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Fatores de risco para doença arterial coronária em docentes de uma faculdade privada do interior da Bahia
Árgila Gonçalves de Carvalho Santana; Karoline Gonçalves Mendes; Carlos Magno Vitor da Silva;
Árgila Gonçalves de Carvalho Santana; Karoline Gonçalves Mendes; Carlos Magno Vitor da Silva; Jessica Santos Passos Costa; Robinson Moresca de Andrade; Hayana Leal Barbosa; Ivaneide de Jesus Teixeira; Wallace Henrique Alves Ribeiro
Fatores de risco para doença arterial coronária em docentes de uma faculdade privada do interior da Bahia
Risk factors for coronary artery disease in faculty of a private college from the interior of Bahia
Factores de Riesgo para Enfermedad Arterial Coronaria em Docentes de uma Faculdad Privada del Interior de la Bahia
Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, vol. 9, núm. 3, pp. 200-206, 2019
Universidade de Santa Cruz do Sul
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Resumo: Justificativa e Objetivos: A doença arterial coronária (DAC) é a causa de óbito mais comum em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nos docentes, são observados indicadores ao desenvolvimento dessa patologia, como sedentarismo, estresse, obesidade e outros. O rastreamento desses fatores de risco é uma das formas mais eficazes para prevenção de eventos cardiovasculares. Dessa forma, objetivou-se rastrear os fatores de risco para DAC em docentes de uma faculdade privada do interior da Bahia. Métodos: Estudo de prevalência, quantitativo, descritivo, com 36 docentes, de forma aleatória. As variáveis avaliadas foram: sociodemográficas, condições de trabalho, prática de atividade física, questões gerais de saúde e teste de estresse. A estatística descritiva foi empregada para descrever as variáveis categóricas (%). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Ciências. Resultados: A prevalência de fatores hereditários para DAC foi 87,5%. 80,6% tinham 2 ou mais vínculos empregatícios, 88,1% trabalhavam mais de 40 horas semanais e 55,6% praticavam de atividade física. Os níveis de LDL e colesterol total elevados foram de 56,3% e 58,3%, respectivamente. 72,2% dos docentes apresentaram valores elevados de Índice de Massa Corporal (IMC). A pressão arterial sistólica e diastólica elevadas foram observadas em 61,1% e 58,3%, respectivamente, havendo prevalência de 80,6% no teste de estresse na fase II. Conclusão: Os docentes dessa instituição estão suscetíveis ao desenvolvimento de DAC pela elevada prevalência dos fatores de risco. Sugere-se que sejam realizados novos estudos, com populações maiores de caráter confirmatório para elucidação dessa lacuna científica.

Palavras-chave:Fatores de RiscoFatores de Risco,DiagnósticoDiagnóstico,DocentesDocentes,Doença das CoronáriasDoença das Coronárias.

Abstract: Background and Objectives: Coronary artery disease (CAD) is the most common cause of death in developed and developing countries. In faculty, indicators are observed to the development of this pathology as: sedentarism, stress, obesity and others. Screening for these risk factors is one of the most effective ways to prevent cardiovascular events. Thus, the objective was to track the risk factors for CAD in teachers from a private college in the interior of Bahia. Methods: Prevalence study, quantitative, descriptive, with 36 teachers, randomly the variables evaluated were: sociodemographic, work conditions, physical activity practice, general health issues and stress test. Descriptive statistics were used to describe the categorical variables (%). The study was approved by the Research Ethics Committee of the Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC). Results: the prevalence of hereditary factors for CAD was 87.5%; 80.6% had 2 or more employment links; 88.1% worked more than 40 hours a week; 55.6% practiced physical activity; the total LDL and total cholesterol levels were 56.3% and 58.3%; 72.2% of the teachers presented high values of Body Mass Index (BMI); High systolic and diastolic blood pressure were observed in 61.1% and 58.3%; there was a prevalence of 80.6% in the phase II of the stress test. Conclusion: the teachers of this institution are susceptible to the development of CAD due to the high prevalence of risk factors. It is suggested that new studies be carried out, with larger populations of confirmatory character to elucidate this scientific gap.

Keywords: Risk Factors, Diagnosis, Faculty, Coronary disease.

Resumen: Justificación y Objetivos: La enfermedad arterial coronaria (DAC) es la causa de muerte más común en los países desarrollados y en desarrollo. En los docentes, se observan indicadores al desarrollo de esa patología como: sedentarismo, estrés, obesidad y otros. El seguimiento de estos factores de riesgo es una de las formas más eficaces para la prevención de eventos cardiovasculares. De esta forma, se objetivó rastrear los factores de riesgo para DAC en docentes de una facultad privada del interior de Bahía. Métodos: Estudio de prevalencia, cuantitativo, descriptivo, con 36 docentes, de forma aleatoria. Las variables evaluadas fueron: sociodemográficas, condiciones de trabajo, práctica de actividad física, cuestiones generales de salud y prueba de estrés. La estadística descriptiva fue empleada para describir las variables categóricas (%). El estudio fue aprobado por el Comité de Ética en Investigación de la Facultad de Tecnología y Ciencias. Resultados: la prevalencia de factores hereditarios para DAC fue 87,5%; El 80,6% tenía 2 o más vínculos de trabajo; El 88,1% trabajaba más de 40 horas semanales; El 55,6% practicaba de actividad física; los niveles de LDL y colesterol total elevados fueron del 56,3% y del 58,3%; El 72,2% de los docentes presentaron valores elevados de Índice de Masa Corporal (IMC); La presión arterial sistólica y diastólica elevadas se observó en el 61,1% y el 58,3%; hubo una prevalencia del 80,6% en la prueba de estrés en la fase II. Conclusión: los docentes de esta institución son susceptibles al desarrollo de DAC por la elevada prevalencia de los factores de riesgo. Se sugiere que se realicen nuevos estudios, con poblaciones mayores de carácter confirmatorio para elucidación de esa laguna científica.

Palabras clave: Factores de riesgo, Diagnóstico, Enfermedad Coronaria, Docentes.

Carátula del artículo

Fatores de risco para doença arterial coronária em docentes de uma faculdade privada do interior da Bahia

Risk factors for coronary artery disease in faculty of a private college from the interior of Bahia

Factores de Riesgo para Enfermedad Arterial Coronaria em Docentes de uma Faculdad Privada del Interior de la Bahia

Árgila Gonçalves de Carvalho Santana
Centro Universitário da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana, Brasil
Karoline Gonçalves Mendes
Centro Universitário da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana, Brasil
Carlos Magno Vitor da Silva
Centro Universitário da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana, Brasil
Jessica Santos Passos Costa
Centro Universitário da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana, Brasil
Robinson Moresca de Andrade
Centro Universitário da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana, Brasil
Hayana Leal Barbosa
Centro Universitário da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana, Brasil
Ivaneide de Jesus Teixeira
Centro Universitário da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santan, Brasil
Wallace Henrique Alves Ribeiro
Centro Universitário da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana, Brasil
Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, vol. 9, núm. 3, pp. 200-206, 2019
Universidade de Santa Cruz do Sul

Recepção: 18 Fevereiro 2019

Aprovação: 03 Julho 2019

INTRODUÇÃO

A Doença Arterial Coronária (DAC) é o resultado da formação de placas de aterosclerose (formadas de tecido fibroso e gordura) na parede das artérias ou no seu interior, que desencadeiam um processo inflamatório. A inflamação desempenha um papel fundamental em todas as etapas da aterogênese: desde uma diminuição do espessamento e enrijecimento endotelial, até a fissura, ruptura e trombose.1

Essa patologia é a causa mais comum de óbito tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, um a cada três adultos, cerca de 81 milhões de pessoas, tem alguma forma de doença cardiovascular (DCV).2 No Brasil, no período de 2016, foram notificadas 94.148 mortes por infarto agudo do miocárdio, elevando a mortalidade relacionada à DAC de 11,3 para 12,5 óbitos por 100 mil habitantes.3

Os fatores de risco ao desenvolvimento de DAC podem ser classificados como modificáveis (dislipidemia, Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Diabetes Mellitus (DM), sedentarismo, estresse, tabagismo, etilismo, menopausa, obesidade, dentre outros) e não modificáveis (sexo, idade e antecedente patológico familiar direto e indireto).4 As manifestações clínicas dessa doença, habitualmente, têm início após a meia-idade (50 anos) e podem estar diretamente ligadas à sobrecarga de cobranças no trabalho e ao estresse.5

Os estudos na área de saúde do trabalhador são voltados para analisar e intervir nas relações de trabalho e no estilo de vida que causam adoecimento e agravos.6 Na população docente, as pesquisas são voltadas, geralmente, para sobrecarga de trabalho e estresse, os quais, associados a outros fatores, são considerados desencadeantes para doenças silenciosas, tais como a DAC.7

Embora os eventos cardiovasculares tenham uma alta associação com a morbimortalidade, foram localizados poucos estudos que investigassem em específico a ocorrência de DAC na população docente, tornando-se esse recorte relevante, uma vez que essa população está suscetível ao acometimento de diversas patologias. Além disso, há também a ausência de estudos anteriores que descrevessem os aspectos relacionados à ocorrência dessa patologia na Faculdade onde foi realizada a investigação. Dessa maneira, este estudo teve como objetivo principal rastrear os fatores de risco para doença arterial coronária em docentes de uma faculdade privada do interior da Bahia.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo exploratório com abordagem quantitativa, de natureza descritiva, na Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), unidade de Feira de Santana - BA, com docentes que se encontravam exercendo suas atividades no período de agosto a novembro de 2018, de ambos os sexos, com idade entre 26 a 60 anos. Nesse determinado ano, constavam 100 professores no quadro de funcionários.

Foram incluídos no estudo, de forma aleatória, 36 docentes. Adotaram-se como critério de inclusão: pessoas adultas ≥ 18 anos, de ambos os sexos, com ou sem diagnóstico médico de DAC; docentes atuantes na FTC. Como critérios de exclusão, definiram-se os que não realizaram o exame laboratorial no prazo solicitado e as mulheres gestantes.

Foi feito cálculo amostral, realizado no software epi info 7.0, tendo em vista os seguintes parâmetros: poder de 80%, erro amostral de 5%, intervalo de 95% de confiança, razão de 1:1 e prevalência de 25% do desfecho para risco coronariano elevado.. Assim, o tamanho da amostra necessário foi de 32 indivíduos. Contudo, foram coletadas informações de 36 docentes, elevando o poder do estudo para 90%.

As variáveis sociodemográficas avaliadas foram as seguintes: idade (<40 anos, >40anos), sexo (Feminino, Masculino), cor da pele (Branca, Não-branca), filhos (Sim, Não) e grau de formação (Especialista, Mestre e Doutor). Sobre as variáveis de condições de trabalho, foram analisadas a quantidade de vínculos (1, ≥2), a jornada de trabalho (40h/semanais, ≥40h/semanais), a renda (satisfatório, insatisfatório) e em relação à realização de prática de atividade física (AF) (Sim, Não).

Sobre as questões gerais de saúde dos docentes, foram analisadas, utilizando os parâmetros da Diretriz Brasileira de Dislipidemias (2017), queixas cardiovasculares atuais (Dor anginosa (DA), Dor provavelmente anginosa (DPA), Dor não anginosa (DNA), queixas cardiovasculares pregressas (Sim, Não). Para rastreamento dos níveis de colesterol, os valores para avaliar a hipercolesterolemia foram: para LDL (100 a 129mg/dl – valor normal; ≥ 130mg/dl – valor elevado), HDL (≤ 59mg/dl – valor alterado; >60mg/dl – valor normal), Colesterol Total (≤200mg/dl - valor normal; >200mg/dl - valor alterado); para Triglicerídeos (≤150mg/dl - valor normal; ≥150mg/dl - valor alterado), glicemia em jejum ( ≤99mg/dl - valor normal; ≥100mg/dl - valor alterado) e HGT (≤99mg/dl - valor normal; ≥100 mg/dl - valor alterado). Para aferição de pressão arterial (PA), avaliada segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2017), (PAS: 110 a 129mmHg -normotenso; ≥130mmHg - hipertenso), PAD: (70-85mmHg - normotenso; >85mmHg - hipertenso), alcoolismo (sim, não), hereditariedade para DAC (sim, não)9,10.

O quadro clínico para alteração no peso corporal foi analisado com base nas Diretrizes Brasileiras de Obesidade (2016), (IMC ≥ 18,5 e < 24,9kg/m² - normal; IMC ≥25 kg/m² - elevado): circunferência abdominal (CA) para mulheres (adequada ≤ 79cm; risco para DAC ≥ 80cm), circunferência abdominal para homens (adequada ≤93cm; risco para DAC ≥ 94cm); Razão cintura/quadril pra mulheres (relação segura < 0,84cm; risco cardiovascular ≥ 0,85cm), Razão cintura/quadril pra homens (relação segura < 0,89cm; risco cardiovascular ≥ 0,90cm)11.

Foi realizado o teste para aferição da glicemia capilar, através do aparelho digital do fabricante Free Lite, tiras teste G-tech, assumindo-se valores: ≤ 99mg/dl - valor normal; ≥100mg/dl - valor alterado, de acordo com as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2017-2018)12. Além disso, foi realizado exame laboratorial de sangue (em jejum) no laboratório de Análises Clínicas da FTC.

Para avaliação do estresse, foi aplicado o teste Teste Lipp – ISS – Inventário de Sintomas de Stress, baseado em um modelo trifásico. A primeira fase é referente aos sintomas das últimas 24 horas (quadro clínico de “alerta”, na ocorrência de >7 sintomas), a segunda fase aos sintomas dos últimos 30 dias (quadro clínico de resistência, na ocorrência > 4) e a terceira fase aos sintomas dos últimos 3 meses (quadro clínico de “exaustão”, na ocorrência de 9 ou mais itens).

A coleta das variáveis se deu por meio da aplicação do questionário ao docente na enfermaria da FTC. As variáveis PA, IMC, medidas de cintura e quadril, foram aferidas em triplicata, realizada a média dos valores e utilizados os respectivos pontos de corte seguindo as recomendações da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Organização Pan-Americana de Saúde9,10. Para coleta dos dados antropométricos, seguiu-se o protocolo das Diretrizes Brasileiras de Obesidade, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade11.

A organização, análise, interpretação e categorização dos dados foram realizadas por meio de uma estatística descritiva com o auxílio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0. Para caracterização da amostra, utilizou-se o coeficiente de prevalência para descrever a distribuição dos fatores de risco diretamente ligados à DAC, sendo as medidas de tendência central expressas por meio da média e do desvio padrão. Posteriormente, foram realizadas tabelas univariadas e elaboração de gráficos.

O estudo foi submetido ao comitê de ética e pesquisa da FTC, seguindo a normatização da Resolução 466/12, para pesquisa com seres humanos, mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com aprovação do protocolo 100700/2018 (CAAE 97073118.0.0000.5032).

RESULTADOS

Um total de 36 docentes participaram do estudo, sendo 24 (66,7%) do sexo feminino. A idade média foi de média 39 anos (± 8,2), sendo que 55,6% possuíam idade inferior a 40 anos (Tabela 1).

Em relação às variáveis relacionadas ao trabalho, 61,1% possuíam renda de um a quatro salários mínimos, 55,6% consideraram-se insatisfeitos com a renda e 61,1% relataram ter boa (tranquila) relação com superiores. A prevalência de docentes que referiram queixas pregressas relacionadas à DAC foi de 63,9%. Além disso, 66,7% referiram ingerir bebida alcoólica e 87,5% afirmaram ter hereditariedade para DAC (Tabela 1).

Tabela 1
Caracterização das variáveis sociodemográficas, relacionadas à saúde e ao estresse em docentes de uma faculdade privada do interior da Bahia. Feira de Santana – BA, 2018. (n=36)

Continua

* DAC - Doença Arterial Coronária; ** LDL- Lipoproteína de alta densidade; *** HDL -Lipoproteína de baixa densidade; **** IMC – Índice de Massa Corporal.

Tabela 1.
Caracterização das variáveis sociodemográficas, relacionadas à saúde e ao estresse em docentes de uma faculdade privada do interior da Bahia. Feira de Santana – BA, 2018. (n=36)

Continuação

* DAC - Doença Arterial Coronária; ** LDL- Lipoproteína de alta densidade; *** HDL -Lipoproteína de baixa densidade; **** IMC – Índice de Massa Corporal.

Os fatores de risco modificáveis para DAC que apresentaram uma prevalência de relevância podem ser observados na Figura 1. Verificou-se uma taxa de 80,6% que possuíam 2 ou mais vínculos, 88,1% com jornada ≥ 40 horas semanais, 55,6% praticantes de AF, 56,3% com LDL elevado, 58,3% com colesterol total elevado, 72,2% para IMC elevado. Além disso, 88% das mulheres e 90,9% dos homens apresentaram CA elevada (com risco para DAC). A pressão arterial elevada representou 61,1% (para PAS) e 58,3% (para PAD), sendo que 80,6% foram classificados com nível de estresse fase II.


Figura 1
Fatores de risco para doença arterial coronária em docentes do Centro Universitário de uma Faculdade de ensino superior do interior da Bahia. Feira de Santana – BA, 2018

DISCUSSÃO

Os eventos cardiovasculares são as principais causas de morbimortalidades em todo o mundo. As causas frequentemente associadas ao aumento dessas taxas são os hábitos de vida (alimentares e estilo de vida) e o nível socioeconômico (em suas diversas esferas). Estudos evidenciam que a soma dos fatores de riscos pode potencializar exponencialmente a chance para DAC13.

A prevalência de elevação no IMC na amostra de docentes foi elevada. O excesso de peso relacionou-se com DCV em outros estudos, bem como observou-se uma alta prevalência de CA feminina e masculina, fator que está diretamente ligado à ocorrência de DCV14,15,4.

O excesso de peso pode desencadear a elevação de marcadores e citocinas pró-inflamatórias, contribuindo para injúria vascular. O indivíduo obeso possui elevadas taxas de adipocinas, que incluem a proteína C-reativa (PCR). Os altos níveis de PCR no plasma sanguíneo podem ser considerados preditores independentes de DAC.2

Dentre outros fatores abordados como predisponentes ao desenvolvimento da patologia está o baixo nível de AF, fator observado na presente investigação. Essa associação é evidenciada em outros estudos que demonstraram que nível de AF inadequado elevou os níveis de HAS, DM e obesidade, provocando uma diminuição dos níveis de HDL-colesterol e um aumento da placa de ateroma16,7.

No presente estudo, grande parte dos entrevistados apresentou relação com o fator hereditário. A predisposição genética é considerada fator de risco para DAC ou para eventos cardiovasculares, conforme apontada em alguns estudos.5

Quanto ao perfil lipídico dos docentes, observou-se neste estudo uma prevalência dos valores elevados dos exames de LDL e CT. Esses resultados também foram relatados em outros estudos, nos quais foram encontrados valores elevados de triglicerídeos e CT associado à LDL (é necessário ressaltar que o estudo foi realizado em uma população de alunos)17,18.

Verificou-se a presença de alteração da PAS e PAD na maioria dos docentes. De acordo com a SBC, essas elevações são os principais fatores para desenvolvimento de DAC e HAS, uma vez que essa relação já está bem estabelecida na literatura9,19,20.

No que se refere às queixas pregressas relacionadas à DAC, a grande maioria dos entrevistados relataram algum tipo de dor que provavelmente pode desencadear dor anginosa. Os professores são uma classe de trabalhadores que está susceptível a doenças crônicas específicas, desencadeadas por fatores como baixas condições salariais, diminuição do tempo de lazer, estresse, dentre outros21.

A carga horária excessiva de trabalho e a quantidade de vínculos profissionais são potenciais predisponentes para DCV. Estudos mostram que a elevada carga semanal (superior a 40 horas), associada à redução de hábitos saudáveis (lazer), pode promover reações fisiológicas adversas, como fadiga/exaustão, dores na coluna, acidez estomacal e elevação na PA22.

Embora a carga de trabalho tenha sido relatada como elevada pelos docentes, conforme evidenciado na pesquisa, a maior parte referiu insatisfação com sua remuneração total. O adoecimento dos docentes é decorrente da precarização do trabalho, que se reflete nas baixas condições salariais e na desvalorização social da profissão23,24.

Entretanto, a maioria referiu possuir uma boa relação com os superiores. Esse dado está em divergência com um estudo realizado em uma universidade privada em Porto Alegre, no qual 71% dos entrevistados evidenciaram dificuldade e estresse no relacionamento com a chefia25.

O consumo elevado de bebida alcoólica foi observado na maioria dos docentes. Indivíduos que consomem acima de 2 doses diárias (≥ 250ml) podem se associar ao desenvolvimento da DAC. Essa associação também pode ser evidenciada em outros estudos realizados com profissionais de enfermagem26.

Além disso, foram observados valores elevados entre os entrevistados enquadrados em estresse fase II. O estresse pode provocar o aumento de LDL-colesterol e a diminuição dos níveis de HDL-colesterol, também afetando a PA, pois estimula o sistema nervoso simpático, levando a um acúmulo de colesterol no espaço subintimal das artérias até sua oclusão final1,16.

Na fase II, o indivíduo está exposto a um estressor físico e psicológico de longa duração, como foi observado em outro estudo realizado com 91 docentes na área de saúde, no qual 95,4% apresentaram prevalência de estresse para fase II (resistência), diretamente associado ao fator de risco para DCV27.

No que se refere à titulação, em convergência com um estudo realizado em docentes da Universidade Federal do Piauí – Campus Parnaíba, foi observado que o risco cardiovascular foi maior nos especialistas (44%) e mais prevalentes nos cursos enfermagem, fisioterapia e psicologia28.

Os docentes da instituição de ensino superior em estudo apresentaram vulnerabilidades ao desenvolvimento da DAC. No entanto, alguns fatores são considerados modificáveis, como estilo de vida e de alimentação, os quais podem ser evitáveis através de medidas de prevenção e promoção da saúde no intuito de minimizar ou eliminar a exposição dos riscos ao acometimento pela doença.

Assim, no presente estudo observou-se uma elevada prevalência dos principais fatores de risco para DAC. Conclui-se que os docentes dessa instituição podem estar suscetíveis à ocorrência de eventos cardiovasculares, embora a amostra em estudo tenha um alto nível de instrução sobre o processo saúde-doença.

É provável que os hábitos de vida e as condições socioeconômicas possam justificar os resultados encontrados. Entretanto, são necessários novos estudos, com populações docentes maiores, de caráter confirmatório para elucidação dessa lacuna científica. Assim, esta pesquisa apresenta como principal limitador a amostra restrita. Porém, como ponto forte, possui caráter relevante, contribuindo para a ampliação do conhecimento científico acerca dos fatores de risco à ocorrência de DAC.

Material suplementar
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Notas
Tabela 1
Caracterização das variáveis sociodemográficas, relacionadas à saúde e ao estresse em docentes de uma faculdade privada do interior da Bahia. Feira de Santana – BA, 2018. (n=36)

Continua

* DAC - Doença Arterial Coronária; ** LDL- Lipoproteína de alta densidade; *** HDL -Lipoproteína de baixa densidade; **** IMC – Índice de Massa Corporal.
Tabela 1.
Caracterização das variáveis sociodemográficas, relacionadas à saúde e ao estresse em docentes de uma faculdade privada do interior da Bahia. Feira de Santana – BA, 2018. (n=36)

Continuação

* DAC - Doença Arterial Coronária; ** LDL- Lipoproteína de alta densidade; *** HDL -Lipoproteína de baixa densidade; **** IMC – Índice de Massa Corporal.

Figura 1
Fatores de risco para doença arterial coronária em docentes do Centro Universitário de uma Faculdade de ensino superior do interior da Bahia. Feira de Santana – BA, 2018
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