Resumo:
: Este trabalho propõe explorar e apresentar dentre as Correspondências de Kant, aquelas que consideramos serem essenciais para demonstrar o percurso cronológico (1760-1781) das ideias que instituíram a estrutura, os problemas e a recepção da Crítica da Razão Pura de Kant. Nosso enfoque nesta exposição é o de demonstrar nas correspondências o desenvolvimento de questões que ecoaram na Crítica da razão pura. Para tal, faremos um retrocesso cronológico iniciando esta exposição a partir dos anos 1760; avançando até a Dissertação Inaugural de 1770 e desta até a primeira edição da Crítica, e por fim até as últimas correspondências que tratam do tema nos anos de 1797.
Palavras-chave:KantKant,CorrespondênciasCorrespondências,Crítica da razão puraCrítica da razão pura.
Abstract: This study explores and presents some of correspondences of Kant, how to use to touch up or follow the schedule (1760-1781) of the ideas that have established the structure, problems and receipt of Pure Reason critique of Kant. Our focus in this exhibition is to demonstrate that the development issues involving Critique of Pure Reason. For this, we will make a chronological return starting this exhibition from the 1760s; advancing to the inaugural dissertation of 1770, this until the first edition of criticism, and finally to the last correspondence on the same matter in the years 1797.
Keywords: Kant, Letters, Critique of pure reason.
Artigos
Uma exposição cronológica das ideias acerca da constituição da Crítica da razão pura retratada nas Correspondências de Kant
A chronological exposition of ideas about the constitution of the Critique of pure reason portrayed in kant's correspondences
Recepção: 25 Novembro 2020
Aprovação: 23 Janeiro 2021
Partiremos das correspondências entre Kant e Lambert, que principiaram em 13 de novembro de 1765. Nesta Lambert após ler o trabalho de Kant: O único argumento possível para uma demonstração da existência de Deus (1762)2.. Confessa ter encontrado neste seu pensamento, além do que ele denomina como: seleção das matérias, relatando a Kant que seu Organon “se acharia refletido na maioria das passagens”3.. Lambert confessa a Kant que:
A partir de então elaborei a minha Arquitetônica, pronta há um ano para a impressão4.. E agora vejo que o Senhor irá publicar na próxima páscoa um método próprio da metafísica5.. Que há de mais natural do que o desejo de ver se o que eu levei a cabo segue o método que vós propõe? Não duvido da justeza do método e, nesse caso, a diferença consistira apenas no fato de eu não considerar como Arquitetônica tudo aquilo que até agora era tratado na metafísica e que, por outro lado, uma metafísica completa deve incluir mais do que até agora nela aconteceu6.. Por Arquitetônica entendo o simples e o primário de cada parte do conhecimento humano e decerto, não só os princípios que são derivados da forma, mas também os axiomas que têm de ser derivados da mesma matéria e que ocorrem propriamente só nos conceitos simples, como aqueles que não são contraditórios e que são pensáveis por si, e os postulata que designam possiblidades universais e incondicionadas da composição e da ligação dos conceitos simples. Só pela forma não se chega a nenhuma matéria e permanece-se no ideal, escondidos em meras terminologias, se não se procura o primário e o pensável por si da matéria ou do material objetivo do conhecimento. (KANT[Br.AA 10: 33])7..
Esta passagem destaca que apesar de o conceito Architectonica remontar a Aristóteles, no prefácio de sua obra, Lambert reconhece o crédito deste conceito a Baumgarten (Architectonic XXVIII, Philos. Schriften III). Lambert: “escrevi esta obra em 1764, pouco depois de ter chegado a Berlim e sem ter nesta altura as mãos outro livro de metafísica a não ser a Metaphysica de Baumgarten (cit.V)8.. Lambert identifica a Arquitectonica com a metafisica universalis como a ciência dos predicados mais gerais do ente9..
Tomando este princípio como pressuposto Lambert associa o significado ao de uma doutrina fundamental, que se ocupa com as condições gerais e com os pressupostos, ou seja, com os primeiros fundamentos, os primeiros projetos que conjugados com os materiais e a sua elaboração e ordenação permitem um todo finalizado. Em resumo Lambert defende que os conceitos fundamentais e os axiomas é que suportam o edifício do conhecimento humano, tanto sob a forma da filosofia como da matemática (Architectonic XVIII-XIX)10.
Com esta concepção Lambert avança sob a problemática do racionalismo (superação) e neste sentido pré-anuncia uma problemática transcendental. Permeado pela questão da objetividade, que surge num contexto de uma análise de princípios. Esta apontaria para o caráter fundamental da síntese. Para defender sua proposta Lambert insiste sobre a ideia de que o entendimento não poderia ser puramente formal, mas teria de ser constituído de tal forma que traga em si uma referência (a matéria do conhecimento), pois as leis formais do pensamento são importantes para fundar, por si só, a objetividade do saber.
Dada esta proposta, em 3 de fevereiro de 1766, Lambert escreve a Kant que “é indiscutível que, se deve continuar a existir uma ciência que tem de ser encontrada metodicamente e posta com nitidez, ela é a metafísica. ” O projeto de Lambert era o de constituir uma filosofia científica conforme o ideal matemático da física newtoniana; para tal busca uma síntese original de duas “correntes” opostas: o racionalismo de Wolff com a doutrina empirista de Locke, visando a verdade nas ciências, eis o plano filosófico de Lambert.
Ao expor seu plano arquitetônico Lambert aponta para uma doutrina dos fundamentos metafísicos fundadas em uma concepção de metafísica singular ao declarar que: “o universal, assim suposto nela dominar (referindo-se à metafísica), conduz certamente a omnisciência e, nessa medida, leva para além dos limites possíveis do conhecimento humano”11.
Lambert na mesma carta, afirma que o método proposto por Kant seria o único que se poderia usar seguramente e com bons resultados e confessa o ter exposto de forma parecida em sua Dianoiologia12. Depois de apresentar à similaridade do método, Lambert faz uma afirmação relevante dizendo que:
Depois destas proposições não tenho nenhuma hesitação em dizer que Locke esteve na pista verdadeira para investigar o simples no nosso conhecimento. Só temos de pôr de lado o que o uso da linguagem obscurece. Assim, por exemplo, no conceito de extensão acha-se indiscutivelmente algo de simples, de individual que não se encontra em nenhum outro conceito. O conceito de duração e, de modo semelhante, os conceitos de existência, movimento, unidade, solidez etc., tem algo de simples que lhes é próprio e que se deixa muito bem pensar separado de muitos conceitos de relação aí concorrente. Eles oferecem também por si axioma e postulata que estabelecem o fundamento do conhecimento científico e que são inteiramente da mesma espécie que os de Euclides. (KANT [Br.AA 10:36,])13.
Esta passagem merece uma atenção especial de nossa parte, quando Lambert diz que “Locke esteve na pista verdadeira...”; este parece efetivamente dissociar os conceitos simples dos compostos, averiguando a sua psicogênese e fazendo notar a sua clareza explícita, conseguida pela denominação unívoca daquilo que neles é representado14.
Assim, para Lambert, Locke ficou quase que inteiramente na sua anatomia dos conceitos e não a utilizou, pelo menos não tão longe quanto podia. Parecia-lhe ter faltado o método, ou pelo menos a ideia de que, aquilo que os geômetras fizeram em sua relação com o espaço, se devia tentar igualmente em relação aos conceitos simples remanescentes.
Advimos então a resposta de Kant, este escreve a Lambert em 2 de setembro de 1770, relatando ter lhe enviado a sua Dissertação15 e desculpando-se pelo atraso para lhe enviar a resposta das cartas. Notemos que pela data entre as cartas esse tempo seria de quatro anos, um período significativo que Kant explica da seguinte forma: “não foi outra coisa senão a importância do projeto, que a partir deste escrito, me iluminou os olhos e que provocou o longo adiamento de uma resposta adequada à sua carta” (KANT [Br. AA 10:96]). Destacamos aqui a clara pertinência das ideias de Lambert, declarada por Kant.
Vemos, claramente nestas correspondências primevas que a problemática em voga é a ciência e a metafísica e consequentemente a relação entre elas. Kant solicita o parecer de Lambert sobre sua obra e seu método próprio para a metafísica e assinala os pontos de sua Dissertação chamando a atenção de Lambert para a segunda, terceira e quinta partes, que de acordo com ele mereceriam um desenvolvimento e um cuidado mais amplo16.
A resposta a Kant vem na correspondência de 13 de outubro de 1770, e evidencia alguns pontos, fundamentais de discordância tais como: o Phaenomenon e Noumenon, não poderiam provir de fontes diferentes e nunca poderiam derivar um do outro. Mas, Lambert também concorda com Kant, em especial sobre sua terceira seção a respeito do espaço e do tempo considerando importante o que Kant realiza em sua quinta seção sobre o tempo e o lugar.
Infelizmente Lambert morre antes de Kant publicar sua Crítica da Razão Pura, mas estas cartas nos ajudam entender a proximidade destes dois grandes espíritos. Por meio destas cartas pode-se observar a coincidência e a influência em especial sobre o pensar categorial dentro de uma estrutura objetal, ou seja, numa referência aos conteúdos objetivos no interior da própria ordem representativa.
A originalidade de Lambert que destacamos aqui foi apresentar uma síntese da doutrina wolffiana dos princípios com a psicologia empírica de Locke que proviria de um ponto de vista mais lógico do que psicológico. No Neues Organon (p.639) de Lambert a teoria dos conceitos fundamentais não são apenas uma enquete psicológica, sobre os fatos da natureza do espírito ela seria uma enquete metafísica, uma pesquisa dos primeiros princípios a priori. Lambert se pergunta ali sobre a possibilidade de um conhecimento que precederia a experiência. Algo que compactuamos ser familiar a Kant.
Dito isto, se na Dissertação, Kant ao distinguir os princípios do conhecimento do mundo sensível e do mundo inteligível, antecipa os principais temas e problemas que constituem a estética transcendental da Crítica. Para Lambert a “Fenomenologia aproxima-se ao que Kant denomina como Estética transcendental ou teoria do fenômeno cuja função e pressupostos reduz-se, afinal, a toda Crítica da Razão Pura”17.
Neste mesmo período Kant dialogava com nomes como Herz e Mendelssohn, que tanto um quanto outro são citados por ele como os melhores intérpretes de sua filosofia18. A correspondência entre Kant e Mendelsshon tem início em 1766, mais precisamente em 7 de fevereiro de 1766 quando Kant lhe envia uma cópia de seu livro: Sonhos de um visionário .Träume eines Geistersehers, erläutert durch die Träume der Metaphysik 1766).
Dentre estas correspondências há uma carta entre Herz e Kant (11/07/1770) na qual podemos observar claramente a posição de Mendelssohn quanto a filosofia kantiana naquele momento. Herz comunica a Kant que passara mais de quatro horas discutindo sua Dissertação com Mendelssohn, mas este o censurava dizendo: “nossas filosofias são diferentes, ele segue Baumgarten ao “pé da letra” e me pareceu que por várias vezes não poderia aprovar minhas ideias porque elas se distanciariam das de Baumgarten. (KANT [Br.AA 10:57])”19.
Parafraseando Herz, Mendelsshon afirma lamentar que Kant não tenha desenvolvido mais suas ideias. Mendelsshon admira a acuidade do espírito de Kant, em especial ao tratamento dado a proposição, segundo a qual, quando em um julgamento, o predicado é da ordem sensual (Prädikat sensual), o é somente subjetivamente, quando é de ordem intelectual, destacando nesta premissa a limitação do trabalho de Kant20.
Mendelsshon confessa ainda que algumas passagens são de difícil entendimento como, por exemplo, o emprego do termo simultaneidade (Simul) para a explicação do espaço ou a posterior (post) em relação ao tempo. Em 25 de dezembro de 1770, Mendelssohn escreve a Kant que sua Dissertação lhe causara uma impressão agradável e era possível ver nesta um trabalho de longa reflexão. Mas, atenta a Kant que há nela algumas obscuridades que afetam certas passagens.
Mendelsshon argumenta que nas páginas 2 e 3 da Dissertação que trata das reflexões sobre o infinito na grandeza extensa, já teriam sido desenvolvidas não com tanta acuidade como em seu texto, mas já se encontravam na segunda edição de sua Philosophische Schriften 21*.
Mendelssohn defende que toda a crise da metafisica consistiria em duas tendências contraditórias: o que ele chama de desrazão e a tendência ao materialismo. A dificuldade seria encontrar uma doutrina média capaz de resistir a estas duas tentações. Mendelsshon empreende esta tarefa desde seus primeiros escritos se defendendo dos ataques de Hume e do racionalismo de Leibniz a fim de explicar o fato do conhecimento físico, mas preservando a possibilidade de um conhecimento metafísico. Para fundamentar sua posição Mendelsshon se apoia na teoria wolffiana do conhecimento provável.
Considerando a influência wolfiana, Mendelsshon consequentemente entraria no problema da causalidade, pois para Wolff a única forma das ciências empíricas precederem as racionais é pela associação. Este problema da causalidade é tratado por Mendelsshon da seguinte forma: “cada vez que se vê produzido os mesmos acontecimentos ao mesmo tempo, eles tornam-se mais improváveis... que estes dois acontecimentos não sejam causalmente fundados um no outro”. (Mendelsshon Morgenstunden p.507).
Isto quer dizer que se x bebe café e sente vertigem, este não concluirá nada mais que se toda vez que tomar café irá senti-las novamente. Este terá razão de argumentar que o café lhe causa vertigens. É assim que a experiência ensina que os corpos são pensantes, ou que o pão os nutri. Conforme Mendelssohn, Hume tem errado em remeter a questão, mas tem razão em mostrar que estes são verdades da experiência, cuja certeza não é absoluta22.
Mas há uma diferença qualitativa entre esta probabilidade cada vez maior e uma verdadeira compreensão da relação causal em si mesma. Desta forma frequentemente ao repetir a experiência nós não poderemos jamais saber se a causa de B é A ou mesmo uma causa X totalmente desconhecida, no qual A não é nada além de um efeito, próximo ou distante23. É sob esta perspectiva que Mendelssohn irá criticar a sessão XV da Dissertação de Kant.
Na sessão 15 da Dissertação “Sobre o tempo”, Mendelsshon aponta para o problema da palavra após, dizendo que esta significa certamente a origem, uma sucessão temporal, mas que também pode mostrar a ordem na qual se encontram duas coisas reais, A e B, onde A não poderia ser diferente enquanto ou, ao mesmo tempo em que B não seja: “a ordem na qual poderiam, no entanto, estar presentes duas coisas absolutamente ou hipoteticamente contraditórias uma em relação a outra”24.
Assim, Mendelsshon não se convence de que o tempo seria algo puramente subjetivo como nos apresenta Kant. A sucessão seria ao menos uma condição necessária das representações próprias dos espíritos finitos. Ora, Mendelsshon argumenta que os espíritos finitos não são somente sujeitos, mas também objetos das representações, portanto é necessário considerar a sucessão como algo objetivo25.
A discordância entre as respectivas posições está no fato de que para Mendelsshon o que é subjetivo, é a continuidade que se é apresentado, em contrapartida ao que é objetivo é a sucessão das transformações que são rationata igualmente distantes de sua causa. O referido argumento kantiano debatido por Mendelsshon encontra-se na seção 15 (Corolário):
Eu acredito que a condição “ao mesmo tempo” não é tão necessária ao princípio de não contradição. Na medida onde se trata de um mesmo sujeito, A e não A não podem ser afirmados por si mesmos em momentos distintos no tempo e não exige nada mais para a noção de impossibilidade que um mesmo sujeito para dois predicados A e não A. Se pode dizer assim: é impossível que não A seja o predicado do sujeito A.” (KANT[Br.AA 10:62])26.
As questões levantadas por Mendelsshon não foram respondidas por Kant através de correspondências. Acreditamos que Kant respondeu as observações pontualmente na Crítica e ele e Mendelssohn só voltariam a se comunicar diretamente em 1778 (apesar de citá-lo inúmeras vezes em outras correspondências) próximo a primeira edição da Crítica da Razão Pura.
As objeções feitas por Mendelsshon são abordadas indiretamente através de outros interlocutores, por exemplo, em uma correspondência a Herz de 7 de junho de 1771. Nesta correspondência Kant confessa: “cartas como estas destes dois sábios mergulham-me numa longa série de investigações”27.
Ainda nesta mesma correspondência, destacamos a posição de defesa de Kant em relação a observação Mendelsshon a respeito da subjetividade. Reafirmando sua posição na carta, Kant aponta para a existência de princípios subjetivos que são próprios à faculdade da alma humana (Seelenkräfte) e a presença destes como fundamentais ao entendimento.
Vós sabeis quão grande são as influências no conhecimento certo e claro cuja diferença repousa sobre princípios subjetivos próprios as faculdades (Seelenkäfte) não totalmente sensoriais, mas também do entendimento, e que concerne diretamente aos objetos. [...] e estou atualmente ocupado em concluir um trabalho intitulado: Os limites da sensibilidade e da razão que é consagrado à relação das leis e dos conceitos fundamentais em relação ao mundo sensível. [...]durante todo o inverno tenho buscado referências a este trabalho, porém só recentemente tenho concluído o plano do livro.”. (KANT [Br.AA 10:66]).
Esta passagem nos ajuda a entender de forma mais clara a importância de pressupostos subjetivos necessários a concepção dos objetos e a concepção de Kant neste momento em relação à psicologia28. Neste mesmo momento Kant explica as lições que pretende lecionar no semestre de inverno começando pela metafísica que após uma pequena introdução parte da psicologia empírica que para ele é “propriamente a ciência empírica metafísica do homem, pois no que diz respeito ao termo alma, não é ainda permitido afirmar, nesta parte que ele tenha uma”29.
O interessante em conflitar essas passagens é o fato de que Kant está utilizando como referência nas Preleções o manual: A metafísica de A.G Baumgarten, aluno e discípulo de Wolff. Para Wolff a psicologia empírica poderia ser definida como “a ciência de estabelecer com a ajuda da experiência os princípios pelos quais se pode explicar tudo o que chega na alma”30. Pressupondo a existência da alma para que se possa haver experiência, e consequentemente Baumgarten também postula tal existência. Salientamos assim que neste momento Kant também entendia a psicologia como uma ciência da alma.
A psicologia empírica de Baumgarten distingue uma faculdade inferior e uma faculdade superior de conhecimento. Kant irá se interrogar constantemente sobre esta diferença31. Em 1770 a subjetividade é dupla, Kant fala da sensibilidade e intelecto, há um dado empírico e um dado racional, é esta duplicidade que está presente na Dissertação.
Esta posição primordial favorável a subjetividade permanece no pensamento de Kant. Em 21 de fevereiro de 1772, Kant declara estar satisfeito a respeito dos trabalhos no domínio da moral e da estética, já quanto a doutrina sobre a sensibilidade defendida em sua Dissertação32. Kant ainda apresenta a sensibilidade como fonte de conhecimento distinto do entendimento. Essa distinção entre a sensível e o intelectual é colocada de início no domínio do conhecimento, que ele tem estendido para o domínio da moralidade e do gosto e em seguida, sob as formas a priori da sensibilidade e é sobre este ponto preciso que os maiores espíritos de seu tempo têm fundado suas objeções as quais Kant se esforça por responder.
Kant menciona novamente sobre o projeto de um trabalho intitulado: Os limites da sensibilidade e da razão onde pretende esclarecer todas as dúvidas e expor de maneira mais clara seu projeto especificando-o mais detalhadamente. Ele o compreende sob duas partes, uma teórica que diz respeito à natureza e o método da metafísica e outra prática, referente aos princípios da estética e da moral33.
Kant percebe enquanto examinava a primeira parte (Teórica) lhe faltava algo de essencial, que como todos os outros ele também teria negligenciado: “Eu tenho negligenciado em minhas longas pesquisas metafísicas, o que constitui, de fato, a chave de todo o mistério, da metafísica até aqui ainda oculto em si mesmo. ” (KANT [Br.AA 10:69 ])34. E segue evidenciando, mesmo que de maneira ainda superficial o problema crítico:
Eu me pergunto, na realidade, sobre qual fundamento repousa a relação do que se chama em nós representação para com o objeto. Se a representação não contém nada mais que o modo segundo o qual o sujeito é afetado por este, é fácil ver como ele lhe corresponde como um efeito a sua causa, e como esta determinação de nosso espírito pode representar alguma coisa, isto é ter um objeto. Assim as representações passivas ou sensíveis têm uma relação concebível aos objetos, e os princípios que derivam da natureza de nossa alma tem uma validade concebível por todas as coisas, enquanto elas devem ser objetos dos sentidos. Mesmo, se o que chamamos representação é ativo frente ao objeto, isto é se pelo mesmo objeto poderia ser produzido , como se representasse o conhecimento divino, enquanto arquétipo das coisas, assim a conformidade das representações aos objetos seriam inteligíveis.” (KANT [Br.AA 10:69 ]).
Mesmo que o problema crítico ainda não estivesse totalmente presente em seu espírito, Kant trata “germinalmente” do problema dos juízos sintéticos a priori. Apesar da relação dos conceitos aos dados da intuição ainda não serem determinados como síntese, é nítido o uso da lógica do entendimento, ou seja, a arte de classificar os conceitos e subordinar os inferiores aos superiores comparando-os segundo o princípio de contradição. Mostrando os modos de compreender a conformidade de uma representação a um objeto, vemos claramente o desenvolvimento de seu projeto futuro, na correspondência a seguir:
Na Dissertação eu me contive em exprimir a natureza das representações intelectuais de modo puramente negativo, dizendo que elas não eram modificações da alma pelo objeto. Mas como seria possível de outra forma uma representação que se relacione a um objeto sem ser de algum modo afetada por ele, eis o que me tem passado desapercebido. Eu tenho dito: As representações sensíveis representam coisas como elas aparecem as intelectuais como são. Mas por qual meios estas coisas nos são dadas se elas não o são através do modo como elas nos afetam? E se de tais representações intelectuais repousam sobre nossa atividade interna, de onde vem a concordância que elas devem ter com os objetos que não são produzidos por ela? E de onde vêm os axiomas da razão pura concernentes aos objetos, concordando com eles sem que este acordo tenha podido pedir auxílio da experiência?” (KANT[Br.AA 10:69 ])35.
Kant argumenta que em matemática, não há dificuldades, para tal ocorrência, uma vez que os objetos para nós não são nada além de grandezas e, enquanto grandezas, podem ser representados pelo ato de gerar sua representação tomando várias vezes a unidade. Esta concepção parece ter partido da generalização de toda matemática , que se encontra esboçado na Dissertação (seção 12). Temos que considerar contudo que os conceitos de grandeza podem ser constituídos a priori, não porque sejam suficientes por si mesmos, mas sim porque é possível construir a partir deles o objeto correspondente na intuição pura e assim inteiramente a priori.
Mesmo na moral, o espírito coloca a priori os fins a realizar. Nos dois casos o pensamento é criador de seu objeto, pois trata-se de um objeto ideal que não existe fora da representação. Kant responde assim algumas das questões, mas não o problema do conhecimento metafísico:
Buscando desta maneira as fontes do conhecimento intelectual , sem o qual não se pode determinar a natureza e os limites da metafísica, eu conduziria esta ciência a seções inteiramente diferentes e chegaria a reduzi-la a filosofia transcendental, isto é todos os conceitos da razão pura na totalidade, a um certo número de categorias, não todavia como Aristóteles que justapõe seus dez predicados ao acaso , mas de forma diferente desta, concebo estes repartindo-os em classes , por meio de um pequeno número de leis do entendimento. (KANT [Br.AA 10:69])36.
Resumidamente o problema que Kant enxerga é o da possibilidade de se conhecer por conceitos puros as coisas em si. Trata-se de um problema novo para ele e na sequência da carta ele diz “sem me explicar morosamente sobre a sequência completa de minhas pesquisas até seu fim último, posso dizer que tenho reunido o essencial de meu projeto e que estou atualmente a ponto de apresentar uma Crítica da razão pura”37.
Kant chega a mencionar na carta que seu texto está num estágio avançado de desenvolvimento, mas sabemos o quanto esta afirmação é ilusória Kant necessitara de mais dez anos para desenvolver o problema levantado na Dissertação e aproximadamente mais três anos para conceber uma tábua das categorias completa e sistemática, que sabemos não resolver o problema satisfatoriamente.
O problema de como compreender que os conceitos puros possam ter um valor objetivo, a reconciliação entre sensibilidade e intelecto num mesmo ser pensante (Dedução transcendental) permanece: “as coisas do mundo não estão objetivamente em si mesmas nem estão de maneira idêntica em tempos diferentes e nem em estados diferentes, pois, se assim fosse entendido, elas não seriam de todo representadas no tempo” (KANT[Br.AA 10:69 ]).
O que nos chama a atenção é que se Kant segue este caminho tornar-se-ia necessário dizer adeus à ideia de metafísica como ciência a priori do ser em si38. A metafísica dogmática, como dirá Kant é do tipo wolffiano, argumento que nos ajuda a entender que Kant em algum momento do desenvolvimento de sua Crítica romperá com as ideias de Wolff. Kant terminara a carta respondendo as objeções feitas a sua Dissertação, objeções que versam sobre a idealidade do espaço/tempo39.
É claro que questões sobre o espaço/tempo tem levando discussões desde o início, sabemos que o tempo desempenha um papel central na filosofia de Kant. Sua idealidade, estabelecida paralelamente a do espaço não tarda em se revelar como peças fundamentais ao seu sistema. Neste momento espaço/tempo são tratados por Kant em conjunto na Dissertação como os princípios da forma do mundo sensível. São os “esquemas e condições de tudo o que é sensível no conhecimento humano” (DI;§13) e constituem o elemento formal da sensibilidade.
Kant sustenta que as intuições são puras (DI;§14), na medida em que coordenam objetos dos sentidos, mas não os subsumam a maneira de conceitos puros na medida em que estão pressupostas na sensação de coisas não podendo, portanto, ser abstraídas de sensações exteriores (DI;§15).
Desta forma Kant está apto a distinguir a sua descrição de espaço/tempo do ponto de vista empirista de que são abstraídos de objetos dos sentidos e do ponto de vista racionalista de que são percepções confusas de uma ordem objetiva de coisas e da distinção newtoniana entre espaço e tempo absolutos e relativos.
Além disso, embora espaço/tempo coordenem objetos dos sentidos, não o fazem de acordo com um princípio interno da mente “governado por leis estáveis inatas” (KANT, DI;§4) o qual não é espontaneamente produzido pela mente. São aspectos da receptividade ou passividade da mente em contraste com o trabalho ativo e espontâneo do entendimento, mas que, não obstante, organizam a matéria da sensação40.
Schultz escreve a Kant questionando-o: se o espaço não seria uma intuição intelectual e, por conseguinte alguma coisa objetiva? Kant responde desmembrando a representação de espaço, dizendo: “não se encontra nenhuma coisa, nem nenhuma interação real entre as coisas. O espaço, tomado em si mesmo ou representado na pureza de sua essência, é vazio. Condição real, não é ele mesmo real, nem substância, nem acidente.” (KANT[Br AA 10:69 ])41 *.
A obscuridade dá-se porque Kant ainda considera unicamente a realidade em si, diferentemente de como será apresentado na Crítica, onde dirá que a mudança e o tempo são reais, estes são reais como as representações. As mudanças são reais como os fenômenos e o tempo seria real como forma destes fenômenos42.
Afim de sanar toda discordância e esclarecer as obscuridades interpretativas já contamos desde os anos de 1774 com notícias de uma Crítica da razão pura tal como podemos observar numa carta de Johann Caspar Lavater de 8 de abril de 1774, escrita a Kant, na qual ele diz: “eu e inúmeros de meus compatriotas estamos impacientes a espera de vossa Crítica da razão pura43. Lavater pergunta a Kant sobre os assuntos que serão tratados em seu novo trabalho, inclusive enumerando temas que lhe interessaria, tamanha a ansiedade sobre a nova obra de Kant.
Em 24 de novembro de 1776, Kant escreve a Herz reclamando que não entende o motivo de tantas críticas recebidas a respeito de sua inatividade, pois segundo ele nunca foram tão sistemáticos e contínuos num trabalho44. Kant acreditava que os trabalhos que teriam “aprovação passageira se acumulariam em suas mãos e que isso ocorre quando e se nos tornamos mestres de algum princípio fecundo”. Esta referência é claramente feita ao desenvolvimento da Crítica. Kant confessa ainda esperar colher bons frutos ao ultrapassar estes obstáculos45:
Vós sabeis que o campo da razão, que julgo independentemente de todos os princípios empíricos, é o da razão pura, e este deve conter a totalidade da ação. Porque se encontra a priori em nós, e não lhe é permitido esperar a menor abertura (Eröfnungen) do lado da experiência. E esboçar após princípios seguros o resumo de toda extensão deste campo, suas divisões, seus limites, seu conteúdo, e colocar de tal modo a fronteira que se possa saber futuramente com certeza se, se encontra sobre o terreno da razão ou sobre o do raciocínio, por isso é necessário uma crítica, uma disciplina, um cânon e uma arquitetônica da razão pura, portanto uma ciência formal onde não se pode utilizar daquelas já existentes, e que para sua fundamentação irá necessitar de expressões técnicas próprias. (KANT [Br AA 10:111 ])46.
Vemos como Kant em 1776, já tem um “esquema” para realizar sua Crítica da razão pura. A doutrina da sensibilidade do intelecto que em 1776 parecia já estar completamente elaborada. A vontade de cortar o idealismo pela raiz, ou seja, responder as objeções feitas por Lambert, Mendelssohn e Sulzer.
Como destacamos tais objeções partem do problema sobre o tempo denunciando um idealismo na filosofia transcendental que parece aliar-se aos problemas em relação a função subjetiva do intelecto, a separação ontológica radical entre fenômeno e numeno, oposta pela oposição absoluta entre sensibilidade e entendimento. O problema da possibilidade do subjetivo como fundamento é o ponto fundamental da questão que também já parecia tomar contornos mais amadurecido em 177647.
Em 1777, Kant preocupa-se com trabalhos “secundários” a sua empreitada crítica e em 20 de agosto de 1777 Kant diz a Herz: “a conclusão de todos estes trabalhos tornam-se neste momento um obstáculo ao que eu chamo de Crítica da razão pura, como uma pedra que barra o caminho que utilizo neste momento exclusivamente para me ver livre e espero que isso ocorra até o fim deste inverno”. (KANT[Br. AA 10:119 ]) 48 É interessante como Kant vem protelando a publicação da Crítica. A primeira explicação para tal ocorrência é dada em 1776 (como visto acima). Em 1778 e 1779 Kant também relata os problemas que o impede e que tal empecilho parece ser sempre o mesmo.
Na carta de abril de 1778 a Herz, Kant confessa a seu interlocutor, já ter em mãos algumas folhas para serem impressas, mas confessa que o trabalho continua sendo desenvolvido e espera que até o verão esteja concluído. Após isto, Kant faz a seguinte revelação a Herz: “compreenderá um dia a natureza do assunto e do projeto, espero, poder fundamentar os motivos que tem provocado o retardo de um escrito que não contará com grande número de páginas.” (KANT[Br AA 10:133. ]) 49.
Este retardo deu-se pela leitura do Versuche de Tetens. É neste ponto após o contato da obra de Tetens e sua posição sobre como as representações puras subjetivas poderiam constituir um conhecimento real e objetivo que Kant parece mudar sua concepção a respeito da psicologia influenciado pela nova concepção psicológica de Tetens que daria um novo sentido a psicologia empírica de Wolff propondo a ideia de uma filosofia transcendental da subjetividade, consideramos este ponto de fundamental importância as ideias de Kant50.
A mudança da posição kantiana seria sobre entendimento puro e de conceito puro a priori que até então estavam ligados a ideia de intellectus puro da psicologia de Wolff 51. Quanto a publicação da obra Kant atribui uma confiança nítida a capacidade de Herz em interpretar sua Crítica e entender realmente de que se trata o livro. Em 11 de maio de 1781, Kant escreve a Herz explicando a influência que seu livro causará.
O que aparece clara e distintamente não seria nada além do estado no qual a metafísica não somente se encontra atualmente, mas que sempre se encontrou, ela aparece, como uma rapina pairando, que deseja ao menos deixar tudo descrito desta forma até aqui a pergunta tenha sido plenamente constituída, meu escrito pode manter-se em pé ou cair, mas não deixa de produzir uma modificação total na maneira de pensar que corresponde a esta parte do conhecimento humano que nós detemos tão intimamente no coração. (KANT ([Br AA10:165])52
No decorrer desta correspondência Kant ainda nos brinda com observações relevantes. Kant confessa que no passar dos anos foi essencial ascender a uma compreensão perfeita que pudesse satisfaze-lo plenamente, e julga tê-lo alcançado, afirmando que “ não tem jamais feito isso em outro escrito” e vai além dizendo que “ não encontra fundamentalmente nada que deseje modificar, a não ser acrescentar alguns pequenos complementos e alguns esclarecimentos”, mas confessa que esta forma de pesquisa permanecera sempre difícil, pois esta conteria a metafísica da metafísica (Metaphysik von der Metaphysik). (KANT [BrAA10:165]).
O que se pode observar neste momento é que Kant apesar de entusiasmado com seu trabalho reconhece as dificuldades, apesar de saber que sua Crítica continha uma série de descobrimentos, que revolucionariam a filosofia, Kant tinha consciência de não ter dado ao seu escrito uma apresentação facilitadora que contribuísse para sua popularidade53.
Após a publicação da Crítica Kant faz jus aos seus colaboradores. Numa carta de 16 de novembro de 1781 a Johann Bernouilli, Kant aponta para a importância das objeções feitas por Lambert em relação as suas concepções de espaço e tempo. Que afirma ter respondido na Crítica ( KrV 1.781) nas páginas 36 a 3854.
Nos anos que se seguiram, 1782-1783 após a publicação a Crítica começava a dividir opiniões; as críticas à obra são pontuais. Em 13 de julho de 1783 Christian Garve escreve a Kant55 que leu sua Crítica com entusiasmo e que determinadas passagens foram compreendidas, mas que tinha dúvidas enquanto o restante da obra.
Vós pergunta sobre vossa Crítica, a vossos famosos comentadores (Recensenten) que se contradizem, em provar de uma única maneira tal como a proposição oposta não seja susceptível de uma prova igualmente boa. Eu estou persuadido de que há limites em nosso conhecimento, e que encontro precisamente tais limites quando, a partir de nossas sensações, nós deixamos se desenvolver com uma igual evidência tais proposições que se contradizem. Acredito que é muito útil aprender a conhecer estes limites e considera-lo como uma das mais comumente utilidade de vosso trabalho que é o de ter exposto distintamente e de maneira completa como ninguém o fez. Mas eu não compreendo em que vossa Crítica contribui para elevar tais dificuldades. Ao menos, a parte de vosso trabalho onde vos expõe claramente as contradições que considero incomparavelmente mais clara e mais evidente ( e vos não negará a si mesmo) onde os princípios devem ser estabelecidos após estas contradições serem superadas. (KANT [Br AA10:200] )56.
A resposta a esta colocação viria a luz em 7 de outubro de 1783. Kant responde que acredita que seus Prolegomenos pudessem ajudar de algum modo, (KANT [Br AA 10:205 ])57 e apesar de reconhecer a falta de popularidade da obra, explica os motivos e atribuí categoricamente o problema à interpretação de sua dedução transcendental das categorias.
O dissabor causado a meus leitores pela inovação da linguagem e da obscuridade, que me são atribuídos, resultam assim numa difícil penetração. Eu desejo vos colocar a seguinte proposição. A dedução dos conceitos puros do entendimento ou categorias, isto é a possibilidade de ter inteiramente a priori o conceito das coisas em geral, julgando que este é o mais alto ponto e necessário pois, sem ele, o conhecimento puro a priori não tem a menor segurança. Ora eu adoraria que alguém, o fizesse de modo a estabelece-lo mais facilmente e popular, mas este experimentara a maior dificuldade que a especulação jamais encontrou neste campo. E não fará jamais esta dedução a partir de fontes diferentes daquelas já assinaladas, sobre isso eu estou plenamente seguro. (KANT [Br AA10:204 ]) 58.
Para sanar tal dificuldade Kant aconselha Garve a fazer um panorama sobre o conjunto da obra e observar que, esta não se trata de metafísica59 , mas sim de uma ciência totalmente nova e que tinha sido até o presente negligenciada, a saber, a crítica de uma razão julgando a priori60.
O autor chama a atenção para a diferença em sua doutrina dos juízos analíticos e sintéticos como pontos fundamentais a seu entendimento, em seguida atentar para o problema geral já apontado nos Prolegomenos, ou seja, como são possíveis os juízos sintéticos a priori e examinar ponto a ponto sua tentativa de resolver esse problema.
Me agrada demonstrar corretamente o modo de acordo com o qual não se pode provar isoladamente nenhuma proposição verdadeiramente metafísica tirada do todo, mas que ela deve sempre ser deduzida unicamente da relação que tem com as fontes de todo nosso conhecimento racional puro em geral, e assim do conceito da totalidade possível de tais conhecimentos. (KANT[Br AA 10:204]) 61.
Kant enfatiza a importância das observações feitas por Garve e, afirma que este Mendelssohn e Tetens seriam os únicos homens capazes de entender o problema prontamente.62 O problema específico seria o da objetividade, ou seja, como uma validade objetiva poderia ligar-se a conceitos ou princípios subjetivos a priori.
Nos anos seguintes de 1781 a 1783 Kant responderá as observações e críticas sobre sua obra, como é destacado na correspondência de 16 de agosto de 1783 a Mendelssohn ao explicar os motivos da obscuridade que a composição do texto teria acarretado:
Não me faltaria certamente meios para esclarecer cada ponto, mas eu me sentiria ao redigir os pontos obscuros uma prolixidade que convenceria em extensão e interromperia o encadeamento das ideias, eu renuncio, pois provisoriamente a esta extensão para tomá-la posteriormente, esperava, ser pouco a pouco atacado por esta ordem que segui, mas não se pode sempre, mesmo quando se está imerso num sistema e que se está familiarizado com os conceitos, transformar por si mesmo o que poderia parecer ao leitor como obscuro, indeterminado, ou ao contrário, suficientemente comprovado. (KANT [Br AA 10:205])63.
Kant (KANT[BrAA 10:205]) explica nesta carta os pontos que seguiu em sua obra, começando por expor a distinção feita por ele a respeito dos juízos analítico e sintéticos e a dificuldade que existe em conceber estes últimos quando pensados a priori e como é necessário estabelecer a dedução deste último gênero de conhecimento sem o qual nenhuma metafísica seria possível.
Kant aclara que todo o conhecimento especulativo a priori possível para nós não se estende para além dos objetos de uma experiência possível em nós, e a única reserva deste campo de experiência possível seria a de que este não compreende as coisas em si, apresentando assim os limites do conhecimento. Conforme é destacado no decorrer da carta:
Se chegássemos a coisa em si, então teríamos a solução imediata das contradições pelas quais a razão impede a si mesmo quando tenta ir além de todos os limites da experiência possível, mesmo que nós tivéssemos a resposta ainda mais indispensável a questão é; saber o que pode impulsionar a razão a partir de seu próprio raio de ação, em uma palavra , a dialética da razão pura não teria poucas dificuldades, e é aí que começaria o caminho do desenvolvimento de uma crítica, como um fio condutor do qual se está seguro, num labirinto de onde se distância a cada momento e reencontra frequentemente a saída. Eu contribuí de bom grado, tanto quanto pude, a esta pesquisa, pois sei com certeza que se esta investigação cair em boas mãos, poderá chegar a uma conclusão. (KANT [ Br AA 10:205 ]) 64.
Novamente apontando para o problema das Categorias Kant questiona: como reportar-se a objetos que não são extraídos de nenhuma experiência. É provável que o problema da dialética seja um dos motivos que Kant nesta correspondência dirá que “Mendelssohn, Garve e Tetens pareciam ter renunciado esta tarefa”, ou seja, negligenciaram a investigação sobre a razão humana 65. Posteriormente numa correspondência de 26 de agosto de 1783 ainda envolto pelos problemas interpretativos acarretados por sua Crítica Kant responderá a Schultz sobre as categorias.
É nesta correspondência que se pode ver o gérmen da mudança do pensamento de Kant a respeito da Dedução que ocorrera na segunda edição da crítica em 1787. Observa-se que em 1781 a descrição da unidade da apercepção expressa-se em termos das atividades sintéticas de um sujeito finito (inclusive a priori), onde todas as representações estão submetidas a condição formal do sentido interno, postulando assim uma unidade subjetiva da consciência (universalidade).
Por isso é compreensível que Kant diga que alguns espíritos (Lambert, Mendelsshon, Tetens e Garve) o entenderiam. Estes pensadores estavam em comum acordo sob duas questões: a objetividade e sob princípios subjetivos a priori, ou seja, estes eram pensadores que articulavam suas ideias sob pressupostos psicológicos. Contudo como destacamos a partir de 1783, ou seja, o período entre as duas edições da Crítica o pensamento de Kant começa a tomar um novo caminho.
Este novo caminho parece ser notado na resposta as objeções de Schultz, quando este diz que a terceira categoria poderia bem ser um conceito derivado de outros dois, uma hipótese justa que Kant diz já ter trabalhado em seu Prolegomenos (nota 1), mas que tem passado desapercebido66.
Apesar de Kant confessar sua incapacidade em lidar com a questão, ele explica como os objetos da sensibilidade poderiam ter uma categoria por predicado, mas também expõe o inverso, que as categorias, sem uma condição que lhe é ligada, pela qual elas são reportadas aos objetos dos sentidos, não poderiam em si determinar nada no espaço e no tempo67.
O que queremos destacar aqui é atentar ao fato de que a validade objetiva (universalidade) neste “novo” momento já não pode mais ser sustentada sob pressupostos subjetivos. As observações feitas por Kant foram acatadas por Schultz, tal aceitação é nítida, como se pode ver na carta de 28 de agosto de 1783. Concordando com a posição de Kant em relação as categorias68. Contudo esta discussão ainda estaria longe de ser sanada e em 17 de fevereiro de 1784 Kant escreve a Schultz:
Permita-me de vos fazer apenas uma observação, que tive a intenção de vos comunicar a respeito de um bilhete de 22 de agosto do ano passado, e que não me retorna ao espírito a não ser agora, reexaminando os papéis que me restam; eu vos tomo por examinar mais de perto se ele não poderia apenas impedir que uma grande diferença reinasse, em uma das partes fundamentais do sistema, entre nossas duas respectivas opiniões. Esta observação diz respeito a ideia que vós tem emitido, segundo a qual ela poderia bem não ter nada além de duas categorias em cada classe, já que a terceira resultaria da ligação da primeira com a segunda, uma interpretação que vós deve a vossa perspicácia, mas que não entraria em minha opinião, a conclusão tirada por vós, de onde segue, pois também que uma tal modificação que tiraria assim a totalidade do sistema sua coerência alias muito uniforme) não é para mim necessário.”[KANT(Br AA 10:220 ])69.
Kant sustenta que a terceira categoria, resulta seguramente da conexão da primeira e da segunda, mas não simplesmente por composição e sim por uma conexão de acordo com a mesma possibilidade que constitui um conceito. Este conceito é uma categoria particular, de onde vem também a terceira categoria que não pode ser empregada onde estão as duas primeiras70. Assim a terceira categoria conteria sempre algo a mais que a primeira e que a segunda mesmo tomadas conjuntamente ou por si mesmas, ou seja, a dedução da segunda a partir da primeira (não seria sempre possível)71. Kant esclarece que:
A necessidade não é nada além da existência enquanto esta pode ser concluída a partir da possibilidade, a comunidade (Gemeinschaft) e a causalidade recíproca das substâncias em relação a suas determinações. Mas as determinações de uma das substâncias poderiam ser causadas por uma outra substância. É uma coisa que não se pode pressupor tão facilmente, mas que pertence as conexões, sem as quais nenhuma relação de objetos entre eles no espaço, e, por conseguinte nenhuma experiência externa, tornar-se-ia possível. [KANT ( Br AA 10:220)]72.
Kant responde a Schultz que avaliara minunciosamente e assim refletira sobre a possibilidade de uma modificação no sistema das categorias, a fim de evitar que seus adversários encontrem ali princípios de desacordo, pois a derivação das categorias dos vários modos do ato de julgar constitui o cerne da Analítica dos conceitos, o argumento dessa parte é relativamente simples: todos os atos do entendimento são juízos, e o entendimento é a faculdade de julgar, assim Kant a define.
Kant relaciona o juízo com a síntese descrevendo como categorias aqueles conceitos que conferem unidade e síntese pura oferecendo assim as condições para a objetividade em geral. O número e o caráter das categorias já tinham sido estabelecidos numa dedução metafísica a partir das formas do juízo. Contudo, na Dedução metafísica a origem a priori das categorias é colocada em evidência de um modo geral, mas em pleno acordo com as funções lógicas universais do pensamento, temos então a Dedução Trancendental que busca a legitimidade dos conceitos e uma Dedução empírica que busca as origens do conceito na experiência; eis toda fonte de discórdia.
Como afirmamos Kant passará grande parte dos anos seguintes a publicação da Crítica dialogando sob as polêmicas em torno da obra. Em 10 de julho de 1784 Christian G. Schütz também escreveu a Kant sobre a dificuldade de entendimento de sua Crítica73*. Relatando a Kant que:
O que torna muito difícil a leitura de vosso trabalho, além da dificuldade e da sublimidade da especulação da qual ele se ocupa, e que ele progride sempre de maneira contínua, sem parágrafos ou referências. Tenho para um uso pessoal, dividido o texto em parágrafos e por esse meio fui bem sucedido restando apenas um pequeno número de obscuridades, e algumas dúvidas que gostaria de tomar a liberdade de expor. (KANT[Br. AA 10:233 ])74.
Dentre as dúvidas, Schütz argumenta que: “ a comunidade e ação recíproca não parecem diferir a não ser empiricamente, e não em si mesmas, da segunda categoria ou categoria da causalidade e da dependência, pois na ação recíproca, há, portanto, sempre a causalidade em um dos termos, da dependência em outros e vice e versa. (KANT[Br. AA 10:232 ])”75*.
Além das posições críticas de Schütz e Schultz que nos é de fundamental importância para entendermos o desenvolvimento das categorias. Nos anos 1785 próximo a segunda edição da Crítica entra em cena outro interlocutor importante de Kant e que tinha também em incomum com os demais, dúvidas a respeito da Dedução. Esse interlocutor é Heinrich Ulrich. Na correspondência a Kant de 21 de abril de 1785, Ulrich também apresenta a Kant suas dificuldades em relação a Crítica.
Uma das principais dúvidas que tenho, a que não pude até agora sanar, mas que vós talvez consiga suprir com apenas duas palavras, é a seguinte: supomos que o adversário (Gegner) dê-me, após o conceito de experiência – que vós tem estabelecido tanto na Crítica da razão pura, quanto nos Prolegómenos, as categorias (por exemplo, aquela de causa) e o princípio da ligação causal com as mesmas condições da possibilidade de um tal modo de experiência, mas ele me recusa em conceder que seja permitido ao homem determinar sobre sua experiência na significação e de a reivindicar: pergunto: Como devo encontrá-lo de maneira breve porém completa? (KANT[Br. AA 10:238])76.
Curiosamente Kant nunca respondeu a Ulrich pelo menos não através das correspondências77, mas nos anos (1785), Kant trabalha em seu projeto: “Primeiros princípios metafísicos da ciência da natureza”. Sabemos o quão esta obra é um “divisor de águas” em relação a Dedução transcendental das categorias presente na primeira e na segunda edições da Crítica78.
Antes de adentrar a metafísica da natureza que vos tenho prometido, devo avançar naquilo que embora seja apenas uma simples aplicação, suponha um conceito empírico, aquele dos primeiros princípios metafísicos da teoria dos corpos, como aquele sem um anexo ao estudo da alma (Seelenlehre) 79, de um lado, porque esta metafísica da natureza, é bastante homogênea e deve ser pura, por outro lado, a fim de que eu possa dispor de alguma coisa a que eu possa me relacionar a exemplos in concreto e que assim eu possa tornar a exposição compreensível sem portanto ampliar o sistema e incluir nele exemplos. É esta aplicação que venho concluir neste verão sob o título de Primeiros princípios metafísicos da ciência da natureza, e acredito que mesmo os matemáticos não o acolherão desfavoravelmente. (KANT [ Br AA 10:242 ])80.
Ao afirmar que pretende avançar em busca da pureza Kant caminha em direção a uma posição contrária daquela tomada até então, ou seja, a unidade da apercepção estaria direcionada a um caráter objetivo distinto da unidade subjetiva da consciência, presente em 1781 que é uma determinação do sentido interno suprimindo decididamente uma dedução subjetiva, que não teria status de pureza.
Kant é claro nos Princípios (KANT MAN AA4:9) ao afirmar que. “com efeito, segundo o que precede, uma ciência genuína nomeadamente da natureza, exige uma parte pura que subjaz à parte empírica, e que se baseia no conhecimento a priori. ” Este fragmento é elucidativo, pois Kant quando descreve a impossibilidade metodológica de uma ciência da natureza igualando-a a experiência do sentido interno ele faz, mesmo que indiretamente uma crítica a si mesmo. Esta crítica repercute na incapacidade de se sustentar qualquer pressuposto subjetivo como sustentáculo de sua Dedução.
Retomando a repercussão da Crítica da razão pura. Em 13 de novembro de 1785 Schütz escreve a Kant, relatando como esta obra está sendo estudada nas universidades. No final da correspondência ele diz a Kant ter recebido as Meditações do amanhecer81. Schütz elogia o trabalho de Mendelssohn e diz a Kant não ter encontrado neste nenhum novo argumento contra a Crítica. Kant responderá a Schütz a este respeito no fim de novembro de 1785:
Mesmo que se deva tomar o digno trabalho de Mendelssohn em seu conjunto por uma obra prima da ilusão na qual cai nossa razão quando esta toma as condições subjetivas de determinação dos objetos, em geral pelas condições da possibilidade destes objetos em si mesmos, ilusão segundo a qual não é certamente fácil de apresentar a natureza verdadeira nem de libertá-lo da base do entendimento, a verdade é que este excelente trabalho, independentemente do que diz de penetrante, de novo e de exemplarmente claro seu Conhecimento premiliminar da verdade, da aparência e do erro... será de uma utilidade essencial para a crítica da razão humana (KANT[Br AA 10:256])82.
A partir desta posição de Mendelssohn Kant contra argumenta sua ideia de que é pelas condições simplesmente subjetivas do uso da razão pela qual algo do objeto nos é conhecido83. Neste momento a subjetividade toma contornos secundários e Kant. Sob esta perspectiva Kant dirá que:
Uma vez que na representação das condições subjetivas do uso de nossa razão, o autor (Mendelssohn) chega finalmente a concluir que nada é pensável a não ser na condição de ser realmente pensado por um ser qualquer e que de uma maneira geral, sem conceito, nenhum objeto poderia realmente existir, e conclui disso que um entendimento infinito que é ao mesmo tempo ativo deva existir realmente, e que não é a não ser por relação a ele que a possibilidade ou a realidade podem ter uma significação enquanto predicados das coisas, uma vez que, além disso a razão humana experimenta através de disposições naturais a necessidade essencial para ter uma pedra angular das partes ainda não religadas, desta pedra segue-se extremamente perspicaz encadeamento de nossos conceitos, que se ampliam até abarcar a totalidade, nos incitando e encorajando enormemente a criticar completamente o poder de nossa razão, e a distinguir as condições simplesmente subjetivas de seu uso.( KANT[Br AA 10:256 ])84.
Infelizmente Kant não terá a resposta de Mendelssohn, a respeito de suas observações enviadas a Schütz. Mendelssohn viria a falecer em 4 de janeiro de 1786 85. Quanto a afirmação de Schütz de que o trabalho de Mendelssohn não continha nenhuma observação sobre a obra de Kant esta não se estende a Ludwig Heinrich Jakob este interpreta Mendelssohn de maneira diferente e escreve a Kant (em 26 de março de 1786)86.
Segundo Jakob o escrito de Mendelssohn parece uma demonstração notável que a existência não pode em nada ser determinada a priori87. Contudo, Jakob aponta que as respostas ao que considera críticas proferidas por Mendelsshon já estariam presentes na Crítica de Kant. Para reverberar sua interpretação Jakob solicita nesta carta a confirmação de Kant.
Todos os argumentos me parecem de fato contidos na Crítica e me parece mais necessário os assinalar ao público que os produzir, pois mesmo a prova pretensamente nova se funda sob a hipótese indemonstrada que as coisas em si são dependentes de um ser necessário, e que este não é nada além de um conceito do ser necessário que corresponde ao entendimento mais perfeito. A preferência pelo antigo sistema é tão forte que os filósofos de grande talento condenam a Crítica, se não abertamente, o fazem em segredo, e isso porque eles temem o colapso do edifício no qual eles pensam viver até agora em segurança. Buscando assim convencer outras pessoas que isto não é senão “fogo de palha” e que todos os ataques devem a priori ser observados como ineficazes. [KANT (Br AA 10:264])88.
Em 26 de maio de 1786 Kant responde a Jakob, porém de maneira bastante sucinta: “eu trabalho neste momento, sob o urgente pedido de meu editor, numa segunda edição da Crítica da razão pura, que conterá os esclarecimentos de diferentes passagens, onde a compreensão incorreta tem provocado as objeções postas a mim até agora. (KANT [Br AA 10:273 ])” 89. Esta “solução” às críticas que segundo Kant seriam esclarecidas numa segunda edição é confirmada numa carta a outro interlocutor, na qual Kant confessa seus planos, aquele de uma nova edição da obra. Kant escreve a Johann Bering em 7 de abril de 1786.
[...] trabalho numa nova edição retrabalhada de minha Crítica, e tenho pouco tempo para isso (talvez seis meses) pois meu editor, suspeita ser rápida a venda de toda edição deste livro, solicitando-me rapidez. Eu levarei em consideração todos os erros de interpretação ou mesmo as obscuridades que chegaram ao meu conhecimento da publicação deste trabalho até o presente momento. Assim irei suprimir muitas coisas e acrescentarei outras, que me permitiram fazer melhor a sua compreensão. Porém, não será necessário mudar o essencial, pois tenho muito tempo pensado e repensado estas ideias antes de colocá-las no papel, mesmo depois de escritas eu tenho examinado atentamente e investigado de modo repetitivo as proposições que constituem meu sistema, e tenho sempre as verificado, por si mesmas e por sua relação com o todo. (KANT [Br AA 10:266 ]) 90.
De fato, no início do ano de 1787 a nova edição da Crítica, parecia ter sido bem aceita por seu público91. Apesar de Kant salientar que não seria necessário mudar o essencial é fato que a Dedução Transcendental e os Paralogismos da razão foram alterados profundamente. Ainda no ano de 1787 há uma correspondência importante entre Jakob e Kant a qual Jakob diz a Kant que pretende escrever um manual para lecionar seu curso de lógica e metafísica e pretende seguir a ideia da Crítica 92.
Jakob então pergunta a Kant:
Eu não sei como devo me assegurar da completude da tábua. Cada categoria deve ter a mesma quantidade de conceitos que lhes são subordinados, e como eu devo ligar as próprias categorias entre si? Aquelas da relação com as da relação, ou aquelas da quantidade com as da relação e reciprocamente? 93Se Hamberger não nos tem confundido, vós teria escrito mesmo uma metafísica. (KANT [Br AA 10:301]) 94.
Em 11 setembro de 1787, a respeito de seu manual, Kant o responde e lhe diz que a título explicativo o aconselharia a observar no prefácio de sua Crítica (1787) a necessidade de estruturação da forma que foi exposto95. Atentando a Jakob sobre fazer da lógica em sua pureza a simples soma das regras formais do pensamento, deixando de lado tudo o que vem da metafísica, ou mesmo da psicologia, a lógica tornaria assim não apenas mais compreensível, mas também mais coerente e fundamentada96. É interessante notarmos aqui a advertência sobre a psicologia.
A respeito de estar fazendo metafísica a resposta de Kant é sempre a mesma: “eu não tenho jamais escrito uma metafísica (Eine Metaphysik habe nie geschrieben)”97 e expõe mesmo que de maneira breve a ideia sobre um provável sistema metafísico:
A ontologia sem nenhuma introdução crítica começaria pelos conceitos de espaço e tempo, enquanto somente são (como intuições puras) o fundamento de toda experiência. Em seguida viriam quatro partes principais, que conteriam os conceitos do entendimento, de acordo com as quatro classes das categorias, onde cada uma constitui uma parte, tudo isso tratado de modo puramente analítico, como fez Baumgarten, com os predicáveis, assim como suas relações no tempo e no espaço, do mesmo modo como eles veem, um após o outro, como se pode encontrar em Baumgarten. Para cada categoria, apresentamos o princípio sintético (como exposto na segunda edição da Crítica) enquanto a experiência lhe deve ser conforme, assim é realizado o conjunto da ontologia. Então, a consideração crítica do espaço e do tempo como formas da sensibilidade, em seguida após as categorias sua dedução. Pois as categorias, ainda que o espaço e o tempo possam agora ser perfeitamente incluída, e ser captados como o único modo possível de demonstrar os princípios, como tem sido feito. E em seguida atingir as ideias transcendentais, que permitiram a divisão em cosmologia, psicologia ou teologia etc. (KANT [Br AA 10:303 ]) 98.
Percebemos que o trabalho de Kant já era conhecido e amplamente discutido. Em Viena 1787, um jovem austríaco chamado Leonhard Reinhold99 começa a escrever uma série de artigos sob a influência da filosofia kantiana sob o título de Brief über die kantische Phiosophie (1786-1787). Reinhold discutirá com Kant sobre a necessidade de uma dedução das categorias. Em 12 de outubro de 1787 Reinhold pergunta a Kant:
Na nota que segue o texto do prefácio dos Princípios metafísicos da ciência da natureza, vós expôs de modo muito pertinente que o fundamento principal de vosso sistema seria estabelecido “mesmo sem uma dedução completa das categorias”— ao contrário, na Crítica da razão pura, primeira e segunda edição, segunda parte da analítica transcendental, primeira seção, vós afirmai é estabelecido que “há uma incontornável necessidade desta Dedução. (KANT [Br.AA 10:305])100.
Reinhold recebera entre 28 e 31 de dezembro de 1787 a resposta de Kant.101 Mas, Kant vai mais além e nos oferece informações relevantes; ele mostra nesta carta uma nova descoberta sobre os princípios a priori, além de apresentar seu mais novo projeto: a Crítica do gosto.
É assim que eu me ocupo agora da Crítica do gosto, onde é descoberto uma nova espécie de princípios a priori diferentes daqueles precedentes, pois as faculdades do espírito são três: faculdade de conhecer, sentimento de prazer e desprazer e faculdade de desejar. Eu tenho encontrado os princípios a priori. A primeira na Crítica da razão pura (teórica), a terceira na Crítica da razão pratica. Eu estava buscando também na segunda, e, mesmo que outrora estivesse impossibilitado de encontrá-la, fui contudo posto nesta via por intermédio da sistematicidade que a análise das faculdades consideradas anteriormente que me fez descobrir no espírito humano, e que me forneceu o conteúdo à admirar e aprofundar, na medida do possível, o suficiente para o resto de minha vida, de modo que eu reconheço agora três partes da filosofia, onde cada uma tem seus princípios a priori que se pode considerar, graças aos quais se pode determinar com segurança a extensão do conhecimento possível que apresenta esta característica — a filosofia teórica, a teleologia e a filosofia prática, entre as quais na verdade na segunda é encontrado os mais pobres princípios de determinação a priori. Eu espero até a páscoa, tratar desta parte sob o título de Crítica do gosto, pronta, porém ainda não impressa. (KANT[Br AA 10:313 ]) 102.
Esta carta ajuda a entender avanço de Kant, mostrando que o problema da Dedução no seu entender foi sanado na segunda edição da Crítica. Seguindo as Correspondências notamos um período de debates não mais envoltos pela Crítica da razão pura, que só voltaria à tona em 22 outubro de 1788 numa carta de Andreas Richter a Kant103.
Richter escreve a Kant, questionando alguns pontos, que acredita serem obscuros. Richter começa pela estética, dizendo que “que a estética não é outra coisa senão a confirmação de que todas as representações dos objetos não contêm o próprio objeto” e que “as representações não seriam nada além de modificações de nossa sensibilidade, pelo fato desta última ser afetada de um modo ou de outro”.
Segundo Richter as representações dos objetos não são nada além de modificações da sensibilidade pela forma como está é afetada por ele e não a reprodução dos objetos por si mesmos, bem como para todos os outros sentidos, como bem mostra a psicologia104. Porém Kant nunca respondeu as suas observações.
Somente em 1789 a Crítica (KrV) volta com força ao centro das atenções e em 28 de fevereiro de 1789, Heinrich Jakob escreve a Kant:
Recebi recentemente o terceiro número da Revista de Sr. Eberhard.105 O assunto da revista é somente dirigido contra vossa Crítica. O raciocínio é justo, e a maioria das proposições afirmadas são verdadeiras e podem ser claramente defendidas, mas ele as sustenta de modo estranho. Os pontos que vejo, observo um real conflito concernente somente na universalidade das formas sensíveis e na universalidade dos conceitos do entendimento. E ainda, como se pode ter o saber a priori, se os fundamentos em seu conjunto são deduzidos do sujeito. Assim é demonstrado, o que ninguém nega, que nós temos razão de pensar os numenos por intermédio das categorias, mas não que nós podemos conhecer um predicado real destes noumenos. (KANT [Br AA 11:345]) 106*.
Vemos na carta que Jakob resume a Kant as objeções contra seu sistema realizadas por Eberhard publicadas na Philosophisches Magazin. Eberhard parece não dar atenção às modificações feita por Kant na segunda edição da Crítica. A discussão entre Eberhard e Kant é longa, mas podemos analisá-las mediante a correspondência de Kant com Reinhold. Dois anos antes em 1789, Kant se corresponde com Leonhard Reinhold e entendemos que este diálogo se aproxima ao de Jakob em especial no que se refere à faculdade de representação107. Em 9 de abril de 1789, Reinhold escreve a Kant:
Eu espero assim como Schütz e Hufland, que a teoria da faculdade de representação, que começou a ser impressa desde a páscoa, contribua um pouco para dar outra direção ao curso infeliz que tem tomado o suposto exame de vossa filosofia por seus comentadores celebres ou dos que desejam tornar-se célebres, a respeito da coisa em si. [...] Mesmo o público instruído tem sido intimidado pelos golpes desferidos por Eberhart, Weishaupt, Flatte etc. (KANT[Br AA 11:352])108.
Kant responde a Reinhold em 12 de maio de 1789 escrevendo que as acusações de Eberhart, posta “na página 314, na qual Eberhart diz: em consequência a diferença seria etc., até aqui nós deveríamos nos representar por alguma coisa determinada”109. Kant o rebate esclarecendo a Reinhold que:
Sua explicação de um julgamento sintético a priori é um puro engano, isto é um plano tautológico. De fato, na expressão sintética reside a ideia que não é nem a essência nem uma parte essencial do conceito que serve de sujeito do julgamento, pois se assim fosse, este lhe seria idêntico e o julgamento não seria sintético. Ora o que é necessariamente pensado como ligado a um conceito, mas não por identidade, é necessariamente pensado como legado a ele por meio do que reside na essencialidade do conceito, enquanto outra coisa, é que ele pensa como presente nele seu próprio fundamento, isto seria a mesma coisa que dizer: o predicado não é pensado na essencialidade do conceito e, portanto, necessariamente por meio deste último, ou seja; este é fundado naquele (a essência), isto é, ele deve ser pensado como atributo do sujeito. De fato eu posso dizer: todos os julgamentos sintéticos são como seus predicados, atributos do sujeito, mas não o inverso: que todo julgamento que exprimi um atributo de seu sujeito é um julgamento sintético a priori, pois há também atributos analíticos. (KANT[Br AA 11:359 ])110.
Esta correspondência é inteiramente direcionada as críticas de Eberhart, especificamente sobre a distinção entre juízos sintéticos e analíticos. No final da correspondência Kant explica que se o julgamento sintético é um julgamento de experiência seria a intuição empírica, mas se fosse um julgamento a priori, seria a intuição pura que deveria ser tomado como fundamento.
Ora, como é impossível (para nós homens) termos uma intuição pura (onde nenhum objeto nos é dado), a menos que ele não consista simplesmente na forma do sujeito e da receptividade de sua representação, algo que o torna apto a ser afetado por objetos, assim a existência efetiva dos julgamentos sintéticos a priori torna-se suficiente para demonstrar que elas não poderiam alcançar nada além dos objetos dos sentidos, e posteriormente os fenômenos sem que possamos saber que o espaço e o tempo são estas formas da sensibilidade e que os conceitos a priori sob os quais colocamos estas intuições a fim de ter julgamentos sintéticos a priori são as categorias. (KANT [Br AA 11:359 ]) 111.
A relevância destas cartas é destacar o quão absurdo é a interpretação de Eberhard, para Kant. Este último o censura argumentando que: “os conceitos puros da razão que Eberhard toma por idênticos aos conceitos puros do entendimento, e os cita como tal [por exemplo, a expansão ou a cor localizada nas representações dos sentidos] é justamente o contrário do que tenho indicado como característica dos conceitos do entendimento puro”. (KANT [Br AA11:360 ]).
O segundo ponto contestado por Kant é sobre a posição da necessidade subjetiva do princípio de razão suficiente, apresentado por Eberhard. Percebemos que Eberhard parece acreditar numa continuidade da Crítica, e o faz da pior forma possível se apoiando em pontos já refutados, por Kant112.
De acordo com Kant, Eberhard compreende o princípio de causalidade tornando as representações, as ligações das representações e seus fundamentos não residentes apenas no sujeito, mas sim no objeto113. Kant aponta para a superficialidade de Eberhard, que tenta refutar a Crítica apoiado nos Novos ensaios sobre o entendimento humano de Leibniz dizendo que a Crítica já estaria presente no trabalho de Leibniz114.
Ainda em torno das correspondências entre Kant e Reinhold há uma carta do final do ano de 1789 que merece uma atenção especial, pois esta contribui afim de aclarar a posição de Kant em 1787, bem como contestar as interpretações a respeito da síntese e a respeito da relação dos objetos atenuada por Eberhard. A carta que nos referimos aqui é dirigida a Andreas Kosmman em setembro de 1789 e nela Kant assinala a diferença entre uma dedução transcendental e uma dedução psicológica. Kosmann escreve pela primeira vez a Kant em 30 de agosto de 1789 e se correspondem apenas por duas vezes.
Kosmann defendia sua tese em Frankfurt e neste trabalho ele sustenta o caráter a priori do espaço contra as objeções empíricas e psicológicas, como aquelas que foram feitas por Feder e a respeito da possibilidade associativa que poderia chamar um objeto pela simples relação com outro 115.
Na interpretação de Kosmann o sentimento apareceria já como embrião, antes mesmo que a alma pudesse pensar. Sob esta hipótese Kant argumenta:
Nós podemos tentar uma dedução psicológica de nossas representações, quando nós as consideramos como efeitos que tem sua causa no espírito em ligação a outros objetos, ou igualmente uma dedução transcendental, quando temos razões para admitir que elas não têm uma origem empírica, buscamos simplesmente as razões da possibilidade que elas tenham, no entanto a priori uma realidade objetiva (KANT [Br AA 11:377 ]) 116.
Já em relação ao espaço:
Não é necessário perguntar como nosso poder de representação foi usado pela primeira vez com êxito na experiência; é suficiente, uma vez que nós temos utilizado, para então podermos mostrar a necessidade de pensar, de pensar com tais determinações e não com outras, de indicar, a partir de regras seu uso e sua necessidade. As razões destas mesmas regras independentemente da experiência e mesmo que não se deixem ser deduzidas de um conceito, são sintéticas. Eu posso perceber a queda dos corpos, mesmo que não pense sua causa, mas não posso absolutamente perceber nada a não ser que as coisas são exteriores uma das outras e justapostas, sem me apoiar sobre a representação de espaço como forma sensível, na qual apenas a relação de exterioridade pode ser pensada e sem considerar assim uma relação mútua certas representações são dadas. Tem-se o direito de supor o conceito de espaço, mas não o pode, pois, os conceitos não são inatos e sim adquiridos. As representações exteriores, e isto também é válido para o embrião, não são senão enquanto tais produtos originados quando as sensações afetam a faculdade de representação desta forma. (KANT [Br AA 11:377])117.
Esta afirmação é curiosa, pois notamos que Kant postula uma dedução psicológica com certa ressalva “apenas quando consideramos as representações como efeitos que tem sua causa no espírito em ligação a outros objetos” 118. Esse “modelo” nos remete ao conceito de Faculdade Imaginativa e a Faculdade de conhecer (inferior e superior) exposta na Dedução em 1781, mas tratada aqui, mas próxima da exposição feita na Antropologia119.
Retomando as cartas somente após um intervalo de três anos em 1792 o tema Crítica da razão pura é reestabelecido. Do período que vai de 1792 a 1794 o grande interlocutor de Kant é sem dúvidas Jacob Sigismund Beck. Jacob recebe esta correspondência de Kant (de 3 de julho) contendo as observações sobre os conceitos de objetividade e subjetividade.
A diferença que há entre a ligação das representações em um conceito e em um julgamento, por exemplo, entre: o homem negro e o homem é negro (em outros termos, o homem que é negro e o homem é negro). Acredito ser no primeiro caso que o conceito é pensado como determinação do conceito que é pensado. Assim vós tendei toda razão de dizer que, no conceito composto, a unidade da consciência é dada como subjetiva, enquanto que na composição a unidade da consciência ela é objetiva, isto é, que no primeiro caso o homem é simplesmente pensado como negro (representação problemática), enquanto que no segundo caso ele deve ser conhecido enquanto tal. (KANT[Br AA 11:520 ]) 120.
Kant reponde a questão colocada por Beck da seguinte forma: “posso eu dizer sem me contradizer que o homem negro (que é negro num momento determinado) é branco (ou seja que é branco, ou que foi branco num outro momento)?. Kant coloca esta proposição como negativa, e esclarece que neste julgamento transporta o conceito de negro para o conceito de não negro na medida em que o sujeito é pensado como determinado pelo primeiro conceito, pois como ele seria um e outro ao mesmo tempo, iria se contradizer invariavelmente.
Assim, Kant justifica que não poderíamos dizer do mesmo homem: ele é negro e também este homem não é negro, (pois num outro momento ele foi branco), visto que não há ali nada além da ação da determinação que seja anunciada nos dois julgamentos, o qual depende aqui de condições da experiência e do tempo.
Já no que diz respeito à definição de intuição, entendida por Beck como uma representação totalmente determinada de uma multiplicidade dada. Kant diz não ter nada a acrescentar, a não ser o fato de que a determinação total deve ser realizada objetivamente e não como se encontra no sujeito (uma vez que nós não podemos jamais conhecer todas as determinações do objeto de uma intuição empírica). Desta forma Kant afirma que a definição não significaria nada mais que isso 121:
Ela é a representação de um objeto particular dado como tal e que ao contrário sempre é realizado por nós mesmos; a composição do dado múltiplo, e como a composição sendo conforme o objeto não pode não ser mais arbitrária, se o composto não pode ser dado, ao menos a forma pela qual, somente o dado múltiplo pode ser composto deveria ele ser dado a priori e assim desta forma, o elemento puramente subjetivo(sensível) da intuição, seria efetivamente a priori, não como pensado, (pois somente a composição como ação é um produto do pensamento), mas como alguma coisa que está dado em nós (espaço e tempo) e deve pois ser uma representação particular (representatio communis) e não um conceito”. (KANT[ Br AA 11:520])122.
Kant afirma novamente a supremacia da objetividade sob a subjetividade, pois nossa intuição é limitada e não arbitraria. A discussão entre Kant e Beck, é longa. Em 8 de setembro de 1792 Beck escreve à Kant, sobre a possibilidade de se pensar em um espaço preenchido totalmente pela matéria, levando em consideração que sua realidade comporta uma diferença infinita de graus.
Kant em 16 ou 17 de outubro de 1792 dirá a Beck:
[...] o conceito empírico de composto; a composição não pode ser dada e representada por meio de uma única intuição e de sua apreensão, mas somente pela ligação espontânea do diverso na intuição, isso em uma consciência em geral ( que não é mais empírica) esta ligação e a função correspondente devem obter das regras a priori do espírito que constituem o pensamento puro de um objeto em geral (por um conceito de entendimento) do qual deve depender a apreensão do diverso enquanto este constituí uma intuição, formando assim a condição de todo conhecimento possível do composto (ou do que é contínuo) pela experiência (onde há uma síntese), seguindo tais princípios. Após a concepção comum, a representação do composto como tal seria dada na representação do diverso apreendido, e, por conseguinte ela não pertenceria totalmente a espontaneidade, como ela deve, portanto, ser, etc. (KANT[Br AA 11:537])123.
Assim, se temos Kant respondendo a Kosmann fundamentado sob ideias próximas da Antropologia, encontramos referencias as ideias de Beck em seu Opus Postumum (KANT OP AA22:356) “...que não podemos captar nada mais que nós mesmos fazemos. Mas previamente devemos fazer a nós mesmos: eis a representação originária de Beck.”
Após corrigir as observações feitas por Kant, Beck lhe envia os cadernos (corrigidos) juntamente com a correspondência em 10 de novembro de 1792. Nesta Beck discute sobre a interpretação do idealismo crítico e o idealismo de Berkeley. Além de explicar a linha de raciocínio que segue em relação às categorias124.
Kant responde a Beck em 4 dezembro de 1792 dizendo que o idealismo berkeliano e o idealismo crítico, podem ser chamados de idealidade do espaço e tempo, porém é categórico ao censurar tal diferença argumentando que: “tal discussão não merece a menor atenção, pois falo (Kant) de idealidade considerando a forma da representação enquanto que para outros a idealidade tem relação com a matéria”125.
Consideramos que o problema do idealismo não é assim tão simples. Na Refl 5.653 ψ3-4 intitulada: “Contra o idealismo [material] Kant apresenta duas variantes deste idealismo o idealismo problemático de Descartes e o dogmático de Berkeley, que considera o espaço como impossível em si.
Funda-se sobre a afirmação que nós somos imediatamente conscientes de nossa própria existência, mas que somos conscientes da coisas exteriores somente por meio de uma inferência da consciência imediata das simples representações das coisas fora de nós a sua existência, pela qual a inferência não é evidente em sua conclusão , como evidencia-se pela propriedade conhecida de nossa imaginação, que é o poder de nos representar intuitivamente os objetos mesmo na sua ausência... (KANT Refl. 5.653ψ3-4 AA18:306-312.LB1.D11)
A resposta de Kant deve-se ao fato de que ele já expusera a refutação na segunda edição da Crítica, onde Kant se opõe ao idealismo material. Mas Beck, argumenta que Kant lança a atenção sobre a consciência de um dado e então o torna atento aos conceitos graças aos quais alguma coisa é pensada.
Num primeiro momento é apresentado igualmente as categorias como conceitos num sentido comum, que conduziriam enfim o leitor a compreender que estas categorias são de fato o ato do entendimento graças ao qual se faz originalmente o conceito de um objeto e gera o: eu penso um objeto126.
Eu tenho criado o hábito de nomear esta gênese de unidade sintética da consciência a composição original. Ela é entre outros o ato que o geômetra postula quando começa sua geometria pelo princípio de uma representação do espaço e a aquela não poderia corresponder a nenhuma representação discursiva, como eu vejo a coisa, o postulado da representação de um objeto através da composição original é o princípio supremo de toda filosofia sobre a qual repousa a lógica geral pura e toda a filosofia transcendental. É porque eu sou fortemente persuadido que esta unidade sintética é o ponto de vista a partir do qual, quando está sob domínio, se pode saber o que significa, não somente a respeito do que pode ser um julgamento analítico e sintético, mas também que pode significar a priori e a posteriori. (KANT[Br AA 11:630 ]) 127.
O que Beck pretende é explicar que o fato da Crítica colocar a possibilidade dos axiomas geométricos faz com que a intuição posta como o seu fundamento seja pura e mostre no que consiste o que nos afeta, se é a coisa em si, apenas uma ideia transcendental ou o próprio objeto da intuição empírica, ou o fenômeno?
Para Beck este problema pode fazer da Crítica, um círculo vicioso, pois quando ela faz da possibilidade da experiência o princípio dos julgamentos sintéticos a priori, oculta totalmente o princípio de causalidade no conceito desta possibilidade, não podemos ter um conhecimento completo a não ser enquanto não se pensa esta possibilidade da experiência discursivamente.
Desta forma não se tem por assim dizer nada realizado e não se faz nada mais que substituir algo incompreensível por algo igualmente incompreensível128. Beck aponta assim para uma causa diferente sobre a dificuldade do entendimento da Crítica: “eles colocam a dificuldade sobre a conta da apresentação do trabalho, mas a dificuldade desaparece certamente caso fossem capazes de meditar a injunção que é feito para demonstrar a unidade sintética da consciência, porém alguns parecem não saber onde colocar o objeto que produz a sensação”. (KANT [Br AA 11:630 ]).
Por isso, eu tenho empreendido a tarefa de tratar desta questão que é de fato a questão principal de toda Crítica, e trabalho em um artigo onde inverto o método.129 Eu parto do postulado da composição original e apresento a ação das categorias buscando introduzir meu leitor ao centro da ação onde está composição se manifesta originalmente na matéria da representação do tempo. Este me parece conduzir meu leitor ao lugar desejado, eu o conduzo a julgar a KrV após sua introdução, sua estética e sua analítica. Eu o deixo então julgar as principais objeções, em particular aquelas feitas pelo autor de Anesidemus. (KANT [Br AA 11:630 ])130.
Kant escreve a Beck em 1 de julho de 1794, enfatizando que não tem nada a responder no momento sob a sua explanação a respeito da composição original “(a relação de uma representação como determinação do sujeito com um objeto diferente dela, por meio do qual se torna um elemento de conhecimento e não apenas uma pura sensação) (KANT[Br AA 11:634]).”Mas expõe a Beck sua concepção da relação sujeito objeto131.
A proposta de Beck é defender a “verdadeira” posição kantiana contra as interpretações “dogmáticas”, mas chamou a atenção para problemas relacionados ao papel da coisa em si na teoria da percepção de Kant. Argumentando que o objeto que afeta nossos sentidos deve ser fenomenal. Beck sustenta assim que a teoria da afeição de Kant deveria ser entendida não num sentido transcendente, mas como o funcionamento de uma coisa em si incognoscível em um “eu” inobservável e apenas no sentido empírico como um corpo fenomenal no espaço fenomênico afetando o “eu” do sentido interior.
Este “eu” e este corpo, segundo Beck, são os mesmos produtos de uma atividade original do entendimento. A atividade sintética de "representar" (vorstellen) que seria pressuposta por nossos dados dos sentidos, oferecidos por algo objetivamente fora de nós. Beck, portanto, opôs-se à definição de Kant da sensibilidade como uma relação imediata com um objeto que afeta argumentando que as intuições do sentido não dizem nada sobre sua própria objetividade ou fonte.
Desta forma apenas quando se submetem às categorias do entendimento tornam-se objetivas, pois só então podemos invocar a noção de objetos externos e falar em intuições como dadas a nossos sentidos por tais objetos. É por isso que Beck critica a ordem de exposição da Crítica da Razão Pura que seria enganosa, pois não devia começar com a sensibilidade, mas com a unidade sintética ou "atividade original (ursprüngliche Beilegung) do entendimento, única composição (Zusammensetzung). a priori132.
O elemento importante desta discussão é sobre a impossibilidade de remover os elementos subjetivos, ou seja, o conhecimento dos objetos fora do domínio da consciência e sobre a substancialidade.
Por fim, mas não menos importante é a crítica feita por Johann Heinrich Tieftrunk133. Ele apresenta em 5 de novembro de 1797 a Kant o que considera um grave problema contido em sua Crítica.( KrV) 134.
A questão é saber como os conceitos puros do entendimento poderiam ser aplicados às intuições. Para conceber a possiblidade desta aplicação (após a Crítica) é necessário que haja homogeneidade entre uns e os outros, pois é somente nesta condição que a lógica permite uma subsunção dos conceitos empíricos sob os conceitos do entendimento. Ora a Crítica ensina, portanto, que os conceitos puros do entendimento têm uma fonte totalmente distinta daquela das representações sensíveis, as primeiras provêm da atividade do entendimento, as segundas da faculdade de intuir, esta distinção das fontes é que as intuições sejam puras ou empíricas e não se pode chegar, imediatamente ou mediatamente, a nenhuma homogeneidade de representações vindas de fontes tão diferentes135.
Kant responde a Tieftrunk que:
O conceito de composto (Zusammengesetzten) em geral não é uma categoria particular, mas está contida em todas as categorias (como unidade sintética da apercepção). De fato o composto não pode enquanto tal ser intuído, mas o conceito ou a consciência do ato de compor (de uma função que está no fundamento de todas as categorias enquanto unidade sintética da apercepção) deve preceder afim que se pense o diverso dado na intuição como ligado em uma consciência, ou seja, o objeto como alguma coisa de composto, que tem lugar no meio do esquematismo do julgamento na medida onde o ato de compor com consciência é relacionado, de um lado ao sentido interno, conforme a representação do tempo, mas ao mesmo tempo por outro lado , ao diverso dado na intuição. (KANT [Br AA 12:790]) 136.
Kant explica que a síntese da composição do múltiplo tem necessidade de uma intuição a priori a fim de que os conceitos puros do entendimento tenham um objeto, que é o espaço e o tempo. Mas por esta mudança do ponto de vista, o conceito de composto que está no fundamento de todas as categorias é em si mesmo vazio de sentido por isso nós não entendemos que algum objeto lhe corresponda137.
Ora há de fato proposições sintéticas a priori no fundamento das quais está a intuição a priori (espaço e tempo) e as quais correspondem a um objeto em uma representação não empírica (as formas do pensamento podem ser submetidas as formas da intuição que lhe dão sentido e referência). Ora como estas proposições são elas possíveis? não é deste modo que estas formas do composto na intuição representam o objeto tal como é em si; pois não posso com meu conceito de um objeto prosseguir a priori além do conceito deste objeto. É, pois somente de tal modo que as formas da intuição sejam representadas não imediatamente como objetivas, mas simplesmente como formas subjetivas de intuição, a saber como a maneira cujo o sujeito, conforme sua própria estrutura particular, é afetado pelo objeto, isto é, o modo como este último nos aparece, e não tal como ele é em si. Logo se a representação é restrita à condição do modo de representação da faculdade de representação do sujeito, é fácil compreender como é possível julgar a priori sinteticamente (partindo do conceito dado para ir além) e ao mesmo tempo que estes julgamentos extensivos a priori tornem-se absolutamente impossíveis de outra forma. (KANT [Br AA 12:790])138.
Kant esclarece em resposta que os objetos dos sentidos (tanto internos quanto externos) não podem jamais ser conhecidos senão simplesmente como nos aparecem e não como são em si mesmo os objetos suprassensíveis não são para nós nada além de objetos de nosso conhecimento teórico139.
Assim, o entendimento criaria a unidade objetiva sintética originária que, sem dúvidas constitui todo o significado de um conceito, mas primeiro precisa transitar para uma unidade analítica, ou seja, para o conceito, para que o objeto seja então representado. Se o espaço for um dado antes da representação original, põe-se a questão do que ele é140.
As objeções feitas por Beck e Tieftrunk são discutidas amplamente por Kant nos Progressos da metafísica de 1791 e em seu Opus Postumum. Por ora, entendemos que o funcionalismo de Beck estimula Kant a conduzir o caráter dinâmico e criador do transcendentalismo em seu Opus Postumum trabalhando neste os últimos anos de sua vida, buscando integrar a síntese crítica141.
2 Ver correspondência de Johann Heinrich Lambert de 13 de novembro de 1765. (KANT Br AA10:33 ]).
Johann Heinrich Lambert (1728-1777) foi o primeiro a demonstrar em 1768 a irracionalidade de π e e, a que chama de números transcendentes designação que perdura até agora, foi o primeiro a introduzir funções hiperbólicas em trigonometria (série de Lambert). No âmbito da astronomia e da mecânica sua preocupação em calcular as orbitas dos cometas. Não se esgotam neste breve apontamento as linhas de investigação criadora de Lambert, deveríamos acrescentar muitas outras.
3 Quanto a tradução de algumas das Cartas entre Kant e Lambet utilizadas aqui comparamos nossa tradução a de Manuel J. Carmo Ferreira em seu livro: Correspondênia Lambert/Kant, editora Presença, Lisboa, 1988.
4 O titulo da referida obra é: “Anlage zur Architectonic, oder Theorie des Einfachen und Erstes in der philosophischen und mathematischen Erkenntniss (Plano da Arquitectónica ou Teoria do simples e do primário no conhecimento filosófico e matemático). Esta obra só seria publicada em 1771.
5 A inquietação metodológica é uma constante na evolução de Kant desde seu primeiro escrito: Pensamentos sobre a verdadeira apreciação das forças vivas de 1747, que considerava já como um tradado do método. Quando publica o Peisschrift, Kant ainda nos oferece um discurso do método, convencido que este ensaio poderá ser o melhor meio para estimular a atenção de estudiosos para o exame de um método. Ver. Carta à J.H Samuel Formey de 28 junho de 1763.
6 Concerne a Aristóteles o emprego do termo Arquitetonica (Física II) como arte de atingir um saber produtivo. Mas em Wolff, C. a scientia architectonica passa a designar a ontologia em Vernünftige Gedanken von Gott, der Welt und der Seele des Menchen, auch allen Dingen überhaupt (Pensamentos racionais sobre Deus, o mundo, a alma humana, bem como todas as coisas em geral (1720).
7 “Seit dem hatte ich meine Architektonik ausgearbeitet und schon seit einem Jahre zum Drucke fertig. Und nun sehe ich, dass Sie mein Herr, auf künftige Ostern eine eigentliche Methode der Metaphysik herausgeben werden. Was ist natürliche, als Begierde zu sehen, ob das, was ich ausgeführt habe, nach der Methode ist, die Sie vorschlagen? An der Richtigkeit der Methode zweifele ich nicht, und so wird der Unterschied nur darin bestehen, dass ich nicht alles zur Architektonik rechne, was man bisher in der Metaphysik mehr enthalten muss, als was bisher darin gewesen. Zur Architektonik nehme ich das einfache uns erste jeder Teile der menschlichen Erkenntnis, und zwar nicht nur die Prinzipia, welches von der Form hergenommene Gründe sind, sondern auch die Axiomata, die vom Materie selbst hergnommen werden müssen, und eigentlich nur bei den einfachen Begriffen alles die fur sich nicht wider sprechend und für sich gedankbar sind, vorkommen und die Postulata, welche allgemeine und Verbindungen der einfachen Begriffe angeben. Von der Form allein kommt man zu keiner Materie oder des objektiven Stoffes der Erkenntnis umsieht.” (KANT[Br.AA 10: 33, Briefwechsel 1765 Br. 33]).
8 Manuel J. Carmo Ferreira Correspondência Lambert/Kant Ed. Presença Lisboa 1988 1º edição. p.84
9 Baumgarten Pars I Ontologia Prolegomena IV “ Ontologia (ontosophia, metaphysica, cf. I metaphysica vniuersalis, architectonica, philosophia prima) est scientia praedicatorum entis generaliorum.” Metaphysica Baumgarten ed. VII 1779 p.2.
10 Manuel J. Carmo Ferreira Correspondência Lambert/Kant Ed. Presença Lisboa 1988 1º edição. p.85
11 Kant na KrV p.657 define a Arquitectonica como: “a doutrina do que há de científico no nosso conhecimento em geral e pertence assim necessariamente à metodologia”.
Tal definição é apesentada no texto Sonhos de um visionário; “uma ciência dos limites da razão humana” (KANT TG.AA.2: 368) serão os conceitos da experiência que devem suportar os juízos a garantir o conhecimento possível, prevenindo a ilusão das incursões no meta-empírico (KANT TG.AA.2: 367-368).
12 Trata-se do IX capítulo; Do conhecimento científico, onde está estabelecido as regras do método que permite passar do caos a ordem ou de um trabalho fragmentário, o conhecimento histórico ou da experiência, a concepção de um todo que integra as proposições numa estrutura de dependência recíproca a ordem da demonstração, Philosophie Schriften I 386-450.
13 “Nach diesen Sätzen trage ich kein Bedenken, zu sagen, dass Locke auf der wahren Spur gewesen, das Einfache in unserer Erkenntnis aufzusuchen. Mann muss nur weglassen, was der Sprachgebrauch mit einmengt. So z.E. ist in dem Begriffe Ausdehnung unstreitig etwas individielles Einfaches, welches sich in keinem andern Begriffe findet. Der Begriffe Dauer, und ebenso die Begriffe Existenz, Bewegung, Einheit, Solidität usw. haben etwas Einfaches, das denselben eigen ist, und welches sich von den vielen dabei mit verkommenden Verhältnisbegriffen sehr wohl abgesondert gedenken lässt. Sie geben auch für sich Axiomata und Postulata an, die zur wissenschaftlichen Erkenntnis den Grund legen, und durchaus von gleicher Art sind, wie die Euklidischen.” (KANT[Br. AA 10:36, 36] ).
14 Cf. Manuel J. Carmo Ferreira Correspondência Lambert/Kant Ed. Presença Lisboa 1988 1º edição. p.95.
15 Trata-se da tese latina: De mundi sensibilis atque intelligibilis forma et principiis (Acerca da forma dos princípios do mundo sensível e do mundo inteligível de 1770) Kant envia ao mesmo tempo exemplares deste livro à Sulzer e a Mendelssohn na expectativa de um juízo competente a respeito da obra. Veremos posteriormente as correspondências entre Kant e Mendelssohn.
16 Dissertação: II Da diferença entre os sensíveis e os inteligíveis em geral, III. Dos princípios da forma do mundo sensível e V Do método no que se refere aos conhecimentos sensitivos e intelectuais em questões metafisicas. A segunda seção trata de legitimar a difereça entre sensibilidade e o entendimento, vinculando aquela aos fenômenos e este aos noumenos. A Dissertação é já uma doutrina dos limites não por certo do entendimento, mas da sensibilidade. (Dissertação de 1770 trad. Leonel Ribeiro dos Santos 2º edição Casa da Moeda Lisboa 2004 p. 15). Ver carta a Lambert: “As leis gerais da sensibilidade desempenham sem razão um grande papel em Metafísica, onde tudo depende todavia de conceitos e de princípios que pertencem à razão pura. Parece que uma ciência totalmente especial, ainda que meramente negativa (phaenomenologia generalis), deve preceder a metafisica; nela seriam fixados a validade e os limites dos princípios da sensibilidade, a fim de que eles não perturbem os juízos que versam sobre objetos da razão pura, como quase sempre aconteceu ate o presente.(Br AA 10:98).
A terceira seção é a mais elaborada de todas e contem resultados mais definitivos, Kant considera o espaço necessário e algo absoluto e prévio a toda a localização de objetos, rejeita a tese leibniziana que considera o espaço como a ordem ou relação das partes situadas, defendendo que esta relação das partes situadas relativamente umas as outras só podem fundar-se na relação mais originária com o espaço absoluto em geral. Sustentando ao mesmo tempo em que o espaço absoluto não é o objeto de uma sensação exterior, mas antes um conceito fundamental, anterior a toda sensação e que deve ser considerado como condição de possibilidade desta. (Dissertação de 1770 trad. Leonel Ribeiro dos Santos 2ª edição Casa da Moeda Lisboa 2004 p. 11-17). A quinta seção merece destaque pela sua novidade e alcance. Orientado por uma preocupação metodológica, esta esboça o que se pode chamar uma teoria das ilusões do entendimento. Estas resultam de fato de aquele tomar como conceitos próprios o que não passa de intuições ou conceitos da sensibilidade, ou ainda, de permitir que as intuições da sensibilidade espaço/tempo se introduzam sub-repticiamente nos juízos respeitantes as questões metafísicas. Esta seção é na verdade um esboço de uma Dialetica não da razão mas do entendimento e constitui muito mais do que a simples acusação genérica dos vícios do entendimento que levam à proliferação de ficções e ilusões metafisicas. (Dissertação de 1770 trad. Leonel Ribeiro dos Santos 2ºedição Casa da Moeda Lisboa 2004 p.28-19).
17 Cf Manuel J. Carmo Ferreira Correspondência Lambert/Kant Ed. Presença Lisboa 1988 1º edição. p.28
18 Moses Mendelssohn (1729-1786) interprete de Maimon, Mendelssohn assimila Locke, que leu em latim e principalmente Leibniz e Wolff. Pulblica em 1775 Brief über die Empfindungen. Cuja influência sobre a teoria estética e dramaturga de Lessing foi decisiva. Mendelssohn é um filosofo popular (popularphilosophie).
19 “Mein erster Besuch den ich abstatete war bey HE. Mendelsohn, wir unterhielten uns vier ganze Stunden über einige Materien in Ihre dissertation. Wir haben eine sehr verschiedene Philosophie, e folgt Baumgarten buchstäblich, u. er schien mir unterschiedliche mal nicht gar undeutlich zu verstehen zu geben, daß er mir in einige Stücke darum nicht beypflichtet, weil es mit Baumgartens Meynungen nicht übereinstimt.” (KANT[Br AA 10: 57]) (Na íntegra).
20 Estas colocações dizem respeito às seções 3, 4, 14 e 4 da Dissertação: “diferença entre fenômenos e noumenon”, as coisas como aparecem e como são” e “ Sobre o tempo” (respectivamente).
21 A princípio as observações de Mendelssohn são de ordem prática. Na (p.11. Dissertação) Mendelssohn atenta sobre a comparação feita por Kant entre o instinto moral de Lord Shaftesbury e o prazer epicurista. Dizendo que é através de uma faculdade inata que o inglês distingue o bem e o mal graças a um sentimento. Porém em Epicuro, o prazer não é somente critério do bem, mas condição de bem supremo Philosophische Schriften Berlin 1771 erst Teil p.247sq.
*(KANT[Br.AA 10:63])
22 Cf Mendelsshon Morgenstunden p.508.
23 Mendelsshon Morgenstunden p.509-510.
24 “Mit einem Worte, die Ordnung, in welcher zwey, sich schlechterdings, oder auch hypothetisch widersprechende Dinge, dennoch vorhanden seyn können. - Sie werden sagen, das wenn oder indem, das ich nicht vermeiden kan, setzet abermals die Idee der Zeit voraus? – Nun gut!” (KANT[Br.AA 10:62].) Vós me diz que quando ou ao mesmo tempo que , o que eu posso evitar , pressupondo a ideia de tempo . Muito bem!” (KANT [Br.AA 10: 62] )
25 Ele termina suas observações apontando a questão do tempo visto nas seções 14 e 15 da Dissertação e confessa não ter entendido a posição de Kant, pois entende que após Leibniz o tempo é um fenômeno e como todos os fenômenos há uma inclinação subjetiva e uma inclinação objetiva.
26 “Ich glaube, die Bedingung eodem tempore sey bey dem Satze des Widerspruches so nothwendig nicht. In so weit es dasselbe Subjekt ist, können auch zu verschiedenen Zeiten A und non A nicht von ihm aus gesagt werden, und mehr wird zum Begriffe des Unmöglichen nicht erfordert, als dasselbe Subjekt zweyer Praedicatorum A und non A. Man kan auch sagen: impossibile est, non praedicatum de subjecto A”. (KANT[Br.AA 10:62].) (Na íntegra).
27 Referência as Correspondências de Lambert e Mendelsshon.
28 Anúncio do programa de lições de Immanuel Kant para o semestre de inverno (1765-1766) que coincide cronologicamente com as cartas
29 Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia natural e da moral. Trad. Carlos Morujão, Américo Pereira e Mónica Dias. Casa da Moeda Lisboa 2006 p.121.
30 Psychologie ou traité sur l’ame, contenant les connoissances que nous en donne l’expérience Amestardam 1756 (sem nome de autor) ed. University of Michigan 2000.
31 Na Refl. 201 a 238 AA15:77 “ A sensibilidade é a passividade de minhas faculdades a intelectualidade esta na espontaneidade” “As faculdades inferiores são determinadas passivamente, as superiores ativamente. As primeiras formam a sensibilidade , as outras a intelectualidade”
32 Ver (KANT[Br.AA 10:66] )
33 Nos chama a atenção a palavra método utilizada por Kant e acreditamos que esta se trate de um conceito. Em todas as ciências cujo princípio são dados intuitivamente, seja pela intuição dos sentidos (experiência) seja pela intuição sensitiva, mais pura ( os conceitos de espaço de tempo e de numero), dito de outra forma nas ciências da natureza e nas matemáticas, é o uso que da o método, e deois que a ciência tenha alcançado um certo grau de entendimento e de harmonia, se vê aparecer claramente a via e a regra que se deve seguir para que ela alcance e que livre das manchas de erros de pensamentos confusos, ela brilhe com mais pureza. (Rudolf Eisler Kant-Lexikon Nachschlagewerk zu Immanuel Kant 1930, p.696).
Na Dissertação (seção 23): “Mas o uso do entendimento em tais ciências cujo conceito conceitos primitivos são, tal como os axiomas, dados por intuição sensitiva, o uso do entendimento é somente logico, isto é para ele nós nos contentams em subordinar, segundo sua universalidade e conformidade ao principio de contradição, os conhecimentos uns aos outros, os fenômenos mais gerais, as consequências da intuição pura aos axiomas intuitivos. Ao contrario na filosofia pura, tal como é a metafísica , onde o uso do entendimento a respeito dos princípios é real, dito de outra forma onde os conceitos primitivos das coisas e das relações , e os próprios axiomas são dados primitivamente pelo entendimento, e não por intuições , nem são protegidos do erro, o método precede toda ciência.”
Na Reflexão (5061) “ toda consideração sobre o método é o que há de mais importante em uma ciência”. É nítido que Kant associa o conceito de método a uma questão científica.
34 “so bemerkte ich: daß mir noch etwas wesentliches mangele, welches ich bey meinen langen metaphysischen Untersuchungen, sowie andre, aus der Acht gelassen hatte und welches in der That den Schlüßel zu dem gantzen Geheimnisse, der bis dahin sich selbst noch verborgenen Metaphysik” (KANT Br AA 10: 69 ])
35 “Ich hatte mich in der dissertation damit begnügt die Natur der intellectual Vorstellungen blos negativ auszudrüken:daß sie nemlich nicht modificationen der Seele durch den Gegenstand wären. Wie aber denn sonst eine Vorstellung die sich auf einen Gegenstand bezieht ohne von ihm auf einige Weise afficirt zu seyn möglich überging ich mit Stillschweigen. Ich hatte gesagt: die sinnliche Vorstellungen stellen die Dinge vor, wie sie erscheinen, die intellectuale wie sie sind. Wodurch aber werden uns denn diese Dinge gegeben, wenn sie es nicht durch die Art werden, womit sie uns afficiren und wenn solche intellectuale Vorstellungen auf unsrer innern Thätigkeit beruhen, woher komt die Übereinstimmung die sie mit Gegenständen haben sollen, die doch dadurch nicht etwa hervorgebracht werden und die axiomata der reinen Vernunft über diese Gegenstände, woher stimmen sie mit diesen überein, ohne da bereinstimmung von der Erfahrung hat dürfen Hülfe entlehnen” (KANT[Br.AA 10:69 ])
36 “Indem ich auf solche Weise die Qvellen der Intellectualen Erkentnis suchte, ohne die man die Natur u. Grentzen der metaphysik nicht bestimmen kan, brachte ich diese Wissenschaft in wesentlich unterschiedene Abtheilungen und suchte die transscendentalphilosophie, nemlich alle Begriffe der gäntzlich reinen Vernunft, in eine gewisse Zahl von categorien zu bringen, aber nicht wie Aristoteles, der sie so, wie er sie fand, in seinen 10 praedicamenten aufs bloße Ungefehr neben einander setzte; sondern so wie sie sich selbst durch einige wenige Grundgesetze des Verstandes von selbst in classen eintheilen” (KANT[Br.AA 10:69 ])].
37 Kant diz que a referida obra conterá a natureza do conhecimento teórico bem como o prático, na medida onde é puramente intelectual. A primeira parte conteria as fontes da metafísica, seu método e limites, depois elaboraria os princípios puros da moralidade. Afirmando que dentro de três meses publicaria a primeira parte.
38 Se abrirmos neste momento um “parênteses cronológico” e avançarmos até a Crítica a solução dada ao problema da objetividade será dada pela dedução transcendental dos conceitos puros do entendimento. Os conceitos puros são objetivos nos limites da experiência possível porque a sua maneira criam o objeto. Estes não criam as coisas em si, naturalmente, nem mesmo os fenômenos; eles organizam em objetos os fenômenos dados através da experiência.
39 Estas objeções são referentes à carta de Herz.
40 Caygill, H. 2000 p.123
41 Joahann George Sulzer(1720-1779) filosofo suiço, estabelecido em Berlin em 1747, secretario da seção de filosofia da Academia Real da Prussia, eleito em 1750. É através de seu trabalho que entra em contato com Kant. Kant lhe envia sua Dissertação e recebe deste inúmeros elogios. Sulzer escreve uma Teoria geral das belas artes (Allgemeine Theorie der schönen Künste) e Variedades filosóficas ( Vermischte philosophische Schriften). Mas Sultzer é responsável também por traduzir os Ensaios de Hume ( 3 volumes) e é através destes ensaios que Kant toma ciência das ideias de Hume.
* Outras objeções aparecem também em relação ao tempo e estas não vêem apenas de Schultz, mas também de Lambert e Mendelssohn. Kant as considera tão relevates que as retoma em sua Crítica, a questão colocada por eles torna-se unãnime: se as mudanças são reais, testemunha a consciência, então elas não são possíveis a não ser no tempo, já que o tempo é real? Apesar da resposta dada por Kant a princípio parecer ser pouco satisfatória ele responde que: “eu não nego que o eu nem os corpos, não sejam reais como as coisas em si, mas como tal eu não devo pensá-los sob a forma do tempo, pois não posso dizer que eles mudam e que eles são imóveis, pois se assim o fizer seria ainda pensá-los no tempo.”
42 A correspondência que expomos até agora com Herz é de grande importância e esclarecedora em relação aos passos tomados por Kant até a Crítica, mas não podemos perder de vista que ainda estamos num estágio relativamente “embrionário” do desenvolvimento da obra.
43 “Auf Ihre Kritik der reinen Vernunft bin ich viele meines Vaterlands sehr begierig. Ohne Schmeicheley. - Seit vielen Jahren sind Sie mein liebster Schriftsteller, mit dem ich am meisten sympathisire; besonders in der Metaphysik und überhaupt in der Manier . Methode zu denken.” (KANT[BrAA 10:89 ]) (Sem adulações de minha parte, confesso que vossos escritos são para mim há muitos anos meus favoritos, em especial aqueles que vós trata da metafísica, porém de modo geral eu aprecio vosso modo de pensar.” (KANT[BrAA 10:89] E.149)
44 Esta confissão ou mesmo um desabafo de Kant nos ajuda a entender que seu “periodo silencioso” nada tem de silencioso, Kant trabalha afinco na sua obra Crítica da razão pura. Ver: Moledo, F. Los Ãnos silenciosos de Kant Buenos Aires. 2014.
45 Referência aos trabalhos que Kant considera uma tentação “ Os matérias de exposição que teriam uma aprovação imediata... trabalhar outros matérias mais agradáveis”. E “após ter executado este trabalho que não faço agora nada mais do que abordá-lo, agora que eu, após o último verão, chego ao fim dos últimos obstáculos, eu me coloco à desobstruir e deixar o campo livre: “trabalhar neste campo não será para mim nada além de diversão”.
46 “ Sie wissen: daß das Feld der, von allen empirischen Principien unabhängig urtheilenden, d. i. reinen Vernunft müsse übersehen werden können, weil es in uns selbst a priori liegt und keine Eröfnungen von der Erfahrung erwarten darf. Um nun den ganzen Umfang desselben, die Abtheilungen, die Grenzen, den ganzen Inhalt desselben nach sicheren principien zu verzeichnen und die Marksteine so zu legen, daß man künftig mit Sicherheit wissen könne, ob man auf dem Boden der Vernunft, oder der Vernünfteley sich befinde, dazu gehören: eine Kritik, eine Disciplin, ein Canon und eine Architektonik der reinen Vernunft, mithin eine förmliche Wissenschaft, zu der man von denenienigen, die schon vorhanden sind, nichts brauchen kan und die zu ihrer Grundlegung sogar ganz eigener technischer Ausdrücke bedarf.” (KANT[Br AA 10:111 ]).
47 A Reflexão 4822 [KANT Refl.AA.18:738] nos ajuda a fudamentar nossa posição “ Toda grandeza é seja um agregado {aggregatum}(discreto) seja uma grandeza continua(continuum). É uma grandeza continua a grandeza de toda unidade e ela não pode existir da grandeza agregativa sem a grandeza continua, o todo e a parte devem sempre ser homogêneas, em todas as grandezas o todo deve sempre trazer o nome das partes , por exemplo, um quantum de dinheiro, mas não a grandeza dos ducados. O quantum deve ser pensado [como tal] enquanto composição continua, o que não pode ser pensado a não ser pela composição das partes precedentes [ o todo] é uma gradeza discreta. Comparar com as passagens A 170-171 e B.212 da KrV.
48 “Seit der Zeit daß wir von einander getrennt sind haben meine ehedem Stückweise auf allerley Gegenstände der philosophie verwandte Untersuchungen systematische Gestalt gewonnen und mich allmählig zur Idee des Ganzen geführt, welche allererst das Urtheil über den Werth und den wechselseitigen Einflus der Theile möglich macht. Allen Ausfertigungen dieser Arbeiten liegt indessen das, was ich die Kritik der reinen Vernunft nenne, als ein Stein im Wege, mit dessen Wegschaffung ich iezt allein beschäftigt bin, und diesen Winter damit vollig fertig zu werden hoffe. Was mich aufhält ist nichts weiter, als die Bemühung, allem darinn vorkommenden völlige Deutlichkeit zu geben, weil ich finde: daß, was man sich selbst geläufig gemacht hat und zur größten Klarheit gebracht zu haben glaubt, doch selbst von Kennern misverstanden werde, wenn es von ihrer gewohnten Denkungsart gänzlich abgeht.” (KANT[Br. AA 10:119 ]) ( Optamos por transcrever a citação na íntegra)
49 “Die Ursachen der Verzögerung einer Schrift die an Bogenzahl nicht viel austragen wird werden Sie dereinst aus der Natur der Sache und des Vorhabens selbst wie ich hoffe als gegründet gelten lassen. Tetens, in seinem weitläuftigen Werke” (KANT[Br AA 10:133.]). Apesar de ja termos apresentado esta Correspondência, pensamos que por seu valor teórico não seria prudente exclui-la neste momento.
É interessante o discurso de Kant e como este aproxima suas dificuldades ao recém lançado tabalho de Tetens (Philosophische Versuche über die menschliche Natur und ihre Entwicklung de 1777)
50 Ver: OLIVEIA, A,R. A influencia de J.N. Tetens na dedução transcendental das categorias de Kant. Tese (Unicamp) 2019.
51 Somente em 9 de setembro de 1780 numa carta de Friedrich Hartknoch a Kant, que encontramos subsídios para acreditar que seu “pequeno trabalho” estaria concluído, Hartknoch livreiro em Riga solicita a Kant que deixe emprimir sua obra Crítica da razão pura, convencendo Kant pela qualidade de seus serviços. Em maio de 1781, mais precisamente dia primeiro, Kant diz a Herz que seu livro será publicado na sexta-feira da páscoa pelo editor Hartknoch, e explica a Herz que: “este livro conterá a exposição das pesquisas de toda espécie e de conceitos que examinamos e discutimos conjuntamente sob o nome de mundi sensibilis et intelligibilis assim é importante confiar a soma de meus esforços à inteligência de um homem que não julgo indigno de trabalhar minhas ideias devido a enorme acuidade para chegar ao seu cerne. (KANT[Br AA 10:163])” .
52 “Wem aber nur der Zustand darinn Metaphysik nicht allein ietzt liegt, sondern auch darinn sie iederzeit gewesen ist, deutlich einleuchtet der wird nach einer flüchtigen Durchlesung es schon der Mühe werth finden wenigstens in dieser Art der Bearbeitung so lange alles liegen zu lassen bis das wovon hier die Frage ist, völlig ausgemacht worden und da kan meine Schrift sie mag stehen oder fallen nicht anders als eine gänzliche Veränderung der Denkungsart in diesem uns so innigst angelegenen Theile menschlicher Erkenntnisse hervorbringen.” (KANT(Br AA10:165])
53 Segundo o próprio Kant o segredo estava em apresentar as antinomias da razão em exuberantes exposição, para instigar o leitor e incitá-lo a investigar as fontes do conflito.
54 Kant não poupa elogios a Lambert e diz “ ... precisamente por causa da proprosição tão importantes que me fez este homem incomparável”. E diz que em 1770 com a ajuda de Lambert foi possível demarcar e determinar as fronteiras, distinguindo-as totalmente da sensibilidadede nosso conhecimento de seu caráter intelectual. Kant ainda lamenta a morte de Lambert e de não ter tido tempo para discutir com ele as proposições expostas em sua Crítica da razão pura(J. Carmo Ferreira M. Correpondência Lambert/Kant Lisboa 1988.)
55 Christian Garve (1742-1798) celebre representante da filosofia popular.
56 “Sie fordern Ihren Recensenten auf, von jenen widersprechenden Sätzen einen so zu erweisen, daß der gegenseitige nicht eines gleich guten Beweises fähig sei. Diese Aufforderung kan meinen Gottingischen Mitarbeiter angehn, nicht mich. Ich bin überzeugt, daß es in unsrer Erkentniß Gränzen gebe; daß sich diese Gränzen eben dann finden, wenn sich aus unsern Empfindungen, solche wiedersprechende Sätze, mit gleicher Evidenz entwickeln lassen. Ich glaube, daß es sehr nützlich ist, diese Gränzen kennen zu lernen, sehe es als eine der gemeinnützigsten Absichten Ihres Werks an, daß sie dieselben deutlicher vollständiger als noch geschehen, auseinandergesetzt haben. Aber das sehe ich nicht ein, wie Ihre Kritik der reinen Vernunft, dazu beytrage, diese Schwierigkeiten zu heben. Wenigstens ist der Theil Ihres Buchs, worinn sie die Widersprüche ins Licht setzen, ohne Vergleich klärer einleuchtender, (und dieß werden Sie selbst nicht läugnen,) als derjenige, wo die Principien festgestellt werden sollen, nach welchen diese Widersprüche aufzuheben sind.” (KANT[Br AA10:200 ])] Optamos por transcrever na integra, o colaborador de Göttingen mencionado seria Feder.
57 Kant enfatiza que: “... a máquina está completa e é necessário apenas polir suas engrenagens e colocar óleo a fim de suprimir as fricções que sem dúvidas são a causa que a faz manter-se sem movimento”. (KANT [BrAA 10:204] E.250) A dificuldade interpretatitiva da Crítica, também é relatada por Kant na carta à Mendelssohn de 16 de agosto de 1783. Kant diz literalmente, que esta obra é fruto de mais de 12 anos de reflexão, e que em 4 ou 5 meses tem concluído , rapidamente (gleichsam im Fluge em Frances: usou-se a expressão au fil de la plume) portanto o foco ficou no conteúdo, e menos no fato de facilitar a leitura.(KANT[ Br AA 10:205 )
58 “Damit die meinen Lesern verursachte Unannehmlichkeit, durch die Neuigkeit der Sprache und schweer zu durchdringende Dunkelheit, mir nicht allein Schuld gegeben werde, so möchte ich wohl folgenden Vorschlag thun. Die Deduction der reinen Verstandesbegriffe oder Categorien d. i. die Möglichkeit gänzlich a priori Begriffe von Dingen überhaupt zu haben wird man höchstnotwendig zu seyn urtheilen, weil ohne sie reine Erkentnis a priori gar keine Sicherheit hat. Nun wollte ich daß jemand sie auf leichtere und mehr populaire Art zu Stande zu bringen versuchte; alsdenn wird er die Schwierigkeit fühlen die größte unter allen die die Speculation in diesem Felde nur immer antreffen kan. Aus anderen Qvellen aber als, die ich angezeigt habe, wird er sie niemals ableiten, davon bin ich völlig versichert.” (KANT[Br AA10:204 ])]
59 “…daß es gar nicht Methaphysik ist, was ich in der Kritik bearbeite..” (KANT[Br AA 10:204 ].
60 “..nämlich die Kritik einer a priori urtheilenden Vernunft”. (KANT[AA X, Seite 336 Brief 204 ].])
61 “Denn ich getraue es mir zu, förmlich zu beweisen, da kein einziger wahrhaftig-metaphysischer Satz aus dem Ganzen gerissen könne dargethan werden, sondern immer nur aus dem Verhältnisse, das er zu den Quellen aller unserer reinen Vernunfterkentnis überhaupt hat, mithin aus dem Begriffe des möglichen Ganzen solcher Erkenntnisse müsse abgeleitet werden etc.” (KANT[Br AA 10:204] ).
62 Kant ainda agradece à Garve por seu julgamento favorável sobre a exposição da contradição dialética da razão, apesar de não concordar com o desfecho dado por Kant. Kant explica que seu uso não é habitual e por isso difícil. E reside no fato de que todos os objetos que nos são dados podem ser tomados, são segundo duas espécies de conceitos, tanto como fenômenos como coisas em si, o problema reside na confusão em tomar os fenômenos como coisas em si. (KANT[Br AA 10:204])
Outra observação importante neste ponto é que Kant já não menciona mais nome de Herz como um espírito apto a entendê-lo.
63 “Es fehlte mir zwar nicht an Mitteln der Erläuterung jedes schwierigen Puncts, aber ich fühlete in der Ausarbeitung unaufhörlicdie, der Deutlichkeit eben so wohl wiederstreitende Last, der gedehnten und den Zusammenhang unterbrechenden Weitläuftigkeit, daher ich von dieser vor der Hand abstand, um sie bey einer künftigen Behandlung, wenn meine Sätze, wie ich hoffete, in ihrer Ordnung nach und nach würden angegriffen werden, nachzuholen; denn man kan auch nicht immer, wenn man sich in ein System hineingedacht und mit den Begriffen desselben vertraut gemacht hat, vor sich selbst errathen, was dem Leser dunkel, was ihm nicht bestimmt, oder hinreichend bewiesen vorkommen möchte.”(KANT[ Br AA 10:205]).
64 “Wären wir erst soweit, so würde sich die Auflösung, darinn sich die Vernunft selbst verwickelt, wenn sie über alle Grenze möglicher Erfahrung hinauszugehen versucht, von selbst geben, imgleichen die noch nothwendigere Beandtwortung der Frage, wodurch denn die Vernunft getrieben wird über ihren eigentlichen Wirkungskreis hinauszugehen, mit einem Worte die Dialectick der reinen Vernunft würde wenig Schwierigkeit mehr machen und von da an würde die eigentliche Annehmlichkeit einer Kritik anheben, mit einem sicheren Leitfaden in einem Labyrinthe herum zu spatziren, darinn man sich alle Augenblicke verwirrt und eben so oft den Ausgang findet. Zu diesen Untersuchungen würde ich gerne an meinem Theile alles mir mögliche beytragen weil ich gewiß weiß, daß wenn die Prüfung nur in gute Hände fällt, etwas ausgemachtes daraus entspringen werde” ([ Br AA 10:205 ]).
65 Ver os artigos publicados na Berlinische Monatsschrift. Ueber subjective und objective Wahrheit, und die Uebereinstimmung aller Wahrheiten untereinander. 1788, Jacobi, F.H.: David Hume über den Glauben. Oder Idealismus und Realismus. Ein Gespräch. Breslau: Löwe 1787.: Rezension, Flatt, J.F.: Fragmentarische Beyträge zur Bestimmung und Deduction des Begriffes und Grundsatzes der Causalität, und zur Grundlegung der natürlichen Theologie, in Beziehung auf die Kantische Philosophie. Leipzig: Crusius 1788.: Rezension de Feder. Bemerkungen über die Neigung der Menschen zum Wunderbaren, und über den Zweck dieses Zuges in der menschlichen Natur. 1788 de Garve e Psychologische Betrachtungen auf Veranlassung einer von dem Herrn Oberkonsistorialrath Spalding an sich selbst gemachten Erfahrung, Die Bildsäule. Ein psychologisch-allegorisches Traumgesicht. de Moses Mendelssohn.
66 Respondendo da seguinte forma: “esta e outras propriedades, parcialmente idênticas, da tábua dos conceitos do entendimento, me parecem dar ainda matéria a uma invenção importante, mas não sou capaz de seguir tal desenvolvimento...” (KANT[Br AA10:209 ]).
67 Este tema já foi tratado por Kant na dissertação Do mundo sensível... Na seção II
68 Schultz dirá: “eu digo que deveríamos eliminar esta terceira categoria de cada classe de categorias e diminuir assim do terceiro estes últimos, na medida em que não se entende por categoria nada além de um conceito original que não pode ser derivado sequencialmente de nenhum outro.” (KANT[Br AA10:209] )
69 “Nur eine einzige Bemerkung erlauben mir Ew. Hochehrw:, die ich bei Gelegenheit eines Billets, womit Sie mich den 22 Aug. a. p. beehrten, zu communiciren die Absicht hatte und die mir nur allererst jetzt, bei Durchsehung der übrigen Papiere, wiederum vorkömmt, die ich bitte in nähere Erwegung zu ziehen, ob sie nicht verhüten könne, daß nicht in einem der Grundstücke des Systems zwischen unsern beyderseitigen Meynungen eine große differentz obwalte. Diese Bemerkung betrift den von Ew: Hochehrw : damals geäußerten Gedanken, daß es wohl nur zwei Categorien von jeder Classe geben möge, weil die dritte aus der ersten und zweiten verbunden entspringt; eine Einsicht, welche Sie Ihrer eigenen Scharfsinnigkeit zu verdanken hatten, woraus aber, meiner Meynung nach, jene Folgerung nicht fließt, daher denn auch eine solche Abänderung, (die dem gantzen System den sonst sehr gleichformigen Zusammenhang rauben würde) meinem Urtheile nach nicht nöthig ist.”[KANT(Br AA 10:220 ])
70 Kant dirá: por exemplo, um ano – muitos anos futuros- são conceitos reais, mas o todo dos anos futuros , por conseguinte a unidade coletiva de uma eternidade pensada como inteira ( por assim dizer concluída) recusa deixar-se pensar. [KANT( Br AA 10:220 ])
71 Ver [KANT( Br AA 10:220 ])
72 “So ist die Nothwendigkeit nichts anders, als das Daseyn, so fern es aus der Möglichkeit geschlossen werden kan, die Gemeinschaft ist die wechselseitige Caussalität der Substantzen in Ansehung ihrer Bestimmungen. Daß aber Bestimmungen der einen Substantz von einer anderen Substanz gewirkt sein können, ist etwas was man nicht so schlechthin voraussetzen kan, sondern was zu den Verknüpfungen gehört, ohne die kein wechselseitige Beziehung der Dinge im Raume, mithin keine äußere Erfahrung möglich seyn würde.” [KANT( Br AA 10:220 ])
73 Christian Gottfried Schütz(1747-1832) filosofo , professor de eloquência e poesia em Viena até 1779, fundou em 1785 com Bertuch a Allgemeine Literaturzeitung, que se colocou a serviço da filosofia kantiana.
* Schütz também tem problemas na acepção da terceira categoria, ele aponta na Crítica (KrV). A terceira categoria que figura sob o título de relação, a categoria da comunidade, não estaria na opinião de Schütz, na mesma relação “presente do pensamento que lhe corresponde, ou seja, a respeito dos julgamentos disjuntivos e do restante das categorias, a respeito dos momentos dos pensamentos que se relacionam a eles.” (KANT[Br. AA 10:233 ])
74 “Was außer der Schwierigkeit und Sublimität der Speculation, womit sich Ihr Werk beschäftigt, die Lesung desselben etwas erschweret, ist der Umstand, daß es immer in einemweg fortläuft, und weder Paragraphen noch Rückweisungen auf dieselben enthält. Ich habe es mir selbst paragraphiret, und dadurch es so weit gebracht daß mir wenig Dunkles übrig geblieben. Ein Paar Zweifel will ich mir doch die Freiheit nehmen Ihnen vorzulegen.” (KANT[Br. AA 10:233 ]).
75 “ S. 80. d. Critik steht, meines Erachtens, die dritte Categorie: Gemeinschafte, welche unter dem Titel Relation vorkömt, zu dem p. 70.ihm correspondirenden Momente des Denkens: disjunctive Urtheile, nicht in eben dem Verhältnisse, wie die übrigen Categorien gegen die sich auf sie beziehenden Momente des Denkens stehn. Überdem scheint mir Gemeinschaft und Wechselwirkung, nur empirisch, und nicht innerlich von der zweiten Categorie Causalität und Dependenz unterschieden zu seyn. Denn bey der Wechselwirkung ist doch immer in dem einen Causalität in dem andern Dependenz u. vice versa.”(KANT[Br. AA 10:232 ]). ( Na íntegra)
* Estas Correpondências contribuem não só para entendermos o desenvolvimento teórico de Kant, mas ainda como a Dedução das categorias foi a parte mais discutida da Crítica e a que causou maior discordância.
76 “Einer meiner Hauptzweifel, den ich noch bis dato nicht habe überwinden können, den aber Ew. Wohlgeb. vielleicht mit 2 Worten zu heben im Stande sind, ist dieser. Gesezt, der Gegner räumt mir ein: Nach dem Begriff der Erfahrung, den Sie sowohl in der Kritik der reinen Vernunft als auch noch mehr in den Prolegomenen , festgesezt haben, und die Categorien, z. E. die der Ursache, und der Grundsaz der ursachl. Verbindung, die Bedingungen selbst der Möglichkeit solchartiger Erfahrung; Er läugnet mir aber, daß der Mensch auf Erfahrung in der Bedeutung Rechnung und Ansprüche machen dürfe, wie soll ich Ihm da kurz und gründlich begegnen?” (KANT[Br. AA 10:238 ])
77 Mas encontramos na obra : Os princípios metefísicos da ciência da natureza de 1785 uma resposta a Ulrich, precisamente na nota 16. “ na recensão das . Do Sr. Prof. Ulrich, encontro dúvidas contrárias não a tábua dos puros conceitos do entendimento, mas as conclusões dai tiradas sobre a determinação da fronteira de toda faculdade pura da razão, por conseguinte , de toda a metafísica; nessas dúvidas , o penetrante crítico declara-se de acordo com o seu não menos profundo autor; e são/ dúvidas que, por terem de incidir justamente no fundamento principal do meu sistema estabelecido na Crítica, seriam a causa de que tal sistema, em vista do seu objetivo capital esteja ainda longe de suscitar a convicção apodictica que se exige para a extorsão de uma aceitação ilimitada, este fundamento principal seria, em parte além, em parte nos Prolegomenos , a dedução exposta dos puros conceitos do entendimento. A minha resposta as estas objeções visa apenas o ponto básico, a saber, que sem uma dedução das categorias totalmente clara e satisfatória, o sistema da Crítica oscila em seu fundamento. Afirmo , pelo contrário que, para quem subscreve ( como faz o crítico) as minhas proposições acerca da sensorialidade de toda a nossa intuição e da suficiência da tábua das categorias , isto é determinações da nossa consciência tiradas das funções lógicas nos juízos em geral , o sistema da Crítica deve suscitar a certeza apodictica porque este se constrói sobre a proposição todo uso especulativo da nossa razão nunca se estende além dos objetos da experiência possível. com efeito se pode provar que as categorias , de que a razão se deve servir em todo o seu conhecimento , não podem ter nenhum outro uso exceto apenas em relação aos objetos da experiência .( Primeiros princípios metafísicos da ciência da natureza. Trad. Artur Mourão p.19 nota 16.)
78 13 de setembro de 1785 Kant responde a Shütze, a respeito da carta de julho de 1784
79 No Dicionário Grimm (Deutsches Wörterbuch von Jacob Grimm und Wilhelm Grimm seelenlehre bis seelenlustig Bd. 16, Sp. 21 bis 23)A palavra Seelenlehre nos remete ao termo psicologia: “lehre von der (menschlichen) seele, psychologie, s. Campe: demnach bedeutet der ausdruck: ich als ein denkend wesen, schon den gegenstand der psychologie, welche die rationale seelenlehre heiszen kann, wenn ich von der seele nichts weiter zu wissen verlange, als was unabhängig von aller erfahrung .. aus diesem begriffe ich .. geschlossen werden kann ...”
80 “Ehe ich an die versprochene Metaphysik der Natur gehe, mußte ich vorher dasjenige, was zwar eine bloße Anwendung derselben ist, aber doch einen empirischen Begriff voraussetzt, nämlichdie metaphysischen Anfangsgründe der Körperlehre, so wie, in einem Anhange, die der Seelenlehre abmachen ; weil jene Metaphysik, wenn sie ganz gleichartig seyn soll, rein seyn muß, und dann auch, damit ich etwas zur Hand hätte, worauf, als Beispiele in concreto, ich mich dort beziehen, und so den Vortrag faßlich machen könnte, ohne doch das System dadurch anzuschwellen, daß ich diese mit in dasselbe zöge. Diese habe ich nun unter dem Titel: metaphysische Anfangsgründe der Naturwissenschaft, in diesem Sommer fertig gemacht, und glaube, daß sie selbst dem Mathematiker nicht unwillkommen sein werde.” (KANT[ Br AA 10:242 ])
81 Ver. Moses Mendelssohns gesammelte Schriften, ed. G.B Mendelssohn. 7 vols. Leipzig. 1843-1844
82 “Obgleich das Werk des würdigen Mendelssohn in der Hauptsache für ein Meisterstück der Täuschung unsrer Vernunft zu halten ist, wenn sie die subjectiven Bedingungen ihrer Bestimmung der Objecte überhaupt, für Bedingungen der Möglichkeit dieser Objecte selbst hält, eine Täuschung, die in ihrer wahren Beschaffenheit darzustellen, und den Verstand davon gründlich zu befreyen gewiß keine leichte Arbeit ist; so wird doch dieses treffliche Werk außerdem, was in der Vorerkenntniß über Wahrheit, Schein und Irrthum, Scharfsinniges, Neues, und musterhaft Deutliches gesagt ist, und was in jedem philosophischen Vortrage sehr gut angewandt werden kann, durch seine zweyte Abtheilung, in der Kritik der menschlichen Vernunft von wesentlichem Nutzen sein.” (KANT[Br AA 10:256]) Conhecimento premiliminar da verdade, da aparência e do erro, trata-se de um dos capítulos do texto de Mendelssohn Morgenstunden oder Vorlesungen über das Dasein Gottes de 1785 ( primeira parte).
83 Cf. (KANT[Br AA 10:256])
84 Denn da der Vf. in der Darstellung der subjectiven Bedingungen des Gebrauchs unserer Vernunft endlich dahin gelangt, die Schlußfolge zu ziehen, daß nichts denkbar sei, ohne sofern es von irgend einem Wesen wirklich gedacht wird, und überhaupt ohne Begriff kein Gegenstand wirklich vorhanden sei (S. 303) und daraus folgert, daß ein unendlicher und zugleich thätiger Verstand wirklich sein müsse, weil nur in Beziehung auf ihre Möglichkeit oder Wirklichkeit Prädicate der Dinge von Bedeutung sein können; da auch in der That in der menschlichen Vernunft und ihren Naturanlagen ein wesentliches Bedürfniß liegt, gleichsam mit diesem Schlußsteine ihrem freischwebenden Gewölbe Haltung zu geben, so giebt diese äußerst scharfsinnige Verfolgung der Kette unsrer Begriffe, in der Erweiterung derselben bis zur Umfassung des Ganzen die herrlichste Veranlassung und zugleich Auffoderung zur vollständigen Kritik unsers reinen Vernunftvermögens, und zur Unterscheidung der blos subjectiven Bedingungen ihres Gebrauchs von denen, dadurch etwas vom Objecte gültiges angezeigt wird.”(KANT [Br AA 10:256 ).
85 Em fevereiro de 1786 Schütz escreve à Kant a respeito da morte de Mendelssohn “Vós tem certamente sentido a morte do Sr. Mendelssohn...”
86 Ludwig Heinrich Jakob (1759-1827) professor de filosofia em Halle. Tentou vulgariar a filosofia kantiana.
Jakob considera que há uma passagem no trabalho de Mendelssohn que parece ser dirigido contra a Crítica de Kant: “quando ele nega o conceito da coisa em si.” Mas o próprio Jakob aponta a solução ao problema “vossa Crítica mostra que não se pode dar a coisa em si nenhum predicado.” (KANT [Br AA 10:264] E. 318).
87 Cf. (KANT[Br AA 10:264 ]).
88 “Denn es scheinen mir schon alle Gegengründe vollständig in der Kritik enthalten zu sein, u. es schien mir daher mehr nöthig dem Publikum die Gründe vorzuhalten, als sie zu erfinden.Denn auch der angebliche neue Beweis gründet sich auf die unerwiesene Voraussetzung, daß Dinge an sich von e. nothwendigen Wesen abhängig sind, u. daß dem Begriffe des N. W. allein der vollkommenste Verstand entspreche. Ja die Vorliebe zu dem alten System ist so gros, daß Philosophen von großen Talenten, wo nicht öffentlich doch heimlich der Kritik das Urteil sprechen, u. weil sie vor dem Umsturz des Gebäudes, worinnen sie bisher so sicher zu wohnen vermeinten, fürchten; so suchen sie auch andre zu überreden, daß dasselbe feuerfest sei, u. man deshalb schon alle Angriffe, a priori für kraftlos ansehen könnte.” [KANT( Br AA 10:264 ]).
Jakob encerra a Correspondência relatando a Kant que é desta forma (como ele apresenta) que vê as coisas em seu meio. Há ainda outra observação interessante para Jakob Mendelssohn não conhece o trabalho de Kant a não ser por intermédio de “outros” ele dirá que Mendelssohn no prefacio se exprime da seguinte forma “os escritos dos grandes homens que são depois de algum tempo celebres
em metafísica, os trabalhos de Lambert, Tetens, Platner e mesmo do grande destruidor Kant, eu não os conheço a não ser por exposições insuficientes de meus amigos, ou por notas de especialistas, que são muito pouco instrutivas. (Mendelssohn Morgenstunden oder Vorlesungen über das Dasein Gottes de 1785 Prefácio p.2).
89 (KANT[Br AA 10:273 ]).
Nesta mesma carta, Kant fala a respeito da resposta sobre as considerações feitas por Jakob sobre Mendelssohn “No que concerne a alegada promessa de responder as Meditações de Mendelssohn, é uma falsa imformação, publicada por erro pela Gothaïsche Zeitung.”
90 “Sie beliebten mich zu fragen, wie bald wohl meine Metaphysik herauskommen möchte. Ietzt getraue ich mich nicht vor zwei Iahren ihre Erscheinung zu versprechen. Indessen wird doch, wenn ich bei Gesundheit bleibe, etwas, was eine Zeitlang ihre Stelle vertreten kann, nämlich eine neue sehr umgearbeitete Auflage meiner Kritik, in Kurzem (vielleicht nach einem halben Iahre) zum Vorschein kommen, da mein Verleger, welcher über mein Vermuthen geschwinde seinen ganzen Verlag dieses Buchs schon verkauft hat, darum dringend anhält. Ich werde auf alle die Misdeutungen, oder auch Unverständlichkeiten, die mir binnen der Zeit des bisherigen Umlaufs dieses Werks bekannt geworden, Rücksicht nehmen. Dabei wird Vieles abgekürzt, manches Neue dagegen, welches zur besseren Aufklärung dient, hinzugefügt werden. Aenderungen im Wesentlichen werde ich nicht zu machen haben, weil ich die Sachen lange genug durchgedacht hatte, ehe ich sie zu Papier brachte, auch seitdem alle Sätze, die zum System gehören, wiederholentlich gesichtet und geprüft, jederzeit aber für sich und in ihrer Beziehung zum Ganzen bewährt gefunden habe” (KANT[Br AA 10:266 ]) (na íntegra)[grifo nosso].
91 Vê-se, por exemplo, na carte de Jacob Friedrich Abel de 16 de abril de 1787 “A Crítica, devera enriquecer a filosofia, além de provocar-me admiração e reter minha atenção, ela tem sido por muito tempo o objeto privilegiado de minhas ocupações”. Em 14 de maio de 1787 Daniel Jenisch: “tenho recebido inúmeras cartas sobre pessoas que estudam vossa obra com ardor, pois o tem compreendido.”
92 “O esboço do plano de Jakob seria o seguinte:” Prolegomenos, Da filosofia em geral e suas partes. I Da lógica e em particular da faculdade de conhecer- da diferença entre a verdade material e formal, e os citerios desta ultima. Eu analisaria então a faculdade do entendimento e trataria dos conceitos dos julmentos e das conclusões, e terminaria assim a logica pura geral. A segunda parte ou logica geral aplicada se apresentaria assim: 1. Do conhecimento pelos sentidos e a experiência e suas regras gerais após Reimarus. 2. Do conhecimento pelos testemunhos. 3. Dos riscos e das regras gerais do comentário. 4. Das regras da discussão. Na metafísica, eu colocaria, no lugar dos prolegômenos, um curto esboço sobre estética e logica transcendental. “Seguindo a ontologia, de modo arquitetônico, em seguida uma crítica da psicologia, da cosmologia e da teologia.” [KANT (Br AA 10:301 ]).
93 A Lógica de Jakob publicada em Halle em 1788 é o primeiro trabalho de lógica e de metafísica após os fundamentos kantianos.
94 Hamberger, A Alemanha das letras(Das gelehrte Teutschland oder Lexicon der jetzt lebenden Teutschen Schriftsteller), Lemgo 1767.
“Muß jede Kategorie so viel untergeordnete Begriffe haben als die andere, u. wie muß ich die Kategorien selbst untereinander verbinden? Die der Relation mit denen der Relation oder die der Quantität mit denen der Relat. u. so gegenseitig? - Wenn Hamberger nicht täuscht so haben Sie selbst eine Metaphysique geschrieben.” (KANT[Br AA 10:301 ]).
95 KANT KrV. BVIII “ pode-se reconhecer que a lógica, desde remotos tempos seguiu a via segura, pelo fato de, desde Aristóteles, não ter dado um passo atrás, a não ser que se leve à conta de aperfeiçoamento a abolição de algumas subtilezas desnecessárias ou a determinação mais nítida de seu conteúdo, coisa que mais diz respeito à elegância que a certeza da ciência....”
96 Cf. (KANT[Br AA 10:303 ]).
97 (KANT[Br AA 10:303).
98 “Die Ontologie würde, ohne alle kritische Einleitung, mit den Begriffen von Raum und Zeit, nur so fern sie allen Erfahrungen (als reine Anschauungen) zu Grunde liegen, anfangen. Nachher folgen vier Hauptstücke, welche die Verstandesbegriffe enthalten, nach den vier Classen der Categorien, deren jede ihren Abschnitt ausmacht: alle blos analytisch nach Baumgarten behandelt, samt den Prädicabilien, ja den Verbindungen derselben mit Zeit und Raum, ingleichen, so wie sie fortgehen, unter einander, wie man sie im Baumgarten aufsuchen kan. Zu jeder Categorie wird der synthetische Grundsatz (wie ihn die Critik 2te Edition vorträgt nur so vorgeträgt), wie die Erfahrung ihm immer gemäß seyn muß und so die ganze Ontologie durchgeführt. Nun kommt allererst die kritische Betrachtung von Raum und Zeit als Form der Sinnlichkeit und der Categorien, nach ihrer Deduction; denn diese sowohl als jene kan nun allererst ganz wohl verstanden und die einzig mögliche Art, die Grundsätze, wie schon geschehen, zu beweisen, begriffen werden. Nun kommen die transc. Ideen, welche die Eintheilung in Kosmologie, Psychologie Theologie an die Hand geben u.s.w.” (KANT[Br AA 10:303 ]).
99 Karl Leonhard Reinhold (1757-1823) Importante filósofo, um dos precursores do idealismo Alemão. Reinhold esforçou-se por divulgar a filosofia kantiana (ver: Briefe über die Philosophie Kantische1790) Kant reconhecera seus esforços.
100 “In der Note unter dem Text der Vorrede zu den metaphysischen Anfangsgründen der Naturwissenschaft wird sehr treffend dargethan, daß das Hauptfundament Ihres Systemes auch ohne "vollständige Deduktion der Categorien feststehe, - Hingegen wird in der Kritik der reinen Vernunft. sowohl der ersten als zweiten Ausgabe im zweiten Hauptstück der transcendentalen. Analytik 1. Abschnitte, die unumgängliche Nothwendigkeit jener Deduktion behauptet und erwiesen”” (KANT[Br.AA 10:305 ]).
101 Kant confessa que sempre que avança sobre outros trabalhos, e percebe a necessidade, lança um olhar retrospectivo sobre a tábua universal dos elementos do conhecimento (Kant refere-se as categorias). E sobre os poderes do espírito que se relacionam para obter esclarecimentos aos quais eu não esperava. (Cf. KANT[Br AA 10:313 ]).
102 “So beschäftige ich mich jetzt mit der Kritik des Geschmaks bey welcher Gelegenheit eine neue Art von Principien a priori entdeckt wird als die bisherigen. Denn der Vermögen des Gemüths sind drei: Erkentnisvermögen Gefühl der Lust und Unlust und Begehrungsvermögen. für das erste habe ich in der Kritik der reinen (theoretischen) für das dritte in der Kritik der praktischen Vernunft Principien a priori gefunden. Ich suchte sie auch für das zweite und ob ich es zwar sonst für unmöglich hielt, dergleichen zu finden, so brachte das Systematische was die Zergliederung der vorher betrachteten Vermögen mir im menschlichen Gemüthe hatten entdecken lassen und welches zu bewundern und wo möglich zu ergründen mir noch Stoff gnug für den Uberrest meines Lebens an die Hand geben wird mich doch auf diesen Weg so daß ich jetzt drei Theile der Philosophie erkenne deren jede ihre Principien a priori hat die man abzählen und den Umfang der auf solche Art moglichen Erkentnis sicher bestimmen kan – theoretische Philosophie Teleologie und practische Philosophie von denen freilich die mittlere als die ärmste an Bestimmungsgründen a priori befunden wird. Ich hoffe gegen Ostern mit dieser unter dem Titel der Kritik des Geschmaks ein Manuskript, obgleich nicht im Drucke fertig zu seyn.” (KANT[BrAA10:313 ] ).
103 Richter. Professor de filosofia em Viena, coresponde-se mais duas vezes com Kant em 1801 sobre política. (pouco se sabe sobre esse autor).
104 Richter prossegue expondo a Kant suas observaçoes sobre espaço e tempo:“A partir disso aparece vossa proposição irrefutável quanto ao espaço e tempo. Vós diz: o espaço e o tempo são formas de nossa sensibilidade, estão em nós etc. no que concerne ao tempo não tenho duvidas, mas quanto ao espaço , eu entendo da seguinte forma; os objetos da visão se formam por meio de raios luminosos na retina, segue-se então que fora da retina nada pode ser afetado pelos objetos, o espaço se encontra ali, o mesmo ocorre com a audição etc. As representações dos objetos seriam vazias, nós não teríamos nenhum conhecimento, se o entendimento não os pensasse conjuntamente graças aos conceitos. Por exemplo, o entendimento se aplica as impressões reunidas sob um conceito, assim corpo, arvore, e julgar: isso é um corpo, isso uma árvore, isto é dizer que todas as impressões constítuem um corpo, uma arvore. Agora estes conceitos, diz vós, são formas de nosso entendimento, se encontram em nosso entendimento como puros conceitos a prori. Eu os compreendo da seguinte forma: estes conceitos são priori em nosso entendimento enquanto não são outra coisa além de funções do pensamento. A materia destas funções nos é dado pelas funções do julgamento; e eu não quero dizer que as funções do julgamento se encontram os conceitos do entendimento. [...] não é verdade que as funções do julgamento não são possíveis a não ser graças ao tempo?” Cf. (KANT[ Br AA 10:337 ]). *Curiosamente Kant nunca respondeu à Richter.
105 Revista filosófica (Halle) fundada com o intuíto de discutir a filosofia kantiana, publicada somente de 1788 a 1792.
106 “Von H.. Eberhard Magazin habe ich heute das dritte. St. erhalten. Er redet darin fast ganz allein, und. das ganze St. ist gegen die Kr. gerichtet. - Das Räsonnement darinn ist meistentheils richtig und die mehresten darin behaupteten Sätze sind wahr und lassen sich rechtfertigen. Es wird aber auf das sonderbarste behauptet, daß die Kritik das Gegentheil behaupte. Der Punkt, in welchem wirklich ein realer Widerstreit ist, betrift nur 1) die Allgemeinheit der sinnlichen Formen und 2) die Allgemeinheit der Verstandesbegriffe, welche beide hier streng behauptet werden. Jedoch sind, wie sich schon a priori wissen lies, die Gründe sämtlich aus dem Subjekt genommen. Es ist bewiesen, was niemand leugnet, daß wir recht thun, die noumena durch die Kategorien zu denken, aber nicht, daß wir ein reales Prädikat derselben erkennen können.” (KANT[Br AA 11:345]).
Jakob confessa à Kant que há alguns anos tem voltado sua atenção com ardor a elaboração de uma psicologia empírica. Jakob justifica tal posição dizendo que cada vez mais é levado a crer que os sentimentos exigem uma faculdade particular, que deve ser separada da faculdade de intuir, da do entendimento, e mesmo da faculdade de desejar, esta não parece conter o fundamento do desejo e da ação verdadeira e ressalta que aguarda a Crítica do gosto afim de obter mais esclarecimentos sobre este assunto. (KANT[Br.AA 11:345] E. 3-4). Jakob confessa à Kant que há alguns anos tem voltado sua atenção com ardor a elaboração de uma psicologia empírica. Jakob justifica tal posição dizendo que cada vez mais é levado a crer que os sentimentos exigem uma faculdade particular, que deve ser separada da faculdade de intuir, da do entendimento, e mesmo da faculdade de desejar, esta não parece conter o fundamento do desejo e da ação verdadeira e ressalta que aguarda a Crítica do gosto afim de obter mais esclarecimentos sobre este assunto. (KANT[Br.AA 11:345]).
Jakob escreva um livro publicado em 1791 intitulado: Grundriß der Erfahrungs-Seelenlehre, onde além de esclarecimentos sobre a concepção da psicologia empírica e como esta é entendida ele a relaciona com a antropologia.
107 Karl Leonhard Reinhold (1757-1823) Reinhold defendia a filosofia kantiana e lutou para dissiminá-la, em seu livro Versuch Einer Neuen Theorie Des Menschlichen Vorstellungsvermogens (1796) Reinhold defende que não há em Kant uma teoria sobre o nosso poder de imaginação e que isso era uma" lacuna em sua " filosofia sistemática” outra obra importante de Reinhold é Briefe über die kantische Philosophie de 1789.
108 Ich hoffe, und auch Schütz und Hufeland hoffen es, die Theorie des Vorstellungsvermögens, die gleich nach Ostern gedruckt zu werden anfängt, aber erst zur Michaelsmesse ganz fertig sein wird, soll etwas beitragen, dem unglücklichen Gange, den die sogenannte Prüfung Ihrer Philosophie durch die berühmten und berühmt warden wollenden Kenner der Dinge an sich.[…] Das Lesende Publikum wird durch die Fechterstreiche der Eberharde, Weishaupte, Flatte u. s. w.” ([Br AA 11:352 ])
109 O texto seria o seguinte “ Por consequência, a diferença entre os julgamentos sintéticos e analíticos seriam o seguinte: os analíticos seriam aqueles cujo o predicado exprime a essência ou alguma das partes essenciais do sujeito, aqueles cujo o predicado não esprimem determinações pertencentes a essência ou as partes essenciais do sujeito estas seiam sintéticas. Sr. Kant quer dizer, enquanto indica também sua diferença, que as primeiras são puramente explicativase as segundas extensivas portanto seus esclarecimentos devem nos dar a pensar algo preciso.” ( Eberhart Philosophisches Magazin, Jenaer Litteraturzeitung p.314).
110 “ Seine Erklärung eines synthetische Urtheils a priori ist ein bloßes Blendwerk, nämlich platte Tautologie. Denn in dem Ausdrucke eines Urtheils a priori liegt schon, daß das Prädicat desselben nothwendig sei. In dem Ausdrucke synthetisch, daß es nicht das Wesen noch ein wesentliches Stück des Begrifs, welches dem Urtheile zum Subjkte dient, sei; denn sonst wäre es mit diesem identisch und das Urtheil also nicht synthetisch. Was nun nothwendig mit einem Begriffe als verbunden gedacht wird, aber nicht durch die Identität, das wird durch das, was im Wesentlichen des Begriffes liegt, als etwas anderes, d. i. als durch einen Grund, damit nothwendig verbunden gedacht; denn es ist einerlei zu sagen: das Prädicat wird nicht im wesentlichen des Begriffes und doch durch dasselbe nothwendig gedacht, oder es ist in demselben (dem Wesen) gegründet, das heißt: es muß als Attribut des Subjekts gedacht werden. Also ist jene vorgespiegelte große Entdeckung nichts weiter als eine schaale Tautologie, wo, indem man die technische Ausdrüke der Logik den wirklichen darunter gemeinten Begriffen unterschiebt, man das Blendwerk macht, als habe man wirklich einen Erklärungsgrund angegeben. Aber diese vorgebliche Entdeckung hat noch den zweiten unverzeihlichen Fehler, daß sie, als angebliche Definition, sich nicht umgekehren läßt. denn ich kan allenfalls wohl sagen: Alle synthetische Urtheile sind solche, deren Prädicate Attribute des Subiects sind, aber nicht umgekehrt: ein jedes Urtheil, das ein Attribut von feinem Subiect ausdrückt, ist ein synthetisches Urtheil a priori ; denn es giebt auch analytische Attribute.” (KANT[Br AA 11:35 ]). (Na íntegra).
111 “Da es nun unmöglich ist (für uns Menschen) reine Anschauung zu haben,(da kein Objekt gegeben ist) wenn sie nicht bloss in der Form des Subjekts und seiner Vorstellungsreceptivität besteht, von Gegenständen affiziert zu werden so kann die Wirklichkeit synthetischer Sätze a priori schon an sich hinreichend sein zu beweisen daß sie nur auf Gegenstände der Sinne, und nicht weiter als auf Erscheinungen gehen können, ohne daß wir noch wissen dürfen daß Raum und Zeit jene Formen der Sinnlichkeit und die Begriffe a priori , denen wir diese Anschauung unterlegen, um synthetische Sätze a priori zu haben, Categorien sind.” (KANT[Br AA 11:359 ]).
112 KANT Refl. 6.006 ψ3 AA18:421. M308 EII254 “Leibniz tem destinado sua harmonia pré-estabelecida para explicar 1.que todas as mudanças no mundo corpóreo devem se produzir segundo as leis do mecanismo, pois de outra forma , se um espirito mova o mundo o centrum gravitatis universi se deslocaria mesmo se este espirito produzisse os movimentos segundo a lei de ação e reação, uma mudança no mundo não se reproduziria segundo a lei de causalidade no mundo corporal e mesmo no espirito algo começaria de algum modo um tempo vazio porque o tempo não pode ser determinado a não ser por relação as coisas no espaço.
113 Cf. (KANT[Br AA 11:360, ]).
*Para uma compreensao maior do leitor a respeito da discussão Kant/ Eberhard ver: Réponse à Eberhard Trad. Jocelyn Benoist Vrin 1999 e uma edição em língua portuguesa: Da utilidade de uma nova crítica da razão pura Trad. Marcio Pugliese e Edson Bini. Hemus 1975.
Na correspondência à Marcus Herz de 26 de maio de 1789 Kant. Kant diz a Herz que esta trabalhando na ultima parte de sua Crítica da faculdade de julgar e elaorando um sistema de metafisica, tanto da natureza como dos costumes conforme estas exigências críticas. E tece comentários sobre Maimon, explicando que sua teoria consistiria em afirmar que o entendimento não é simplesmente uma faculdade de pensar, mas sim uma faculdade de intuir. Kant elogia concepção de Maimon sobre o a priori e sobre a razao pura. Cf.(KANT[Br AA 11:362]).
114 KANT Réponse à Eberhard 1999.
115 Johann Georg Heinrich Feder (1740-1821) Feder elucida a importância da psicologia para a filosofia, em seus Untersuchungen über den menschlichen Willen. 2. Auflage, Lemgo 1785–1792, 4 Bd. e Über Raum und Kausalität. 1787 defendendo posições psicológicas.
116 “Antwort an Koßmann. Wir können von unseren Vorstellungen eine psychologische Deduktion versuchen da wir sie als Wirkungen betrachten die ihre Ursache im Gemüthe in Verbindung mit andern Dingen haben betrachten oder auch eine transcendentale da wenn wir Gründe haben anzunehmen sie seien nicht empirischen Ursprungs wir blos die Gründe der Möglichkeit aussuchen wie sie a priori doch obiective Realität haben. In Ansehung des Raums ist es nicht nothig zu fragen wie unsere Vorstellungskraft zuerst zu dessen Gebrauch in der Erfahrung gekommen sei?, es ist gnug daß da wir ihn einmal entwikelt haben wir die Nothwendigkeit ihn zu denken ihn mit diesen und keinen andern Bestimmungen zu denken aus den Regeln seines Gebrauchs und der Nothwendigkeit die Gründe derselben unabhängig von der Erfahrung anzugeben beweisen könen ob [sie] zwar so beschaffen seien daß sie sich nicht aus einem Begrif entwikeln lassen sondern synthetisch sind. Ich kan den Fall der Korper warnehmen ohne an die Ursache desselben auch nur zu denken aber ich kan daß Dinge ausser und neben einander sind nicht einmal warnehmen ohne die Vorstellung des Raumes als sinnliche Form darinn das außereinanderseyn allein gedacht werden kan zum Grunde zu legen und gewisse gegebene Vorstellungen darnach gegen einander in Verhältnis zu betrachten. Der Begrif vom Raume darf und kan nicht vorausgesetzt werden, denn Begriffe werden nicht angebohren sondern nur erworben. Äußere Vorstellungen wozu auch die des Korpers des Embryo gehort werden als solche nur erzeugt indem die empfindungen das Vorstellungsvermögen nach dieser Form affizieren.” (KANT[Br AA 11:377])
117 Cf. Nota 256
118 KANT Refl. 5.709 ψ3-4 AA18:332 M14. EII 1.195 “Da existência das coisas exteriores: o idealismo é a opinião que nós experimentamos de maneira imediata apenas nossa existência, mas que concluímos unicamente aquela das coisas exteriores (aquela conclusão de efeito a causa é de fato incerta) somente, nós só podemos experimentar nossa exitência na medida em que nós a determinamos no tempo, o que requer algo de permanente, representação que não possuem objeto em nós. Esta representação não pode mais se fundar sobre a simples imaginação de algo permanente fora de nós, pois uma imaginaçã , a qual nenhum objeto corresponde não pode ser dada , é impossível...
119 KANT Anth AA7: 141-177
120 “Der Unterschied zwischen der Verbindung der Vorstellung in einem Begrif und der in einem Urtheil z. B. der schwarze Mensch und der Mensch ist schwarz, (mit andern Worten: der Mensch der schwarz ist und der Mensch ist schwarz) liegt meiner Meinung nach darinn, daß im ersteren ein Begrif als bestimmt im zweiten die Handlung meines Bestimmens dieses Begrifs gedacht wird. Daher haben Sie ganz recht zu sagen, daß in dem zusammengesetzten Begrif die Einheit des Bewustseins, als subjektiv gegeben, in der Zusammensetzung der Begriffe aber die Einheit des Bewustseins, als objektiv gemacht, d. i. im ersteren der Mensch blos als schwarz gedacht (problematisch vorgestellt) im zweiten als ein solcher erkannt werden solle.” (KANT [Br AA 11:520 ] E. 300-301 Vol II)
Esta Correspondência de Kant à Beck seria uma resposta a carta enviada por este a Kant em 31 de maio de 1792. Nesta Beck começa por solicitar a Kant explicações a respeito da estética transcendental “ Eu encontro de fato, na estética transcendental, não se deveria ter o direito de explicar a intuição como como sendo a representação que se relaciona imediatamente a um objeto e resultar disto que o espírito é afetado pelo objeto. Pois é somente na lógica transcendental que se pode mostrar como nós alcancariamos a representação. A pura intuição impediria por si mesma tal explicação.” Beck aponta o que poderia causar uma confusão interpretativa “ eu penso realmente gerar uma confusão, quando se diz que a intuição é determinada de modo geral em relação a um diverso dado. Para mim , é igualmente necessário ter o cuidado de distinguir corretamente a parte subjetiva da sensibilidade, de sua parte objetiva afim de poder fixar ainda mais sua atenção sobre a atividade específica das categorias que confere as representações sua objetividade. Em segundo lugar, Não acho difícil entender que os objetos do mundo sensível devam ser submetidos aos princípios da faculdade de julgar transcendental. Para ver claramente, é suficiente subordinar a intuição empírica sob os esquemas das categorias, percebendo rapidamente que ela não se torna objetiva a não ser quando desaparece a questão de saber como os objetos devem se ordenar a priori sob estas proposições sintéticas. De fato, eles não são objetos apenas quando se pensa sua intuição submetida a ligação sintética do esquema. Eu compreendo, por exemplo, a validade da analogia segundo a qual todos os fenômenos tem alguma coisa de permanente em seu fundamento, quando aplico o esquema o esquema da substancialidade à intuição empírica ; esta última torna-se então objetiva, e o objeto deve por conseguinte ser ele mesmo submetido a esta ligação sintética da substância e do acidente. Mas quando retorno até o princípio de todo o caminho, eu encontro ainda uma passagem sob a qual eu desejaria viver ter mais esclarecimentos. Digo: a ligação das representações no conceito é diferente daquela referente as representações no julgamento, de modo que neste último, ato de ligação objetiva, isto é o ato preciso pelo qual se pensa um objeto, precede amplamente a ligação dele. Ou seja, é totalmente diferente dizer: o homem negro e o homem é negro, acredito que não se comete erros quando se diz: no conceito, as representações são religadas a uma unidade subjetiva , enquanto que no julgamento , são religadas a uma unidade objetiva da consciência.” (KANT[Br AA 11:515 ] ).
121 Ver: (KANT[Br AA 11:520]).
122 “Was Sie von Ihrer Definition der Anschauung: sie sei eine durchgängig bestimmte Vorstellung in Ansehung eines gegebenen Mannigfaltigen, sagen, dagegen hätte ich nichts weiter zu erinnern, als: da die durchgängige Bestimmung hier objektiv und nicht als im Subjekt befindlich verstanden werden müsse (weil wir alle Bestimmungen des Gegenstandes einer empirischen Anschauung unmöglich kennen können),da dann die Definition doch nicht mehr sagen würde als: sie ist die Vorstellung des Einzelnen gegebenen. Da uns nun kein Zusammengesetztes als ein solches gegeben werden kan, sondern wir die Zusammensetzung des Mannigfaltigen Gegebenen immer selbst machen müssen, gleichwohl aber die Zusammensetzung als dem Objecte gemäs nicht willkührlich sein kan mithin wenn gleich nicht das Zusammengesetzte doch die Form, nach der das Mannigfaltige Gegebene allein zusammengesetzt werden kan, a priori gegeben seyn muß: so ist diese das blos Subjektive (Sinnliche) der Anschauung, welches zwar a priori , aber nicht gedacht (den nur die Zusammensetzung als Handlung ist ein Product des Denkens) sondern in uns gegeben seyn muß (Raum und Zeit) mithin eine einzelne Vorstellung und nicht Begrif ( repraesentatio communis ) sein muß - Mir scheint es rathsam sich nicht lange bei der allersubtilsten Zergliederung der Elementarvorstellungen aufzuhalten; weil der Fortgang der Abhandlung durch ihren Gebrauch sie hinreichend aufklärt.”(KANT[ Br AA 11:520]) (na íntegra).
123 “...da im empirischen Begriffe des Zusammengesetzten die Zusammensetzung nicht vermittelst der bloßen Anschauung und deren Apprehension sondern nur durch die selbstthätige Verbindung des Mannigfaltigen in der Anschauung gegeben und zwar in ein Bewußtsein überhaupt (das nicht wiederum empirisch ist) vorgestellt werden kan, diese Verbindung und die Function derselben unter Regeln a priori im Gemüthe stehen müssen, welche das reine Denken eines Objects überhaupt (den reinen Verstandesbegrif) ausmachen unter welchem die Apprehension des Mannigfaltigen stehen muß, so fern es eine Anschauung ausmacht, und auch die Bedingung aller möglichen Erfahrungserkentnis vom Zusammengesetzten (oder zu gehörigen) ausmacht, (d. i. darinn eine Synthesis ist) die durch jene Grundsätze ausgesagt wird. Nach dem gemeinen Begriffe kommt die Vorstellung des Zusammengesetzten als solchen mit unter den Vorstellungen des Mannigfaltigen welches apprehendirt wird als gegeben vor und sie gehört sonach nicht, wie es doch seyn muß, gänzlich zur Spontaneität, u.s.w.” (KANT[Br AA 11:537]).
124 Para Beck: “quando se tem compreendido que o espaço e tempo são condições da intuição dos objetos, se vera facilmente que a dignidade das representações em relação aos objetos que consiste na ligação necessária do diverso pelo pensamento” (KANT[Br AA 11:545] E.321Vol II). Beck entendia esta determinação do pensamento da mesma forma que aquela que funciona num julgamento.
125 Kant faz referencia aqui (aos outros) à Garve e Eberhard. Porém, esta concepção sobre o idealismo de Berkeley, nos parece bem diferente da sustentada na primeira edição da Crítica.
Kant ainda fará observaçoes interessantes a fim de corrigir a interpretação de Beck: “ na página 5 é dito da divisão “mas se ela é sintética, ela deve necessariamente ser uma tricotomia”, isto não é todavia necessário, salvo quando a divisão deve ser feita entre. 1º a priori e 2º por conceitos( não como nas matetemáticas, por construção de conceitos) pode-se assim por exemplo repartir os poliedros a priori na intuição. Mas o simples conceito não poderia nos dar a ideia que um tal corpo seja mesmo possível, e ainda menos a ideia da possível diversidadeque poderia retornar. Na página 7. No lugar das palavras (onde é a questão da ação reciproca das substancias e de sua analogia com a determinação recíproca dos conceitos nos julgamentos disjuntivos) “eles são ligados na medida onde” escreve: estas substâncias constítuem um todo onde elas excluem certas partes, no julgamento disjuntivo etc. Na página 8. No lugar onde esta dito, “o eu penso deve acompanhar todas as minhas representações na síntese das representações”, é necessário dizer: deve poder acompanhar. Página 17. No lugar de “um entendimento, cujo o puro eu penso” , é necessário dizer: um entendimento cujo o eu puro, etc(pois senão sera contraditório dizer que seu puro pensar é uma intuição). (KANT[Br AA 11:549 ]).
126 No final do ano de 1792 preciamente em 30 de novembro há uma correspondência interessante de Salomon Maimon à Kant. Nesta Maimon critica alguns pontos da teoria kantiana: “Seu princípio da consciência pressupõe que vossa dedução não possa, por conseguinte ser posta como um fato original do poder de conhecer, como já tenho demonstrado em minha ( Revista de psicologia empírica Tomo 9 3ºparte) percebo que seu conceito de vontade livre conduz a um indeterminismo incompreensível. Vós coloca a liberdade da vontade na causalidade da razão admitida por hipótese. Vós explica a vontade livre dizendo “um poder da pessoa determinar se por relação à satisfação e a não satisfação onde a não satisfação irigina um impulso egoísta, conforme a exigência do altruísmo ou em oposição a ele” mas não se ocupa ao menos do mundo da razão determinante. Em relação a vossa estética transcendental , mais precisamente sobre a dedução das representações de espaço/tempo. Tudo que vós avança contra a apresentação dogmática me agrada. Mas se pode imaginar uma maneira cética de se representar a coisa , ao que me parece fundada sobre razões psicológicas, e que se distância da vossa mesmo que os resultados não sejam tão diferentes.Assim as representações do espaço e tempo são formas da sensibilidade, isto é condições necessárias conforme os objetos sensíveis são representados em nós. De minha parte eu sustento (por razões psicológicas) que isso não é universalmente verdadeiro. Nós não nos representamos imediatamente os objetos sensíveis nem no espaço nem no tempo. Não se pode faze-lo a não ser mediatamente comparando-os com objetos diversos com os quais eles estão precisamente ligados no tempo e no espaço. O tempo e o espaço não são formas da sensibilidade em si, mas somente formas de sua diferença.” (KANT[Br AA 11:548]) nas fontes pesquisadas não encontramos a resposta de Kant a Maimon.
127 “Diese Erzeugung der synthetischen Einheit des Bewußtseins habe ich mich gewöhnt, die ursprüngliche Beilegung zu nennen. Sie ist die Handlung, unter andern, die der Geometer postulirt, wenn er seine Geometrie von dem Satze anfängt: sich den Raum vorzustellen, und welcher er mit keiner einzigen discursiven Vorstellung gleich kommen würde. So wie ich die Sache ansehe, so ist auch das Postulat: durch ursprüngliche Beilegung sich ein Object vorstellen, das höchste Prinzip der gesammten Philosophie, auf welchem die allgemeine reine Logik und die ganze Transzendentale: Philosophie beruht. Ich bin daher fest überzeugt, daß diese synthetische Einheit, derjenige Standpunkt ist, aus welchem, wenn man sich einmahl seiner bemächtigt hat, man nicht allein in Ansehung dessen, was wohl ein analytisches und synthetisches Urtheil ist, sondern was wohl überhaupt, a priori und a posteriori…”(KANT[Br AA 11:630 ] E.31 Vol III).
128 “Mas como tenho dito, vossa Crítica não conduz o leitor a não ser progressivamente e é pelo fato que seguindo este método não se poderia esclarecer desde o início, desde a introdução, as dificuldades que se apresentarão pressionando ao leitor a continuar a refletir.”(KANT Br [AA 11:630 ] ). (KANT[Br AA 11:630 ]).
129 O artigo mencionado seria o: único ponto de vista a partir do qual é possível julgar a filosofia crítica, presente no tomo III da obra de Beck de 1796.
*Anesidemus de G.E Schulze publicado anonimamente em 1792, que segundo Hegel “seria uma entrada fracassada contra a filosofia kantiana”.
130 “Ich habe mir daher vorgenommen, diese Sache, wahrlich doch die Hauptsache der ganzen Kritik, recht zu betreiben, und arbeite an einem Aufsatz, worin ich die Methode der Kritick umwende. Ich fange von dem Postulat der ursprünglichen Beilegung an, stelle diese Handlung in den Categorien dar, suche meinen Leser in die Handlung selbst zu versetzen, in welcher sich diese Beilegung an dem Stoffe der Zeitvorstellung ursprünglich offenbart - Wenn ich nun so glaube meinen Leser gänzlich auf die Stelle gesetzt zu haben, auf der ich ihn haben will, so führe ich ihn zur Beurtheilung der Kritik (KrV)in ihrer Einleitung, Aesthetik und Analytik. Sodann will ich ihn die vorzüglichsten Einwürfe, beurtheilen lassen, insbesondere die des Verfassers des Aenesidemus.” (KANT [Br AA 11:630 ]).
131 (KANT[Br AA 11:634 ]).
Kant na sequencia “vosso escrito me agrada, porém eu faria apenas algumas pequenas observaçoes: 1º. Poderia vós tornar compreensível a palavra Composição em latim? Não se pode dizer em realidade que uma representação retorna (zukomme) a qualquer outra coisa, mas somente que, se ela for um elemento de conhecimento, ela retoma uma relação à qualquer outra coisa(que o sujeito ao qual ele é inerente), o que torna comunicável aos outros. Senão ela não pertenceria apenas ao sentimento (de prazer e desprazer) que em si não são comunicáveis. Nós não podemos todavia compreender e comunicar aos outros o que podemos fazer nós mesmos, supondo que a matéria da qual nós temos a intuição de alguma coisa, faria dela uma representação disso ou daquilo e que seria a mesma para todos. Isso é então apenas a representação de um composto. 2º. Nós podemos perceber a composição como dada; mas devemos realizá-la nós mesmos; nós devemos compor se desejamo-nos representar alguma coisa como composta (mesmo o espaço e o tempo). Em consideração desta composição, nós podemos agora comunicar uns aos outros. O captar (apprehensio) do diverso dado e sua união na unidade da consciência ( apperceptio) é então idêntica a representação do composto (isto é, do que não é possível a não ser por composição) se a síntese de minha representação na apreensão e sua análise, enquanto conceito, dão uma única e mesma representação ( tomada em evidência uma pela outra).Tal acordo não se encontraria nem em uma representação nem apenas na consciência, no entanto é para todos ( e é comunicável) e se relaciona a alguma coisa que é para todos, alguma coisa de diferente do sujeito, isto é um objeto. (KANT[BrAA 11:634 ]).
132 NITZAN.L. Jacob Sigismund Beck’s Standpunctslehre and the Kantian Thing-in-itself Debate: The Relation Between a Representation and its Object (Studies in German Idealism) 2014.
133 Johann Heinrich Tieftrunk (1759- 1837) Tieftrunk foi um filosofo alemão que se dedicou a filosofia da religião.
134 Do ano de 1794 temos a de 16 d setembro de 1794,17 de julho de 1795, 19 de novembro de 1796, 20 de julho de 1797, 24 de julho de 1797, 9 de setembro de 1797. Salvo a carta de 20 de junho. Onde Beck discorre sobre a ideia do emprego do sujeito e predicado dos objetos, não temos nestas cartas grandes colaborações.
135 Esta correspondência não esta disponível na íntegra na Akademie nem nas demais obras consultadas, sabemos através da obra de Tieftrunk Denklehre in reindeutschem Gewande Leipzig 1825 p. V e seq. o conteúdo da carta. Encontramos na Akademie apenas a resposta dada por Kant.
136 “Der Begrif des Zusammengesetzten überhaupt ist keine besondere Kategorie, sondern in allen Kategorien (als synthetische Einheit der Apperception) enthalten. Das Zusammengesetzte nämlich kann, als ein solches, nicht angeschauet werden; sondern der Begrif oder das Bewußtsein des Zusammensetzens (einer Funktion die allen Kategorien als synthetischer Einheit der Apperception zum Grunde liegt) muß vorhergehen, um das mannigfaltige der Anschauung gegebene sich in einem Bewußtsein verbunden, d. i. das Object sich als etwas Zusammengesetztes zu denken, welches durch den Schematism der Urtheilskraft geschieht indem das Zusammensetzen mit Bewußtsein zum innern Sinn, der Zeitvorstellung gemäs einerseits, zugleich aber auch auf das Mannigfaltige in der Anschauung gegebene Andererseits” (KANT[Br AA 12:790]).
Kant prossegue dizendo que: “ todas as categorias sustentan-se sob alguma coisa composta a priori e se conter , quando esta ultima é homogênea, as funções matemáticas e se ela for heterogênea, as funções dinâmicas, por exemplo, no que concerne as primeiras, a categoria de grandeza extensiva tem tratado num múltiplo, no que concerne a qualidade , ou grandeza intensiva , é o múltiplo no uno. No primeiro caso , o conjunto homogêneo, no segundo o grau. Mas em termos de categorias dinâmicas , é a composição do múltiplo enquanto que seus elementos são seja subordinados uns aos outros pela unidade da experiência ( a categoria da modalidadecomo determinação necessária da existencia dos fenômenos no tempo.). (KANT[Br AA 12:790 ]).
137 Cf. (KANT[Br AA 12:790]).
138 -“ Nun giebt es in der That synthetische Sätze a priori, denen Anschauung a priori (Raum u. Zeit) zum Grunde liegt; mithin denen ein Objekt in einer nicht empirischen Vorstellung correspondirt (den Denkformen können Anschauungsformen unterlegt werden, die jenen einen Sinn u. Bedeutung geben.) - Wie sind diese Sätze nun möglich?- Nicht so: daß diese Formen des Zusammengesetzten in der Anschauung das Objekt wie es an sich selbst ist darstellen: denn ich kann mit meinem Begriffe von einem Gegenstand nicht a priori über den Begriff von diesem Gegenstande hinauslangen. Also nur so: da die Anschauungsformen nicht unmittelbar als objektiv sondern bloß als subjektive Formen der Anschauung, wie nämlich das Subjekt, nach seiner besondern Beschaffenheit, vom Gegenstande affiziert wird d.i. wie es uns erscheint, nicht nach dem was er an sich ist (also indirect) vorgestellt wird. Denn wenn die Vorstellung auf die Bedingung der Vorstellungsart des Vorstellungsvermögens des Subjekts bei den Anschauungen restringirt wird, so ist leicht zu begreifen wie es möglich ist a priori synthetisch (über den gegebenen Begriff hinausgehend) zu urtheilen u. zugleich daß dergleichen a priori erweiternde Urtheile auf andere Art schlechterdings unmöglich sind.” (KANT[Br AA 12:790 ]).
139 Cf (KANT[Br AA 13:790 ]).
Em relação a difícil passagem da Crítica (p.117) é resolvido daseguinte forma: “a subsunção lógica de um conceito sob um outro conceito mais elevado se faz segundo a regra de identidade ,e o conceito inferior deve ser aqui pensado como homogêneo ao superior. Ao contrário a subsunção transcendental, isto é aquela de um conceito intermediário , a saber aquele do composto de representações do sentido interno, é uma subsunção sob uma categoria sob as quais se encontraria alguma coisa heterogênea segundo seu conteúdo, e que seria contrário a lógica, se fizesse isso imediatamente, mas em contra partida contudo possível se um conceito empírico colocado sob um conceito de entendimento puro por meio de um conceito intermediário, a saber aquele do composto de representações do sentido interno do sujeito enquanto eles estão conformes as condições do tempo, contém a priori a representação segundo uma regra geral do composto que é homogênea ao conceito de um composto em geral ( o que é cada categoria) e torna possível sob o nome de esquema a subsunção dos fenômenos sob um puro conceito do entendimento segundo sua unidade sintética ( aquela do ato de compor)” (KANT[Br AA12:790]).
140 Gil.F. Recepção da Crítica da razão pura 1992 p.286
141 A última correspondência que trata da Crítica (KrV) é a de 21 de setembro de 1798 à Garve. Onde Kant esclarece os pontos sobre as antinomias da razão pura. Kant diz à Garve: “não é o exame da natureza de Deus, da imortalidade etc. que tem sido meu ponto de partida, mas a antinomia da razão pura: “O mundo tem um começo.- Não há começo, etc. até a quarta: há uma liberdade no homem-contra: não há liberdade, tudo é ao contrario nele necessidade natural” é esta antinomia que me tem de início despertado de meu sono dogmático e que me tem conduzido a Crítica da razão pura afim de suprimir o escândalo da contradição aparente da razão consigo mesma”. (KANT[Br AA12:820 ])