Elaboração de questionários: algumas contribuições

Elaboration of questionnaires: some contributions

Elaboración de cuestionarios: algunas contribuciones

Daniela Karine Ramos
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Fabiana Lopes Ribeiro
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Bruna Santana Anastácio
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Gleice Assunção da Silva
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil

Elaboração de questionários: algumas contribuições

Research, Society and Development, vol. 8, núm. 3, pp. 01-13, 2019

Universidade Federal de Itajubá

Recepção: 07 Dezembro 2018

Revised: 10 Dezembro 2018

Aprovação: 25 Dezembro 2018

Publicado: 28 Dezembro 2018

Resumo: Este trabalho tem por objetivo discutir as características do questionário como instrumento para pesquisa, abordando os contextos de aplicação, os aspectos a serem observados na construção e alguns cuidados no uso. A aplicação de questionários como um instrumento de coleta de dados é bastante utilizado em pesquisas em diversas áreas do conhecimento, podendo ser adaptado a diferentes objetivos e formatos de pesquisa. Neste trabalho realizou-se uma revisão acerca da elaboração e o uso de questionários para pesquisas e avaliação, resultando na sistematização de alguns apontamentos e orientações para sua construção. Dentre os aspectos sistematizados destaca-se a importância da realização de pesquisa prévia criteriosa a fim de reconhecer conceitos a serem abordados e testes já validados acerca do tema proposto, a percepção de que o contexto no qual a coleta é realizada precisa ser considerado na pesquisa, a importância de optar por um instrumento que responda efetivamente aos objetivos da pesquisa. Por fim, enfatiza-se que o questionário é um procedimento técnico que requer cuidados quanto a sua elaboração, ordenação, sequência e aspectos éticos envolvidos, objetivando o equilíbrio e a qualidade na construção do instrumento para obtenção de resultados que atendam aos objetivos definidos.

Palavras-chave: Pesquisa, Instrumentos de coleta, Procedimentos de coleta.

Abstract: The objective of this work is to discuss the characteristics of the questionnaire as a tool for research, addressing the contexts of application, the aspects to be observed in the construction and some care in the use. The application of questionnaires as a data collection instrument is widely used in research in several areas of knowledge and can be adapted to different objectives and research formats. In this work a review about the elaboration and the use of questionnaires for researches and evaluation was carried out, resulting in the systematization of some notes and orientations their construction. Among the systematized aspects, it is important to carry out a previous careful research in order to recognize concepts to be approached and tests already validated on the proposed theme, the perception that the context in which the collection is performed needs to be considered in the research, the importance of choosing an instrument that effectively responds to the research objectives. Finally, it is emphasized that the questionnaire is a technical procedure that requires care regarding its elaboration, ordering, sequence, and ethical aspects involved, aiming the balance and the quality in the construction of the instrument to obtain results that meet the defined objectives.

Keywords: Research, Collection instruments, Collection procedures.

Resumen: Este trabajo tiene por objetivo discutir las características del cuestionario como instrumento para la investigación, abordando los contextos de aplicación, los aspectos a ser observados en la construcción y algunos cuidados en el uso. La aplicación de cuestionarios como un instrumento de recolección de datos es bastante utilizado en investigaciones en diversas áreas del conocimiento, pudiendo ser adaptado a diferentes objetivos y formatos de investigación. En este trabajo se realizó una revisión sobre la elaboración y el uso de cuestionarios para investigaciones y evaluación, resultando en la sistematización de algunos apuntes y orientaciones para su construcción. Entre los aspectos sistematizados se destaca la importancia de la realización de investigación previa criteriosa a fin de reconocer conceptos a ser abordados y pruebas ya validas acerca del tema propuesto, la percepción de que el contexto en el cual la recolección es realizada necesita ser considerado en la investigación, la importancia de optar por un instrumento que responda efectivamente a los objetivos de la investigación. Por último, se enfatiza que el cuestionario es un procedimiento técnico que requiere cuidados en cuanto a su elaboración, ordenación, secuencia y aspectos éticos involucrados, objetivando el equilibrio y la calidad en la construcción del instrumento para la obtención de resultados que atiendan a los objetivos definidos.

Palabras clave: Investigación, Instrumentos de recolección, Procedimientos de recolección.

1. Introdução

O questionário é um procedimento de coleta de dados comumente utilizado em pesquisas, especialmente, na área das ciências humanas e sociais. Apesar disso, não é tão simples elaborar um bom questionário, sendo necessário observar alguns aspectos para se fazer uso desse instrumento. Diante disso, este trabalho tem por objetivo discutir as características do questionário como instrumento para pesquisa, abordando os contextos de aplicação, os aspectos a serem observados na construção e alguns cuidados no uso.

Esse instrumento de coleta de dados é constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas pelos participantes da pesquisa, oferecendo respostas mais objetivas e pontuais (MARKONI; LAKATOS, 2017). Nesse viés, podemos definir o questionário como uma técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores e comportamento presente ou passado (GIL, 2014).

De maneira complementar, outros conceitos de questionário também são encontrados na literatura, como: “um conjunto de perguntas sobre um determinado tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua opinião, seus interesses, aspectos de personalidade e informação biográfica” (YAREMKO, et. al, 1986, p. 186) ou ainda o questionário como um instrumento útil para coletar informações de pesquisa, os quais fornecem dados estruturados, muitas vezes numéricos, podendo ser administrado sem a presença do pesquisador, e muitas vezes comparado a outros métodos (COHEN et. al, 2013).

Os conceitos apresentados indicam, ainda, para uma variedade de tipos de dados que podem ser coletados a partir do uso do questionário, o que inclui uma grande gama de possibilidades que incluem crenças, opiniões e comportamentos. Entretanto, esses dados são informados pelos participantes a partir de suas percepções e compreensões. Assim, dependendo do contexto e objetivo da pesquisa, pode ser que seja necessário combinar o uso do questionário com outras abordagens e instrumentos para coleta, como a realização de entrevistas ou observações.

Muitas pesquisas foram realizadas sobre a elaboração e o uso de questionários (COHEN; MANION; MORRISON, 2013; GIL, 2014, 2018; GÜNTHER, 2003; MARCONI; LAKATOS, 2017; NOGUEIRA, 2002) e alguns desses apontamentos são apresentados no presente estudo.

2. Contextos da elaboração de um questionário

Quando usar um questionário, quais as influências dos contextos em que ele será utilizado e para qual público ele se direciona, são questões relevantes a serem observadas na elaboração do instrumento. Além do contexto, o tema e conceitos a serem abordados precisam ser revisados para melhor delimitação do instrumento a ser elaborado.

A coleta de dados através de um questionário é aconselhável caso não exista nenhuma escala ou teste já validado para avaliar o conceito ou dado que a pesquisa se propõe a medir (GÜNTHER, 2003). Por isso, é válido antes de começar a construir um questionário, fazer uma busca por instrumentos que já tenham sido elaborados e utilizados em outras pesquisas. Isso por que ao utilizar os mesmos instrumentos de outras pesquisas é possível, ainda, estabelecer comparações ou encurtar caminhos para a coleta, como a construção do instrumento, sua testagem e validação. Entretanto, caso o pesquisador queira coletar dados os quais ainda não existam instrumentos de medida previamente desenvolvidos, será necessário o desenvolvimento e a elaboração de um questionário.

Os instrumentos de coleta de dados de uma pesquisa devem ser escolhidos com muito cuidado, levando em consideração, principalmente, os objetivos da pesquisa. Além disso, é importante salientar que o instrumento escolhido deve servir para coletar de maneira mais adequada possível as informações necessárias para sua posterior análise de dados, visando atender aos objetivos definidos. Assim, é importante compreender cada um dos instrumentos existentes, para termos melhores condições de optar pelo instrumento que mais adequadamente responde aos objetivos da pesquisa.

Segundo Günther (2003) existem três caminhos principais para compreendermos o comportamento humano no contexto das ciências sociais empíricas, organizadas na tabela 1:

Tabela 1 -
Principais métodos de coleta de dados utilizados nas ciências sociais.
MÉTODO DE COLETA DE DADOSOBJETIVOBENEFÍCIOS
1. OBSERVAÇÃOObservar o comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real.Um dos pontos fortes da observação encontra-se no realismo da situação estudada.
2. EXPERIMENTAÇÃOCriar situações artificiais e observar o comportamento ante tarefas definidas para essas situações. O experimento possibilita à randomização de características das pessoas pesquisadas bem como inferências causais.
3. QUESTIONÁRIOPerguntar aos indivíduos sobre o que fazem (fizeram) e pensam (pensaram).O levantamento de dados por amostragem ou survey, pode assegurar uma melhor representatividade da pesquisa permitindo generalizar para uma população mais ampla.
Fonte: Adaptação de GÜNTHER (2003).

Diante do exposto, concordamos com as posições de Günther (2003) que afirma que o questionário caracteriza-se por ser uma ferramenta múltipla que pode possibilitar diversas abordagens, oportunizando um levantamento de dados que assegura uma melhor representatividade da pesquisa. Por conseguinte, corrobora-se que o questionário pode ser considerado um instrumento benéfico as ciências sociais, pois ao fornecer dados estruturados ao pesquisador (COHEN; MANION; MORRISON, 2013) possibilita a medição de atitudes e opiniões através da utilização de escalas (NOGUEIRA, 2002), normatizando assim, sua eficácia e validade (MARCONI; LAKATOS, 2017).

As referências conceituais pesquisadas apontam que o questionário se apresenta como um instrumento de coleta de dados bastante utilizado em pesquisas em diversas áreas do conhecimento, podendo ser adaptado aos objetivos de inúmeros formatos de pesquisa.

Günther (2003) considera muito importante também observar o contexto social em que um questionário possa ser aplicado. Dentre os desafios que se apresentam no uso do questionário é a adesão dos participantes. Em muitas situações “o pesquisador não tem poder sobre o respondente e precisa convencê-lo de que vale a pena participar da pesquisa” (Ibidem, 2003, p. 03).

O contexto no qual a coleta é realizada precisa ser considerado na pesquisa, desde o espaço físico no qual um questionário será aplicado, até quem são os participantes e o modo como que aplica se apresenta. Há inclusive procedimentos utilizados como a avaliação duplo-cego em que tanto o pesquisador que coleta os dados, como quem está participando não tem informações sobre pesquisa para que não seja influenciado.

Outro aspecto a ser considerado é a definição de determinadas características da população-alvo, que por vezes está entre os objetivos da pesquisa que se quer realizar. Entretanto, para a elaboração e administração de um instrumento de pesquisa é necessário que se tenha informações mínimas do público, até para que se possam tomar certas decisões sobre sua aplicação, como por exemplo, uso de instrumento autoaplicável implica em população-alvo alfabetizada (GÜNTHER, 2003).

A definição dos tipos de amostra também irá depender do objetivo da pesquisa e da população-alvo. Assim como o grau de complexidade dos conceitos, números de itens, forma de apresentação e administração do questionário, são questões interdependentes e carregam reciprocidade com as questões referentes ao tamanho da amostra e a população-alvo.

Quanto mais informações da população alvo, for possível conseguir, tanto pelo contato com as instituições na qual ela se insere, como pela delimitação de características específicas ou pela revisão de literatura que possa oferecer indicativos sobre as características dessa população, melhor pode ser definido e construído o questionário. A busca por informações sobre a população pode evitar problemas durante a coleta e na própria interpretação das questões formuladas.

3. Apontamentos sobre a elaboração de um questionário

A construção de um questionário precisa ser reconhecida como um procedimento técnico cuja elaboração requer uma série de cuidados, tais como: constatação de sua eficácia para verificação dos objetivos; determinação da forma e do conteúdo das questões; quantidade e ordenação das questões; construção das alternativas; apresentação do questionário e pré-teste (GIL, 2014).

Nesse sentido, a elaboração do questionário consiste basicamente em traduzir os objetivos específicos da pesquisa em itens bem redigidos. Naturalmente, não existem normas rígidas a respeito da elaboração do questionário (GIL, 2018). Ainda assim, o processo de elaboração é longo e complexo: exige cuidado na seleção das questões, a validação da importância do que é abordado, a análise se o conteúdo e formato oferece condições para obtenção de informações válidas, bem como a adequação dos temas escolhidos aos objetivos gerais e específicos da pesquisa (MARCONI; LAKATOS, 2017).

Para construir um questionário é preciso traduzir os objetivos da sua pesquisa em questões específicas, pois as respostas das questões é que irão proporcionar os dados requeridos para descrever as características da população pesquisada ou testar as hipóteses que foram construídas durante o planejamento da pesquisa (GIL, 2014).

Creswell e Creswell (2018), ressaltam o papel do pesquisador nesse processo, pois é ele quem decide e seleciona os métodos e procedimentos de sua pesquisa, os quais orientarão sua estratégia de investigação, baseados na natureza do seu problema de pesquisa.

A elaboração do questionário parte dos objetivos, porém precisa também considerar o limite em extensão e em finalidade, pois não pode ser muito longo e causar fadiga e desinteresse, assim como não pode ser curto demais, pois corre o risco de não oferecer informações suficientes (MARCONI; LAKATOS, 2017). E, ainda, é necessário observar aspectos materiais e a estética do mesmo, levando em conta seu tamanho, facilidade de manipulação, espaço suficiente para as respostas, disposição dos itens de forma a facilitar a organização dos dados (Ibidem, 2017).

De acordo com Schuman & Kalton, (1985, p. 641 apud GÜNTHER, 2003, p.1), a seguir temos os estágios para elaboração do questionário:

Estágios da elaboração do questionário.
Figura 1 –
Estágios da elaboração do questionário.
Fonte: Adaptação de GÜNTHER (2003).

Para iniciar a elaboração de um questionário é importante refletir sobre as bases conceituais e populacionais da pesquisa. Primeiramente respondendo a questão: Qual o objetivo da pesquisa em termos dos conceitos e da população-alvo a serem pesquisados? (GÜNTHER, 2003, p. 02).

Em seguida, essa definição determinará os conceitos a serem investigados no questionário, as perguntas concretas a serem apresentadas e a relação entre os conceitos e as perguntas (item). Isso porque, dependendo dos conceitos a serem pesquisados, as perguntas ou itens variam, a “possibilidade de fazer certas perguntas (mais facilmente) a determinadas pessoas (amostra) faz com que um ou outro conceito possa ser explorado numa dada pesquisa” (Ibidem, 2003, p.2).

Na construção de um questionário temos uma fase inicial que se refere ao planejamento. Esta fase preliminar pode ser útil usar uma técnica de fluxograma para planejar o sequenciamento de perguntas. Assim, os pesquisadores serão capazes de antecipar o tipo e o alcance de respostas que suas perguntas provavelmente suscitam (COHEN et al, 2013).

De modo geral, é preciso ter um propósito geral ou um conjunto de propósitos e transformá-los em campos concretos e pesquisáveis, sobre os quais, dados reais podem ser reunidos, ou seja, ter um objetivo geral e explorá-lo a partir de um conjunto de objetivos específicos. Após definido o objetivo principal do questionário, a segunda fase do planejamento envolve a identificação e detalhamento de tópicos subsidiários relacionados ao propósito central. A terceira fase segue a identificação dos tópicos subsidiários e a formulação de requisitos específicos de informação relacionados a cada uma dessas questões (Ibidem, 2013).

Reforça-se, assim, que é muito importante estabelecer uma sequência coerente para o questionário, com a finalidade de criar um equilíbrio no instrumento, pois a ordenação do questionário dará o tom da pesquisa. Salienta-se que não é bom causar um mal estar ou irritar o respondente logo de início. As questões mais ameaçadoras, por exemplo, não deveriam estar no início dos questionários, ao passo que as questões que são respondidas mais prontamente, poderiam figurar no início, seguidas por questões mais personalizadas. Completar um questionário pode ser visto como um processo de aprendizagem, em que os respondentes se tornam mais a vontade à medida que prosseguem. As perguntas iniciais devem, portanto, ser simples, ser de interesse dos respondentes e incentivar a participação, segundo Cohen et al, (2013), isso aumentará a confiança e a motivação do respondente.

Outro aspecto a ser considerado é o layout do questionário, o qual precisa parecer fácil, atraente e interessante. Quanto mais simples, objetivo, claro e organizado, mais próximos estamos de um bom questionário (GÜNTHER, 2013).

Nesse sentido, podemos recorrer a criação de sessões em um questionário, pois é útil para agrupar questões sobre um problema específico, fazendo com que o instrumento pareça menor. É também importante incluir no questionário, as garantias de confiança, tolerância, anonimato e não rastreabilidade. Ademais Cohen et al. (2013) sinaliza que essas questões devem ficar explícitas em uma folha ou carta de apresentação, para gerar confiança e encorajar os respondentes. Nelas devem conter o título da pesquisa, identificação e contato do pesquisador.

Ao estruturar um questionário, de acordo com Günther (2003), devemos atentar a algumas ações, como por exemplo:

1 Recompensar o respondente: a) demonstrando consideração; b) oferecendo apreciação verbal usando uma abordagem consultiva; c) apoiando seus valores; d) oferecendo recompensas concretas; e) tornando o instrumento interessante;

2 Reduzir o custo de responder: a) fazendo com que a tarefa pareça breve; b) reduzindo esforços físico e mental requeridos; c) eliminando a possibilidade de embaraços; d) eliminando qualquer implicação de subordinação; e) eliminando qualquer custo financeiro imediato;

3 Estabelecer confiança: a) oferecendo um sinal de apreciação antecipadamente; b) identificando-se com uma instituição conhecida e legitimada; c) aproveitando outros relacionamentos de troca (DILLMAN, 1978, p. 18, apud GÜNTHER, 2003, p. 4).

Para Günter (2003), a estruturação de um questionário precisa seguir alguns princípios, como por exemplo, evitar iniciar o questionário com perguntas burocráticas (nome, sexo, idade), o ideal é que as primeiras questões sejam mais gerais e menos pessoais, para na sequência irem ficando mais específicas e pessoais. Essa questão dará uma lógica ao instrumento, juntamente com a observação das temáticas das questões, que recomenda-se que os itens que dizem respeito a mesma temática, fiquem juntos e iniciam-se com alguma questão que introduza o tema, para aumentar a concentração do respondente.

Os tipos de questões utilizadas em um questionário podem ser: abertas, de múltipla escolha ou dicotômicas. Nas questões abertas, as respostas são livres e os respondentes podem responder com suas próprias palavras. Nas questões de múltipla escolha os respondentes optam por alternativas ou opções apresentadas. Já nas questões denominadas dicotômicas, os respondentes optam entre duas opções de respostas, sempre de caráter bipolar, por exemplo: sim/não; concordo/não concordo (COHEN et. al., 2013).

Ao aplicarmos um questionário com questões de múltipla escolha ou questões dicotômicas, poderemos medir atitudes e opiniões do público-alvo da pesquisa. Nesse sentido se torna necessário a utilização de escalas. As escalas mais utilizadas são: Escala de Soma Constante, Escala de Likert, Escala de Thurstone e Escala Diferencial Semântica (NOGUEIRA, 2002).

A elaboração de um questionário requer a observância de normas precisas com o objetivo de aumentar sua eficácia e validade, para tanto, em sua organização deve-se levar em conta os tipos de perguntas, sua ordem e a formulação das mesmas (MARCONI; LAKATOS, 2017). Ao formularmos as perguntas devemos lembrar que elas devem partir dos objetivos da pesquisa. As perguntas devem ser transformadas em indicadores e variáveis que serão apresentadas aos respondentes em forma de itens, ou seja, os itens devem estabelecer a relação entre os objetivos de pesquisa e os conceitos pesquisados (GÜNTHER, 2003).

Além disso, ao planejar a construção de um questionário é preciso prever o modo como o mesmo será aplicado. Atualmente, tem-se utilizado muito o formato digital como alternativa para maior disseminação e mesmo organização dos dados, pois os diferentes programas que podem ser utilizados para a construção digital e envio, disponibilizam de forma mais organizada os dados, procedendo até mesmo a alguns tratamentos, como elaboração de gráficos. Creswell e Creswell (2018) também ressaltam o uso de softwares no auxílio a elaboração de instrumentos de coleta de dados, em virtude das possibilidades que esses instrumentos podem fornecer para o pesquisador, em termos de estatísticas descritivas e informações gráficas.

Os questionários podem ser aplicados de diferentes modos, segundo Günther (2003), pode ser realizado por meio de entrevista pessoal ou via telefone, instrumento auto-aplicável via correio ou em grupo, ou ainda instrumento auto-aplicável via e-mail e internet. Todos os modos carregam vantagens e desvantagens que precisam ser avaliados pelos pesquisadores.

Por fim, não menos importante do que a redação do instrumento, o pré-teste é crucial para o sucesso da pesquisa, no intuito de aumentar a confiabilidade, a validade e a praticabilidade do questionário (COHEN et al, 2013). Esse pré-teste pode ser realizado de diferentes formas, como por exemplo, a aplicação pode ser feita a um grupo de pessoas que conheçam a temática abordada que tem a função de analisar e discutir as questões ou a aplicação pode ser feita com pessoas que compartilhem das características da população alvo para verificar sua compreensão e o modo como respondem.

4. Como construir um bom questionário?

Um bom questionário precisa observar algumas características, especialmente, em relação às perguntas que são feitas aos respondentes, pois questões eficazes geram respostas fidedignas e válidas (GÜNTHER, 2003). Nesse sentido, ele oferece algumas dicas que precisam ser observadas ao elaborar um questionário:

  1. a) a pergunta precisa ser compreendida consistentemente;

  2. b) a pergunta precisa ser comunicada consistentemente;

  3. c) as expectativas quanto à resposta adequada precisam ser claras para o respondente;

  4. d) a menos que se esteja verificando conhecimento, os respondentes devem ter toda informação necessária; os respondentes precisam estar dispostos a responder (Ibidem, 2003, p. 7).

Além disso, preciso estar atento à forma como as perguntas são apresentadas e escritas, procurando utilizar uma linguagem clara e objetiva, evitando a ambiguidade. Ao mesmo ter cuidado para não levar o respondente a assinalar uma resposta esperada e que corrobora com as hipóteses da pesquisa. O modo como uma pergunta é formulada pode influenciar o respondente e isso pode desqualificar uma pesquisa.

Muitas vezes o tema e forma como é abordado pode até mesmo ser sentido como uma ameaça, como quando se abordam itens que envolvem comportamentos considerados socialmente inaceitáveis. Ao desenvolver as questões é necessário refletir sobre “até que ponto determinadas perguntas podem constituir ameaça ao respondente” (Ibidem, 2003, p. 8). Portanto, para termos uma boa coleta deve-se obter a informação sem provocar nenhum constrangimento, a fim de não receber respostas não autênticas.

Um bom questionário prevê a oportunidade do respondente não ter informação ou opinião formada sobre determinada temática, ou ainda, indicar que a pergunta não se aplica a eles. É essencial que, independentemente do tipo de pergunta feita, a linguagem e os conceitos estejam ao alcance dos respondentes (COHEN et al., 2013).

O questionário é um instrumento útil para coletar informações de pesquisa, os quais podem fornecer dados estruturados, podendo ser administrado muitas vezes sem a presença do pesquisador. Outra vantagem é que os questionários comparados a outros métodos podem ser simples de analisar. Porém, se deve atentar a importância do tempo necessário para refinamento do instrumento, que deve ser pensado e julgado, pois a falta de qualidade deste instrumento pode limitar os dados obtidos (COHEN et al., 2013).

Sugere-se atenção a algumas questões éticas que devem ser pensadas durante a elaboração de um bom questionário de pesquisa. Dentre elas, salienta-se que o questionário é sempre uma invasão a vida do entrevistado, seja em relação ao tempo para responder, como o nível de ameaça ou sensibilidade das questões ou a possível invasão de privacidade. Portanto, a decisão de aceitar ou não, de se envolver e quando retirar-se da pesquisa é inteiramente dos pesquisados (Ibidem, 2013).

5. Considerações finais

O presente artigo apresenta questões importantes sobre a elaboração e o uso de questionários em pesquisas. Ressalta os contextos, a forma e algumas especificidades na elaboração de um questionário, bem como apresenta algumas dicas para construção de um bom instrumento. Nesse sentido, este estudo traz contribuições aos pesquisadores e ao campo de estudo de diferentes áreas do conhecimento, demonstrando que a utilização de um questionário bem estruturado pode contribuir com distintos formatos e modelos de pesquisa.

O questionário se apresenta como um instrumento de coleta de dados com grande potencialidade para o universo da pesquisa, levando em consideração os objetivos e formatos de cada coleta de dados, que pode fornecer dados estruturados para posterior análise. Para a utilização desse instrumento, deve-se levar em conta que a sua construção requer cuidados quanto relacionados a sua estrutura, a elaboração de questões, ao ordenamento das questões, aos aspectos éticos envolvidos, a atenção a testes já validados anteriormente. Esses aspectos precisam nortear-se para que seja possível coletar as informações necessárias aos objetivos da pesquisa para subsidiar a posterior análise dos dados.

Portanto, o questionário é mais um dos diversos instrumentos de coleta de dados disponíveis, sendo de fácil elaboração e aplicação para que o pesquisador possa utilizar para reunir dados mais pontuais e objetivos. Dentre as finalidades de suas pode ser utilizado para descrever características de uma população, testar hipóteses de pesquisa, propor questionamentos aos respondentes.

De modo geral, o questionário atende a diferentes objetivos de pesquisa, oferecendo algumas vantagens e desvantagens, o que precisa ser analisados considerando cada contexto de pesquisa. Sendo assim, ao ser adotado, vários cuidados precisam ser observados de modo a cumprir suas finalidades.

Como sugestão para trabalhos futuros, frisa-se a necessidade de realização de uma revisão sistemática da literatura em diferentes bases de dados acerca da utilização de questionários em pesquisas sociais, a fim de permitir o desenvolvimento de outros estudos que possam ampliar e fortalecer o entendimento do instrumento estudado.

Referências

COHEN, Louis; MANION, Lawrence; MORRISON, Keith. Research methods in education. 7th ed. Routledge, 2013.

CRESWELL, John W.; CRESWELL, J. David. Researchdesign: qualitative, quantitative, and mixed methods approaches. 5th ed. Thousand Oaks: CA, Sage, 2018.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2014.

GÜNTHER, Hartmut. Como elaborar um questionário. Série: Planejamento de Pesquisa nas Ciências Sociais, nº 01. Brasília, DF: UnB, Laboratório de Psicologia Ambiental, 2003.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 8º ed. Editora Atlas. São Paulo, 2017.

NOGUEIRA, Roberto. Elaboração e análise de questionários: uma revisão da literatura básica e a aplicação dos conceitos a um caso real. RJ: UFRJ/COPPED, 2002.

YAREMKO, R. K., HARARI, H., HARRISON, R. C., & LYNN, E. (1986). Handbook of research and quantitative methods in psychology. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum.

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