Artigos
Recepción: 08 Diciembre 2022
Aprobación: 10 Marzo 2023
Publicación: 03 Mayo 2023
DOI: https://doi.org/10.20952/revtee.v16i35.18401
Resumo: Este artigo discute a importância da relação professor e estudante na motivação da aprendizagem no ensino superior. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo revisão de literatura, realizada nas bases de dados da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior, Google Scholar e da Scientific Eletronic Library Online, no período de junho de 2012 a junho de 2022, utilizando os termos de busca: “motivação, aprendizagem, educação superior”; “motivação, aprendizagem, universidade”; “motivação, aprendizagem, relação professor e estudante”, empregando o indicador booleano “AND”. Foram selecionados sete estudos que mais se aproximaram do nosso objeto de estudo, a saber, a importância da relação professor e estudante no ensino superior para a motivação da aprendizagem. Os resultados encontrados nos estudos apontaram que a relação professor e estudante amigável, construída com base no diálogo, na democracia e na afetividade constitui um dos fatores contribuintes para a motivação da aprendizagem no ensino superior. Também foi possível identificar a insuficiência de estudos que investigam a relação professor e estudante e a motivação da aprendizagem no contexto universitário levando em consideração a importância do tema para o ensino superior. Em vista disso, salientamos a necessidade da produção de mais estudos que contemplem esta temática.
Palavras-chave: Aprendizagem, Ensino Superior, Motivação, Relação professor e estudante, Revisão de literatura.
Abstract: This article discusses the importance of the teacher-student relationship in motivation for learning in higher education. This is a qualitative research of the literature review type, carried out in the databases of the National Association of Graduate Studies and Research in Education, Portal de Periódicos of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel, Google Scholar and Scientific Electronic Library Online, from June 2012 to June 2022, using the search terms: “motivation, learning, higher education”; “motivation, learning, university”; “motivation, learning, teacher-student relationship”, using the Boolean indicator “AND”. Seven studies were selected that came closest to our object of study, namely, the importance of the teacher-student relationship in higher education for learning motivation. The results found in the studies indicated that the friendly teacher-student relationship, built on dialogue, democracy and affection, constitutes one of the contributing factors for the motivation of learning in higher education. It was also possible to identify the lack of studies that investigate the teacher-student relationship and the motivation of learning in the university context, taking into account the importance of the topic for higher education. In view of this, we emphasize the need to produce more studies that address this issue.
Keywords: Learning, University education, Motivation, Teacher and student relationship, Literature review.
Resumen: Este artículo discute la importancia de la relación profesor-alumno en la motivación por el aprendizaje en la educación superior. Se trata de una investigación cualitativa del tipo revisión bibliográfica, realizada en las bases de datos de la Asociación Nacional de Estudios de Posgrado e Investigación en Educación, Portal de Periódicos de la Coordinación para el Perfeccionamiento del Personal de Educación Superior, Google Scholar y Scientific Electronic Library Online, de junio de 2012 a junio de 2022, utilizando los términos de búsqueda: “motivación, aprendizaje, educación superior”; “motivación, aprendizaje, universidad”; “motivación, aprendizaje, relación profesor-alumno”, utilizando el indicador booleano “AND”. Se seleccionaron siete estudios que se aproximaban más a nuestro objeto de estudio, a saber, la importancia de la relación profesor-alumno en la educación superior para la motivación por el aprendizaje. Los resultados encontrados en los estudios indicaron que la relación amistosa profesor-alumno, construida sobre el diálogo, la democracia y el afecto, constituye uno de los factores coadyuvantes para la motivación del aprendizaje en la educación superior. También fue posible identificar la falta de estudios que investiguen la relación docente-alumno y la motivación del aprendizaje en el contexto universitario, teniendo en cuenta la importancia del tema para la educación superior. Ante esto, destacamos la necesidad de producir más estudios que aborden este tema.
Palabras clave: Aprendizaje, Enseñanza superior, Motivación, Relación profesor y alumno, Revisión de literatura.
INTRODUÇÃO
A motivação para a aprendizagem, nas últimas décadas, vem despertando o interesse de diversos pesquisadores (Schunk, 1991; Pintrich & Schunk, 2002; Alonso Tapia, 2009, 2015; Bzuneck & Boruchovitch, 2016; Boruchovitch & Bzuneck, 2009; Boruchovitch, Bzuneck & Guimarães, 2010; Schwartz, 2019). A relação professor e estudante emerge neste contexto como um dos fatores contribuintes para a motivação do estudante em seu processo de aprendizagem (Alonso Tapia, 2005; Alonso Tapia & Fita, 2015; Schwartz, 2019). Verificamos um interesse crescente, porém ainda tímido, por essa temática investigando-a sob o ponto de vista da educação superior (Ribeiro, 2020a, 2020b, Luz, Ribeiro & Ramos, 2022, Mota, 2017, Peixoto & Trindade, 2020, Silva & Ribeiro, 2020, Pereira, Nogueira & Cabette, 2017). Tais pesquisas passaram a ser recorrentes, principalmente nos últimos anos em razão do avanço da tecnologia e do aumento dos repositórios que agrupam produções acadêmicas.
De conceituação complexa, a motivação tem sido estudada nas mais diferentes perspectivas. Bzuneck (2009, p. 09) explica que as concepções contemporâneas entendem a motivação “ora como um fator psicológico ou conjunto de fatores, ora como um processo”. Nesse sentido, os fatores psicológicos ou do processo orientam a uma escolha, instigam, fazem iniciar um comportamento direcionado a um objetivo e asseguram a sua persistência, “dado que emergem no percurso não apenas obstáculos e fracassos como outros motivos concorrentes que tentam a pessoa a interromper ou mudar o curso de sua ação”. (Bzuneck, 2009, p. 10). Seguindo nesta linha de raciocínio, Printich e Schunk (2006) entendem a motivação como um processo dinâmico, fluido, modificável, podendo ser funcional ou não a partir dos contextos nos quais ela emerge.
Situando o contexto da sala de aula, a motivação é considerada uma das condições para a aprendizagem. Printich e Schunk (2006) salientam que estudantes motivados para aprender tornam-se mais participativos nas tarefas propostas, organizam melhor as informações, desenvolvem com maior qualidade a criticidade, avaliando o seu rendimento e se percebendo nesse processo. Nesse sentido, o professor cumpre duas funções distintas e complementares: a de recuperar os estudantes desmotivados e a de implementar e manter otimizada a motivação para aprender (Bzuneck, 2009). Contudo, o cumprimento destas funções sinalizadas por Bzuneck atravessa questões que abrangem a relação estabelecida com os estudantes. Mahoney e Almeida (2005) destacam que o professor ocupa o papel de mediador do conhecimento e a maneira como a relação entre ele e os estudantes é estabelecida influencia a forma como o estudante lida com o conhecimento e com seus pares. Os professores, ao criarem vínculos, estabelecem “[...] um clima de confiança, de respeito mútuo, de amizade, de compreensão das necessidades dos alunos e da abertura para a expressão sincera dos sentimentos” (Ribeiro & Jutras, 2006, p. 37).
Sob o ponto de vista de que o professor é um sujeito histórico e sua ação docente não é neutra, devemos compreender a afetividade expressada na relação entre professor e estudante como constitutiva dos significados e sentidos, que por sua vez, permitem ao estudante constituir-se como sujeito apropriando-se socialmente dos conhecimentos produzidos de forma emancipada e autônoma, cabendo ao professor um papel importante no processo de ensino e aprendizagem (Altenfelder, 2015).
Nessa esteira de discussões, Osti e Tassoni (2019) explicitam que as escolhas e as atitudes dos professores em sala de aula influenciam diretamente na aprendizagem dos estudantes e nas relações consigo mesmos. Ribeiro, Ribeiro e Mota (2010, p. 16-17) explicam que quando a relação entre professores e estudantes não se efetiva de maneira positiva ocasiona “resultados contraproducentes para a vida acadêmica e pessoal dos estudantes que se sentem desamparados, desmotivados e muitas vezes passam a rejeitar os professores e os componentes curriculares por eles ministrados”, além de levá-los a desistir ou atrasar o curso de sua formação acadêmica.
Diante desse contexto, validando a importância do tema verificada nos estudos apontados acima, e levando em conta que a qualidade da relação entre professor e estudante constitui um dos fatores motivadores para a aprendizagem, inclusive no ensino superior, elaboramos a seguinte questão de pesquisa: Quais os resultados dos estudos produzidos no período entre o mês de junho de 2012 a junho de 2022, em língua portuguesa e espanhola, no que diz respeito à importância da relação que se estabelece entre professores e estudantes para a motivação da aprendizagem no ensino superior? Neste estudo, após detalharmos a metodologia desenvolvida na revisão sistemática da literatura, apresentamos e analisamos os dados encontrados e, por fim, expomos as considerações finais.
METODOLOGIA
De delineamento qualitativo, a presente pesquisa buscou identificar e analisar as produções científicas que contemplam a importância da relação professor e estudante na motivação para a aprendizagem no ensino superior. Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi realizada a revisão sistemática de literatura que permite identificar, além de revisões de qualidade, revisões desatualizadas ou revisões com problemas metodológicos intrínsecos, os quais, justificarão, posteriormente, a realização de um novo estudo sobre o tema, buscando responder as lacunas das revisões anteriores (Costa & Zoltowski, 2014).
Utilizando os termos de busca: “motivação, aprendizagem, educação superior”; “motivação, aprendizagem, universidade”; “motivação, aprendizagem, relação professor estudante”, empregando o indicador booleano “AND”, foi feito o levantamento de produções nas bases de dados: a) Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED); b) Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível superior (CAPES); c) Google Scholar; e d) Scientific Eletronic Library Online (SCIELO).
Como critérios de inclusão, foi estabelecido por saturação teórica o recorte temporal correspondente ao período entre o mês de junho de 2012 a junho de 2022. Além disso, foram considerados artigos, dissertações e teses livres, completos e com comprovação de autenticidade, disponíveis em língua portuguesa e espanhola. Já como critérios de exclusão foram desconsiderados trabalhos que discutem a relação professor e estudante e a motivação para a aprendizagem no contexto da Educação Básica. Também não foram considerados trabalhos duplicados entre as bases de dados e aqueles que não disponibilizavam o resumo ou texto completo. Além disso, não foram consideradas publicações em períodos anteriores ao mês de junho de 2012 e publicadas em outro idioma que não na Língua Portuguesa e Espanhola. A seleção das pesquisas foi realizada por dois revisores independentes. Mediante a leitura do título, resumo e palavras-chave, excluindo os trabalhos duplicados entre as bases de dados, foram selecionadas 07 produções, conforme mostrado na tabela 1.
Quaisquer discordâncias foram resolvidas por consenso entre os dois revisores. A seguir serão apresentados os resultados e a discussão decorrente da análise das produções selecionadas nesta revisão sistemática de literatura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observamos que todos os estudos selecionados apresentam um delineamento teórico-empírico qualitativo. Isso é importante porque a pesquisa qualitativa segundo Minayo (2013, p. 20), trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Além disso, a pesquisa qualitativa não descarta as relações e a dinâmica entre pesquisadores e os sujeitos do estudo, isto é, considera a importância da subjetividade e da interpretação durante o processo.
Outro dado interessante diz respeito à escolha do dispositivo para produção dos dados da pesquisa. Das 07 pesquisas selecionadas, 04 adotaram a entrevista. A preferência por este dispositivo em pesquisas que tocam esta temática é relevante pois segundo Minayo (2013) a entrevista se caracteriza como uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado da fala e num outro nível é utilizada como instrumento de coleta de informações sobre um determinado tema científico, permitindo então ao pesquisador, obter dados objetivos e subjetivos.
Analisando como o tema “Motivação para a aprendizagem e a relação professor e estudante no ensino superior” foi abordado nas pesquisas selecionadas, encontramos que em sua pesquisa, Peixoto e Trindade (2020) buscaram identificar a compreensão dos estudantes acerca dos elementos que favorecem e atrapalham a motivação para a aprendizagem, avaliando as possíveis relações destes com a utilização de estratégias de aprendizagem. Após entrevista com seis estudantes do curso de Engenharia da Computação de uma instituição de ensino superior da rede pública, a interação positiva com os professores e o reconhecimento destes sobre o esforço dos estudantes apareceram nos achados da pesquisa como alguns dos principais elementos motivadores do processo de aprendizagem. Além disso, ficou evidente no resultado da pesquisa, que uma relação ruim ou distante com os professores constitui um dos elementos desmotivadores para a aprendizagem.
Em sua pesquisa Luz et al. (2022) entrevistaram oito estudantes do curso de Medicina objetivando compreender as representações que os estudantes produzem acerca da afetividade na relação professor e estudante e as implicações na aprendizagem profissional no curso de Medicina em uma instituição de ensino superior da rede pública. Nos achados desta pesquisa identificamos a motivação para a aprendizagem associada ao engajamento no processo de construção de conhecimento, como uma das possibilidades favorecidas pela relação entre professor e estudante permeadas de acolhimento e respeito. Pesquisas sobre motivação e aprendizagem associam o conceito de engajamento, satisfação e interesse à motivação autônoma, incluindo atenção, esforço, persistência na tarefa, permanência e nível de desempenho (Reeve, 2004 como citado em Bzuneck & Boruchovitch, 2016).
Os achados da pesquisa de Luz et al. (2022) mostram que os estudantes se sentem predispostos a aprender frente a ações estimulantes durante as aulas. “Nesse movimento, as ações de aproximação, cujo viés afetivo se coloca como ferramenta, possibilitam a significação da aprendizagem” (Luz et al., 2022, p. 22). A demonstração de respeito, atenção, permissão da fala, escuta, acolhimento e comprometimento pelo docente para com o discente são aspectos imbricados na dimensão afetiva. Com o estudo, Luz et al. (2022, p. 01) concluíram que a relação professor e estudante caracterizada pela proximidade e afetividade impacta diretamente na qualidade da aprendizagem profissional dos estudantes. Os autores salientam que “as relações afetivas são fundamentais para a consolidação de uma relação pedagógica produtiva e eficaz, assim como para a atuação profissional desses estudantes e referência à relação médico e paciente”, e consideram o estabelecimento da afetividade na relação professor e estudante de “extrema valia para a formulação de aprendizagens significativas, tendo em vista que ambientes agradáveis e favoráveis estimulam, inspiram e motivam o estudante ao aprendizado” (Luz et al., 2022, p. 11).
A mesma tendência é percebida nos estudos de Mota (2017) quando apresenta como principal conclusão a centralidade da afetividade na aprendizagem, sinalizando que o professor afetivo exibe características pessoais diferenciadas, cujas qualidades e atitudes contribuem para a aprendizagem e formação acadêmica. Ao entrevistar quatro professores e sete estudantes do curso de Educação Física de uma instituição de Ensino Superior da rede pública utilizando questões estímulo, Mota (2017) buscou compreender a influência da relação afetiva entre professores e estudantes do curso de Educação Física no processo de formação acadêmica e salientou que a dimensão afetiva não pode ser negligenciada na relação educativa, visto que apenas os conhecimentos teóricos não dão conta da demanda da sala de aula.
Dentre os principais achados da pesquisa, Mota (2017) constatou que a relação afetiva considerada positiva é caracterizada pelo acolhimento, escuta e diálogo. Dentre as posturas coerentes na prática docente foram apontadas a generosidade, disposição para acolher e acompanhar as dificuldades dos estudantes com vistas a sua superação, paciência, humildade, feedback do processo de aprendizagem, apoio; compreensão, condutas humanas e amigáveis, incentivo à aprendizagem, respeito e comunicação. Uma relação educativa pautada nestas características foi apontada nos achados da pesquisa de Mota (2017) como facilitadoras e incentivadoras da aprendizagem dos estudantes. Mota (2017) concluiu que o professor deve motivar os estudantes através de resultados satisfatórios para a vida profissional e acadêmica e chama a atenção para o professor afetivo, enfatizando sua contribuição para a autoestima estudantil e sua motivação frente aos conteúdos e as disciplinas e no processo de formação acadêmica.
Ribeiro (2020b) por sua vez, utilizou entrevista semiestruturada com dois acadêmicos do sexto e oitavo semestre do curso de Letras Vernáculas em uma Instituição de Ensino Superior da rede pública. O objetivo foi conhecer as relações instituídas entre professor e estudantes do referido curso. A autora identificou que os estudantes mostram insatisfação diante de uma relação de distanciamento e de formalismo do docente e perante a incongruência entre o que ele diz e suas atitudes, bem como a pressão psicológica projetada durante as avaliações. A desmotivação para a aprendizagem parece surgir nesse contexto, resultando em stress e desistência dos estudantes em consequência das cobranças dos docentes, quantidade de trabalhos e provas e do conflito entre as atividades das disciplinas. Além disso, uma relação educativa marcada por posturas amigáveis e democráticas podem colaborar com o aumento do interesse pelos estudos, melhorar habilidades sociais e potencializar a aprendizagem dos estudantes. Ribeiro (2020b) concluiu que os graduandos valorizam uma relação dialógica, empática e próxima com os professores e aponta a necessidade de os professores refletirem sobre sua prática educativa tendo em vista a aprendizagem dos estudantes.
Já Silva e Ribeiro (2020) discutiram a relação professor e estudante destacando sua importância para a adaptação e o desenvolvimento acadêmico. Por meio de uma revisão de literatura, as autoras buscaram compreender como acontece a relação professor e estudante e a importância dessa no processo de adaptação e desenvolvimento do universitário. Após pesquisas nos bancos de dados da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação; da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível superior; de Periódicos Eletrônicos de Psicologia; e da Scientific Eletronic Library Online, no período de 2010 a 2018, Silva e Ribeiro (2020) as referidas autoras constataram que um relacionamento distante entre professor e estudante pode influenciar negativamente o processo de ensino e aprendizagem. A motivação para a aprendizagem emerge nesta pesquisa como resultado de uma relação professor e estudante construída com base no diálogo, troca de experiências e afetividade.
Ribeiro (2020a) por sua vez, buscou identificar artigos científicos e teses que tocavam na relação professor e estudante na educação superior, publicadas entre os anos de 2008 e 2018, nos sites Scielo e Google Acadêmico. Os achados mais fundantes revelaram que, por um lado, relações hierarquizadas, distantes e autoritárias entre professores e estudantes podem comprometer a aprendizagem, desmotivando os acadêmicos e influenciando para sua desistência dos estudos. Por outro lado, relações de proximidade favorecem o investimento dos estudantes para a aprendizagem, facilitando o envolvimento com os estudos. Ribeiro (2020a) enfatiza ainda que os conhecimentos da dimensão afetiva são fundamentais para a formação profissional dos estudantes.
Por fim, em seu estudo documental metanálise, Pereira, Nogueira e Cabette (2017) buscaram pesquisas na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações publicadas entre os anos de 2000 e 2011 que tratavam sobre motivação em universitários, destacando o que contribui ou dificulta a motivação dos estudantes. Foi curioso perceber que semelhante aos resultados encontrados em nossa pesquisa, os autores descobriram um quantitativo também diminuto de produções sobre a motivação em universitários. Outro achado semelhante à nossa pesquisa foi que, os estudos encontrados na pesquisa de Pereira, Nogueira e Cabette (2017), em sua maioria, são oriundos de instituições de ensino superior da rede pública. Os autores descobriram também que o processo motivacional em universitários envolve variáveis presentes tanto no contexto da sala de aula e no processo de ensino e aprendizagem como no contexto socioeconômico em que o graduando está inserido. A relação entre professor e estudante ganhou destaque nos achados da pesquisa como uma das variáveis que pode contribuir com o processo motivacional do universitário.
CONCLUSÃO
Este artigo nos permitiu conhecer as pesquisas que abordam a relação professor e estudante e a motivação da aprendizagem no ensino superior publicadas nas bases de dados ANPED, CAPES, Google Scholar e SCIELO no período entre o mês de junho de 2012 a junho de 2022. Tomando em consideração este recorte temporal, bem como a importância do tema para o ensino superior, consideramos que os estudos encontrados que exploram a articulação entre a relação professor e estudante e a motivação da aprendizagem, sobretudo no contexto universitário ainda são escassos. A maior parte dos estudos encontrados em nossa pesquisa estão voltados para a Educação Básica, se concentrando na motivação da aprendizagem, contemplando, desde a identificação dos níveis motivacionais e caracterização do perfil motivacional dos estudantes, à identificação de fatores que influenciam na motivação para a aprendizagem, e em sua maioria, apresentando um delineamento teórico-empírico quantitativo.
Ficou evidente ainda em nossa pesquisa, que os estudos que mais se aproximaram do nosso objeto de estudo, a saber, a importância da relação professor e estudante na motivação da aprendizagem no ensino superior, estão concentrados na Região Nordeste do Brasil, sobretudo no estado da Bahia. Tais pesquisas concluem que a relação professor e estudante pautada em posturas docentes autoritárias e restritivas, sem abertura para o diálogo e com distanciamento e formalismo docentes, na perspectiva dos estudantes, dificultam o estabelecimento de uma relação educativa saudável, influenciando a motivação da aprendizagem e, consequentemente, resultando num desempenho acadêmico menos satisfatório. Já uma relação educativa antagônica a essas características, ou seja, pautada no diálogo e na democracia, com posturas amigáveis envolvendo troca de experiências e afetividade, com abertura para esclarecimento de dúvidas e genuíno interesse do professor pelo aprendizado é percebida pelos estudantes do ensino superior como um dos elementos essenciais para a motivação da aprendizagem.
Salientamos que esta pesquisa se restringiu a conhecer e analisar as publicações com foco na importância da relação professor e estudante e a motivação da aprendizagem no ensino superior. Portanto, destacamos a necessidade de investimento em novas pesquisas com vistas a aprofundar os estudos sobre este tema, compreendendo que a relação professor e estudante constitui um dos aspectos que colaboram significativamente na motivação para a aprendizagem, inclusive no ensino superior. Por fim, destacamos a pertinência da presente pesquisa no campo social e acadêmico pelo incentivo à reflexão de estudantes e professores sobre a importância da relação professor e estudante na motivação para a aprendizagem, podendo servir de base para estudos posteriores nessa área.
REFERÊNCIAS
Alonso Tapia, J. (2005). Motivar en la escuela, motivar en la familia: Claves para el aprendizaje. Spanish Edition. Madrid: Ediciones Morata.
Alonso Tapia, J. & FITA, E. C. (2015). A motivação em sala de aula: o que é, como se faz (11a ed.) São Paulo: Edições Loyola.
Altenfelder, A. H. (2015). Aspectos constitutivos da mediação docente e seus efeitos no processo de aprendizagem e desenvolvimento. Construção psicopedagógica, 23(24), 59-76.
Boruchovitch, E. & Bzuneck, J.A. (2009). A motivação do aluno: contribuições da psicologia contemporânea. Petrópolis: Vozes.
Boruchovitch, E., Bzuneck, J.A. & Guimarães, S.E.R. (2010). Motivação para aprender: Aplicações no contexto educativo. Petrópolis: Vozes.
Bzuneck, J.A. & Boruchovitch, E. (2016). Motivação e Autorregulação da Motivação no Contexto Educativo. Psicologia: Ensino & Formação, 7(2), 73-84.
Bzuneck, J.A. (2009). A motivação do aluno: aspectos introdutórios. In E. Boruchovitch & J.A. Bzuneck. A motivação do aluno: contribuições da psicologia contemporânea. Petrópolis: Vozes.
Costa, A.B. & Zoltowski, A.P.C. (2014). Como escrever um artigo de revisão sistemática. In S.H. Koller, M.C.P.P. Couto & K.V. Hohendorff (Org.) Manual de Produção Científica. Porto Alegre: Penso.
Luz, L. A de., Ribeiro, M. L. & Ramos, M. O. E. (2022). Relação professor-estudante a as implicações na formação do estudante de medicina. Revista Pedagógica, 24, 1–27. https://doi.org/10.22196/rp.v24i1.6332
Mahoney, A. A. & Almeida, L. R. (2005). Afetividade e processo ensino-aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. Psicologia da Educação, 20, 11-30.
Minayo, M. C. S. (2013). Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade (18a ed.). Petrópolis: Vozes.
Morais, J.J.S., Brito, N.J. & Pinto, R.F. (2021). Por uma reflexão sobre a relação professor-aluno-professor no Ensino Superior. Um estudo no contexto do Bacharelado em Ciências Contábeis/PB. Revista Cocar, 15 (32), 1-19.
Mota, C.S. (2017). A influência da relação afetiva entre professores e estudantes do curso de educação física da UEFS no processo de formação acadêmica. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, BA, Brasil. Biblioteca Digital de Teses e Dissertações.http://tede2.uefs.br.
Nogueira, E. E. S. (2000). Identidade organizacional – um estudo de caso do sistema aduaneiro brasileiro. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
Osti, A. & Tassoni, E.C.M. (2019). Afetividade percebida e sentida: representações de alunos do ensino fundamental. Cadernos de Pesquisa, 49 (174). https://doi.org/10.1590/198053146575
Peixoto, V.S. & Trindade, R.P. (2020). Relação entre motivação e aprendizagem: o que pensam os alunos do curso de Engenharia de Computação da UEFS. XXIV Seminário de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, BA, Brasil. http://periodicos.uefs.br/index.php/semic/article/view/6606/5234
Pereira, A.A., Nogueira, A.B.L. & Cabette, R.E.S. (2017). Motivação em universitários: análises de teses e dissertações entre 2000 e 2011. Psicologia Escolar e Educacional, 21 (2), 323-331.
Pintrich P.R. & Schunk, D.H. (2002). Motivation in education: theory, research and applications. New Jersey: Merril Prentice Hall.
Pintrich, P.R. & Schunk, D.H. (2006). Motivación en contextos educativos: teoria, investigación y aplicaciones (2a ed.). Madrid: Pearson Educación.
Ribeiro, M. L. & Jutras, F. (2006). Análise das representações sociais de afetividade na relação educativa. Estudos de Psicologia Campinas, 23(1), 39-45. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2006000100005
Ribeiro, M.L. (2020a). A relação professor-estudante na Educação Superior. Educação e Análise. Londrina, 5(1),185-200. https://doi.org/10.5433/1984-7939.2020v5n1p185
Ribeiro, M. L. (2020b). Relação professor-estudantes no curso de letras vernáculas deuma universidade pública. XXV EPEN - Reunião Científica Regional Nordeste daAssociação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação. Salvador, BA, Brasil. http://anais.anped.org.br/regionais/sites/default/files/trabalhos/20/6459-TEXTO_PROPOSTA_COMPLETO.pdf.
Ribeiro, M. L., Ribeiro, Y. H. L., & Mota, C. dos S. (2022). Influências das relações afetivas entre professores e estudantes no processo de formação. Revista Diálogo Educacional, 22(74). https://doi.org/10.7213/1981-416X.22.074.AO02
Schwartz, S. (2019). Motivação para ensinar e aprender: teoria e prática. Petrópolis: Vozes.
Schunk, D. (1991). Autoeficácia e Motivação Académica. Psicólogo Educacional, 26, 207-231.https://doi.org/10.1080/00461520.1991.9653133
Silva, A.S.S. & Ribeiro, M.L. (2020). Relação professor-estudante no ensino superior: uma revisão de literatura. Educação Por Escrito, 11(1), 1-10. https://doi.org/10.15448/2179-8435.2020.1.34309
Notas de autor
charllenequinto@gmail.com
Información adicional
Como citar: Santos, C. C. Q., & Ribeiro, M. L. (2023). A relação professor e estudante como fator contribuinte para a motivação da aprendizagem no ensino superior. Revista Tempos e Espaços em Educação, 16(35), e18401. http://dx.doi.org/10.20952/revtee.v16i35.18401
Contribuições das Autoras: Santos, C. C. Q.: concepção e desenho, aquisição de dados, análise e interpretação dos dados, redação do artigo, revisão crítica relevante do conteúdo intelectual; Ribeiro, M. L.: concepção e desenho, aquisição de dados, análise e interpretação dos dados, redação do artigo, revisão crítica relevante do conteúdo intelectual. Todas as autoras leram e aprovaram a versão final do manuscrito.