Resumo: As procissões são caracterizadas pelo aglomerado de fiéis que percorre um trajeto carregando o andor com a imagem de determinado santo, com a pandemia ocorreu o fechamento de igrejas e santuários, a suspensão das festas religiosas e das procissões. Esse estudo tem o intuito de identificar os impactos que aconteceram nas festas religiosas e procissões na cidade de Mata Grande em Alagoas durante esse período de pandemia da covid-19. A metodologia utilizada foi fenomenológica e para consolidar o estudo usou o método qualitativo. Os dados da pesquisa de (LIMA, 2019) serviram de base para as análises comparativas das práticas religiosas na cidade de Mata Grande. Concluiu que as celebrações religiosas em 2020 comparado com anos anteriores tiveram reduções no número de participantes e o uso de redes sociais.
Palavras-chave:ProcissãoProcissão,Pandemia Covid-19Pandemia Covid-19,Redes SociaisRedes Sociais,Festas ReligiosasFestas Religiosas,Mata GrandeMata Grande.
Abstract: The processions are characterized by a cluster of faithful who travel a path carrying the statue with the image of a certain saint, with the pandemic the closing of churches and sanctuaries, the suspension of religious festivals and processions. impacts that happened at religious festivals and processions in the city of Mata Grande, Alagoas during this pandemic period of the covid-19. The methodology used was phenomenological and to consolidate the study used the qualitative method. The research data from (Lima, 2019) served as a basis for comparative analyzes of religious practices in the city of Mata Grande. He concluded that religious celebrations in 2020 compared to previous years, had reductions in the number of participants and the use of social networks.
Keywords: Procession, Covid-19 Pandemic, Social Networks, Religious Parties, Mata Grande.
Resumen: Las procesiones se caracterizan por el agrupamiento de fieles que transitan por un sendero portando la estatua con la imagen de cierto santo, con la pandemia el cierre de iglesias y santuarios, la suspensión de fiestas religiosas y procesiones. Este estudio tiene como objetivo identificar los impactos que tuvo lugar en fiestas religiosas y procesiones en la ciudad de Mata Grande, Alagoas durante este período pandémico del covid-19. La metodología utilizada fue fenomenológica y para consolidar el estudio se utilizó el método cualitativo. Los datos de la investigación de (Lima, 2019) sirvieron de base para análisis comparativos de prácticas religiosas en la ciudad de Mata Grande. Concluyó que las celebraciones religiosas en 2020 en comparación con años anteriores, tuvieron reducciones en el número de participantes y el uso de las redes sociales.
Palabras clave: Procesión, Pandemia; Covid-19, Redes sociales, Fiestas Religiosas, Mata Grande.
ARTIGOS
Impactos da pandemia covid-19 nas festas religiosas e procissões em Mata Grande, Alagoas
Impacts of the pandemic covid-19 on religious parties and procissions in Mata Grande- Alagoas
Impactos de la pandemia del covid-19 en las fiestas religiosas y procesiones en Mata Grande- Alagoas
Recepción: 09 Abril 2021
Aprobación: 30 Septiembre 2021
A situação que envolveu todo o mundo em 2020 foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como pandemia da Covid-19 devido ao aumento diário nos números de casos de pessoas infectadas. Para barrar o avanço da doença causada pelo coronavírus 2 (SARS-CoV-2) no Brasil,o mês de março de 2020 passou a ser um marco que mudou a rotina dos brasileiros.
Diante da pandemia, o Ministério da Saúde tomou algumas decisões para proteger a saúde da população e ao mesmo tempo conscientizá-la, baseando-se nas orientações da OMS sobre a prevenção de contágio do vírus. As medidas preventivas mais adotadas são: o uso obrigatório de máscaras, a higienização das mãos com álcool em gele/ou lavar as mãos com água e sabão,quarentena e distanciamento social.
Entre as iniciativas adotadas como medidas de prevenção referentes ao contágio da Covid-19 “foram publicadas pelo Decreto Presidencial nº 10. 282, de 20 de março de 2020, regulamentando a Lei nº 13.979 (de 06 de fevereiro de 2020) relativa aos serviços públicos e atividades essenciais, no qual não se incluiu as atividades religiosas como essenciais” (CAMPOS, 2020, p. 2). Diante da situação de instabilidade e incerteza ocasionada pela pandemia, além das atividades religiosas vários setores relacionados a economia, política, educação, turismo e outros tiveram que se adaptar ao novo contexto.
A rotina dos fiéis e das instituições religiosas sofreu drástica modificação. A Igreja Católica também foi afetada com a suspensão da participação dos fiéis nas celebrações religiosas. A visita às igrejas e aos santuários foi suspensa para evitar aglomerações e impedir a transmissão do coronavírus aos visitantes e no ambiente. Assim, a Igreja precisou se adaptar também para continuar próxima de seus fiéis, como a diversificação na forma de se comunicar, no qual as missas e festividades religiosas passaram a ser transmitidas por meio de redes sociais (RÉGIS et al 2020).
A partir da situação imposta pelo isolamento social por conta da pandemia houve um aumento significativo na busca da utilização das mídias e redes sociais como espaços de evangelização, fazendo com que as pessoas se sintam participantes das celebrações (CUNHA; COLFERAI, 2020). Acredita-se que diante das medidas de restrições sociais em resposta à pandemia, todos podem fazer uso enfático de vivências religiosas e espirituais como uma nova maneira de estar e de se fazer presente através das tecnologias (SCORSOLINI-COMIN et al 2020).
Para enfrentar as situações de adversidades causadas pelo cenário de pandemia, até mesmo pessoas que não participavam de celebrações religiosas, passaram a buscar na religião o suporte para reagirem diante do momento que estão vivenciando. “É importante sempre recuperar que a fé em Deus, no divino e no sagrado é um sentimento arraigado na cultura e tão necessário quanto outros modos de enfrentamento, pois a dimensão espiritual ocupa um lugar de destaque na vida das pessoas” (SCORSOLINI-COMIN et al 2020, p.7).
As festas religiosas que ocorriam no primeiro semestre do ano como de costume não foram realizadas, posteriormente com o retorno das celebrações tendo a presença dos fiéis, as festas religiosas tiveram sua logística completamente alterada, o que inclui a assiduidade destas festas nas redes sociais como algo permanente (SANTOS; LIMA, 2020). Como os casos surgiram antes da realização de diversas festas acarretou a preocupação na população e autoridades públicas, como seria a realização das comemorações e qualquer outro tipo de evento que no passado tinham aglomerações (CORRÊA, 2020).
Na cidade de Mata Grande em Alagoas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição também tem seguido os mesmos protocolos estabelecidos pela OMS adotando nas missas e demais celebrações, as medidas de restrições impostas pelas autoridades estaduais e municipais, para evitar o contágio com o vírus do Covid-19. O distanciamento social foi implantado na igreja logo após a permissão de abertura podia receber cerca de 50% dos fiéis nas missas, o uso de álcool em gel na entrada do estabelecimento, marcações de distanciamento social nos bancos e no piso, bem como o uso obrigatório de máscara do início ao fim das celebrações (RÉGIS et al 2020).
Obedecendo a todos os critérios recomendados pelos órgãos de saúde, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição realizou a festa da padroeira da cidade de Mata Grande, diferente dos anos anteriores, a procissão foi substituída por carreata. Porém, entre tantas festividades religiosas e procissões que não puderam ser realizadas estão também as organizadas pelo Santuário de Santa Teresinha que aconteceriam nos meses de outubro do ano 2020 e janeiro de 2021. Estas instituições religiosas são fomentadoras da devoção popular, e as restrições impostas por conta da pandemia têm alterado a realização das atividades religiosas e a participação dos visitantes nesses lugares.
Esse estudo visa identificar os impactos que aconteceram nas festas religiosas e procissões na cidade de Mata Grande (AL) durante esse período de pandemia. Verificar as estratégias midiáticas adotadas pela Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e do Santuário Teresiano para evangelizar durante o período de isolamento social. Compreender como as restrições alteraram as relações dos fiéis e visitantes com a prática religiosa impactando na participação dos festejos religiosos e nas procissões.
Atualmente mesmo sem poder realizar as festas e procissões como era de costume, os locais religiosos estão autorizados a receber os fiéis e visitantes que devem obedecer aos protocolos de saúde pública. Dentre os diversos motivos da visita, os fiéis pedem e agradecem pelas graças alcançadas. Em situações de doença que ainda não possui bons resultados no tratamento ou que tenham um significado social associado ao perigo e a morte, diversas pessoas recorrem à religião na tentativa de encontrar suporte para lidar com a gravidade. Nos tempos mais difíceis, a religiosidade tem sido o apoio espiritual que os indivíduos procuram (SCORSOLINI-COMIN et al 2020).
Baseado no contexto que vem sendo descrito nesse estudo sobre os impactos causados pela pandemia nas festas religiosas e procissões realizadas pela Igreja Matriz de Nossa da Conceição e o Santuário Teresiano em que essas práticas de fé e devoção vivenciadas pelos fiéis e visitantes sofreram alterações. Amparado na literatura científica produzida acerca da religiosidade na pandemia Covid-19. Esse estudo visa proporcionar conhecimentos dos impactos causados pela pandemia que alteraram a realização das atividades religiosas na cidade de Mata Grande (AL).
Para consolidar a pesquisa, a abordagem escolhida na interpretação dos dados foi a fenomenológica junto com o método qualitativo. “Assim, a pesquisa desenvolvida sob o enfoque fenomenológico resgata os significados atribuídos pelos sujeitos ao objeto que está sendo estudado. As técnicas de pesquisa mais utilizadas são, portanto, de natureza qualitativa e não estruturada” (GIL, 2008, p.15). Diante das situações de incertezas, a religiosidade tem sido um suporte, para os indivíduos que recorrem a esse auxílio.
O aporte teórico de fontes bibliográficas dá-se com a análise dos conteúdos publicados em artigos, dissertações, livros e documentos. Diante dos dados produzidos sobre o assunto em estudo, a pesquisa realizada por Lima (2019) foi utilizada como base. As informações das festas religiosas e procissões ocorridas na cidade de Mata Grande (AL) nos anos de 2018, 2019, 2020 e 2021 servirão para fazer comparações da realização desses eventos antes e durante a pandemia da Covid-19.
A comparação permitiu compreender as similaridades e diferenças encontradas nas práticas de devoção vivenciadas pelos fiéis e visitantes do Santuário Teresiano e da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e as mudanças que ocorreram nas celebrações por causa da pandemia. Além de entender o papel que as redes sociais estão tendo em todo período de pandemia, transmitindo as celebrações religiosas e durante a realização da festa, reforçando a religiosidade daqueles que não podem frequentar a igreja.
Em 2020 devido a pandemia causada pelo coronavírus a realização das missas, festividades religiosas e procissões sofreram grande impacto, e diante da situação foram tomadas medidas de prevenção para evitar a proliferação da doença. O Decreto Presidencial nº10. 282, de 20 de março de 2020, regulamentando a Lei nº 13.979 (de 06 de fevereiro de 2020) considerou as atividades religiosas como não essenciais, com isso os locais religiosos foram fechados.
As celebrações das missas passaram a ser realizadas sem a presença dos fiéis somente com o celebrante e a equipe de liturgia, obedecendo ao protocolo estabelecido pelo decreto presidencial de 2020. Uma das iniciativas usadas pelas igrejas foi transmitir as missas e demais celebrações nas mídias e redes sociais, buscando estámais próximos das pessoas mesmo não indoà missa, continuaram tendoassistência espiritual.
Com o cancelamento das festividades religiosas e procissões no início da pandemia, os fiéis foram impedidos de frequentar o território religioso, mesmo não estando ocupado pelos fiéis, ainda assim é um espaço de poder. A presença da igreja nesse espaço sagrado é simbólica, pois transmite a mensagem da existência do sagrado próximo de todos. A igreja doméstica passou a ser o lugar em que os fiéis tinham no momento para ter proximidade com Deus através das atividades oracionais.
Aos poucos as igrejas abriram as portas para os fiéis fazerem suas orações e adoração diante do sacrário, contudo ainda não podia participar das missas. Sendo assim, a igreja “se manteve aberta durante a fase mais crítica de restrições impostas pelas autoridades sanitárias, para que o povo pudesse ter os seus momentos de oração e reflexão, mas sempre ao chegar no horário das celebrações, as portas eram fechadas” (RÉGIS et al 2020, p. 11). Tanto as missas quanto as festividades religiosas que puderam ser realizadas tiveram adaptações, e sem a presença dos fiéis passaram a ser transmitidas pela internet.
O retorno das missas com a participação dos fiéis seguem as medidas de proteção, com o distanciamento social com cerca de 50% dos fiéis nas missas, o uso de álcool em gel na entrada, marcações de distanciamento social nos bancos e piso e o uso obrigatório de máscara. As missas continuam de forma presencial e remota sendo transmitidas pelas redes sociais e assistidas em aparelhos eletrônicos (Foto 1). Aqueles que não possuem televisores, internet e smartphones ficam ainda mais isolados socialmente.
Os efeitos da pandemia afetou na participação dos fiéis de forma presencial, se comparado aos anos anteriores reduziu o número de participantes nas missas, festividades religiosas e procissões. Os idosos e as pessoas com algum problema de saúde são os mais prejudicados, pois são suscetíveis a contaminação e poucos têm frequentado as celebrações religiosas, aprofundando o isolamento social. Alguns não possuem aparelhos eletrônicos, outros têm dificuldades em acessar as redes sociais, sendo dependentes de outras pessoas para ter o acesso.
Entre tantas realidades vivenciadas durante essa pandemia, surgi às incertezas por conta dos questionamentos, sobre o tratamento mais adequado a ser realizado nas pessoas, e a espera da vacina para combater a ação do coronavírus. Como também as dúvidas com relação à comprovação da eficácia dos remédios usados e que não são específicos para a doença. A pandemia não acabou e a Covid-19 continua fazendo vítimas, a vacinação foi iniciada em 2021, mas não garante que a normalidade vai voltar brevemente. Estão sendo postados vídeos em mídias sociais, com reclamações de diversas irregularidades ocorridas na vacinação.
A religiosidade tem sido o auxílio que os indivíduos têm procurado em busca de alento, o suporte no enfrentamento das situações de dificuldades e incertezas causadas pela pandemia. Antes da pandemia os locais religiosos eram lugares onde a religiosidade era vista e vivida com mais frequência, com o fechamento desses lugares, a prática religiosa ficou restrita as residências e aos aparelhos eletrônicos. O retorno das missas, festividades religiosas e procissões em igrejas e santuários não excluíram as transmissões online, trouxe mais uma opção na vivência religiosa.
A comunidade matagrandense também presencia essa realidade imposta pela pandemia. Seguindo as medidas de proteção a Igreja Católica mais uma vez realizou a tradicional festa da padroeira Nossa Senhora da Conceição. A abertura da festa inicia no dia 22 de dezembro com o hasteamento da bandeira e o encerramento ocorre no dia primeiro de janeiro com a missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.
A Igreja Matriz é um lugar que faz parte da história de fé dos devotos da Santa, a vivência religiosa constrói a identidade do cristão católico. Há mais de duzentos anos existe a devoção a Nossa Senhora da Conceição em solo matagrandense, graças a um casal devoto doou para a Santa em 1791 as terras onde hoje está localizada a cidade de Mata Grande. Todo o seu município faz parte do território paroquial da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e a sua diocese está localizada em Palmeira dos Índios (AL).
Situada no estado de Alagoas, Mata Grande (Mapa 1) possui uma área territorial de aproximadamente 914,726 km², tem a população estimada em 2020 de 25.207 habitantes segundo o IBGE. A economia do município em 2017 era de R$ 7.401,84 este é o PIB per capita. A cidade recebe todos os anos inúmeros visitantes vindos principalmente da região Nordeste, o acesso a partir de Maceió é feito através das rodovias pavimentadas BR-316, BR-423 e AL-140, com percurso total em torno de 285km. Localizado no extremo NW do Estado de Alagoas, limitando-se a norte com os municípios de Manari e Inajá (PE), a sul com Inhapi (AL) e Água Branca, a leste com Canapi e a oeste com Tacaratu (PE) e Água Branca (CPRM, 2005).
Na cidade de Mata Grande, outras festas religiosas que ganharam destaque são realizadas pelo Santuário Teresiano, a primeira do ano ocorre no início do mês de janeiro data que é comemorado o aniversário do padre Sizo idealizador do Santuário. E a outra no mês de outubro é em homenagem Santa Teresinha do Menino Jesus, mas durante o ano o Santuário realiza outras festas. Vindos em romaria principalmente dos estados nordestinos, os devotos também conhecidos como romeiros frequentam o Santuário em devoção a Santa Teresinha (LIMA, 2019).
Sendo a pandemia a causa do cancelamento das festas religiosas e as procissões organizadas pelo Santuário Teresiano nos mês de outubro do ano de 2020 e de janeiro do ano de 2021. O padre Sizo manteve apenas o programa a Hora da Graça na rádio Delmiro 89,9 FM e seguindo as medidas preventivas recebe romeiros e visitantes no Santuário. Porém, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição fez adaptações e realizou as festas religiosas de forma presencial e online.
É visível que o território religioso avançou para o meio virtual “em um ano pandêmico esses elementos rituais, hierofanias, lugares, paisagens e territórios se deslocaram parcialmente do território original para se manifestarem no meio virtual, provocando a inversão social e a catarse em sua reatualização festiva” (CORRÊA, 2020, p. 3). Esse avanço tecnológico permite que aqueles que não costumam frequentar os locais religiosos, possam ter acesso e os que antes frequentavam, por conta da pandemia e da falta de acesso, podem estar impedidos de frequentar.
O território religioso é demarcado por símbolos dedicados a devoção ao sagrado. “O território surge, na tradicional Geografia política, como o espaço concreto em si (com seus atributos naturais e socialmente construídos), que é apropriado, ocupado por um grupo social” (SOUSA, 1995, p. 84). Essas características também fazem parte do território religioso, os grupos religiosos constroem lugares sagrados com elementos naturais e culturais, como forma de expressar a sua devoção ao sagrado.
A ocupação do território religioso de Mata Grande ocorreu de diversas formas “o território é dividido em lugares do cosmo, que estão profundamente comprometidos com o domínio do sagrado e como tal, marcados por signos e significados, e em lugares do caos, que designam uma realidade não divina” (ROSENDAHL 2013, p. 170). O território religioso permanente é ocupado pelas construções das igrejas e do santuário, das imagens fixadas em lugares públicos.
Esses símbolos fixados no território identificam a cidade e representam a identidade religiosa que predomina no território matagrandense. “A ocupação do território é vista como algo gerador de raízes e identidade: um grupo não pode mais ser compreendido sem o seu território” (SOUSA, 1995, p. 84). As festividades religiosas e as procissões realizam a ocupação transitória dentro do território, isso expressa que durante o trajeto percorrido na procissão estabelece a demarcação do território religioso católico.
O aglomerado de devotos que saem as ruas exclusivamente para acompanhar a procissão tem a função de levar o andor e recitar os cantos e orações,nisso exercem poder dentro do território, também são responsáveis pela territorialidade religiosa (Lima, 2019). A ocorrência desses rituais é motivada pela sacralidade devotada ao santo e representada na imagem exposta no andor. O santo ocupa lugar de destaque e fica perceptível ao olhar de todos, assim as pessoas distantes ou próximas do andor creem no poder atrelado a essa imagem.
A crença dos fiéis católicos atribui poder ao sagrado, motiva o exercício da religiosidade, realizam as práticas devocionais, fazem promessas aos santos, visitam igrejas e santuários, participam das celebrações de missas, adorações, festas e procissões. Todas essas experiências são exercidas dentro do território religioso comandado pela hierarquia da Igreja Católica, mesmo o indivíduo estando na sua residência ou na igreja, esses locais, estão localizados dentro do território paroquial.
A religião Católica promove festejos e procissões em honra aos santos e o lugar onde são realizadas essas práticas configura-se em um território religioso. É visível o maior fluxo de pessoas indo para a novena na Igreja Matriz, também é possível ouvir o som do alto falante convidando o povo para a celebração da missa. Os fogos de artifícios são um indício de que celebração vai iniciar. No dia 22 do mês de dezembro começa o novenário com o hasteamento da bandeira que contém a pintura da imagem de Nossa Senhora da Conceição, conforme apresenta Lima (2019)
Antes da pandemia de 2020 era costume que as caravanas percorressem as ruas da cidade na procissão dos padroeiros das suas comunidades. Seguiam em direção a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, os fiéis demonstravam fé e devoção. Os matagrandenses ausentes que saíram de Mata Grande e foram morar em outras cidades ao retornar no período festivo, costumavam participar da celebração religiosa. A Igreja Matriz é território para a ação de conversão dos fiéis “a Festa possibilita o reencontro humano. A volta à terrinha tem o prazer de se voltar ao nascedouro, onde tudo respira segurança e paz” (SANTANA, 2000, p. 146).
O ápice da celebração católica é a missa, geralmente ocorre dentro da igreja, onde a igreja é a materialização do sagrado, em suas estruturas mantém o simbolismo da fé, do divino, do místico (Melo, 2020). É costume a procissão da padroeira ser após a celebração da missa, “como parte integrante da Festa cultuada ao santo, o fenômeno procissão, na Igreja Católica Apostólica Romana é o momento, talvez, mais esperado na manifestação da religiosidade popular” (SANTANA, 2000, p. 146).
A Igreja Católica junto com fiéis são os responsáveis, por disseminar a cultura das procissões. Na procissão do dia primeiro de janeiro, os devotos percorrem as principais ruas da cidade com o andor e a imagem de Nossa Senhora da Conceição. “A procissão foi e é um exercício da devoção que une sacerdotes e população num ritual que melhor concretiza o simbolismo de comunhão religiosa, cultural e social no espaço” (ROSENDAHL, 2018, p. 390).
É necessário um planejamento para escolher o percurso por onde a procissão vai passar, as ruas devem estar organizadas, para que a procissão ao passar tenha o espaço livre e o andor seja conduzido normalmente. Por conta da procissão, o ordenamento da cidade de Mata Grande é alterado durante as festas. O padre a frente prepara o caminho, qualifica o lugar do cotidiano, das práticas do profano ao passar a procissão, o lugar é sacralizado (ROSENDAHL, 2018).
Esse cortejo percorre um determinado trajeto com uma multidão, que segue o andor com a imagem do santo protetor, por onde passa atrai olhares que são levados a se fixar na imagem. A procissão é o símbolo das festividades religiosas, permite a expansão do sagrado para além dos locais religiosos. Realizada junto à comunidade, ela tem uma considerável função, busca ressaltar a centralidade do sagrado (MELO, 2020).
Em anos anteriores a pandemia os devotos demonstravam por meio de passos concretos sua crença e trilhavam determinado percurso, junto ao santo de sua devoção. “Solenemente, clero, irmandades e fiéis caminham pelas ruas, recitando ou cantando preces, reanimando a esperança dos que dela participam. Pela festa, tanto no âmbito sagrado como no profano, todas as coisas se reconciliam. Celebra-se a alegria da vida” (SANTANA, 2000, p. 146). Os devotos carregam o andor com a imagem de Nossa Senhora da Conceição no dia primeiro de janeiro de 2019 como ilustra a (Foto 2).
Durante o cortejo, a imagem da santa sendo carregada pelos devotos em um pomposo andor. No momento que a procissão passa, os devotos se apropriam de todo o espaço ao redor, configurando no território religioso. As pessoas que não acompanham o cortejo se situam pelas ruas do centro da cidade a espera do andor passar, para admirar e expressar a sua fé (LIMA, 2019).
Na paisagem religiosa da procissão, não é somente o desfile, a rua por onde passam as calçadas, as casas com suas janelas abertas com toalhas brancas penduradas, mostrando o gesto de devoção (ROSENDAHL, 2018). A procissão é um símbolo transitório, o qual ocupa uma razão religiosa, seu sentido é dado pelo uso das imagens, ganha dimensão simbólica e identitária. Tal prática produz um código cultural, de acordo com Melo (2020).
A passagem do andor com o santo protetor não é somente um ato religioso, mas é uma forma da religião demarcar sua territorialidade diante de toda a cidade e das pessoas presentes. O poder imagético é vivido nesses espaços de celebrações. Sendo assim, a procissão promove a religião que se apodera de determinado território (LIMA, 2019). Na procissão é possível observar os devotos percorrendo as principais ruas da cidade de Mata Grande, o trajeto vai de uma extremidade a outra como podemos observar na (Carta Imagem 1).
Em 2020 as festas e procissões em homenagem a padroeira da cidade de Mata Grande (AL) passou por modificações por conta da pandemia. Mas, no que condiz a tradição do novenário, mantiveram-se as manifestações de fé, as missas, as adorações e a procissão. As celebrações das missas na forma presencial e remota, seguindo as medidas preventivas, com o número reduzido de fiéis, os acentos indicavam o espaço entre os fiéis, uso de máscara e álcool gel, ao final da celebração a higienização da igreja.
As transmissões das missas online foi uma medida adotada pela Igreja Matriz, para os fiéis que no momento, não podem frequentar a igreja seja por conta da idade ou saúde possam assistir, os que residem na cidade também podem ouvir pelo som do alto falante da torre da Igreja Matriz. Os matagrandeses que residem em outros municípios podem acompanhar as missas pelas redes sociais. Porém, as missas online não atingem a todos, aqueles que não possuem celulares e internet não tem acesso.
Na procissão de primeiro de janeiro de 2021 o andor não foi conduzido pelos braços dos fiéis, mas, em um automóvel. A carreata buscou manter todos os simbolismos de representação que a procissão carrega (Melo, 2020). Seguindo em carreata (Foto 3), cada um em seu veículo, cumprindo os protocolos de segurança, concluindo o trajeto, foram em direção a igreja,finalizando às celebrações da festa da padroeira (RÉGIS et al 2020).
Aqueles que não possuem transporte não acompanharam a procissão ficaram na Igreja Matriz esperando o retorno da carreata. A Praça da Igreja Matriz durante o encerramento da festa foi ocupado por barracas, comparado com anos anteriores o número de vendedores foi menor. Eles aproveitam o movimento dos fiéis, nesse espaço profano para comercializar mercadorias, são vendidos produtos de alimentação e artigos religiosos (LIMA, 2019).
Os símbolos ganham maior relevância quando é significativo para as pessoas e identifica os lugares (BONNEMAISON, 2002). Os fiéis usam símbolos religiosos, eles fazem parte da identidade do cristão, também são vendidos como lembranças do lugar visitado.
O momento pandêmico que a humanidade vivencia impactou no cancelamento ou nas mudanças de atividades religiosas que envolva a reunião de inúmeras pessoas, como uma forma de prevenir a disseminação do coronavírus. As procissões são uma dessas atividades que foram modificadas e muitas paróquias aderiram por fazer a carreata, como foi o caso da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição na cidade de Mata Grande (AL).
No Santuário Teresiano as festividades religiosas do mês de outubro do ano de 2020 e janeiro de 2021 não aconteceram, com isso, as procissões não foram realizadas, apenas ocorrem as visitas. Diante da situação de incerteza causada pela pandemia, a religiosidade pode ser um refúgio, não que ofereça necessariamente uma resposta, mas que possa ser um lugar de consolo, diante do que ainda não se sabe (SCORSOLINI-COMIN et al 2020).
Frequentar o templo religioso para muitas pessoas mostrou ser um escape do isolamento, pois
existe uma relação positiva da religiosidade com o estilo de vida, a qualidade de vida, a felicidade e a promoção de saúde, sendo um recurso disponível, acessível e que pode ser investido e incentivado, nesse momento crítico em que é vivenciado mundialmente (SCORSOLINI-COMIN et al 2020, p. 8).
A abertura dos locais religiosos e as precauções impulsionaram as pessoas, a não ter receio de frequentar igrejas e santuários.
Enquanto não se tem o retorno total das festividades religiosas, muitos não esperam a volta da suposta normalidade, para visitar o Santuário de Santa Teresinha que tem influenciado na devoção popular na cidade de Mata Grande (AL). No momento as pessoas têm apenas as lembranças das festas ocorridas em anos anteriores. “A festa faz a ligação do humano com o transcendente. Eleva o homem ao mais alto degrau do humano, que é o encontro com a divindade” (SANTANA, 2000, p. 146).
O dia preferido pelos visitantes que vêm à Mata Grande é o domingo, também por conta que nesse dia era realizado as festividades e procissões no Santuário Teresiano. “As festividades religiosas marcam, ainda hoje, o tempo sagrado nas cidades santuário. Cada cidade possui seu calendário religioso” (Rosendahl, 1996, p.72). Após a acolhida aos romeiros, o padre Sizo realizava o momento de catequese, cantava os louvores, fazia as orações e concluía o momento com a procissão (Lima, 2019). A procissão do Santuário de Santa Teresinha realizada em 2019 (Carta Imagem 2 ) percorria algumas as ruas do centro da cidade de Mata Grande.
Os romeiros saiam do Santuário carregando o andor com a imagem do santo, “a multidão contrita apinha-se em volta do andor, cantando quase sempre hinos, que são um seguro documento da psicologia sertaneja, pelo seu característico acento de dolorida melancolia” (BRANDÃO, 2015, p. 230).
O trajeto percorrido pelos romeiros durante a procissão do Santuário Teresiano era mais curto, comparado ao percurso realizado durante o cortejo de Nossa Senhora da Conceição. As procissões realizadas na cidade de Mata Grande possuem semelhanças e diferenças que se traduzem na maneira como essas práticas são vivenciadas pelos fiéis.
Seja ao chegar e ao sair do Santuário, o romeiro encontrava todo o espaço próximo ao local, ocupado pelas barracas da feira, montadas exclusivamente para a festa (LIMA, 2019). Assim,
é no espaço profano, diretamente vinculado ao sagrado, que a distribuição das atividades não religiosas ocorre. Tais atividades apresentam uma forte articulação com o sagrado. Em sua maioria compreende a área dos comerciantes e barraqueiros (ROSENDAHL, 1996, p. 74).
Sem a realização das festas, a economia da cidade direta ou indiretamente foi afetada, o movimento no comércio diminuiu sem a vinda dos vendedores e visitantes de outras regiões.
Mesmo a cidade de Mata Grande sendo localizada distante do local de residência do romeiro, o Santuário Teresiano se torna o lugar indispensável para se visitar. “Lugares e áreas longínquas tornam-se próximos em função da afetividade por eles” (CORRÊA; ROSENDAHL, 2011, p. 33). Motivados pela devoção a Santa Teresinha, os romeiros enfrentam várias dificuldades, mas, não querem deixar de fazer a visita e quando não conseguem participar de todas as romarias, ficam tomados pela emoção e pela saudade.
A religiosidade pode contribuir com a construção da personalidade de cada ser humano, ajuda a formar a identidade, faz parte das experiências e direciona a história de vida. Os visitantes dos locais religiosos vão para sentir a presença de Deus ou conectado com o divino e/ou sagrado, as experiências vivenciadas direciona comportamento de acordo com as crenças pessoais e norteiam a maneira de viver (SCORSOLINI-COMIN et al 2020).
Antes da pandemia os romeiros já podiam acompanhar pelo rádio, o programa feito pelo padre Sizo, chamado a Hora da Graça na rádio Delmiro 89,9 FM. O Santuário também faz diversas postagens na sua página do Facebook. A tecnologia digital já vinha sendo usada na evangelização, tornando a comunicação mais próxima dos fiéis, de maneira mais rápida o religioso passa sua mensagem de fé. O rádio é um meio mais conhecido dos idosos, porém, o celular é uma tecnologia digital recente e que muitos estão se adaptando ao seu uso.
O Santuário Teresiano diferente da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, não promoveu nenhuma festa, como também ainda não fez transmissão pelas redes sociais, apenas o programa de rádio. Com os casos de pessoas infectadas pela pandemia do coronavírus e as restrições, ocorre redução de pessoas frequentando igrejas e santuários, e por não poder ser ocupado toda a capacidade do espaço. Provavelmente o Santuário não realizará as festas e procissões nesse período de pandemia, pois, a estimativa é de que o número de visitantes pode ultrapassar a capacidade permitida para esse período.
Durante o período de quarentena a rotina da população foi drasticamente modificada, os fiéis não podiam participar presencialmente das celebrações. A religiosidade passou a ser vivenciada na igreja doméstica, as missas passaram a ser transmitidas pelas mídias sociais e assistidas em aparelhos eletrônicos. As pessoas que não possuem aparelhos eletrônicos ou tem dificuldades em acessar as redes sociais ficam dependentes de outras pessoas para fazer o acesso.
Mesmo com o retorno das atividades religiosas os problemas causados pela pandemia têm refletido também na prática religiosa. Em 2020 se comparado com anos anteriores, a pandemia influenciou na redução do número de participantes nas festividades e procissões, afetou principalmente os idosos que foram orientados a não frequentarpresencialmenteas missas e festejos.
Para evitar as aglomerações, as procissões mudaram para carreatas e se tornaram mais rápidas, os fiéis que não têm meios de transportes ficam esperando a procissão retornar para a Igreja Matriz. Assim, as festividades religiosas e procissões que costumavam reunir multidões de fiéis, em 2020 muitas não puderam ser realizadas, e agora em 2021 correm o risco de continuarem com restrições ou até mesmo não serem realizadas.
A comunidade matagrandense passou por essa situação de alteração na festa e procissão de Nossa Senhora da Conceição em 2020 e o cancelamento nas festividades e procissões de Santa Teresinha nos anos 2020 e 2021. Ao fazer o comparativo das práticas religiosas realizadas na cidade de Mata Grande (AL) nos anos de 2018, 2019 com 2020 e 2021, foram observadas as mudanças vivenciadas pelos fiéis nas festas religiosas e procissões com as restrições e medidas sanitárias, além da redução do número de participantes nos festejos religiosos e nas procissões.
Os romeiros e visitantes que costumam ir em romaria até a cidade de Mata Grande para visitar o Santuário dedicado a Santa Teresinha são de vários estados do Nordeste. Mesmo recebendo romeiros e visitantes, os festejos religiosos e as procissões que ocorreriam nos meses de outubro 2020 e janeiro 2021 no Santuário Teresiano não foram realizados para evitar a disseminação do coronavírus.
As incertezas das pessoas por causa da pandemia, as discussões sobre o tratamento mais adequado, o uso de remédios não específicos para a doença e as informações conflitantes com relação à comprovação da sua eficácia. Levou as pessoas a buscarem auxílio na religiosidade, uma tábua de salvação em que as pessoas tentam se apegar. Mesmo com o desenvolvimento de várias vacinas e o início da vacinação, não coloca um fim nas discussões, a pandemia não acabou a Covid-19 continua fazendo vítimas.
A religiosidade para muitos tem sido o suporte no enfrentamento das situações de dificuldades causado pela pandemia. A igreja doméstica buscou se adaptar a realidade para resistir aos dias maus, se conectou as facilidades proporcionadas pelas tecnologias, o acesso aos conteúdos religiosos tornaram sinais de esperança. No final de 2020,períodoque a aparentenormalidade estavaretornando ea realização das festividades religiosas e procissões mesmo com restriçõesreforçavaessa ideia.
As redes sociais também foram significativas ganharam espaço dentro dos locais religiosos, coisa que um ano antes da pandemia parecia desnecessário ou até criticado. Era mais comum assistir as celebrações transmitidas por canais de televisão católicos, agora as celebrações online permitem aos fiéis ter mais opções de escolha, a qual participará entre inúmeras paróquias. Ao contrário dos canais de televisão que precisam de vários equipamentos e uma equipe de profissionais para fazer as filmagens, as transmissões online realizadas pelas redes sociais são feitas por aparelhos eletrônicos e voluntários.