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Educação empreendedora em uma instituição de educação superior brasileira: caminhos para o seu desenvolvimento
Entrepreneurial education in a brazilian higher education institution: pathways for its development
Educación emprendedora en una institución de educación superior brasileña: vías para su desarrollo
Revista Tempos e Espaços em Educação, vol. 16, núm. 35, e17180, 2023
Universidade Federal de Sergipe

Artigos

Revista Tempos e Espaços em Educação 2023

Recepción: 26 Enero 2022

Aprobación: 22 Noviembre 2022

Publicación: 14 Febrero 2023

DOI: https://doi.org/10.20952/revtee.v16i35.17180

Resumo: Este trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, cujo objetivo é caracterizar a Educação Empreendedora (EE), além de identificar elementos relacionados presentes no planejamento e nas ações da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). São citados autores como Dolabela (2003, 2004), Guerra & Grazzotin (2010), Lopes (2010), entre outros. Dolabela (2008) um dos expoentes nessa temática afirma que o sonho é o combustível que irá impulsionar as habilidades, as capacidades, as competências e os conhecimentos necessários para que o indivíduo possa transformá-lo em realidade. O processo de construção do sujeito empreendedor, a partir dos seus sonhos, deve ser acompanhado e estimulado pelos docentes, com metodologias adequadas. A pesquisa documental na PUCRS permitiu identificar eixos do planejamento estratégico relacionados à formação integral dos estudantes, bem como à inovação e ao empreendedorismo, presentes nos documentos do Planejamento Estratégico (PE) e do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI). A EE está transversalizada em diversas ações, que interligam as Escolas, o Parque Tecnológico e o IDEAR – Laboratório Interdisciplinar de Empreendedorismo e Inovação. O IDEAR, especificamente, fomenta e sensibiliza alunos, professores e a comunidade para o empreendedorismo e a atitude empreendedora como fatores de transformação social. Os resultados evidenciaram a disseminação dessa cultura, já que os caminhos traçados contabilizaram, em 2020, 4216 participantes envolvidos em atividades no IDEAR. Essas ações oportunizam aos participantes colocar suas ideias em prática e retratam que a Instituição de Ensino Superior (IES) está focada no desenvolvimento de cidadãos propositivos e com competências transversais, capazes de transformar ideias em projetos reais.

Palavras-chave: Educação Empreendedora, Educação Superior, Empreendedorismo, Inovação.

Abstract: This work is a bibliographical and documentary research, whose objective is to characterize Entrepreneurial Education (EE), in addition to identifying related elements present in the planning and actions of the Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul (PUCRS). Authors such as Dolabela (2003, 2004)Guerra & Grazzotin (2010), Lopes (2010), among others are cited. Dolabela (2008) one of the exponents in this theme states that the dream is the fuel that will boost the skills, abilities, competences and knowledge necessary for the individual to turn it into reality. The process of building the entrepreneurial subject, based on his dreams, must be accompanied and stimulated by the professors, with appropriate methodologies. Documentary research at PUCRS made it possible to identify strategic planning axes related to the integral formation of students, as well as innovation and entrepreneurship, present in the Strategic Planning (PE) and Institutional Development Plan (PDI) documents. EE is transversalized in several actions, which interconnect the Schools, the Technological Park and IDEAR – Interdisciplinary Laboratory for Entrepreneurship and Innovation. IDEAR, specifically, encourages and sensitizes students, teachers and the community to entrepreneurship and the entrepreneurial attitude as factors of social transformation. The results showed the dissemination of this culture, as the paths traced accounted for, in 2020, 4216 participants involved in activities at IDEAR. These actions give participants the opportunity to put their ideas into practice and portray that Higher Education Institution (HEIs) are focused on the development of purposeful citizens with transversal skills, capable of transforming ideas into real projects.

Keywords: Entrepreneurial Education, High education, Entrepreneurship, Innovation.

Resumen: Este trabajo es una investigación bibliográfica y documental, cuyo objetivo es caracterizar la Educación Emprendedora (EE), además de identificar elementos relacionados presentes en la planificación y acciones de la Pontificia Universidad Católica de Rio Grande do Sul (PUCRS). Se citan autores como Dolabela (2003, 2004), Guerra & Grazzotin (2010), Lopes (2010), entre otros. Dolabela (2008) uno de los exponentes en este tema afirma que el sueño es el combustible que impulsará las habilidades, capacidades, competencias y conocimientos necesarios para que el individuo lo convierta en realidad. El proceso de construcción del sujeto emprendedor, a partir de sus sueños, debe ser acompañado y estimulado por los docentes, con metodologías adecuadas. La investigación documental en la PUCRS permitió identificar ejes de planificación estratégica relacionados con la formación integral de los estudiantes, así como la innovación y el emprendimiento, presentes en los documentos de Planificación Estratégica (PE) y Plan de Desarrollo Institucional (PDI). La EE se transversaliza en varias acciones, que interconectan las Escuelas, el Parque Tecnológico y el IDEAR – Laboratorio Interdisciplinario de Emprendimiento e Innovación. IDEAR, específicamente, incentiva y sensibiliza a estudiantes, docentes y comunidad sobre el emprendimiento y la actitud emprendedora como factores de transformación social. Los resultados mostraron la difusión de esta cultura, ya que los caminos trazados contabilizaron, en 2020, 4216 participantes en las actividades del IDEAR. Estas acciones brindan a los participantes la oportunidad de poner en práctica sus ideas y retratar que las Institucions de Educación Superior (IES) están enfocadas en el desarrollo de ciudadanos propositivos con habilidades transversales, capaces de transformar ideas en proyectos reales.

Palabras clave: Educación Empresarial, Educación universitaria, Emprendimiento, Innovación.

INTRODUÇÃO

Inovar tornou-se prioridade para as Instituições de Ensino Superior que desejam acompanhar as mudanças pelas quais a sociedade está passando. Inovar deve constituir-se numa abordagem que proporcione aos estudantes uma realidade mais próxima ao mundo profissional contemporâneo. Audy (2006, p. 57) ressalta:

À medida que a sociedade vai se tornando mais baseada no conhecimento, as empresas vão mudando suas características e o mercado de trabalho vai se tornando mais intensivo em conhecimento, gerando demandas por um novo tipo de profissional. Ao mesmo tempo a sociedade passa a esperar mais das Universidades em termos de contribuições ao processo de desenvolvimento econômico e social.

Nóvoa (2018) afirma que um dos maiores desafios dos professores e gestores na atualidade é ser capaz de não reproduzir a escola do século XIX, mas de criar novos ambientes educativos, que não sejam tanto um ambiente de aulas, mas um espaço de pesquisa, de trabalho, de curiosidade, de motivação, onde os alunos interajam, estudem e aprendam. Para o autor, a escola tradicional, do passado, já não atende às novas gerações, às necessidades dos estudantes da geração digital.

Ainda nessa linha de considerações, Audy & Ferreira (2006) afirmam que, nesta nova sociedade, a capacidade de aprender é o grande diferencial competitivo das organizações e das pessoas, demandando novas formas de aprender. A realidade existente mostra que a aquisição do conhecimento não está confinada no espaço (nas instituições de ensino tradicionais) e nem no tempo (em um período único). Desta constatação surge a noção de educação continuada, ao longo de toda a vida. Neste ambiente de constantes mudanças são questionados antigos modelos de aprendizagem e emergem novas abordagens, baseadas no aprender fazendo (learning by doing), na criatividade e na capacidade de inovar e de aprender a aprender.

No que tange ao aspecto de aprender a aprender, Dolabela (2003) enfatiza que, pela primeira vez na história, o que se aprende na escola é rapidamente superado pelo que se aprende fora dela. Em alguns setores, o conhecimento tecnológico é renovado em pouco tempo e ressalta que não adianta mais acumular um “estoque” de conhecimentos, mas é preciso que saibamos aprender, de modo autônomo e constante. É necessário um processo de aprendizagem que induza ao contínuo aprender a aprender, que leve o estudante a proceder como faz o empreendedor na vida real: fazendo, errando, corrigindo rumos, criando. “Vemos soluções muito ricas propostas pelos alunos que mostram que eles são muito capazes se existirem as condições necessárias. Eles são capazes de empreender, de dar uma solução à própria vida”. (Dolabela, 2004, p. 04). “Estamos trabalhando com um vínculo muito estreito com o que se chama capital social, que é a capacidade de uma comunidade se associar e cooperar para se desenvolver”. (Dolabela, 2004, p. 04).

Nesse sentido, a Educação Empreendedora (EE) surge como uma forma de construção e transformação pessoal e social. Na concepção de Dolabela (2003) a essência da estratégia didática da educação empreendedora está no sonhar e no buscar realizar o sonho. O estudante irá criar o seu próprio projeto – chamado na pedagogia empreendedora de Dolabela (2003) de sonho – e se beneficiar da força didática dessa ação.

A Pedagogia Empreendedora toma o empreendedor como alguém capaz de gerar novos conhecimentos a partir de dada plataforma, constituída por “saberes” acumulados na história de vida do indivíduo e que são chamados “quatro pilares da educação” – aprender a saber, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, constantes do Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (Dolabela, 2003, p. 26).

O impacto social também faz parte dessa temática. Observe-se, por exemplo, a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, onde constam os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Especificamente, o Objetivo 4 - Educação de Qualidade visa: ´Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos´. Dentro desse objetivo há metas e uma delas refere-se ao empreendedorismo: ´4.4 - Até 2030, aumentar substancialmente o número de jovens e adultos que tenham habilidades relevantes, inclusive competências técnicas e profissionais, para emprego, trabalho decente e empreendedorismo´.

É importante destacar também que em setembro de 2021 (Agência Senado, 2021) foi aprovado em Plenário no Brasil, em votação simbólica, o Projeto de Lei 2.944/2021, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) do país para incluir os temas "empreendedorismo" e "inovação" nos currículos da Educação Básica e Superior. A matéria ainda seguira à Câmara, no entanto, é um passo para a quebra de paradigmas na educação e o desenvolvimento dos estudantes visando pensamentos críticos e inovadores.

A despeito disso, os educadores são chamados para dar suas contribuições a fim de desenvolver em seus estudantes atitudes, competências e habilidades que promovam impactos positivos para a sociedade. Dolabela (2003) afirma que a EE serviria como prática pedagógica responsável para dar sentido, em acreditar que o sonho individual e o coletivo promovem sujeitos em seu desenvolvimento integral e, assim, contribuir para o necessário progresso social e econômico.

A proposta deste estudo, portanto, é investigar a aplicação da Educação Empreendedora na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Pretende mostrar o percurso desenvolvido pela instituição ao planejar, executar e acompanhar o desenvolvimento da EE nas Instituições de Ensino Superior (IES), desde a fase de planejamento institucional que tem como essência a Inovação e o Desenvolvimento, bem como, o IDEAR – Laboratório Interdisciplinar de Empreendedorismo e Inovação que visa fomentar e sensibilizar alunos, professores e a comunidade para o empreendedorismo e a atitude empreendedora como fatores de transformação social.

Este trabalho é relevante, pois objetiva retratar os caminhos traçados por uma instituição de ensino superior a partir de seu planejamento, como desenvolve e dissemina a cultura da EE para seus professores, equipes, estudantes e a comunidade e desta forma, estimular e contribuir com outras IES que aspiram desenvolver em suas instituições a cultura da Educação Empreendedora.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Educação empreendedora e cidadania

Essa metodologia é voltada para o desenvolvimento social, redefinindo uma proposta empreendedora para o Brasil. Ela vê o empreendedorismo como um instrumento muito forte não só de desenvolvimento de geração de riqueza, mas também como um fenômeno social e cultural (Dolabela, 2004, p. 03).

O documento da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, 2021) apresenta a Estrutura de Política de Empreendedorismo e Orientação de Implementação que visa apoiar os formuladores de políticas de países em desenvolvimento na concepção de iniciativas, medidas e instituições para promover o empreendedorismo. Dos seis itens dessa estrutura, o terceiro deles aborda: ´Aprimorando a educação para o empreendedorismo e o desenvolvimento de habilidades´. Apresenta, portanto, objetivos na forma de ações recomendadas, estudos de caso e boas práticas. Os objetivos apresentam cinco pilares principais, sendo eles: Incorporar o empreendedorismo na educação formal e informal; Desenvolver currículos de empreendedorismo eficazes; Desenvolver professores; Fortalecer o quadro institucional; Parceria com o setor privado.

O que se observa são os organismos multilaterais atuando para conscientizar governantes sobre a necessidade de que as nações comecem a ter uma cultura voltada para a educação empreendedora, a fim de acompanhar as mudanças que a sociedade está vivenciando. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) (OCDE, 2014) também assume essa responsabilidade e declara que a ideia de infundir o empreendedorismo na educação gerou muito entusiasmo nas últimas décadas. Uma infinidade de efeitos é declarada, como resultado disso há crescimento econômico, empregos, criação e aumento da resiliência social, mas também crescimento individual, aumento do envolvimento da escola e melhoria da igualdade. Para OCDE (2019) as principais prioridades das políticas públicas incluem a introdução de uma abordagem progressiva à educação para o empreendedorismo ao longo da vida do aluno; formação especializada em educação para o empreendedorismo e apoio a professores; e reforço do apoio à criação de empresas em instituições de ensino profissional e superior, incluindo ligações entre instituições de ensino e organizações de apoio a empresas existentes.

Concernente a esses pontos, para Audy & Ferreira (2006) a sociedade centrada na inovação espera das Universidades abordagens pedagógicas que façam frente às atuais demandas, que busquem desenvolver novas competências e conceitos de tempo e espaço no processo de aprendizagem. Neste sentido, aprender a aprender significa aprender a refletir, levantar dúvidas, adaptar-se com rapidez e questionar continuamente o ambiente cultural envolvido.

Diante disso, o termo “empreender” normalmente está associado ao ato de criar uma empresa, ser gestor de seu negócio. Nas considerações de Dornelas (2008) o processo de empreendedorismo tem início quando um indivíduo cria, dirige, mantém, opera e controla um empreendimento com objetivo de obtenção de resultados específicos, desenvolvendo ou adquirindo competências que levem à geração de valor para clientes, funcionários e acionistas. No processo educativo, é importante trazer os pensamentos de Dolabela (2003), um dos maiores pesquisadores do tema no Brasil, que afirma:

A Pedagogia Empreendedora é um dos instrumentos de que a comunidade pode dispor para aprender a formular o “sonho coletivo”, estabelecer uma proposta de futuro feita pela própria comunidade. Empreender é essencialmente um processo de aprendizagem proativa, em que o indivíduo constrói e reconstrói ciclicamente a sua representação do mundo, modificando-se a si mesmo e ao seu sonho de autorrealização em processo permanente de autoavaliação e autocriação. (Dolabela, 2003, p. 32)

Dolabela (2004) explicita que não se pode dar uma direção ao aluno para que ele seja um empreendedor empresarial, mas para que seja empreendedor em sua forma de ser. Abrir uma empresa pode ser uma opção do aluno, porém, ele pode ser empreendedor em qualquer atividade. Ele pode ser empreendedor sendo músico, poeta, funcionário público, político, etc. Então, dentro dessa pedagogia, a atividade empreendedora torna-se universal. Dentro dela, o empreendedor é um indivíduo que gera utilidade para os outros, que gera valor positivo para sua comunidade, procura desenvolver as comunidades através das pessoas. A metodologia leva à sala de aula duas perguntas. A primeira é: “Qual é o seu sonho?” Ao receber essa pergunta, o aluno se sente protagonista da própria vida. Ele sente que o conteúdo escolar, que o conhecimento serve para que ele dê significado a sua vida, ou seja, à vida em que o seu sonho é o eixo do processo educacional. Ele se sente protagonista e integrante do processo educacional. A segunda questão é: “O que você vai fazer para transformar seu sonho em realidade?” Assim, leva o aluno a criar caminhos, estratégias, e a escolher processos para transformar seu sonho em realidade. Essa pergunta dispara um processo de criação, de criatividade, pondo em uso todo o patrimônio existencial do aluno, que é diverso. Já nas observações de Silva & Pena (2017) a história do estudante é fundamental, pois uma educação empreendedora deve levar em conta o background cognitivo, emocional e social do estudante. A evolução dos alunos na formação da identidade deve ser gradual a fim de reduzir as tensões existentes entre os indivíduos e o seu mundo ao redor, de modo que os estudantes aumentem o nível de autoconfiança necessária à atividade empreendedora.

O aspecto interdisciplinar é outro ponto importante na EE. Nas palavras de Mendes (2011) o empreendedorismo não deveria ser tratado como uma disciplina autônoma, como é possível ver em algumas instituições de ensino, mas integrada, uma vez que existem diversas questões inerentes a outros campos de investigação que são centrais no seu estudo. A universidade, ao apostar na formação empreendedora, deve fazê-la de forma integrada, interdisciplinar, harmonizada e transversal. Alinhado a isso, Guerra & Grazzotin (2010) enfatizam que o empreendedorismo não deve ser discutido apenas em disciplinas isoladas e tanto menos entre as quatro paredes da sala de aula. Ressaltam que essa temática deve ser vivenciada com intensidade por todos, em todas as direções.

Outra dimensão importante nessa metodologia refere-se às competências as quais os estudantes adquirem a partir da aplicação da EE. Segundo a OCDE (2014) há um consenso crescente entre os pesquisadores de que permitir que os alunos trabalhem em equipes interdisciplinares e interajam com pessoas fora da escola/universidade é uma forma particularmente poderosa de desenvolver competências empreendedoras entre os alunos. Na percepção de Lopes & Teixeira (2010), os alunos devem aprender muito mais do que criar os próprios negócios, devem desenvolver habilidades de: reconhecer e perseguir oportunidades; criar novas ideias e organizar os recursos necessários; criar e administrar um novo negócio ou projeto; pensar de forma criativa e de forma crítica.

Henrique & Cunha (2008) defendem algumas das habilidades que são desenvolvidas durante a formação em EE: comunicação, especialmente persuasão; criatividade; capacidade de reconhecer oportunidades empreendedoras; pensamento crítico e habilidades de avaliação; liderança; competências gerenciais, incluindo planejamento, comercialização, contabilidade, estratégia, marketing, RH e network; negociação; capacidade de tomar decisões.

A despeito disso, a OCDE (2019) declara que as competências de empreendedorismo combinam criatividade, senso de iniciativa, resolução de problemas, capacidade de organizar recursos e conhecimento financeiro e tecnológico. Essas competências permitem que empreendedores provoquem e se adaptem à mudança. Eles podem ser desenvolvidos por meio de educação e treinamento para o empreendedorismo, com foco na promoção de uma mentalidade e comportamentos empreendedores. Destaca ainda a OCDE (2019) que as escolas, instituições vocacionais e de ensino superior estão desenvolvendo cada vez mais essas competências nos alunos, enriquecendo seus programas de estudo com cursos dedicados à educação para o empreendedorismo, seja como módulos autônomos ou incorporados aos currículos. Os métodos de ensino e avaliação baseados em problemas são particularmente bem-sucedidos.

Ainda, no documento da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, 2021) um dos seis itens da sua estrutura refere-se às habilidades: “Aprimorando a educação para o empreendedorismo e o desenvolvimento de habilidades”. O material trata que as habilidades empreendedoras giram em torno de atitudes (soft skills), como persistência, networking e autoconfiança, por um lado, e habilidades (hard skills), por outro lado, incluindo conhecimentos básicos de startups, planejamento de negócios, educação financeira e habilidades gerenciais. Políticas e programas eficazes de educação para o empreendedorismo concentram-se no desenvolvimento dessas competências e habilidades empreendedoras, que são transferíveis e benéficas em muitos contextos de trabalho. O objetivo não é apenas fortalecer a capacidade e o desejo de que mais indivíduos iniciem suas próprias empresas, mas também desenvolver uma cultura empreendedora na sociedade.

Convém destacar Dolabela (2003) quando afirma ser o sonho o combustível que irá impulsionar as habilidades, as capacidades, as competências e conhecimentos necessários para que o indivíduo possa transformá-lo em realidade. O processo de construção do sujeito empreendedor, a partir dos seus sonhos, deve ser acompanhado e estimulado pelo docente. O professor em sua prática docente deve potencializar o sonho do aluno, a partir de sua faixa etária e das características de desenvolvimento, permitindo ao aluno a liberdade de escolher e definir seu próprio sonho, o mesmo pode ser coletivo ou individual.

O papel dos professores na educação empreendedora

Um relacionamento fortemente hierarquizado, autocrático, tende a destruir a capacidade empreendedora. Já um relacionamento democrático, em rede, onde todos têm a mesma autonomia, têm o poder de influenciar seu próprio futuro e o de sua comunidade; tende a disseminar o empreendedorismo (Dolabela, 2004, p. 03).

Dolabela & Filion (2013) sustentam que os docentes, no contexto da EE passam a desempenhar um novo papel, o de catalisador e facilitador, cuja função é auxiliar os alunos a aprenderem um novo modo de pensar. Em vez da simples transferência de conteúdos, eles agora devem estimular os estudantes a aprenderem a aprender, a aprenderem como pensar em termos empreendedores. Para Dolabela (2003), no processo de ensino convencional o conhecimento é considerado como o elo fundamental entre professor e estudante. Já no sistema de educação empreendedora, o componente essencial para o processo de aprendizado é o relacionamento existente entre docente e discente.

No mesmo sentido, Hashimoto (2013) enfatiza que os professores devem utilizar mais amplamente as abordagens vivenciais e dinâmicas, propondo e oportunizando atividades que desafiem os alunos com o uso de simulações, de práticas, de laboratórios e de testes. E para isso ser alcançado, é importante a formação docente a fim de que os professores assumam uma nova postura e adquiram um novo repertório de recursos pedagógicos. Adiciona Lopes (2010) que a educação empreendedora é diferente do ensino tradicional por se calcar mais na atividade do próprio aluno, em uma forma mais experiencial, prática e contextualizada no mundo real, incentivando a imaginação e a análise, preparando-o para lidar com incertezas, com a falta de recursos e de diferenciação, típica do início de um empreendimento, projeto ou nova frente de atuação.

Corroborando com a questão mencionada, o uso de metodologias ativas que coloquem os estudantes como protagonistas é fundamental para transformar um pensamento tradicional numa mentalidade empreendedora. Ao refletir sobre isso, Guerra e Grazziotin (2010) ressaltam que cabe a todos os professores a responsabilidade de fazer com que os alunos sejam estimulados a pensar e agir com uma mentalidade empreendedora. A sala de aula, cada vez mais, tem de se transformar em laboratório de conhecimento, portanto, a educação empreendedora deve ser tratada em todos os cursos e em todos os níveis.

Lopes (2010) argumenta sobre a necessidade de metodologias de ensino que permitam ao aluno se deparar com eventos que o conduzem a pensar de maneira diferente, buscando saídas e alternativas, ou seja, aprendendo com experiência e com o processo. Ela resgata propostas de aprendizagem orientadas para a ação como a aprendizagem experiencial; aprendizagem pela ação; aprendizagem contextual (processo de construir o significado a partir da interação social e da experiência); aprendizagem centrada em problemas; e aprendizagem cooperativa (trabalhar em grupos heterogêneos exercitando a liderança, a comunicação, a coesão de equipe). Lopes (2010) adiciona ainda que essas metodologias devem ser escolhidas a fim de permitir que os alunos participem, sejam desafiados por problemas e situações semelhantes aos do mundo real ou do próprio contexto. No mesmo sentido, Rocha & Freitas (2014) lembram que a aula tradicional expositiva pode ser utilizada para repassar aspectos teóricos e culturais, porém deve direcionar os demais aspectos da ação empreendedora para métodos e recursos pedagógicos mais dinâmicos.

METODOLOGIA

O cenário do estudo foi a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Constitui-se fisicamente pelo Campus Central, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul e por outra unidade do Tecnopuc, em Viamão, no mesmo Estado. Foi equiparada a universidade por meio do Decreto nº 25.794, de 9 de novembro de 1948. É uma instituição comunitária de educação superior, que atua no ensino, na pesquisa e na extensão, em permanente interação com a sociedade, visando à formação de cidadãos responsáveis, autônomos, inovadores e solidários, com vistas ao desenvolvimento científico, cultural, social e econômico.

O percurso metodológico desse trabalho seguiu o método de pesquisa bibliográfica e documental, visando identificar o caminho desenvolvido pela instituição ao planejar, executar, acompanhar e disseminar a cultura empreendedora e consequentemente sua aplicação no processo de ensino na IES. Desta forma, após a apresentação do embasamento teórico, o trajeto é constituído pelo Plano Estratégico e pelo Planejamento Institucional com enfoque na Inovação (2016-2022) e Desenvolvimento, o livro completo do IDEAR (2018), o livro Sou uma Ideia a Empreender – Guia do Professor (2020) e finalmente os resultados obtidos até então de acordo com o Relatório Social (2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Além do Plano de Desenvolvimento Institucional, a IES tem o Plano Estratégico, o mais atual é 2016-2021. Seu marco referencial declara que a IES está em permanente interação com a sociedade, visando à formação de cidadãos responsáveis, autônomos, inovadores e solidários, com vistas ao desenvolvimento científico, cultural, social e econômico. Sua missão: “A PUCRS, fundamentada nos direitos humanos, nos princípios do cristianismo e na tradição educativa marista, tem por Missão produzir e difundir conhecimento e promover a formação humana e profissional, orientada pela qualidade e pela relevância, visando ao desenvolvimento de uma sociedade justa e fraterna” (PE PUCRS 2016-2022, p. 11).

A universidade tem o Posicionamento Estratégico Inovação & Desenvolvimento. Com esse foco, ela assume ser um vetor de progresso da sociedade, adota seu compromisso de gerar inovação e desenvolvimento, em todas suas dimensões, social, ambiental, cultural e econômica, valorizando as pessoas, cuja formação e ampliação de conhecimentos são a própria razão de ser da Universidade, ou seja, envolve a busca constante de uma nova educação para uma nova sociedade, em sintonia com seu tempo.

Observa-se nas Diretrizes Estratégicas da IES, duas que se destacam, tendo em vista a Educação Empreendedora, foco deste estudo: A primeira, “Formação Integral e vivência dos Valores Institucionais” declara que um processo de formação integral consiste em desenvolver e despertar o melhor de cada um; aprender a pensar com autonomia; ser solidário, ter espírito colaborativo; admirar e respeitar o mundo, comprometer-se com a construção de uma sociedade justa e fraterna. A segunda “Consolidação do Posicionamento Estratégico de Inovação e Desenvolvimento” reforça que a IES dedica-se em interagir com os atores envolvidos, no contexto da hélice quádrupla, busca criar conexões e redes que permeiem o tecido social da região e comunidade, envolvendo o meio empresarial, os diversos níveis de governo, o meio acadêmico e a sociedade.

A Hélice Quádrupla, modelo exercido por muitas universidades, também incorporado na mentalidade das Universidades Empreendedoras, é um ponto de destaque na IES e, nesse sentido, Audy (2006) afirma:

O conceito de Universidade Empreendedora refere-se a uma postura proativa das Instituições, no sentido de transformar conhecimento gerado em agregação de valor econômico e social. Dessa forma, a base para uma atuação bem-sucedida é o desempenho da capacidade de mudar, adaptada às mudanças internas e externas de uma sociedade em evolução. O empreendedorismo requer um ambiente que estimule o espírito crítico, o que significa educar para a autonomia (Audy, 2006, p. 420).

Etzkowitz (2009) também retrata as mudanças pelas quais as Universidades têm sido expostas desde sua criação, destacando os mecanismos e formas de interação entre Universidade, Empresa e Governo. O modelo da Hélice Tríplice significa uma articulação entre as universidades, a indústria e o governo e nesse regime ocorre um relacionamento recíproco, no qual cada um tenta melhorar o desempenho do outro. Piqué & Audy (2016) por sua vez, apontam a abordagem mais recente, com a incorporação da sociedade – como uma quarta hélice, gerando o modelo da Quádrupla Hélice. Piqué & Audy (2016) especificam que as áreas de inovação compartilham a mesma missão fundamental: gerar desenvolvimento econômico e social por meio da inovação, do empreendorismo e da tecnologia.

Dando sequência ao Planejamento Estratégico, inserido na primeira diretriz abordada anteriormente (Formação Integral e vivência dos Valores Institucionais), o Objetivo “Preparar a comunidade Universitária para os desafios da sociedade” visa a formação de lideranças institucionais por meio de uma análise crítica do cenário, propondo e executando estratégias que contribuem para a inovação e o desenvolvimento do nosso País. Já a segunda diretriz estratégica (Consolidação do Posicionamento Estratégico de Inovação e Desenvolvimento), apresenta três objetivos articulados. São eles: a) Implementar a inovação e o desenvolvimento na área acadêmica; b) Contribuir, no contexto da interação Universidade-Empresa-Governo-Sociedade, para o desenvolvimento social, ambiental, cultural e econômico; e c) Viabilizar o desenvolvimento de novos empreendimentos a partir do conhecimento gerado. O foco, portanto, será no primeiro objetivo, que está vinculado à conexão com empresas, governo e sociedade, e à valorização desses pontos nos currículos e propostas educacionais.

Nesse sentido, o PDI, que em virtude de sua relevância e extensão terá aqui uma abordagem à luz da EE, cita a Política de Graduação, onde afirma: “Interdisciplinaridade, com a possibilidade do trânsito dos estudantes entre diferentes áreas do saber, na forma de projetos, atividades e disciplinas e que integrem diferentes áreas do conhecimento, possibilitando uma visão mais ampla do objeto de estudo, inclusive na formação empreendedora” (PDI PUCRS 2016-2022, p. 32). Também:

Formação empreendedora, que se volta ao “aprender a empreender” e ao empreendedorismo enquanto competência que envolve a mobilização de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, o exercício da criatividade, do pensamento crítico e da autonomia, atendendo aos princípios da ética profissional. O desenvolvimento de tal competência só é possível com o ecossistema de educação, empreendedorismo e inovação existente na PUCRS e que garante ao ensino de graduação uma marca genuína na formação de profissionais empreendedores. (PDI PUCRS 2016-2022, p. 32).

Visando dar andamento aos planos, a IES criou em 2016 o IDEAR – Laboratório Interdisciplinar de Empreendedorismo e Inovação da PUCRS que fomenta e sensibiliza alunos, professores e a comunidade para o empreendedorismo. O IDEAR acredita no empreendedorismo e na atitude empreendedora como fatores de transformação social. O ensino do empreendedorismo está mais associado a um processo de aprendizagem que se leva ao longo da vida – à formação de um espírito criativo e realizador. Refere-se a uma integração de aprendizados que permite colocar ideias em ação para gerar benefícios à sociedade. Significa um diferencial na formação de pessoas que geram mudanças sociais e econômicas. Esses aspectos vão ao encontro do que diz Dolabela & Filion (2013) ao afirmarem que o ambiente de aprendizagem deve estimular e desenvolver a confiança e a autoestima do estudante e mergulhá-lo em um sistema de aprendizagem onde haja uma relação coerente entre ele próprio e a sua realidade circunstante.

De acordo com o IDEAR (2020), ainda que não esteja apenas relacionado à criação de empresas, o ensino do empreendedorismo no Brasil tem sido historicamente mais voltado a este viés. Os dados nacionais de contextualização deste cenário costumam apontar este direcionamento, inclusive destacando um crescimento do interesse dos estudantes em ter um negócio próprio. Apesar de não ser o único viés possível, o papel das universidades no sentido da criação de novos negócios e seus impactos sociais são cruciais e reforça a importância do incentivo transversal do empreendedorismo. No entanto, para além disso, o empreendedorismo visa gerar impacto, como iniciativas individuais também em formato de projetos ou ações orquestradas entre diferentes áreas do conhecimento.

No que se refere às metodologias, o IDEAR (2020) propõe práticas que estimulam a criatividade, com um aprendizado multidisciplinar e fundamentado nas experiências empíricas, com metodologias ativas de ensino e recursos pedagógicos lúdicos, como jogos, materiais de prototipagem, impressora 3D e blocos de montagem. Essa dimensão também é abordada por Lima et al. (2014) quando recomenda que as instituições de ensino devem romper com os tradicionais modelos de ensino, vinculados a teorias e explorar novas técnicas, metodologias e ferramentas que permitam ao estudante colocar em prática o seu aprendizado.

Na concepção da IES, dentro do contexto da educação empreendedora, as atividades interdisciplinares são ferramentas valiosas nessa jornada de descoberta. Afinal, nada mais apropriado do que a interação com outras pessoas para despertar o que há de mais humano e verdadeiro em cada um. A integração interdisciplinar – quando estimulada por desafios – é o próprio exercício das competências empreendedoras; espaço de ação e criação, de colaboração, empatia, liderança, gerenciamento, tomada de decisões, entre outras.

Os eixos de atuação do IDEAR (2018) têm foco em: a) promoção da atitude empreendedora e de inovação com impacto social; b) experimentações pedagógicas de novas metodologias de sala de aula; c) desenvolvimento de professores para utilização de novas metodologias para promover o protagonismo do estudante, a partir da oferta de palestras, cursos, seminários, disciplinas, consultorias, o Torneio Empreendedor, entre outros.

O Torneio, por exemplo, é focado no desenvolvimento do empreendedor através da elaboração de um projeto que gere impacto econômico e/ou social. As ideias não precisam ter base tecnológica ou visar lucro, e podem ser oriundas de qualquer área do conhecimento. A experiência é realizada por etapas, guiadas por mentorias, palestras e interações entre grupos, especialmente dedicadas ao desenvolvimento das ideias e das equipes. Apesar de ser realizado há 13 anos na IES, cada edição é única, incorporando as tendências e desafios do contexto macroeconômico e as demandas dos estudantes A atividade é aberta a estudantes de graduação e pós-graduação, assim como a pessoas não vinculadas à Universidade, ou seja, ao público em geral.

Há inúmeras atividades com foco nos diferentes públicos, dentre elas estão:

Alunos: Além da Disciplina “Projeto Desafios”1, concebida pelo IDEAR, o Laboratório trabalha com um portfólio de disciplinas já existentes nos cursos. O objetivo é formar percursos empreendedores em que os alunos tenham uma gama de disciplinas não sequenciais com metodologias ativas em que possam se desenvolver em diferentes aspectos do empreendedorismo e da inovação. A disciplina “Projeto Desafios” é interdisciplinar e disponível para alunos de todos os cursos de graduação (como eletiva), utiliza metodologias ativas de sala de aula (o IDEAR orienta o professor para a reestruturação da metodologia, se necessário, a partir da utilização dos recursos lúdicos e pedagógicos ou da parceria com o Service Learning2). Outro diferencial é a possibilidade de trabalhar as aulas de forma integrada com o mercado, por meio de disciplinas que buscam atender às necessidades reais de empresas e a sociedade, através da integração da universidade com parceiros externos.

Professores: Por meio de eventos e oficinas, o IDEAR estimula e auxilia os professores a repensarem a sua sala de aula para o desenvolvimento de competências empreendedoras, seja utilizando algum dos recursos pedagógicos disponíveis ou realizando atividades em parceria com Organizações não Governamentais (ONG), empresas e outros setores da sociedade. As metodologias e recursos podem ser realizadas dentro e fora do espaço do laboratório, visto que o conceito é mais importante do que o espaço em si, ajudando a difundir esse ideal de sala de aula voltada para a inovação. As ações são baseadas em: a) motivação à utilização dos recursos pedagógicos disponíveis e b) compreensão do uso de estratégias como o Método de Sala de Aula Invertida. Adiciona-se ainda que o IDEAR também promoveu ações de desenvolvimento docente, como o lançamento do livro Sou uma Ideia a Empreender − Guia do Professor (2020) com propostas de atividades sobre a reflexão para o desenvolvimento de competências empreendedoras.

Comunidade: Eventos abertos à comunidade, também atividades voltadas a alunos de Ensino Médio, encontro de lideranças estudantis e alunos em iniciação científica júnior focados em empreendedorismo. Também, o Ideação, um encontro de empreendedorismo e inovação, que ocorre anualmente, gratuito e aberto ao público. Em sua programação, conta com oficinas e painéis com profissionais acadêmicos e de mercado que trocam experiências com os participantes e discutem temas na intersecção entre a sociedade, as universidades, as empresas e o governo. Assim como o Torneio Empreendedor, o diferencial do Ideação é que cada edição é única, proporcionando vivências e perspectivas singulares a cada ano.

Todas as atividades promovidas pelo IDEAR visam desenvolver competências empreendedoras, ou seja, permitir que o estudante seja capaz de resolver problemas e superar desafios. Deste modo, o IDEAR segue o Quadro de Referência das Competências para o Empreendedorismo, também conhecido por EntreComp (Entrecomp, 2020). As competências figuram-se como setores de um gráfico circular, com cores diferentes: azul para as da área “Ideias e oportunidades”, laranja para as de “Recursos” e verde para as da área “Em ação”. Os setores estão rodeados pelos três anéis de competência, que abrangem todas as 15 competências.


Figura 1
Quadro de Referência das Competências para o Empreendedorismo
Fonte: (Entrecomp, 2020).

A linha Ideias e Oportunidades, de cor verde, simboliza o saber observar e identificar o que pode ser solucionado, conectando a isso a visão e a criatividade. As competências desenvolvidas ajudam a extrair o melhor das ideias, resultando na capacidade de observar, imaginar e conectar conhecimentos e percepções em prol de um objetivo comum. Competências: identificação de oportunidades, criatividade, visão, maximização do valor das ideias e pensamento ético e sustentável.

A linha Recursos, de cor laranja, declara que tirar uma ideia do papel exige recursos, estejam eles já disponíveis ou não. Essas competências desenvolvem um empreendedor que sabe mobilizar pessoas e obter novos conhecimentos. Empreender é acreditar em si mesmo e nas próprias capacidades, além de se manter em constante desenvolvimento. Competências: Consciência de si e autoeficácia, motivação e perseverança (resiliência), mobilização de recursos, conhecimentos básicos sobre finanças e economia e mobilização de pessoas.

Finalmente, a linha azul denominada de Ação mostra que é preciso tomar a iniciativa, com objetivos claros e com as pessoas certas. O importante é sempre aprender com as experiências, apesar das incertezas no meio do caminho, tirando lições dos resultados positivos e negativos. Competências: Tomar iniciativa, planejamento e administração, lidar com a incerteza, trabalhar com os outros e aprender com a experiência.

Esses aspectos trazidos pelo IDEAR visam desenvolver uma visão mais ativa, crítica e autônoma dos seus estudantes. Nesse sentido, Lima et al. (2015) sustentam que EE permite aos estudantes se beneficiarem com o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades empreendedoras mesmo que não desejem ter o próprio negócio. Os autores retratam que a educação empreendedora estimula o pensamento criativo, a geração de inovações e o aumento do nível de autoestima e responsabilidade dos estudantes. Concernente a isso, para a OCDE (2014) existe um conjunto subjacente de competências de empreendedorismo que permite aos indivíduos identificar, criar e agir sobre oportunidades a fim de criar valor, por meio da distribuição de recursos, demonstrando autoeficácia e confiança na capacidade de realizar, e persistindo em face de obstáculos. O sistema de educação formal pode dar uma contribuição importante para o desenvolvimento dessas competências empresariais.

Essas considerações vão ao encontro do que diz Audy & Teixeira (2006) ao afirmarem que a educação superior deve reforçar o seu papel de serviços extensivo à sociedade, por meio de atividades voltadas para a eliminação da pobreza, intolerância, violência, analfabetismo, fome, deterioração do meio ambiente, por meio de uma perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar para análise dos problemas e questões levantadas.

De acordo com o IDEAR (2020) o ecossistema de empreendedorismo e inovação da PUCRS possui uma diversidade de agentes, entre laboratórios, Tecnopuc3, disciplinas, entre outros. Cada um deles responde a necessidades específicas da jornada empreendedora dos estudantes. É pensando na construção desta trajetória que foram desenvolvidos os Caminhos do Empreendedorismo na PUCRS, onde o aluno pode seguir trilhas de Descoberta do Propósito ou de Desenvolvimento de Negócios.

O Relatório Social (2020) mostra os resultados obtidos com as ações do IDEAR e retratam que os caminhos do empreendedorismo na instituição já contabilizam 4.216 participantes, sendo 1.082 da comunidade (Pré-Grad, Pós-Grad e externos), 2.755 alunos da graduação, 379 professores e 58 alunos matriculados no Projeto Desafios. Com o propósito de desenvolver a atitude empreendedora interdisciplinar e a inovação, em 2020, foram realizadas ações no formato de palestras, oficinas, seminários, workshops, bate-papos, lives e assessorias online. Entre essas ações, destacam-se o Torneio Empreendedor, o Ideação, e o Track Startups4, nessa ação estiveram envolvidos 1.023 estudantes, 35 professores de diferentes cursos e Escolas, atuando em 25 disciplinas e mais de 170 projetos foram desenvolvidos e apresentados pelos alunos. Também, a disciplina Projeto Desafios: Inovação e Impacto social, disponível a todos os alunos da PUCRS, promove a atitude empreendedora e de inovação por meio de um desafio temático. O aluno é incentivado a aplicar os conhecimentos em situações reais, desenvolvendo ferramentas úteis para sua carreira, liderança e geração de impacto social.

O Ideação, pela primeira vez ocorreu de forma online, dividido em painéis e oficinas que contaram com a participação de convidados e professores do IDEAR. Foram painéis com temas relacionados ao empreendedorismo e à diversidade. Já as oficinas tiveram como tema o Educador Empreendedor: Como desenvolver as competências empreendedoras na educação. Essa temática foi direcionada aos docentes da PUCRS e externos visando a divulgação de práticas e metodologias de educação empreendedora. Ao todo, foram 421 participantes nos painéis e nas oficinas e mais de 1,5 mil reproduções no YouTube.

Outro evento de destaque em 2020 foi a Maratona de Inovação, realizada de forma online e interdisciplinar, em parceria com todas as Escolas e o Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc). Houve a participação de 183 alunos de diversos cursos da instituição.

CONCLUSÃO

A instituição vem desenvolvendo o caminho de Educação Empreendedora de maneira estruturada, partindo de sua estratégia. Suas diretrizes estratégicas voltadas para a inovação e o empreendedorismo encontram-se transversalizadas em diversas ações e conectam as Escolas, o Tecnopuc e, sobretudo o IDEAR que fomenta e sensibiliza alunos, professores e a comunidade para o empreendedorismo e a atitude empreendedora como fatores de transformação social. Torna-se relevante destacar que quando a IES tem em seu cerne a inovação e está vocacionada para a educação empreendedora, ela apoia e sensibiliza seus alunos, os professores e a comunidade para o empreendedorismo. Ao trazer esses três públicos para conhecer e praticar a cultura do empreendedorismo ela dá passos e incentiva a atitude empreendedora, interdisciplinar e a inovação com impacto positivo na sociedade, reunindo todas as áreas do conhecimento.

Desde a criação do IDEAR em 2016, alinhado ao Planejamento Estratégico, as ações mostram-se consistentes, desafiadoras e focadas em desenvolver as competências e habilidades de estudantes, comunidade e docentes. O papel dos professores nesse contexto é fundamental para dar andamento e principalmente para conscientizá-lo da importância da educação empreendedora para os estudantes.

Pelos resultados observados e pelas ações desenvolvidas, a cultura empreendedora está sendo construída na IES de maneira consistente e estruturada, mas certamente ainda tem muitos desafios a serem colocados em prática. Neste contexto mutável e repleto de surpresas, as universidades são exigidas a se portar como laboratórios, espaços de criação e inovação que buscam desenvolver ações de impacto social e econômico por intermédio de seu corpo docente e discente, bem como, da integração desses públicos com seu ecossistema de desenvolvimento, a fim de contribuir com a sociedade.

Observa-se finalmente que as ações proporcionam aos participantes a oportunidade de colocar suas ideias em prática e retratam que a IES está focada no desenvolvimento de cidadãos propositivos e com competências transversais, capazes de transformar ideias em projetos reais.

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Notas

1 Incentivar a atitude empreendedora e de inovação através de desafios temáticos, utilizando novas dinâmicas de sala de aula, com projetos guiados pela metodologia do Design Thinking.
2 É uma metodologia ativa de ensino e aprendizagem, por meio da aplicação prática do conhecimento adquirido em sala de aula. Os estudantes devem solucionar problemas reais de organizações parceiras estimulando suas competências sociais, comportamentais e técnicas.
3 O Parque Científico e Tecnológico, conhecido como Tecnopuc, é um parque tecnológico pertencente à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Está localizado em Porto Alegre (no campus central da universidade).
4 Track Startups: Ocorre em parceria com o Tecnopuc, sendo uma iniciativa de transformação educacional e empreendedora a partir do relacionamento entre os professores e os alunos das Escolas.

Notas de autor

1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

giovana.bruschi@edu.pucrs.br

Información adicional

Como citar: Bruschi, G. F. J., Kampff, A. J. C., & Casartelli, A. O. (2023). Educação empreendedora em uma instituição de educação superior brasileira: caminhos para o seu desenvolvimento. Revista Tempos e Espaços em Educação, 16(35), 17180. http://dx.doi.org/10.20952/revtee.v16i35.17180

Contribuições dos Autores: Bruschi, G. F. J.: concepção e desenho, aquisição de dados, análise e interpretação dos dados, redação do artigo, revisão crítica relevante do conteúdo intelectual; Kampff, A. J. C.: concepção e desenho, aquisição de dados, análise e interpretação dos dados, redação do artigo, revisão crítica relevante do conteúdo intelectual; Casartelli, A. O.: concepção e desenho, aquisição de dados, análise e interpretação dos dados, redação do artigo, revisão crítica relevante do conteúdo intelectual. Todos os autores leram e aprovaram a versão final do manuscrito.



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