RESEÑA

PARA UMA HISTÓRIA DO TURISMO NO DOURO, DE MARÍA OLINDA RODRIGUES SANTANA. RECENSÃO1

FOR A HISTORY OF TOURISM IN THE DOURO, BY MARÍA OLINDA RODRIGUES SANTANA

Fernando Manuel Rocha da Cruz
Universidade Federal do Rio Grande, Portugal

PARA UMA HISTÓRIA DO TURISMO NO DOURO, DE MARÍA OLINDA RODRIGUES SANTANA. RECENSÃO1

Turismo y Sociedad, vol. 30, pp. 276-277, 2022

Universidad Externado de Colombia

Recepción: 09 Marzo 2020

Recibido del documento revisado: 30 Marzo 2020

Aprobación: 02 Abril 2020

Para uma história do turismo no Douro, coordenado por Maria Olinda Rodrigues Santana, e com edição de CETRAD, UTAD, Dourotur e Sodivir - Edições do Norte, foi publicado, em Vila Real, em 2019. Trata-se de uma obra original, inovadora, bem escrita, dirigida a especialistas, mas também ao público em geral, que procura apresentar um conjunto de estudos transdisciplinares sobre a história do turismo no NUT III - Douro (Portugal).

O Prefácio, de Antônio Fontainhas Fernandes, enfatiza os desafios, sobretudo culturais, turísticos e econômicos, colocados pela paisagem do Alto Douro Vinhateiro e pelos sítios pré-históricos de Arte Rupestre do Vale do Coa, classificados pela Unesco como património mundial. Por seu lado, Xerardo Pereiro na Abertura, enquadra o livro como um dos resultados do projeto de investigação-ação Dourotur que procurou aproximar as potencialidades turísticas do Douro do desenvolvimento da região.

A obra de Maria Olinda pode ser dividida em três partes. A primeira, constituída pelos três primeiros capítulos, apresenta uma perspetiva histórica do território do Douro (NUT III). Assim, no primeiro capítulo, intitulado "Interligando o Douro com a história do turismo", de Veronika Joukes e Susana Rachão, ressaltamos tratar-se de um capítulo concetual que apresenta conceitos como turista, viajante e NUT III, para além da evolução, em termos estatísticos, do turismo na região. Acresce aqui, a justificação do interesse atual na história do turismo (Boyer, 1999). Com o título "Os primeiros 'visitantes'", o capítulo 2, de Mila Simões de Abreu demonstra que a aparente ausência de ocupação humana da região, desde a pré-história, deve-se principalmente à falta de investimento em prospeções arqueológicas, como é evidenciado pela descoberta acidental de arte rupestre no Vale Côa, nos anos 90.

O capítulo 3, "Breve contextualização histórica", de Maria Olinda Rodrigues Santana, de índole histórico, distingue entre a fase do repovoamento da primeira dinastia portuguesa e a fase de transição marcada pelo conflito internacional entre a Inglaterra e a França, em que o primeiro país foi obrigado a procurar novos mercados, nomeadamente de vinhos. Quanto ao século XIX, este é marcado pela consolidação desse mercado, onde se distinguem personalidades como D. Antónia Ferreira e o 1° Barão de Forrester na região do Douro. Mas, como bem lembra a autora, esta paisagem é também marcada por gente anónima como durienses, serranos e galegos. Por fim, quanto ao séc. XX, destaca a relevância das instituições da produção agrícola como a Casa do Douro, o Grémio dos Exportadores do Vinho do Porto ou a Associação dos Exportadores do Vinho do Porto e o Instituto do Vinho do Porto, bem como, a Comissão Interprofissional da Região Demarcada do Douro ou o Conselho Interprofissional incluído no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. A classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial da Unesco, na categoria de "Paisagem cultural evolutiva e viva", em 2001, constitui, no entanto, a mudança paradigmática. Desse modo, se o século XIX é marcado por uma história de personalidades, já no século XX, é a história das instituições que marcam a região do Douro.

A segunda parte é constituída pelos cinco capítulos seguintes, os quais dizem respeito à história da viagem na região NUT III. Assim, o capítulo 4, intitulado "Vias e meios de transporte: algumas reflexões", de Veronika Joukes e Susana Rachão, expõe a evolução do transporte terrestre e fluvial na região do Douro. O isolamento desta região e a ausência de turistas são explicados pela industrialização tardia do país, dificuldade de acesso e implementação tardia de uma rede eficiente de transportes. Neste é ainda destacada a alteração do panorama turístico nos últimos 50 anos devido à construção de barragens e à consequente alteração das condições de navegabilidade do rio Douro. Estas autoras escreveram também o capítulo 5 sobre "Práticas turísticas". Aqui, identificam o défice de unidades de alojamento, meios de transporte, guias turísticos e outros tipos de informação. Apenas no século XXI, Porto e Norte de Portugal se tornaram atrativos para o turismo internacional devido à obtenção de prémios de excelência turística, paralelamente à política de atração de companhias aéreas low cost para o aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. Este capítulo chama ainda a atenção para a diversidade das quintas do Douro e as suas práticas recreativas desde o séc. XIX; a implementação do Turismo de Habitação no Douro, da rota vinhateira do Vinho do Porto e da oferta enoturística; a diversidade de programas de visita ao Douro nos cruzeiros no turismo náutico; as visitas às amen-doeiras em flor e a prática excursionista; as romarias como a de Nossa Senhora dos Remédios; o termalismo no Moledo, Carlão, São Lourenço e Aregos; os casinos; o turismo de literatura; o turismo cinegético; e o turismo de natureza. O capítulo 6 com o título "Olhares 'prosaicos' e "poéticos" de Maria Olinda Rodrigues Santana recorre à distinção sugerida em "Sem Método" de João de Araújo Correia (1983). Assim, a autora apresenta os "olhares prosaicos" dos guias turísticos, prospetos, revistas e postais ilustrados sobre a região do Douro, em oposição aos "olhares poéticos" e estéticos presentes no imaginário coletivo duriense, o qual é alimentado por escritores, fotógrafos, artistas plásticos e músicos. O capítulo 7, intitulado "Equipamentos em prol da sustentabilidade do turismo". de Margarida Correia Marques debate o potencial turístico dos equipamentos de educação para a sustentabilidade. Estes equipamentos são estruturas de âmbito local como Centros de Ciência Viva, Centros de Interpretação, Ecomuseus, Ecotecas, Jardins Botânicos e Museus. Ao enquadrar estes equipamentos no Turismo sustentável, o desenvolvimento da região assenta, por conseguinte, na diferenciação ambiental, na inovação e melhoria do desempenho económico e competitividade, bem como na qualidade de vida das comunidades locais e coesão social. Por fim, o capítulo 8 com o título "Algumas sugestões para novas práticas turísticas" de Maria Olinda Rodrigues Santana sugere, por um lado, a melhor articulação dos diversos tipos de turismo existentes e, por outro lado, a diversificação das práticas turísticas emergentes. Desse modo, perpassando o turismo de habitação, o enoturismo e o turismo náutico a autora conclui que o turismo cultural e o turismo de natureza precisam de ser associados a outros tipos de turismo. No entanto, não deixa de apontar obstáculos ao desenvolvimento económico e social da região como o declínio demográfico, os baixos salários médios e a falta de trabalho para licenciados.

Por último, a terceira parte foi escrita pela Coordenadora da obra que a apelidou de "Considerações finais". Nesta, apesar de considerar que o destino Douro possuir produtos turísticos de excelência, conclui que o Turismo do Porto e Norte Portugal trata de forma desigual os quatros patrimónios mundiais do seu território, para além da cidade do Porto ser privilegiada no caso das city & short breaks face aos demais destinos do Norte de Portugal.

Em conclusão, esta é uma obra que trata a região NUT III - Douro em termos históricos desde a sua ocupação humana à sua "descoberta" para efeitos turísticos sobretudo a partir da classificação do património mundial do Douro e de Foz Côa. Neste processo destaca-se a importância de algumas personalidades na segunda metade do século XIX, seguindo-se o das instituições. Por outro lado, o "esquecimento" da região do Douro em termos turísticos face ao território nacional deve-se à política especulativa neoliberal que faz alternar a importância económica dos territórios seja em termos de desenvolvimento económico, seja em termos turísticos. A história do Douro, em termos turísticos, poderia ser igualmente a história de outras regiões nacionais e europeias quando relaciona o local com o global, como bem salienta Pereiro (2019). Por fim, deve-se relevar que esta obra para além de tratar historicamente o turismo na região do Douro, não deixa de perspetivar o presente e o futuro no que respeita aos desafios colocados pelo desenvolvimento da região e do turismo.

Referência

Santana, M. O. R. (coord.) (2019). Para uma história do turismo no Douro. Vila Real: CETRAD, UTAD, Dourotur, Sodivir. ISBN 978-972-8546-82-3. Disponible en http://www.pasosonline.org/Publicados/pasos_difunde/PS_DiF _2019_1.pdf.

Notas

1 Para citar el artículo: Rocha, F. (2022). Para uma história do turismo no Douro, de María Olinda Rodrigues Santana. Recensão. Turismo y Sociedad, vol. XXX, pp. 275-277. DOI: https://doi.org/10.18601/01207555.n30.14
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