano (P13).
O aluno tem uma compreensão diferente da prática profissional e que será trabalhado com o preceptor. Os alunos expõem suas sugestões e idéias, propõem melhorias e aumentam sua visões sobre conhecimentos do processo saúde e doença (SILVA, VIANA e SANTOS, 2013; FONSECA et al, 2014).
O auxílio nas atividades dos serviços de saúde e o atendimento cordial aos usuários dos serviços também foram comentados por 23% dos pesquisados.
O aluno […] auxilia nos processos de assistência e administrativos […] (P4).
[...] complementam o quadro de funcionários; são muito cordiais com os usuários, contribuindo com a qualificação do serviço prestado; são responsáveis, criativos (P5).
Além de atendimento técnico e científico há envolvimento afetivo com a população atendida, onde muitas vezes há problemas com violências, pobreza e vulnerabilidade (VASCONCELOS, STEDEFELDT E FRUTUOSO, 2016).
É importante que os estudantes aprendam sobre acolhimento humanizado, processo saúde e doença, funções de administração e gerência, entre outros. Objetivando, assim, profissionais formados mais voltados aos princípios do SUS e rompendo com o modelo médico privatista de prestação de serviços (BARBOSA e REZENDE, 2006).
Considerações finais
O objetivo desse estudo foi atingido pois foi explanado sobre a visão dos preceptores sobre a preceptoria e o acolhimento dos estudantes, as facilidades e dificuldades encontradas sobre o tema.
A referências bibliográficas acerca do acolhimento dos acadêmicos nos estágios é escassa. Há necessidade de mais estudos e publicações sobre o tema.
O resultado do estudo mostrou que 93% dos preceptores estão satisfeitos em realizar preceptoria. Referido que há atualização de conhecimentos com o acompanhamento dos alunos, pois eles necessitam estudar mais para orientar de adequadamente.
Mostrou dificuldades e facilidades encontradas pelos preceptores ao acolherem os estudantes nos serviços de saúde. Uma das dificuldades citada disse respeito à integração ensino e serviço. A Universidade deve fornecer subsídios aos preceptores para que haja uma preceptoria qualificada, estando mais integrada aos serviços de saúde. Isso influenciará na qualificação dos conhecimentos que o estudante adquirirá no estágio. Preceptores referiram a necessidade da presença do docente no início do estágio, formação pedagógica (principalmente) e técnica para o preceptor, reuniões permanentes na Universidade com preceptores e docentes, entre outros.
Outro ponto importante a destacar foi a falta de tempo e sobrecarga de trabalho gerados pela presença de estudantes nos serviços. O preceptor acumula tarefas, como assistência, muitas vezes a coordenação do serviço e a preceptoria. Isso pode trazer impacto negativo sobre o desenvolvimento dos conhecimentos dos estudantes nos estágios na APS.
Uma maneira de não sobrecarregar o preceptor seria o engajamento de toda equipe no acolhimento e acompanhamento do estudante no desenvolvimento de suas atividades no estágio. O planejamento das ações com os profissionais é importante para que todos saibam o papel de cada um na formação do aluno.
Finalmente, consideramos relevante que a integração ensino e serviço atue na qualificação da formação de profissionais de saúde, contribuindo em processos de educação permanente de preceptores.
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