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CODAS: Aquisição da linguagem bimodal
CODAS: Adquisición del lenguaje bimodal
CODAS: Acquisition of bimodal language
Simbiótica. Revista Eletrônica, vol. 5, núm. 2, pp. 40-59, 2018
Universidade Federal do Espírito Santo

Artigo


Resumo: O presente trabalho discute sobre a aquisição da linguagem, enfocando a condição bilíngue bimodal de uma criança CODA inserida em uma família bimodal - o pai da criança é ser surdo usuário da Língua Brasileira de Sinais - Libras e a mãe ouvinte usuária da língua portuguesa e proficiente na Libras. Apresenta a análise das transcrições de duas gravações cedidas pelo Núcleo de Aquisição da Língua de Sinais - NALS, da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, com o intuito de descrever o nível de desenvolvimento da aquisição da linguagem bimodal, estabelecendo um paralelo entre o nível de produção nas duas modalidades de língua apresentando a hipótese de a criança se apropriar de uma modalidade em suas interações comunicativas.

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Palavras-chave: Aquisição da Linguagem, Linguagem Bimodal, CODAS, Mistura de Código.

Resumen: El presente trabajo discute sobre la adquisición del lenguaje, enfatizando la condición bilingüe bimodal de un niño CODA insertado en una familia bimodal - del padre del niño ser sordo usuario de la Lengua Brasileña de Señales - LIBRAS y la madre oyente usuaria de la lengua portuguesa y competencia en LIBRAS. Presenta el análisis de las transcripciones de dos grabaciones cedidas por el Núcleo de Adquisición de la Lengua de Señales - NALS, de la Universidad Federal de Santa Catarina - UFSC, con el propósito de describir el nivel de desarrollo de la adquisición del lenguaje bimodal, estableciendo un paralelo entre el nivel de producción en las dos modalidades de lengua presentando a hipótesis del niño apropiarse de una modalidad en sus interacciones comunicativas.

Palabras clave: Adquisición del Lenguaje, Lenguaje Bimodal, CODAS, Combinación de Código.

Abstract: The present work discusses the acquisition of language, focusing on the bimodal bilingual condition of a CODA child inserted in a bimodal family - the child 's father is deaf user of the Brazilian Sign Language - Libras and the mother user listener of the Portuguese language and proficient in Libras. It presents the analysis of the transcriptions of two recordings provided by the Nucleus of Acquisition of Sign Language - NALS, Federal University of Santa Catarina - UFSC, with the purpose of describing the level of development of bimodal language acquisition, establishing a parallel between the level of production in the two modalities of language presenting of hypothesis of the child appropriating a modality in their communicative interactions.

Keywords: Language Acquisition, Bimodal Language, CODAS, Code Mix.

Aquisição da linguagem

A aquisição da linguagem é o processo pelo qual a criança aprende sua língua materna, portanto há boas razões para afirmar que esse processo de aquisição da primeira língua é a maior façanha de um processo individual que podemos realizar durante toda a vida, principalmente em se tratando de aquisição bilíngue bimodal2 por uma criança ouvinte filha de pais surdos.

Muitos são os estudos sobre a aquisição da linguagem, sendo esse processo uma das tarefas centrais da linguística. Porém, poucos são os estudos voltados à aquisição da linguagem por CODAs, entre eles destacamos: Baker & Van Den Bogaerde (2008), Van Den Bogaerde & Baker (2009), Cruz & Finger (2013), Quadros, Lillo-Martin & Chen Pichler (2014). No Brasil, os estudos na área foram iniciados pelo Núcleo de Pesquisa em Aquisição

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de Línguas de Sinais - NALS3, da Universidade Federal de Santa Catarina, coordenado pela professora e pesquisadora Dra. Ronice Muller de Quadros.

A linguagem é instrumento de adequação do indivíduo à sociedade como meio de comunicação e transmissão de ideias. A linguagem é um fenômeno social da interação verbal (BAKHTIN, 2003), que se une ao convívio social como construtor das práticas sociais condicionadas e da identidade psicológica do ser humano. Por estar exposta a um ambiente bilíngue bimodal, a criança tem acesso à riqueza do input linguístico, que favorece a aquisição e o desenvolvimento de duas línguas maternas e duas identidades, simultaneamente.

A criança participante deste estudo é filha de pai surdo fluente em Libras e de mãe ouvinte também fluente em Libras. Essa língua é usada em casa tanto pelo pai quanto pela mãe. A mãe sinaliza com a criança, mas também usa a língua portuguesa, enquanto o pai somente sinaliza com o filho e lembra-o constantemente de que é surdo, pedindo a ele para usar a língua de sinais. A criança sinaliza tanto com o pai quanto com a mãe. Entretanto, gradativamente, ao longo do período de filmagem realizada, entre 1 e 4 anos de idade, ela começou a sinalizar mais com o pai do que com a mãe. Ela usa o modo bimodal tanto com o pai, como com a mãe, ou seja, faz sinais e produz palavras do português simultaneamente, embora, normalmente, faça isso com mais frequência com a mãe do que com o pai.

A criança também frequentava a creche, onde apenas usava a língua portuguesa, e esse era o seu espaço de convivência com outras crianças ouvintes, pois, fora do horário escolar, convivia com os pais interagindo em Libras. Por volta dos 3 anos de idade, os pais adotaram uma menina surda que já tinha 5 anos de idade e também usava a Libras. Então, a criança passou a usar a Libras também com a irmã surda. Nesse periodo de filmagem, a criança conviveu com outros surdos que se relacionavam com a família através de idas à igreja e de espaços frequentados por surdos. Nesses encontros, também teve a oportunidade de encontrar com outras crianças CODAs.

Nesse contexto, a abundância de input, seja de natureza explícita por meio de intruções verbais durante atividades, assim como por meio de histórias que expressam valores culturais, seja de natureza implícita, por meio de participação em interações verbais ou brincadeiras e jogos, possibilita à criança prematuramente o acesso antes mesmo de aprender a falar ou a sinalizar valores, crenças e regras. Dessa forma, a criança surda adquire também o conhecimento da cultura surda e da cultura ouvinte, possibilitando que alcance nível linguístico e congnitivo mais elevado, além de estender seu campo de socialização, integrando-se em ambas as comunidades, surda e ouvinte.

O primeiro choro da criança, ao nascer, seria o marco da aquisição da linguagem por uma criança. A criança desenvolve sua linguagem posteriormente por meio de suas percepções do ambiente. Estando cercada por uma família bilíngue bimodal, obviamente a criança desenvolve já nos primeiros momentos de vida, sua condição bilíngue de acordo com a fase em que se encontra, tentando se comunicar em ambos os contextos. Assim, a criança encontra na família modelos linguísticos com os quais se identifica, construindo sua subjetividade em duplicidade, pois há uma espécie de um processo de transposição coletiva que contribui para seu desenvolvimento se tornar estável, pois as funções sociais se transformam em funções pessoais. Dessa forma, o desenvolvimento da criança depende da presença do outro, que se constitui como modelo de identificação para a construção do seu eu.

Sendo assim, a criança se desenvolve em um ambiente privilegiado, ao contrário do que ocorre com a maioria das crianças surdas filhas de pais ouvintes, que vão encontrar esse modelo de identificação na escola, conforme Rangel & Stumpf (2004). As autoras afirmam que os professores surdos desempenham o papel de interlocutor e modelo adulto para a construção da identidade dessas crianças. No caso em questão, a criança encontra, no seio da família, os modelos a partir dos quais constrói suas relações com o outro, sendo o pai surdo modelo para a construção da identidade e da subjetividade surda, e a mãe ouvinte modelo para a identidade ouvinte.

O que se observa é que a própria família constitui a zona de fronteira onde a língua de sinais e a língua portuguesa estabelecem a interação em uma relação recíproca, tornando fértil o terreno para o desenvolvimento linguístico da criança.

Estágio de aquisição da linguagem

Sabemos que o cérebro do bebê muda consideravelmente depois do nascimento, passando por várias fases distintas, que correspondem aos estágios de aquisição da linguagem. Essas fases se caracterizam pela migração dos neurônios para suas posições no cérebro, pela alteração do peso do cérebro, pelo aumento da espessura do córtex cerebral (PINKER, 2002). Assim, segundo Pinker (2002), a aquisição da linguagem depende de certa maturação cerebral, sendo que cada estágio de aquisição exige níveis mínimos de tamanho cerebral, de conexões à longa distância e de sinapses, particularmente nas regiões responsáveis pela linguagem. Para Quadros (2008), isso se constitui em um processo bastante similar para crianças adquirindo diferentes línguas, em que as crianças apresentam os mesmos estágios, basicamente na mesma idade, quando em condições normais de aquisição.

O estágio de aquisição inicial da linguagem está dividido em duas fases: pré-linguística e linguística. A primeira fase iniciada pelo “balbucio”, cujos primeiros sons emitidos pelo bebê não apresentam nenhum significado, porém evoluem constantemente, apresentando uma organização progressiva. O balbucio se inicia com vogais anteriores e consoantes guturais e, somente por volta dos seis meses, o padrão silábico do balbucio passa a ter uma organização CV - consoante-vogal -, e a criança passa a usar sílabas duplicadas e articular consoantes anteriores (QUADROS, 2008). Segundo Allport (1924 apud STILLINGS, 1987), o balbucio sinaliza o começo da habilidade de comunicação linguística da criança, embora o balbucio não dependa do ambiente e das línguas com as quais os bebês estão em contato. Essa é uma característica apresentada por todos os bebês como fruto da capacidade inata da linguagem, por isso é considerada um comportamento interno e não uma resposta aos estímulos externos à criança.

Petitto & Marentette (1991 apud QUADROS, 2008) afirmam que o balbucio é um fenômeno que ocorre com os bebês surdos, assim como ocorre com os bebês ouvintes, apresentando características semelhantes em suas produções vocálicas e manuais. No entanto, nos bebês surdos foram identificados dois tipos de balbucio manual: o silábico e a gesticulação. As autoras observaram que, assim como os bebês ouvintes vão organizando o balbucio vocálico até formar a combinação de CV, os bebês surdos, quando expostos à língua de sinais, vão organizando o balbucio silábico com combinações características do sistema fonológico das línguas de sinais; as autoras afirmam ainda que tanto os bebês surdos quanto os bebês ouvintes apresentam os dois tipos de balbucio até um determinado estágio, momento em que cada um passa a desenvolver o balbucio de sua modalidade de língua.

Assim como ocorre com o bebê surdo que desenvolve o balbucio oral e manual simultaneamente ou posteriormente, quando em ambientes com pessoas que usam a língua de sinais, e a partir de determinado estágio passa a desenvolver o balbucio dessa modalidade de língua, abandonando o balbucio oral, o bebê CODA exposto a um ambiente bilíngue bimodal desenvolverá as duas modalidades de balbucio simultaneamente, até concluir esse estágio de desenvolvimento linguístico.

A segunda fase, o estágio linguístico, inicia-se por volta de um ano de idade, passa a ser o estágio de uma palavra, que se caracteriza pela produção de palavras relacionadas ao seu ambiente, cujos tipos variam entre substantivos e verbos (BROWN, 1973), produzindo também palavras de sentido genérico, isto é, palavras que se referem a determinados “seres” animados ou inanimados. Além disso, nessa fase, nota-se que as crianças expressam significados com suas expressões, desse modo uma palavra pode representar uma sentença, um pensamento, o que Quadros (2008) denomina de “estágio holofrásico”.

Nesse processo de aquisição e produção de palavras, em um estágio superior de desenvolvimento, já não são mais produzidas palavras soltas, e sim palavras com significado de sentenças. Através do armazenamento do léxico e de sua capacidade inata para a linguagem, a criança passa a produzir mais palavras sucessivas, entrando no estágio de duas palavras, associando sujeito, verbo e objeto, quando começa o surgimento da sintaxe.

Posteriormente, no estágio de múltiplas combinações, a criança começa a classificar as palavras, e percebe-se o aumento da complexidade da gramática que gerencia essas palavras; mesmo assim, o discurso das crianças nesse estágio da aquisição da linguagem é descrito como “discurso telegráfico”, pela omissão de pequenas palavras e elementos de ligação.

Tendo o pressuposto de que a aquisição da linguagem é inata, Lennenberg (1967) propõe a existência de um período crítico de aquisição da linguagem que se inicia por volta dos dois anos e se encerra por volta da puberdade por concluir que, nesse período, o cérebro humano inicialmente tem representação bilateral das funções da linguagem e, mediante o processo de aquisição, na puberdade, apenas um hemisfério se torna mais dominante em relação às funções da linguagem, completando o período de aquisição (QUADROS, 2008).

O termo “palavra”, usado neste trabalho, refere-se ao termo “sinal” no caso da aquisição da linguagem por crianças surdas ou CODAs em ambientes bilíngues bimodais, por considerar que essas adquirem a linguagem similarmente às crianças ouvintes em ambiente normal para a aquisição.

Condição bilíngue bimodal da criança CODA

Estando exposta naturalmente a um ambiente bilíngue bimodal, a criança irá adquirir e desenvolver as duas línguas oferecidas pela família em um processo bilíngue bimodal. Isso enriquece o input recebido pela criança, pois os pais são bilíngues de modalidades distintas.

Segundo Petitto & Marentette (1991 apud QUADROS, 2008 p. 67), a criança exposta à linguagem falada e sinalizada desde o nascimento em uma situação bilíngue é certamente comparável a uma criança exposta a duas línguas faladas desde o nascimento.

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Outra vantagem para o desenvolvimento bilíngue bimodal bicultural4 dessa criança reside no fato de ambos os pais serem bilíngues bimodais, em que a criança encontra no seio da própria família os inputs linguísticos e culturais necessários ao seu desenvolvimento, não necessitando buscar esse aprendizado fora da família. Segundo Baker & Van Den Bogaerde (2008), as crianças ouvintes filhas de pais surdos em duas culturas com duas línguas se desenvolvem de modo semelhante a outras crianças bilíngues biculturais. Porém, são especiais, pois podem estar em conflito entre os dois mundos, carregando um fardo extra de responsabilidade em funcionar como um ponto de conexão entre esses dois mundos e, enquanto ela permanecer nessa zona de contato, ambas as línguas serão bem aprendidas.

Assim, ao contrário do que ocorre com as crianças surdas filhas de pais ouvintes, no caso em estudo, a criança se encontra em uma situação privilegiada, pois os pais usam tanto a língua falada quanto a língua de sinais para se comunicar com ela. Assim, encontra em seu ambiente familiar modelos de linguagem acessíveis e competentes, tanto para a língua falada quanto para a língua de sinais, tendo também nos pais seu modelo de identidade bicultural. No entanto, não se trata de “qualquer criança” exposta a Libras e ao Português, considerando a qualidade e a quantidade de inputs recebidos, pois suas interações no ambiente não residem apenas em “contatos desde cedo”, mas “fazer parte” das comunidades surda e ouvinte desde cedo, pelo contato no dia-a-dia (associações de surdos, visita de surdos, ver os pais conversando e/ou brigando ...), o jeito de ser criada, as experiências visuais que vêm não só da sinalização desde cedo, mas do modo de vida do surdo.

Dessa forma, a criança vai adquirindo livremente e aparentemente sem esforço duas línguas de modalidades diferentes, fato que contribui para o seu desenvolvimento como um todo, pois ela adquire prematuramente habilidades para lidar com situações linguísticas, sociais e culturais diferentes. Resta saber em que idade a criança separa os elementos de cada modalidade linguística que a coloca numa posição definitivamente bilíngue. Petitto (2001) defende a hipótese de que a criança começa a distinguir essas diferenças por volta dos 3 anos de idade; também afirma que a aquisição de duas línguas simultaneamente não produz atrasos no desenvolvimento da linguagem da criança.

Outro fator positivo para a aquisição e desenvolvimento da linguagem da criança nesse contexto é a comunicação compartilhada e bilíngue bimodal entre pais e filhos, que também contribui para as interações sociais, constituindo-se não só a base para a linguagem, mas é também considerada um caminho para o sucesso escolar da criança através do apoio dos pais para a aquisição de conhecimentos e habilidades cognitivas (MARSCHARK, 2002).

O que leva muitos a sugerirem o bilinguismo como um atraso no desenvolvimento da linguagem dessas crianças é a possibilidade contínua da mistura de códigos5, ainda mais se tratando de línguas de modalidades distintas, que permite a emissão de enunciados diferentes simultaneamente em um único e mesmo contexto (VAN DEN BOGAERDE & BACKER, 2002). Embora as estruturas tendam a seguir as regras de uma única modalidade, isso não significa que, quando adulta, a criança não terá competência idêntica em ambas as línguas.

Essa mistura de códigos é resultado da influência de fatores sociolinguísticos, como o interlocutor e o contexto social. No caso em estudo, a área de influência é rica culturalmente e, portanto, propicia o desenvolvimento bilíngue bimodal. Sendo os pais bilíngues bimodais, é esperado que a criança se desenvolva com essa mesma condição. Quanto ao contexto social, a criança vive em zonas de contato tanto na família como na sociedade. Estando os pais inseridos em ambas as comunidades, surda e ouvinte, a criança encontra fontes de input para ambas as línguas envolvidas em seu processo de aquisição da linguagem em todos os locais em que participa, desenvolvendo habilidades e aptidões para lidar com situações relacionadas ao contexto de ambas as línguas e culturas nas quais ela está inserida, paralelamente ao desenvolvimento de sua linguagem.

A coleta e análise dos dados

Os dados analisados para este trabalho são provenientes do Núcleo de Aquisição de Línguas de Sinais - NALS, da Universidade Federal de Santa Catarina. As sessões analisadas duraram aproximadamente de 30 a 40 minutos e foram gravadas em ambiente familiar, em contexto de interação com o pai surdo em um processo de interlocução lúdico com brincadeiras livres com revistas, quebra-cabeça, baralho, figuras de escolha dos participantes.

O método6 adotado pela equipe de pesquisadores do NALS para a filmagem, cujas sessões (duas) foram usadas para análise deste estudo a fim de coletar os dados referentes à criança, foram realizadas duas sessões de filmagens, intercalando a língua alvo da criança: uma sessão na Libras e outra sessão na língua portuguesa. Os próprios pais interagiam com a criança por um período de uma hora, sendo que nas sessões em que a língua alvo era a Libras, as interações se deram com o pai, já nas sessões sem que a língua alvo era o português falado, as interações se deram com a mãe. Observou-se que, mesmo nas sessões em que a língua alvo era o português, a criança usava a sobreposição de línguas. Para o processamento dos dados obtidos pelas filmagens, foi utilizado o programa ELAN7 para fazer as anotações (CRASBORN & SLOETJES, 2008 apud QUADROS, LILLO-MARTIN & CHEN PICHLER, 2014, p. 813).

Para este artigo, foram analisados os dados de duas sessões, compreendendo um intervalo de seis meses entre elas, sendo a primeira sessão analisada com a criança em idade de dois anos e oito meses e a segunda, com idade de três anos e três meses, correspondendo a um período de seis meses. A escolha da proposta de análise e do material a ser analisado foi feita a partir das discussões realizadas durante a participação na disciplina de Aquisição das Línguas de Sinais, do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina.

Assim, a análise dos dados tem por objetivo identificar e descrever o desenvolvimento da linguagem considerando os estágios de aquisição de um período de aproximadamente 2,8 a 3,3 anos de idade de um CODA. Identifica-se também a proporção quantitativa da produção bimodal simultânea nesse mesmo período com o intuito de avaliar a evolução dessa produção, apresentando uma perspectiva não de uma língua dominante em detrimento à outra, mas da hipótese de a criança usar uma das modalidades de língua envolvida no processo de sua aquisição da linguagem.

Na pesquisa realizada, as transcrições referem-se às expressões linguísticas que envolvem o uso de um sinal ou uma palavra, isoladas ou organizadas em sentenças. Assim, deu-se ênfase à aquisição do vocabulário, da sintaxe e das expressões não manuais ou vocais da criança referentes a respostas curtas, SIM/NÃO, em interação com o interlocutor e em contexto com a situação ambiente, produzidas em ambas as modalidades de línguas envolvidas no processo, não considerando as expressões ininteligíveis e vocalização sem significado. As expressões entre os sinais < > (maior/menor) referem-se à produção em Libras e as expressões entre “a” (aspas) referem-se às produções em PB - Português Brasileiro.

As tabelas 1, 2 e 3 mostram, respectivamente, o desempenho linguístico em nível lexical, o desempenho em nível de sintaxe e os dados referentes à produção não manual/respostas curtas, SIM/NÃO em sinais ou oral aos estímulos fornecidos pelo interlocutor ou na interação com os objetos da primeira sessão transcrita e analisada com a criança em idade de dois anos e oito meses.

TABELA 1
Produção lexical/vocabular - Sessão 1

Observa-se que a produção linguística oral da criança é mais significativa proporcionalmente em relação à língua de sinais em interação com um interlocutor surdo se expressando em uma única modalidade, a gestual-visual, com 76,42% da produção lexical em língua oral, um número expressivo. A produção lexical em língua de sinais foi registrada em 10,56% da produção, ficando a produção simultânea em 13%. Esses dados não se referem a palavras ou sinais soltos, são produções de uma única palavra/sinal resultadas dos estímulos do interlocutor e/ou geradas pela situação em contexto, sendo que não se constatou emissão de palavras ou sinais que não se relacionassem com a situação e o ambiente em que ocorreu a interação lúdica, com a criança interagindo unicamente com os brinquedos e o interlocutor.

No caso das produções orais, muitas palavras são repetidas sucessivamente, como substantivos e adjetivos contextualizados com a situação de interação. O mesmo ocorre com os verbos que se relacionam com a situação em contexto, as vezes é dito apenas um verbo que pode ser interpretado como uma frase, o que Quadros (2008, p. 69) denomina “período holofrásico”. Um exemplo disso é a pronúncia do verbo “caiu”, referindo-se ao carrinho que caiu. Na produção em sinais, encontra-se um exemplo mais complexo, em que ocorre uma situação holofrásica com a produção do sinal <LAVAR-MÃO> que no contexto da interação se refere a “lavar o carrinho à mão”.

Observa-se também na produção em sinais, assim como ocorre nas produções orais, de as crianças omitirem parte de letras das palavras, olvidando partes de parâmetros da Libras ao realizar alguns sinais, tanto configuração da mão quanto movimento, como em <PINGUIM> e <COBRA>, além de sinais que são normalmente realizados com ambas as mãos serem produzidos com apenas uma das mãos, como em <CORUJA> e o verbo <PODER>.

Foram analisadas duas situações distintas em que ocorreu a superextensão, que, segundo Quadros (2008), é o processo em que as crianças conferem um sentido genérico às palavras utilizadas durante o estágio de uma palavra. Na primeira situação, a criança vê as figuras do cachorro e do gato e pronuncia as expressões “auau” e “miau” respectivamente; a segunda situação observada ocorre em uma situação simultânea em que a criança vê as figuras e realiza os sinais referentes aos animais, pronunciando as superextensões relacionadas. Essa produção, nesse estágio da aquisição da linguagem, mostra a possibilidade de esse processo se prolongar, ou pode ser a razão de um hábito da criança.

TABELA 2
Produção de frases em PB, Libras e simultânea - Sessão 1

Na Tabela 2, encontram-se os dados referentes à produção linguística a nível sintático, em que foram constatadas frases com até seis palavras como em “Olha só eu com caro sujo”.

Uma característica observada é a omissão de verbos nas sentenças que são a base de substantivo e adjetivos: “Esse daqui só azul”, em que o pronome demonstrativo se refere ao sujeito “ônibus”. Outra observação é a produção de frases sem sujeito: “Casa não senhor”, ao referir-se às interferências do interlocutor na montagem do brinquedo e na denominação de suas peças.

O emprego de advérbio em lugar de verbo foi observado na frase: “Um carrinho fora”, ao referir-se à retirada de um carrinho da plataforma do brinquedo e à interferência do interlocutor comunicando a superlotação da plataforma.

Na expressão linguística em Libras, observa-se que a produção básica é a base de holofrásicos, que no contexto interacional são entendidos como frases completas. Por exemplo, em <SUJO>, a direção do olhar para o carrinho na mão simultaneamente à realização do sinal infere a interpretação “meu carrinho está sujo”. O que leva a essa interpretação é a produção sequencial ao retornar o objeto na plataforma do brinquedo <CARRO-LAVAR-MÃO> em resposta ao interlocutor para que lavasse o carrinho na máquina.

O processo de produção holofrásica em Libras apresenta maior destaque nas expressões simultâneas, em que um sinal acompanhado da expressão de negação ou não se desdobra em frases de duas ou mais palavras na língua oral, como em <VERMELHO> “Esse carro aqui”, <QUEBRAR> “Quebrou tudo” e <COBRA> “Escolho cobra na mão”.

Na sequência da análise, foi interessante observar, além da produção bimodal simultânea, a mistura de códigos em uma mesma sentença com dois adjetivos, em uma resposta negativa/corretiva, à indagação do interlocutor apresentando um objeto como sendo da cor verde como em: “Não é verde” <BRANCO>.

TABELA 3
Expressões não manuais/vocais (respostas curtas (SIM/NÃO) - Sessão 1

A Tabela 3 apresenta os dados da análise das expressões não manuais ou vocais referente a respostas curtas, SIM/NÃO, em interação com o interlocutor e em contexto com a situação ambiente produzidas em ambas as modalidades de línguas envolvidas no processo. Essas produções são resultado da intervenção do interlocutor, ou por questionamento direto à criança referente à sua interação com os objetos.

Observa-se que, na maioria das expressões na produção simultânea, a expressão vocal é representada pela vogal “e” aberta em vez de “sim”. Com relação às expressões negativas simultâneas, às vezes é usada a expressão <não> simultaneamente à palavra “não”. Em alguns casos, essas produções se triplicam, isto é, é usada a expressão <NÃO> mais a palavra “não” acompanhada do sinal <NÃO> com a mão na configuração <D>. O mesmo ocorre em algumas situações na produção da expressão negativa NÃO, em que a criança realiza o movimento negativo com a cabeça mais o sinal <NÃO> manualmente.

Nessa sessão, também foi observada a vocalização “hum” em proporção acentuada, que expressa dúvida sobre as expressões do interlocutor com relação à interação lúdica, ou expressam admiração pelo desempenho na interação com os objetos.

A segunda transcrição analisada segue a mesma metodologia da primeira, apresentando 3 tabelas na mesma sequência das transcrições referentes à primeira sessão, sendo essa sessão gravada em um período de seis meses posteriormente à primeira sessão, com a criança em idade de três anos e três meses.

TABELA 4
Produção lexical/vocabular - Sessão 2

Assim, a Tabela 4 mostra os dados referentes ao desempenho linguístico em nível lexical. De início, observa-se um paralelo entre a produção em língua oral e a produção em língua de sinais e simultânea/bimodal, 50% das produções são expressões orais, 29,31% são expressões em Libras e 20,68% são expressões simultâneas. A característica observada é livre, em que muitos sinais e palavras são pronunciados pela criança sem a interferência do interlocutor e em interação com os objetos ou manifestando suas escolhas, como em , referindo-se ao término da montagem do quebra-cabeça e a escolha da revista, ao realizar o sinal apontando para a revista. Um ponto relevante observado foi o uso de classificador, que será descrito no próximo passo.

TABELA 5
Produção de frases em PB, Libras e simultânea - Sessão 2

Na Tabela 5, encontram-se os dados referentes à produção linguística em nível sintático da segunda sessão, mostrando um equilíbrio entre os níveis linguísticos envolvidos na análise. Observou-se melhor estruturação das frases com sujeito, verbo e objeto (SVO), tanto na língua oral quanto na língua de sinais, como em: “Esse ônibus tá passando”, e , embora, nesse último exemplo, o sujeito não esteja expresso na sentença. No contexto, ele se refere à primeira pessoa do singular , e corresponde à ordem (VO), seguindo uma ordem produzida pelo adulto. Observou-se também mudança na ordem das palavras/sinais, como em “Cadê o boneco meu?”.

Nas produções simultâneas, ora ocorrem várias expressões em sentido oposto, ora uma expressão em Libras e uma frase completa em PB, ou seja, a criança faz uso de combinações de palavras ou combinação de sinais e produz, simultaneamente, elementos da outra língua ou apenas um elemento, como em <CARRO> ”Esse é muito carro”, <CAMINHÃO> “Esse é um caminhão”, ora uma expressão em PB e uma frase de dois ou mais sinais em Libras, como em “Quebrou” <DOR-QUEBRAR-BONECO>, além da expressão <DOIDO> referindo-se ao grupo de amigos presente no ambiente em que ocorre a sessão. Essas produções nos remetem ao entendimento das conclusões de Quadros, Lillo-Martin & Chen Pichler (2013), que, analisarem tais produções como sendo de uma única proposição. Emmorey et al. (2008) afirmam que as produções bimodais, por usarem modalidades distintas, permitem a produção simultânea de duas línguas como um processo de mistura de códigos, o que pressupõe interações entre as línguas.

Foi registrado, também, o uso de classificador com a configuração da mão para carro em movimento, como em: <CARRO-CRUZAR> e <CARRO-CAPOTAR><CARRO-SALTAR>, referindo-se às imagens da revista. Outras expressões classificadoras foram observadas na interação da criança com o interlocutor na luta entre os bonecos. Ao final, a criança interagiu sozinha com um boneco em cada mão produzindo livremente sentenças complexas após a quebra de um dos bonecos, misturando sinais, palavras e expressões como em <QUEBRAR-BONECO-MORRER>, “É doido muito muita briga olha” e <DOR> “Quebrou esse boneco dói, dói dele”.

TABELA 6
Expressões não manuais/vocais (respostas curtas (SIM/NÃO) - Sessão 2

A Tabela 6 mostra um aumento na produção de expressões não manuais ou vocais referente a respostas curtas, SIM/NÃO, nas mesmas condições interativas da primeira sessão, apenas modificando os objetos usados na dinâmica lúdica, a partir da qual se deu a interação para que fosse possível a gravação da sessão.

O que se observa é o aumento significativo da produção da expressão referente a respostas curtas de modo geral, mais especificamente em língua de sinais. Esse aumento pode estar relacionado ao desenvolvimento da linguagem no nível de compreensão e capacidade de expressão. Percebeu-se melhor desempenho interativo da criança com o interlocutor, bem como com os objetos em que o índice da produção da expressão de dúvida “hum” não foi constatado, apenas em casos de expressões exclamativas.

A tabela geral e o gráfico abaixo mostram a evolução da produção linguística em porcentagem (%) proporcional em cada modalidade de língua envolvida no processo apresentando uma perspectiva não de uma língua dominante, mas da hipótese de a criança usar uma das modalidades de língua envolvida no processo de sua aquisição da linguagem.

TABELA GERAL
Produção linguística em % (Sessão 1a e 2a)

PRODUÇÃO DE LINGUAGEM EM PORCENTAGEM NA 1a E 2a SESSÃO SSÃO

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Como se observa, os níveis de produção na língua oral entre a primeira e a segunda sessão mostram um declínio em relação aos níveis da produção em língua de sinais, índice da possibilidade de a criança ter como expressão básica a modalidade de língua de sinais como sua língua de interação. Talvez isso se dê pelo fato de que a mãe da criança, embora ouvinte, faça uso frequente da Libras ao interagir com o pai, interações essas que são presenciadas pela criança. Quando a criança está em ambientes de contato entre línguas diferentes, em que a Libras é usada com mais frequência, as estratégias de produções da criança tendem a seguir essa tendência (GROSJEAN; LI, 2013).

Enfim, por meio da análise dos dados, percebe-se que a tendência de a criança em usar mais sinais do que a fala mostra que ela já consegue estabelecer a distinção entre as línguas e o perfil de seus interlocutores, pois, nas sessões analisadas, quando o interlocutor era o pai, o uso da Libras e da sobreposição ocorrem com maior frequência; sinais associados com a fala em interação com a mãe, por essas serem as formas que eles se dirigiam ao filho, evidenciam que as escolhas das línguas e os tipos de sobreposição produzidos pela criança podem ser parcialmente explicados com base no input (QUADROS, LILLO-MARTIN & CHEN PICHLER, 2014).

Conclusão

A intenção do presente trabalho foi discutir acerca do processo de aquisição da linguagem, considerando os estágios de aquisição, enfocando a condição bilíngue bimodal de uma criança CODA que se encontra em situação intermediária entre a criança surda filha de pai surdo e mãe ouvinte, por estar inserida em um lar bilíngue bimodal. O artigo incluiu análise dos dados de transcrições de duas sessões de gravação de uma criança CODA em estágio de aquisição e desenvolvimento da linguagem, bem como a possibilidade da mistura de códigos.

Nessa perspectiva, por estar inserida em um ambiente bilingue bimodal, a criança tem a possibilidade de ativar sua capacidade inata para a linguagem adquirindo e desenvolvendo duas línguas bimodais simultaneamente, adquirindo e desenvolvendo o vocabulário e a sintaxe em ambas as modalidades.

Foi constastada a capacidade da criança em adquirir e estruturar as duas línguas. Conforme afirmam Petitto & Marentette (1991), a criança exposta à linguagem falada e sinalizada, desde o nascimento, em uma situação bilíngue bimodal, é certamente comparável a uma criança exposta a duas línguas faladas desde o nascimento. É preciso destacar que tal exposição não acarreta atrasos na aquisição e desenvolvimento da linguagem, e sim contribui para a aquisição precoce de duas línguas de modalidades distintas, colocando-a em uma posição privilegiada na sociedade em que está inserida, pois, sendo os pais de condição bilíngue bimodal distinta, o lar constitui-se na primeira e principal zona de fronteira entre as línguas em contato.

O desenvolvimento da compreensão e da capacidade de expressão da criança observado na análise contribui com a expressão livre, que forma sua identidade e mostra o seu desempenho linguístico em evolução, tanto na aquisição do vocabulário, quanto na estruturação da sintaxe. Quanto à hipótese de a criança fazer uso de uma língua específica em suas interações comunicativas, os resultados apresentados nas tabelas e no gráfico geral das produções linguísticas mostram a tendência de a criança usar a Libras para essa finalidade.

Como afirmam Van Den Bogaerde e Baker (2008), na faixa dos três anos de idade, há a tendência da diminuição ou aumento da produção de um determinado código envolvido no processo de aquisição, embora, pelo fato de o presente estudo não abranger situações e fatores externos ao vínculo familiar, não se sabe os fatores que possam explicar essa escolha ou preferência da criança por um ou por outro código e o padrão de desenvolvimento em geral. No entanto, fica evidente que as escolhas por uma ou outra modalidade de língua seguem a modalidade usada por seus interlocutores no ato interativo.

Referências

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José Carlos de Oliveira | CODAS: Aquisição da linguagem bimodal |pp. 40-59

Notas

1

Neste artigo, o acrônimo CODAs (Children of Deaf Adults) - Crianças de pais surdos - é utilizado pela Organização Internacional CODA, que se dedica à promoção de temas relacionados às experiências de filhos ouvintes de pais surdos (QUADROS, 2007, p. 239). Ainda, segundo Quadros, Lillo-Martin & Emmorey (2016, p. 140), os CODAs representam um grupo de bilíngues bimodais que têm uma língua de herança em língua de sinais e estão em um país que usa uma língua falada de forma irrestrita em diferentes espaços sociais, representam um grupo de bilíngues que também são bimodais, pois as línguas que adquirem se apresentam em diferentes modalidades.

2

Aquisição bilíngue bimodal, classificada por Cruz e Finger (2013) como a situação de um indivíduo por ter a aquisição de uma língua não oral e uma oral.

3

O Núcleo de Aquisição de Língua de Sinais - NALS - objetiva se constituir em espaço físico para a consolidação de grupo de pesquisa atuante na área dos estudos de aquisição de línguas de sinais; consolidar um corpus com dados de aquisição de Libras e aquisição bilíngue, incluindo Libras e outra língua, especialmente o português, possibilitando o acesso a dados por diferentes pesquisadores para a produção de estudos nesta área.

4

O termo “bicultural” usado neste artigo não implica dizer que a criança em estudo irá se apropriar de duas culturas simultaneamente à aquisição de duas línguas de modalidades distintas, implica dizer que a criança está exposta a um ambiente bilingue bimodal em que a cultura inerente a cada língua está presente e interfere decisivamente para o seu desenvolvimento linguístico e identitário.

5

Mistura de códigos, uso natural e espontâneo da fala e de sinais produzidos simultaneamente, o que Quadros, Lillo-Martin & Emmorey (2014, p. 802) denominam de sobreposição de línguas ou code-blending.

6

O percurso e processo metodológico das filmagens descritos neste estudo foram elaborados a partir de dados fornecidos pela equipe de pesquisadores do NALS.

7

Confira <http://tla.mpi.nl/tools/tla-tools/elan/> .



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