Poesia

Sentença da meia-noite

Mauricio Fontana Filho
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil

Sentença da meia-noite

Simbiótica. Revista Eletrônica, vol. 8, núm. 1, pp. 172-173, 2021

Universidade Federal do Espírito Santo

Do nada, vai ao nada, Aquele que dentro nada abriga, A chuva remete com desgosto, Seu olhar de doce ruína.

Ao acaso se vai, e sim assusta, Nesta noite que alucina, A cegueira não mais lhe intimida, Ossos velhos de doce ruína.

Vai andando em lua crescente, Deflagrado pelo destino que esquiva, Viveu de fato e agora espera, Não por humano, mas por quimera, Lhe afeta e jamais suspira, Diga a ela! Diga a ela! Inexplicável doce ruína.

Embora sujo e esquizofrênico,

Já fora possuidor de virtude cínica,

Há muitos tempos jaz, e outros mais,

Hoje apenas jaz doce ruína.

Pragueja aos ventos eternos:

Diga a ela! Diga a ela!

A fúria de um velho trêmulo.

Uma pá é o que lhe resta,

E o seu próprio coveiro.

É nesta noite fria e úmida,

Que agora cai e renuncia,

Apenas vozes o acompanham,

Apenas vozes de doce ruína.

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