EDITORIAL

Reconhecimento e despedida

Daniella Guimarães de Araújo *
Fundação Oswaldo Cruz, Brasil

Reconhecimento e despedida

Vigilância Sanitária em Debate, vol. 5, núm. 3, pp. 1-2, 2017

INCQS-FIOCRUZ

Quem elegeu a busca não pode recusar a travessia.

Alfredo Bosi

No início do próximo ano, serão celebrados cinco anos de criação da revista Vigilância Sanitária em Debate. Esse projeto foi pensado e sonhado por profissionais sanitaristas que acreditaram na importância da divulgação do conhecimento científico nesse campo, que abrangia um enorme hiato.

Do pensamento à consecução, a própria revista escreve sua narrativa de resistência e desafios, principalmente neste período em que vive-se a gravidade política, econômica e sociocultural, a inversão de valores humanísticos e o contingenciamento substancial nas verbas para a saúde coletiva e para a pesquisa, entre outros.

Assim, urge repensar a pesquisa, o conhecimento e sua divulgação, e novamente sonhar em outras bases que creditem a esse conhecimento a capacidade de induzir transformações necessárias ao seguimento da vigilância sanitária em um país que definha.

Em tempos de invalidação de políticas públicas essenciais, como o Sistema Único de Saúde, de regulação nem sempre em concordância com os ideais sanitários, de inquietude existencial e desesperança acumulada, esta via chamada conhecimento e seus necessários debates poderão resgatar e incitar a velha pergunta que não quer calar:

O que e quanto o conhecimento produzido contribui para a melhoria das condições de vida da sociedade? Como isso ocorre?

Como esse conhecimento pode qualificar as políticas públicas? Como a pesquisa divulgada em acesso aberto subsidia a decisão de um gestor?

O que espera-se de uma revista ainda recente – em tempos como os atuais – além das classificações e imposições da ciência estrangeira à peculiaridade dessa revista?

São desafios que devem mobilizar o tempo e os melhores intentos de pesquisadores, técnicos e gestores. Afinal, uma revista se faz no coletivo para o coletivo. Um conhecimento científico que se quer para um mundo em crescente virtualidade, artificialidade, desordem e transformação só pode se estabelecer se for além do próprio núcleo, abarcando outros coletivos.

Em tempos nos quais as mudanças atingem também a publicação científica, desejo que a revista capture mais e mais o interesse dos leitores, responda aos nossos mais antigos questionamentos e ganhe cada vez mais reconhecimento. Que seja pensada – além da busca da internacionalização e do desafio da profissionalização – uma forma de dar resposta aos questionamentos acima.

Como editora-executiva, aproveito o ensejo para me despedir da equipe da revista e da instituição que a abriga – o INCQS – no qual, tive o privilégio de trabalhar por mais de três anos.

Despeço-me e agradeço a atenção dos leitores e a colaboração laboriosa dos editores científicos e avaliadores e de todos que apoiaram o crescimento da revista.

Desejo que o trabalho pelo conhecimento em vigilância sanitária continue instigando mais e mais nossa inteligência cidadã e seja sempre um exercício humanístico que englobe solidariedade e firmeza, ciência e paixão, tenacidade e amor à causa pública.

Um grande abraço nos companheiros de percurso da Fiocruz com os quais aprendi e sonhei.

Boa leitura do número de agosto!

REFERÊNCIAS

1. Bosi A. Céu, inferno: ensaios de crítica literária e ideológica. 2a ed. São Paulo: Duas Cidades/Editora 34; 2003. (Coleção Espírito crítico). p. 45

Autor notes

* E-mail: daniella.araujo@incqs.fiocruz.br

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