DESAFIOS DA EDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DE DIFERENTES REGIÕES DO BRASIL
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DE DIFERENTES REGIÕES DO BRASIL
Revista Internacional de apoyo a la inclusión, logopedia, sociedad y multiculturalidad, vol. 2, núm. 2, pp. 120-131, 2016
Universidad de Jaén
Recepção: 01 Março 2016
Aprovação: 25 Março 2016
Resumo: A situação da educação é bastante variável nas diferentes regiões do Brasil, mas alguns desafios parecem ser comuns a todo o território nacional. Neste trabalho, discutimos alguns destes problemas a partir da percepção de professores espalhados pelo país. Foi realizada uma enquete com 37 professores brasileiros cursistas da disciplina “Educação Comparada” do mestrado em Ciência da Educação da Universidade Autônoma de Assunção. Em sala de aula, os professores foram separados em duplas e solicitados que apontassem os principais problemas da prática docente no Brasil. Foram contabilizadas e discutidas as palavras-chaves mais citadas, em que os empecilhos mais apontados para uma educação de qualidade foram: “sistema”, “infraestrutura”, “gestão”, “salários”, “formação profissional” e “família”. Posteriormente, 7 meses depois, foi aplicado um questionário online composto por três perguntas para que os mesmos professores respondessem. A análise do questionário revelou resultados similares à enquete anterior. Tanto para questões relacionadas à educação numa escala ampla, como para a prática diária, os entrevistados citaram problemas de ordem mais conjuntural e de ordem sóciopolítica do que aspectos estritamente relacionados à dinâmica em sala de aula. Neste contexto, discutimos a ligação entre alguns destes elos da cadeia educacional. Palabas clave: Desafios da Educação, Professores, Gestão Escolar, Sociologia da Educação
Abstract: The situation of education is quite variable in different regions of Brazil, but some challenges seem to be common to all the national territory. In this paper, we discussed some of these issues from the perception of teachers around the country: a sample composed by 37 Brazilian teachers, participants of the "Education Compared" course of the masters in Science education at the Autonomous University of Asuncion. In the classroom, teachers were separated in pairs and asked to point the main problems of the teaching practice in Brazil. The keywords most cited were accounted and discussed, where the obstacles more pointed to a quality education were: "system", “infrastructure”, “management”, “salaries”, “professional training” and “family”. Later, 7 months later, an online questionnaire was made up of three questions for the same teachers. The analysis of the questionnaire revealed results similar to previous poll. Whatever for issues related to education in a wide range, or for daily dynamics, respondents cited more economic problems and socio-political order than aspects strictly related to classroom. In this context, we discussed the relationship between some of these educational factors .
Keywords: Problems of Education, Teachers, School management, Sociology of.
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DE DIFERENTES REGIÕES DO BRASIL
1.- Introdução.
No âmbito educacional, há diferentes conjunturas ao redor do mundo, cada localidade com diferentes formas de pensar e agir em relação ao desenvolvimento da educação, o que influencia os níveis de investimentos públicos, formação profissional, valorização da educação e dos profissionais da área, utilização de tecnologias, planejamento para a diversidade, infraestrutura, currículo básico, entre outros itens que interferem nos resultados da educação na região. No Brasil, é possível encontrar diversos cenários educacionais, e diferentes níveis de desenvolvimento nesta área, porém, alguns desafios são comuns ao longo do país.
Muitos fatores podem interferir nos resultados educacionais. Por exemplo, de acordo com Sonia Penin (1995, p. 16), algumas dimensões que constituem o cotidiano escolar são: o espaço, a organização dos materiais e do tempo, a relação professoraluno, a comunicação família-escola, a metodologia de ensino, a gestão, esses são, as quais se ligam a outros níveis da realidade em escala local e global.
Reconhecer e refletir sobre tais dificuldades aumenta a capacidade de lidar com elas. Através da auto-avaliação é possível adotar novas posturas e práticas, para que seja possível alcançar novos resultados. Assim, é importante refletir: quais são os principais empecilhos para o desenvolvimento da educação no Brasil?
O professor é uma peça chave do ambiente educacional, influenciando diretamente o processo de ensino-aprendizagem através de suas reflexões, decisões e ações, por exemplo, a partir de sua expressão, metodologia, maneira de priorizar os conteúdos e currículo, forma de avaliar, valores, visão social, atitudes. Além disso, o professorpesquisador, com sua dinâmica de ação-reflexão-ação, é um dos participantes da comunidade escolar em melhor condição para discutir sobre os desafios no alcance de uma educação de qualidade, pois possuem uma formação acadêmica e prática profissional adequada (Paulo Freire, 1997). Neste sentido, levamos em conta as percepções de professores de diferentes regiões do Brasil a respeito de sua prática como ponto de partida para discutir as principais dificuldades da educação nacional.
Neste trabalho, apresentamos aspectos que geram dificuldades para o desenvolvimento da educação brasileira a partir de relatos de professores e discutimos sobre as questões conflitantes e algumas perspectivas para a melhoria da educação nacional de acordo com a visão docente.
2.- Metodologia.
Para investigar algumas dificuldades da educação brasileira, analisamos relatos de professores através de uma abordagem qualitativa (enquete e formulário online), em que é mais importante o aprofundamento da compreensão de um grupo social ou uma organização do que a representatividade numérica (Goldenberg, 1997, p. 34). Segundo Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Além disto, esta pesquisa é exploratória, pois tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses (Gil, 2007).
2.1.- Sujeitos do estudo.
O grupo de professores pesquisado foi composto por homens (N=7) e mulheres (N=11), 77,8% da rede pública municipal e estadual, nas diversas disciplinas da formação no ensino básico. A amostra que participou voluntariamente do questionário representa opiniões de professores que atuam nas diversas regiões do país, exceto da região sul, (Norte: 4; Nordeste: 5; Centro-oeste: 2; Sudeste: 7; Sul: 0). A maioria dos professores mostrou uma razoável experiência de ensino, 11 deles tinham mais de 11 anos na área de ensino.
2.2.- Coleta e análise de dados.
O ponto de partida e provocação para esta discussão aconteceu em uma aula de mestrado em ciências da educação, durante a disciplina Educação Comparada com o professor Dr. Tomás J. Campoy, na Universidade Autônoma de Assunção, no Paraguai, onde aconteceu uma enquete sobre as dificuldades na educação.
A enquete presencial foi realizada em janeiro de 2015 e teve a participação de 43 alunos, sendo 37 professores brasileiros de diversos estados e regiões do Brasil, 1 coreano, 3 angolanos e 2 brasileiros que atuam em outras áreas profissionais. Durante a disciplina Educação Comparada, o professor espanhol Dr. Tomás Campoy propôs que a turma de mestrandos em educação se dividisse em duplas e apontassem as principais dificuldades da educação, conforme suas realidades.
Com o objetivo de fazer um estudo um pouco mais específico com relação às dificuldades na educação brasileira foi aplicado um questionário¹ por meio da ferramenta “formulários” do Google Drive (Google®), com perguntas relacionadas ao debate, utilizando as respostas anteriormente citadas como alternativas das questões. Para responder o formulário foi feito um filtro no grupo, e os convidados a participarem foram apenas os professores brasileiros. Assim, a partir dos dados obtidos na enquete, foi aplicado um formulário fechado, que ficou acessível apenas aos 37 professores brasileiros durante dez dias na internet.
Percebeu-se que nem todos os convidados puderam responder ao formulário por motivos diversos: alguns não observaram a comunicação, dificuldades de acesso a internet, dificuldades no uso da tecnologia, falta de motivação para participar da pesquisa, falta de atenção ao prazo de respostas, entre outros, que resultou em um número de 18 participantes, o que representa a opinião de quase 50% dos docentes que compõe o grupo.
O trabalho contou com investigação bibliográfica para verificar o que autores e pesquisadores compreendem sobre os dilemas e dificuldades e da educação, em que foI dada atenção especial a alguns diagnósticos e estudos encontrados em relatórios nacionais e internacionais. Do ponto de vista nacional, a pesquisa usou como referência as publicações do MEC (Ministério da Educação) e INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas). Quanto à visão internacional, foram obtidas informações através do Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos (EPT), autorizado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), resultado de um esforço colaborativo, envolvendo agências, instituições e governos.
O citado relatório é uma publicação baseada no “Fórum Mundial de Educação em Dakar, no Senegal, em 2000, governos de 164 países, junto com representantes de grupos regionais, organizações internacionais, agências financiadoras, organizações não governamentais (ONGs) e sociedade civil, adotaram um Marco de Ação para lançar os compromissos de EPT. O Marco de Dakar compreende seis objetivos e suas respectivas metas a serem alcançadas até 2015, além de 12 estratégias com as quais todas as partes envolvidas deveriam contribuir” (UNESCO, 2015). As informações obtidas nos formulários e revisão bibliográfica possibilitaram analise e reflexão sobre as dificuldades da educação.
3.- Resultados e discussão.
Apesar de cada contexto traduzir a sua realidade, ou seja, apesar dos diferentes cenários educacionais ao longo do Brasil, existem evidências de que algumas das dificuldades enfrentadas nas instituições educativas ocorrem de forma global. Alguns pontos de tensão têm sido motivos de conflitos para os professores e dificultado a prática cotidiana do ensino nas diversas regiões do país.
O resultado da enquete presencial aponta diversos fatores como dificuldades da educação, todos retratam situações relevantes e pertinentes vividas dentro da realidade educacional. Entre as dificuldades apontadas com maior frequência estão: “Sistema” (organizacional e político), “Infraestrutura”, “Gestão”, “Salários”, “Formação profissional” e “Família” (tabela 1).
DIFICULDADES NA EDUCAÇÃO NAS REGIÕES E CONTEXTOS DOS MESTRANDOS: Ranking Dificuldades apontadas pelas duplas Quantidade / Dificuldade. 1º Sistema 12 Infraestrutura 12 2º Gestão 11 3º Salário 10 4º Formação 9 Família 9 5º Democracia 5 Aluno/professor (Recursos Humanos) 5 6º Evasão 3 Compromisso 3 Diversidade 3 7º Enfermidade profissional 2 Avaliação 2 Carga Horária 2 Desvalorização da Educação 2 8º Corrupção 1 Aprendizagem 1 Escolarização 1 Inovação 1 Indisciplina 1 Importar tabla
Tabela 1 - Resultado da enquete com turma de mestrandos em educação.
Através de um questionário fechado e com a opção de escolher apenas três itens os professores foram novamente confrontados com a pergunta: Quais as maiores dificuldades encontradas na educação em sua região? Novamente a gestão foi apontada como um dos maiores problemas, a questão salarial foi colocada em destaque, empatadas em primeiro lugar, em seguida a desvalorização dos profissionais de educação, e em quarto o sistema político (Tabela 2).
DIFICULDADES DA EDUCAÇÃO DE ACORDO COM A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES BRASILEIROS
Questão 1 Quais as maiores dificuldades encontradas na educação em sua região? (Global) Questão 2 Quais destes itens interferem mais na sua prática de ensino do dia-adia? (Cotidiano) Dificuldades # % # % Gestão 10 55,3 6 33,3 Salários 10 55,3 4 22,2 Desvalorização dos profissionais 7 38,9 6 33,3 Sistema Político 6 33,3 4 22,2 Infraestrutura 3 16,7 5 27,8 Compromisso/ Motivação 4 22,2 4 22,2 Formação de Professores 4 22,2 2 11,1 Indisciplina 1 5,6 5 27,8 Carga Horária 3 16,7 5 27,8 Família 3 16,7 2 11,1 Planejamento para a Diversidade 1 5,6 2 11,1 Evasão 1 5,6 2 11,1 Relacionamento professor/aluno 0 0 2 11,1 Inovação e criatividade 2 11,1 2 11,1 Enfermidade profissional 0 0 1 5,6 Avaliação 1 5,6 1 5,6 Democracia 0 0 0 0 Importar tabla
Tabela 2 – Respostas dos professores ao formulário paras as questões 1 e 2.
A aplicação do formulário aconteceu cerca de sete meses depois da enquete realizada anteriormente, sem nenhuma menção à discussão realizada durante a disciplina educação comparada, porém os resultados de ambos são semelhantes, apontando como maiores dificuldades da educação nas diversas regiões do Brasil: “Gestão”, “Salários” e “Sistema político”. “Infraestrutura” havia empatado com o primeiro lugar na enquete anterior, caiu de posição, dando lugar à “desvalorização dos profissionais de educação”.
A segunda pergunta representa uma visão menos global da educação, a prática de ensino dos professores: será que na prática de ensino do dia-a-dia, estes problemas interferem com o mesmo grau de prioridade? (tabela 2).
A intenção de se perguntar sobre a prática de ensino no cotidiano foi abordar a situação educacional num contexto bem mais restrito. A partir desta nova abordagem percebemos que a gestão continua sendo uma dificuldade, juntamente com a desvalorização dos profissionais de educação, seguidos por infraestrutura e indisciplina empatados, e, posteriormente, sistema politico, salários e carga horária.
De acordo com as respostas, percebe-se como os diversos fatores, em diferentes escalas, estão interligados, os problemas globais (na escala macro) da educação não estão desconectados dos problemas enfrentados no cotidiano dos professores, e especificamente em sala de aula (na escala micro), portanto não são esquecidos dentro da prática de ensino.
A vida não acontece como uma peça de teatro onde os problemas são deixados da porta pra fora quando se abrem as cortinas, ao contrário, quando se abrem as cortinas da sala de aula o problema com a gestão, a desvalorização profissional, a questão salarial, entre outros, continua afetando diretamente nos resultados, afinal todos os atores do palco educacional são também sujeitos sociais.
Outro ponto destacado é a indisciplina, um tipo de comportamento que “sempre existiu, mas a opressão que o professor exercia sobre os alunos – na “educação de antigamente” –, era maior que a existente na atualidade, e o aluno que estava sendo formado era diferente do atual”. Brito e Santos (2009). De fato, o aluno de hoje não é o mesmo de antes, a sociedade mudou bastante, e quando tratamos deste assunto, percebemos que outras variáveis aparecem indiretamente ligadas, tais como: família, sociedade, violência, realidade social, entre outras.
Os professores também foram questionados sobre o que interfere mais no planejamento (anual, bimestral, aula). A gestão mais uma vez foi citada como tendo uma grande participação, interferindo através das normas e imposições, empatando com os interesses e motivações dos alunos. De acordo com as respostas, outro ponto a se discutir quando se fala em planejamento é a infraestrutura da escola, esta também tem um papel importante na hora do planejamento, (tabela 3).
DESAFIOS DO PLANEJAMENTO DE ACORDO COM A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES.
Questão 3
Quais destes itens interfere mais no seu planejamento (plano anual, bimestral, plano de aula)?
Tabela 3 – Respostas dos professores ao formulário para a questão 3.
Gestão Escolar.
Gestão escolar foi citada pelos professores como um dos maiores desafios na educação, como dificuldade na prática de ensino cotidiana dos professores e também como interferência no planejamento do professor através das imposições.
“Entende-se por gestão da educação o processo político-administrativo contextualizado, por meio do qual a prática social da educação é organizada, orientada e viabilizada” (Bordignon; Gracindo, 2001, p. 147). Conforme esta definição, a gestão é um apoio fundamental às ações dentro das instituições de ensino, porém esta gestão parece deficiente e conflituosa de acordo com a percepção dos professores. Provavelmente, as dificuldades do trabalho de gestão educacional começam no relacionamento com a comunidade escolar e no entendimento do papel da gestão pelos próprios gestores.
A sociedade atual exige uma nova forma de administração das instituições educativas. Para Luís Fernando Dourado (2006), “a efetivação de novas dinâmicas de organização e gestão escolar, baseadas em processos que favoreçam a participação coletiva na tomada de decisões, é fundamental para que a escola cumpra com as suas finalidades sociais. A participação efetiva de todos os membros da comunidade escolar e local é a base para a democratização da escola e de sua gestão”.
De acordo com o debate dos professores durante a enquete presencial, os gestores da atualidade ainda não absorveram os modelos descentralizados de gestão, isto promove conflitos entre eles e a comunidade escolar. Segundo relatos, a hierarquia é ainda muito presente e arbitrária, sendo a maior parte das decisões trazidas de cima para baixo, dificultando assim a prática da gestão democrática.
A gestão democrática implica, portanto, a efetivação de novos processos de organização e gestão, baseados em uma dinâmica que favoreça os processos coletivos e participativos de decisão (Dourado, 2006, pag. 59). De acordo com o Relatório EPT (UNESCO, 2015), a descentralização na educação visa a melhorar a qualidade, fortalecendo a responsabilização entre escolas e comunidades locais. Os resultados dependem de diversos fatores como alocação financeira, recursos humanos, liderança escolares forte, envolvimento dos pais e apoio de funcionários do governo.
Observa-se que gestão escolar é algo de extrema importância no processo educacional. É necessário que os papéis da gestão estejam bem claros, e que esta assuma uma posição mais democrática e participativa, assim, as responsabilidades podem ser mais divididas entre os envolvidos em todo processo educativo.
O Profissional da educação.
As respostas do grupo pesquisado também levam a discussão para as dificuldades sofridas pelos profissionais da educação, principalmente: salários, desvalorização dos profissionais da educação, compromisso/motivação, formação docente. Salário e desvalorização profissional nesta pesquisa estiveram entre os itens mais apontados como dificuldade na educação e na prática docente do dia-a-dia. A valorização do profissional da educação reflete o grau de importância que está sendo dada à educação.
O Marco de Dakar recomenda o investimento na qualidade da educação: “Políticas que aumentam o profissionalismo e a motivação de professores deveriam ser prioritárias.” Segundo o relatório, os governos devem melhorar a formação dos professores e alocá-los de forma mais justa oferecendo incentivos na forma de salários apropriados e criar carreiras atraentes, (UNESCO, 2015) .
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelece que os sistemas de ensino devem promover a valorização dos profissionais da educação, através de aperfeiçoamento profissional continuado; piso salarial profissional; progressão funcional considerando titulação, habilitação e desempenho; período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho; condições adequadas de trabalho. (LDB, Lei nº 9394/96).
Infraestrutura.
Infraestrutura é uma das primeiras características possíveis de se perceber ao visitar uma instituição educativa. Este aspecto é ainda mais sentido pelas pessoas que desenvolvem atividades nestes espaços. As respostas dos professores reportaram aos problemas de infraestrutura existentes em escolas diversas.
“Muitas crianças frequentam escolas cujas condições não são favoráveis ao aprendizado – sem água potável, instalações para lavar as mãos e banheiros limpos e seguros” O Marco de Dakar estabelece como estratégia: ambientes educacionais seguros, saudáveis, inclusivos e homogeneamente equipados, capaz de contribuir para o alcance de objetivos relacionados à equidade de gênero e à boa qualidade da educação. Pode-se considerar também parte da infraestrutura a implantação de tecnologias. De fato, o potencial das tecnologias de informação e comunicação (TIC) também são enfatizados pelo Marco de Dakar para a EPT. (UNESCO, 2015).
Provavelmente, quanto melhor a infraestrutura é possível proporcionar aos alunos experiências diversas: o uso de tecnologias, laboratórios, aulas práticas, esportes, espaços confortáveis, entre outros. Esta questão passa prioritariamente pelos interesses e investimentos privados ou públicos. As instituições particulares tendem a investir bastante nesta área, pois assim conseguem atrair um maior número de alunos. No caso das instituições públicas, dependem dos investimentos públicos, ficando a mercê dos interesses políticos.
Sistema Político.
Grande parte da responsabilidade sobre as dificuldades, de acordo com as opiniões dos professores, cai em cima do sistema político. As decisões tomadas pelas esferas federais, estaduais e municipais têm grande influência nos resultados da educação. Observa-se também que nem sempre as pessoas determinadas para assumir as secretarias de educação ou outros órgãos estão preparadas para exercer a função. Em consequência disto, muitas decisões importantes acabam sendo estabelecidas e impostas sem a participação democrática, havendo assim uma grande carência na construção e planejamento a nível local, baseada nas características regionais, ou seja, contextualizado com a cultura da região.
“O século XX foi marcado pela expansão das oportunidades de educação em todo o mundo. Foi o século da educação, e o papel do Estado na promoção da educação pública foi decisivo. Entretanto, na virada do milênio, os esforços para reduzir o papel do Estado no campo da educação provocaram mudanças rápidas nessa área, especialmente no que diz respeito ao papel que ela desempenha na democracia” (Olmos e Torres, 2012, Pág. 90).
Segundo o Marco de Dakar a corrupção continua sendo um problema nos sistemas políticos e deve ser drasticamente combatida. De acordo com UNESCO (2015) as Organizações da sociedade civil (OSCs) desempenharam um papel importante na contenção de práticas de corrupção. Os prejuízos desta prática são sentidos principalmente pelos mais pobres, que geralmente têm menos escolhas quanto ao acesso a serviços fora do setor público.
Segundo o relatório, “não é suficiente simplesmente destinar mais recursos domésticos à educação: os recursos devem ser gastos de forma equitativa. Isso significa direcionar os gastos públicos aos grupos que estejam mais distantes de alcançar os objetivos de EPT, como as pessoas mais pobres, as com deficiências, as que moram em áreas remotas e as minorias étnicas”. (UNESCO, 2015)
Para as autarquias políticas, o relatório de monitoramento de EPT deixa uma série de recomendações, destacamos algumas delas: 1) Investir na qualidade da educação; 2) reforçar o financiamento da educação e destinar recursos aos mais marginalizados; 3) aumentar o foco na equidade. (UNESCO, 2015).
4.- Conclusão.
Educação é um tema bastante complexo, que possui diversos desafios. Através deste estudo foi possível vislumbrar um pouco da visão dos professores sobre os dilemas e desafios da educação.
Conforme o que foi apresentado, observou-se o quanto a gestão influencia as instituições e as atuações dos professores dentro delas, porém as gestões não atuam sozinhas e estão sujeitas a autarquias de poderes superiores governamentais. Aos sistemas políticos cabem as principais decisões quanto aos investimentos em infraestrutura, salários, capacitações, valorização dos profissionais da educação, entre outros.
Porém, não devemos esquecer-nos do papel dos profissionais da educação, especialmente os professores, no enfrentamento dos diferentes desafios educacionais do país. Como disse um professor que contribuiu com a pesquisa: “não podemos simplesmente culpar gestão ou sistema, devemos nos dedicar inovando nosso processo de ensino e acreditar que a educação vai melhorar no passar dos anos. Nosso compromisso é grande”. Para o professor é mais simples culpar a gestão como dificuldade do que assumir as carências de sua própria formação, é mais fácil dizer que não executa uma aula mais dinâmica por falta de infraestrutura, jogar a culpa da falta de motivação no salário que é definido pelo sistema, e até jogar a culpa na sociedade, na família e nos alunos.
É importante salientar que algumas destas variáveis não deveriam ter tanta influência na prática de ensino do dia-a-dia, por exemplo, o salário não estar adequado não deve servir de justificativa para que a aula não seja planejada, a gestão pode até direcionar as normas e regras da escola, porém existe um limite que determina a liberdade do professor em criar e adotar suas próprias estratégias.
Um dos professores participantes da pesquisa expressou: “Que se repensasse numa educação para todos e com qualidade. Somente através de uma boa educação nossa sociedade vai conseguir ser transformada, pois seres humanos munidos de uma boa educação conseguem ser verdadeiros cidadãos”.
De acordo com o Relatório de Monitoramento Global da EPT desde o ano 2000 muito foi alcançado, é necessário que os esforços continuem para garantir educação de qualidade e aprendizagem para todos, pois não há investimento mais poderoso ou duradouro do que o que é feito em inclusão social, dignidade e direitos humanos, e no desenvolvimento sustentável (UNESCO, 2015). Neste sentido o Brasil “vivencia, desde o final do século XX, um período de melhoria significativa em todos os indicadores que medem as oportunidades de acesso, permanência, aprendizagem e conclusão da educação básica.” (Silva, 2011).
Por uma educação de qualidade para todos, é importante conhecer as dificuldades não como uma forma de encontrar culpados para os problemas, sim como um meio para se encontrar soluções e construir uma nova história.
Referências
Bordignon, Genuíno. (2004) Conselhos Escolares: uma estratégia de gestão democrática da educação pública. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria da Educação Básica.
Dourado, Luiz Fernandes. (2006). Gestão da educação escolar. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica, Brasília : Universidade de Brasília, Centro de Educação a Distância. 88 p. – Curso técnico de formação para os funcionários da educação. Profuncionário; 6
Freire, Paulo. (1997). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra.
Gil, A. C. (2007). Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas.
Goldenberg, M. (1997). A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, Minayo, M. C. S. (2001). (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes.
Olmos, Liliana Esther e Torres, Carlos Alberto. (2012) Teorias do Estado, Expansão Educacional, Desenvolvimento e Globalizações: Abordagens Marxista e Crítica. Educação comparada: panorama internacional e perspectivas; volume um. organizado por Robert Cowen. Andreas M. Kazamias e Elaine Ulterhalter. – Brasília: UNESCO. CAPES.
Penin, Sonia Teresinha de Sousa. (1995). Cotidiano e escola: a obra em construção. São Paulo: Cortez, 2ª ed.
Silva, Maria do Pilar Lacerda Almeida. (2011). A Educação Básica, Avanços e Desafios. Secretária de Educação Básica. Ministério da Educação.
UNESCO. (2015). Relatório de Monitoramento Global de EPT 2000-2015. França: Paris.