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Redes e centros de poder no Centro-Oeste Gaulês na primeira Idade Média (séculos V-X)
Networks and places of power in the Midwest of Gaul in the first Middle Ages (5th-10th centuries)
Anos 90, vol. 26, e2019105, 2019
Universidade Federal do Rio Grande Sul, Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Exercício do poder na Idade Média e suas representações: novas fronteiras, novos significados


Recepção: 29 Novembro 2018

Aprovação: 30 Maio 2019

DOI: https://doi.org/10.22456/1983-201X.88547

RESUMO: Este artigo visa analisar o processo de estruturação dos territórios do centro-oeste gaulês na Primeira Idade Média, particularmente, as dioceses de Angolema e de Saintes, a partir do estudo arqueológico e histórico das redes de poder, sobretudo, a posição das elites nessas redes. Abordar essas regiões permite, na verdade, estudar, ao mesmo tempo, o local onde se exercia a autoridade dos representantes diretos dos soberanos visigodos, e depois francos, assim como as redes mais informais, porém mais perenes de grupos aristocráticos locais. Essa perspectiva de trabalho, que se inscreve dentro de uma renovação historiográfica sobre a apreensão dos espaços de dominação do final do século V ao século X, exige a confrontação entre as informações tiradas da documentação escrita e os dados provenientes das fontes arqueológicas. Com o objetivo de conduzir esse trabalho, diversas pistas de reflexão deverão ser seguidas conjuntamente: a repartição topográfica e orográfica dos locais, a integração desses espaços no circuito de troca da economia de distinção e, enfim, a valorização dos elementos constitutivos do prestígio social, particularmente, em relação ao sagrado.

PALAVRAS-CHAVE: Redes de poder, Redes econômicas, Elites sociais, Aquitânia, Primeira Idade Média.

ABSTRACT: The aim of this paper is to explore the process of construction and organization of territories by early medieval powers in the southwestern Gaul, especially for the bishoprics of Angouleme and Saintes from fifth to tenth century. To carry out this study, an interdisciplinary approach is needed. We must add to traditional methods of analysis of texts and archaeological data a theoretically informed reflection on physical and social space, drawing on insights from geography and anthropology. The concept of places of power is the good illustration of this research field. Indeed, the goal of those places where the elites construct discourses aiming to justify, express and perpetuate their power, both material and symbolic. The period is of great interest because it witnessed intense social recombining, resulting in heightened competition between the elites, a group trying to define itself at precisely this time. This work will insist particularly on the spatial and economical manifestations of these phenomena. In examining individual episodes of domination of the elites we will try to characterize the place or the zones where power is exerted and identify the actors involved in the formation of elites.

KEYWORDS: Power networks, Economic networks, Social elites, Aquitaine, First Middle Ages.

A riqueza e a variedade do potencial de produção da Aquitânia e suas elites, geralmente das regiões ao sul do Rio Loire, são um tema recorrente na documentação textual dos séculos V e VI. Tal assunto é particularmente desenvolvido por Salviano de Marselha, no seu livro De Gubernatione Dei:

Ninguém duvida que os habitantes da Aquitânia e os habitantes de Novempopulania possuíam a medula de toda a Gália, a fonte da fertilidade completa, e não apenas a fertilidade, mas também o bem-estar, a beleza e os prazeres, coisas às vezes preferidas à fertilidade. Todo o país é tecido com videiras, polvilhado com flores que crescem nos campos, campos cultivados, plantados com árvores frutíferas, embelezado por bosques, polvilhado com molas, intercaladas com rios, cobertos com colheitas ondulantes de modo que os possuidores e senhores desta terra parecem ter menos a porção de um solo terrestre do que uma imagem do paraíso.1

No contexto da regionalização das sociedades pós-romanas no Mediterrâneo Ocidental, esse tipo de discurso produzido pelas elites sociais reflete um desejo de manter o estilo de vida e, portanto, o nível de riqueza (MCCORMIC, 2001, p. 27, 41; BALMELLE, 2001). Ao mesmo tempo, os dados materiais permitem-nos apreender essas realidades, não apenas como uma continuidade do modelo antigo, mas como resultado de escolhas sucessivas destinadas a adaptar as estruturas de produção locais às mudanças globais no quadro econômico, particularmente a progressiva segmentação do sistema econômico integrado do Império Romano. Assim, Michel Rouche, em um dos capítulos de seu livro sobre a Aquitânia, intitulado Terre et richesse en Aquitaine, fornece uma lista impressionante de atividades realizadas através ou em conexão com essas áreas não reservadas para cereais. Isso inclui produções silvipastoris (gestão de animais de caça, madeira para construção, ferramentas e aquecimento, produção de breu e extração de carvão vegetal), mas também atividades que exigem grandes quantidades de madeira para combustível (metalurgia, fabricação de vidro, cerâmica, pedreiras e mineração) (ROUCHE, 1979, p. 184-207). Do mesmo modo, os recursos haliêuticos (peixe, frutos dos mares, até do garum2) (ROUCHE, 1979, p. 202-204, 206--207) e a produção de sal desempenham um papel significativo na Gália em tabelas aristocráticas e nas escolhas de aprimoramento de ecossistemas ao longo da Idade Média (BURNOUF et al., 2008, p. 97-123).

O objetivo deste artigo é analisar o processo de estruturação dos territórios do Centro-Oeste gaulês na primeira Idade Média, isto é, o norte da Aquitânia, e mais particularmente, as cidades de Angolema e de Saintes, a partir do estudo arqueológico e histórico das redes de poder, sobretudo, a posição das elites nessa rede. Para isso, é necessário responder a pergunta: o que é Aquitânia na Alta Idade Média? Inicialmente, este termo de geografia administrativa refere-se às duas províncias criadas após a reforma de Diocleciano no século III. Este espaço que corresponde a um quarto da Gália é delimitado entre os rios Loire no norte e Garonne no sul. Esta região é dividida desde as reformas do imperador Diocleciano em duas províncias: a Aquitania prima para o leste entre cidades de Bourges e Albi, e a Aquitania secunda para o oeste entre as cidades de Bordeaux e Poitiers. Aquitânia é, ao mesmo tempo, a área de expansão do primeiro reino romano-bárbaro na Gália. O Reino dos visigodos foi criado em torno da cidade de Toulouse no ano de 418, por um tratado ou foedus entre o Império Romano e os visigodos. Depois, da conquistada franca e a morte de Clóvis em 511, a Aquitânia foi dividida entre os diferentes reis merovíngios. Esta tradição corresponde à lógica da Antiguidade Tardia. Esta divisão continua durante todo o período merovíngio (561 ou 612). Essas lógicas de pratagem tornam possível entender a realidade da prática do poder dos reis merovíngios ou carolíngios, mas geralmente na Alta Idade Média, três círculos concêntricos: o primeiro corresponde aos lugares de residência dos reis; o segundo corresponde a regiões onde as elites têm relações diretas com as cortes reais (Poitiers, Bourges, Limoges, Clermont); o último círculo corresponde às regiões periféricas onde os reis precisavam de revezamentos como as dinastias ducais locais (sud da Aquitânia, Bavaria, Frisia, Alemania). Não há, portanto, unidade da Aquitânia neste momento. Meu espaço de trabalho para o artigo, as civitates de Angolema e Saintes que faziam parte do Reino da Néustria ao longo do período merovíngio, então, estão na interseção dos últimos círculos. Por isso, no início eu me concentrei, para este artigo, na questão de identidade e de status de grupos aristocráticos nesta região no período merovíngio, antes de expandir essas reflexões para estudar indicadores da vitalidade econômica do centro-oeste da Gália, e da evolução das redes do poder a partir da segunda metade do século VIII até o final do século X.

Identidade e status de grupos aristocráticos

Em primeiro lugar, fomos surpreendidos pela grande diversidade do estoque onomástico disponível para os espaços de Angolema e Saintes. Na verdade, em outras partes da Aquitânia (especialmente em Berry, Limousin e Auvergne) (MORLET, 1972), as fontes escritas mostram apenas caracteres cujos nomes são predominantemente de origem romana e senatorial em relação com os grandes grupos aristocráticos. No Centro-Oeste da Gália, os primeiros elementos disponíveis para documentação epigráfica, especialmente para Poitoux, indicam o aparecimento muito rápido dos nomes de origem germânica na região, que se tornaram maioria no século VI (eles podem representar cerca de 25%, como na Civaux, e até 80%, como na Antigny) (TREFFORT; UBERTI, 2010, p. 198). No entanto, a estabilidade dos outros marcadores de identidade - formas cerâmicas3, ocupação do território, localização das necrópoles etc. - sugere uma mistura rápida de diferentes grupos e o surgimento de uma cultura comum (UBERTI, 2014). Para Angolema, no início dos anos 580, dois condes chamados Nanthinus e Maracharius são indicados como tio e sobrinho4. Deve-se notar que essa união de diferentes partes da aristocracia da Gália merovíngia ocorreu entre trinta a quarenta anos depois nas regiões vizinhas de Limousin e Auvergne, sob os reinados de Clotário II (584/613-629) e Dagoberto (629-639). Esse exemplo, entre outros, testemunha uma composição de redes de elite próxima a das grandes cidades do sul da Neustria, como Angers, Le Mans ou o porto de Nantes (LE JAN, 1989, p. 231-269). Assim, o testamento de Bertram, bispo de Le Mans, menciona seis grandes propriedades agrícolas herdadas de sua família materna e localizadas entre as civitates de Bordeaux e Saintes5. Pelo contrário, a família paterna de Bertram de Le Mans parece ser do Oeste da Nêustria, entre as civitates de Le Mans, Jublains e Rennes. Da mesma forma, a nomeação de Waddo, um aristocrata do norte da Gália, como conde da cidade de Saintes (o prefeito do palácio da Austrásia no início dos anos 580)6, testemunha um controle mais direto dos soberanos merovíngios sobre essas regiões. De fato, nas outras partes da Aquitânia, os reis dos francos usavam, com mais frequência, aristocratas locais.

Ao mesmo tempo, a documentação arqueológica oriunda da escavação das necrópoles do século VI, no vale da Charente, distingue-se totalmente das regiões vizinhas (especialmente do Poitoux) por móveis muito ricos concentrados em torno de alguns sítios7: Herpes (Courbillac, Charente); Biron (Charente-Maritime); Chadenac (Charente-Maritime); Léoville (Charente-Maritime); Ebéon (Charente-Maritime); Mareuil (Charente); e Rouillé (Charente). Essas necrópoles entregaram um rico conjunto de jóias, de fíbula e várias armas (francisca, angon, espada, umbo para escudo)8 (HAITH, 1988, p. 71-80; STUTZ, 1996, p. 157-182). Da mesma forma, nas necrópoles de Mareuil, Saint-Amand-de Boixe (Charente), Saint-Claud (Charente) e Saint-Yrieix (Charente), algumas sepulturas contêm ossos ou elementos de arnês de cavalo. Também deve ser lembrado que todos esses sítios estão localizados perto da estrada Saintes e Bourges (um dos itinerários da Via Agripa, a estrada principal de Lyon para Saintes) (JAMES, 1977, p. 97). Esses elementos permitem formular a hipótese de que não se trata, necessariamente, de uma população de francos, mas de uma militarização mais avançada das elites nessas regiões. Essa ideia é de ser corroborada pelo uso do termo castrum para designar mais de 8,5% dos lugares de emissão nos tremisses (as moedas merovíngias de ouro), especialmente para a cidade de Saintes (BOYER, 2015, p. 42-43). De fato, é estranho que essa cidade seja chamada assim, porque é uma antiga cidade romana localizada na planície, ao contrário de Poitiers e de Angolema construídas em cima de uma rocha (GAUTHIER, 2014, p. 424-425, 638-639).

A hipótese da militarização mais avançada das elites locais também é encontrada nas fontes narrativas e especialmente no Liber Historiae Francorum. De fato, neste texto, todas as menções das cidades de Angolema e de Saintes ocorrem no contexto de uma campanha militar. Assim, durante a conquista da Aquitânia por Clóvis, o autor insiste na cidade de Angolema, que teria uma forte guarnição de godos. A cidade seria devolvida após a captura de Toulouse e Bordeaux, mas, especialmente, depois que um terremoto destruiu seus muros9. A referência ao terremoto é claramente uma alusão ao cerco de Jericó no Antigo Testamento10, o que permite sublinhar na historiografia franca o apoio divino às conquistas do rei dos francos (BAYARD, 2013, p. 310). O autor de Liber Historiae Francorum também insiste na instalação de tropas francas na costa atlântica entre as cidades de Saintes e Bordeaux para lutar contra as últimas forças visigóticas na região11. Essa informação também pode corresponder às observações de Raymond Brulet sobre fortificações na Gália durante a Antiguidade Tardia (BRULET, 2006, p. 62-64). Sabemos que, no contexto do Litus Saxonicum e especialmente do Tractus Armoricanus, várias prefeituras de Letes foram instaladas nas províncias da Aquitânia Primeira e Segunda12. Uma carta da correspondência de Sidônio Apolinário, datada do ano 469/470, confirma a presença de tropas na costa atlântica na região de Saintes. Sidônio Apolinário escreve ao amigo Namatius, que comanda parte da frota do rei dos visigodos, Eurico, responsável pela proteção das costas ao Sul do Loire. Nesse texto, o autor imagina seu amigo caçando a lebre ou o pirata saxão13. Sabemos também que Namatius possuía grandes propriedades nessa área, especialmente em torno de Saintes e na Ilha Oleron (STROHEKER, 1948, p. 194). Fortalezas que controlavam a costa, foz de rios e pontes eram centros de poder essenciais. Assim, o castrum de Blaye, na borda das cidades de Saintes e Bordeaux, na margem norte do Garonne, desempenhou um papel de centro político e simbólico muito importante para o centro-oeste da Gália14. É nesse castrum que foram enterrados, em 632, na basílica de Saint-Romain de Blaye, o rei Cariberto II (irmão de Dagoberto) e seu filho Chilperico15. Da mesma forma, Carlos Martel foi para a fortaleza de Blaye e escolheu Hunoald, em vez de seu irmão Hatto, para dar-lhe o ducatus na Aquitânia em troca de um juramento de fidelidade ou promissio fidei16. A necessidade de proteger e controlar essas áreas, especialmente a costa, deve ser entendida de acordo com a grande riqueza e interesse econômico das civitates de Angolema e Saintes ao longo da Primeira Idade Média.

Indicadores da vitalidade econômica do Centro-Oeste da Gália

O Vale da Charente também tem dados excepcionais e únicos na França sobre o comércio e a navegação fluvial ao longo da Primeira Idade Média. O Charente é particularmente adequado para este tipo de estudo devido à diversidade de seus processos sedimentares (grandes inundações, baixos fluxos, forte influência da maré), à velocidade relativa de sedimentação e à alta sensibilidade dos sedimentos do rio e a poucas perturbações provocadas pelo homem. De fato, a pesquisa arqueológica subaquática realizada nesse rio, desde a década de 1970, renovou o nosso conhecimento sobre esse eixo de comunicação. Assim, a descoberta, entre 1984 e 2007, de uma dúzia de barcos em Port-d’Envaux (Charente-Maritime), Taillebourg (Charente-Maritime), Chaniers (Charente-Maritime), Orlac (Charente-Maritime), Montrefon (Charente-Maritime) e Dompierre-sur-Charente (Charente-Maritime)17, documentou um aspecto muito pouco conhecido da história do comércio. Esses barcos datariam, por meio da técnica do C14, em sua maioria, dos séculos VI e VIII (os últimos datariam dos séculos XII e XIII) (GRAND-JEAN; MARGUET; RIETH, 1989, p. 157-169). Eles também tornam possível medir a variedade de tradições de construção naval fluvial (monoxil, monoxil-montagem, montagem)18, (RIETH, 2019, p. 327-336) em uma mesma época19. Essas diferenças são especialmente visíveis na capacidade de carga desses barcos, que pode variar de algumas centenas de quilos a quase oito toneladas. Certos barcos estavam limitados à navegação fluvial. Outros, como Caboteur de Porto Berteau20 (com um comprimento de 14,30 metros e 4,80 metros de largura), foram capazes de ir para o mar ou subir os rios para o interior (CHAPELOT; RIETH, 2004, p. 195-215). Tais embarcações são, assim, indicativos de métodos operacionais extremamente variados e do dinamismo econômico desse rio (RIETH, 1983, p. 25-39). De fato, a construção, manutenção e operação desse tipo de barcos envolveram um investimento econômico significativo. Isso supõe outras questões, particularmente as relacionadas com a estrutura de uma economia de transporte de água cujas condições materiais não foram documentadas pelas fontes escritas.

Ao mesmo tempo, a maioria dos centros de produção de moedas nas civitates de Angolema e Saintes para os séculos VI, VII e VIII estava localizada ao longo da costa atlântica e da estrada salina. Essas observações correspondem a pesquisas de Jean-François Boyer sobre a produção monetária no antigo Golfo do Poitou (BOYER, 2015, v. I, p. 111-115)21. De fato, salinas, como os sítios portuários, eram lugares fundamentais para as percepções de impostos. Na documentação escrita carolíngia, sal, cereais e vinho estavam entre os principais produtos que os mosteiros procuravam obter exonorações de taxa (BRUAND, 2008, p. 7-32). Por exemplo, as abadias de Stavelot-Malmédy tinham obtido a isenção das tonlieux para barcos pertencentes a elas e que navegavam no vale inferior do Loire (BRUAND, 2002, p. 192-197), especialmente para os portos de Port-Saint-Père, Champtoceaux e Vocassé22. Similarmente, sabemos que os condes de Angolema construíram duas fortalezas em Matha e Marcillac para proteger a estrada das salinas23. Da mesma forma, grupos aristocráticos locais, por meio de doações e patronato de mosteiros, parecem ter tido, também, um papel ativo na vitalidade dessa atividade econômica no centro-oeste da Gália durante a Primeira Idade Média.

De fato, salinas, como os sítios portuários, eram lugares fundamentais para as perceções de impostos. Na documentação escrita carolíngia, sal, cereais e vinho estavam entre os principais produtos que os mosteiros procuravam obter exonerações de taxa. Da mesma forma, sabemos que os condes de Angolema construíram duas fortalezas em Matha e Marcillac para proteger a estrada das salinas. Da mesma forma, grupos aristocráticos locais, por meio de doações e patronato de mosteiros, parecem ter, também, um papel ativo na vitalidade dessa atividade econômica no centro-oeste da Gália durante a Primeira Idade Média.

Evolução das redes do poder a partir da segunda metade do século VIII até o final do século X

Escavações realizadas no início dos anos 2000, no sítio de Taillebourg Port-d’Envaux (Charente-Maritime) (MARIOTTI; DUMONT; ZÉLIE, 2010, p. 279-299; DUMONT; MARIOTTI, 2013), tornaram possível descobrir um conjunto de estruturas que datam dos séculos IX e X, dentre as quais podemos mencionar: uma ponte, um dique que serviu como cais e instalações para piscicultura24. Os trabalhos foram dirigidos por Annie Dumont e Jean François Mariotti e trouxeram à tona um conjunto de 79 objetos em chumbo identificados como pesos para redes ou linhas de pesca. Este conjunto inclui placas de chumbo na forma de um barco, cujos únicos paralelos estão na Escandinávia (TEREYGEOL; FOY; MARIOTTI; DUMONT, 2010, p. 253-267)25. A distribuição e a diversidade dos restos presentes em vários pontos do rio permitem classificar o sítio de Taillebourg Port-d’Envaux como uma área portuária. De fato, a palavra latina portus carrega essa polissemia, que pode se traduzir em “plataforma de descarga”, “a margem construída de um rio”, “uma passagem de balsa”, mas também em “ponto de cobrança de uma taxa” (NIERMEYER, 1976, p. 816-817). Stéphane Lebecq demonstrou para a Gália do Norte o papel desses portos fluviais, último ponto de carregamento antes do mar ou primeira parada antes da subida do vale, já que esses sítios se tornaram importantes postos alfandegários desde o início do período carolíngio (LEBECQ, 2005, p. 22). Tais elementos também poderiam ser o sinal da instalação de um ponto de pedágios para mercadorias que vinham do mar, subiam o rio e, então, eram transportadas pela estrada.

Por isso, não é de admirar que o sítio de Taillebourg Port-d’Envaux seja um dos primeiros na França onde móveis e uma implementação escandinava são realmente atestados, incluindo armas (machados e espadas) descobertas em prospecção subaquática26. Esse local portuário, no entanto, parece ter sido abandonado pouco tempo depois, porque nenhuma estrutura é posterior ao século X. Com efeito, as fontes escritas mencionam a importante presença de normandos na região a partir do ano 84427. Depois de devastar a cidade de Nantes, em 843, e instalar um acampamento fortificado na ilha de Noirmoutier, os normandos teriam alcançado a região do Garonne, entre Bordeaux e Toulouse. Então, entre outubro e novembro de 845, a cidade de Saintes foi saqueada (AUZIAS, 1937; LOT; HALPHEN, 1909, p. 187). No mesmo ano, o conde de Bordeaux, Seguin, teria morrido lutando contra os normandos. Esses grupos devastaram a costa da Aquitânia e sitiaram Bordeaux por um longo tempo, em 847, sem serem capazes de aptura-la. A cidade capitulou em 848, apesar da expedição do rei Carlos, o Calvo. Em março do mesmo ano, a mina de prata de Melle foi devastada28. Entre 849 e 865, a maioria dos espaços entre o Garonne e o Loire foi afetada pela presença de normandos29. O último grande ataque que atingiria o vale do Charente ocorreu em 863, quando o conde de Angolema, Turpion, foi derrotado e morto defendendo a cidade de Saintes. A abadia de Saint-Cybard e a cidade de Angolema também sofreram destruição30. Os Annales Bertiniani mencionam, para o ano 865, uma derrota pesada dos normandos instalados no vale da Charente, bem como a morte do seu líder Siegfried31. No entanto, deve-se notar que a narração da devastação da Aquitânia pelos normandos deve ser entendida de acordo com o conflito entre Carlos, o Calvo, e seu sobrinho Pepino II (AUZIAS, 1937, p. 118-119; GRAVEL, 2012, p. 395-412).

Fica claro, neste lembrete cronológico, que grupos normandos ficaram por muito tempo na região e que eles necessitavam de bases estáveis no vale do Charente. O sítio de Taillebourg Port-d’Envaux poderia ser um lugar ideal para esse centro de poder. De fato, o topônimo Taileburcinse é atestado desde 1007, e o de Tralliburgo, em 1074. Esses dois nomes vêm claramente da forma Trelleborg (DEBORD, 1984, p. 53). Similarmente, a posição de Taillebourg no rio Charente, perto da estrada das salinas32, ajuda a entender o interesse econômico nesse local. Finalmente, fazer de Taillebourg o centro do poder dos normandos auxilia a explicar as posições das duas fortalezas de Matha e Marcillac construídas pelo conde Vulgrino I33. Assim, é tentador reter a proposta de André Debord, que liga o final das ações dos normandos no rio Charente, em 865, e a reorganização das obras de salinas na costa do Atlântico, a partir do ano de 892 (DEBORD, 1984, p. 55). Infelizmente, não temos documentos escritos sobre a produção de sal na Charente antes do final do período carolíngio (DUGUET, 1992, p. 5-20). A partir do final do século IX, especialmente nos séculos X e XI, os diplomas dos grandes mosteiros da costa atlântica mencionam, regularmente, os direitos recolhidos das salinas. Assim, em 1009, a Abadia de Saint-Jean-d’Angély (Charente-Maritime) tinha 3988 áreas e algumas outras salinas34. O cartulário de Saint-Jean-d’Angély possibilita a compreensão do jogo intelectual de equivalências, que permitiu medir o tamanho das salinas e calcular o rendimento dessas propriedades: 20 áreas correspondem a 01 libra de pântano, ou, por ano, 20 solidi ou 240 denarii de sal35. Essa documentação tem, frequentemente, creditado a ideia de que os monges eram os únicos construtores e os promotores das salinas do Atlântico (HOCQUET; SARRAZIN, 2006; HOCQUET, 1985, p. 67). No entanto, as cartas da Trindade de Vendome (Charente-Maritime) e de Saint-Maixent (Deux-Sèvres) indicam movimentos patrimoniais muito mais complexos, que deixavam uma grande parte de iniciativa para as comunidades de habitantes36. Neste sentido, o programa comum de pesquisa, iniciado por Vincent Ard (TRACES, CNRS) e Vivien Mathé (LIENS, Université de la Rochelle), sobre os métodos elétricos e eletromagnéticos para a detecção de locais produtores de sal para os períodos pré-históricos e proto-históricos para o centro-oeste da França. A parte do projeto dedicada ao inventário e mapeamento de sítios, bem como sobrevôos das antigas fronteiras costeiras e terrestres dos golfos de Charente, terminou recentemente (ARD; MATHE, 2017, p. 149-150). Quando esses dados serão mais facilmente acessíveis, eles oferecerão possibilidades de cruzamento de resultados entre fontes escritas e arqueológicas em uma perspectiva diacrônica. De fato, será possível comparar e geolocalizar os resultados da análise de artefatos das épocas Neolítica e Celta, estruturas romanas, moedas merovíngias e cartulas dos séculos IX, X e XI com dados paleoclimáticos (DAIRE, 1999, p. 195-207).

Pouco se sabe sobre as elites locais entre o final da década de 840 e a segunda metade dos anos 860. Tal silêncio pode ser devido à forte presença de escandinavos na região durante esses vinte anos. Sabemos, no entanto, que o conde Vulgrino I construiu duas fortalezas em Matha e Marcillac, provavelmente para proteger a estrada das salinas (DEBORD, 1984, p. 50). Vulgrino I é lembrado como o fundador da dinastia do condado de Angolema ou Taillefer37. Este nome vem de uma legenda local relatada por Adémar de Chabannes. O cronista conta como Guilherme II (926/930?-945) teria cortado pela metade o chefe normando Storin38. A herança da família do condado é a única a ser realmente documentada por fontes escritas39. Essas propriedades parecem se concentrar entre as cidades de Angolema e Saintes, ao longo do rio, especialmente os castra de Angeriacum, Archiac, Bouteville, Matha, Marcillac e Andone40. No entanto, é a área melhor registrada por documentação arqueológica e escrita. Nós não podemos excluir um efeito de deformação de corpus. Esse espaço político permanece bastante estável até a segunda metade do século X. Durante esse tempo, a família do condado experimentou um período de atrito, de rivalidade interna, depois do sucesso de Guilherme II. O conde de Angolema, então, passa muito claramente para o assunto dos condes de Poitiers, duques de Aquitânia. Foi sobre essas evoluções que parei o estudo de fontes escritas. De fato, essas mudanças resultam em um desmembramento progressivo desta área regional.

Em conclusão, o estudo de redes e centros de poder no Centro-Oeste Gaulês na primeira Idade Média comprova a importância do cruzamento das fontes escritas e materiais para renovar nossa compreensão das sociedades medievais. Entanto, esse cruzamento nem sempre é fácil e ele deve acima de tudo respeitar os limites e especificidades de cada tipo de documentação. A utilização de dados arqueológicos e textuais permite propor uma visão dinâmica da identidade das elites durante as épocas merovíngia e carolíngia, permitindo, assim, desconstruir as oposições binárias entre franco e aquitânio, romano e bárbaro. Similarmente, as fontes escritas e materiais tornam possível provar a implantação precoce das elites em certos locais. Esta é uma ruptura real com a historiografia tradicional que ainda defendia até o início dos anos 2000 a ideia de que a aristocracia franca começou a territorializar seu poder apenas a partir dos séculos X e XI. Esses elementos convidam a multiplicar os estudos sobre o papel das redes aristocráricas na construção dos espaços medievais. Este artigo também permite medir a importância do estudo de um contexto regional. Com efeito, apenas esta escala permite respeitar as especificidades dos contextos locais e perceber evoluções em cada tipo de documentação.


Figura 1 -
Necrópoles da Primeira Idade Média entre Loire e Garonne
Fonte: ROMAINS, 1989, p. 99.


Figura 2 -
Joias, fíbula e várias armas merovíngias descobertas em túmulos na necrópole Herpes (Courbillac, Charente)
Fonte: STUTZ, 1996, p. 176-178.


Figura 3 -
Fortificações documentadas na Aquitânia na Primeira Idade Média


Figura 4 -
Habitats e atividades artesanais entre Loire e Garonne
Fonte: ROMAINS, 1989, 1989, p. 160.


Figura 5 -
Os naufrágios da Primeira Idade Média encontrados no Charente
Fonte: RIETH, 2004, p. 215.


Figura 6 -
Reconstruindo o naufrágio do Caboteur de Porto Berteau (século VII)
Fonte: RIETH, 2004, p. 211.


Figura 7 -
Locais de produção monetária no Golfo do Poitou
Fonte: BOYER, 2015, v. 2, p. 48.


Figura 8 -
Os condes de Angolema a estrada das salinas


Figura 9 -
Mapa da ponte medieval de Taillebourg Port-d’Envaux
Fonte: MARIOTTI; DUMONT; ZELIE, 2010, p. 295.


Figura 10 -
Chumbo na forma de um barco, Taillebourg Port-d’Envaux (séculos IX a X)
Fonte: TEREYGEOL; FOY; MARIOTTI; DUMONT, 2010, p. 262.


Figura 11 -
Machados descobertos no sítio de Taillebourg Port-d’Envaux (séculos IX a X)


Figura 12 -
Espadas descobertas no sítio de Taillebourg Port-d’Envaux (séculos IX a X)
Fonte: MARIOTTI; DUMONT; ZELIE, 2010, p. 288.


Figura 13 -
Os condes de Angolema (séculos IX-XI)
Fonte: BOURGEOIS, 2009, p. 387.


Figura 14 -
Propriedades e doações do conde de Angolema (séculos IX-XI)
Fonte: BOURGEOIS, 2009, p. 399.

Referências

ANNALES Engolismenses. In: TREMP, E. (ed.). M.G.H., SS. Hannover: M.G.H., 1895. t. IV.

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WEIDEMANN, M. Das Testament des Bischofs Berthramm von Le Mans vom 27. März 616. Untersuchungen zur Besitz und Geschichte einer fränkischen Familie im 6. und 7. Jahrhundert. Mainz, 1986.

Notas

1 SALVIEN DE MARSEILLE. De gubernatione Dei. In: LAGARRIGUE, G. (ed.). Œuvres. Trad. Georges Lagarrigue. Paris: Éditions du Cerf, 1975. (Sources chrétiennes, n. 220, t. II, Du gouvernement de Dieu), VII, 2, 8: “Ne mini dubium est Aquitanos ac Nouempopulos medullam fe re Galliarum et uber totius fecunditatis habuisse, nec solum fecunditatis, sed, quae praeponi interdum fecunditati solent, iucunditatis, pulchrit udinis, uoluptatis. Adeo illic omnis admodum regio aut intertexta uineis aut florulenta pratis aut distincta culturis aut condita pomis aut amoenata lucis aut inrigua fontibus aut interfusa fluminibus aut crinita messibus fuit, ut uere possessores ac domini terrae illius non tam soli istius portionem quam paradisi imaginem possedisse uideantur.”
2 Garum (em português garo) ou liquamen era um género de condimento muito utilizado na Antiguidade. É feito de sangue, vísceras e de outras partes seleccionadas do atum ou da cavala misturadas com peixes pequenos, crustáceos e moluscos esmagados. Tudo isto era deixado em salmoura e ao sol durante cerca de dois meses ou então aquecido artificialmente.
3 As formas cerâmicas conhecidas para as cidades de Angolema e de Saintes para os séculos VI e VII testemunham o rápido desaparecimento das cerâmicas da tradição antiga-tardia e a aparência das formas cerâmicas comuns ao mundo franco.
4 GREGÓRIO DE TOURS. Decem libri historiarum. In: KRUSCH, B.; LEVISON, W. (ed.). M.G.H., S.S. rer. Mero. Hannover: M.G.H., 1951. T. I., V, 36, p. 242: “Hac itaque aegritudine et Nanthinus Equolisinensis comes exinanitus interiit. Sed quae contra sacerdotes vel ecclesias Dei egerit, altius repetenda sunt. Denique Maracharius, avunculus eius, diu in ipsa urbe usus est comitatum.”
5 BERTRAND DU MANS. Testamentum. In: BUSSON, G.; LEDRU, A. (ed.). Actus pontificum cenomannis in urbe degentium. Le Mans: Société historique de la province du Maine, 1901, p. 98-141;WEIDEMANN, M. Das Testament des Bischofs Berthramm von Le Mans vom 27. März 616. Untersuchungen zur Besitz und Geschichte einer fränkischen Familie im 6. und 7. Jahrhundert. Mainz, 1986, p. 84-85 e 87: especialmente villae de Floirac, Plassac, Saint-Paul e Chalons (ao qual devem ser adicionadas as propriedades localizadas em Bordeaux e Brigueuil).
6 GREGÓRIO DE TOURS. Decem libri historiarum... VII, 45, p. 319.
7 Ver figura 1: Necrópoles da Primeira Idade Média entre Loire e Garonne.
8 Ver figura 2: Joias, fíbula e várias armas merovíngias descobertas em túmulos na necrópole Herpes (Courbillac, Charente).
9 Liber Historiae Francorum. KRUSCH, B. (ed.). M.G.H., SS. rer. Mero. Hannover: M.G.H. 1888, p. 215-328; LEBECQ, S. La Geste des rois des Francs. Trad. Stéphane Lebecq. Paris: Les Belles Lettres, 2015. (Coll. Les classiques de l’Histoire de France au Moyen Âge, v. 54), c. 17, p. 270: “Chlodoveus quoque Burdigalensem civitatem totum hyemem re sedit; thesauros vero plurimos Alarici regis de Tolosa abstullit. Omnesque urbes illas accipiens, Ecolosinam civitatem veniens, tantam gratiam ei Dominus contulit, ut in eius adventu muri eius corruerent. Interfectis Gothis, qui ibidem erant, ipsam urbem adprehendit, omnem terram illam subiugavit”.
10 Js 6: 1-27.
11 Liber Historiae Francorum, c. 17, p. 270: “In Sanctonico vel Burdigalinse. Francos precepit manere ad Gothorum gentem delendam.”
12 BÖCKING, E. (ed.). Notitia dignitatum et administrationum omnium tam civilium quam militarium in partibus Orientis et Occidentis. Bonn, 1839-53. 4 v.; RICHARDOT, P. La fin de l’armée romaine: 284-476. Trad. Philippe Richardot. Paris: Éditions Economica, 2005, p. 375-386 (Coll. Bibliothèque Stratégique): “in partibus Occidentis, XXXVII. Dux tractus Armoricani: Extenditur tamen tractus Armoricani et Nervicani limitis per provincias quinque: per Aquitanicam primam et secundam, Lugdunensem Senoniam, secundam et tertiam.”
14 Ver figura 3: Fortificações documentadas na Aquitânia na Primeira Idade Média.
15 Liber Historiae Francorum, c. 32, p. 291.
16 ANNALES Mettenses Priores. In:DE SIMON, B. (ed.). M.G.H., SS rer. Germ, Annales et chronica aevi Carolini. Hannover: M.G.H., 1905, 735, p. 28: “Anno ab incarnatione Domini DCCXXXV. Eodo dux mortuus est. Quod cum audiret invictus princeps Carolus, adunato exercitu Ligerem fluvium transiit, usque ad Garonnam et urbem Burdigalensem et castra Blavia occupavit. Illamque regionem cepit et subiugavit cum urbibus ac suburbanis eorum. Ducatumque illum solita pietate Hunaldo filio Eodonis dedit, qui sibi et filiis suis Pippino et Carolomanno fidem promisit.”
17 Ver figura 4: Habitats e atividades artesanais entre Loire e Garonne.
18 A técnica do monoxil implica ser o barco construído a partir de uma única árvore, em uma só peça. A técnica do monoxil-montagem implica ser o barco construído a partir de uma única árvore, mas em várias partes. A técnica de montagem implica ser o barco construído a partir de várias árvores e, portanto, em várias peças.
19 Ver figura 5: Os naufrágios da Primeira Idade Média encontrados no Charente.
20 Ver figura 6: Reconstruindo o naufrágio do “Caboteur de Porto Berteau” (século VII).
21 Ver figura 7: Locais de produção monetária no Golfo do Poitou.
23 Ver figura 8: Os condes de Angolema a estrada das salinas.
24 Ver figura 9: Mapa da ponte medieval de Taillebourg Port-d’Envaux.
25 Ver figura 10: Chumbo na forma de um barco, Taillebourg Port-d’Envaux (séculos IX a X).
26 Ver figuras 11 e 12: Machados descobertos no sítio de Taillebourg Port-d’Envaux (séculos IX a X); Espadas descobertas no sítio de Taillebourg Port-d’Envaux (séculos IX a X).
28 Id., 847, p. 55.
29 Chronique des abbés de Fontenelle (Saint-Wandrille). PRADIÉ, P. (ed.). Les classiques de l’histoire de France au Moyen Âge. Trad. Pascal Pradié. Paris: Société de l’Histoire de France, 1999. p. 142-143.
30 ANNALES Engolismenses. In: TREMP, E. (ed.). M.G.H., SS. Hannover: M.G.H., 1895. T. IV, 863, p. 486. CHAVANON, J. (ed.). Adémar de Chabannes. Chronicon. Paris: A. Picard, 1897 (Collection des textes pour servir à l’histoire, 20). c. 21 e 28. p. 222-232.
31 ANNALES de Saint-Bertin… Paris: Société de l’Histoire de France, 1964. 865, p. 70.
32 Ver figura 8: Os condes de Angolema a estrada das salinas.
33 CHAVANON, J. (ed.). Adémar de Chabannes. Chronicon. c. 19, p. 218.
34 MUSSET, G. (ed.). Cartulaire de Saint-Jean-d’Angély. v. II. Paris: Picard, 1901. Docs. 351-359; 378; 418; 423; 467; e 492.
35 Ibid. docs. 351-352.
37 Ver figura 13: Os condes de Angolema (séculos IX-XI).
38 ADÉMAR DE CHABANNES. Chronicon… 28. p. 232.
39 Principalmente devido aos cartulários de Angolema, de Saint-Cybard e de Saint-Jean-d’Angély. NANGLARD, J. (ed.). Cartulaire de l’Église d’Angolema. Angolema: Chasseignac, 1900; LEFRANCQ, P. (ed.). Saintes, 1874-1935. T. XXX (1901) e XXXIII (1903).
40 Ver figura 14: Propriedades e doações do conde de Angolema (séculos IX-XI).

Autor notes

E-mail: bayard.garigliano@free.fr



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