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A reestruturação espacial da Zona Portuária do Rio de Janeiro: uma análise a partir do Carnaval de Rua e da mídia hegemônica
Alexandro Souza de Amico 1 https://orcid.org/0000-0002-4930-8466
Alexandro Souza de Amico 1 https://orcid.org/0000-0002-4930-8466
A reestruturação espacial da Zona Portuária do Rio de Janeiro: uma análise a partir do Carnaval de Rua e da mídia hegemônica
The spatial restructuring of the Port Zone of Rio de Janeiro: an analysis based on Street Carnival and the hegemonic media
La reestructuración espacial de la Zona Portuaria de Río de Janeiro: un análisis a partir del Carnaval Callejero y los medios hegemónicos
GEOPAUTA, vol. 5, núm. 2, e7933, 2021
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
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Resumo: O Porto Maravilha, assim como foi proposto e ficou conhecido, modificou toda a produção do espaço na Zona Portuária do Rio de Janeiro, impactando diretamente em diversos processos espaciais na área central carioca. Este artigo é resultado de uma análise empreendida sobre a reestruturação espacial em curso na Zona Portuária da capital fluminense e tem por objetivo discutir como que o Carnaval de Rua da área é uma peça fundamental para o andamento do processo em tela. Para tal, além do alicerce teórico e do levantamento de dados primários, investigamos como que a mídia hegemônica, mais especificamente, neste caso, o jornal O Globo, cumpre um papel decisivo na reestruturação espacial do porto carioca.

Palavras-chave:Porto MaravilhaPorto Maravilha,Carnaval de RuaCarnaval de Rua,Jornal O GloboJornal O Globo,Reestruturação espacialReestruturação espacial.

Abstract: Porto Maravilha, as it was proposed and became known, modified the entire production of space in the Port Zone of Rio de Janeiro directly impacting various spatial processes in the central area of Rio. This article is the result of an analysis undertaken on the spatial restructuring underway in the Port Zone of the capital of Rio de Janeiro and aims to discuss how the area's Street Carnival is an essential part of the process in progress. To this end, in addition to the theoretical foundation and the survey of primary data we investigate how the hegemonic media, more specifically, in this case, the newspaper O Globo, plays a decisive role in the spatial restructuring of the port of Rio de Janeiro.

Keywords: Porto Maravilha, Street carnival, Newspaper O Globo, Spatial restructuring.

Resumen: Porto Maravilha, como se propuso y se conoció, modificó toda la producción del espacio en la Zona Portuaria de Río de Janeiro, impactando directamente varios procesos espaciales en el área central de Río. Este artículo es el resultado de un análisis realizado sobre la reestructuración espacial en curso en la Zona Portuaria de la capital carioca y tiene como objetivo discutir cómo el Carnaval Callejero de la zona es una pieza fundamental para el avance del proceso en cuestión. Para ello, además del fundamento teórico y el relevamiento de datos primarios, investigamos cómo los medios hegemónicos, más específicamente, en este caso, el diario O Globo, juega un papel decisivo en la reestructuración espacial del puerto de Río de Janeiro

Palabras clave: Porto Maravilha, Carnaval callejero, Periódico o Globo, Reestructuración espacial.

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A reestruturação espacial da Zona Portuária do Rio de Janeiro: uma análise a partir do Carnaval de Rua e da mídia hegemônica

The spatial restructuring of the Port Zone of Rio de Janeiro: an analysis based on Street Carnival and the hegemonic media

La reestructuración espacial de la Zona Portuaria de Río de Janeiro: un análisis a partir del Carnaval Callejero y los medios hegemónicos

Alexandro Souza de Amico 1 https://orcid.org/0000-0002-4930-8466
UFRJ, Brasil
GEOPAUTA, vol. 5, núm. 2, e7933, 2021
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Recepción: 11 Enero 2021

Aprobación: 29 Junio 2021

Introdução

Desde 2009, a Operação Urbana Consorciada (OUC) Porto Maravilha vem realizando profundas transformações no arranjo espacial da Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro. Com uma área de mais de cinco milhões de m²2 e vizinha ao Central Bussines District3 (CBD), o Porto Maravilha chamou a atenção do Brasil e do mundo para os seus processos espaciais. Bairros históricos da área central da cidade que passaram por décadas de um grande processo de estigmatização de suas formas e funções como, por exemplo, Gamboa, Saúde e Santo Cristo (área que corresponde a cerca de 94% da OUC) foram inseridos em estratégias globais de (re)produção do espaço urbano.

A reestruturação espacial em curso no porto carioca acarretou novos processos e fenômenos espaciais na área. A “nova” forma de produção do espaço urbano na Zona Portuária da cidade está diretamente relacionada às novas territorialidades do Carnaval de Rua da área central. A ressignificação simbólica do Carnaval de Rua da capital fluminense (principalmente no eixo Centro-Zona Sul) está explicitada no Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro (PECRJ) de 2009-2012 que coloca a popular folia carioca como umgrande vetor da promoção econômica da cidade anível mundial. Nesse sentido, o Decreto 30393, de 8 de janeiro de 2009, instituiu normas que visam a transformação do Carnaval de Rua em um produto de grande valor de troca para o setor privado, pois seu caráter popular, identitário e de uma certa exclusividade da cidade do Rio de Janeiro, é buscado pela atual forma flexível da acumulação capitalista. Na reestruturação da Zona Portuária, a mídia hegemônica cumpre um papel fundamental. É ela quem, após estabelecer parcerias com o setor privado e o poder público, veicula informações positivas sobre a reestruturação espacialeoseu suporte cultural.

A proposta deste artigo é realizar um exame conjunto entre a reestruturação espacial da Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro e o Carnaval de Rua dessa mesma área, buscando, além do embasamento teórico, dados primários obtidos através de trabalhos de campo e o exame de reportagens sobre essa temática no jornal O Globo. Escolhemos este veículo, pois, além de ser uma das publicações mais vendidas no Brasil4, a Fundação Roberto Marinho, a qual o jornal pertence, é uma das maiores investidoras5 da OUC Porto Maravilha.

O texto divide-se em 3 partes. Na primeira, a própria noção de reestruturação espacial ganhou espaço para que pudéssemos introduzir e debater como que a cultura exerce um papel fundamental dentro dessas grandes intervenções no espaço urbano, tendo como evidência em nosso trabalho o Carnaval de Rua. Em seguida, foi realizada uma breve contextualização sobre o nosso recorte espacial de análise, a Zona Portuária do Rio de Janeiro, elencando a atual situação da OUC Porto Maravilha. Por fim, discutimos como que a grande mídia dá suporte ao processo acima citado, privilegiando as reportagens do jornal O Globo sobre o Carnaval de Rua dentro do contexto da reestruturação espacial da Zona Portuária do Rio de Janeiro e correlacionando-as com os dados primários obtidos durante a pesquisa.

Para uma melhor compreensão da metodologia utilizada no levantamento dos dados primários, apresentamos, a seguir, o caminho percorrido: os trabalhos de campo foram realizados durante os quatro dias do Carnaval de 2020. A proposta foi a de realizar os campos em dias e horários diferentes, abrangendo possíveis disparidades na dinâmica espacial. Os setores da Zona Portuária foram previamente determinados levando-se em consideração o grau de “avanço” da reestruturação e a ocorrência de blocos. Os bairros da Gamboa, Saúde e Santo Cristo passaram pelas análises em períodos da manhã, da tarde e da noite, durante os 4 dias da folia momesca. Logo, pudemos observar o perfil dos frequentadores nos diferentes bairros, nos diferentes horários, nos diferentes dias e em espaços públicos e privados.

As reestruturações espaciais e o seu suporte cultural: uma peça fundamental do quebra-cabeça

A partir da década de 1970, surge um novo paradigma no que compreendemos como produção do espaço (Lefebvre, 1991 [1974]). Com a noção de que o próprio espaço urbano passa a ser mais uma mercadoria, a emergência de um planejamento urbano calcado em premissas neoliberais e materializado nas reestruturações espaciais torna-se a ordem do dia. O geógrafo Edward Soja (1993) argumenta que as reestruturações espaciais não podem ser vistas como um processo mecânico ou até mesmo automático. Segundo o autor, o processo é resultante de bruscos movimentos que abalam a ordem social pré-existente. Ainda segundo Soja (1993), tal dinâmica engendra disputas pelo controle dos fluxos como, por exemplo, os de capitais que atualmente são movimentados geograficamente entre os 3 circuitos de uma produção capitalista mais flexível, como apontam David Harvey (2005) e Neil Smith (1996).

Marcelo Lopes de Souza (2006, 2013) alerta sobre as reestruturações espaciais mexerem não apenas com as funções de determinadas áreas, mas sim de se tratar de uma complexa transformação espacial de ordem estrutural. Segundo Souza (2013, p. 69) “refuncionalizar um espaço material significa atribuir novas funções a formas espaciais e objetos geográficos pré-existentes(...) reestruturar um espaço material quer dizer alterá-lo muito significativamente, modificando a sua estrutura”. Em consonância com esta perspectiva, é em Soja (1993) que encontramos uma definição mais acabada sobre as reestruturações:

Em sua hierarquia de manifestações, a reestruturação deve ser considerada originária de e reativa a graves choques nas situações e práticas preexistentes, e desencadeadora de uma intensificação de lutas competitivas pelo controle das forças que configuram a vida material. Assim, ela implica fluxo e transição, posturas ofensivas e defensivas, e uma mescla complexa e irresoluta de continuidade e mudança. Como tal, a reestruturação se enquadra entre a reforma parcial e a transformação revolucionária, entre a situação de perfeita normalidade e algo completamente diferente (SOJA, 1993, p.82)

Para dar suporte às transformações no espaço que impactam até mesmo a estrutura urbana, diversos setores e agentes são mobilizados. Dentro do “quebra- cabeça” das reestruturações espaciais, a dimensão simbólica do espaço tornou-se uma peça fundamental para alcançar os objetivos dos projetos. Investimentos de grandes remessas de capital em eventos culturais tais como exposições, feiras das mais diversas, shows, eruditos e grandiosos museus e centros culturais, além da apropriação de determinados ritos da cultura popular, dão a sensação aos investidores de que as áreas em vias de reestruturação estão “seguras” para os negócios. Harvey (2005) aponta como que as buscas empreendidas pela acumulação das rendas monopolistas têm provocado interesses na apropriação tanto das inovações culturais locais, quanto no resgate e invenção de tradições em áreas reestrtuturadas. Assim, corrobora Harvey (2005, p.233) quando discorre sobre a tentativa de criação de uma ideia de exclusividade de um determinado local:“O que está em jogo é o poder do capital simbólico coletivo, isto é, o poder dos marcos especiais de distinção vinculados a algum lugar, dotados de poder de atração importante em relação aos fluxos de capital de modo mais geral.” Ainda para o geógrafo inglês:

Se as alegações de singularidade, autenticidade, particularidade e especialidade sustentam a capacidade de conquistar rendas monopolistas, então sobre que melhor terreno é possível fazer tais alegações do que no campo dos artefatos e das práticas culturais historicamente constituídas, assim como no das características ambientais especiais (incluindo, é claro, os ambientes sociais e culturais construídos)? (HARVEY, 2005, p. 232)

Guy Debord (2003 [1992]) apontou com brilhantismo como que a cultura transformou-se em uma mercadoria preciosa ao capitalismo, chegando a compará-la com a estrada de ferro e o automóvel, no que ficou conhecido como espetacularização da cultura. A filósofa Otília Arantes (2013) também contribui ao debate ao analisar como que a cultura passou a ser vista de maneira “quase consensual” entre os “planejadores estratégicos”. A inserção das cidades, por parte de seus gestores, em uma espécie de competição global por investimentos fez com que, segundo a filósofa, uma série de reestruturações espaciais em áreas centrais buscasse a cultura, ou a dimensão simbólica do espaço, como assim aponta Corrêa (2014), para a legitimação de determinados processos que por muitas vezes causam prejuízos à população de baixa renda.

À medida que a cultura passava a ser o principal negócio das cidades em vias de gentrificação, ficava cada vez mais evidente para os agentes envolvidos na operação que era ela, a cultura, um dos mais poderosos meios de controle urbano no atual momento de reestruturação da dominação mundial. (ARANTES, 2013, p.33)

Podemos conectar as ideias supracitadas com a reestruturação espacial e a gentrificação realizada na cidade de Nova Iorque. Smith (1996, p.17), um dos expoentes no estudo sobre a gentrificação, aponta como que "juntos, na década de 1980, as indústrias culturais e imobiliárias invadiram essa parte de Manhattan a partir do oeste. Gentrificação e arte vieram de mãos dadas...” O geógrafo expõe que essa "arte" faziauso da pobreza e da cultura negra de forma a se apropriar e não a colaborar com soluções para as mazelas existentes. Segundo Smith, na reestruturaçãoespacial do Harlem, bairrode Nova Iorque, a cultura ajudou a dar uma cara “vendável” ao local, uma sensação de tranquilidade ao grande capital: "Para o setor imobiliário, a arte domava o bairro, refazendo uma simulação fingida de perigo exótico, mas benigno." Smith (1979, p.18). Essa situação não é uma exclusividade desta cidade estadunidense. Veremos, em breve, como um processo muito semelhante tem ocorrido na cidade do Rio de Janeiro.

A Operação Urbana Consorciada Porto Maravilha

Em 2009, foi dado início à Operação Urbana Consorciada Porto Maravilha. O Porto Maravilha, como ficou conhecido, configura-se como um grande projeto de reprodução do espaço urbano. A Área Especial de Interesse Urbanístico (AEIU), onde encontra-se a OUC, foi instituída através da Lei complementar 101, de 23 novembro de 2009.


Imagem 1
Área Especial de Interesse Urbanístico (AEIU Porto Maravilha)
Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp)

Como principal fonte de recursos financeiros para o projeto, a prefeitura aumentou o potencial de construção (gabarito) dos imóveis da área, (re)criando os Certificados de Potencial Adicional Construtivo (Cepacs). A Caixa Econômica Federal (CEF) adquiriu, em 2011, através de leilão e com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), todos os títulos.

Para a execução do projeto foi instaurada uma Parceria Público Privada (PPP)6. É através da concessionária Porto Novo que a PPP Porto Maravilha foi posta em prática. A Porto Novo é composta pelas construtoras Odebrecht (37,5% das ações); OAS (37,5%) e Carioca Engenharia (25%). Ainda no ano de 2017 (já na gestão do ex-prefeito do município, Marcelo Crivella), a Porto Novo paralisou os serviços por falta de pagamento. Segundo o Jornal O Globo7, a dívida chegava a R$ 90 milhões. Em 2019, a concessionária alegou estar há mais de um ano sem receber pelos serviços. Em agosto do mesmo ano, a Porto Novo anunciou que paralisaria os serviços. Entretanto, a prefeitura, através da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), normalizou os pagamentos à concessionária antes da paralisação.

A Cdurp é responsável pelo intermédio entre a prefeitura e a Porto Novo. A Companhia foi criada através da Lei complementar nº 102, de 2009. A sociedade é composta por uma economia mista que tem a prefeitura como maior ativa. À Cdurp também cabe a administração de uma parcela dos terrenos do Estado que foram postos à disposição do mercado privado. Smith (1996) ao analisar o caso de Nova Iorque aponta para a importância das terras públicas no processo de reestruturação da área central da cidade, visto que esses terrenos muitas vezes são vendidos pelo poder público a preços abaixo do valor de mercado. Segundo Borba (2017), estima-se que cerca de 63% do total dos terrenos do Porto Maravilha seja da União – o que resta é dividido entre o Estado do Rio de Janeiro (6%), o município (6%) e agentes privados (25%).

O Carnaval de Rua na reestruturação espacial do porto do Rio de Janeiro e o papel da mídia hegemônica

Dentre os diversos agentes que atuam nos processos de reestruturação espacial, a mídia hegemônica tem um papel de destaque. Maricato (2000, 2013) aponta como que grandiosas e custosas campanhas midiáticas contidas no Planejamento Estratégico foram criadas para buscar a popularização da privatização dos serviços nas cidades, dinâmica típica das reestruturações contemporâneas.

Durante os dois últimos mandatos do atual prefeito Eduardo Paes (2009-2016), a Fundação Roberto Marinho, grupo dono do jornal O Globo, recebeu mais de R$200 milhões em verbas da prefeitura8 (sem incluir contratos de publicidade). O grupo foi responsável pelas obras do antigo edifício D. João, localizado na Praça Mauá (um dos espaços mais simbólicos da reestruturação da Zona Portuária), para abrigar o Museu de Arte do Rio e um dos principais investidores da construção e manutenção do Museu do Amanhã, também na mesma praça. Juntas, essas obras tornaram-se os grandes marcos simbólicos da reestruturação espacial do porto carioca. A prefeitura destinou cerca de R$89 milhões ao grupo por esses dois museus.

Nesse contexto, cabe um destaque ao patrocínio realizado pelo Grupo Globo à Sebastiana (Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro). A Sebastiana é uma organização que representa mais de 10 blocos do Centro e da Zona Sul da cidade e possui, talvez, não por coincidência, a maior visibilidade desse tipo de organização carnavalesca na grande mídia. Segundo Frydberg (2016, p.621) “a Sebastiana, liga mais antiga em funcionamento no carnaval carioca, tem como principal função articular os patrocínios para os blocos presentes na liga.” É interessante observar o interesse do Grupo Globo em relação ao Carnaval de Rua. A jornalista Rita Fernandes, que é presidenta da Sebastiana e também pesquisadora do Carnaval de Rua, concedeu uma entrevista em que relata o interesse do Grupo Globo em patrocinar a Associação:

(...)E depois veio uma parceria com a Globo, que entendeu também uma coisa de oportunidade pra ela e pra gente idem. Quando a Globo viu que ali tinha um grande conteúdo e ela precisava colocar esse conteúdo, ela tinha que se associar com alguém. Ou ela tinha que buscar alguém. Muito mais fácil um grupo já organizado e que tinha alguma liderança, né. Aliás, só existíamos nós e que já éramos porta- voz dessa história, já dialogávamos com a prefeitura.9 (FERNANDES apud FRYDBERG, 2016, p.621)

A parceria, principalmente entre o poder municipal e a Fundação Roberto Marinho, mas também com a Sebastiana, fez com que o processo de reestruturação e o Carnaval da área do porto ganhassem destaque nos noticiários da Fundação. Dentre eles, podemos destacar as reportagens veiculadas no jornal O Globo.

De todo o aporte cultural existente na área do Porto Maravilha, definimos como recorte o Carnaval de Rua, pois este além de representar uma grande parcela da cultura popular carioca, vem sendo visto pelo poder público como um “produto” que pode alavancar a cidade do Rio de Janeiro no cenário global de cidades.

Ao longo do espaço-tempo, é impossível pensar o Carnaval de Rua carioca sem compreendê-lo concomitantemente com as transformações no arranjo espacial da cidade. Como aponta Ferreira (2000, 2014), o Carnaval de Rua na cidade do Rio de Janeiro, sobretudo em sua área central, sempre esteve em constante relação dialética com a produção do espaço urbano, desde os tempos do Entrudo, perpassando pelas mais diversas formas da folia como as Grandes Sociedades, o Corso, os banhos de mar na Zona Portuária, os Cucumbis, os Cordões, os Ranchos, os Blocos...

Atualmente, o cenário ainda dá-se da mesma maneira. No Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro (PECRJ 2009-2012) um dos objetivos centrais é “o posicionamento do Rio como centro político e cultural no cenário internacional”. Não por coincidência, é tambémem 2009 (mesmo ano de lançamento da OUC Porto Maravilha) que o Carnaval de Rua passa por um processo de reestruturação espacial. O Decreto 30393, de 8 de janeiro de 2009, foi assinado pela gestão municipal com o objetivo de “ordenar” o Carnaval de Rua. O documento transfere uma série de competências do poder público para os blocos, por vezes impossibilitando os desfiles. Ademais, houve a criação de uma PPP para o Carnaval de Rua. A prefeitura, através da Riotur10, é a responsável por realizar a folia. Entretanto, uma empresa privada, escolhida por licitação11, é quem fica à cargo de produzir o Carnaval de Rua. Esta mesma empresa deve apresentar, já em seu plano inicial, um financiador para custear as despesas.

Na Zona Portuária, as diversas transformações espaciais operacionalizadas através do Porto Maravilha impactaram diretamente no Carnaval de Rua. Os Carnavais dos últimos anos, sobretudo o de 2020, experimentaram um grande redirecionamento de blocos de rua para esta área da cidade, atraindo assim uma grande quantidade de turistas estrangeiros e nacionais e até mesmo moradores da própria cidade, mas que passaram a frequentar a área há pouco tempo, como veremos em breve.

Analisamos no acervo digital do jornal O Globo reportagens que de alguma maneira abordaram o aporte cultural na Zona Portuária, a partir de 2009 (ano de início da OUC) até março de 2020. Como resultado, foram encontradas 677 reportagens que falavam sobre as mais diversas nuances culturais do porto carioca. Sendo impraticável a discussão de todas as reportagens, elencamos algumas que sintetizam um pouco dos fenômenos espaciais que estão ocorrendo no contexto da reestruturação, dando ênfase no exame mais detalhado daquelas que mencionaram o Carnaval de Rua desse trecho da zona periférica do centro do Rio de Janeiro.

A primeira reportagem que nos chamou atenção é do ano de 2013(informação Verbal)12 e seu conteúdo é bastante emblemático. O título já diz muito sobre a posição que será defendida ao longo dos conteúdos veiculados pelo jornal: “Zona Portuária: onde a cultura lançou âncora. Música, exposições, mostras de cinema e eventos de moda são parte essencial da revitalização da região.” Salta aos olhos como que o periódico enxerga a cultura, e o Carnaval de Rua dentro desta, como uma parte de suma importância para o “sucesso” da reestruturação espacial em curso. A matéria traz diversos dos argumentos expostos anteriormente por nós para defendermos a posição de que a cultura e o Carnaval de Rua são imprescindíveis à OUC Porto Maravilha:

Toda essa efervescência garantiu à Zona Portuária do Rio o status de um dos berços da cultura carioca, origem dos primeiros ranchos e do samba. E agora, que a região se revitaliza, é novamente a cultura — que não esmoreceu nem com décadas de abandono — uma das âncoras de seu renascimento(...)E, nos seus sobrados, esquinas e galpões, todo tipo de arte finca residência: de apresentações musicais e exposições amostras de cinema e eventos de moda. (Informação Verbal)13

Maria Alice Martins, curadora do Festival Tudo é Jazz, relata na mesma reportagem que a proposta de levar o festival para a Zona Portuária foi justamente por causa da “revitalização” da área:

Faço uma aposta: a revitalização do Porto do Rio acontecerá pela cultura. Por isso, decidimos fazer o festival aqui. Além disso, como o jazz tem muito a ver com a África, ficamos fascinados em trazer o evento para o cais onde atracavam os navios que vinham do continente africano com os escravos. Não havia lugar mais apropriado. (Informação Verbal)14

Indo além, o mesmo texto aponta, em consonância com Moraes (1957), como que os primeiros ranchos da cidade nasceram na Zona Portuária. O escritor e produtor Raphael Vidal, que hoje é um dos sócios do bar e restaurante Casa Porto, relatou como que a história da área sempre esteve diretamente ligada à cultura popular das ruas:

Se formos estudar a história da Zona Portuária, desde os tempos da formação da cidade, constataremos que a região viu a criação dos primeiros ranchos pelos baianos, os negros da Pedra do Sal(...) o Filhos de Gandhi, os blocos e as escolas de samba, como a Vizinha Faladeira. Com certeza o surgimento de novos agentes culturais, além da continuidade dos antigos, é reflexo da memória local. (Informação Verbal)15

Sintetizando muito do que está ocorrendo com o Carnaval de Rua da área, o mesmo texto descreve uma Zona Portuária que se mostra “fértil” para o que chama de “renascimento” do Carnaval de Rua. É abordado o surgimento de novos blocos e a volta de blocos muito antigos da área que haviam deixado de desfilar, como é o caso do Fala Meu Louro:

Não é à toa, portanto, que o renascimento do carnaval de rua do Rio encontrou na Zona Portuária terreno fértil. Do encontro de amigos no Largo de São Francisco da Prainha surgiu, na década de 1990, o bloco Escravos da Mauá. Depois de mais de duas décadas sem cair na folia, este ano o bloco Fala Meu Louro, que remonta ao início do século passado, voltou a desfilar. O Independente do Morro do Pinto também retornou às ruas após mais de 20 anos. E a cada ano surgem novos herdeiro da festa de Momo na região, como o Pinto Sarado. (Informação Verbal)16

O artigo chega ao fim dizendo que “tudo é motivo de comemoração para quem apostou na Zona Portuária, mesmo antes do início da revitalização.” Em 12 de janeiro de 2013, o mesmo jornal publicou uma reportagem com o seguinte título: “Revitalização da Zona Portuária leva antigos blocos a voltar às ruas.”17 A matéria discorre sobre como que a reestruturação espacial do porto teve influência direta na retomada de alguns blocos que estavam inativos. Para isso, o jornal realiza entrevistas com diretoras(es) dos blocos. A publicação trata o processo como uma “revitalização” dos blocos após o Porto Maravilha. Rosiete Marinho, desde então presidenta da Liga dos Blocos da Zona Portuária,também fala sobre a “revitalização” dos blocos e liga-a com uma “valorização da região”. O bloco Pinto Sarado é considerado, segundo a reportagem, como aquele quem deu o pontapé inicial na “revitalização” dos blocos do porto. O então presidente, Waldir Paim, deu a seguinte declaração:

A cada ano, o público no nosso desfile aumenta muito. No circuito também. Este ano, depois das obras, o caminho está todo com asfalto novo, calçadas arrumadas. A tendência é que seja um grande sucesso. Ficamos anos e anos abandonados. Agora, estamos tendo uma chance de poder brilhar na cidade. Esse momento nos ajuda a reivindicar outras mudanças: atendimento médico melhor, transporte melhor, limpeza urbana melhor. Quem sabe daqui a dois ou três anos não está desfilando na nova Avenida Rodrigues Alves? Que seja nossa Avenida Atlântica- sonha Waldir Paim, cujo bloco desfila no dia 2 de fevereiro. (informação Verbal)18

A fala na mesma reportagem do presidente do bloco OBA (Organização Bons Amigos), Eduardo Rua, caminha no mesmo sentido da anterior: “As mudanças estão ajudando as atividades culturais. O espaço renovado, calçadas maiores, asfalto novo, praças reformadas, tudo isso nos ajuda.” Ainda segundo a matéria, 12 blocos receberam em 2013 R$22 mil da Cdurp oriundos da lei que destinava 3% do valor dos Cepacs para as atividades culturais na área da OUC:

O Oba está entre os 12 blocos locais que dividiram uma ajuda de R$ 22 mil da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp) para este carnaval. Já a Liga da Zona Portuária recebeu R$ 4 mil da companhia. Segundo o Cdurp, uma verificação foi feita pelo meio do programa Porto Maravilha Cultural, que,por obrigação legal, destina 3% dos recursos arrecadados com os Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepac) à valorização do patrimônio material e imaterial da Zona Portuária. No ano passado, a Cdurp fez um repasse de R$ 9 mil para a Liga e os blocos. Já a Concessionária Porto Novo está apoiando seis blocos e realizando o circuito deste sábado. Os valores, no entanto, não foram divulgados. (Informação Verbal)19

O Circuito de Blocos e Bandas da Liga Portuária foi criado em 2010 (um ano após o início da OUC) e em seu quarto ano de evento reuniu cerca de 2 mil pessoas com a apresentação de 14 blocos. De 2012 até 2016 (ano das Olimpíadas), a Abertura Oficial do Carnaval de Rua foi realizada na Zona Portuária. Uma reportagem de 16 de janeiro de 201620 relata como que o evento neste mesmo ano atraiu uma grande quantidade de foliões que participaram pela primeira vez da folia, demonstrando a força da atração exercida pelas novas espacialidades do porto.

Rita Fernandes, presidenta da Sebastiana, menciona em reportagem de 23 de fevereiro de 202021 um destaque à “redescoberta da região portuária”. O texto segue dizendo como que após as obras de reestruturação, muitos pontos da Zona Portuária “se transformaram em palcos perfeitos para cortejos”. No conteúdo, é apontado como que diversos blocos de fora da Zona Portuária buscaram a área para realizar seus desfiles. Em outra reportagem, também do dia 23 de fevereiro de 202022, é relatado como que o bloco Boi Tolo, que segundo o jornal é o “bloco mais desafiador do Rio”, partiu da Zona Portuária (em frente ao AquaRio) com o seu já tradicional cortejo. Em 2020, realizamos um trabalho de campo neste bloco. Dois turistas da cidade de São Paulo que também estavam à procura do cortejo, que já havia começado a desfilar, foram entrevistados. Eles relataram que já estiveram antes no Carnaval de Rua da cidade, mas que era a primeira vez que iam até um bloco no porto. Ao serem questionados sobre a opinião acerca do processo de reestruturação da área, uma delas, que se identificou como arquiteta, disse que o processo estava sendo “muito benéfico à região”, pois antes o local era “abandonado”, mas que agora estava passando por uma “ótima revitalização”.

Na reportagem do dia 23 de fevereiro de 2020, já anteriormente citada, Rosiete Marinho fala acerca dos “prós e contras” sobre a atração de blocos e foliões de fora da Zona Portuária para a área. Segundo Marinho, há uma preocupação com a quantidade de pessoas que passaram a frequentar o local e com os possíveis problemas que isso pode acarretar. Contudo, a presidenta da Liga enxerga uma possível valorização dos pontos históricos, a partir deste fenômeno. Durante o levantamento primário realizado, apenas pouco mais de 2% dos mais de 500 entrevistados disseram residir no porto.


Gráfico 1
Bairros que moradores da Zona Portuária frequentaram blocos também nesta zona no Carnaval de 2020
trabalhos de campo no Carnaval de 2020

Um dado que nos chamou atenção foi o de quando pela primeira vez esses moradores entrevistados foram a algum bloco da Zona Portuária. Mesmo com uma média de idade de 30,5 anos, apenas 8,3% disseram ter ido a algum bloco da área antes de 2009. Em uma entrevista realizada no sábado de Carnaval no cortejo de um tradicional bloco da área, o Prata Preta, na Praça da Harmonia, um casal nos relatou que residia na área há poucos anos. Anteriormente, eles moravam na favela da Rocinha, na Zona Sul da cidade, e foram para o porto devido à guerra entre facções rivais que aconteceu na favela em 2017. Inicialmente, o plano não era residir na Zona Portuária, contudo, uma das pessoas relatou ser advogada e disse trabalhar no novo prédio da empresa L’Oréal, localizado na Av.Barão de Tefé, 27 -Saúde. Essa moradora foliã nos expôs sobre o quanto era benéfico para eles estarem residindo na Zona Portuária. Antes, eles afirmaram que era muito “complicado” chegar ao centro da cidade para trabalhar e se divertir e que por isso nunca haviam frequentado um bloco no porto.

No ano de 2015, mais especificamente em 24 de janeiro, uma matéria alega que os blocos de carnaval da área ainda “mantêm clima romântico dos antigos carnavais”23 e que isso se configura como um fator de atração de novos foliões. Já nas primeiras frases do texto, nos deparamos com o seguinte conteúdo: “A Zona Portuária atrai a cada ano mais gente interessada em pular tranquilamente o carnaval. Com uma diversidade de blocos, a região tem chamado a atenção pela folia romântica e ainda inocente da festa de Momo.” Seguindo com essa proposta, a redação afirma que “muitos foliões já foram seduzidos pela folia desse canto da cidade.” Para embasar tal afirmação, o jornal expõe uma entrevista com um morador do Humaitá, bairro nobre da cidade, que afirma gostar “de curtir a folia na Zona Portuária”, pois, segundo ele, há muita história no local. Na mesma reportagem, a presidenta da Liga Portuária ressalta que a ideia é “fazer do Largo da Prainha o melhor e maior ponto de carnaval do Rio.” Segundo os dados de nossas entrevistas, o percentual de pessoas e o ano que frequentaram o Carnaval na área pela primeira vez foi o seguinte:

É sintomático notar que a maior parte destes foliões frequentou algum bloco na Zona Portuária em um passado não tão distante. Os cinco primeiros anos com a maior porcentagem de foliões que frequentaram blocos na área pela primeira vez encontram-se de 2016 (ano das Olimpíadas no Rio de Janeiro) até o último Carnaval (2020).


Gráfico 2
Anos em que os foliões entrvistados foram a um bloco na Zona Portuária pela primeira vez.
trabalhos de campo no Carnaval de 2020

Dentro do universo daqueles que frequentaram um cortejo na área do porto pela primeira vez em 2020, beira os 50% os que estão fazendo cursando o nível superior. Em segundo lugar nas estatísticas, com quase 22%, estão os foliões que declararam ter pós-graduação completa. E em terceiro estão aqueles que possuem graduação completa.(gráfico 3)

Cabe ressaltar o baixo percentual de foliões que possuíam nível de escolaridade abaixo do ensino superior, inclusive não havendo ninguém com o nível fundamental, completo ou não, e nível médio incompleto.

Importar imagen Importar tabla Outra matéria sobre o Carnaval de 202024 faz menção especificamente à espacialidade dos blocos. O conteúdo versa sobre como que o aumento do número de blocos na cidade, sobretudo os não oficiais, tem feito que espaços que outrora foram pouco explorados pelo Carnaval de Rua, e consequentemente pelo público específico que frequenta esses blocos25, passaram a ganhar destaque. O Porto Maravilha é mencionado e são evidenciados o Boulevard Olímpico e Cais do Valongo.


Gráfico 3
Nível de escolaridade dos foliões que frequentaram um bloco na Zona Portuária pela primeira vez em 2020.
trabalhos de campo no Carnaval de 2020

Durante entrevista ao O Globo26, o músico do bloco Charanga Talismã, Thales Browne, relata como que em sua visão o Carnaval de Rua pode ressignificar determinados espaços da cidade. Segundo o artista, que também toca em outros blocos que desfilaram na Zona Portuária (informação verbal)27, “muitas vezes, são espaços que todo mundo conhece, mas que no dia a dia nem parece ser aquele mesmo lugar. O Carnaval tem essa magia”.

É importante mencionar que nem só de desfiles pelas ruas viveram os blocos que frequentaram o espaço do porto. Os eventos em ambientes privados, mas de uso coletivo, como, por exemplo, os antigos galpões refuncionalizados, ganharam força nos últimos anos. O espaço HUB RJ, localizado no Santo Cristo, conta com mais de 7 mil m² e durante o dia funciona como incubadora de empresas de coworking em diversas áreas ligadas à cultura. À noite, são realizados variados eventos, incluindo alguns com a participação de blocos de Carnaval. Segundo Bruno Souza, um dos sócios do imóvel, em entrevista ao jornal O Globo em 7 de dezembro de 2018(informação verbal)28, a HUB RJ é associada ao Impact HUB, uma agência mundial de “impacto social” com espaços em mais de 50 países e sede na Áustria. Nesse local, diversos blocos de fora da Zona Portuária realizaram eventos ao longo do ano, geralmente durante o verão. Os eventos são privados, tendo a cobrança de ingressos e é vedada a entrada com alimentos e bebidas, sendo a consumação exclusiva nos bares do espaço. O bloco Amigos da Onça, fundado em 2008 e que desfilou por anos pelas ruas do centro (osdesfiles não eram na Zona Portuária e os 3 últimos foram realizados na Zona Sul) realizou ensaios semanais para os carnavais de 2019 e 2020 no Espaço Hub. O jornal O Globo noticiou em algumas oportunidades29os eventos que, por vezes, contou com a participação de outros blocos convidados.No evento do dia 18 de fevereiro de 2020, por exemplo, o 4º lote de ingresso custava R$55 (preço unisex) e a latinha de cerveja Amstel (355ml) custava cerca de R$10dentro do evento.

30

Cabe novamente ressaltar que em todos os eventos que contaram com a participação de blocos e foram realizados em espaços privados desse tipo, não fora permitidaa entrada de bebidas, sendo a venda exclusiva dentro das festas. No domingo do Carnaval de 2020, realizamos um trabalho de campo em uma dessas festas (no espaço NAU -Núcleo de Ativação Urbana-Cidades, também no Santo Cristo) que contou com a participaçãodo bloco Bloconcé e show da cantora Kelly Key. A descrição do evento trazia o seguinte conteúdo: “O carnaval mais pop do Brasil acontece no NAU Cidades na Zona Portuária do Rio de Janeiro! O POPline, maior plataforma pop do país, vai reunir grandes nomes do pop nacional e os blocos e DJs mais pop da cidade em uma experiência única com conforto, segurança e responsabilidade social.” Além de diversas entrevistas feitas no local, comparamos os preços exercidos dentro do espaço com os que comumente são cobrados por ambulantes nos blocos realizados nas ruas da Zona Portuária e constatamos que os preços do evento estavam discrepantes,se comparados aos dos ambulantes.Uma latinha de cerveja (350ml) que custa em média R$5 com os vendedores ambulantes saía a R$10. Um refrigerante não saía a menos de R$8, mesmo preço cobrado na água de 510ml (geralmente vendido por R$3nos camelôs).

Outra reportagem31, dessa vez no dia 5 de março de 2020, eleva o tom nas críticas realizadas à conservação do espaço do Porto Maravilha. Após realizar uma introdução falando do alto número de turistas que vieram de navio para o Carnaval (Segundo o Píer Mauá, cerca de 45 mil turistas desembarcaram no porto para o Carnaval de 2020), a matéria discorre sobre possíveis causas para o que chama de “abandono” do Porto Maravilha. Caminhando nesse sentido, outra matéria32 versa sobre o crescimento do Carnaval da cidade de São Paulo, entretanto, aponta como que a capital fluminense ainda é a preferida dos turistas no que diz respeito ao período da folia carnavalesca. Em entrevista concedida ao jornal, Alfredo Lopes, presidente do Sindicato dos Meios de Hospedagem do Rio, fala como que a Zona Portuária, alicerçada pelo aporte cultural, configura-se como uma área estratégica para o capital imobiliário: “(...) Além disso, a Zona Portuária se consolidou como área turística, ajudada pelo AquaRio e pela roda-gigante. E vale destacar que o carnaval carioca continua sendo uma marca muito forte.”(informação verbal)33

Cerca de 27% dos turistas de fora do estado do Rio de Janeiro disseram ter frequentado um bloco na Zona Portuária pela primeira vez em 2020. Dos turistas que frequentaram blocos antes de 2020, o ano mais distante apontado como o frequentado pela primeira vez foi o ano de 2015.

Considerações finais

Como pudemos constatar ao longo da trajetória deste artigo, a análise do papel da cultura é vital para a explicação das reestruturações espaciais de áreas centrais. Contudo, é importante localizar esse aporte cultural dentro de uma visão de totalidade do processo para não incorrer no erro de creditar toda uma conjuntura complexa a apenas uma peça desse grande quebra-cabeça que são as reestruturações espaciais.

A mídia hegemônica também exerce um papel importante dentro das reestruturações. Com a análise da Zona Portuária do Rio de Janeiro, vimos como que o jornal O Globo veiculou diversas reportagens em que apresentavam aos seus leitores uma visão de como que a cultura, e mais especificamente o Carnaval de Rua, é importante para que a reestruturação em curso possa ter êxito.

Vimos também que dados obtidos nos trabalhos de campo apontam para novas espacialidades que estão sendo criadas a partir da chegada de uma parcela da população que não costumava frequentar a Zona Portuária Carioca, mas que após as obras (e também após a veiculação positiva do processo na mídia hegemônica) passou a buscar os eventos culturais do porto do Rio de Janeiro.

Sendo assim, pudemos concluir que o Carnaval de Rua da Zona Portuária do Rio de Janeiro vem sendo utilizado como uma peça importante na reestruturação espacial da área e que ele próprio, Carnaval de Rua, está passando por transformações de ordem espacial em sua estrutura, após o ano de 2009.

Material suplementario
Agradecimentos

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento da pesquisa.

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Notas
Notas
1 Mestrando em Geografia-UFRJ, Rio de Janeiro- Brasil; alexdeamico@hotmail.com
2 Fonte: Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP)
3 Distrito Central de Negócios, em livre tradução.
4 Disponível em:<https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-o-jornal-que-mais-vende-no-brasil/Acesso em: 12 de agosto de 2020.
5 Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/11/1830586-disputa-entre-crivella-e-globo-pode-afetar-parcerias-no-rio.shtml>. Acesso em: 23 de julho de 2020.
6 Para um melhor aprofundamento sobre o tema, consulte-se, entre outros, Machado (2017).
7 Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rio/prefeitura-assumira-servicos-no-porto-maravilha-durante-paralisacao-da-concessionaria-21551332>. Último acesso em: 11 de agosto de 2020.
8 Disponível em:<://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/11/1830586-disputa-entre-crivella-e-globo-pode-afetar-parcerias-no-rio.shtml> . Acesso em: 23 de julho de 2020
9 A parceria entre a Rede Globo e a Sebastiana dura até os dias atuais.
10 A Riotur é a empresa que gere o setor turístico do município.
11 Desde o ano de 2010, as mesmas empresas, a Dream Factory Comunicações e Eventos Ltda (produtora) e a Companhia de Bebidas das Américas -AMBEV- (financiadora) são as vencedoras das licitações.
12 O Globo; Disponível em: . Acesso em: 05 de agosto de 2020.
13 O Globo, Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rio/zona-portuaria-onde-cultura-lancou-ancora- 11137942>. Acesso em: 05 de agosto de 2020.
14 Ibidem
15 O Globo, 23 de dezembro de 2013, Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rio/blocos-de-carnaval/revitalizacao-da-zona-portuaria-leva-antigos-blocos-voltar-as-ruas-7269475
16 Ibidem
17 Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rio/blocos-de-carnaval/revitalizacao-da-zona-portuaria-leva-antigos-blocos-voltar-as-ruas-7269475>. Acesso em: 05 de agosto de 2020.
18 O Globo, janeiro de 2013, Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rio/blocos-de-carnaval/revitalizacao-da-zona-portuaria-leva-antigos-blocos-voltar-as-ruas-7269475>. Acesso em: 05 de agosto de 2020
19 Ibidem
20 Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/2016/carnaval-de-rua-aberto-oficialmente-na-zona-portuaria-do-rio-18491807>. Acesso em: 06 deagosto de 2020.
21 Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/fim-do-misterio-confira-mapa-secreto-dos-blocos-para-folioes-antenados-1-24267334>. Último Acesso em: 02 de agosto de 2020.
22 Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/bloco-mais-desafiador-do-rio-boi-tolo-faz-cortejo-sem-boiada-24267182> . Acesso em: 07 de agosto de 2020.
23 Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/2015/blocos-de-rua/blocos-da-zona-portuaria-mantem-clima-romantico-dos-antigos-carnavais-15123023>. Acesso em: 06 de agosto de 2020.
24 Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/fim-do-misterio-confira-mapa-secreto-dos-blocos-para-folioes-antenados-1-24267334>. Acesso em: 02 de agosto de 2020
25 Herschmann (2013) aponta como que o crescimento do Carnaval de Rua no Rio de Janeiro durante o século XXI está ligado à classe média carioca.
26 Ibidem.
27 O bloco Charanga Talismã não desfila na Zona Portuária, mas sim na Vila Cosmos, na Zona Norte da cidade. Contudo, a Charanga Talismã também participou de eventos fechados na Zona Portuária durante o Carnaval.
28 Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rioshow/galpoes-pela-cidade-abrigam-festas-shows-eventos-23285420>. Acesso em: 05 de agosto de 2020.
29 Disponíveis em:<https://oglobo.globo.com/rioshow/bloco-amigos-da-onca-recebe-heavy-baile-para-ensaio-no-porto-23426615>; <https://oglobo.globo.com/rioshow/amigos-da-onca-convida-bloco-vem-ca-minha-flor-para-pre-carnaval-no-porto-23389564>; <https://oglobo.globo.com/rioshow/bloco-amigos-da-onca-convida-agytoe-para-ensaio-de-carnaval-23408209>. Acessos em 05 de agosto de 2020.
30 Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rioshow/duda-beat-faz-show-de-carnaval-na-zona-portuaria-do-rio-1-24261828>. Acesso em: 05 de agosto de 2020.
31 Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rio/porto-esburacado-abandonado-recebe-45-mil-visitantes-para-folia-na-cidade-23499536>. Acesso em: 02 de agosto de 2020
32 Disponível em:<https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/carnaval-de-sao-paulo-ganha-forca-mas-folia-do-rio-ainda-a-mais-procurada-por-turistas-1-24224184>. Acesso em: 05 de agosto de 2020.
33 Entrevista concedida ao jornalo Globo em março de 2020

Imagem 1
Área Especial de Interesse Urbanístico (AEIU Porto Maravilha)
Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp)

Gráfico 1
Bairros que moradores da Zona Portuária frequentaram blocos também nesta zona no Carnaval de 2020
trabalhos de campo no Carnaval de 2020

Gráfico 2
Anos em que os foliões entrvistados foram a um bloco na Zona Portuária pela primeira vez.
trabalhos de campo no Carnaval de 2020

Gráfico 3
Nível de escolaridade dos foliões que frequentaram um bloco na Zona Portuária pela primeira vez em 2020.
trabalhos de campo no Carnaval de 2020
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