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Recepção: 14 Agosto 2020
Aprovação: 06 Dezembro 2020
DOI: https://doi.org/10.31977/grirfi.v21i1.2063
Resumo: O objetivo deste trabalho é estabelecer uma relação entre a noção de suplemento – particularmente, a de “suplemento perigoso” – e a paixão pela botânica em Rousseau. Para tanto, tomarei como baliza as interpretações de Jacques Derrida, Alain Grosrichard e Alexandra Cook para analisar algumas passagens das Confissões, dos Devaneios e das Cartas sobre a botânica. Tenho como hipótese que a atividade botânica pode ser considerada como uma espécie de suplemento inofensivo porque evoca uma imagem que conjuga o sexo e a inocência.
Palavras-chave: Rousseau, Autobiografia, Suplemento, Botânica, Sexualidade.
Abstract: The aim of this work is to establish a relationship between the notion of supplement, particularly that of “dangerous supplement”, and the passion for botany in Rousseau. For that, I will take as a guide the interpretations of Jacques Derrida, Alain Grosrichard and Alexandra Cook to analyze some passages from Confessions, Reveries and Letters on the botany. I have the hypothesis that botanical activity can be considered as a kind of inoffensive supplement because it evokes an image that combines sex and innocence.
Keywords: Rousseau, Autobiography, Supplement, Botany, Sexuality.
O suplemento perigoso e o desprezo pela botânica
Como se sabe, é no livro III das Confissões que Rousseau identifica a descoberta da masturbação com a metáfora do “suplemento perigoso” e é também nesse livro que ele relata seu primeiro contato com a botânica. Trata-se do período de 1729-1730, Jean-Jacques tem entre 17 e 19 anos, e depois de ter abandonado o emprego de doméstico no Solar do Conde Gouvon, em Turim, ele volta a Annecy para viver novamente junto de Madame de Warens. As belas passagens em que Rousseau narra seu reencontro com ela têm tons bucólicos e romanescos. O quarto em que estava instalado tinha vista para o campo, o jardim e a horta. A perfeita combinação entre a natureza e a arte aumentava a disposição no jovem para amar: “[...] em toda parte, a via entre as flores e a verdura; os seus encantos e os da primavera confundiam-se aos meus olhos” (ROUSSEAU, 1964, p. 109). Madame de Warens, diz Rousseau, “a mais carinhosa das mães”, nunca procurou seu próprio prazer, mas sempre o bem de Jean-Jacques; e se os sentidos contaram na dedicação dele para com ela, não foi para mudar a natureza dessa afeição, mas simplesmente para torná-la mais delicada e charmosa, para o embriagar com o encanto de ter uma “mãe” jovem e bonita. No entanto, é nesse mesmo contexto que Rousseau relata a descoberta da masturbação:
[...] o meu temperamento inquieto tinha-se por fim declarado, e a sua primeira erupção, bem involuntária, havia-me dado a respeito da minha saúde alarmes que pintam melhor do que nada a inocência que até então vivera. Em breve tranquilizado, aprendi aquele perigoso suplemento que engana a natureza, e livra de muitos desregramentos os rapazes de meu caráter à custa da saúde, do vigor, e algumas vezes da vida. (ROUSSEAU, 1964, p. 112-113).
Essa famosa passagem tem um valor simbólico peculiar: um indivíduo inocente, cujo caráter tímido se torna inquieto pelo amadurecimento do corpo; com o tempo, a natureza mesma se manifesta e o acaso revela um recurso, um suplemento. Esse suplemento é ambivalente, por um lado, ele apazigua os sentidos e previne o desregramento, mas sob efeito de uma imaginação ardente torna-se uma funesta vantagem, pois pelo recurso dessa faculdade corre-se o risco de cair na degeneração. O uso voluntário do suplemento é perigoso, porque corrompe a inocência em prejuízo do vigor físico e da sanidade da alma.
No entanto, esse suposto prejuízo é, antes de tudo, um preconceito, um préjugé. Segundo Thomas Laqueur (2004), a origem da masturbação moderna pode ser situada entre 1708 a 1716, com um escrito de um médico inglês intitulado Onania. O sucesso desse escrito se deu pela associação do autoabuso intencional com a história de Onã, da sagrada escritura. Onã teria de possuir sua cunhada viúva Tamar para gerar uma descendência, mas ao saber que a descendência não lhe pertenceria, Onã, enquanto possuía a mulher, derramava o sêmen na terra. Isso desagradou a Deus, que o matou (GÊNESIS, 38:6-10). Assim teria nascido o onanismo, a condenação religiosa se juntou ao preconceito médico, de modo que essa prática teria como consequência prejuízo na saúde e, tal como na sagrada escritura, até mesmo a morte (LAQUEUR, 2004, p. 15).
Rousseau, que à época ainda não tinha um argumento filosófico que fosse contrário à medicina, já se indispunha a essa ciência. Madame de Warens, filha de curandeiro amador, herdou o saber medicinal das plantas e apresentou a farmácia fitoterápica para Rousseau (GROSRICHARD, 2002, p. 360; ACHER, 2006, p. 791). Ele a ajudava na escritura e nas receitas boticárias. Ela, por sua vez, obrigava-o a provar as mais detestáveis drogas. Apesar de sua resistência e das horríveis caretas, quando via os seus lindos dedos lambuzados de elixires se aproximarem, inevitável era acabar por abrir a boca e chupá-los. Lembrando-se dessa cena, Rousseau mesmo pondera que se um eventual lacaio notasse esse tipo de situação bem poderia julgar que ali de modo algum se fazia opiáceos, e que aquela farmácia não passava de uma grande farsa (ROUSSEAU, 1964, p.114).
No livro V dasConfissões, Rousseau volta a relatar uma vez mais os seus primeiros contatos com a botânica. Entre 1731-1736, mudaram-se para Chambéry, onde Jean-Jacques trabalhou num escritório de repartição a serviço do Rei da Sardenha. Esse trabalho maçante logo o entediou, fazendo-o buscar distrações que se coadunassem mais com seu caráter. A ocasião era boa para a botânica, pois via grande satisfação nos olhos de Claude Anet, quando este voltava entusiasmado de uma herborização carregado de novas plantas (ROUSSEAU, 1964, p. 181). O empregado e amante de Madame de Warens também era versado na farmácia das plantas. Rousseau, por duas ou três vezes, esteve a ponto de ir herborizar com Claude Anet, e dizia que se tivesse ido uma única vez certamente teria se tornado um grande botanista. Porém, como naquela época não tinha uma ideia precisa dessa ciência, ele sentia por ela uma espécie de desprezo, considerando-a apenas um estudo boticário, sendo esse, aliás, o único uso que Madame de Warens fazia das plantas, de modo que a botânica, a química e a anatomia se confundiam na mente de Jean-Jacques sob o nome de medicina.
Como bem nota Alain Grosrichard, havia outra razão para Rousseau ter se desviado da botânica: foi o despertar da paixão pela música (GROSRICHARD, 2012, p. 14). As óperas de Jean-Philippe Rameau faziam sucesso à época e Rousseau logo tratou de comprar seu Tratado de harmonia. Sua paixão foi tamanha que ele resolveu abandonar o honesto emprego no cadastro para viver como professor de música. Essa decisão conduz a outro episódio famoso do livro V das Confissões: a virgindade de Jean-Jacques e o assédio da mãe de uma das alunas, que fizeram com que Madame de Warens resolvesse iniciar seu protegido na vida sexual. Era hora de abandonar o “suplemento perigoso”. No entanto, a primeira experiência da posse e do gozo foi vivida na angústia e com lágrimas. Na familiaridade em que viviam, eles se tratavam como “Maman” e “Petit”, e por essa intimidade Rousseau sente ter cometido um incesto. Jean-Jacques amava Madame de Warens, mas “amava-a demais para a cobiçar” (ROUSSEAU, 1964, p. 196). Madame de Warens era uma mulher de caráter singular. Segundo Rousseau, ela via o ato sexual como algo indiferente em si mesmo, de modo que não se sentia obrigada a ser fiel a ninguém. Rousseau mesmo viveu uma triangulação amorosa com Madame de Warens e Claude Anet. Não que eles aprovassem de bom grado a situação de uma mulher gozar abertamente de dois homens na mesma casa, mas Rousseau descreve essa triangulação com certa afeição, como “uma sociedade sem outro exemplo” (ROUSSEAU, 1964, p. 201). Talvez a reprodução das plantas pudesse ser um exemplo, mas, como vimos, Rousseau não tinha grande interesse em aprender sobre a botânica3..
A cadeia suplementar: a interpretação de Jacques Derrida
Antes estabelecer a relação entre a botânica e a metáfora do suplemento na chave da sexualidade, gostaria de situar brevemente a interpretação de Jacques Derrida, apoio para minha leitura. Na Gramatologia, o filósofo franco magrebino arrisca algumas hipóteses para a abertura de uma ciência da escritura, e o pensamento de Rousseau seria um caso exemplar de demonstração dessa teoria. A abertura para tal ciência se daria pela desconstrução de certos preceitos daquilo que ele denomina como “metafísica logocêntrica”. Para Derrida, a tradição metafísica, de Platão a Heidegger, privilegiou a fala em detrimento da escritura, tratando esta sempre como um remédio, um veneno, um simulacro, um suplemento que distanciava o homem da presença plena de si, da verdade, e do imediato do logos. Trata-se, no entanto, diz Derrida, de um etnocentrismo que comandou o conceito de escritura, de metafísica e de ciência. É o sistema de língua associado à escritura fonética alfabética que produz a metafísica centrada no logos e na fala (DERRIDA, 1973).
Para Derrida, mesmo a linguística moderna é devedora dessa tradição ao distinguir radicalmente o signo linguístico do signo gráfico e ao colocar a escritura como algo exterior e secundário à fala. Derrida se vale da tese do arbitrário do signo, do próprio Ferdinand Saussure, para conceber uma noção mais geral de escritura, que abrange todo o campo dos signos orais e escritos. Se um signo é arbitrário, se é a diferença que atribui o valor linguístico da phoné, então, a escritura é exterior e, ao mesmo tempo, interior à fala mesma. Portanto, a linguagem original e natural, a voz plena da presença de si no logos, nunca existiu e sempre houve uma escritura geral. Derrida concebe a escritura geral como uma “Arquiescritura” que comporta também expressões não gráficas, como “diferência”, como “brisura”, como um “rastro” (DERRIDA, 1973, p. 69).
É com base nesse quadro histórico-conceitual que Derrida situa e justifica a sua leitura de Rousseau, pois este seria um articulador da escritura como suplemento. Para Derrida, se a teoria da linguagem de Rousseau afirma que a língua nasce da imitação das paixões, o suplemento sempre esteve presente na fala e no canto, enquanto ameaça e enquanto possibilidade. Em Rousseau, diz Derrida, a palavra suplemento abrange um duplo gesto relativo à escritura. A escritura torna-se necessária numa situação de miséria, por exemplo, quando a natureza é interrompida na origem das sociedades e das línguas; ou quando a fala fracassa, quando Rousseau quer recuperar seu valor por meio do ofício de escritor. Nesse caso, a escritura se acrescenta à fala como imagem ou representação. A escritura é perigosa desde que a representação quer nela se dar como presença, e o signo quer se dar pela coisa mesma. Esse perigo é inerente ao funcionamento do signo: o substituto faz esquecer sua função de substituto (DERRIDA, 1973, p. 176-178).
Mas o que nos chama a atenção na argumentação de Derrida é que um dos pontos de apoio de sua interpretação é a relação entre o suplemento e a masturbação na autobiografia de Rousseau. Nas passagens sobre a descoberta do onanismo nas Confissões, Derrida comenta que a experiência do autoerotismo é vivida na angústia; o gozo é vivido como perda irremediável da substância vital, como exposição à loucura e à morte. Derrida não reduz sua leitura à interpretação psicanalítica, mas sim pelo que ela demonstra na lógica própria da cadeia suplementar. Segundo Derrida, Rousseau não cessa de acusar e recorrer ao onanismo: a autoafeção erótica dá-se a presença de belezas ausentes; a autoafeção é simbólica, mas imediata, pois pode se satisfazer instantaneamente; a autoafeção é um troco, carregado de culpa, de angústia e de frustração. Essa é a loucura do suplemento, diz Derrida: nem presença, nem ausência; ele corta o prazer e ao mesmo tempo a virgindade. Por outro lado, se o suplemento ameaça, ele também protege e, por isso, é impossível a Rousseau renunciar a ele. O suplemento infringe, mas respeita; deseja, mas teme a presença. O suplemento é perigoso por causa da ameaça de morte, mas é menos perigoso do que frequentar as mulheres, elas mesmas, pois, para Rousseau, o gozo pleno é sempre uma ameaça de morte (DERRIDA, 1973, p. 190).
Nesse contexto, Derrida explora as analogias que Rousseau faz entre a noção de suplemento e sua companheira Thérèse Levasseur. No livro XII das Confissões, Rousseau faz um balanço de sua relação com ela, relata o esfriamento e a solução de recorrer ao onanismo. Rousseau, diz Derrida, só poderia buscar um suplemento para Thérèse sob a condição de que o sistema de suplementariedade fosse inicialmente aberto como um jogo de substituições: Thérèse substitui Madame Warens; esta, por sua vez, substitui a verdadeira mãe, que Rousseau não conheceu senão por “rastro”4.. As mediações suplementares produzem a miragem da coisa mesma. “A imediatez é derivada. Tudo começa pelo intermediário, eis o que é ‘inconcebível para a razão’” (DERRIDA, 1973, p. 193).
A paixão pela botânica na cadeia suplementar
Gostaria de me deter um pouco mais nessa tese de Derrida e voltar na cronologia dos livros XI e XII das Confissões, pois o jogo de substituições pode servir de suporte para a compreensão do despertar da paixão pela botânica. Após a condenação de Rousseau por sua obra Emílio, em 1762, o autor teve sua prisão decretada e foi aconselhado a fugir em direção à Suíça. Ele faz uma parada em Yverdon e, nesse período, recebe duas visitas de Samuel Tissot (CHEYRON, 2006, p. 885-886). O médico admirava muito Rousseau e gentilmente o presenteara com suas obras, entre elas L’Onanisme (1760), um tratado médico que tentou demonstrar, de maneira mais sóbria que Onania, os supostos malefícios da masturbação. Em correspondência, Rousseau responde lamentar por não ter conhecido a obra anteriormente, “cujas razões e autoridade teriam tornado tudo mais forte e bem provado o que tinha a dizer sobre este artigo [referindo-se a Emílio]” (ROUSSEAU, Lettre à Tissot, 2012, p. 1166). De Yverdon, Rousseau soube que as autoridades de Genebra e de Berna também haviam decretado sua prisão. Sem saber para onde ir, Madame de La Tour, mãe de Madame Delessert, lhe oferece uma casa em Môtiers, no principado de Neuchâtel. Uma vez instalado, mandou chamar Thérèse que ele havia deixado em Paris quando saiu em fuga. É nesse contexto que se inscreve o balanço a respeito de Thérèse em que se apoia Derrida: Rousseau era fugitivo, sua relação com Thérèse havia esfriado, ele sentia os remorsos pelo abandono dos filhos e, assim, preferiria a abstinência sexual que a reincidência no erro, enfim, ele temia que Thérèse o abandonasse. É no contexto dessa passagem que a variante “a” do Manuscrito de Paris das Confissões é citada por Derrida: “o vício equivalente [ao comércio sexual] do qual eu nunca pude me curar muito bem me parecia menos contrário [ao meu estado]” (GAGNEBIN; RAYMOND, 1959, p. 1569).
Nessa variante dasConfissões, Derrida identifica a regressão no jogo de substituições, suplemento>Thérèse>Madame de Warens>mãe real, mas sua obra Gramatologia (1973) também nos permite compreender que, no limite, a cadeia de substituições visa sempre uma imagem da natureza. O que constitui, diz Derrida, a maior das catástrofes, pois a natureza se torna o suplemento da sociedade (DERRIDA, 1973, p. 181). É nesse contexto, da abstinência sexual e na hesitação sobre o “suplemento perigoso”, que interpreto o despertar da paixão pela botânica em Rousseau. Lembremos: para Rousseau, o uso voluntário do suplemento é perigoso porque corrompe a inocência em prejuízo do vigor físico e das faculdades mentais. Poderia haver, então, um tipo de suplemento inofensivo que tranquilizasse os sentidos em benefício da saúde do corpo e da alma?
Costuma-se datar o início da paixão pela botânica em 1764, cujos primeiros passos nesse domínio tinham sido guiados pelo doutor d’Ivernois. Diz Rousseau no livro XII dasConfissões:
[…] eu continuei a passear tranquilamente no meio das vaias, e como o gosto da botânica, que começara a adquirir junto do doutor d’Ivernois, dando um novo interesse dos meus passeios, fazia percorrer as cercanias herborizando, sem me incomodar com os clamores daquela gentalha. (ROUSSEAU, 1964, p. 608).
A fama de autor condenado alcança Môtiers, Rousseau passa a sofrer ofensas nas ruas e tem a casa onde se encontrava hospedado apedrejada. Ao final de 1764, é publicado em Genebra um libelo em que o acusavam de ter abandonado os filhos, de arrastar consigo uma prostituta de soldados, de estar gasto pelo deboche, podre de venéreo e outras amabilidades. (ROUSSEAU, 1964, p. 610). Trata-se do libelo O sentimento dos cidadãos (1764), um texto de Voltaire que Rousseau atribui erroneamente ao ministro Vernes. Rousseau, que já ambicionava escrever suas memórias, tem agora novas razões para pôr em marcha o empreendimento autobiográfico.
As Confissões (1764-1770), Rousseau juiz de Jean-Jacques (1773-1776), e Os Devaneios caminhante solitário (1776-1778) constituem o essencial desse empreendimento. Nesse conjunto de textos, a defesa pessoal se transforma numa busca pelo autoconhecimento e pela cura da alma. Fixemo-nos na análise dos Devaneios, pois é nesse texto que Rousseau expressa com mais cuidado o modo pelo qual esses seus objetivos se relacionam com o estudo da botânica. Na Primeira Caminhada, Rousseau afirma que os Devaneios podem ser considerados como um apêndice, digamos, um suplemento das Confissões, mas com a diferença de que não havia mais nada a confessar – ele não se preocupava mais com que os homens pensavam dele. Rousseau almejava apenas fazer um registro fiel de seus pensamentos e de seus sentimentos, de modo a fixar pela escritura o prazer das lembranças que eram suscitadas durante suas herborizações. Na Quinta Caminhada, Rousseau faz uma descrição dos devaneios quando de sua estadia na Ilha de Saint-Pierre. Por conta do apedrejamento de sua casa em Môtiers, em setembro de 1765, ele se refugiou por um mês e meio na Ilha de Saint-Pierre. Mesmo que por um período curto, ele descreve como sendo um dos mais felizes da sua vida. Um dos prazeres de estar lá, além de poder se entregar mais livremente aos devaneios, era o estudo da botânica. Todas as manhãs, com o Sistema naturae (1735), de Lineu, sob os braços, ele passava parte do tempo a herborizar pela ilha, catalogando a Flora petrinsularis, sem nenhuma outra perspectiva exceto o puro prazer de observar:
Nada é mais singular do que estes entusiasmos, estes êxtases que experimentava a cada observação que fazia sobre a estrutura e a organização vegetal e sobre o funcionamento das partes sexuais na frutificação, cujo sistema era completamente novo para mim. A distinção dos caracteres genéricos, dos quais não tinha antes a menor ideia, me encantava, ao verificá-los nas espécies comuns, esperando que espécies mais raras se oferecessem a mim. A bifurcação de dois longos estames do Abrunho bravo […] mil pequenos funcionamentos da frutificação que observava pela primeira vez me enchiam de alegria... (ROUSSEAU, 1995, p. 73).
Em comentário a essa passagem, Alain Grosrichard, na recente edição das Rêveries (2014), nos faz lembrar que a classificação proposta por Lineu é fundada sobre o número das “partes sexuais” (estames e pistilos). A tese da sexualidade das plantas não é propriamente uma novidade de Lineu. Segundo Grosrichard, ela havia sido experimentalmente comprovada por Camerarius (De sexu plantarum epistola, 1694), sendo rejeitada por Joseph Tournefort, botanista do Jardim do Rei, mas adotada com entusiasmo por seu discípulo Sébastian Vaillant (Discours sur la struture des fleurs, leurs différences et l’usage des leurs parties, 1717). Para explicar ao público o sexo das plantas, Vaillant recorre a analogias com o sexo humano: os estames são testículos, a flor desabrocha um leito nupcial etc. Lineu, por sua vez, recorre a registros metafóricos semelhantes, e aqui se compreende o que há de provocador no seu sistema de classificação (GROSRICHARD, 2014, p. 428-429). Para Alexandra Cook, Lineu se popularizou porque colocou o sexo das plantas no centro da taxonomia e a botânica se tornou o mais explícito discurso no domínio público sobre a sexualidade (COOK, 2012, p. 165).
Nesse contexto, Grosrichard nota ainda que as relações sexuais entre as plantas, tal como se oferecem aos olhos de Rousseau, não sofreram de nenhum interdito que as leis religiosas e civis fazem pesar sobre a sexualidade humana. A monogamia é uma exceção, e numerosas são as plantas hermafroditas, que podem gozar delas mesmas em toda inocência. O comentador graceja com êxtase de Rousseau, porque ele foi menos categórico que nas Confissões, quando, em uma passagem do livro I, declarou que a ideia confusa da união dos sexos sempre lhe despertara o sentimento de horror. Ainda segundo Grosrichard, Rousseau teria mesmo recomendado a botânica ao amigo DuPeyrou porque ela distanciava de toda concupiscência sexual, e que a análise de uma linda flor proporcionava mais prazer que a análise de uma linda moça (GROSRICHARD, 2014, p. 428-429).
Essa carta de 19 de julho de 1766 é bastante curiosa e vale a pena o exame de alguns de seus trechos. Jean-Jacques lamenta que seu amigo sofresse da gota e, tomando o lugar de médico, prescreve um tratamento para a doença. Ele aconselha exercícios moderados, caminhadas, alimentação frugal e, sobretudo, a abstinência sexual, pois, diz Rousseau, “um homem continente nunca teve gota, […] um sangue esgotado não leva ao cérebro senão espíritos lânguidos, mortos e ideias tristes”. Rousseau propõe ao amigo que adote seu penoso regime por um ano e recomenta a botânica como atividade rotineira em razão da dupla vantagem de ser um divertimento agradável e, ao mesmo tempo, um exercício físico salutar: “quando herborizamos nos rochedos durante um dia todo, não ficamos aborrecidos de ir dormir sozinhos à noite” (ROUSSEAU, Lettre à DuPeyrou, 2012, p. 2356-2360).
Como se pode notar, Rousseau recomenda a botânica junto ao “penoso tratamento”, como se fosse uma espécie de prazer compensatório, suplementar. Algo que também pode ser identificado na Sétima Caminhada dos Devaneios, quando Rousseau descreve a sua paixão pela botânica: Rousseau a define como um divertimento, uma distração, uma extravagância, mas pondera que esse estudo conduz à sabedoria e à virtude, porque a botânica depura as paixões irascíveis e não permite que os sentimentos de ódio e de vingança fermentem no coração de um indivíduo. A botânica silencia uma imaginação assustada porque retém a atenção e nos ensina a ver os detalhes que compõem o espetáculo natural (ROUSSEAU, 1995, p. 93).
Embora haja claramente um uso terapêutico no estudo da botânica para aquele que sofria da mania de perseguição, isso não quer dizer que a botânica se confunda com uma instrumentalização farmacêutica das plantas5.. Para Rousseau, as ideias medicinais envenenam a imagem da natureza com as mazelas da sociedade humana, e em vez de se deleitar com a beleza dos objetos, tais ideias interferem e fazem pensar na febre, no cálculo, na gota e no mal caduco. Excetuando a alimentação, Rousseau recusa qualquer outro interesse material no reino vegetal, tudo que diz respeito às necessidades do corpo impedem-no de obter um prazer puro e verdadeiro na alma (ROUSSEAU, 1995, p. 94 ss.).
No entanto, sua alma ainda está encarnada e, uma vez liberta das imagens do sofrimento, a imaginação pode permitir a Rousseau uma visão mais sedutora do reino vegetal, uma imagem que encerra uma relação simbólica com o prazer dos sentidos. Diz Rousseau:
As árvores, os arbustos, as plantas são o enfeite e a vestimenta da terra […] vivificada pela natureza e revestida com seu vestido de núpcias [...] a terra oferece ao homem, na harmonia dos três reinos, um espetáculo cheio de vida, de interesse e de encanto, o único espetáculo no mundo que seus olhos e seu coração não se cansam nunca. Quanto maior a sensibilidade de sua alma, mais o contemplador se entregará aos êxtases que excita nele essa harmonia. Um devaneio doce e profundo apodera-se então de seus sentidos e ele se perde, com uma deliciosa embriaguez, na imensidade desse belo sistema com o qual sente-se identificado. (ROUSSEAU, 1995, p. 93).
A natureza, diz Rousseau, no seu conjunto é um belo espetáculo, mas nem todas suas partes são compatíveis com as inclinações de um contemplador sensível. O reino mineral, por exemplo, não tem em si nada de aprazível e atraente, ele não desperta a “cupidez”. O reino animal é belo, mas é impossível estudá-lo sem lhe custar a vida, a liberdade e a beleza (ROUSSEAU, 1995, p. 96). Já o reino vegetal, está ao alcance das mãos, agrada aos sentidos e purifica a imaginação das infelicidades:
Brilhantes flores, colorido dos prados, sombras frescas, regatos, bosquezinhos, verdura, vinde purificar minha imaginação maculada […] Minha alma, morta para todas as grandes emoções, não pode mais ser impressionada senão por objetos sensíveis; nada mais tenho exceto sensações e é somente através delas que a dor ou prazer podem me atingir na terra. Atraído pelos agradáveis objetos que me rodeiam, considero-os, contemplo-os, comparo-os, aprendo enfim a classificá-los e eis-me de repente tão botânico quanto precisa sê-lo aquele que quer estudar a natureza somente para encontrar continuamente novas razões para amá-la. (ROUSSEAU, 1995, p. 96-97).
Antes de terminar a Sétima caminhada, Rousseau se lembra, ainda, de uma herborização num reduto selvagem na montanha de Robaila em que mergulhava nas “anfractuosidades da montanha”, cavidade esta repleta de “negros abetos entremeados por prodigiosas faias”, um precipício que ele não ousava olhar senão deitado de bruços, um reduto impenetrável, mas que ele mesmo explorava como se fosse o “primeiro mortal a penetrar” ali (ROUSSEAU, 1995, p. 99-100).
Para Marcel Raymond, comentador da edição dos Devaneios da Pléiade, essa paisagem romântica e pitoresca evoca as paisagens do Valais na obra Nova Heloísa (RAYMOND, 1959, p. 1812)6.. Mas, considerando os temas que a discussão sobre a botânica sugerem e o conjunto das metáforas que o próprio Rousseau utiliza ao longo da Sétima Caminhada, parece-nos que a evocação também permite uma analogia com o órgão sexual feminino. Uma imaginação libertina interpretando a botânica nos Devaneios? Por que não? Como bem nota Bento Prado Júnior, o próprio Raymond dá um grande passo para se compreender a imaginação nos Devaneios quando se pergunta pela etimologia do verbo rêver (sonhar): raiz latina do verbo devanear, no francês rêver; e do latim reexvagare que significa vagar, errar lá fora, como os libertinos nas noites de carnaval, o que marca a relação essencial entre o elemento orgíaco que não é incompatível com a vigília (PRADO JR, 2008, p. 253).
As lições da Botânica
Eu não poderia concluir este artigo sem antes mencionar as Cartas sobre a botânica .Lettres sur la botanique). Escritas entre 1771-1773, essas Cartas formam um conjunto de oito lições dirigidas a Madame Delessert. Ela tinha uma filha de 4 anos, Madelon, que já desenvolvia um grande interesse pela natureza. Para divertir esse interesse, Madame Delessert teve a ideia de pedir para o amigo Jean-Jacques que desenvolvesse lições elementares sobre essa ciência, de modo que ela pudesse transmitir à filha. Rousseau louva o empreendimento, para ele, as plantas são “objetos agradáveis e variados”, cujo estudo “enfraquece o gosto pelos divertimentos frívolos, [e] previne o tumulto das paixões” (ROUSSEAU, 1969, p. 1151).
Nas oito lições, Rousseau apresenta algumas famílias de plantas: liláceas, crucíferas, papilionáceas, labiadas e personadas, umbelíferas, compostas e árvores frutíferas. Todas são plantas naturais da região onde habita Madame Delessert, facilmente encontradas nos campos, nos jardins e nas hortas mais próximas. Na carta VIII, Rousseau ensina, ainda, como se faz um herbário, tarefa importante no processo de memorização das espécies, mas, sobretudo, no desenvolvimento da autonomia das alunas. Nas Cartas, Rousseau critica o vocabulário técnico dos botanistas, cuja linguagem parecia servir apenas para os especialistas, e apresenta de maneira didática a estrutura das partes fundamentais das plantas para que suas alunas não confundissem a botânica com uma mera ciência das palavras. Segundo Alexandra Cook, na época de Rousseau, reportavam-se 55 sistemas universais e 14 particulares, e todos sofriam do mesmo inconveniente a respeito da classificação e da nomenclatura das plantas (COOK, 2012, p. 133).
Aqui se compreende a necessidade de Rousseau em escrever também um dicionário de termos em botânica. É manifesto o valor pedagógico das Cartas sobre a botânica; nelas, ele desenvolve um conhecimento prático, insere gradualmente nas lições alguns termos do vocabulário científico, ou mesmo inventa palavras mais cômodas, mais próximas do vocabulário de seu pensamento. Por exemplo, na carta IV, Rousseau afirma que: “As monopétalas regulares constituem menos uma famíliaque uma grande nação...” (ROUSSEAU, 1969, p. 1166. Grifos meus). O verbete “flor” do Dicionário de botânica também dá um exemplo do modo pelo qual Rousseau adapta o vocabulário botânico ao seu pensamento: “Creio que o defeito geral venha aqui de ter muito considerado a flor como uma substância absoluta, porém que ela não é, parece-me, senão um ser coletivo e relativo...” (ROUSSEAU, 1969, p. 1223. Grifos meus). Roger de Vilmorin, responsável pela edição crítica da Pléiade (1969), julga com certa severidade os “equívocos”, ou mesmo o “lirismo” da botânica de Rousseau. Já Alexandra Cook mostra que, na verdade, ele era um estudioso cuidadoso e fez escolhas taxonômicas racionais, refletindo com o conhecimento de ponta da época (COOK, 2012, p. 134).
Segundo Cook, as Cartas sobre a botânica mostram um pluralismo taxonômico que filia Rousseau tanto a Lineu quanto a Tounerfort e ao método natural, que era desenvolvido na época por botanistas parisienses como Michel Adanson, e Bernard e Antoine de Jussieu. Como bem mostra essa comentadora, o sistema sexual de Lineu era artificial porque selecionava apenas certas partes das plantas (estame e pistilo) para serem usadas como base de uma classificação. Embora simples e muito eficaz para classificar um grande número de novas espécies que com o tempo eram descobertas, o sistema tinha inconvenientes e Lineu tinha consciência de que seu sistema seria substituído por outro que seguisse um método mais natural (COOK, 2012, p.173 ss.).
Rousseau, diz a comentadora, buscou outros métodos no seu estudo de botânica em Neuchâtel, onde o pluralismo taxonômico era a regra. Em contraste ao sistema sexual artificial, os métodos naturais eram baseados numa variedade das partes das plantas. O hábito é um conceito-chave nesses métodos e consiste em considerar “uma certa conformidade dos vegetais reportadas tais como placentação, radicalização, ramificação, intorção, germinação, foliação, estipulação, pubescência, granulação, lactescência, floração etc.” (COOK, 2012, p. 176, n. 21). Enquanto o sistema sexual selecionou num pequeno conjunto de caracteres, o método natural foi construído numa analogia fundada na semelhança de muitas partes das plantas, ou seja, o método natural é mais holístico (COOK, 2012, p. 179).
Como base nisso, Cook afirma que, nas Cartas sobre a botânica, Rousseau combina o sistema de Lineu com o “espírito” do método natural. Por exemplo, na lição carta I, Rousseau diz: “Uma planta perfeita é composta de raiz, tronco, galhos, folhas, flores e frutos”; a frutificação é a parte da estrutura geral das plantas que demanda um exame maior: “É nessa parte que a natureza tem protegido o sumário de sua obra, é nela que a natureza se perpetua” (ROUSSEAU, 1969, p. 1152.). Rousseau toma um Lírio como exemplo: o Lírio tem uma corola polipétala, seu pistilo é composto de germe, ovário e estilete. O estame é composto de filete, antera e o pólen (ROUSSEAU, 1969, p. 1153). Rousseau diz ainda que:
As partes que acabou de nomear se encontram igualmente nas flores da maior parte das outras plantas, mas em diversos graus de proporção, situação e número. É pela analogia dessas partes e por suas diversas combinações que se caracterizam as diversas famílias do reino vegetal. (ROUSSEAU, 1969, p. 1154).
Na lição da carta II, Rousseau afirma que uma vez apreendido os contornos das plantas, o olho é capaz de distinguir “um ar de família das liláceas”, ou seja, distinguir o aspecto geral da família (ROUSSEAU, 1969, p. 1157). Para Cook, Rousseau inicia com uma tradicional exposição sobre a frutificação (sistema de Lineu), mas organiza o seu curso de botânica com o espírito do método natural que também considera as famílias pela analogia das diversas partes, enfim, pelo aspecto da família, numa clara referência ao conceito de hábito (COOK, 2012, p. 191).
O interesse de Rousseau pelo reino vegetal traz, certamente, um aporte para refletir a questão sexual a partir de uma referência mais complexa. A despeito do caráter diletante, a botânica de Rousseau adquire mesmo um valor filosófico. Nos Devaneios, Rousseau assinala que pela primeira vez fixou sua atenção sobre os detalhes do espetáculo da natureza que até então ele tinha apenas contemplado no seu conjunto. Ele sente um verdadeiro prazer em observar e se identificar nessa longa cadeia de seres que compõe a harmonia natural. Nas Cartas sobre a botânica, ele nos ensina que essa relação entre o conjunto e o detalhe, o todo e as partes, também se aplica às plantas. A flor, ela mesma, também constitui um todo, e os órgãos sexuais, as partes. No reino vegetal, a apresentação sexual é plural e complexa, as flores de uma mesma planta podem ser masculinas, femininas, hermafroditas, neutras7,. e essas diversas formas de combinação contribuem para a harmonia e para a beleza no espetáculo natural. Para Cook, Rousseau se filia ao sistema sexual de Lineu, mas combina o espírito do método natural para dar conta da classificação das plantas em toda sua complexidade. Já para Grosrichard, o sexo das plantas está livre dos interditos morais e evoca mesmo uma imagem da inocência. Num certo sentido, o sexo das plantas evoca a uma concepção de sexo semelhante àquela do selvagem no puro estado de natureza, igualmente inocente e livre de proibições. Em suma, na natureza em geral, o sexo é um movimento peculiar ao seu próprio mecanicismo, um movimento em si mesmo indiferente, mas participante do espetáculo natural como um todo. Parece-nos, por fim, que em razão da imagem de “inocência” e de “inocuidade” do sexo nas plantas é que a atividade botânica em Rousseau pode ser compreendida, portanto, como uma espécie de prazer suplementar inofensivo.
Referências
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Notas
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