INTRODUÇÃO

Nos últimos quase 30 anos, a questão ambiental e a sustentabilidade entraram na agenda das grandes organizações mundiais devido à pressão de diversos eventos e representantes mundiais, como a definição dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2001). Mais recentemente, em 2015, os líderes mundiais reuniram-se novamente e atualizaram os objetivos anteriormente estabelecidos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015). Essas metas foram divididas em 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), dentre os quais, um foi denominado como consumo e produção responsável (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015).

Nesse panorama, há um movimento mundial de fomento às organizações para que adotem práticas sustentáveis e incluam informações relacionadas ao tema no relatório de sustentabilidade (BARBIERI et al., 2014; ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015). Incentivam-se, assim, o desenvolvimento e a implementação de ferramentas para o monitoramento dos aspectos relacionados às questões sustentáveis (ÇANKAYA e SEZEN, 2019).

Diante disso, emergem as preocupações dos líderes mundiais, uma vez que já existe a pressão dos stakeholders que leva os players do mercado a constantes adaptações com vistas à manutenção da competitividade e ao atendimento das necessidades dos grupos de influência (MUKHOPADHYAY e SETOPUTRO, 2005; SAVASKAN, BHATTACHARYA e VAN WASSENHOVE, 2004; ZHANG et al., 1997). Desta perspectiva, fundamenta-se e se faz crescente a aplicação da Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management - SCM), (DEKKER et al., 2004; WHITE et al., 2003).

A SCM consiste na integração dos diferentes agentes da cadeia produtiva e é campo de estudo fértil e de importante aplicação no mercado (DEKKER et al., 2004; SAVASKAN, BHATTACHARYA e VAN WASSENHOVE, 2004), pois baseia seus conceitos na perspectiva de aproximação dos elos de produção (fornecedores, indústria, distribuidores e clientes), possibilitando benefícios tais como o aumento dos níveis de atendimento ao consumidor, resposta a mudanças do mercado e maior capacidade de adaptação às variáveis do negócio (FERNIE e SPARKS, 2018; HUGOS, 2018; MUKHOPADHYAY e SETOPUTRO, 2005; ZHANG et al., 1997).

Corroborando a perspectiva de adaptação e resposta às pressões mercadológicas, uma nova perspectiva de SCM vem se difundindo, tanto no meio industrial, como no acadêmico, nos quais fatores relacionados à perspectiva ambiental (WHITE et al., 2003) estão se solidificando e trazendo uma nova visão à temática, originando o Green Supply Chain Management (GSCM) (BARBIERI et al., 2014; MUKHOPADHYAY e SETOPUTRO, 2005; SRIVASTAVA, 2007, ZHANG et al., 1997).

O GSCM mantém a base teórico-empírica de sua antecessora: em ambas, os diversos agentes de uma cadeia produtiva desenvolvem suas atividades de maneira relacionada, de forma que o resultado é obtido pela participação e correta execução das atividades de cada um dos integrantes (HUGOS, 2018; SRIVASTAVA, 2007; ZHANG et al., 1997). Contudo, nesta nova perspectiva, o fator significativo de diferenciação é a atenção aos impactos ambientais promovidos por toda a cadeia (ZHU, SARKIS e LAI, 2013).

O GSCM é caracterizado por ações que emergem em caráter interno e externo à empresa. Na perspectiva interna, a organização, de maneira independente, adota medidas de melhoria ambiental, tais como a redução de insumos de produção e as práticas de gestão de resíduos (SRIVASTAVA, 2007; ZHU, SARKIS e LAI, 2013). Na perspectiva externa, a gestão ambiental ocorre de maneira integrada aos demais agentes da cadeia, como a exigência de adoção às práticas da ISO 14001 a todos os envolvidos na cadeia (ZHU e SARKIS, 2006).

Ainda, é possível identificar que existem pressões internas e externas que modelam a adaptabilidade da organização na execução de suas atividades (WHITE et al., 2003). Esses fatores levam à alteração dos meios pelos quais as atividades industriais ocorrem e implicam a ocorrência do GSCM; são nomeados de fatores normativos, miméticos e coercitivos (DIMAGGIO e POWELL, 1983; SARKIS, ZHU e LAI, 2011; ZHU, SARKIS e LAI, 2013).

É notável que as últimas décadas se caracterizaram por um crescimento considerável no apelo da sociedade por atitudes organizacionais mais “verdes”, orientando o comportamento de compra àquelas empresas que instituem práticas ambientais em seus processos. Tal exemplo, agregado a fatores relacionados a uma conduta ética instituída pelos clientes e pela sociedade, segundo Zhu, Sarkis e Lai (2013), constitui pressão normativa.

Na medida em que o mercado consumidor exige mudança de comportamento da indústria e as adaptações desta última começam a ocorrer, uma nova pressão passa a influenciar os participantes do mercado. Agora as empresas não precisam somente se adaptar em virtude da demanda do consumidor, mas porque a concorrência o fez, e o acompanhamento das boas práticas do mercado torna-se necessário para a manutenção da competitividade. A esta pressão os autores nomeiam de mimetismo (ZHU, SARKIS e LAI, 2013).

A última fonte de pressão e transformação de uma cadeia de suprimentos em uma cadeia “verde” de suprimentos é a coerção, que surge como fator determinado, imposto. Nesse caso, o conjunto de disposições legais constituído por governos e instituições reguladoras imputa a conduta ambiental cabível à empresa (GREEN JUNIOR et al., 2012; ZHU, SARKIS e LAI, 2013).

Por ser um campo em desenvolvimento e possuir aplicações mercadológicas, verifica-se um crescente interesse no desenvolvimento de pesquisas sobre o assunto, como demonstrado neste estudo. Notadamente, encontram-se pesquisas que se dedicam a criar um arcabouço básico para as perspectivas de implementação (DIABAT e GOVINDAN, 2011; SRIVASTAVA, 2007; ZHU e SARKIS, 2006), os benefícios gerados pela GSCM, assim como as limitações (GREEN JUNIOR et al., 2012; KAUR et al., 2018; KHAN et al., 2018).

Em um estudo quantitativo, Zhu, Sarkis e Lai (2019) buscaram identificar quais fatores exercem pressão para o desenvolvimento de iniciativas de adoção à cadeia verde em indústrias chinesas. Os autores observaram que os fatores de pressão coercitiva são os mais representativos para a mudança do comportamento no âmbito do tema estudado: além da pressão por parte do governo nacional, existem pressões internacionais sobre a poluição existente no respectivo país.

Green Junior et al. (2012), por sua vez, se propuseram a identificar os benefícios organizacionais gerados pela adoção da GSCM nas empresas. Para tal, desenvolveram um estudo quantitativo analisando dez constructos e encontraram correlação positiva entre a melhoria de desempenho de todos os fatores estudados com a adoção de comportamentos de compra mais verdes, tais como melhoria no desempenho econômico, no retorno sobre investimentos na perspectiva ambiental e na relação com os demais participantes da cadeia de suprimentos.

Este trabalho fundamenta seu objetivo e sua justificativa na valoração da base teórica do assunto, além de direcionar seus esforços de maneira a corroborar o estudo de Srivastava (2007) e Sehnem et al. (2015), os quais sugerem a ampliação das bases de estudo investigadas, a fim de identificar a evolução das publicações sobre a temática.

Diante da contextualização acerca da temática, este estudo objetivou analisar as publicações mais relevantes e citadas sobre GSCM publicadas na base de dados da Web of Science. Para alcançar o objetivo geral, fez-se necessário elencar os seguintes objetivos específicos: (i) analisar a evolução temporal das publicações sobre GSCM; (ii) construir uma rede de autores com publicações mais relevantes e citadas sobre a temática em estudo; e, por fim, (iii) propor uma agenda de pesquisas futuras sobre GSCM.

Os achados aqui identificados permitem ampliar a visão sobre a importância da adoção de práticas de GSCM para ampliação da competividade das organizações. No presente artigo, apresenta-se de forma sintética percepções originais sobre a temática, incluindo o conceito de Cadeia de Suprimentos Verdes e seu emprego como uma lente para analisar a SCM de forma sustentável, bem como considerar escolhas metodológicas que proporcionem uma perspectiva mais ampla do assunto. O estudo também contribui para a comunidade de pesquisa, indicando uma agenda de pesquisa futura derivada de relevantes estudos. Para os gestores, o trabalho contribui ao discutir desafios de diferentes naturezas, como barreiras não tarifárias, tecnológicas, legais ou de falhas de coordenação, as quais precisam ser superadas para a obtenção de ganhos reais de competitividade e de mitigação de problemas ambientais, além da sustentabilidade nos diversos níveis da cadeia de suprimentos.

O presente artigo está estruturado da seguinte forma: nesta introdução é apresentada a contextualização da temática juntamente com o objetivo proposto; na segunda seção, o percurso metodológico empregado na pesquisa; na terceira seção, os resultados obtidos, juntamente com a discussão; na última seção, as considerações finais do estudo, bem como limitações e sugestões de trabalhos futuros.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A proposta do presente estudo é analisar o tema de forma integrativa e sistemática, visto que a primeira se trata de um método de pesquisa adequado para a realização de uma síntese sobre a temática, objetivando o estado atual sobre o conhecimento e a apresentação de sugestões de trabalhos futuros a seu respeito (MENDES, SILVEIRA e GALVÃO, 2008; MENEGHETTI, 2011). A forma sistemática, por sua vez, consiste em uma síntese criteriosa que busca abranger todas as pesquisas realizadas sobre uma determinada temática, além de seguir procedimentos rigorosos, avaliando a confiabilidade das publicações e as bases de dados (GALVÃO, SAWADA e TREVIZAN, 2004). A presente pesquisa, assim, caracteriza-se como qualitativa, com vista a um entendimento mais profundo sobre a temática em estudo (COOPER e SCHINDLER, 2016; MENEGHETTI, 2011).

Com o objetivo de melhor visualizar o percurso metodológico seguido pelos autores, foi elaborada a Figura 1, a qual apresenta todos os passos seguidos, em suas respectivas ordens, para propor uma agenda de pesquisa sobre o tema.

FIGURA 1
Passo a passo do percurso metodológico proposto no estudo
Fonte: Elaborada pelos autores.

O primeiro passo foi a escolha da base de dados. Tomando como referência Chadegani et al. (2013), foi escolhida a base de dados Web of Science por possuir um banco de dados que abrange um grande período de publicações e, com isso, uma maior quantidade destas, além de possuir um crescimento no número de publicações e citações nos últimos anos nas áreas de gestão e economia (EVANGELISTA, SANTORO e THOMAS, 2018; FERREIRA, PIÉ e TERCEÑO, 2018; HARZING e ALAKANGAS, 2016). A consulta à base de dados Web of Science ocorreu no dia 14 de junho de 2019, portanto o levantamento das publicações referentes a 2019 foi parcial.

O segundo passo foi a definição dos termos a serem utilizados. Nesse caso, foram dois os termos: “Green Supply Chain Management” OR “Gestão da Cadeia de Suprimentos Verde”. Tais termos foram pesquisados por título na base de dados Web of Science, que leva em consideração, além dos títulos, os resumos e as palavras-chave dos artigos. Foram considerados todos os anos disponíveis na base de dados. Na primeira rodada de buscas, foram identificados 382 documentos a respeito da temática em estudo. Em seguida, foi inserido um critério para o tipo de documento, sendo selecionados somente “Article”, após o que, o número de documentos caiu para 216. Com base nesses documentos, foi possível visualizar a distribuição das publicações no decorrer dos anos e, também, os journals com mais publicações a respeito da temática.

Após a etapa 1 da pesquisa, a próxima etapa foi a aplicação do modelo proposto por Gimenez et al. (2019), que elaborou uma ferramenta desenvolvida no Microsoft Excel cuja base de dados é gerada a partir da plataforma da Web of Science, em arquivos txt contendo todas as informações sobre a temática em estudo. Essa ferramenta apresenta a evolução das publicações, todos os artigos publicados e a respectiva quantidade de citações e os journals com mais publicações.

Os 216 artigos sobre GSCM selecionados possuem 12.003 citações na base de dados Web of Science; desse total, aproximadamente 30% das citações estão concentradas em dez artigos. Seguiu-se a mesma estratégia utilizada por Perez, Popadiuk e Franco (2018), que, baseados na lei de Lotka, apresentaram os dez artigos mais citados na base de dados Web of Science. Por isso, os dez artigos mais relevantes foram selecionados e serão analisados de forma qualitativa para descrever quais foram suas propostas de pesquisas.

De forma complementar e objetivando melhor compreender a dinâmica de publicações sobre o tema, o presente artigo traz a rede de relacionamentos entre os autores das publicações levantadas. A elaboração das redes foi realizada por meio do software UCINET program (UCINET 6, 2002).

Na etapa 2, visando propor uma agenda de pesquisa sobre GSCM, foram considerados os artigos mais recentes, ou seja, aqueles publicados no período de 01/01/2018 a 14/06/2019, esta última é a data em que foi realizada a presente busca de artigos na base de dados da Web Of Science. Nesse período, foram identificados 60 artigos em 43 periódicos. Para refinar o número de artigos, foi utilizada uma das etapas do modelo proposto por Pagani, Kovaleski e Resende (2017), conhecido como Methodi Ordinatio, uma metodologia empregada em revisão sistemática.

A equação InOrdinatio foi a etapa utilizada segundo o modelo de Pagani, Kovaleski e Resende (2017), a qual permite a classificação dos artigos por relevância científica e leva em consideração três aspectos: (i) fator de impacto; (ii) ano de publicação; e (iii) número de citação. Na presente pesquisa foram considerados: o fator de impacto fornecido pelo Journal Citation Reports (JCR), extraído da base de dados Web Of Science; 2018 e 2019 como os anos de publicação; e, por fim, o número de citação extraído da base de dados Google Scholar. Assim, com o índice InOrdinatio, foi possível identificar os dez artigos com mais relevância no período analisado.

Por fim, para propor a agenda de pesquisa sobre o tema, foram consideradas as duas etapas da pesquisa. Na próxima seção, serão apresentados os resultados obtidos com a pesquisa realizada, juntamente com as discussões.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O período analisado na base de dados Web of Science foi de 1945 a 2019, conforme apresentado na Figura 2. O primeiro artigo que faz referência ao GSCM foi publicado em 2003; em 2012 já apareciam 17 artigos sobre a temática e, em 2018, 50 artigos. Nota-se avanço nas publicações sobre o tema, principalmente no período de 2010 a 2019, com 199 publicações. Os resultados apresentados corroboram os achados de Pinto, Kovaleski e Yoshino (2016) e Sehnem et al. (2015, p. 1), que já visualizavam “uma ascensão expressiva nos últimos anos” sobre a temática.

FIGURA 2
Evolução das publicações sobre Green Supply Chain Management
Fonte: Dados obtidos da plataforma Web of Science (2019).

Entre os journals com maior número de publicações sobre a temática, destaca-se o Journal of Cleaner Production, que possui 33 artigos publicados no período analisado. O Journal of Cleaner Production destacou-se com mais publicações sobre a temática. Já os journals Sustainability, Supply Chain Management: An International Journal; Resources Conservation and Recycling; International Journal of Production Research; e o International Journal of Production Economics possuem, cada um deles, oito artigos sobre a temática em estudo.

A identificação do Qualis dos periódicos citados no parágrafo anterior foi realizada na plataforma Sucupira. O evento de classificação utilizado foi: “Classificações de Periódicos do Quadriênio 2013-2016”; área de avaliação: “Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo”. No título foram inseridos, um a um, os nomes dos periódicos. Os periódicos Journal of Cleaner Production, International Journal of Production Research e International Journal of Production Economics são de classificação Qualis A1, ou seja, o nível mais alto. Os demais journals não possuem avaliações disponíveis na plataforma. Dos 216 artigos encontrados sobre a temática, 210 estão no idioma inglês, quatro em português, e o restante em espanhol e lituano.

Para melhor organização dos achados desta pesquisa, em alinhamento com o percurso metodológico proposto, as próximas discussões serão apresentadas seguindo as etapas 1 e 2 (vide seção de metodologia).

Etapa 1

Para identificar os artigos que possuem mais citações na Web of Science, foi elaborado no Quadro 1, na qual constam os dez artigos mais citados sobre GSCM. Estes dez artigos possuem 4.569 citações na Web of Science. O artigo que possui 895 citações foi publicado por Zhu e Sarkis (2004) - trata-se de um dos primeiros artigos publicados sobre a temática em estudo.

QUADRO 1
Os dez artigos mais relevantes sobre GSCM na Web of Science e o índice InOrdinatio

Na Figura 3, pode ser observada a nuvem de palavras resultante dos títulos dos dez artigos mais citados sobre GSCM. As palavras que se destacam são: green, supply, chain, practices, implementation, performance, drivers e pressures - palavras que estão alinhadas com a temática em estudo. China e chinese se destacaram também na nuvem de palavras.

FIGURA 3
Nuvem de palavras dos dez títulos dos artigos mais relevantes na Web of Science
Fonte: Davies (2020).

A partir dos dez artigos com mais citações na Web of Science, criou-se uma rede de relacionamento entre os autores que pesquisam sobre a temática. Conforme apresentado na Figura 4, é possível notar três redes, que, no entanto, não se relacionam. A partir dessas redes foram publicados os dez artigos. Relacionando o Quadro 1 com a Figura 4, identifica-se que J. Sarkis, Q. H. Zhu e K. H. Lai são os que mais aparecem entre os autores dos artigos mais citados.

FIGURA 4
Análise da rede de relacionamento entre os autores
Fonte: Elaborada pelos autores utilizando o software UCINET program (2019).

As análises qualitativas dos dez artigos com mais citações na Web of Science, objetivando identificar quais foram as suas propostas de pesquisas, serão apresentadas a seguir. Os artigos estão organizados por meio dos clusters identificados. Após isso será feita uma análise geral dos artigos.

Cluster 1

O primeiro artigo publicado sobre a temática é de autoria de Sarkis (2003), o qual observou um aumento no número de organizações que começaram a se preocupar com as práticas ambientais em suas operações. Além dos programas obrigatórios, muitas organizações começaram a implantar programas não obrigatórios em relação ao meio ambiente, principalmente as que possuem relações externas entre organizações. Isso ocorreu porque muitas organizações notaram que esses programas poderiam se tornar uma vantagem competitiva frente à concorrência. Em virtude disso, a proposta do trabalho é discutir os elementos da GCSM e como eles são levados em consideração para a tomada de decisão e, por conseguinte, apresentar uma metodologia para tomada de decisão que leve em consideração as questões ambientais.

Zhu e Sarkis (2004) observaram a necessidade da China em equilibrar as questões ambientais e econômicas e, com isso, buscaram identificar se a adoção de práticas ambientais pelas empresas chinesas resultou em melhores resultados econômico e ambiental. Por ser um conceito ainda novo na época, havia uma baixa aderência das organizações. As organizações chinesas reconheceram a importância, porém não tinham conhecimentos para efetivar tais práticas. Os principais achados da pesquisa apontam que as práticas de GSCM possuíam uma relação de ganha-ganha com os desempenhos ambientais e econômicos. A relação entre GSCM e gestão da qualidade produziu melhor desempenho. Os programas de Just in Time (JIT) podem contribuir com a degradação do meio ambiente: consequentemente essa prática não está bem avaliada sob a perspectiva do GSCM. Esse estudo demonstrou os primeiros indícios sobre a relação entre práticas de GSCM e desempenhos ambiental e operacional.

Assim como o artigo analisado anteriormente, a proposta apresentada por Zhu, Sarkis e Geng (2005) tem como foco a China e como objetivo avaliar e descrever os caminhos, as práticas e o desempenho do GSCM nas organizações de manufatura. Notou-se maior conscientização ambiental das organizações, em virtude das pressões regulatórias do país e por questões de competitividade e marketing. Mesmo com essa conscientização, observou-se a falta de práticas de GSCM nas organizações estudadas.

O estudo de Zhu e Sarkis (2006) compara as práticas de GSCM na indústria automobilística, usinas térmicas e indústria eletrônica da China. Procurou identificar quais são as diferenças e quais estão mais adiantadas no que se refere a GSCM. Em todos os segmentos foram identificadas práticas de GSCM, isso demonstra que, em razão da globalização, as empresas de manufatura começaram a atentar às questões ambientais.

Com foco na indústria automobilística, Zhu, Sarkis e Lai (2007) buscaram compreender as motivações, incentivos e pressões para a implantação de práticas de GSCM. Ao analisar 89 indústrias automotivas da China, os autores identificaram que elas sofreram muitas pressões regulatórias e de mercado. Mesmo com a adoção de práticas de GSCM, houve melhora nas questões ambientais, que não se refletiram, entretanto, nas questões econômicas.

A proposta de Zhu, Sarkis e Lai (2008a) teve como objetivo a construção e validação de um modelo, aplicado em 341 empresas chinesas, para avaliar as práticas de GSCM. Com base nos resultados, foi possível concluir que o modelo é confiável e válido. Os autores contribuíram com o avanço da literatura ao propor e validar um modelo para avaliar as práticas de GSCM.

O foco dos estudos de Zhu, Sarkis e Lai (2008b) mantém-se nas organizações de manufaturas localizadas na China. Nesse estudo, os autores analisaram as indústrias química, de petróleo, elétrica e automotiva. Foi possível a compreensão de como as práticas de GSCM ocorrem, apesar de, em cada tipo de indústria, elas se efetuarem de formas diferentes.

A proposta de Sarkis, Zhu e Lai (2011) foi realizar um mapeamento sobre a produção científica a respeito do GSCM. O trabalho se justifica em virtude do aumento da atenção dada à temática pelas organizações e academia. Os achados indicam um aumento no aprofundamento teórico sobre GSCM, o que permitiu o surgimento de teorias voltadas à explicação dos fenômenos organizacionais que vêm ocorrendo na área, consolidando, assim, uma base teórica importante para o estudo do tema.

Cluster 2

O GSCM emergiu como um importante ponto a ser observado pelas organizações, objetivando reduzir os riscos ambientais. Diante disso, Diabat e Govindan (2011) apresentaram um modelo que permitisse identificar os fatores que podem afetar a implantação de práticas de GSCM. O modelo tomou como base a literatura sobre GSCM e foram consultados especialistas na área. O modelo foi validado em um estudo de caso envolvendo uma organização de manufatura na Índia.

Cluster 3

Green Junior et al. (2012) tiveram como objetivo investigar de forma empírica o impacto das práticas de GSCM no desempenho organizacional. Participaram da pesquisa 159 gerentes de manufatura, os quais forneceram informações sobre a forma como trabalham com seus fornecedores e clientes para melhorar as questões ambientais. Como achado da pesquisa, verificou-se que a adoção das práticas de GSCM em indústrias de manufatura incrementam os desempenhos ambiental e econômico e, consequentemente, impactam de forma positiva no desempenho operacional, melhorando, por fim, o desempenho organizacional.

Rede de relacionamento entre autores brasileiros

Como forma de contribuir para o fortalecimento de estudos brasileiros sobre GSCM, o presente artigo traz algumas considerações sobre as publicações levantadas em idioma português. A análise dos quatro artigos identificados, em português, aponta que o único que possui citações na Web of Science é de autoria de Jabbour, Arantes e Jabbour (2013). Com base nesses três autores, foram identificados onze artigos em que ao menos um destes autores fizeram parte. Desse modo, foi possível construir a rede de relacionamentos entre estes autores brasileiros (Figura 5).

FIGURA 5
Análise da rede de relacionamento entre autores brasileiros
Fonte: Elaborada pelos autores utilizando o software UCINET program (2019).

Nota-se que os autores Charbel José Chiappetta Jabbour e Ana Beatriz Lopes de Sousa Jabbour cooperaram em onze artigos publicados na Web of Science, contribuindo assim para o fortalecimento de pesquisas nacionais sobre a temática em estudo. Todavia tal constatação reafirma a necessidade de mais estudos sobre o tema, de forma que haja um maior aprofundamento teórico da temática em âmbito nacional e melhoria da gestão da cadeia de suprimentos em empresas brasileiras, alinhada a questões sustentáveis, principalmente ambientais.

Análise geral da etapa 1

O primeiro artigo sobre a temática, apresentado por Sarkis (2003), trouxe a discussão sobre as preocupações das organizações em relação às questões ambientais, juntamente com a observação de que essas questões poderiam se transformar em vantagem competitiva. Zhu e Sarkis (2004) identificaram a necessidade da China em equilibrar as questões ambientais e, consequentemente, as questões econômicas. Uma das formas de realizar isso seria por meio de suas fábricas de manufatura. Tendo ainda a China como foco das pesquisas, Zhu, Sarkis e Geng (2005) notaram o aumento da conscientização das organizações em relação às questões ambientais, porém se notou também a falta de práticas de GSCM.

Apesar de focar exclusivamente nas fábricas de manufatura da China, autores como Zhu e Sarkis (2006) e Zhu, Sarkis e Lai (2007, 2008a, 2008b) contribuíram, de forma efetiva, para os avanços nos estudos de GSCM, representando base teórica marcante para os estudos sobre GSCM. Diabat e Govindan (2011) e Green Junior et al. (2012) também trouxeram contribuições teóricas importantes para o tema em questão abordando modelos de avaliação de práticas de GSCM e seus impactos no desempenho organizacional.

Etapa 2

No Quadro 2 são apresentados os dez artigos classificados pela equação InOrdinatio como os mais relevantes publicados no período de 01/01/2018 a 14/06/2019 sobre o tema Green Supply Chain management e identificados em busca na Web of Science.

Os dez artigos foram publicados em journals diferentes. Três no Journal of Cleaner Production; e um artigo em cada um dos seguintes journals: Computers in Industry; IEEE Access; Business Strategy and the Environment; International Journal of Production Research; Journal of Business Ethics; Journal of Manufacturing Technology Management; Resources, Conservation and Recycling. É possível concluir que o Journal of Cleaner Production é o principal periódico com publicações sobre a temática em estudo.

QUADRO 2
Os dez artigos mais relevantes de acordo com a Equação InOrdinatio no período analisado
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).

QUADRO 2
continuação

Na Figura 6 é apresentada a nuvem de palavras com aquelas que constam dos títulos dos dez artigos mais relevantes de acordo com a equação InOrdinatio. Nota-se que os principais termos são management, green, supply, chain, approach, novel, practices, based, human e environmental.

FIGURA 6
Nuvem de palavras dos dez títulos dos artigos mais relevantes de acordo com a equação InOrdinatio
Fonte: Davies (2020).

Para melhor compreensão acerca das pesquisas realizadas no período entre 2018 e 2019, o Quadro 3 apresenta as sínteses dos artigos mais relevantes.

Síntese dos artigos mais relevantes segundo o Índice InOrdinatio no período entre 2018 e 2019
Fonte: Elaborado pelos autores.

Quadro 3
contnuação

De forma sintética, os estudos mais relevantes no período entre 2018 e 2019 acerca da temática estão relacionados com a identificação das melhores práticas que possam contribuir com o GSCM. Tais práticas são as seguintes: logística reversa; modelos matemáticos comparativos para análise de fornecedores ambientalmente corretos; gestão da emissão de carbono; utilização de energias renováveis e verdes (ABDEL-BASET, CHANG e GAMAL, 2019; KHAN et al., 2018; TANG e WEI, 2018). Em contrapartida, há estudos que identificam as barreiras a serem enfrentadas para a adoção do GSCM, tais como o conhecimento, compromisso e design do produto (KAUR et al., 2018).

Um olhar para a área de recursos humanos verde merece a atenção de pesquisadores e profissionais, uma vez que essa área pode contribuir para a sustentabilidade da organização, bem como é necessário que a gestão de recursos humanos verde trabalhe de forma conjunta com a gestão da cadeia de suprimentos verde (LONGONI, LUZZINI e GUERCI, 2018; ZAID, JAARON e BON, 2018). Outro ponto a ser observado é a análise do GSCM sob a perspectiva da economia circular (KAZANCOGLU, KAZANCOGLU e SAGNAK, 2018).

Além disso, foi verificada a importância do alinhamento do GSCM com a estratégia organizacional, uma vez que pode gerar ganhos no quesito ambiental; bem como promover a melhoria na eficiência dos processos e, consequentemente, dos resultados financeiros da organização no longo prazo (FENG et al., 2018; TSENG et al., 2018).

Assim, com base nas análises dos artigos publicados, sugere-se uma agenda de pesquisa para nortear pesquisadores, gestores e demais interessados no tema GSCM, com vista ao desenvolvimento de pesquisas robustas e que possam contribuir para o avanço da ciência:

1. 1. Utilização de modelos matemáticos robustos para prever o desempenho organizacional em relação às práticas de GSCM e, também, para seleção de fornecedores ambientalmente corretos (SARKIS, 2003; TANG e WEI, 2018; ABDEL-BASET, CHANG e GAMAL, 2019);
2. 2. Relação do GSCM com a gestão de recursos humanos verdes por meio de pesquisa exploratória e métodos qualitativos, tais como a entrevista em profundidade (ZAID, JAARON e BON, 2018);
3. 3. Pesquisa sobre Gestão de Recursos Humanos Verdes (GRHV), visto que esta pode ser considerada como um processo que pode implantar princípios e valores ambientais nos colaboradores e, assim, contribuir com as práticas de GSCM (ZHU, SARKIS e GENG, 2005; ZAID, JAARON e BON, 2018);
4. 4. Aprofundamento das pesquisas que buscam identificar as barreiras que impedem as práticas de GSCM, uma vez que as barreiras não estão relacionadas somente com as questões financeiras e a questão de regulamentação governamental (KAUR et al., 2018);
5. 5. Análise das práticas do GSCM com vista à melhoria da eficiência ambiental e operacional e, consequentemente, dos resultados financeiros (FENG et al. 2018; TSENG et al. 2018);
6. 6. Relação das práticas de GSCM, e de sua relevância, com os aspectos econômicos, ambientais e sociais, contribuindo assim com a sustentabilidade organizacional (ZHU e SARKIS, 2004; ÇANKAYA e SEZEN, 2019);
7. 7. Levantamento sobre a existência de políticas governamentais que fomentem as práticas de GSCM, uma vez que os governos podem adotar medidas contra as empresas que prejudicam o meio ambiente ou fomentar multinacionais para implementação de boas práticas de GSCM (SARKIS, 2003; ZHU e SARKIS, 2004; ZHU, SARKIS e GENG, 2005);
8. 8. Intensificação dos estudos sobre GSCM em outros países (já que diversos estudos são realizados em empresas de manufatura na China,), mesmo que eles façam parte ou não da Organização Mundial do Comércio (OMC) (GREEN JUNIOR et al., 2012; ZHU e SARKIS, 2004; ZHU e SARKIS, 2006; ZHU, SARKIS e GENG, 2005; ZHU, SARKIS e LAI, 2008a; SARKIS e LAI, 2008b);
9. 9. Investigação sobre a cooperação, em relação a compras ambientalmente corretas, entre os players - dentro de uma cadeia de suprimentos - e seus clientes que possuem preocupações ambientais (GREEN JUNIOR et al., 2012; ZHU, SARKIS e LAI, 2007).

É importante destacar que a presente pesquisa não esgota as discussões acerca da temática do GSCM e que gaps teóricos ainda existem e precisam ser estudados; especialmente no Brasil, onde se identifica carência de pesquisas sobre esse tema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De forma integrativa e sistemática o GSCM foi analisado, tendo como base de dados a Web of Science, conforme o objetivo proposto no presente estudo. Nesse sentido, foi possível analisar a evolução temporal sobre GSCM, com destaque para o fato de que o primeiro artigo sobre a temática foi publicado em 2003.

Neste período, observa-se que as organizações que adotavam práticas de GSCM tinham como foco a geração de vantagens competitivas. No entanto, em países poluidores, sobretudo a China, ainda não se observava uma preocupação com a mitigação de problemas ambientais. Tal fato veio a prejudicar a imagem das empresas deste país, com perda de competitividade, o que as impulsionou a se organizarem para adotar práticas de GSCM. Dessa forma, observou-se que empresas chinesas de diversos segmentos começaram a investir em tais práticas. Ou seja, em virtude da globalização, as empresas começaram a atentar para as questões ambientais, já que barreiras não tarifárias e o prejuízo à sua imagem poderiam dificultar o seu acesso ao mercado global. Tendo em vista que as questões associadas à proteção ao meio ambiente começaram a ser objeto de interesse de uma quantidade significativa de organizações, diversos pesquisadores passaram a se debruçar sobre o tema e desenvolveram modelos para identificar os fatores que podem afetar a implantação de práticas de GSCM.

No que tange aos ganhos obtidos com a adoção de práticas de GSCM, observa-se melhoria de desempenho ambiental e econômico, o que, consequentemente, impacta de forma positiva no desempenho operacional e, por sua vez, melhora o desempenho organizacional. É pertinente enfatizar que a adoção de práticas de GSCM podem se traduzir em abertura de mercado, uma vez que alguns desses mercados implementam barreiras não tarifárias. Portanto os achados deste estudo trazem evidências de que a adoção de práticas de GSCM contribuem para a internalização das organizações, uma vez que ajudam a quebrar barreiras não tarifárias, além de contribuir para a sustentabilidade dos agentes participantes da cadeia. Além disso, o presente estudo aponta que a adoção de práticas de GSCM traz contribuições significativas para os stakeholders, já que organizações presentes em cadeias de suprimentos verdes atuam na mitigação de problemas ambientais e sociais, o que proporciona ganhos de imagem e amplia seu potencial de mercado.

No que se refere à rede de autores que pesquisam sobre a temática, levando em consideração os dez artigos com mais citações, destacaram-se os autores Zhu, Sarkis e Lai com os artigos mais citados. Importante ressaltar que foram identificados três clusters, o que aponta para a possibilidade de pesquisas com propostas de estudos conjuntos, com vista a melhor integrar e alinhar a teoria sobre o tema. Considerando os autores de origem brasileira, foram identificados dois autores principais: Charbel José Chiappetta Jabbour e Ana Beatriz Lopes de Sousa, que cooperam em onze artigos sobre a temática e trazem importantes contribuições aos estudos nacionais sobre GSCM.

A partir das publicações de Sarkis (2003), Zhu e Sarkis (2004), Zhu, Sarkis e Geng (2005), Zhu e Sarkis (2006), Zhu, Sarkis e Lai (2007), Zhu, Sarkis e Lai (2008a, 2008b), Sarkis, Zhu e Lai (2011), Diabat e Govidan (2011) e Green Junior et al. (2012), foi possível observar a evolução do GSCM, a qual se iniciou com preocupações ambientais na China e a necessidade de fábricas de manufatura chinesas aderirem às práticas de GSCM. As indústrias automobilísticas, usinas térmicas e indústrias de eletrônicos foram alvo de pesquisas sobre a temática.

Com base nos dez artigos mais citados na Web of Science e nos dez artigos mais relevantes no período analisado de acordo com a equação InOrdinatio, foi possível propor uma agenda de pesquisa sobre o GSCM com sugestões de trabalhos futuros que possam contribuir para o aprofundamento de estudos sobre essa temática. Desse modo, apontam-se como sugestões: utilizar modelos matemáticos robustos para analisar o GSCM; analisá-lo sob a perspectiva da gestão de recursos humanos; identificar barreiras às suas práticas; relacioná-lo à sustentabilidade organizacional; e, por fim, diversificar as pesquisas em diferentes países.

Após a realização da pesquisa, foi possível identificar suas limitações, quais sejam: (i) o ano de 2019 foi parcialmente considerado (somente até junho de 2019, data em que foram realizadas as buscas); (ii) foram analisados somente vinte artigos: a primeira amostra constituiu-se dos dez artigos mais relevantes em todo o período analisado e dos dez artigos mais relevantes no período entre 2018 e 2019 (considerados artigos recentes); e (iii) foi consultada somente a base de dados da Web of Science.

Por fim, além da agenda de pesquisa proposta, achados na presente pesquisa fizeram emergir questionamentos e insights acerca da temática que podem direcionar trabalhos futuros, tais como: (i) pesquisa do GSCM em países da Europa, África e América; (ii) estudos sobre GSCM em contexto além da manufatura, para compreender a realidade em outros contextos; (iii) validar os modelos discutidos pelos autores em diversos contextos. Sugere-se também a análise pelo porte das empresas, uma vez que não se observou a existência de estudos que tratem da adoção do GSCM em empresas de pequeno e médio portes.

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