NOTA DOS EDITORES
Conhecimento em Vigilância Sanitária: para onde vamos?
Health Surveillance Knowledge: Where Are We Going?
[...] Não conto os mortos de faca nem os mortos de polícia; conto os que morrem de febre e os que morrem de tísica. Conto os que morrem de bouba de tifo, de verminose: conto os que morrem de crupe, de cancro e schistosomose. Mas todos esses defuntos, morrem de fato é de fome, quer a chamemos de febre ou de qualquer outro nome. Morrem de fome e miséria quatro homens por minuto embora enriqueçam outros que deles não sabem muito.
Ferreira Gullar
O texto do poeta Ferreira Gullar permanece atual em tempos de desigualdade social crescente, tentativas de diminuição do direito constitucional à saúde, contingenciamento em ciência e tecnologia, ameaças à democracia e à segurança pública, entre tantos outros problemas. Ao aumento do número de casos de febre amarela no Brasil, soma-se as doenças reemergentes em curso e as patologias que o poeta descreve. Uma sensação de apreensão instala-se nos quatro cantos do país bem como nos demais países.
O trabalho com o conhecimento em saúde coletiva nesse contexto adverso em que vivemos, dominado muito mais pela funcionalidade dos mercados e seus produtos, requer daqueles que o produzem e divulgam e disseminam a preocupação ética com sua finalidade estratégica.
Pensando nisso, o início de um ano novo carrega em si sonho e planejamento. Considerando a publicação científica na área de vigilância sanitária, somos encorajados à reflexão após quatro anos ininterruptos de existência: Como os artigos publicados, em sua maioria, expressam os objetos referentes à proteção à saúde? Quantos acessos nossa produção científica em vigilância sanitária tem recebido? Que temática é mais recorrente? Qual região do país tem acessado mais a revista? Quais necessidades de crescimento a revista terá que enfrentar?
Pretendemos no decorrer deste ano compartilhar com nossos autores, leitores e revisores estes questionamentos e respostas. Bem como cumprir com algumas diretrizes que estabelecemos como condutoras da nossa Política Editorial: publicação em português, inglês e espanhol; sistema de submissão online dos manuscritos com mais agilidade e transparência no processo de publicação; internacionalização por meio da tradução de percentual da publicação para língua inglesa e a captação de autores e pareceristas ad hoc estrangeiros; relevância e qualidade dos dados publicados, por meio do incremento de um banco de revisores de renome, nacionais e internacionais.
Para tais desafios, contamos com leitores, pesquisadores e colaboradores do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS). É preciso uma rede solidária para consolidar conhecimento e torná-lo vivo.
A importância do conhecimento em acesso aberto – em época de conhecimento cada vez mais mercantilizado – necessita ser debatida e uma somatória de ações estratégicas deve se tornar efetiva. Divulgar um artigo científico muitas vezes é instigar uma transformação. Há artigos que colocam nossa visão preestabelecida em questionamento, sinalizam para a alteração de parâmetros usuais, demonstram outra forma mais efetiva de agir sobre riscos conhecidos, abrem frestas onde o conhecimento era opaco.
Em Vigilância Sanitária, esses novos conhecimentos podem e devem influir nas desigualdades regionais do SNVS e em suas ações de proteção à saúde, inspirando mudanças. Este propósito é o fundamento da divulgação científica em vigilância sanitária, principalmente em tempos mediados por tantas apreensões.
Boa leitura e um novo ano com Saúde!