
Recepção: 01 Março 2016
Aprovação: 25 Março 2016
Resumo: O artigo versa sobre a avaliação escolar vigente em nossa sociedade que se apresenta ainda dominada por uma concepção tradicional, conteudista e classificatória, dificultando avanços significativos no processo ensino-aprendizagem. A pesquisa revela dados sobre a prática avaliativa do professor de Ensino Fundamental da Rede Pública Municipal de Barra do Corda-MA, no que se refere a: instrumentos utilizados, procedimentos, conhecimentos acerca da inteligência humana e da Teoria das Inteligências Múltiplas, com vistas a um redirecionamento do processo avaliativo. Apontam-se algumas recomendações metodológicas que otimizam o processo ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Inteligências Múltiplas, Conhecimento significativo, Avaliação.
Keywords: tools, procedures, knowledge of human intelligence and the Theory of Multiple Intelligences, to a redirect the evaluation process, Suggest a few methodological recommendations that optimize the teaching-learning process, : Multiple Intelligences, Knowledge significant, Evaluation
TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: CONHECIMENTO SIGNIFICATIVO PARA UMA NOVA PRÁTICA AVALIATIVA
1.1.- Introdução.
As novas exigências da sociedade contemporânea incidem sobre a escola como uma ameaça à sua função de sintetizar informações para a construção de conhecimentos significativos. Nesse novo cenário, as instituições educacionais buscam superar paradigmas para tornar-se um espaço de geração de conhecimentos a partir da participação dos sujeitos que compõem a comunidade escolar. Nesse contexto, uma área que tem se mostrado pouco sensível às mudanças é a avaliação educacional, pois sua prática tem se evidenciado como classificatória e excludente, devendo ser redimensionada para acompanhar os avanços científicos, bem como cumprir seu papel na educação como agente impulsionador de reflexões e ações destinadas à formação de mulheres e homens críticos, ativos e transformadores de uma sociedade mais humana, justa e solidária, como afirma Luckesi (2000, p. 42):
“Para que a avaliação educacional escolar assuma o seu verdadeiro papel de instrumento dialético de diagnóstico para o crescimento, terá de se situar e estar a serviço de uma pedagogia que esteja preocupada com a transformação social e não a conservação”
Retomando a concepção de Luckesi (2002), a avaliação, diferentemente da verificação, é envolvida por um ato que transcende a mera configuração do objeto, exigindo uma tomada de decisão sobre ele. A verificação tem uma força implícita de “congelar” o objeto; a avaliação, no entanto, metodologiza o objeto num devir dinâmico.
Portanto, pesquisas recentes mostram que a escola que pretende formar cidadãs e cidadãos críticos deve romper com ideais tradicionais que moldam indivíduos num pensamento único de aprendizagem. Não basta apenas desenvolver o conhecimento linguístico ou lógico-matemático para sobressair na sociedade como sujeito ativo. A escola ideal deve ser centrada no educando a partir da construção dos saberes; uma escola em que o educador não privilegie o ato mecânico de memorização do conteúdo, em detrimento da valorização dos vários tipos de conhecimento, das diversas modalidades de inteligências e das várias formas de manifestação destas inteligências por parte dos educandos. Nesse contexto, o professor deve primar pela observação e diversificação dos instrumentos aplicados na avaliação. Porém, para que isso aconteça de fato, é imprescindível “quebrar” a uniformidade e as avaliações unidimensionais que as escolas hodiernas apresentam.
Levanta-se a hipótese de que uma educação de qualidade se faz utilizando diversos instrumentos avaliativos, pautados no desenvolvimento dos diferentes perfis dos educandos, tendo como eixo norteador a teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner.
Diante desses fatos, pretende-se desenvolver uma pesquisa de natureza acadêmica intitulada “Teoria das Inteligências Múltiplas: conhecimento significativo para uma nova prática avaliativa”, objetivando sistematizar recomendações metodológicas que busquem otimizar o processo ensino-aprendizagem a partir do conhecimento dessa teoria, com vistas a implementar uma nova concepção de avaliação.
Para melhor aprofundamento nessa área do conhecimento, além da revisão bibliográfica, adotou-se o método estatístico através da aplicação e tabulação de questionários com uma amostra de 20 (vinte) professores das escolas-campo: Escola Municipal A, Escola Municipal B, Escola Municipal C e Escola Municipal D* de Barra do Corda – MA, atuantes nas séries iniciais (1º a 5º ano) do Ensino Fundamental.
1.1.- Avaliação Escolar: conflitos e desafios.
O mundo pós-moderno vive a quarta revolução industrial. Presencia-se acontecimentos não imaginados décadas atrás, devido aos avanços tecnológicos. Reflexos são percebidos em todos os setores: sociais, econômicos, culturais, políticos e educacionais, ainda que, na educação, esses reflexos tenham incidido basicamente na teoria e supercialmente no fazer pedagógico. A partir deste contexto histórico de transformação holístico, é que Galvão e Silva (2016, p. 102) afirmam que
“Torna-se necessário entender o que está sendo efetivamente privilegiado no atual debate sobre a avalição, pois estamos vivendo em um momento de construção de proposta para a redefinição do cotidiano escolar, e a avaliação é uma questão significativa nesse processo, portanto, precisamos conscientizar os professores que consiste sempre em seguir rotinas transmitidas que não servem de garantia para uma ação eficaz, havendo um distanciamento da formação do professor com um contexto atual no qual o aluno está inserido”
Em meio a tantas mudanças, o sistema avaliativo brasileiro ainda esmera pelos aspectos quantitativos e reduz um complexo processo a números, embora a LDB 9.394/96 enfatize que os aspectos qualitativos devam prevalecer no processo avaliativo. Na prática, a avaliação sempre se constitui atividade de controle de conhecimentos. Nessa óptica, a validação da aprendizagem ocorre quando se utiliza, na maioria das vezes, o instrumento prova e quantifica-se a inteligência do educando, visando basicamente a seleção dos inteligentes, que poderão futuramente ter sucesso em suas vidas. A grande maioria serão condenados ao fracasso escolar e profissional. Essa prática é histórica e tem suas raízes na Ratio Studiorum e na Didática Magna de Comenius.
Em uma perspectiva meramente tradicional, a inteligência é conceituada como a capacidade de responder a testes de inteligência, o famoso Q.I. (TRAVASSOS, 2001), demonstrado que de modo geral é inata do ser humano, não passa por modificações ao longo do tempo e nem dialoga com as experiências. Para Gardner, o conceito de inteligência é holístico, sendo a capacidade de solucionar problemas ou elaborar produtos que são importantes em um determinado ambiente ou comunidade cultural (SMOLE, 1996).
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*Usamos nomes fictícios (A, B, C e D) para preservar a identidade e/ou individualidade das escolas pesquisadas.
Pesa sobre educadores e educandos uma herança de séculos de uma prática avaliativa classificatória e excludente. Avaliar constitui-se instrumento utilizado para aprovar ou reprovar e não para detectar necessidades e comprometer-se com sua superação. Galvão e Silva (2016, p.103) assertivam que:
“o processo avaliativo deverá ocorrer em favor do discente, sujeito e protagonista do processo, aliado de sua aprendizagem e promover o desenvolvimento de sua autoestima, gerando o desejo contínuo de conhecer o seu vínculo com a escola.” O educando não é respeitado em sua individualidade, no seu ritmo de aprendizagem e, quando isso acontece, muitas vezes a causa reside no fato de o professor estar examinando e não avaliando. O termo avaliação é utilizado na maioria das vezes por ser “acadêmico”; denomina-se essa prática de avaliação, mas, de fato, o que se pratica são exames. Ou seja, ocorre apenas uma troca de nome, embora a prática continue a mesma. A distinção feita por Luckesi (2000) demonstra claramente a grande diferença entre avaliar e examinar. Enquanto o exame tem como
características básicas ser final, factual, classificatório e seletivo, em oposição a ele, a avaliação processual não é factual, e sim diagnóstica e inclusiva.
Através dessa comparação, percebe-se como é complicado e contraditório avaliar a aprendizagem do educando como um ser singular, embora não é impossível fazê-lo. Como assertiva Antunes que:
“ Uma prática avaliativa includente e diagnóstica só não acontece quando não existe razão no ensinar”. ( 2001, p.18).
Várias pesquisas foram realizadas sobre a prática avaliativa com o objetivo de redirecioná-la. Avanços já são percebidos, mas mudanças profundas ainda são necessárias. Os resultados de pesquisas feitas pelo governo e outros órgãos evidenciam o baixo nível de conhecimento dos educandos. Medidas precisam ser tomadas e são vários os aspectos que precisam mudar, um deles refere-se à formação profissional do professor. É imprescindível buscar novos conhecimentos para aprimorar a prática docente e redimensionar a avaliação da aprendizagem, entendendo o professor e os alunos como sujeitos, na sua multidimensionalidade.
Mas, como avaliar o aluno na sua totalidade sem observar suas capacidades e dificuldades? Pautar a prática educativa no desenvolvimento das várias inteligências que todo ser humano possui e esmerar suas práxis pedagógica na formação de pessoas empreendedoras, competentes e autônomas. A instituição escolar precisa desempenhar essa função e “aposentar” a escola classificatória excludente, que concebe a avaliação escolar como um instrumento de dominação, de poder.
Luckesi (2000) afirma que a avaliação educacional, tal como é desenvolvida hoje, serve como mecanismo mediador da reprodução e conservação da sociedade. Para reverter essa situação, educadores e a própria sociedade vem exigindo da escola a diversificação das estratégias e dos instrumentos avaliativos para tornar possível um conhecimento mais fidedigno dos perfis dos educandos, detectando potencialidades e dificuldades.
As novas exigências educacionais, somadas às inquietações dos educadores, resultaram em um novo enfoque dado ao ato de avaliar, apontando para as necessidades de um sistema de avaliação que não dê tanta importância para a nota, mas sim para o desenvolvimento do educando. O ato de avaliar deve propiciar ao educador o refletir sobre sua prática, sobre a aprendizagem do aluno, objetivando o repensar das ações que realiza, o que perpassa pela necessidade de mudança de postura em que, ao invés de restringir o processo a examinar, a avaliar, ele acompanhe, mediatize, diagnostique e redimensione a aprendizagem.
Elevar a qualidade da educação pública brasileira perpassa por um modelo de avaliação democrático e por um professor que busque o novo, não como condição para abandonar o velho, mas como forma de tornar-se sujeito cognoscente.
1.2.- A avaliação e a Teoria das Inteligências Múltiplas.
A partir do final do século XIX, a Psicologia Clássica caracterizou a inteligência como única, hereditária e mensurável, através da capacidade do indivíduo em resolver questões linguísticas e lógico-matemáticas. Em 1908, em Paris, Alfred Binet criou o teste de Q.I. Na contemporaneidade, surge a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, psicólogo construtivista, neurologista, professor e pesquisador da Universidade de Howard nos Estados Unidos da América que defende a inteligência como fator não mensurável, mas possível de ser desenvolvida. Segundo Gardner, as pessoas apresentam várias tipologias de inteligências, umas mais e outras menos afloradas. A Teoria das Inteligências Múltiplas se baseia numa visão pluralista da inteligência, onde há várias habilidades cognitivas e não somente verbal e lógica em que o teste de Q.I. avalia. Portanto, os seres humanos apresentam capacidades e dificuldades diferenciadas e, estes aspectos não podem ser medidos ou padronizados. A avaliação, instrumento fundamental ao processo ensinoaprendizagem, deverá valer-se dessa teoria.
Howard Gardner compreende a inteligência como “um potencial biopsicológico para processar informações que podem ser ativadas num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que são de valor de uma cultura”. Esta definição salienta a importância de se considerar a inteligência em termos de potencial, que poderá ser “ativado” mediante as características do indivíduo e do meio envolvente. (OLIVEIRA, 2007).
A Teoria das Inteligências Múltiplas procura fazer uma abordagem pluridimensional, holística e pragmática da inteligência, na perspectiva de ultrapassar a dimensão psicométrica dos testes de Q.I(GARDNER, 1994). Independentemente do modelo educacional, esta teoria permite aos indivíduos uma performance em qualquer área de atuação. (GAMA, 1998).
Segundo Gardner (2003, p. 16), é enfatizada a necessidade de desenvolver meios de avaliação que sejam justas para com a inteligência dos educandos: “ meios que observem diretamente uma inteligência e não indiretamente, através das lentes conhecidas do pensamento linguístico e/ou lógico”.
Essa nova prática avaliativa deve fundamentar-se no conhecimento fidedigno das capacidades e limitações do educando que perpassa pelas várias inteligências, as quais os seres humanos são capazes de desenvolver.
A teoria de Gardner tem como base a pluralidade da mente. As sete primeiras inteligências estudadas e mapeadas por Gardner foram a lógico-matemática, linguística, corporal-cinestésica, musical, espacial, interpessoal e intrapessoal. A posteriori, a partir de ressonâncias magnéticas, foram acrescentadas duas novas formas, a naturalista e a existencialista. (GARDNER, 1995; ALMEIDA, 2007).
Howard Gardner (1995; 1996) assim define as Inteligências Múltiplas:
1- Lógico-matemática: por meio do raciocínio lógico-matemático o ser humano pensa, esquematiza e compreende os modelos que o são socialmente expostos, e é a partir da vivência de aventura é que ele pode provar sua existência de manter esse modelo que lhe foi imposto ou transformá-lo. O indivíduo com essa inteligência resolve um problema de forma rápida. A solução é encontrada antes mesmo de ser verbalizada. Sua área cerebral é o Centro de Broca. A criança com aptidão particular nesta inteligência mostra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações práticas de seu raciocínio.
2- Linguística: a associação homem-natureza é permitida a partir da prática física que o homem realiza em ambientes naturais. E com isso ele expressa com linguagem própria que rompeu as barreiras e começa a viver sua própria natureza. É intrínseca aos poetas e escritores. Sua região cerebral é o Centro de Broca, onde há a elaboração das sentenças gramaticais e se ocorrer dano nesta área, o indivíduo terá dificuldade de formular frases mais complexas e elaboradas. Em crianças, esta habilidade exibida se manifesta através da capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas.
3-Naturalista: habilidade conforme a vivência do homem com a natureza, possibilitando-o a reconhecer as várias divisões desta como, planta, vegetais, minerais, e assim ele reconhece como parte integrante do espaço ecológico. Aquele aluno que tem maior inclinação pela natureza, pelas Ciências Naturais, que gosta de colecionar objetos, pesquisar a vida animal e dissecar animais.
4-Interpessoal: quando o homem consegue compreender os outros na aventura compartilhada, ele desenvolve o respeito, a paciência, a solidariedade entre outras. Sendo que cada um desses valores tem sua característica única e incomparável. Crianças especialmente dotadas desta inteligência demonstram muito cedo habilidades para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos dos outros.
5-Intrapessoal: a partir do contato com a natureza, pelas atividades que o homem realiza nela, ele consegue perceber o mundo e percebe-se no mundo. É a habilidade como a pessoa tem acesso aos próprios sentimentos, sonhos e ideias, descriminálos e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. Essa inteligência é observável através dos sistemas simbólicos de outras inteligências, como linguísticas, musicais ou cinestésicas
6-Espacial: usada por engenheiros, marinheiros, cirurgiões, pois tem a capacidade de formar um mundo espacial em sua mente, manobrar e operar utilizando esse modelo. O processamento espacial é feito pelo hemisfério direito. Nas crianças, o potencial nesta inteligência é percebido através da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais.
7-Corporal-cinestésico: é a capacidade de utilizar o corpo para resolver problemas ou elaborar produtos. O córtex motor, com um hemisfério dominante (nos destros, o hemisfério esquerdo) controla os movimentos corporais. Esses movimentos são desenvolvidos durante a infância. E muito do cognitivo se expressa através do corpo. A criança especialmente dotada desta inteligência demonstra uma grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada.
8-Musical: com forte presença da natureza do homem, ele consegue utilizar sons naturais como forma de expressão. E com essa convivência, ele consegue um estado de alerta que faz com que, o ouvir-ver-sentir dos ritmos de seu próprio corpo se harmonize com o exterior. As áreas do hemisfério direito do cérebro são ativadas na percepção e produção de música. A criança com habilidade musical percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, frequentemente, canta para si.
9-Existencialista: quando começa a refletir sobre o quanto ele é finito, transitório, ele próprio levanta questões sobre sua própria existência, ampliando assim as possibilidades de elevar-se além da realidade, extrapolar os limites sociais, o qual precisa resistir. É a habilidade do ser como pessoa integral.
A Teoria das Inteligências Múltiplas pode ser largamente utilizada por educadores através de seu conhecimento e do uso da criatividade de cada um dentro de uma perspectiva de crescimento pessoal e coletivo. Gardner enfatiza que criou uma teoria das inteligências voltada para a Psicologia, portanto, não existe uma metodologia específica, bem como ele não aborda como deve ser o planejamento curricular, calendário escolar e outros elementos pertencentes a este processo.
No entanto, a perspectiva de multiplicidade da mente abre um leque de possibilidades educacionais e traz relevantes contribuições, pois, sabendo da existência de várias inteligências e de como identifica-las, será bem mais fácil para o educador possibilitar às crianças aceitarem-se como são e perceberem que podem evoluir e desenvolver novas inteligências. Os profissionais da educação perceberão também que a riqueza do ambiente escolar reside na diversidade dos seres e de suas competências.
Avaliar os educandos segundo essa perspectiva é conduzir o processo ensinoaprendizagem tendo como ponto essencial a observação para oferecer o auxílio pedagógico necessário, evitando o processo de exclusão típico daqueles que sentem dificuldades na escrita ou no cálculo. As inteligências são interdependentes; não existe uma mais importante que a outra; conhecendo-as, pode-se mobilizar várias delas e, a partir das mais afloradas, provocar a superação das dificuldades dos educandos num processo denominado por Gardner de rotas secundárias.
A avaliação, nesta perícope, será diagnóstica, processual e contínua, conforme o que preconiza a LDB 9394/96, valorizando os aspectos qualitativos sobre os quantitativos. Tendo por base essas inteligências que estão presentes na sala de aula, pode-se avaliar o educando pelo que ele faz de melhor, elevando sua autoestima, tornando-o um construtor e reconstrutor do seu conhecimento, tendo como eixo norteador uma prática avaliativa includente, pautada nos estudos de Gardner (1995), em que dados sobre as Inteligências Múltiplas são informações fundamentais para avaliar o aluno de forma a subsidiar seu desenvolvimento físico, emocional, social e intelectual.
A contribuição da Teoria das Inteligências Múltiplas vai além, pois nos projetos criados e implantados por Gardner, o processo avaliativo está embasado no acompanhamento dispensado a cada aluno (a). Sabendo sempre que as pessoas são diferentes, portanto, aprendem de formas diferenciadas e em tempos diferentes. A aprendizagem nunca será igual para todos os alunos; alguns aprenderão só o essencial para dar continuidade aos estudos, enquanto outros se sobressairão. Haverá sempre diferentes formas e graus de aprofundamento do que se aprendeu, e o professor, no sentido de otimizar o processo ensino-aprendizagem, deverá respeitar essa diversidade, procurando conhecer individualmente cada um, para detectar seu nível de progresso, suas necessidades, interesses e habilidades mais latentes e imediatas.
Para esse fim, deverão ser utilizados instrumentos diversificados para avalia-los em diversas ocasiões: provas escritas, trabalhos de pesquisa, debates, seminários, relatórios, autoavaliações, portfólios e tantos outros. A diversificação dos instrumentos possibilitará abranger várias etapas do desempenho de um educando e acompanhar seus avanços e dificuldades com vistas a subsidiar seu desenvolvimento.
A pedagogia conteudista e classificatória precisa ser repensada para dar espaço a uma pedagogia emancipadora, em que a aprendizagem significativa garanta a detenção das informações e a capacidade para estudar, pensar, refletir e dirigir as ações que são indispensáveis para se viver e exercer a cidadania. Segundo Gardner (1995, p. 151) “em vez de ser imposta externamente em alguns momentos durante o ano, a avaliação deveria tornar-se parte do ambiente natural da aprendizagem”.
1.3.- Perfil da Avaliação da Aprendizagem em Barra do Corda – MA.
Para melhor contextualizar de como se constitui o processo avaliativo nas escolas públicas municipais nas séries iniciais (1º a 5º ano) no Ensino Fundamental em Barra do Corda-MA, pois acreditamos que é nesta faixa etária que a criança está rebuscando uma visão holística de mundo, recebendo uma gama significativa de informações que serão decisivas no seu desenvolvimento cognitivo, procurou-se conhecer mais de perto essa realidade através de pesquisa de campo, visitando aleatoriamente um total de oito escolas. Dessas escolas foram escolhidas quatro, localizadas em bairros diferentes da cidade e a amostra contou com vinte professores, pois o objetivo principal da pesquisa era saber se estes já possuíam algum conhecimento e até aplicavam processos avaliativos embasados na Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner.
Os professores entrevistados possuem graduação e alguns pós-graduação Latu
Sensu. Lecionam nos mais variados componentes curriculares (Matemática, Língua Portuguesa, Geografia, História, Ciências, Artes etc.). A média de tempo dedicada à arte de ensinar é de dezesseis anos e, quanto ao ato de planejar as atividades educativas, fazem tanto no ambiente escolar quanto em casa e manifestaram satisfação com os recursos didáticos disponibilizados pela escola onde atuam.
Na pesquisa de campo, utilizou-se o questionário com perguntas abertas e fechadas como instrumento de coleta de dados. Foi elaborado a partir de um referencial teórico e os resultados estão detalhados a seguir.
2.- Resultados e discussões.
TABELA 1 – Dados sobre os instrumentos utilizados na prática avaliativa.
INDICADORES QUANTIDADE % Provas 01 05 Trabalhos individuais e em grupo 02 10 Assiduidade, participação e pontualidade 02 10 Outros 04 20 Provas, trabalhos individuais e em grupo, assiduidade, participação e pontualidade 07 35 Trabalhos individuais e em grupo, assiduidade, participação e pontualidade. 03 15 Trabalhos individuais e em grupo, outros 01 05 TOTAL 20 100 Importar tabla
Fonte: Escolas Públicas Municipais de Barra do Corda.
Observa-se através dos dados coletados que 35 % dos educadores entrevistados já utilizam instrumentos diversificados ao avaliar. Porém, um dado relevante detectado foi que 60 % afirmaram utilizar outros instrumentos, excluindo a prova, como se esta fosse a grande vilã ou um instrumento incorreto para avaliar os discentes. O equívoco seria a utilização única e exclusiva desta forma, como apenas 5 % afirmaram usar.
TABELA 2 – Conceito de avaliação.
INDICADORES QUANTIDADE % Uma forma de medir conhecimentos. 02 10 Uma forma de detectar avanços e dificuldades. 01 05 Acompanhamento de avanços, dificuldades e uma possibilidade de rever sua prática. 16 80 Uma forma de detectar avanços e dificuldades, acompanhamentos de avanços e dificuldades e uma possibilidade de rever sua prática. 01 05 TOTAL 20 100 Importar tabla
Fonte: Escolas Públicas Municipais de Barra do Corda.
Analisando a tabela supracitada, encontram-se pontos positivos, visto que os professores, em sua maioria, conseguiram identificar o verdadeiro sentido da avaliação, requisito essencial para aplicação dos conhecimentos da Teoria das Inteligências Múltiplas que se caracteriza pela visão pluralista da inteligência e por isso permitirão o desenvolvimento das diversas inteligências dos educandos, refletindo numa aprendizagem significativa. Uma parcela significativa dos professores entrevistados (80 %) concordou que a Teoria de Gardner propicia alternativas positivas para o acompanhamento dos avanços dos discentes, bem como um repensar contínuo da práxis docente, no que tange à avaliação.
TABELA 3 – Como utiliza os resultados das avaliações.
INDICADORES QUANTIDADE % Faz registro nas cadernetas e dá continuidade ao conteúdo programático. 01 05 Registra somente as notas aproveitadas e faz nova avaliação com os que não atingiram a média 01 05 Faz o registro e ao mesmo tempo planeja e aplica 16 80 novas estratégias para recuperar a defasagem de aprendizagem dos alunos. Registra somente as notas aproveitadas e faz nova avaliação com os que não atingiram a média, planeja e aplica novas estratégias para recuperar a defasagem de aprendizagem dos alunos. 02 10 TOTAL 20 100 Importar tabla
Fonte: Escolas Públicas Municipais de Barra do Corda.
Apesar de 80 % dos professores inquiridos afirmarem que fazem o registro e concomitantemente planejam e aplicam novas estratégias para recuperar a defasagem dos alunos, dados hodiernos sobre o nível de aprendizagem dos discentes das escolas públicas evidenciam o contrário: que a aprendizagem está bastante deficitária e os alunos chegam ao Ensino Médio com dificuldades graves na leitura e interpretação de textos.
Em relação ao grau de satisfação dos professores com a forma de avaliação que utilizam para acompanhamento do processo ensino-aprendizagem de seus educandos, observou-se que a maioria, ou seja, 60 % afirmaram estar satisfeitos, enquanto 40 % responderam estar insatisfeitos. Os dados coletados são, de certa forma, preocupantes, pois se a maioria fosse de insatisfeitos, geraria inquietação, fomentando desejo de mudanças, o que seria mais indicado para este caso. Ao justificarem suas respostas, percebeu-se uma outra nuance do professor sobre a avaliação; mas, na prática, ainda são necessários mais subsídios para uma mudança significativa. Percebe-se que o grupo de professores conhecedores da teoria diferenciam as diversas inteligências em seus alunos.
Quando inquiridos se no momento da avaliação as diferentes habilidades dos discentes são consideradas, 95 % responderam que “sim”, apenas 5 % responderam que não. No entanto, quando foi solicitado que eles exemplificassem, somente 25 % conseguiram. Isso caracteriza falta de conhecimento por parte dos professores acerca do que sejam habilidades e quais precisam ser desenvolvidas nos seus alunos. Evidencia-se, assim, uma fragilidade no fazer pedagógico-docente, reafirmando a dicotomia teoria/prática.
Ao serem questionados se a inteligência pode ser medida através de testes e por que, assim como Gardner defende e acredita na incapacidade de mensuração da inteligência humana, 75 % dos docentes entrevistados reafirmaram sua concepção. Entretanto, ao justificarem o seu “não”, apenas 45 % foram coerentes ao responderem com cientificidade, e 30 %, ao justificarem, deixaram claro que o momento influencia na obtenção de dados precisos sobre a inteligência. Conclui-se, portanto, que, controlando as variáveis, pode-se medir o Q.I.
Da amostra pesquisada, 100 % afirmaram que já ouviram falar da Teoria das Inteligências Múltiplas. Mas o referido conhecimento revelou-se insuficiente a responder as próprias indagações do questionário, o que leva a crer na impossibilidade de adequá-la ao fazer pedagógico pela ausência de referencial teórico sobre a temática.
TABELA 4 – Para você um educando é:
INDICADORES QUANTIDADE % Tem bom raciocínio lógico-matemático e boa expressão oral e escrita. 14 70 Todas as habilidades dos alunos permitem considerá-lo inteligente. 03 15 Habilidade para pintura e desenho, bom raciocínio lógico-matemático e boa expressão oral e escrita. 03 15 TOTAL 20 100 Importar tabla
Fonte: Escolas Públicas Municipais de Barra do Corda.
O resultado da tabela acima demonstra de forma clara o que Gardner critica com veemência: a supervalorização da inteligência linguística e lógico-matemática em detrimento das demais. Apenas 15% identificaram as diversas formas de inteligências. Portanto, fica evidente a necessidade de provocar um novo olhar do professor sobre o processo ensino-aprendizagem que poderá ocorrer através do conhecimento da Teoria das Inteligências Múltiplas com vistas a um redimensionamento da prática avaliativa.
A realidade de educandos que apresentam extrema dificuldade em leitura ou interpretação, afetando o desempenho nas outras áreas do conhecimento pode ser superada, uma vez que eles podem apresentar outras modalidades de inteligências bastante afloradas, como fazer amizades com facilidade, desenhar, dramatizar entre outros. Os educadores precisam aproveitar estas inteligências para integrá-las ao processo ensino-aprendizagem, fazendo-os avançar. É pertinente que o educador visualize o educando na sua totalidade para possibilitar que cada um receba uma educação que maximize seu potencial intelectual.
3.- Considerações finais.
A avaliação, conforme foi apresentado neste artigo, é um processo holístico e complexo, que pode ser um poderoso instrumento de mudança, colocando-se a serviço da autêntica aprendizagem e do desenvolvimento mais pleno do ser humano, pautada num projeto de libertação radical. Por isso, a avalição praticada no âmbito escolar é um desafio que exige mudanças urgentes por parte do professor. Mudança esta que requer do professor a busca incessante pela inovação, uma postura ética e epistemológica em relação à avaliação, bem como à educação e à sociedade que o limita.
A avaliação é o eixo norteador do processo ensino-aprendizagem. Mudanças significativas só acontecerão quando os educadores construírem mais conhecimentos acerca da estrutura cognitiva do ser humano e usarem uma prática educativa que diversifica instrumentos, avalia habilidades e procura subsidiar seu fazer pedagógico através dos resultados coletados. Mas, embora tenha-se observado uma diversificação dos instrumentos avaliativos, nota-se que estes não têm objetivos claros e definidos, haja vista que os professores não buscam identificar inteligências diversas, reforçando em suas práticas somente a linguística e a lógicomatemática. Portanto, propõe-se a pesquisa sobre a Teoria das Inteligências Múltiplas por ser dotada de informações importantes acerca da inteligência humana, da pluralidade da mente e da valorização das diferenças.
De posse desse conhecimento, o educador observará melhor seus educandos para identificar suas habilidades e deficiências e, com base no resultado das observações, buscará formas diversificadas para apresentar os componentes curriculares e estimular o maior número possível de competências, permitindo que os alunos aprendam usando os pontos fortes de cada um; estará também atento às diferentes maneiras em que eles exibem as inteligências, bem como levará esses aspectos em consideração nos vários momentos em que efetivar as avaliações, utilizando instrumentos diversificados.
Nessa perspectiva, o papel do educador será redefinido e ele passará de mero repassador de informações para um colaborador, inovador, que sugere, aceita e interage diretamente na evolução do educando. Este, por sua vez, é o centro do processo, em torno do qual os demais instrumentos trabalham para auxiliá-lo por meio de múltiplas interações e interfaces, facilitadas e estimuladas constantemente para que ele construa, por si mesmo, sua aprendizagem.
Por isso é que consideramos imprescindível a elaboração e a implementação de práticas educativas inovadoras, atrelada a uma atuação pedagógica que esteja em sintonia com a Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner e assim, apesar dos conflitos, paradoxos, fissuras, reminiscências, produzamos vozes que formem a sinfonia do cenário escolar para provocar novos ares às práxis da avaliação.
Referências
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