Editorial
Editorial
Editorial
Desenvolvimento Regional em Debate, vol. 7, núm. 2, pp. 1-3, 2017
Universidade do Contestado
Recepção: 29 Outubro 2017
Aprovação: 29 Outubro 2017
EDITORIAL
Valdir Roque Dallabrida[1]
Maria Luíza Milani[2]
É com muita satisfação que apresentamos a segunda edição de 2017 da revista Desenvolvimento Regional em debate.
Como sempre, privilegiamos artigos que põem em debate o tema desenvolvimento regional, nas suas diferentes dimensões. Assim, esta edição compõe-se de 11 artigos e uma resenha, oriundos de pesquisadores de universidades de seis estados brasileiros: (i) Rio Grande do Sul (URGS, URI e UFSM); (ii) Santa Catarina (FURB); (iii) Paraná (UTFPR, UEM e UNIOESTE); (iv) São Paulo (FGV, FACCAMP e UNESP); (v) Minas Gerais (UFJF); (vi) Bahia (IFBA). Agrupamos os artigos em três blocos: (i) do primeiro ao quinto, os que ressaltam a dimensão econômica do desenvolvimento, focados na análise de experiências relacionadas à agricultura e ao turismo rural; (ii) do sexto ao nono artigo, os que analisam questões sociais; (iii) os últimos dois, focados na análise de questões ambientais. Portanto, o conjunto dos artigos contempla temas que tratam das três principais dimensões do desenvolvimento: a econômica, a social e a ambiental.
Resumindo, o primeiro artigo - Agricultura Urbana: o desenvolvimento de um projeto social – parte da premissa de que a agricultura urbana integra o sistema econômico, ecológico e social, sendo que, além de proporcionar segurança alimentar, tal estilo de agricultura pode ser entendido como um projeto social, por proporcionar educação ecológica, inclusão e integração social, geração de emprego e renda, prática de economia solidária, além de contribuir para o desenvolvimento de capital humano e natural.
O segundo artigo - Consumo e abastecimento de frutas e hortaliças em espaços de alimentação comercial e coletiva – objetiva analisar os potenciais mercados de abastecimento alimentar, através de circuitos curtos em espaços de alimentação coletiva, no espaço urbano de cidade de médio porte. Concluem que em tal centro urbano há um público potencial de consumidores que ainda são desconsiderados pelas iniciativas locais, além de existir dependência de alimentos vindos de outras regiões, demonstrando um problema de falta de abastecimento local. Aponta-se, também, a ausência de políticas regulatórias dos mercados locais, distanciando produtores e consumidores de alimentos.
O artigo Similaridades entre os EDR’s paulistas quanto à produção, exportação e remuneração cafeeira em 2015 relembra que o Brasil manteve a posição de maior produtor e exportador de café naquele ano, sendo que o Estado de São Paulo contribuiu com 11% da produção brasileira destinada à exportação. Salienta que a produção cafeeira gera no Brasil mais de oito milhões de empregos. O objetivo do artigo foi identificar a distribuição da produção entre os municípios abrangidos pelos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDR’s). Os resultados apontaram os EDR’s de Franca, São João da Boa Vista e Orlândia como destaques.
O quarto artigo - Competências gerenciais na percepção dos gestores das micro e pequenas empresas da rota turística rural Caminho do Vinho – propôs-se identificar e analisar as competências gerenciais de empresários e gestores envolvidos na rota turística Caminho do Vinho, em São José dos Pinhais (PR). O foco do estudo foi a análise do impacto das decisões ou indecisões dos empresários e gestores na sobrevivência das empresas. O estudo concluiu que há associações e correlações parciais entre as competências gerenciais avaliadas e características comuns dos gestores e de seus empreendimentos, tais como, idade dos gestores, bom resultado econômico alcançado, tempo de existência das MPE e a tradição familiar local.
O estudo do qual resultou o artigo Syschapada: sistema web como instrumento de potencialização para o desenvolvimento territorial na Chapada Diamantina teve como objetivo evidenciar o poder de acesso à informação e geração do conhecimento de um sistema web voltado à área de abrangência do Território de Identidade e do Colegiado de Desenvolvimento Territorial da Chapada Diamantina (MG). Conclui o estudo que as ferramentas de tecnologia de informação são pouco utilizadas, por serem complexas. No entanto, o sistema web em referência pode ter seu contributo ao desenvolvimento territorial na Chapada Diamantina, servindo também como referência no contexto da Política de Desenvolvimento Territorial.
Já com foco na dimensão social do desenvolvimento, o artigo Análise das desigualdades salariais entre homens e mulheres no mercado de trabalho de Santa Catarina inicia afirmando que o mercado de trabalho é marcado por elevadas desigualdades salariais entre homens e mulheres. Propôs-se explicar as diferenças salariais existentes no mercado de trabalho do estado de Santa Catarina nos anos 2000, 2007 e 2014. Os principais resultados revelaram que as diferenças salariais, em termos percentuais, entre homens e mulheres, apesar de ainda existentes, diminuíram no período analisado. O estudo sugere a necessidade de que se desenvolvam políticas voltadas ao combate da discriminação no mercado de trabalho, buscando, assim, diminuir as desigualdades salariais.
Seguindo o debate da temática social, o artigo Análise espacial da taxa de cobertura do Programa Bolsa Família para os municípios brasileiros se propôs verificar a existência da associação espacial entre a taxa de cobertura do programa Bolsa Família e a taxa de pobreza para os municípios brasileiros, com o objetivo de verificar se a taxa de cobertura do programa está focalizada nas regiões com maiores taxas de pobreza. Os resultados apontaram para a existência de autocorrelação positiva entre a taxa de cobertura do programa Bolsa Família e a taxa de pobreza.
Já o artigo A abordagem da violência pela mídia nas pequenas cidades da Região Norte Central do Paraná inicia afirmando que a violência se disseminou pela sociedade brasileira, se tornando um discurso comum na mídia. Por outro lado, a construção do imaginário de cidades inseguras é resultado de uma produção de grupos de agentes, inclusive a própria mídia. Propôs-se como objetivo compreender a abordagem da violência pela mídia nas pequenas cidades da região Norte Central paranaense e, a partir disso, comparar com as taxas de homicídios. Os resultados revelaram casos em que a mídia destaca espaços não contemplados pelos órgãos públicos de estatísticas do Paraná e, concomitantemente, casos em que a mídia produz um simulacro ou simplesmente ignora os espaços das pequenas cidades, mesmo elas possuindo altas taxas de homicídios.
Encerra-se este segundo bloco temático, com o artigo As tecnologias de informação e comunicação como um instrumento para a migração: um estudo sobre os haitianos no Brasil. Parte da constatação de que com os fenômenos do avanço tecnológico e da globalização, as áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) vêm sendo tratadas sob novas perspectivas, podendo auxiliar na aproximação das pessoas que se encontram geograficamente distantes. É neste contexto que o estudo faz referência às tecnologias de informação e comunicação como ferramentas para o encurtamento das distâncias entre imigrantes haitianos residentes no Brasil e seus familiares e amigos. As TICs são consideradas pelo estudo como facilitadoras à manutenção dos vínculos familiares e culturais dos imigrantes, facilitando a permanência dos mesmos no Brasil, com sua possível contribuição no desenvolvimento de cidades e regiões onde estão inseridos.
Já os dois últimos artigos desta edição estão focados na dimensão ambiental do desenvolvimento. Inicia-se com o artigo Conflito socioambiental: um estudo de caso baseado no método de análise de redes sociais, o qual trata de questões acerca dos conflitos socioambientais, em um percurso que inclui os conceitos do desenvolvimento e da sustentabilidade, com a utilização do método de Análise de Redes Sociais (ARS), objetivando mapear a rede de atores constituída pelo conflito socioambiental existente nas áreas de influência territorial da Usina Hidrelétrica do Baixo Iguaçu. Como principais resultados, a pesquisa possibilitou o mapeamento da rede de atores, identificando a presença de quinze atores e o respectivo grau de centralidade destes no cenário de investigação, com o que é possível afirmar que a utilização do método ARS é uma importante ferramenta no debate que visa analisar as redes formadas a partir de conflitos socioambientais.
Ainda focado na temática ambiental o último artigo da edição – Sistema sócio ecológico e ambientalismo no contexto empresarial – tem por objetivo refletir e dialogar sobre as discussões que estão ligadas ao sistema sócio ecológico e ao ambientalismo no contexto empresarial. Conclui que as estratégias empresariais precisam de novas táticas multidisciplinares, para que assim se consiga soluções admissíveis quanto aos problemas ambientais. Neste sentido, entender os fundamentos da resiliência é um passo importante, no que tange ao desenvolvimento de estratégias de conservação ambiental.
Por fim, esta edição da revista DRd apresenta a resenha do livro Teorias do Desenvolvimento: aproximações teóricas que tentam explicar as possibilidades e desafios quanto ao desenvolvimento de lugares, regiões, territórios ou países, publicado em agosto de 2017 pela Editora CVR. O livro sintetiza de forma objetiva e didática, em uma abordagem multidisciplinar, o conjunto de teorias, enfoques ou abordagens teóricas que, genericamente, são chamadas de teorias do desenvolvimento, sempre com ênfase na dimensão espacial do processo histórico. A obra sistematiza desde reflexões sobre o sentido do desenvolvimento até a questão chave do livro: por que algumas regiões se desenvolvem e outras não, ou ainda, como identificar e explicar os diferentes níveis socioeconômicos e projetos de futuro de diferentes territórios, lugares, regiões ou países. Trata-se de uma obra quase única no mercado editorial brasileiro e latino americano, pois resume, em pouco mais de duzentas páginas, as principais teorias e/ou enfoques sobre o tema desenvolvimento, indicando aos pesquisadores, estudantes e ao público em geral, as principais referências bibliográficas, tanto as clássicas como as mais contemporâneas.
Desejamos a todos uma boa leitura e até uma próxima edição.