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Instituições Escolares: o Colégio Marista de Cascavel
Revista Brasileira de História da Educação, vol. 17, núm. 4, pp. 290-297, 2017
Sociedade Brasileira de História da Educação

Resenha

Andrade F. A. G.. O colégio marista no contexto da urbanização de Cascavel (1962-1989). 2016. Curitiba, PR. CRV

Recepção: 07 Março 2017

Aprovação: 17 Março 2017

DOI: 10.4025/rbhe.v17n4.1010

Resenha

As instituições escolares, cuja prática é social e histórica,são objeto de uma importante área de investigação científica na História da Educação e oferecem condições de se analisar a relação entre sociedade e educação.Por volta dos anos de 1990, com a consolidação da pós-graduação no Brasil, houve uma intensificação dos estudos sobre a história das instituições escolares; porém, no âmbito do estado do Paraná, o número de instituições educacionais estudadas ainda é pequeno.

A linha de pesquisa sobre instituições escolares contribui para o fortalecimento do campo da História da Educação, já que possibilita o aprofundamento de investigações sobre os aspectos culturais, políticos, econômicos e sociais do contexto histórico em que se encontram, ou estiveram inseridas, as instituições escolares estudadas. A identidade da escola, em parte, é resultado do contexto maior, em termos sociais, políticos, econômicos e educacionais.

Analisando-se a história das instituições escolares, pode-se compreender seu sentido social, bem como os interesses hegemônicos que os grupos sociais dominantes têm sobre as práticas institucionais. Além disso, as pesquisas históricas sobre as instituições educativas colaboram na apreensão das relações conflituosas e dialéticas institucionalizadas, que determinam sua maneira de ser.

A obra OColégio Marista no contexto da urbanização de Cascavel (1962-1989) é resultado de uma pesquisa situada no campo da História e Historiografia das Instituições Educacionais, a qual deu origem à dissertação de mestrado defendida em 2016 por Francielle Aparecida Garuti de Andrade no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM). A pesquisa foi orientada pelo Professor Doutor Cézar de Alencar Arnaut de Toledo, que atua no âmbito do Grupo de Pesquisa Política, Religião e Educação na Modernidade nesse mesmo programa.O objetivo da pesquisa foi reconstituir a história e a memória da implantação, em 1962, do Colégio Marista na cidade de Cascavel, no Estado do Paraná.

A ‘Apresentação’ da obra é escrita pelo Professor Doutor Cézar de Alencar Arnaut de Toledo. Segundo o professor, a pesquisa apresenta os caminhos traçados pela educação católica na cidade de Cascavel, trazendo importantes contribuições, no que se refere às formas de poder, institucionalizadas ou não, presentes na configuração da educação escolar, a qual deveria atuar na consolidação do ideário de formação das elites políticas da região.

O ‘Prefácio’ é assinado pelo professor Doutor Justino Pereira de Magalhães, da área de História e Psicologia da Educação do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. De acordo com ele, a investigação situa-se no campo da História e Historiografia das Instituições Educacionais e contribui para o estudo da história das instituições escolares no oeste do Paraná. Ressalta o autor que, para a reconstituição da memória institucional e política referente ao contexto da migração para o oeste paranaense e de sua rápida urbanização, a pesquisadora se utilizou de documentos históricos e fontes primárias locais, além de fontes do exterior obtidas em Lisboa e em Roma.

Na seção 1 ‘Introdução’, a autora apresenta a temática de sua pesquisa, especificando que analisa a história e a memória da implantação do Colégio Marista de Cascavel, parte importante da história política, social e cultural da cidade. Destaca a autora que, com mais de 50 anos dedicados ao ensino técnico-profissionalizante, “A instituição se firmou no cenário educacional cascavelense com uma educação voltada a atender os interesses de uma nascente elite local” (Andrade, 2016, p. 17).

Para analisar a história dessa instituição escolar, a pesquisadora apoiou-se em fontes e documentos encontrados em diferentes locais e instituições: Colégio Marista de Cascavel; arquivo da Casa Geral dos Maristas de Roma; Museu da Imagem e do Som de Cascavel; Casa Geral da Província Centro-Sul em Curitiba; acervos da Câmara Municipal de Cascavel; Biblioteca Municipal de Cascavel e leis municipais de Cascavel. “Os dados revelados pelas fontes foram analisados à luz da literatura sobre instituições escolares e relacionados às condições sociais do contexto político/econômico em que foram produzidos” (Andrade, 2016, p. 18).

Dentre os documentos analisados, destacam-se: Anais do Colégio Marista de Cascavel (1962-1986); atas das atividades pedagógicas e administrativas da instituição; atas da Câmara Municipal de Cascavel; escritura pública de doação e permuta de terreno; documentos da Secretaria Estadual de Educação para autorização e funcionamento dos cursos diversos; documentos de aprovação do projeto de implantação da escola; documentos sobre a filosofia educacional e a pedagogia marista; cartas de Marcelino Champagnat sobre a questão educacional e sobre a Congregação dos Irmãos Maristas; autorização da Província Marista Centro-Sul para a abertura do Colégio; fotos históricas; recortes de jornais da época da implantação da instituição, entre outros.

Os documentos da constituição do Instituto dos Irmãos Maristas explicitam o projeto educacional da congregação, as diretrizes educacionais contidas no Guide des écoles (Guia das Escolas) e nos documentos educacionais decorrentes do Concílio Vaticano II (1962-1965), em particular a declaração Gravissimum educationis (1965).

Inicialmente a escola funcionou num prédio construído em madeiras, onde era o Ginásio Rio Branco e a Escola Técnica de Comércio, por isso, quando dos Atos de transferência de estabelecimento, o Ginásio Rio Branco passou a ser Colégio Marista de Cascavel e a Escola Técnica de Comércio passou a ser o Colégio Comercial Marista de Cascavel, ambas conexas (Andrade, 2016, p. 18).

A Congregação dos Maristas foi fundada na França por Marcelino José Bento Champagnat (1789-1840). A irmandade se configurou inicialmente como uma instituição dedicada à educação cristã de jovens da zona rural. No Brasil, a instituição iniciou suas atividades escolares em Congonhas do Campo no ano de 1897, no Estado de Minas Gerais. No Paraná, os Irmãos Maristas chegaram no ano de 1925, com a fundação do Colégio Santa Maria, na cidade de Curitiba. “Em Cascavel, a instituição foi construída em uma área nobre da cidade pra atender um público seleto e contribuir para a formação e manutenção de uma nascente elite” (Andrade, 2016, p. 20).

Na seção 2 ‘Pesquisa em instituições escolares: pressupostos teóricos e metodológicos’, são discutidos os aspectos da História da Educação no Brasil. Segundo a autora, as pesquisas sobre instituições escolares ajudam na compreensão da filosofia e da história da educação no Brasil. “A análise da educação formal, ou seja, escolar, é um meio pelo qual que se pode entender um determinado contexto e período histórico [...]” (Andrade, 2016, p. 26).

A autora, na análise dos documentos históricos, fundamentou-se no método analítico, com ênfase no materialismo histórico. Assim, seu olhar parte da sociedade para a escola, da análise das múltiplas determinações que configuram o jeito de ser da instituição escolar. “As instituições educativas são constituídas por uma prática social e histórica cujas representações são interiorizadas ao processo educativo, trazendo à luz, em cada contexto e momento histórico, suas ações destinadas a atender os interesses da sociedade para a qual foram pensadas e organizadas” (Andrade, 2016, p. 27).

As instituições escolares não são recortes autônomos de uma dada realidade social. A simples apresentação da instituição não permite avaliar sua identidade. Ela não está dada de forma imediata. Para a autora: “[...] a dimensão da identidade de uma instituição somente estará bem delineada quando o pesquisador transitar de um profundo mergulho no micro e, com a mesma intensidade, no macro” (Andrade, 2016, p. 29).

A autora afirma também que, na investigação da história e da historiografia das instituições escolares, “[...] o pesquisador deve seguir um plano de pesquisa analítico que parte da sociedade para a escola, [...] para que, então, possa[...] traçar uma leitura da instituição com seus atores, aspectos de sua organização, seu cotidiano, seus rituais, sua cultura e seu significado para a sociedade” (Andrade, 2016, p. 37).

Na seção 3 ‘Conjuntura sócio-histórica do oeste paranaense e o contexto de urbanização do município de Cascavel’, a autora analisa a colonização recente do território oeste do Paraná, a qual ocorreu no contexto político e educacional dos anos de 1945 a 1964. Explica que foi nesse período que se intensificaram os debates sobre o Projeto de Lei de criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), iniciados com a instalação da comissão em 1947 e sua promulgação em 1961.

A região oeste do Paraná é constituída pelas microrregiões de Toledo, Foz do Iguaçu e Cascavel. Atualmente, essa região compreende um total de cinquenta municípios. A primeira fase do processo de colonização da região ocorreu com as tribos Xetá, Kaigang e Guarani. O segundo período é o da chegada dos Jesuítas. O terceiro, entre 1881 e 1930, é o da introdução do sistema obragero, que explorava a madeira e a erva-mate. Por fim, a quarta fase é a da chegada das companhias colonizadoras.

A ocupação planejada da região oeste do Paraná teve início no final do Império, no ano de 1888, estendeu-se até o período da República e intensificou-se com a implantação do projeto ‘Marcha para o Oeste’. Esse projeto foi formulado ainda no Governo Vargas (1930-1945 e 1950-1954), quando se “[...] entendia ser necessário o desbravamento do campo para acelerar a industrialização, por isso as ações oficiais do Governo visavam sempre o fortalecimento do Estado e a integração do país” (Andrade, 2016, p. 78).

Com a evolução do sistema técnico-industrial e do crescimento econômico brasileiro, o campo da educação profissional apresentou uma demanda maior de atenção por parte das instâncias governamentais. Na região oeste do Paraná, o processo de escolarização pode ser analisado, historicamente, com base em quatro fases: 1) a escolarização privada; 2) a casa escolar privada; 3) a casa escolar pública e 4) o grupo escolar. A fundação do Colégio Marista em 1962 coincidiu com a quarta fase de escolarização da região oeste do Paraná, conforme os “[...] moldes europeus e americanos de instrução e de difusão da educação [...]” (Andrade, 2016, p. 93).

Na seção 4 ‘Colégio Marista de Cascavel’, a autora discute o projeto educacional da Congregação Marista. Sua análise é fundamentada em documentos elaborados com base no Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). “Os documentos emanados dos debates realizados no Concílio possibilitaram a abertura da Igreja para as questões contemporâneas e sua adaptação às transformações sociais e educacionais” (Andrade, 2016, p. 99).

Dentre os documentos apresentados pelo Concílio, destaca-se a Declaração sobre Educação, Gravissimum educationis, que passou a nortear a educação católica no mundo. Além dele, tem-se o chamado Le Guide des écoles (Guia das Escolas), texto elaborado por Marcelino Champagnat para orientar o trabalho nas instituições educativas maristas.

Segundo o documento Gravissimum educationis, a presença da Igreja no campo escolar visa

[...] criar um ambiente de comunidade escolar animado pelo espírito evangélico de liberdade e de caridade, ajudar os adolescentes para que, ao mesmo tempo que desenvolvem a sua personalidade, cresçam segundo a nova criatura que são mercê do Batismo, e ordenar finalmente toda a cultura humana à mensagem da salvação [...] (Andrade, 2016, p. 101).

As atividades no Colégio Marista de Cascavel tiveram início em 24 de março de 1962. Desde sua fundação, o modelo de educação marista foi pautado pela educação da consciência, da inteligência e da vontade. A instituição oferecia os cursos primário, ginasial e técnico-profissional. O crescimento do Colégio Marista acompanhou o crescimento da cidade de Cascavel, além de participar dos rumos políticos, religiosos e sociais da cidade. Sua missão é formar o aluno sobre seus deveres, ensinar-lhe o espírito e os sentimentos do cristianismo, os hábitos religiosos, as virtudes do bom cristão e do bom cidadão.

A instituição analisada no livro conta, atualmente, com uma estrutura moderna, oferecendo formação desde a educação infantil. O novo projeto arquitetônico também inclui espaço para o desenvolvimento de atividades complementares, com dois ginásios de esportes, sala de academia, dança e lutas marciais, além de três auditórios para atividades culturais e palestras. Também possui laboratórios tecnológicos e científicos para o desenvolvimento de aulas práticas de Física, Química, Biologia e Matemática. Muitos ex-alunos do Colégio Marista atuam em diferentes áreas: agroindustrial comercial, política e administrativa não somente em Cascavel, mas também nas cidades próximas.

Na seção 5 ‘Conclusão’, a autora se refere à importância do Colégio Marista de Cascavel (1962-1989) para o processo de formação humana e de caráter técnico e profissional. Destaca o momento de sua fundação, quando, em razão do crescente processo de urbanização, a cidade e a região exigiam mão de obra qualificada para fomentar a economia local e da região. Assim caracterizou-se como uma instituição educacional voltada para a formação da chamada elite pioneira cascavelense. A formação oferecida, dizem os documentos da escola, são fundamentadas em uma educação integral, com ênfase na formação moral, civil e religiosa. Segundo a autora, o Colégio Marista de Cascavel, desde sua fundação, revelou “[...] uma identidade específica enquanto escola confessional católica, e se empenhou em fazer da educação um espaço de explicitação de suas crenças a respeito da pessoa humana e da sociedade” (Andrade, 2016, p. 151).

A obra O Colégio Marista no contexto de urbanização de Cascavel (1962-1989) é uma importante referência para o estudo da temática Instituições Escolares, em particular no oeste do Paraná, já que se propõe a reconstituir a memória institucional e política do Colégio no contexto da migração e da urbanização da região. A obra contribui também para o debate educacional contemporâneo, além de ser uma referência para o estudo sobre instituições escolares, uma vez que enfatiza o processo de escolarização da educação na região. A leitura do livro é recomendada.

Autor notes

Felipe Luiz Gomes Figueira é Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP, 2015), mestre em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL, 2012). Professor de História do Instituto Federal do Paraná (IFPR) e líder do Grupo de Pesquisa Bildung. E-mail: felipe.figueira@ifpr.edu.br orcid.org/0000-0001-8362-6196
Marcos Ayres Barboza. Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM, 2007). É Psicólogo no Instituto Federal do Paraná (IFPR) e participa do Grupo de Pesquisa sobre Política, Religião e Educação na Modernidade. E-mail: marcos.ayres@ifpr.edu.br orcid.org/0000-0002-1682-734X
1 F.L.G. Figueira e M.A. Barboza foram responsáveis pela concepção, delineamento, análise e interpretação dos dados; redação do manuscrito, revisão crítica do conteúdo e aprovação da versão final a ser publicada.


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