Cidades pequenas no Território de Identidade do Sudoeste Baiano

Small towns in the southwest Bahia identity territory

Pequeños pueblos en el territorio de identidad del suroeste de Bahía

Ana Emília de Quadros Ferraz 1 http://orcid.org/0000-0002-0137-3787
Universidade Federal de Sergipe, Brasil

Cidades pequenas no Território de Identidade do Sudoeste Baiano

GEOPAUTA, vol. 4, núm. 2, pp. 31-52, 2020

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Recepção: 20 Abril 2020

Aprovação: 30 Junho 2020

Publicado: 08 Julho 2020

Resumo: A temática se contextualiza no Território de Identidade do Sudoeste Baiano (TISB) e faz uma abordagem sobre cidade pequena. Os territórios são heterogêneas, assim como são os municípios. Assim, optou-se pela realização de uma pesquisa sobre vinte e três cidades, consideradas pequenas. As desigualdades são marcantes, contudo existem semelhanças que não se restringem ao aspecto populacional mas, também, socioeconômico. Enquanto espaços concretos, vividos cotidianamente, as pequenas cidades são reveladas nas pesquisas realizadas com jovens. Vários aspectos foram abordados e expressam o olhar do morador acerca da cidade. Entende-se que só se pode intervir no espaço, quando é reconhecido como uma construção social e que é preciso conhecer o lugar onde se vive para atuar como agente transformador de determinada realidade.

Palavras-chave: Cidade pequena, Território de Identidade, Geografia.

Abstract: The topic is developed in the Southwest Bahia’s Identity Territory (TISB) and makes an approach to small towns. The territories are heterogeneous, and also the cities. For that, it was decided to conduct a survey in twenty-three cities. Inequalities are remarkable. However, there are similarities not only restricted to population’s, but also to socioeconomic aspects. Represented as concrete spaces, lived fully on a daily basis, small cities are revealed in the research carried out to young residents. Among several aspects, the residents’ view of the city. It is clear that a human being can only intervene in a space, if recognized as a social construction. The individual needs to know well the place where he/she lives to act as a transforming agent.

Keywords: Small towns, Identity Territory, Geography.

Resumen: El tema se contextualiza en el Territorio de Identidad del Sur oeste de Bahía (TISB) y hace un acercamiento sobre pequeña ciudad. Los territorios son heterogéneos, como lo son los municipios. Por lo tanto, se decidió realizar una encuesta en veintitrés ciudades, consideradas pequeñas. Las desigualdades son sorprendentes, sin embargo, hay similitudes que no se limitan al aspecto de la población, sino también a el socioeconómico. Como espacios concretos, experimentados a diario, las ciudades pequeñas se revelan en investigaciones realizadas como jóvenes. Se abordaron varios aspectos y expresaron la opinión de los residentes sobre la ciudad. Se entiende que solo se puede intervenir en el espacio, cuando se lo reconoce como una construcción social y que es necesario conocer el lugar donde se vive para actuar como un agente que transforma una determinada realidad.

Palabras clave: Ciudad pequeña, Territorio de identidad, Geografía.

Introdução

O estudo de pequenas cidades é desafiador e considera-se estimulante compartilhar experiências de pesquisas realizadas em cidades desse porte. Neste artigo, contextualiza-se a área de abrangência dos trabalhos realizados, apresenta-se um breve debate a respeito da cidade pequena e analisa-se aspectos do cotidiano.

Alguns aspectos sobre o Território de Identidade do Sudoeste Baiano

Os Territórios de Identidade na Bahia foram definidos,em 2007, pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI, 2018). Essa regionalização, atualmente, serve de base para as políticas públicas implantadas no âmbito estadual e foi utilizada neste trabalho, pois concorda-se com Santos, D. (2018) quando esclarece que a definição de região subentende a existência de um recorte temático e subsidia o discurso geográfico. Nas palavras do autor:

Reafirmando que a definição de região, independentemente da explicitação epistemológica do sujeito que a faz, subentende a existência de um recorte temático por parte do observador, vale lembrar, ainda, que a existência de regiões montanhosas ou planas, florestadas ou desérticas, urbanas ou agrárias ou quaisquer outras formas de identificação delimitativa do território só pode ser feita se tematizarmos nosso olhar pois, no final das contas, nada impede que uma cidade seja cercada por uma floresta ou exista sobre uma montanha. É nesse ponto que o percebido e o ordenado se tornam discurso ou, ainda, que paisagem e territórios e tornam região, isto é, o discurso geográfico propriamente dito. (SANTOS, D., 2018, p. 51)

De acordo com essa subdivisão a Bahia possui vinte e sete Territórios de Identidade, como pode ser verificado no mapa 1 que apresenta o estado dividido em territórios, com destaque para o do Sudoeste da Bahia.

Bahia, divisão por territórios de Identidade, com destaque para o Território de Identidade do Sudoeste Baiano, 2016.
Mapa 1
Bahia, divisão por territórios de Identidade, com destaque para o Território de Identidade do Sudoeste Baiano, 2016.
FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Et al, 2016.

Esses territórios não são homogêneos e expressam a heterogeneidade existente no estado da Bahia. Assim, de acordo com Ritter (2011, p.107) são difíceis, no contexto da diferença, estabelecer:

[...] critérios para se identificar e se espacializar a “identidade de um território” ou então o “território de uma determinada identidade”. Enfim, como delimitar para fins práticos um irreal espaço homogêneo em uma configuração de crescente heterogenia, e como materializar o “território” como uma unidade escalar de planejamento e de ação para políticas de médio e longo prazo, quando os caminhos reflexivos apontam para uma multiterritorialidade (RITTER, 2011, p. 107).

Então, destaca-se que existem fragilidades nessa regionalização, em “Territórios de Identidade” e a que mesma recebe críticas de pesquisadores. Contudo, embora compreenda-se a pertinência desse debate, não foi objetivo dessa pesquisa adentar os critérios, processos e consequências de tal regionalização. Apenas o recorte territorial, preestabelecido pelo governo do Estado da Bahia, foi utilizado como área de abrangência do projeto. Todavia, os municípios que fazem parte da sua configuração não são trabalhados como uma unidade homogênea pois, como ressalta Santos, M. (2004) não existe homogeneidade do espaço.

Uma expressão dessa heterogenia, pode ser verificada quando se analisa o Produto Interno Bruto (PIB) do estado da Bahia, dividido por Territórios de Identidade. Segundo a SEI (2013) a Bahia apresenta um PIB de, aproximadamente, R$ 204 bilhões. O TISB tem PIB por volta de R$ 7 bilhões, sendo o sexto maior da Bahia. Esse valor representa, apenas, 3,5% do PIB estadual e está abaixo do de outros territórios como: o Metropolitano de Salvador (43,4%), Portal do Sertão (7,1%), Bacia do Rio Grande (5,2%) Litoral Sul (4,7%) e Litoral Norte (3,9%) (Tabela 1). Essa situação, demonstra uma imensa disparidade econômica e social dentro do estado.

Tabela 1
Participação absoluta e percentual dos Territórios de Identidade da Bahia no PIB baiano, em ordem decrescente, 2013
Tabela 1 – Participação absoluta e percentual dos Territórios de Identidade da Bahia no PIB baiano, em ordem decrescente, 2013
Território de IdentidadePIB (2013)Participação
Metropolitano de Salvador88.604.433.05843,4%
Portal do Sertão14.528.442.7407,1%
Bacia do Rio Grande10.564.216.5795,2%
Litoral Sul9.591.435.9934,7%
Litoral Norte e Agreste Baiano7.971.265.1643,9%
Sudoeste Baiano7.232.334.7913,5%
Recôncavo5.942.814.5872,9%
Baixo Sul5.840.811.4432,9%
Extremo Sul5.637.057.8222,7%
Costa do Descobrimento5.003.290.2432,4%
Sertão do São Francisco4.514.490.0342,2%
Sertão Produtivo4.137.281.3552,0%
Sisal3.857.083.5501,9%
Médio Rio de Contas3.577.651.6571,7%
Semiárido Nordeste II2.803.317.4891,4%
Chapada Diamantina2.627.172.1921,3%
Irecê2.603.925.0951,3%
Bacia do Rio Corrente2.579.115.1831,3%
Velho Chico2.403.357.5511,2%
Piemonte Norte do Itapicuru2.161.312.2261,1%
Vale do Jiquiriçá2.127.465.2591,0%
Piemonte do Paraguaçu2.052.115.0781,0%
Médio Sudoeste da Bahia2.001.387.4141,0%
Itaparica1.817.177.8090,9%
Bacia do Jacuípe1.799.490.1800,9%
Piemonte da Diamantina1.541.946.5460,7%
Bacia do Paramirim744.929.7320,4%
TOTAL204.265.320.770100,00%
Organização: Ana Emília de Quadros Ferraz
Fonte: SEI, 2013. (Observação: Por Território de Identidade a última atualização disponível se refere ao ano de 2013)
Organização: Ana Emília de Quadros Ferraz Fonte: SEI, 2013. (Observação: Por Território de Identidade a última atualização disponível se refere ao ano de 2013)

O maior PIB é o Metropolitano de Salvador, que concentra 43,4% do PIB baiano, contrastando com a Bacia do Paramirim com 0,4%(SEI, 2013). É um estado fortemente marcado pelas diferenças que também são acentuadas dentro dos próprios Territórios de Identidade.

O TISB, por exemplo, expressa bem a situação de heterogeneidade do espaço. Esse Território de Identidade é composto por vinte e quatro municípios, como pode ser visualizado no mapa 2. Tem uma área de 26.809,99 km², distribuída de forma bem diferenciada entre os municípios que o compõe.

Território de Identidade do Sudoeste Baiano, divisão por municípios, 2020.
Mapa 2
Território de Identidade do Sudoeste Baiano, divisão por municípios, 2020.
Elaborado por Rocha (2020), adaptao de FERRAZ, Ana Emília de Quadros. Et al, 2016.

Segundo o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a população total do TISB é constituída por 695.302 habitantes. Essa é a quarta maior população entre os territórios baianos. Sendo assim, a densidade demográfica é, aproximadamente, 25,9 hab./km². Essa população é heterogeneamente distribuída, como pode ser observado na Tabela 2.

Tabela 2
População total e percentual populacional, em ordem decrescente, dos municípios do Território de Identidade do Sudoeste Baiano, Bahia, 2010
Tabela 2 – População total e percentual populacional, em ordem decrescente, dos municípios do Território de Identidade do Sudoeste Baiano, Bahia, 2010
MunicípioTotal%
Vitória da Conquista306.86644,1
Poções44.7016,4
Barra do Choça34.7885,0
Cândido Sales27.9184,0
Anagé25.5163,7
Planalto24.4813,5
Encruzilhada23.7663,4
Tremedal17.0292,4
Condeúba16.8982,4
Belo Campo16.0212,3
Aracatu13.7432,0
Presidente Jânio Quadros13.6522,0
Jacaraci13.6512,0
Caetanos13.6392,0
Piripá12.7831,8
Mortugaba12.4771,8
Licínio de Almeida12.3111,8
Mirante10.5071,5
Guajeru10.4121,5
Caraíbas10.2221,5
Bom Jesus da Serra10.1131,5
Ribeirão do Largo8.6021,2
Cordeiros8.1681,2
Maetinga7.0381,0
TOTAL GERAL695.302100,0
Organização: Centro de Estudos Urbanos e Territoriais - CEUT/ESB
Fonte: SIDRA/ IBGE, Censo Demográfico 2010.
Organização: Centro de Estudos Urbanos e Territoriais - CEUT/ ESB Fonte: SIDRA/ IBGE, Censo Demográfico 2010.

O município de Vitória da Conquista se destaca no conjunto do território, abarcando 44,1% da população total, ou seja, 306.866 pessoas, em 2010. O segundo maior município em número de habitantes, é Poções, com 44.701, seguido de Barra do Choça, com 34.788 moradores. Quatro municípios têm entre 23.766 e 27.918 habitantes, quatorze possui de 10.113 a 17.029 e três de 7.038 a 8.602.

Em meio de outros fatores, isso ocorre devido ao próprio processo histórico de formação do território e pela cidade de Vitória da Conquista exercer papel de polarização na região. Essa centralização se efetiva em razão dos serviços sediados nessa cidade, especialmente, aos de saúde, educação e comércio, além dos relacionados ao setor público nos âmbitos federal, estadual e municipal.

Ao se fazer uma análise geral, percebe-se que a maior parte, 64,8% da população do TISB é urbana. O município com maior população urbana é o de Vitória da Conquista, que tem 89,5% de pessoas residentes na cidade e/ou nas vilas. Com exceção de Poções, que apresenta 77,5%, os outros municípios têm menos de 70% de moradores urbanos. Contudo, uma avaliação pormenorizada, indica que em dezesseis municípios do território, a maior parte dos moradores reside na zona rural. Mirante, por exemplo, tem uma população rural de 82,8% e vários outros municípios acompanham percentual elevado de população rural, como: Anagé (80,7%), Aracatu (71,3%), Bom Jesus da Serra (72,6%), Caetanos (75,9%), Caraíbas (75,4%), Condeúda (55,8%), Cordeiros (68,8%), Encruzilhada (78,4%), Guajeru (80,1%), Jacaraci (63,9%), Maetinga (60,0%), Mortugaba (52,8%), Piripá (51,5%), Presidente Jânio Quadros (69,2%) e Tremedal (76,9%), como pode ser verificado na Tabela 3.

Tabela 3
População rural e urbana, em números absolutos e relativos, dos municípios do Território de Identidade do Sudoeste Baiano, Bahia, 2010
MunicípioRural%Urbana%
Anagé20.59280,74.92419,3
Aracatu9.80571,33.93828,7
Barra do Choça12.38135,622.40764,4
Belo Campo6.99243,69.02956,4
Bom Jesus da Serra7.34572,62.76827,4
Caetanos10.34875,93.29124,1
Cândido Sales8.63230,919.28669,1
Caraíbas7.70975,42.51324,6
Condeúba9.43655,87.46244,2
Cordeiros5.61768,82.55131,2
Encruzilhada18.63678,45.13021,6
Guajeru8.33580,12.07719,9
Jacaraci8.72863,94.92336,1
Licínio de Almeida6.05849,26.25350,8
Maetinga4.22160,02.81740,0
Mirante8.69882,81.80917,2
Mortugaba6.59052,85.88747,2
Piripá6.58851,56.19548,5
Planalto9.61239,314.86960,7
Poções10.04222,534.65977,5
Presidente Jânio Quadros9.45469,24.19830,8
Ribeirão do Largo3.95546,04.64754,0
Tremedal13.09076,93.93923,1
Vitória da Conquista32.12710,5274.73989,5
TOTAL244.99135,2450.31164,8
Organização: Centro de Estudos Urbanos e Territoriais - CEUT/UESB Fonte: SIDRA/IBGE, Censo Demográfico 2010.

As desigualdades são marcantes, contudo também existem semelhanças entre os municípios no TISB que não se restringem apenas ao aspecto populacional. A contribuição dos municípios para o PIB do TISB (Tabela 4), também representa características singulares dessa região. Novamente, a maior discrepância se estabelece entre Vitória da Conquista em relação aos demais.

Tabela 4
PIB dos municípios do Território de Identidade do Sudoeste Baiano, em ordem decrescente, 2016
Tabela 4 – PIB dos municípios do Território de Identidade do Sudoeste Baiano, em ordem decrescente, 2016
MunicípioPIB R$ milhões%
Vitória da Conquista6.226,1566,9%
Barra do Choça501,705,4%
Poções468,595,0%
Planalto223,302,4%
Encruzilhada181,802,0%
Cândido Sales174,511,9%
Anagé160,381,7%
Condeúba126,991,4%
Belo Campo118,411,3%
Tremedal116,141,2%
Licínio de Almeida101,051,1%
Jacaraci94,751,0%
Aracatu89,351,0%
Mortugaba86,810,9%
Ribeirão do Largo84,520,9%
Caetanos77,190,8%
Presidente Jânio Quadros74,390,8%
Piripá66,480,7%
Caraíbas66,430,7%
Mirante59,730,6%
Guajeru55,180,6%
Cordeiros52,830,6%
Bom Jesus da Serra52,290,6%
Maetinga46,060,5%
Organização: Ana Emília de Quadros Ferraz
Fonte: SEI, 2016. (Observação: Por município a última atualização disponível se refere ao ano de 2016)
Organização: Ana Emília de Quadros Ferraz Fonte: SEI, 2016. (Observação: Por município a última atualização disponível se refere ao ano de 2016)

Vitória da Conquista se destaca com mais de 6 bilhões de reais, representando 66,9% do PIB do território, em 2016. Desse total, aproximadamente, 72,1% vêm do setor de serviços que tem crescido, seguido por 14,4% que advém do setor industrial, 1,8% da agropecuária e 11,7% da arrecadação de impostos sobre produto. (SEI, 2016)

Os outros vinte e três municípios, apresentam PIB inferior a R$ 501,70 milhões. Barra do Choça e Poções contribuem, respectivamente, com 5,4% e 5%. Treze municípios do TISB têm PIB’s inferiores a R$ 95 milhões. Nesses, a principal contribuição vem do setor de serviços. As prefeituras, como geradoras de empregos, juntamente com outros serviços públicos são, também, responsáveis por esse desempenho vinculado ao setor terciário.

Diante do exposto, é possível afirmar que o TISB apresenta grande diversidade e é um desafio o estudo dos seus municípios e respectivas cidades, especialmente as pequenas. Contudo, como diz Endlich (2009, p. 27)

O olhar para as pequenas cidades não está isolado do restante da rede urbana. Ao contrário, procura-se compreender as dinâmicas dessas localidades em interação, em movimento, consoante à apreensão de uma realidade que considere os demais centros urbanos e os fluxos humanos existentes entre eles.

O território apresenta contradições no que diz respeito ao perfil dos municípios, com relação ao número de habitantes, local de moradia, ao PIB e aos indicadores de desenvolvimento. Essas contradições devem ser consideradas como relevantes nas discussões sobre os problemas, e, de modo especial, na definição de políticas públicas de desenvolvimento do território.

No TISB a cidade de maior expressão econômica e populacional é Vitória da Conquista, que pode ser considerada uma cidade média. Por essa razão optou-se pela realização de uma pesquisa que envolvesse as outras vinte e três cidades, que podem ser consideradas pequenas. A despeito de uma diferenciação do número de habitantes e de especificidades, as outras vinte e três que fazem parte do TISB, foram consideradas pequenas no projeto que foi a base para este artigo. Cabe ressaltar, contudo, que se corre o risco com essa conduta de, por vezes, igualar o que é diferente, preocupação compartilhada por Fresca (2010)

A palavra pequena é um adjetivo, que remete à noção de tamanho, dimensão e no caso das cidades, uma associação entre pequeno número de habitantes com pequena área -no sentido mensurável -ocupada por uma cidade. [...]Um dos critérios ainda mais utilizados para delimitar o recorte das pequenas cidades tem sido os dados populacionais. [...]Utilizando-se este caminho para caracterizar uma cidade como sendo pequena, incorre-se no risco de igualar cidades que na sua essência são diferentes. Em outras palavras, o número de habitantes como variável utilizada resultará em considerar cidades com populações similares como sendo pequenas, mas não levará em conta as especificidades de cada uma delas. Não permitirá que se entenda as diferentes inserções de cada núcleo urbano nas redes ou região, impedindo que se entenda seus papéis, suas áreas de influência, suas integrações internas e externas às redes, dentre outros aspectos fundamentais para a consideração de uma cidade como sendo pequena. Evidente que dependendo do estudo e objetivos, nada impede que se utilize o número de habitantes, mas há que se fazer as ressalvas necessárias, acorde aos objetivos estabelecidos na pesquisa. (FRESCA, 2010,p. 76)

Apesar de compreender essa questão, depois de apresentar o território, optou-se por definir as vinte e três cidades como pequenas, fato que certamente se desdobrará em futuras pesquisas que equacionarão essa problemática enunciada. Além disso, para cada uma das cidades foram realizadas análises particulares que subsidiam debates específicos.

O estudo do fenômeno urbano tem despertado o interesse de diferentes pesquisadores e grupos de pesquisa, em diferentes regiões brasileiras e tem contribuído para o debate. Ao estudar cidades pequenas, no interior do Paraná, Endlich (2009) destaca:

A realidade regional instiga a reflexão sobre as pequenas cidades. Não se trata, destarte, de fazer apologias a esse tipo de localidade, tampouco de incorporar gritos amargos sobre a grande cidade, mas de respeitar e reconhecer espaços concretos, frequentemente ignorados no cenário político e acadêmico.(ENDLICH, 2009, p. 22).

A realidade regional baiana também remete a essa reflexão que contribui para a compreensão do estado. Na Bahia, esforços têm sido realizados no sentido de se estudar pequenas e médias cidades e como resultado desses empenhos, a cada dois anos, desde 2009, tem ocorrido os Simpósios sobre Cidades Médias e Pequenas da Bahia, nos quais são apresentadas pesquisas sobre a temática, que fornecem elementos para um debate mais amplo sobre o conceito de cidades pequenas. Pois, como acrescenta o pesquisador:

Para as cidades médias e pequenas, mais do que a classificação populacional em média ou pequena (que apenas as definiria como cidades de porte médio ou de pequeno porte), cabe o entendimento sobre suas características, seus cotidianos, suas funções e suas formas. (HENRIQUE, 2010, p. 46).

Neste artigo pretende-se colaborar com as discussões sobre estes espaços com o relato de experiência de pesquisas nelas desenvolvidas. Este esforço coaduna com o pensamento de Endlich (2009, p. 30) que afirma “Trata-se, então, de reconhecer a existência das cidades menores. Essas localidades compõem expressiva parte do território do Brasil e demograficamente são ainda espaços de significativa parte da sociedade”.

Como o recorte se limita a pequenas cidades, recorremos a Maia (2010) para iniciar uma discussão sobre a adjetivação do tamanho urbano. A autora auxilia a inferir que os intervalos numéricos, utilizados para classificar pequenas, médias e grandes cidades, com até 20 mil, de 20 mil a 500 mil e mais de 500 mil, respectivamente, é demasiadamente discrepante e insuficiente para a análise desses espaços. Uma cidade de 21 mil habitantes, independentemente de onde esteja localizada, é diferente de uma cidade de 490 mil habitantes. Como então adjetivar ambas como médias cidades? Como definir como cidades pequenas somente aquelas com menos de 20 mil habitantes?

Não existe consenso na literatura sobre quais seriam os critérios numéricos e qualitativos para a adjetivação de cidades como pequenas, médias e grandes. Maia (2010, p. 22) ressalta que “O esforço de se superar tais nomenclaturas tem sido realizado, entretanto, ainda não se pode apontar para outra denominação que caminhe para um conceito. Daí a manutenção dos nomes classificatórios”.

No estudo em questão, cidades como Barra do Choça e Poções, com respectivamente 22.407 e 34.659 moradores urbanos, foram consideradas pequenas. Bem como cidades como Mirante que tem população urbana de 1.809 e outras com quantitativo populacional urbano inferior a 20.000 habitantes (observar Tabela 3).Como Maia (2010) ressalva:

[...] não se pode deixar de considerar a contagem populacional quando se quer pensar sobre o que se denomina de pequenas e médias cidades, mas o que se afirma é que este dado não traduz a dinâmica do conjunto de cidades estudadas ou mesmo não é sinônimo de uma dada realidade. (MAIA, 2010, p. 18-19)

Associada a esta característica, de contagem populacional, é necessário que se leve em consideração a questão da escala de análise e a localização dessas cidades no território, pois como diz Maia (2010, p. 19) “[...] considerando-se o território Brasileiro [por exemplo], uma cidade de 100 mil habitantes no interior da Bahia não é igual a uma cidade com o mesmo contingente populacional no estado de São Paulo [...]”. Nem mesmo cidades, adjetivadas com a mesma classificação, localizadas numa mesma região, são iguais, ou completamente diferentes, pois as dinâmicas produzidas pela rede geográfica constroem relações ímpares e produzem espaços singulares dentro da totalidade.

No contexto do projeto, e para empreender uma análise sobre a pequena cidade na Bahia, optou-se, neste texto, por dialogar com: Endlich (2009), que no seu livro “Pensando os papéis e significados das pequenas cidades”, faz um estudo específico sobre as pequenas cidades no Nordeste do Paraná; e, com Gonçalves (2005), que analisa pequenas cidades no Agreste Potiguar. As análises apresentadas pelos autores revelam similitudes com as pequenas cidades da Bahia e contribuem, para o aprofundamento conceitual e para o entendimento dos processos experienciados.

Entende-se que só se pode intervir no espaço, quando o mesmo é reconhecido como uma construção social. É premente conhecer o espaço onde se vive para atuar como agente transformador de determinada realidade. Antes de tudo, é preciso reconhecer-se como agente produtor do espaço para reconhecer-se como agente transformador do mesmo. Assim, as pesquisas de campo priorizaram escutar jovens moradores dessas pequenas cidades que as vivenciam cotidianamente. Endlich (2009, p.35) auxilia o entendimento da participação da comunidade local quando expõe:

Homens que compartilham de um mesmo espaço e um mesmo momento histórico, não satisfeitos com a condição humana e social de vida, poderão palmilhar juntos a construção de uma nova dimensão de relações sociais, e quiçá poderão compartilhar de uma mesma dimensão da autonomia.

Nos trabalhos de campo foram realizadas oficinas, em cada uma das cidades, com jovens que estavam curando o Ensino Médio. Esses momentos foram marcados por debates sobre problemas existentes na cidade, possibilidades de solução dos mesmos e pontos positivos da cidade pequena. Foi estimulado um despertar para a atuação mais presente do jovem na construção da cidade. Também foi apresentado o Estatuto da Cidade, lei nº 10.257, principal instrumento jurídico que versa sobre a política urbana brasileira e o exercício da cidadania. Os alunos foram estimulados a debaterem as questões, mediados pelos pesquisadores.

Durante as oficinas, foram exibidos vídeos, realizadas leituras de textos, confecção e apresentação de cartazes (Painel 1). Os alunos, após refletirem sobre a realidade vivida, apontaram os pontos positivos e os pontos negativos da sua cidade, ao tempo que elaboraram possíveis soluções para os problemas elencados.

Momentos das oficinas realizadas em Escola de Ensino Médio, em pequenas cidades do TISB, 2015 e 2016
Painel 1
Momentos das oficinas realizadas em Escola de Ensino Médio, em pequenas cidades do TISB, 2015 e 2016
Projeto “Formação de Lideranças Comunitárias e Agenda das Pequenas Cidades do Território de Identidade de Vitória da Conquista”, (2015- 2016)

Ao longo de toda a execução do projeto foram realizadas leituras, levantamentos em fontes primárias e secundárias e trabalhos de campo em todas as 23 cidades, com a produção de iconografia. Em cada um desses núcleos foram produzidas fotografias de: ruas, casas, praças, igrejas, feiras livres, comércio, postos de saúde, hospital, escolas, quadras, rios, destino final do lixo etc (Painéis 2e 3).

Paisagens de pequenas cidades do TISB, 2015 e 2016
Painel 2
Paisagens de pequenas cidades do TISB, 2015 e 2016
Trabalhos de campo do projeto “Formação de Lideranças Comunitárias e Agenda das Pequenas Cidades do Território de Identidade de Vitória da Conquista”, 2015 e 2016

Paisagens que representam problemas em pequenas cidades do TISB, 2015 e 2016
Painel 3
Paisagens que representam problemas em pequenas cidades do TISB, 2015 e 2016
Trabalhos de campo do projeto “Formação de Lideranças Comunitárias e Agenda das Pequenas Cidades do Território de Identidade de Vitória da Conquista”, 2015 e 2016

Essas imagens foram produzidas com o fito de registrar as paisagens urbanas e pautar estudos empíricos que proporcionam avançar teoricamente. Essa ideia é corroborada por Gonçalves (2005, p. 18), quando afirma:

[...] aexígua disponibilidade de informações sistematizadas sobre o urbano no seu limite inferior coloca-nos diante da necessidade de produzirmos mais estudos empíricos, para que a reflexão sobre a temática possa ser enriquecida e avançar teoricamente. (GONÇALVES, 2005, p.18)

Cada um dos elementos fotografados é essencial para aprofundar o entendimento sobre a cidade. De acordo com Gonçalves (2005) as feiras, por exemplo, são importantes lugares a serem analisados pois, “se constituem num evento econômico, social e cultural, que reúnem vendedores e compradores de várias mercadorias num determinado local, em intervalos de tempo regulares”. (GONÇALVES,2005 p.144) O autor complementa:

Percebemos que as feiras livres exercem um significativo papel na vida econômica das cidades pequenas e através delas podemos observar como os produtos fornecidos pelas grandes empresas, e a própria produção econômica regional, chegam até a população consumidora, o que evidencia a inserção de tais cidades no ciclo de consumo do capital. (GONÇALVES, 2005, p. 148)

Assim como a feira, cada um dos outros aspectos fotografados revelam o seu processo contínuo de produção da cidade, a singularidade na totalidade. Como fundamenta Santos, M. (2004)

[...] A categoria de totalidade é como uma chave para o entendimento desse movimento [...] o espaço, com a sucessão interminável de formas-conteúdo] [...], já que a consideramos como existindo dentro de um processo permanente de totalização que é, ao mesmo tempo, um processo de unificação e de fragmentação e individuação. É assim que os lugares se criam, e se recriam e renovam, a cada movimento da sociedade. (SANTOS, M., 2004, p.25)

Foi preocupação neste estudo, também,registrar aspectos dos problemas urbanos vivenciados nas pequenas cidades, assim como ressalta Gonçalves (2005, p. 17), em sua análise sobre o Agreste Potiguar “Nosso olhar está direcionado aos pequenos núcleos urbanos, áreas que também expressam na paisagem sérios problemas sociais, econômicos e ambientais e que somam a maioria dos municípios brasileiros”.

Os exercícios de observação direta, os dados coletados, as leituras realizadas e as informações obtidas nas oficinas auxiliaram a compreensão da realidade pesquisada e possibilitam desvelar características da pequena cidade, pelo olhar de quem a vive cotidianamente. Sobre este tipo de conduta Endlich(2009), no seu estudo, afirma:

Essa conduta procurou evitar um discurso sobree incorporou, ainda que minimamente, as manifestações das pessoas. Para tanto, foi preciso levar em conta que, na construção do conhecimento científico, no atinente ao social e ao humano, como bem lembra Freitas (2002, p.24), não se trabalha com um objeto mudo que meramente se contempla para conhecê-lo, pois as análises incluem a vida de sujeitos que possuem voz e que se expressam de diversas maneiras. (ENDLICH, 2009, p. 288).

Enquanto espaços concretos, vividos cotidianamente, as pequenas cidades são reveladas nas falas, desenhos, narrativas e cartazes produzidos pelos jovens. Vários aspectos foram abordados e expressam o olhar do morador acerca da cidade. Neste artigo serão apresentados, nos gráficos de 1 a 5, alguns dos dados coletados durante as ações de pesquisa. Essas informações permitem aprofundar análises sobre as pequenas cidades, em especial as do interior baiano.

Um elemento recorrente se refere a valorização da tranquilidade, como um ponto positivo das pequenas cidades pesquisadas. Em 71,4% dos casos a cidade de moradia é mencionada e classificada como tranquila (Gráfico 1). Todavia, como alerta Endlich (2009, p. 293) “A associação imediata desses atributos a determinados espaços, no caso as pequenas cidades, também deve ser cautelosa, pois apesar da tranquilidade que parece imperar nas mesmas, ali, igualmente, é despótico o tempo consumido pelo trabalho”.

Avaliação de jovens, de pequenas cidades do Território de Identidade do Sudoeste da Bahia, sobre a sua cidade, 2015
Gráfico 1
Avaliação de jovens, de pequenas cidades do Território de Identidade do Sudoeste da Bahia, sobre a sua cidade, 2015
Textos produzidos por alunos do ensino médio, durante os trabalhos do projeto de extensão MEC/UESB "Formação de lideranças jovens e agenda das pequenas cidades do território de Identidade de Vitória da Conquista, 2015.

Apesar de ressaltarem a tranquilidade como ponto positivo da cidade, paradoxalmente, os jovens apontam, como pontos negativos, o crescimento da violência e a insuficiência do efetivo policial, como pode ser verificado no Gráfico 2. Esse mesmo paradoxo foi verificado por Endlich (2009), pois quando a mesma relata a sua experiência de pesquisa em pequenas cidades do Nordeste do Paraná expõe: 71,4%28,6%A cidade é tranquila Não mencionado

Mais uma qualidade valorizada pela população local, também de provável cunho comparativo, tendo em vista o que se difunde pela mídia, é a segurança. Contudo, é preciso dizer que aparecem também manifestações relativas a problemas com segurança. Essas apreciações dúbias indicam que há um processo de transformação apontando a perda dessa característica. Assim os moradores, com base em sua própria experiência, ora ressaltam a segurança, ora a falta dela. (ENDLICH, 2009, p. 294).

Assim como no caso exposto pela autora, nas cidades pesquisadas no TISB a segurança ainda prevalece como ponto positivo.

Com relação à infraestrutura, o Gráfico 3 resume elementos que foram apontados pelos jovens. A maior parte dos mesmos afirma que são pontos negativos nas pequenas cidades nas quais eles residem a falta de: esgotamento sanitário (78,6%); aterro sanitário (71,4%); e, acessibilidade (42,9%). Também ressaltam que a pavimentação e a iluminação públicas são mal distribuídas e não atendem de maneira equânime o núcleo urbano. (Gráfico 3).

Avaliação de jovens, de pequenas cidades do Território de Identidade do Sudoeste da Bahia, sobre a segurança na sua cidade, 2015
Gráfico 2
Avaliação de jovens, de pequenas cidades do Território de Identidade do Sudoeste da Bahia, sobre a segurança na sua cidade, 2015
Textos produzidos por alunos do ensino médio, durante os trabalhos do projeto de extensão MEC/UESB "Formação de lideranças jovens e agenda das pequenas cidades do território de Identidade de Vitória da Conquista, (2015)

Avaliação de jovens, de pequenas cidades do Território de Identidade do Sudoeste da Bahia, sobre aspectos da infraestrutura na sua cidade, 2015
Gráfico 3
Avaliação de jovens, de pequenas cidades do Território de Identidade do Sudoeste da Bahia, sobre aspectos da infraestrutura na sua cidade, 2015
Textos produzidos por alunos do ensino médio, durante os trabalhos do projeto de extensão MEC/UESB "Formação de lideranças jovens e agenda das pequenas cidades do território de Identidade de Vitória da Conquista, (2015)

Outro elemento apontado como ponto negativo das cidades pesquisadas é a carência na oferta de empregos, como pode ser observado no Gráfico 4.

Avaliação de jovens, de pequenas cidades do Território de Identidade do Sudoeste da Bahia, sobre a oferta de emprego na sua cidade, 2015
Gráfico 4
Avaliação de jovens, de pequenas cidades do Território de Identidade do Sudoeste da Bahia, sobre a oferta de emprego na sua cidade, 2015
Textos produzidos por alunos do ensino médio, durante os trabalhos do projeto de extensão MEC/UESB "Formação de lideranças jovens e agenda das pequenas cidades do território de Identidade de Vitória da Conquista, (2015)

Segundo os jovens e também informações do IBGE e da SEI, a maior parte dos empregos ofertados nas pequenas cidades do TISB está vinculada as prefeituras municipais e existe a carência de oferta de empregos. Este aspecto também é verificado, por Gonçalves (2005), pois o mesmo afirma:

Na maioria das cidades analisadas, o setor terciário é composto pela prestação de serviços simples e pelo funcionalismo público, o qual corresponde a uma grande parcela do setor de empregos disponíveis nas cidades pequenas do Agreste Potiguar. Os estabelecimentos existentes requerem pouca mão-de-obra. Neles predomina o caráter familiar [...](GONÇALVES, 2005, p. 113).

Além disso, o autor ao trabalhar sobre o Agreste Potiguar, corrobora aspectos também são reconhecidos no TISB.

[...] percebemos que o desemprego, a falta de perspectivas, os problemas sociais, entre outros, são exemplos dos verdadeiros incômodos que fazem parte do cotidiano da grande maioria dos moradores das pequenas cidades do Agreste Potiguar. [...] A principal fonte de recurso econômico, na maioria dos casos observados, passou a ser o Estado, através dos programas assistencialistas, dos empregos públicos e dos benefícios das aposentadorias. Em alguns casos a situação é tão calamitosa que se coloca em questão a própria viabilidade administrativa e econômica de tais centros urbanos. (GONÇALVES, 2005, p. 135).

O Gráfico 5 detalha a avaliação dos jovens do TISB sobre aspectos da economia das cidades onde residem e reforça a situação relatada por Gonçalves, que não é exclusiva a uma única região do Brasil.

Avaliação de jovens, de pequenas cidades do Território de Identidade do Sudoeste da Bahia, sobre a economia na sua cidade, 2015
Gráfico 5
Avaliação de jovens, de pequenas cidades do Território de Identidade do Sudoeste da Bahia, sobre a economia na sua cidade, 2015
Textos produzidos por alunos do ensino médio, durante os trabalhos do projeto de extensão MEC/UESB "Formação de lideranças jovens e agenda das pequenas cidades do território de Identidade de Vitória da Conquista, 2015.

A dependência dos moradores em relação ao emprego público municipal revela uma grave situação nestes municípios: a prática da coerção, por parte do grupo político que se encontra no poder. Essa ocorrência remete a uma avaliação de Endlich (2009, p. 315):

Pensar o espaço do homem pelo viés das pequenas cidades leva à contraposição de suas dimensões ideal e utópica, filosoficamente apontadas como localidades que favorecem a participação política, com a dimensão concreta, pois exatamente nas pequenas cidades observa-se que a participação é acuada, com pessoas intimidadas e conflitos sociais contidos.

Durante os trabalhos das oficinas houve, em diferentes cidades,ocorrências como: a gravação de todas as atividades realizadas, por parte de alunos participante, com o fito de mostrá-la ao prefeito; e, relatos como “Temos medo de apontar aqui na oficina os problemas da cidade, pois a gente pode sofrer com isso.” (J.P.M.S., Relato oral, Projeto de extensão MEC/UESB "Formação de lideranças jovens e agenda das pequenas cidades do território de Identidade de Vitória da Conquista,2015). Assim, foi um desafio trabalhar a participação e formação de lideranças jovens nesse contexto.

Considerações Finais

OsTerritórios de Identidade estabelecidos pelo governo do estado da Bahia não são homogêneos e tampouco são homogêneos os municípios e as cidades que compoem cada um desses recortes regionais. Os estudos reafirmaram que não existe homogeneidade do espaço. Isso, apesar de revelarem que existem similitudes entre as cidades pesquisadas. Cada lugar é único e expressa a totalidade. As desigualdades são marcantes, contudo também existem semelhanças entre os municípios no TISB que não se restringem apenas ao aspecto populacional.

No TISB o município de Vitória da Conquista se destaca em termos populacionais, sociais e econômicos, no conjunto do território, e esses fatores corroboram para a caracterização da sua sede municipal como cidade média. Todas as outras 23 cidades do territórios foram consideradas pequenas, apesar de se compreender que existem diferenças qualitativas e quantitativas entre as mesmas.

Dos 24 municípios do TISB, a maior parte, dezesseis deles, concentra a maioria da sua população no campo. Aracatu, Bom Jesus da Serra, Caetanos, Caraíbas, Condeúda, Cordeiros, Encruzilhada, Guajeru, Jacaraci, Maetinga, Mirante, Mortugaba, Piripá, Presidente Jânio Quadros e Tremedal são municípios rurais.

O território apresenta contradições no que diz respeito ao perfil dos municípios, com relação ao número de habitantes, local de moradia, ao PIB e aos indicadores de desenvolvimento. Essas contradições foram consideradas como relevantes nas discussões sobre os problemas, desafios e possibilidades de engajamento político dos jovens citadinos, moradores de pequenas cidades.

Não existe consenso no debate acadêmico acerca dos critérios para definição de cidades como pequenas, médias e grandes e esforços tem sido empreendidos para se superar tais denominações. Mais do que a adjetivação do tamanho de uma cidade, importa compreender como se vive na cidade. Esse foi o caminho metodológico empreendido com o desenvolvimento do projeto apresentado neste artigo. Optou-se por nomear de pequenas todas as cidades do TISB, exceto Vitória da Conquista, e centrar esforços em perscrutar o cotidiano do jovem que mora nessas cidades.

O debate estimulou os jovens a pensarem as suas cidades e possibilitou a sistematização de agendas de ações a serem protagonizadas por eles. Entende-se que só se pode intervir no espaço, quando é reconhecido como uma construção social e que é preciso conhecer o lugar onde se vive para atuar como agente transformador de determinada realidade.

Referências

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ENDLICH, Ângela Maria. Pensando os papéis e significados das pequenas cidades. São Paulo: Ed. Unesp, 2009.

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Notas

1 Pós-doutorado e Doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe–Brasil; Mestrado em Ciências Sociais pela PUC –SP. Graduação em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia –UESB. milaferraz@gmail.com–Atuação profissional: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia –UESB-Vit ́roia da Conquista-Bahia-Brasil
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