Servicios
Servicios
Buscar
Idiomas
P. Completa
Marx, maquinaria e grande indústria: o desenvolvimento tecnológico no Livro I de Das Kapital
Paulo Fernando Rocha Antunes
Paulo Fernando Rocha Antunes
Marx, maquinaria e grande indústria: o desenvolvimento tecnológico no Livro I de Das Kapital
Marx, machinery and large industry: the technological development in Book I of Das Kapital
Griot: Revista de Filosofia, vol. 16, núm. 2, pp. 36-53, 2017
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
resúmenes
secciones
referencias
imágenes

Resumo: :

O presente trabalho recupera a reflexão de Marx, acerca do desenvolvimento tecnológico, com base no seu famoso 13.º capítulo “Maquinaria e grande indústria” (Maschinerie und große Industrie), pertencente ao Livro I de Das Kapital. Ao longo deste trabalho serão sucintamente analisadas questões fundamentais como a da acumulação de capital, a concorrência e a compulsão (capitalista) por mais-valia (absoluta e relativa), o papel da luta de classes face a isto e a maneira como as relações sociais (de produção) vigentes influenciam o desenvolvimento tecnológico. No final destrinçam-se as contradições da tecnologia dadas as relações sociais de produção capitalistas.

Palavras-chave:CapitalCapital,ConcorrênciaConcorrência,Luta de classesLuta de classes,Mais-valiaMais-valia,TecnologiaTecnologia.

Abstract: :

The present work recovers Marx’s thought on technological development, from his famous 13th chapter “Machinery and large industry” (Maschinerie und große Industrie), which belongs to Book I of Das Kapital. Throughout this work, fundamental questions such as capital accumulation, competition and (capitalist) compulsion for surplus value (absolute and relative), the role of class struggle in this respect and how social relations (of production) influence the technological development will be succinctly analyzed. In the end, the contradictions of technology are revealed given the capitalist social relations of production.

Keywords: Capital, Competition, Class struggle, Surplus-value, Technology.

Carátula del artículo

Artigos

Marx, maquinaria e grande indústria: o desenvolvimento tecnológico no Livro I de Das Kapital

Marx, machinery and large industry: the technological development in Book I of Das Kapital

Paulo Fernando Rocha Antunes
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Portugal
Griot: Revista de Filosofia, vol. 16, núm. 2, pp. 36-53, 2017
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Recepção: 23 Setembro 2017

Aprovação: 15 Novembro 2017

§ 1. Notas introdutórias

Hoje em dia, mais frequentemente nos países ocidentais do que na sua dita periferia, falar-se em “maquinaria”, ainda mais em “grande indústria”, pode tanger a anacronismo. Não porque esta(s) tenha(m) deixado de existir ou de desempenhar um papel fundamental no cotidiano social, mas porque tende-se cada vez mais a desviar o olhar (quase exclusivamente) para os desenvolvimentos tecnológicos a nível digital, mais precisamente, para os elementos de consumo individual (apetrechos tais como telemóveis, computadores, etc., e aplicações atinentes), enfim, a “amar a cornucópia das novas inovações” (cf. WARSH, 2006: 147) ..

Por isso, não deixamos de assinalar que ao pretender recuperar a reflexão de Karl Marx (1818-1883), acerca do desenvolvimento tecnológico, ou de uma “teoria da maquinaria” (cf. SMITH, 2009: 113), estamos a fazê-lo, muito certamente, a contrapelo. De facto, ao contrário de um certo entendimento dominante, entende-se, e não é caso isolado, que esta reflexão não terá ficado refém do seu século (cf., a atual epígrafe, MORO, 2006: 109-110).

Mas ainda antes de se avançar para tal empreitada gostaríamos de gorar, desde já, algumas expetativas que se possam criar em torno do presente.

Em primeiro lugar, não pretendemos proceder a qualquer atualização da reflexão de Marx, tendo em conta, por exemplo, o que alguns autores têm chamado de Segunda Revolução Industrial: depois de uma primeira – que substituiu o trabalho braçal pelas máquinas –, encontramo-nos agora numa segunda – substituição do trabalho intelectual por outras máquinas e/ou outras tecnologias várias (cf., por exemplo, BRYNJOLFSSON; McAFEE, 2014; há quem já se refira a uma quarta Revolução). Contamos com o suporte da subsequente exposição para que o enquadramento dos desenvolvimentos hodiernos seja de certa maneira compreendido ..

Em segundo lugar, não contamos proceder a qualquer confronto com outras perspetivas que também refletiram acerca da tecnologia, como, por exemplo, a neo-schumpeteriana (“economista evolucionista”). Desde logo se assinala que falta tanto a esta (apesar de lograr algumas coincidências com a reflexão de Marx), como à maior parte das restantes, algo de fundamental (e que nos vai guiar mais adiante): “esquecem-se” de pensar a relação entre a tecnologia e o capital(ismo), (cf. KATZ, 1996; SMITH, 2004) ..

Em terceiro lugar, nem vamos proceder a uma defesa da reflexão marxista face às suas críticas, no que diz respeito ao desenvolvimento tecnológico, sendo a principal destas a que a acusa de enfermar de um “determinismo tecnológico”; crítica, por sua vez, quase sempre alicerçada num determinado entendimento do papel das forças produtivas (Produktivkräfte) .. Não o faremos, pelo menos diretamente, porquanto estamos convictos de que em Marx não existe tal “determinismo” e de que a exposição subsequente o poderá deixar suficientemente esclarecido. (No entanto, reservamos para arremate um breve comentário.)

Enfim, também não vai ser possível no espaço disponibilizado abordar a generalidade das obras do autor alemão a propósito do nosso tema. Deste modo, teremos de nos circunscrever à sua principal obra – Das Kapital (1867) –, ao seu Livro I, mais precisamente, ao seu 13.º capítulo – “Maquinaria e grande indústria” (Maschinerie und große Industrie) – ., que se situa na 4.ª secção acerca da produção de mais-valia relativa (a ver já a seguir). Este texto acaba por corresponder à maturação do pensamento do autor acerca do desenvolvimento tecnológico, decorrida ao longo de uma década verdadeiramente fecunda ..

Certamente, muito mais haverá a dizer sobre o autor e o presente tema, mas por agora é isto que nos compete expor ..

§ 2. Acumulação de capital e mais-valia

Para uma mais exata compreensão do desenvolvimento da tecnologia a partir da reflexão de Marx, mais especificamente, para uma compreensão do papel da tecnologia em capitalismo é devido o esforço de se assinalar mesmo que grosso modo algumas caraterísticas do próprio modo de produção (Produktionsweise) capitalista.

Este modo de produção tem uma origem, ao contrário do que alguns pensadores, inclusive bastante cotados na praça pública, permitem compreender. Principalmente quando estes comentadores se arvoram em teorias que apontam o capital como alguma coisa comum a todos os tempos, como se representasse os meios, a possibilidade, de empreendimento humanos no geral (cf., por exemplo, ALCHIAN; ALLEN, 1964: 173).

Marx discorre abundantemente acerca da origem do capitalismo, em Das Kapital dedica-lhe o 24.º capítulo – “A chamada acumulação original” (Die sogenannte ursprüngliche Akkumulation) –, apontando diversos momentos que contribuíram para uma acumulação, ainda não propriamente capitalista, de capital. Aí, encontram-se a expropriação dos camponeses da terra, a legislação (sangrenta) contra os expropriados, a génese do rendeiro capitalista e do capitalista industrial (cf. 1867: 741-791).

Estes momentos correspondem a parte do processo europeu que permitiu o aparecimento das relações de produção capitalistas propriamente ditas. O capital não é uma coisa, mas uma relação social. O capital corresponde à relação entre os detentores dos meios de produção (Produktionsmittel, e dos instrumentos de produção em igual modo) e os trabalhadores assalariados. Aqui se revela o papel da propriedade privada no que diz respeito à divisão social em classes, na medida em que o acumulado é uma relação de poder por parte dos proprietários da produção.

Portanto, um dos fatores mais decisivos para a constituição do capitalismo foi a separação (expropriação) do trabalhador do seu instrumento de trabalho (Arbeitsinstrument), uma vez que este deixou de ter possibilidade de produzir a sua própria subsistência sem ter de empregar a sua força de trabalho (Arbeitskraft) nos meios de outrem ..

O trabalho assalariado (Lohnarbeit) é aqui o passo decisivo de afirmação de um novo sistema de produção 10. É com a nova constituição de um dia de trabalho, dividido em duas partes, que o capitalista encontra o substancial da sua vantagem. O dia de trabalho divide-se em tempo de trabalho necessário (notwendige Arbeitszeit) – o que o trabalhador produz com vista à sua subsistência –, e sobretrabalho (Mehrarbeit) – o que o trabalhador trabalha a mais com vista ao embolso do proprietário dos meios de produção (cf. MARX, 1867: 231-232).

O que nos interessa reter, para já, é a questão da acumulação propriamente dita.

Marx considera a acumulação pré-capitalista, mas, mais precisamente, a capitalista, como a fagulha da concorrência (do mercado) capitalista (cf. 1867: 655). Visto que no mercado que o capitalismo desenvolve – isto é, que as novas relações sociais de produção propiciam –, a produção se distancia da satisfação das necessidades humanas e busca, antes, a produção em massa visando o mercado (e os seus consumidores no geral), visando também os seus concorrentes, privilegiando o mercado de consumo (cf. MARX, 1867: 335).

A acumulação de capital permite ao capitalista fazer face aos desafios que o mercado lhe coloca, desde a possibilidade de investir em mais trabalhadores (se tal for indispensável para a melhoria da quantidade produzida), de alargar a sua produção, de ditar as regras ou, pelo menos, os preços de mercado, e também determinar questões salariais com maior veemência.

É porque os concorrentes acumularam mais, ou perspetiva-se que o venham a fazer, que é preciso a cada capitalista (não interessa se isoladamente ou em associação) concorrer por mais capital. O capital precisa de ser permanentemente autovalorizado – trata-se de um processo de autovalorização (Selbstverwertung, cf. MARX, 1867: 350) do capital que é investido

Falta ver, então, como se processa a acumulação (pós-originária) de capital. Este, depois da sua origem não volta mais (exceto em alguns casos particulares e quase sempre isolados) a acumular-se da mesma maneira, ou seja, não volta mais a acumular-se sem a forma laboral propriamente capitalista já desenvolvida – o trabalho assalariado. O capital é, agora, sempre correspondente a trabalho passado não pago (cf. MARX, 1867: 556), mesmo que na forma de juros, especulação, etc.

O capital é, assim, oriundo de sobretrabalho e este trabalho a mais corresponde à mais-valia (Mehrwert) 11. A mais-valia, vantagem social do capitalista, é produzida no ato da produção, no momento em que o trabalhador produz algo em meios alheios (até pode ser cortar a barba numa barbearia, etc., o fundamental é servir para venda).

A mais-valia pode ser obtida de duas maneiras.

Por um lado, pela extensão do dia de trabalho, na medida em que o trabalhador tenha de trabalhar mais horas, pressupõe-se que produz mais, e, assim, deve produzir maior quantidade de mais-valia. A isto corresponde a mais-valia absoluta (absoluter Mehrwert, cf. MARX, 1867: 192 ss.), que mantém o trabalho necessário nos mesmos parâmetros, mas faz aumentar o sobretrabalho.

Por outro lado, a mais valia pode ser obtida de maneira a não estender o dia de trabalho, pode até diminuí-lo, mas aí terá de fazer aumentar o sobretrabalho na proporção em que diminui o tempo de trabalho necessário. A isto corresponde a mais-valia relativa (relativer Mehrwert, cf. MARX, 1867: 331 ss.), que exige uma revolução (mudança) nos meios, nos instrumentos, de produção, com vista a aumentar e melhorar a capacidade produtiva 12.

Dada a possibilidade de se colocar o trabalhador a produzir em menos tempo o que é necessário para a sua subsistência, então, está dada a possibilidade de aumentar a mais-valia, logo, o capital. Contanto que se tenha em consideração que a mais-valia é produzida na hora da produção de algo, mas a sua realização (Realisierung) dá-se apenas no ato da troca, da transação, isto é, um produto que não encontre aceitação no mercado significa capital estagnado ou desperdiçado. O Capital é sempre investimento adiantado e depois mais-valia convertida.

É na possibilidade de aumentar e melhorar a produção (dadas determinadas condições de extração de mais-valia), com vista a uma maior autovalorização do capital, que soa a hora do desenvolvimento tecnológico em capitalismo (cf. MARX, 1867: 494, 495; SMITH, 2004: 224, 229) 13.

§ 3. Desenvolvimento tecnológico em capitalismo

Considerando a reflexão de Marx, a tecnologia serve o propósito, em capitalismo, de aumentar a produção (com vista a maior extração de mais-valia, à acumulação de capital) – diminuindo o tempo de trabalho necessário, aumentando o sobretrabalho –, da maneira como são introduzidas inovações a par da melhoria e do aceleramento das condições produtivas.

De troco, tal aplicação da tecnologia embaratece a mercadoria e o trabalhador para além de fazer face à concorrência 14. Não obstante, a tecnologia em capitalismo serviu também outros propósitos com aqueles relacionados, nomeadamente, o de quebrar a resistência dos trabalhadores (cf. MARX, 1867: 424).

Ora, no final do período manufatureiro (europeu, mas em particular em Inglaterra) as unidades de produção capitalistas haviam atingido os seus limites. À medida que a expropriação sobre o trabalho disperso avançou e se criou um mercado de consumidores cada vez maior – uma vez que não podiam produzir a sua subsistência e terem de a comprar –, a demanda passou a exigir um ritmo maior de produção que a manufatura não podia comportar – visto que o trabalho manual padece das limitações físicas próprias do ser humano.

Este limite manufatureiro associou-se às condições que permitiam ao trabalhador formar coalizões, unir-se em favor das suas reivindicações, exigir a diminuição do dia de trabalho, por exemplo (o que “bloqueava” a mais-valia absoluta). Os trabalhadores tinham (algumas) condições de o fazer dado que o trabalho manual exigia uma certa habilidade (condição subjetiva do trabalho, segundo Marx) e o proprietário dos meios de produção não podia abdicar facilmente de um trabalhador experiente.

As novas condições de produção, proporcionadas pelo desenvolvimento da tecnologia produtiva, permitiram introduzir um fator produtivo objetivo, quer dizer, que não dependesse da habilidade dos trabalhadores. Passou a ser possível introduzir na linha de montagem pessoas pouco qualificadas, mas com capacidade suficiente para levar adiante o exigido. Passou a ser possível integrar mulheres e crianças nas fábricas, nivelando os salários por baixo, uma vez que aquelas se dispunham a receber menos do que os homens, por causa da sua falta de prática e condição social (cf. MARX, 1867: 416 ss.).

Por conseguinte, o desenvolvimento das condições de produção por parte do capitalista afirma-se, antes de tudo, por via da necessidade de autovalorização do capital, mas, como visto, tendo em linha de conta fazer face à concorrência e “quebrar a resistência” dos trabalhadores, ambos fatores que podem entravar aquela 15.

Marx chegou a referir a aplicação da tecnologia em capitalismo como um “meio de guerra” (Kriegsmittel) dos capitalistas contra os trabalhadores, uma vez que sempre que estes apareciam unidos em torno de alguma reivindicação, logo surgia um novo invento tecnológico para ocupar o seu lugar (cf. 1867: 459) 16.

Atente-se a algumas das consequências que o desenvolvimento da maquinaria e da grande indústria comportou(a):

O aumento da intensidade do trabalho. Os trabalhadores passaram a produzir muito mais em menor tempo do que antes, foram integrados como peças de uma máquina, o trabalho mecanizado acelerado passou a exigir menor habilidade pessoal, bem como as suas condições de saúde viram-se atacadas por via dos novos ritmos de trabalho e condições específicas da própria maquinaria (cf. MARX, 1867: 431 ss.).

A transformação da família. Com a integração da restante família no trabalho “social” as mulheres e as crianças passaram a apresentar-se de outra maneira – não tanto como propriedade do homem –, mas tal, naquelas condições, significou uma nova miserabilização, repare-se que o núcleo familiar viu os salários serem nivelados por baixo, o que teve como consequência a maior parte das famílias ganharem tanto (ou ainda menos) em conjunto do que o homem sozinho ganhava anteriormente (cf. MARX, 1867: 417).

O recrudescimento do desemprego – ou melhor, como Marx lhe chamava, a criação e ampliação de um “exército industrial de reserva” (industrielle Reservearmee, cf. 1867: 657 ss.). As novas tecnologias não exigiam que se empregasse tantos trabalhadores como até ao auge do período manufatureiro. Aqui fora necessário empregar o máximo de trabalhadores que se pudesse, uma vez que a demanda o exigia. Mas com as novas tecnologias e a produzir tanto em menos tempo, foi possível substituir o trabalho braçal pela maquinaria. Este é um “exército” que quase se autorreproduz, pois os trabalhadores, sem possibilidade de produzir a sua própria subsistência, vêem-se na situação de tudo ter de fazer para poder estar empregados: os que estão empregados sujeitam-se a piores condições para manter o emprego e os que não estão, tenderão a aceitar ainda piores condições dos que estão empregados para poder voltar ao emprego.

O aumento do capital constante (konstantes Kapital) 17. Esta é mais uma das consequências do impulso imanente (immanenter Trieb) e tendência constante (beständige Tendenz) do capitalismo em inovar a sua força produtiva, as suas condições tecnológicas (cf. MARX, 1867: 338). Todavia, não logramos espaço suficiente para aprofundar esta questão: tal levaria a cotejar (com algum detalhe) parte das reflexões de Marx do seu Livro III, embora no Livro I, que nos serve de base para a presente exposição, se encontrem repercussões no âmbito da composição do capital que valeriam a pena estudar (cf. MARX, 1867: 640 ss.; MORO, 2006: 98), mas deixemo-lo para outra ocasião e mais à frente encerremos com um breve apontamento.

Tendo em vista todas estas consequências 18, não é por acaso que Marx vai considerar a passagem de uma subsunção formal (formelle Subsumtion) do trabalhador em capitalismo para uma subsunção real (reelle Subsumtion).

A primeira, em rigor, concerne ao período manufatureiro, porque os trabalhadores já se encontravam subsumidos sob a forma de trabalho assalariado, mas alguma coisa da sua parte ainda era necessária (por exemplo, a habilidade) 19.

A segunda, em rigor, concerne à introdução da maquinaria e da grande indústria, visto que o trabalhador foi socialmente reduzido (subsumido), no fundamental, a uma “simples” peça das máquinas e passou a ter muito menos capacidade de se libertar da esfera do capital. Em rigor, pode-se dizer que se mantém a forma, mas adensa-se o conteúdo (cf. MARX, 1867: 533; DUSSEL, 1988: 41-42, para uma catalogação de 8 aspetos do modo como o capital utiliza a máquina para subjugar o trabalho) 20.

Passa-se, assim, do aumento do dia de trabalho para a transformação completa das condições de trabalho.

Na verdade, serve de exemplo o facto de a luta pela diminuição do dia de trabalho (contra a mais-valia absoluta) ter sido esboroada: dada a degradação do estado dos trabalhadores perante o proprietário dos meios de produção, logo tiveram de ver o capitalista aumentar a intensidade da produção, mas também o dia de trabalho – mais-valia absoluta e relativa combinam-se com vista à maior autovalorização de capital.

O capitalismo atinge, deste modo, a sua maturação. A Revolução Industrial não inventa o capitalismo, este serve-se daquela, pois é produto das necessidades de expansão e desenvolvimento capitalistas (cf. MARX, 1867: 395-396) 21. A tecnologia serviu este propósito e serve enquanto garantir vantagem na luta de vida ou de morte da concorrência – se o capitalista não for a jogo pela autovalorização do seu capital, pode ser deixado de fora do mercado 22. Segundo o autor, «Se a força motriz parte agora do homem ou mesmo por sua vez de uma máquina, isso em nada altera a essência da coisa.» (1867: 394 23. 24.

§ 4. Das contradições à superação do modo de produção em causa

Contudo, a história não acabou(a) aí, quer dizer, não acaba com a subsunção total da vida humana, com o domínio do capital. Todo este processo aqui exposto acarreta contradições (insanáveis) do próprio sistema capitalista. É por isso que se insistiu em destacar o âmbito de uma aplicação rigorosamente capitalista da tecnologia, e não genericamente ou a par de outro caso particular 25. Vejamos algumas dessas contradições.

Comecemos pela que é, porventura, a mais “intuitiva” – a possibilidade de libertação laboral humana que a tecnologia parece proporcionar.

A introdução de novas tecnologias permite diminuir o tempo de trabalho necessário, como vimos, o que permite, por consequência, diminuir o tempo de trabalho total, visto que deixa de ser preciso trabalhar tanto como anteriormente para produzir o que é necessário. Mas nas condições de produção capitalista a introdução de novas invenções serve frequentemente para o contrário, serve para uma maior subjugação do trabalho 26.

Se há alturas em que o trabalho se consegue libertar um pouco mais, mantendo-se as relações capitalistas, de acordo com o autor, isso terá que ver com a luta de classes 27, porquanto não é inocente ou inócuo que, numa sociedade dividida entre proprietários dos meios de produção e expropriados destes, se reivindique por melhores condições de vida (ou, quando se vai mais longe do que isso, se lute para transformar desde a base a realidade social que se encontra dada), (cf., por exemplo, 1867: 249-250; ENGELS, 1883: 4).

Depois, e parece escapar à maior parte dos apologistas do sistema em causa, que o chamado exército industrial de reserva – e o constante aumento deste, principalmente se não houver picos de produção –, elimina parte (quando não quase toda) da possibilidade de realização de mais-valia. Ora, com o crescimento do número de desempregados torna-se evidente a baixa do consumo 28. O capitalismo deve continuar a produzir (em busca de autovalorização), mas não tem quem compre o que é produzido. As crises de sobreprodução (Überproduktion), a necessidade de expansão dos mercados, encontram, de modo genérico, a sua explicação (cf., por exemplo, MARX, 1867: 476).

O capitalismo parece desenvolver-se (ou desenvolve-se mesmo) autofagicamente: os capitalistas que estão em direta concorrência uns com os outros vêem-se obrigados a investir (o caso acima referido do capital constante e encerra-se aqui o apontamento) para fazer face às exigências do mercado, mas esse investimento pode ser detido pelo investimento de outros, a sua taxa de lucro pode diminuir e, por consequência, sucumbir (esta é uma das consequências da necessidade do aumento do capital constante e da diminuição, ou desaparecimento, da sua autovalorização).

Na verdade, o capitalismo – que se apresenta como um modo de produção imensamente dependente do que a tecnologia lhe pode proporcionar, tendendo a superdesenvolvê-la – acaba por se tornar, inversamente, num bloqueador do próprio desenvolvimento tecnológico.

O capitalismo bloqueia o desenvolvimento da tecnologia porque se serve no essencial daquela que for eminentemente lucrativa, mesmo que a menos lucrativa possa trazer avanços significativos para a humanidade, pois se uma tecnologia não for rentável, sai de cena, ou nem chega a entrar 29. Dado o espaço de concorrência entre os capitalistas, as patentes são compradas, às vezes “metidas na gaveta” só para impedir um concorrente de despontar; encarecidas, tornando-se de difícil utilização pela generalidade dos cientistas; destruídas; etc. (cf. SMITH, 2004: 232 ss.).

Acima de tudo, o desenvolvimento da tecnologia, subjugado pelas relações sociais de produção capitalistas, obstaculiza a emancipação humana 30. Contanto que não se compare face a outros modos de produção menos desenvolvidos como, por exemplo, o feudal. Em capitalismo só é possível diminuir-se o tempo de trabalho necessário, através do incremento tecnológico, por causa da sua compulsão por sobretrabalho, e não porque se pretenda diminuir efetivamente o dia de trabalho para os trabalhadores ou aumentar algum “fundo social”.

A possível coincidência do tempo de trabalho necessário com o tempo de trabalho total (ou quase total) não é possível em capitalismo, se tal fosse possível já não seria capitalismo (cf. MARX, 1867: 552). Veja-se, se o capitalismo está dependente da acumulação de trabalho alheio não pago (e o que daí consiga derivar, entre prebendas, especulação, juros, etc.), então, não pode fazer coincidir as vantagens tecnológicas com a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Exceto se a luta de classes, ainda dentro do modo de produção em causa, permitir que haja avanços em favor da classe trabalhadora, de outra maneira tal não deixará de ser uma ilusão 31. O capitalismo não pode existir sem sobretrabalho, o desaparecimento deste corresponderia a uma sociedade em transição, portanto, do capitalismo para o socialismo (cf. MORO, 2006: 81).

Não é por acaso que a primeira vez que Marx fala, em Das Kapital, na possibilidade de superação do modo de produção capitalista – em elementos de formação de uma nova sociedade –, seja aquando das suas reflexões acerca da maquinaria e da grande indústria (cf. 1867: 526) 32. Este desenvolvimento tecnológico, apesar de aparecer “em invólucro capitalista” (in kapitalistischen Hülle), comporta em si possibilidades materiais de superação social até aí não existentes 33. Assim sendo, comporta a possibilidade de se poder produzir em melhores e maiores condições a subsistência humana 34.

Enfim, de acordo com o autor alemão, a tecnologia não está condenada a ser subjugada pelo capital. Ademais, a subsunção (real, com base na maquinaria ou tecnologia no geral) traz para a cena a generalização do assalariamento, isto é, o aumento dos trabalhadores assalariados, expropriados dos meios de produção, por um lado, e a diminuição dos detentores da produção, os expropriadores, por outro (cf., por exemplo, MORO, 2006: 67, 109) 35. E no aumento desta clivagem social materializa-se o agudizar da luta de classes e a tomada de consciência do que está em causa e a possibilidade da sua superação 36.

§ 5. Arremate

Em nosso entendimento, a reflexão de Marx aqui recuperada, acerca do desenvolvimento tecnológico, quase que poderia ser resumida no seguinte: é como as relações sociais (não esquecer as relações de propriedade, Eigentumsverhältnisse) se organizam, se desenvolvem historicamente, que vem a ser determinada a aplicação que se faz da tecnologia (não confundir com uma suposta “neutralidade tecnológica”, a ver adiante) 37.

Atente-se ainda que na crítica que o autor alemão faz, não se encontra qualquer tendência neoludita – de apelo à destruição da maquinaria, por via dos constrangimentos que denuncia –, ou qualquer tendência romântica pré-tecnológica – de apelo a um regresso ao passado –; mas também não se encontra o reverso deste romantismo, digamos assim, um romantismo de outro tipo, isto é, o de um deslumbramento face às potenciais e efetivas conquistas tecnológicas e, desse modo, um depósito acrítico de “fé tecnologista” (cf. MANDEL, 1990: 37-38).

A perspetiva do autor está, por seu turno, assente em possibilidades materiais do próprio desenvolvimento tecnológico em capitalismo (quer nas suas potencialidades, quer nos seus limites). A maneira como a tecnologia pode servir a emancipação humana encontra-se diretamente ligada à produção social e à transformação da propriedade em causa.

É por isso que a reflexão na esteira de Marx não pode deixar de ter em conta o processo histórico, para o efeito: como se desenvolveu em primeiro momento o capitalismo, como se expandiu, as novas caraterísticas que foi assumindo (ainda que mantenha a fundamental sempre presente – a propriedade privada dos meios de produção e o trabalho assalariado), e os seus limites, tal como aconteceu com outros modos de produção, ou seja, com outras relações sociais de produção.

A partir da perspetiva de Marx pode-se compreender, mais apuradamente, o que várias teorias disseminadas pretendem significar – tanto as que apresentam a tecnologia como “a parteira das maiores catástrofes que a humanidade irá enfrentar” (as distopias, tecnológicas para o caso) ou as que a apresentam como “a maior das salvações” que há de acudir à humanidade, dadas as “maravilhas” da tecnologia respetivamente (as utopias tecnológicas), (cf. DIÉGUEZ, 2005: 9-10). Quer num caso como noutro não fazem mais do que projetar acrítica e a-historicamente para um futuro distante, ou às vezes nem tão distante assim, as “deformações” ou os “encantos” da sociedade face ao desenvolvimento tecnológico hodierno 38.

Aqui sim, porventura se encontra o lugar apropriado para um “determinismo tecnológico” – nas teorias que persistem em ver no desenvolvimento tecnológico um desenvolvimento autónomo face ao tipo de relações sociais vigentes ou, indo ainda mais longe, um desenvolvimento absolutamente determinante 39. Trata-se de uma análise parcial, à superfície, uma vez que tem pouco mais do que as possibilidades tecnológicas em real consideração 40. O que pressupõe de alguma maneira uma certa “neutralidade” da tecnologia, ou seja, esta segue um curso inevitável, mas pode ser usada tanto para o “bem” como para o “mal”.

Porém, não é desta maneira que o desenvolvimento da tecnologia se processa. O tipo de relações sociais que a desenvolvem determinam maioritariamente quais os avanços e objetivos a alcançar. Por isso, a transformação do modo de produção não dita apenas a nova aplicação da tecnologia, também ditará a nova tecnologia e a reformulação, em larga medida, da existente (cf. MOHUN. 1983a: 300) 41.

Serve aqui recordar a teoria do “feiticismo” de Marx, igualmente exposta no Livro I d’O Capital (cf. 85 ss.), em que o autor faz a crítica à relação coisal (reificação) que as relações sociais adquirem – desde a sua “forma” mercadoria, dinheiro, inclusive tecnológica, etc. –, isto é, por via da qual aos trabalhadores deixa de ser evidente a relação de produção que aí se encobre. Se a relação é apenas uma “coisa” (aqui considera-se a tecnologia), então é mais fácil pensá-la como algo “neutro” e numa simples mudança da sua utilização.

Os trabalhadores devem ultrapassar esse momento (certamente com o contributo da luta de classes e da respetiva consciencialização) ao transformar as relações sociais que estão na base da sua subjugação e do referido encobrimento 42. Pois concentrar baterias em exclusivo no desenvolvimento da tecnologia acaba por ser uma manifestação de “feitiço”, desconhecimento, “esquecimento”, das relações sociais que a embasam.

Em jeito de arremate final, serve ainda uma passagem que se encontra mais ou menos a meio do 13.º capítulo, o capítulo de Das Kapital que guiou a presente exposição:

É preciso tempo e experiência para que o operário [mas podem ser igualmente os restantes assalariados, entre outros] aprenda a distinguir a maquinaria [pesada, mas, seguramente, também digital, entre outras] da sua utilização [aplicação] capitalista e a dirigir os seus ataques não contra os próprios meios materiais de produção [e restantes parceiros de classe], mas contra a sua forma social de exploração (1867: 452) 43.

Material suplementar
Referências bibliográficas:
ADLER, Paul S. “Technological Determinism”. In: CLEGG, Stewart; BAILEY James R. (eds.). International Encyclopedia of Organization Studies, 2007. Acedido a 13 de maio de 2017, disponível em: http://dx.doi.org/10.4135/9781412956246.n530.
ALCHIAN, Armen; ALLEN, William R. Exchange and Production. Competition, Coordination, and Control. 3rd ed. Belmont, California: Wadsworth Publishing Company, 1983 (1964).
AXELOS, Kostas. Alienation, Praxis, and Techné in the Thought of Karl Marx. Translated by Ronald Bruzina. Austin-London: University of Texas Press, 1976 (Marx, penseur de la technique: De l’aliénation de l’homme à la conquête du monde, 1961).
BARATA-MOURA, José. Ontologia e Política. Estudos em torno de Marx - II. Lisboa: Edições «Avante!», 2016.
BIMBER, Bruce. “Karl Marx and the Three Faces of Technological Determinism”. Social Studies of Science, SAGE, London, Newbury Park and New Delhi, vol. 20, pp. 333-51, 1990.
BOOTH, Adam. “Universal basic income: utopian dream or libertarian nightmare?”. In Defense of Marxism. 10 February, 2017. Acedido a 13 de maio de 2017, disponível em: https://www.marxist.com/universal-basic-income-utopian-dream-or-libertarian-nightmare.htm.
BRYNJOLFSSON, Erik; McAFEE, Andrew. The Second Machine Age: Work, Progress, and Prosperity in a Time of Brilliant Technologies. New York: W. W. Norton & Company, 2014.
DIÉGUEZ, Antonio. “El determinismo tecnológico: indicaciones para su interpretación”. Argumentos de Razón Técnica, 8, pp. 67-87, 2005.
DUSSEL, Enrique. Towards an Unknown Marx. A Commentary on the Manuscripts of 1861-63. Translated by Yolanda Angulo. London-New York: Routledge, 2001 (Hacia un Marx desconocido. Un comentario de los Manuscritos del 61-63, 1988).
EATWELL, John. “Socially necessary technique”. EATWELL, John; MILGATE, Murray; NEWMAN, Peter, eds. Marxian Economics. London and Basingstoke: The Macmillan Press Limited, 1990; pp. 342-343.
ENGELS, Friedrich. “Karl Marx, „Zur Kritik der Politischen Ökonomie“”. Marx-Engels Werke (Doravante: MEW). Berlin: Dietz Verlag, 1961 (1859); vol. 13, pp. 468-477.
______. Die Entwicklung des Sozialismus von der Utopie zur Wissenschaft. In: MEW, 1987 (1880); vol. 19, pp. 181-228.
______. Vorwort zum „Manifest der Kommunistischen Partei” (deutsche Ausgabe von 1883). MEW, 1962 (1883); vol. 21, pp. 3-4.
______. “Vorwort zur englischen Ausgabe”. In: MARX, Karl. Das Kapital. Kritik der politischen Ökonomie. MEW, 1962 (1886); vol. 23, pp. 36-40.
FEENBERG, Andrew. “Marxism and the Critique of Social Rationality: From Surplus Value to the Politics of Technology”. Cambridge Journal of Economics, vol. 34, n.º. 1, pp. 37-49, 2010.
KATZ, Claudio “La concepción marxista del cambio tecnológico”. Revista Buenos Aires. Pensamiento económico, n.º 1, otoño, Buenos Aires, 1996.
______. “Discusiones marxistas sobre tecnologia”. Razón y Revolución, n.º 3, invierno, reedición electrónica, 1997.
______. “Determinismo tecnológico y determinismo histórico-social”. Redes, vol. V, n.º 11, junio, pp. 37-52, 1998.
MANDEL, Ernest. “Introduction”. In: MARX, Karl. Capital: A Critique of Political Economy. Translated by Ben Fowkes. London: Penguin, 1990; vol. 1, pp. 11-86.
MARX, Karl-ENGELS, Friedrich. Die deutsche Ideologie. Kritik der neuesten deutschen Philosophie in ihren Repräsentanten Feuerbach, B. Bauer und Stirner, und des deutschen Sozialismus in seinen verschiedenen Propheten. MEW, 1978 (1845); vol. 3, pp. 9-530.
MARX, Karl. Misère de la philosophie: Réponse à la Philosophie de la misère de M. Proudhon. Paris: Éditions Sociales, 1968 (1847).
______. Lohnarbeit und Kapital. MEW, 1961 (1849); vol. 6, pp. 397-423.
______. Cuaderno tecnológico-histórico. Estudio prelimar de Enrique Dussel. México: Universidad Autónoma de Puebla, 1984 (1851).
______. Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte. MEW, 1960 (1852); vol. 8, pp. 111-207.
______. Grundrisse der Kritik der politischen Ökonomie. MEW, 1983 (1857-58); vol. 42.
______. Economic manuscript of 1861-63. In: Marx and Engels Collected Works. London: Lawrence & Wishart, 1988 (1861-63); vol. 30, pp. 9-451.
______. Das Kapital. Kritik der politischen Ökonomie. MEW, 1962 (1867); vol. 23 (O Capital. Crítica da Economia Política. Tradução de José Barata-Moura et al. Moscovo-Lisboa: Edições Progresso-Edições «Avante!», 1990-1997; livro I, tomo 1-3).
______. Kritik des Gothaer Programms, MEW, 1987 (1875); vol. 19, pp. 11-32.
MOHUN, Simon. “Labour process”. In: BOTTOMORE, Tom, ed.. A Dictionary of Marxist thought. 2nd ed. Oxford: Blackwell Publishers, Ltd., 2001 (1983a) (reprinted); pp. 297-301.
______ “Machinery and machinofacture”. In: BOTTOMORE, Tom, ed. A Dictionary of Marxist thought. 2nd ed. Oxford: Blackwell Publishers, Ltd., 2001 (1983b) (reprinted); pp. 331-332.
MORO, Domenico. A Crise do Capitalismo e Marx. Resumo de O Capital com referência ao século XXI. Tradução de José Oliveira. Lisboa: Página a Página, 2016 (Nuovo compendio del Capitale.Sintesi del I libro del Capitale di K. Marx con riferimenti e confronti con la realtà contemporânea, 2006).
MURRAY, Patrick. “The Social and Material Transformation of Production by Capital: Formal and Real Subsumption in Capital”. In: BELLOFIORE, Riccardo; TAYLOR, Nicola (eds.). The Constitution of Capital. Essays on Volume I of Marx’s Capital. Basingstoke: Palgrave McMillan, 2004; pp. 243-273.
PERELMAN, Michael. Class Warfare in the Information Age. New York: St Martin’s Press, 1998.
ROPOHL, Günter. “A Critique of Technological Determinism”. In: DURBIN, Paul T.; RAPP, Friedrich (eds.). Philosophy and Technology. Dordrecht: D. Reidel Publishing Company, 1983; pp. 83-96.
SHAW, William H. Marx’s Theory of History. Stanford, California: Standford University Press, 1978.
SMITH, Tony. Technology and Capital in the Age of Lean Production. A Marxian Critique of the ‘New Economy’. Albany: State University of New York Press, 2000.
______. “Technology and History in Capitalism: Marxian and Neo-Schumpeterian Perspectives”. In: BELLOFIORE, Riccardo; TAYLOR, Nicola (eds.). The Constitution of Capital. Essays on Volume 1 of Marx’s Capital. Basingstoke: Palgrave McMillan, 2004; pp. 217-242.
______. “The Chapters on Machinery in the 1861-63 Manuscripts”. In: BELLOFIORE, Riccardo; FINESCHI, Roberto (eds.). Re-reading Marx. New Perspectives after the Critical Edition. Basingstoke: Palgrave McMillan, 2009; pp. 112-127.
STEIN, Ben. “In Class Warfare, Guess Which Class Is Winning”. The New York Times, 2006. November 26. Acedido a 13 de maio de 2017, disponível em: http://www.nytimes.com/2006/11/26/business/yourmoney/26every.html.
WARSH, David. Knowledge and the Wealth o f Nations: A Story o f Economic Discovery. New York: W. W. Norton, 2006.
WARTENBERG, Thomas E. Thinking on Screen. Film as Philosophy. London-New York: Routledge, Taylor&Francis Group, 2007.
WOOD, Ellen M. Democracy Against Capitalism: Renewing Historical Materialism. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
YOUNG, Robert M. “Technology”. In: BOTTOMORE, Tom, ed. A Dictionary of Marxist thought. 2nd ed. Oxford: Blackwell Publishers, Ltd., 2001 (1983) (reprinted); p. 535.
______________________________________________________________________
Autor(a) para correspondência: Paulo Fernando Rocha Antunes, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Alameda da Universidade, 1600-214 Lisboa, Portugal. pauloantunes@campus.ul.pt
Notas
Buscar:
Contexto
Descargar
Todas
Imágenes
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por Redalyc