CARTA PARA OS EDITORES
Comentários sobre métodos empregados no “Teste de ganho de peso da vacina DTP”
Recepção: 15 Maio 2021
Aprovação: 14 Julho 2022
O recente artigo de Domingos et al.1 trouxe importante contribuição à literatura de segurança de vacinas com resultados de “toxicidade da vacina pertussis de células inteiras (VPCI)”, “essencial para aprovar o emprego da vacina adsorvida contra a difteria, o tétano e a pertussis (DTP) nos programas de vacinação infantil”. Contudo, aos leitores mais atentos, chamou atenção a concentração de timerosal utilizada na composição das “vacinas DTP”. Afirma o estudo que, “conforme descrito na bula da vacina DTP, cada dose (0,5 mL) contém” “timerosal até 20 mg” (miligramas), sem identificar o fabricante.
A concentração de timerosal varia com o tipo de vacina e de fabricante, porém, na vacina DTP produzida pelo Instituto Butantan (São Paulo, SP, Brasil), Silva et al.2 reportaram 80 µg de timerosal por 100 µL (ou 400 µg numa dose de 0,5 mL). Contudo, conforme apontaram Abramczuk et al.3, a dose da vacina DTP/Hib tetravalente (também do Instituto Butantan) contém 0,2 mg de timerosal, ou seja, 200 µg numa dose de 0,5 mL. A concentração de timerosal no produto usado por Domingos et al.1 é 100 a 50 vezes maior do que a das vacinas (DTP) usadas por Abramczuk et al.3 e Silva et al.2, respectivamente.
Enquanto para vacinologistas os resultados de teste de ganho de peso são suficientes, para toxicologistas e epidemiologistas interessados nos efeitos neurodesenvolvimentais associados às baixas doses de etil-mercúrio (metabólito do timerosal), é de suma importância o conhecimento do tipo de vacina (bem como seu fabricante) que contém timerosal e é utilizado nas crianças brasileiras, principalmente nos primeiros meses de vida. Esse interesse toxicológico tem motivado estudos bioquímicos4, farmacocinéticos5,6,7, químico-analiticos8 e epidemiológicos9 de cientistas brasileiros. Neles, a hipótese é centrada nas exposições às baixas doses do etil-mercúrio derivado das vacinas preservadas com timerosal em uso no Brasil.
Em toxicologia, modelos experimentais devem controlar o mais fidedignamente as vias de exposição da substância de interesse. No caso da vacina DTP, sua aplicação é intramuscular, enquanto no estudo de Domingos et al.1, a aplicação foi intraperitoneal (i.p.). De nenhuma forma se questiona os resultados de VPCI apresentados, no entanto, à luz das diferenças que possam ocorrer quanto à via de aplicação de vacinas discutidas por Zuckerman et al.10, vale a pena uma discussão post hoc sobre estas diferenças.
Os autores informam não haver qualquer potencial conflito de interesse com pares e instituições, políticos ou financeiros deste estudo.
* E-mail: jg.dorea@gmail.com