Poesia
Sentença da meia-noite
Do nada, vai ao nada, Aquele que dentro nada abriga, A chuva remete com desgosto, Seu olhar de doce ruína.
Ao acaso se vai, e sim assusta, Nesta noite que alucina, A cegueira não mais lhe intimida, Ossos velhos de doce ruína.
Vai andando em lua crescente, Deflagrado pelo destino que esquiva, Viveu de fato e agora espera, Não por humano, mas por quimera, Lhe afeta e jamais suspira, Diga a ela! Diga a ela! Inexplicável doce ruína.
Embora sujo e esquizofrênico,
Já fora possuidor de virtude cínica,
Há muitos tempos jaz, e outros mais,
Hoje apenas jaz doce ruína.
Pragueja aos ventos eternos:
Diga a ela! Diga a ela!
A fúria de um velho trêmulo.
Uma pá é o que lhe resta,
E o seu próprio coveiro.
É nesta noite fria e úmida,
Que agora cai e renuncia,
Apenas vozes o acompanham,
Apenas vozes de doce ruína.