Práticas corporais de aventura em escolas brasileiras: revisão sistemática
The corporal practices of adventure in brasiliens`schools: systematic review
Prácticas corporativas de aventura en escuelas brasileñas: revisión sistemática
Práticas corporais de aventura em escolas brasileiras: revisão sistemática
Research, Society and Development, vol. 8, núm. 6, pp. 01-14, 2019
Universidade Federal de Itajubá

Recepção: 11 Março 2019
Revised: 14 Março 2019
Aprovação: 24 Março 2019
Publicado: 29 Março 2019
Resumo: O objetivo deste estudo é analisar como as Práticas Corporais de Aventura (PCA) foram desenvolvidas na escola nos últimos 10 anos; cujos descritores - esportes, aventura, práticas corporais, conteúdo, educação física, natureza, meio ambiente, permitiram encontrar 122 estudos em 4 bases de dados: Scielo; Google Acadêmico, Redalyc e Lilacs. Pelos critérios de inclusão e exclusão foram eleitos 5 estudos. Nota-se práticas didático-pedagógicas, ao contemplar as dimensões dos conteúdos, estreitando a relação entre o ser humano e a natureza. Contudo, concluímos que o potencial das PCA para o desenvolvimento cognomotor não foi contemplado nos estudos, nas suas dimensões das funções cognitivas e motoras interconectadas, fazendo-nos inferir que o paradigma atual ainda não é o embodied cognition, onde corpo e mente estão indissociavelmente juntos. Cabe aos professores, secretarias de educação e Instituições de Ensino Superior, fomentarem formação específica tanto na graduação quanto na pós-graduação.
Palavras-chave: Educação física escolar, Corpo\movimento, Esportes.
Abstract: The objective of this study is to analyze how the Adventure Body Practices (PCA) were developed in the school in the last 10 years; whose descriptors - sports, adventure, corporal practices, content, physical education, nature, environment, allowed to find 122 studies in 4 databases: Scielo; Google Scholar, Redalyc and Lilacs. Five studies were selected according to the inclusion and exclusion criteria. It is possible to observe didactic-pedagogical practices, when contemplating the dimensions of the contents, narrowing the relation between the human being and the nature. However, we conclude that the potential of PCA for cognomotor development was not addressed in the studies, in their dimensions of interconnected cognitive and motor functions, making us infer that the current paradigm is not yet embodied cognition, where body and mind are inextricably together. It is up to teachers, education secretariats and higher education institutions to foster specific training both in undergraduate and postgraduate courses.
Keywords: School physical education, Body\movement, Sports.
Resumen: El objetivo de este estudio es analizar cómo las Prácticas Corporales de Aventura (PCA) fueron desarrolladas en la escuela en los últimos 10 años, cuyos descriptores - deportes, aventura, prácticas corporales, contenido, educación física, naturaleza, medio ambiente, permitieron encontrar 122 estudios en 4 bases de datos: Scielo; Google Académico, Redalyc y Lilacs. Por los criterios de inclusión y exclusión fueron elegidos 5 estudios. Se nota prácticas didácticas-pedagógicas, al contemplar las dimensiones de los contenidos, estrechando la relación entre el ser humano y la naturaleza. Sin embargo, concluimos que el potencial de las PCA para el desarrollo cognoscitivo no fue contemplado en los estudios, en sus dimensiones de las funciones cognitivas y motoras interconectadas, haciéndonos inferir que el paradigma actual todavía no es el builtied cognition, donde cuerpo y mente están indisolublemente juntos. Cabe a los profesores, secretarías de educación e Instituciones de Enseñanza Superior, fomentar formación específica tanto en la graduación y en el postgrado.
Palabras clave: Educación física escolar, Longitud \ movimiento, Deportes.
1. Introdução
Durante as últimas décadas no Brasil as Práticas Corporais de Aventura (PCA) vêm se destacando na sociedade. De acordo com Paixão (2017), tratam-se de práticas corporais, manifestadas no âmbito do lazer e da competição e que, por sua vez, tem como eixos a aventura, o risco e as fortes emoções em sua máxima intensidade e profusão experienciadas no meio natural. É crescente o acervo científico sobre pesquisas relacionadas às PCA no Brasil. Profissionais, professores e amantes desta modalidade têm envidado esforços para aprofundar os conhecimentos acerca das PCA.
As PCA são compreendidas como as diferentes práticas esportivas manifestadas principalmente nos momentos de lazer, com características inovadoras e diferentes dos esportes tradicionais (futsal, handebol, voleibol e basquetebol), pois as condições de prática, os objetivos, a própria motivação e os meios utilizados para o seu desenvolvimento são outros. Além disso, há também a presença de equipamentos tecnológicos inovadores permitindo uma facilidade do contato entre o praticante e o espaço destinado a essas práticas: terra, água ou ar (MARINHO; SCHWARTZ, 2005).
Com base no tema meio ambiente sugerido pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para a Educação Básica, as práticas corporais de aventura como conteúdo da Educação Física escolar, passam a incorporar desde a BNCC (2017) o 6º eixo da Educação Física Escolar juntamente com dança, luta, esportes, jogos e brincadeiras e ginástica. Seu propósito é oferecer a possibilidade de vivenciar comportamentos de respeito e de preservação do meio natural, ampliando as vivências dos alunos e possibilitando novas experiências, saindo assim da predominância das práticas escolares dos esportes convencionais como o futsal, vôlei, handebol e basquete (PAIXÃO, 2017).
Para responder a questão primordial do estudo: com qual propósito os professores de Educação Física estão desenvolvendo PCA nas escolas? E elas realmente já estão sendo desenvolvidas? Foi utilizada a metodologia de Revisão Sistemática, sendo este, um método de síntese de evidências que analisa e, de forma crítica, interpreta todos os estudos importantes disponíveis para uma questão específica de uma área do conhecimento ou fenômeno de interesse (BRASIL, 2014).
Nesse sentido, este estudo tem por objetivo analisar como as práticas corporais de aventura estão sendo desenvolvidas nas aulas de Educação Física escolar no arco temporal dos últimos 10 anos.
2. Metodologia
As Revisões Sistemáticas são projetadas para serem metódicas, nítidas e capaz de reprodução. Considerada estudo primário retrospectivo, portanto pesquisa empírica, trata os estudos como se fossem os sujeitos da investigação. Esse tipo de metodologia serve para conduzir o desenvolvimento de projetos, indicando novos rumos para futuras investigações e identificando quais métodos de pesquisa foram utilizados em uma área. Uma revisão sistemática necessita de uma pergunta clara, a definição de uma estratégia de busca, a criação de critérios de inclusão e exclusão dos artigos e, uma análise criteriosa da qualidade da literatura selecionada. O processo de desenvolvimento desse modo de pesquisa de revisão inclui definir cada estudo selecionado, avaliando a qualidade deles, identificando os conceitos relevantes, comparando as análises estatísticas apresentadas e concluindo sobre o que a literatura informa em relação a determinada intervenção, indicando questões que necessitam de novos estudos (SAMPAIO; MANCINI, 2007).

Iniciou-se a pesquisa no mês de abril de 2018 com a definição dos descritores: esportes, aventura, práticas corporais, conteúdo educação física, esporte na natureza, práticas em meio ambiente, educação física e professores de educação física (termos usados conjugadamente); nas seguintes bases de dados: Scielo (Scientific Electronic Library Online); Google Acadêmico, Redalyc (Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal) e Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde); cuja busca às cegas entre os 3 pesquisadores principais ocorreu ainda durante o mês de abril entre os dias 20 à 30, considerados\lidos apenas títulos e resumos do estudo.
Para seleção dos estudos definiu-se os seguintes critérios:
I. De inclusão: publicações em português, estudos publicados entre 2008 e 2018 e realizados exclusivamente no ambiente escolar; e
II. De exclusão: estudos de revisão bibliográfica e documental, com outras práticas conjugadas.
Após essa etapa realizada por 2 pesquisadores, foi feita análise dos estudos lendo-os integralmente, com o objetivo de sintetizar as informações pertinentes.
A busca inicial detectou 122 estudos; tendo sido excluídos 111 estudos sendo: 59 de outros desenhos de estudo (revisão bibliográfica e revisão documental), 28 de outras intervenções conjugadas e 24 estudos repetidos. Destacaram-se 11 estudos científicos com potencial de inclusão, no entanto 6 foram excluídos por serem não escolares (dependentes químicos, instrutores e praticantes dos esportes de aventura), chegando-se no total de 5 estudos incluídos nesta revisão, conforme fluxograma abaixo.

3. Resultados
| Nº | Referência | Instrumento | Estudo | Amostra | Objetivo | Resultado | |||||
| 1 | TERUEL, Ana Paula. | Questionário | Qualitativo | 20 Licenciados em Educação Física | Analisar a utilização das AFAN[1] nas escolas do município de Rio Claro, na visão dos profissionais de Educação Física. | Professores motivados reconhecedores do valor das AFAN para seus alunos. Porém, a falta de preparação tem impedido o trabalho. | |||||
| 2 | CAPAVERDE, Mariane Rech; MEDEIROS, Tiago Nunes; ALVES, Sérgio Luiz Chaves. | Questionário semi-aberto | Quanti-qualitativo | 18 professores, de 5º 8º ano do Ensino Fundamental e do 1º ao 3º ano do Ensino Médio | Investigar se os esportes de aventura são abordados nas aulas de Educação Física. | Os professores pretendem trabalhar com PCA’s, mas alegam inviabilidade financeira, falta de qualificação profissional e desinteresse em buscar capacitação. | |||||
| 3 | FRANÇA, Dilvano Leder; DOMINGUES, Soraya Corrêa. | Vivências ao ar livre\ reflexões Discussões | Qualitativo | Alunos de 4º e 5º ano do Ensino Fundamental | Investigar as possibilidades e os desafios no processo de inclusão e aplicação dos esportes de aventura nas aulas de Educação Física, no ciclo II, do ensino fundamental. | Os resultados apontam mudanças de comportamentos nos alunos em relação ao respeito à natureza, aos colegas e aos espaços físicos escolares, demonstrando melhor percepção quanto ao tema meio ambiente. | |||||
| 4 | MAGALHÃES, Josy Cristina. | (Grupo de estudos\formação continuada) Diário de Campo Registro fotográfico | Qualitativo | Uma turma do 2º ciclo | O objetivo central foi desenvolver e analisar as PCA enquanto conteúdo da educação física a partir da abordagem Crítico-Superadora. | As PCA contribuíram para a formação de alunos mais críticos e conscientes da realidade em que estão inseridos, e na transmissão de valores fundamentais no processo de aprendizagem. | |||||
| 5 | FREITAS, Tamires Alvarado; RUFINO, Luiz Gustavo Bonatto; TAHARA, Alexander Klain; DARIDO, Suraya Cristina. | Execução e monitoramento de um programa de PCA (entrevista semiestruturada e questionário posterior para avaliação) | Qualitativa (exploratório) | 18 alunos de 12 a 13 anos do 6° ano do ensino fundamental | Analisar a implementação de um programa de práticas corporais de aventura (PCA’s) nas aulas de Educação Física em uma escola | Os resultados demonstram que o processo foi importante por apresentar um novo conteúdo possível de ser desenvolvido nas aulas, uma vez que os alunos e o professor comentaram que desconheciam até então as PCA’s, mas ao mesmo tempo mostraram-se bastante motivados. | |||||
4. Discussões
No estudo 1 - Atividades de aventura no contexto escolar na visão de professores de Educação Física (TERUEL, 2011) o questionário com perguntas abertas foi aplicado a uma amostra intencional com professores licenciados em Educação Física. Sendo 11 mulheres e 9 homens, totalizando 20 participantes. Os participantes possuíam em média, 39,9 anos de idade, sendo que o mais novo tem 24 anos e o mais velho, 51.
A autora elegeu dois eixos para a investigação da pesquisa, o que aborda a Aplicação da AFAN (Atividades Físicas de Aventura na Natureza) foi dividido em três eixos secundários: 1. Motivos de aceitação sobre a aplicação; 2. Preparo para a aplicação e; 3. Dificuldades da aplicação. Já o Segundo eixo foi discutido sobre Interesses, ocorreu também uma divisão em dois eixos secundários: 1. Condições na escola; 2. Interesses dos alunos.
Dos 20 professores questionados, 15 (75%) aplicam ou aplicariam as AFAN nas aulas e 5 (25%) não aplicam ou aplicariam essas atividades. Dentre os motivos para tal aplicação está o interesse dos alunos sobre as AFAN, a diversificação que o tem proporciona nas aulas em relação com a natureza, o desenvolvimento da coragem e do autodescobrimento. A principal justificativa para não aplicação está na falta de experiência do professor com essa prática, escassez de materiais adequados e a preocupação com a segurança, pois as escolas não oferecem condições que favoreçam tais práticas.
De acordo com estudo de Teruel (2011), as práticas das AFAN são abordagens que favorecem a educação ambiental, por meio das vivências práticas trabalha-se a interdisciplinaridade. Levantando questões sobre a preservação da natureza, promovendo a relação ser humano-natureza e estimulando os conhecimentos geográficos, matemáticos e físicos.
O estudo 2 - Esporte de Aventura nas Aulas de Educação Física: Uma Alternativa ao Alcance dos Profissionais? (CAPAVERDE; MEDEIROS E ALVES, 2012) foi realizado nas escolas da rede de ensino estadual, municipal e particular na cidade de Osório/RS, analisando se o professor possuía qualificação profissional na área, as dificuldades encontradas por eles e a viabilidade das modalidades dos esportes de aventura. Os autores relataram a partir das respostas que o esporte de aventura vem crescendo aos poucos dentro das escolas, havendo um interesse dos professores nessa área, tendo como principais modalidades mais citadas no questionário a trilha, corrida orientação e a caminhada longa.
Quanto à possibilidade de inserção das modalidades, 44% (8 sujeitos) dos professores acreditam ser viáveis e 56% (10 sujeitos) acreditam não ter viabilidade para serem realizadas. Foram constatados que 39% (7 sujeitos) dos professores já estão aplicando alguma modalidade durante o ano letivo como “Trilha no morro”, “Caminhada longa”, “Trilha e corrida orientada”, “Caminhada longa, trilha, falsa baiana e corrida orientada” e; 61% (11 sujeitos) ainda não aplicam nenhuma modalidade do esporte de aventura nas aulas de Educação Física.
Alguns professores demostraram interesse em aplicar algumas modalidades do esporte de aventuras em suas aulas, mas, os mesmos justificam motivos de não aplicarem pela por razões econômicas e físicas. Segundo os autores o que ainda está faltando é a qualificação profissional, o interesse de buscar o novo para seus alunos e, isso deve partir de cada professor.
O estudo 3 - Esportes de Aventura nas Aulas de Educação Física, de França e Domingues (2015) foi realizado escola da rede municipal de Curitiba/PR, sendo a produção dos dados nas aulas de Educação Física, visando à prática corporal das atividades de esporte de aventura por meio das modalidades de: corrida de orientação, slackline, arvorismo e skate. Os dados foram analisados durante e após o desenvolvimento das atividades realizadas nas aulas.
A primeira modalidade explorada foi a corrida de orientação, adaptada em suas regras para atender e adequar as capacidades prévias dos alunos. O slackline foi a segunda modalidade desenvolvida, a iniciação dessa atividade se deu em dupla, enquanto um participante se equilibrava na corda o outro segurava sua mão. À medida que os alunos iam se sentindo confiáveis soltavam aos poucos as mãos dos colegas.
A terceira modalidade aplicada foi o arvorismo, que aconteceu em espaços alternativos da escola, utilizando colunas da quadra e árvores no pátio usando cordas para fazer a travessia de um para o outro. ‘Foram desenvolvidas aulas em parques da cidade a fim de reproduzir as atividades já vivenciadas na escola durante as aulas de Educação Física. Na quarta e última modalidade foi elaborado um circuito com o skate, no qual ao final das aulas os alunos tiveram a autonomia de modificá-lo criando suas próprias manobras e variando o grau de dificuldade.
Na última semana de atividades de aventura aconteceu a aula de campo em um parque próximo da escola, onde foram realizadas as modalidades de slackline, arvorismo e corrida de orientação. Neste momento o objetivo foi realizar as atividades que já tinham sido vivenciadas na escola, porém, com a finalidade da experimentação dessas práticas em contato com o meio natural (árvores, rios, terra, etc.).
No decorrer desse processo os alunos foram submetidos a discussões e reflexões a respeito dos assuntos: esporte de aventura, prática corporal e consciência ambiental. De forma a promover atitudes de respeito, preservação e cuidado com o corpo, com os outros e com os espaços, levando-os a uma ação consciente.
Em conformidade com França e Domingues (2015), os esportes de aventura quando inseridos nas aulas de Educação Física escolar, favorecem em grande medida o desenvolvimento da interação social, construído por meio da cooperação, do respeito à natureza. Além da prática estimular o trabalho em equipe, a criticidade sobre a relação do corpo/movimento, corpo/meio ambiente, movimento/sociedade e gera a motivação para realização de atividades físicas; tendo assim grande contribuição no desenvolvimento pedagógico.
O estudo 4 - O Ensino das Práticas Corporais de Aventura a Partir da Abordagem Pedagógica Crítico-Superadora: Experiência em uma Escola Municipal de Goiânia - de Magalhães (2016) cuja pesquisa acerca foi iniciada em agosto de 2013 por meio de um grupo de estudos onde a autora participava, foi retomado o projeto no primeiro semestre de 2015. As intervenções ocorreram na Escola Municipal Professora Dalísia Elizabeth Martins Doles, com duração de 2 meses, os horários foram escolhidos de acordo com a disponibilidade da autora. As aulas eram ministradas na maioria das vezes pelo professor de Educação Física da escola, entretanto, a autora também tinha seus momentos como ministrante.
Para a coleta de dados eram utilizados diários de campos, e com registros fotográficos sendo que a autora participava ativamente das intervenções. O planejamento das aulas acontecia de forma coletiva entre os professores, por meio de reuniões e trocas de e-mails. No grupo de estudos, primeiramente foi introduzido o tema Práticas Corporais de Aventura, mapeamento da escola por meio de desenho, dos possíveis lugares para realizar as práticas corporais de aventura, vídeos de práticas corporais de aventura em diferentes meios de acordo com a sua classificação, sistematização das possíveis práticas corporais de se realizar na escola, vivências das atividades criadas pelos alunos e algumas criadas pelos professores, avaliação da aula anterior e explicação teórica do conteúdo corrida de orientação e Slackline.
As aulas foram planejadas de acordo com as capacidades sociocognoscitivas dos alunos. O ponto alto das aulas foi o grande interesse que os alunos demonstravam e a participação nas atividades. Os alunos também ajudavam nas aulas com sugestões de atividades e também a partir de seus feedbacks. Ao longo das aulas foi procurado trabalhar conceitos fundamentais no processo de formação social dos alunos.
Segundo os autores as práticas corporais de aventura contribuíram de maneira significativa na formação pedagógica dos alunos, pois se apropriaram de conteúdo novo, pouco trabalhado nas escolas.
O estudo N° 5 - Avaliação da Implementação de um Programa de Práticas Corporais de Aventura na Educação Física Escolar de Freitas et al. (2016) foi realizado em uma escola da rede pública estadual de ensino do interior de São Paulo. Participou, também, da pesquisa o professor da referida turma.
Foi realizada a execução do programa das PCA organizada de quatro encontros durante um mês. Cada encontro foi referente a uma modalidade pertencente às PCA, sendo elas o le parkour (primeiro encontro), o skate (segundo encontro), a corrida de orientação (terceiro encontro) e o surfe (quarto encontro), possibilitando aos alunos diversas vivências dos conteúdos propostos.
Um quinto encontro foi realizado com intenção de coletar os dados para o estudo por meio da entrevista e questionários. Cada aula foi dividida em três momentos onde se trabalhou as dimensões do conhecimento: conceitual (histórico e evolução, os equipamentos, as vestimentas, os movimentos, técnicas básicas, interpretação de mapas e manuseio de bússolas), procedimental (vivências sobre as PCA, em que foram propostas atividades de maneira adaptada) e atitudinal (discutir sensações, percepções e valores acerca das experiências vividas junto aos demais).
Após a realização das aulas sobre os conteúdos de PCA, professor e alunos responderam a uma entrevista e a um questionário. A entrevista semiestruturada foi aplicada ao professor de Educação Física da escola, baseada nos seguintes eixos: considerações sobre o processo, possibilidades das PCA na escola, considerações sobre a didática e a prática de ensino desenvolvida, principais pontos positivos e negativos. O questionário aplicado aos alunos foi elaborado com questões discursivas, dirigidas pelos eixos: aulas de PCA, dificuldades oriundas das intervenções e possibilidades para as aulas de Educação Física na escola. Na entrevista e no questionário os participantes destacaram a falta de materiais na escola e falta de espaço físico adequado para a execução das práticas.
Os autores do estudo 5 concluem que as PCA apresentaram uma enorme possibilidade de inserção na escola, mesmo que de maneira adaptada, por ser uma manifestação que faz parte da cultura corporal de movimento; creem que é necessário que essas práticas sejam introduzidas de forma adequada nas aulas de Educação Física, ampliando as possibilidades pedagógicas dessa componente curricular, além de aumentar a variedade de conteúdos da Educação Física, proporcionando aos alunos sensações e emoções diversificadas e, ainda, possibilitando a formação de valores ligados a elas (FREITAS et al., 2016).
Finda a apresentação dos 5 estudos desta revisão, e de acordo com a análise dos mesmos, foi possível verificar que alguns professores utilizam as PCA como conteúdo nas aulas de Educação Física Escolar explorando as suas dimensões. Entretanto, alguns professores relataram dificuldades ao inserirem esse conteúdo em suas aulas, dentre elas, destacam-se como os maiores desafios a ausência da temática na formação acadêmica, pois muitos professores relataram que não tiveram essa disciplina em sua grade curricular na graduação. A falta de espaço e a carência de materiais específicos também foram empecilhos para aplicação das práticas corporais de aventura na escola.
Contudo Cássaro (2011, p. 15) diz que "o espaço adequado e equipamento específico não necessariamente a escola precisa oferecer e ter, pois, a ação da educação não se restringe a uma prática pela prática, mas a vivência oferece inúmeros conhecimentos, tanto esportivo, cultural, social."
Esta revisão sistemática permitiu-nos concluir que ao trabalharem as PCA em suas aulas os professores tiveram como intuito principal atrair o olhar dos alunos para uma prática inovadora pouco explorada no contexto escolar. Ao aplicarem as PCA os professores de Educação Física, tem como propósito explorá-la no âmbito didático-pedagógico, contemplando assim as três dimensões dos conteúdos, desenvolvendo nos alunos além das valências físicas, as capacidades de relacionamentos socioafetivo e seus reflexos atitudinais capazes de promover a relação ser humano-natureza, já citada, favorecendo dessa forma a educação ambiental.
Levando em conta a diversificação que o tema proporciona nas aulas em relação com a natureza, os professores ao desenvolveram tais práticas trabalham de forma interdisciplinar, que ao favorecer a educação ambiental estimula os conhecimentos geográficos, matemáticos, físicos, e sobretudo, das ciências ligadas à natureza.
Não foram encontradas alusões ao desenvolvimento cognomotor (funções executivas e motoras) dentro das valências físicas trabalhadas pelas PCA.
5. Considerações
Ao analisar como as PCA estão sendo desenvolvidas nas aulas de Educação Física escolar no arco temporal dos últimos 10 anos, foi possível verificar que os professores têm como objetivo atrair o olhar dos alunos para uma práxis inovadora que, infelizmente, não é muito explorada no ambiente escolar. Prática esta, que, de acordo com os autores consagrados com os quais corroborou a revisão sistemática, possibilita o desenvolvimento de coragem, autoconhecimento, autonomia, liberdade, superação de desafios, emoção e prazer pelas práticas de aventura.
Pelos poucos estudos encontrados com a prática das PCA exclusivamente em ambiente escolar, podemos inferir que as PCA estão apenas no discurso e nos documentos da BNCC, não fazendo parte, ainda, da cultura escolar, realizá-las. Cabe aos professores da Educação Física promoverem mais este tipo de prática, bem como as secretarias de educação promoverem formação específica para este eixo, haja vista haver formação incipiente tanto ao nível da graduação, quanto da pós-graduação no país, destacando-se os estudos existentes na maioria pertencentes somente ao eixo sul-sudeste do país; exceto Goiás.
Tendo em vista as formas de abordagem das PCA nas escolas, destaca-se o trabalho com enfoque no meio ambiente. Na temática versam basicamente sobre a relação natureza e sociedade; interdisciplinaridade; saber ambiental desde o conhecimento ambiental até o diálogo de saberes, e o pensar acerca da complexidade ambiental.
Concluímos esta Revisão Sistemática lembrando que o potencial das PCA para o desenvolvimento cognomotor não foi contemplado nos estudos, nas suas dimensões das funções executivas e motoras interconectadas, fazendo-nos inferir que o paradigma atual para os autores que se dedicam a prática da PCA nas escolas, ainda não é o embodied cognition[2] onde corpo e mente estão indissociavelmente juntos (DAMÁSIO, 1996), e para o qual, práticas que melhorem o desempenho motor, como slackline (equilíbrio), le parkour (agilidade), corrida de aventura (resistência), arvorismo (coordenação motora) dentre outras, são ao mesmo tempo fundamentais para o desempenho cognitivo (PEREIRA e ARMBRUST, 2010).
Referências
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Cássaro, Elizandro Ricardo. (2011). Atividades de Aventura: aproximações preliminares na rede municipal de ensino de Maringá. Universidade Estadual de Londrina–UEL. Londrina. Acesso em 05 dezembro em http://www.uel.br/cef/demh/especializacao/doc/monografias/Elizandro_Ricardo.pdf
Capaverde, Mariane Rech; MEDEIROS, Tiago Nunes; ALVES, Sergio Luiz Chaves. (2012). Esporte de Aventura nas Aulas de Educação Física: Uma Alternativa ao Alcance dos Profissionais? Revista Vento e Movimento. FACOS/CNEC. v. 1, n. 1, Osório. Acesso em 05 dezembro, em http://facos.edu.br/publicacoes/revistas/vento_e_movimento/abril_2012/pdf/esporte_de_aventura_nas_aulas_de_educacao_fisica_-_uma_alternativa_ao_alcance_dos_profissionais.pdf
Damásio, Antônio. (1996) O erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras.
França, Dilvano Leder; DOMINGUES, Soraya Correa. (2015). Esportes de Aventura Nas Aulas de Educação Física. Educere XII Congresso nacional de educação. Paraná. Acesso em 05 dezembro, em https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/41549/1/01d19t03.pdf
Freitas, Tamires Alvarado; Rufino, Luiz Gustavo. Bonatto; Tahara, Alexander Klein; Darido, Suraya Cristina. (2016). Avaliação da Implementação de um Programa de Práticas Corporais de Aventura na Educação Física Escolar. Arquivos em Movimento, v. 12, n. 1. Rio de Janeiro. Acesso em 05 dezembro, em https://revistas.ufrj.br/index.php/am/article/view/9262
Magalhães, Josy Cristina. (2016). O ensino das práticas corporais de aventura a partir da abordagem pedagógica crítico superadora: experiência em uma escola municipal de Goiânia. Universidade Federal de Goiás. Acesso em 05 dezembro, em https://repositorio.bc.ufg.br/
Marinho, Alcyane; Schwartz. (2005). Gisele Maria. Atividades de aventura como conteúdo da educação física: reflexões sobre seu valor educativo. Lecturas: Educación Física y Deportes, v. 10, n. 88, São Paulo. Acesso em 05 dezembro, em http://www.efdeportes.com/efd88/avent.htm
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Pereira, Dimitri Wuo.; Armbrust, Igor. (2010). Pedagogia da aventura. Jundiaí, SP: Fontoura.
Sampaio, Rosana; Mancini, Marisa. (2007). Estudos de Revisão Sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidencia cientifica. Revista brasileira de fisioterapia, v. 11, n. 1, São Carlos. Acesso em 05 dezembro, em http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v11n1/12.pdf
Teruel, Ana Paula. (2011). Atividades de aventura no contexto escolar, na visão de professores de educação física. Trabalho de conclusão de curso (licenciatura - Educação Física) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro. Acesso em 05 dezembro, em http://hdl.handle.net/11449/121569
Porcentagem de contribuição de cada autor no manuscrito
Héliton Jânio Gomes Rosa – 25%
Amanda Cristina de Souza – 25%
Ariane Karolaine Souza da Silva – 25%
Cleonice Terezinha Fernandes – 25%
Notas