Utilização de videoaulas como ferramenta de educação em saúde durante a pandemia de COVID-19: um relato de experiência

Use of video classes as a health education tool during the COVID-19 pandemic: an experience report

Brenda Bittencourt Ferreira brendha_bittencourt@hotmail.com

Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Brasil

Esthefanie Parreira Mello Dias

UNIFASE, Brasil

A pandemia de COVID-19 causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 é considerada a primeira grande pandemia da era das mídias digitais¹. O isolamento social decorrente das medidas de prevenção à doença favoreceu uma maior utilização das redes sociais entre as pessoas, sendo este um grande recurso que possibilita que estratégias de saúde possam ser desenvolvidas nas redes, alcançando um maior engajamento e conscientização populacional em tempos de COVID-19².

A educação em saúde inclui ações que envolvem prevenção, promoção, reabilitação e cuidados paliativos, englobando conhecimentos de ambos os lados, tanto da saúde como da educação, e fazem parte do processo de trabalho dos profissionais que atuam dentro das Unidades de Saúde da Família (USF). Visto que as mídias se tornaram um caminho predominante de acesso a informações rápidas em tempos de pandemia, cabe aos serviços de saúde reorganizar as suas rotinas e escolherem as melhores estratégias para realizar atividades de educação em saúde e para manter a comunicação com a comunidade durante a pandemia causada pelo novo coronavírus¹.

As tecnologias digitais são ferramentas que favorecem a divulgação de informações, potencializam práticas colaborativas, facilitam o processo de aprendizagem e são fundamentais na realização de ações educativas^3,4. Dentre essas tecnologias, as videoaulas apresentam-se como um recurso didático e inovador que permite apresentar diferentes conteúdos, facilita a compreensão sobre diversos assuntos e favorece a reflexão crítica e a promoção do autocuidado em saúde³.

As videoaulas têm sido amplamente utilizadas como ferramentas no processo de ensino-aprendizagem devido aos seus diferentes elementos de imagens, textos, cores e sons e por se caracterizarem como uma tecnologia de baixo custo, de desenvolvimento simples e com boa acessibilidade entre as pessoas^3,4. As videoaulas apresentam como vantagens a possibilidade de serem assistidas em horários flexíveis e se adequarem à rotina de cada indivíduo, de serem reassistidas inúmeras vezes em diferentes momentos do dia e de contribuírem para a divulgação de conhecimentos e para a propagação de informações essenciais a respeito da saúde. Configuram-se, assim, como um grande recurso para disseminar diferentes conteúdos e realizar atividades de educação em saúde com a comunidade inserida dentro dos cuidados das Estratégias Saúde da Família (ESF) durante o cenário pandêmico vivenciado mundialmente⁵. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi relatar uma experiência de utilização de videoaulas como ferramenta de educação em saúde durante a pandemia de COVID-19.

Este estudo se trata de um relato de experiência, do tipo descritivo, sobre a construção e a utilização de videoaulas para a realização de atividades de educação em saúde com o Grupo Controle de Peso e Patologias Associadas (COPPA) da USF do Bairro Boa Vista, localizada no município de Petrópolis (RJ), durante a pandemia de COVID-19. As videoaulas foram elaboradas pelos acadêmicos do curso de graduação em nutrição do 7º e 8º período, sob a supervisão e a orientação da nutricionista/preceptora da unidade local.

A partir das medidas de isolamento social decorrentes do avanço do novo coronavírus, algumas adaptações precisaram ser realizadas para manter as atividades educativas em grupo. Em decorrência do cenário, foi criado um grupo no WhatsApp^® com os participantes do grupo COPPA para facilitar a comunicação.

Alguns recursos e estratégias foram testados e utilizados para a continuidade das atividades em grupo, conforme descrito abaixo:

Aplicativo ZOOM (ZOOM Clound Meetings): Esta estratégia foi inserida por possibilitar a realização de chamadas ao vivo e o compartilhamento de arquivos em tempo real. Entretanto, muitos componentes do grupo não possuíam celulares com suporte para este aplicativo, sendo assim, foi uma estratégia que não obteve sucesso.

Videochamadas no aplicativo WhatsApp^®: Este recurso foi utilizado por permitir encontros e comunicações ao vivo, porém, foi uma estratégia que também não obteve sucesso pois muitos membros do grupo COPPA tinham uma conexão de internet instável, o que impossibilitava a participação em tempo real nos encontros realizados.

Videoaulas: Este recurso foi inserido por ser uma ferramenta simples que possibilita a abordagem de diversos conteúdos de forma didática, atrativa e dinâmica. Esta estratégia foi testada, obteve uma ótima adesão pelos membros do grupo COPPA e, assim, começou a ser utilizada nas atividades de educação em saúde.

As videoaulas foram produzidas semanalmente por meio da plataforma online Canva^® (Canva Pty Ltd) após um aprofundamento teórico a partir de bases de dados eletrônicos da área da saúde e de informações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde. Foram abordados diferentes conteúdos a partir de temáticas sugeridas pelo próprio grupo, pelas estagiárias de nutrição e/ou pela preceptora da unidade local. Alguns temas trabalhados foram: planejamento de refeições, constipação e flatulência, crononutrição, esteatose hepática, memória, rotulagem, menopausa e tensão pré-menstrual (TPM), varizes, kefir, nutrição e estética, chás, segunda sem carne. Os vídeos tinham design colorido, imagens, textos com linguagem adequada ao público-alvo de modo a facilitar o acompanhamento do conteúdo abordado e eram gravados na plataforma Canva^®.

Semanalmente, às quintas-feiras, as videoaulas eram disponibilizadas no grupo do WhatsApp^®. Em algumas temáticas trabalhadas, eram enviados receitas e materiais educativos. Em seguida, era aberto um bate-papo com o grupo, no qual os membros comentavam sobre o conteúdo abordado no vídeo e esclareciam possíveis dúvidas.

Os recursos tecnológicos são ferramentas fundamentais no processo de aprendizagem, caracterizando uma metodologia ativa de ensino capaz de favorecer o conhecimento e o desenvolvimento de diferentes habilidades. As informações compartilhadas por meio das videoaulas são propulsoras da prática do cuidado em saúde e auxiliam na independência e na autonomia da família e da comunidade³.

A educação em saúde representa um recurso de informação e interação que favorece o desenvolvimento do autocuidado por meio da articulação e da compreensão dos conhecimentos adquiridos⁶. Apesar de não configurar um modelo tradicional de ensino em saúde, a estratégia audiovisual se mostra um importante estimulador no processo de ensino-aprendizagem e possui aplicabilidade em diversos contextos, como na atenção primária e secundária à saúde⁷.

A Atenção Primária à Saúde (APS) é considerada um componente abrangente, tendo em vista a sua centralidade para o cuidado e para a garantia da saúde da população. Suas práticas são articuladas em diversas áreas de atenção, como a saúde da família, fornecendo à população um acesso maior aos serviços e ampliando o enfoque na promoção da saúde e na prevenção de doenças⁸.

Em decorrência do isolamento social imposto pelas medidas de contenção à COVID-19, as mídias sociais tornaram-se espaços privilegiados para trocar informações, constituindo um importante canal de comunicação entre as pessoas^2,9. A partir da veiculação das videoaulas como ferramenta de educação em saúde, foi possível manter e realizar as atividades educativas, transmitir informações e diferentes conteúdos, trocar conhecimentos e experiências e interagir ativamente com o grupo independentemente dos encontros presenciais.

Fornecer informações que possam ajudar a comunidade a se prevenir, cuidar de sua família e melhorar a qualidade de vida no atual cenário de pandemia são atitudes fundamentais, sendo então, as videoaulas um ótimo recurso para estimular práticas de alimentação saudável e o autocuidado em saúde¹. Além disso, o grupo assistido torna-se um propagador, repassando e compartilhando as informações e os aprendizados adquiridos com outros indivíduos⁶.

A transferência de informações de forma didática e lúdica potencializa a compreensão e a fixação da mensagem a ser veiculada⁵. Salienta-se que as pessoas que estão inseridas no processo da ação educativa devem estar envolvidas no estabelecimento das necessidades da aprendizagem, no planejamento, na adequação e na avaliação do recurso utilizado⁴.

É válido destacar a importância da participação ativa do público-alvo no processo de ensino e aprendizagem⁵. No decorrer das atividades realizadas, os participantes do grupo COPPA faziam comentários positivos sobre os conteúdos que eram abordados, elogiavam as explicações, interagiam ativamente com cada temática, testavam as receitas, enalteciam o trabalho, refletiam acerca do cuidado em saúde e valorizavam a importância de cada trabalho construído.

A abordagem de informações claras, objetivas e de fácil compreensão contribui para o entendimento, a apropriação e o empoderamento dos indivíduos, o que repercute no bem-estar e na melhoria da qualidade de vida³.

A educação em saúde mediada pelas videoaulas no grupo de WhatsApp^® não apenas ampliou e modificou as formas de aprender e ensinar, mas também tornou possível a comunicação virtual, proporcionando interações no tempo e no espaço com maior liberdade de adaptações em diferentes ritmos entre quem aprende e quem ensina, permitindo manter o contato com os aprendentes independente da distância física¹⁰.

A construção deste projeto também possibilitou que as estagiárias da unidade pudessem exercitar sua capacidade criativa na construção das videoaulas e promoveu o aprofundamento de conhecimentos que não se limitaram apenas aos assuntos relacionados a área da nutrição, com grande relevância na formação acadêmica e profissional.

Considerando o distanciamento físico ocasionado pela pandemia de COVID-19, é imprescindível o planejamento de atividades de educação a distância, aproveitando o potencial crescimento das ferramentas tecnológicas e das mídias sociais para realizar atividades de educação em saúde. As videoaulas contribuíram para fortalecer o vínculo com a unidade de saúde, transmitir conhecimentos e trocar experiências e, por meio da compreensão das informações recebidas, construir um modo singular de autocuidado entre os membros do grupo.

As experiências vivenciadas pela criação deste projeto possibilitaram uma reflexão sobre a reinvenção de novos métodos no que tange a aplicabilidade da tecnologia para realizar educação em saúde, tanto para os alunos quanto para a comunidade assistida, enfatizando a importância da utilização das videoaulas como uma ferramenta que permite produzir atividades educativas diante deste cenário atípico.