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Subjetividade e desamparo: um olhar winnicottiano sobre a racionalidade neoliberal
Flávia Andrade de Almeida; Felipe Sampaio de Freitas
Flávia Andrade de Almeida; Felipe Sampaio de Freitas
Subjetividade e desamparo: um olhar winnicottiano sobre a racionalidade neoliberal
Subjectivity and helplessness: a winnicottian look at neoliberal rationality
Griot: Revista de Filosofia, vol. 21, núm. 2, pp. 115-131, 2021
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
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Resumo: Entendemos os eventuais problemas em discutir subjetividades a partir dos escritos de dois pensadores tão diferentes como Foucault e Winnicott, mas nesse estudo, o objetivo é fornecer um possível contraponto winnicottiano para as análises realizadas por Foucault a respeito da subjetividade na racionalidade neoliberal. Nossa proposta é pensar a constituição da subjetividade na racionalidade política neoliberal, que conforme verificamos, constrói indivíduos psiquicamente voltados para certo individualismo em detrimento da ética e da alteridade. Após uma discussão sobre a dinâmica da formação do capital humano, conforme apresentado por Foucault, e da apresentação das noções fundamentais acerca dessa constituição específica da subjetividade, realizamos um contraponto apresentando os pontos fundamentais da teoria do amadurecimento de Winnicott para pensar a respeito de possíveis consequências psíquicas que a racionalidade neoliberal, produtora de sujeitos voltados para a competição, impõe a essas estruturas subjetivas.

Palavras-chave:DesamparoDesamparo,Sujeito neoliberalSujeito neoliberal,Foucault, WinnicottFoucault, Winnicott.

Abstract: We understand the potential problems in discussing subjectivities from the writings of such different thinkers like Foucault and Winnicott. However, in this study, the aim is to provide a possible Winnicottian counterpoint to the analyzes carried out by Foucault regarding subjectivity in neoliberal rationality. We propose a reflection about the constitution of subjectivity in neoliberal political rationality. As we have seen, it builds individuals psychically focused on a certain level of individualism to the detriment of ethics and otherness. After a discussion on the dynamics of human capital formation, as presented by Foucault, and the introduction of the fundamental notions about this specific constitution of subjectivity, we carry out a counterpoint. We will introduce the elementary points of Winnicott's theory of maturation to think about possible psychic consequences that neoliberal rationality, producing subjects focused on the competition, imposes on these subjective structures.

Keywords: Helplessness, Neoliberal subject, Foucault, Winnicott.

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Subjetividade e desamparo: um olhar winnicottiano sobre a racionalidade neoliberal

Subjectivity and helplessness: a winnicottian look at neoliberal rationality

Flávia Andrade de Almeida1
Universidade de São Paulo; Universidade Paulista , Brasil
Felipe Sampaio de Freitas2
Universidade Federal do Pará, Brasil
Griot: Revista de Filosofia, vol. 21, núm. 2, pp. 115-131, 2021
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Recepção: 15 Fevereiro 2021

Aprovação: 05 Maio 2021

Introdução

Michel Foucault e Donald Woods Winnicott são dois autores que pensaram a subjetividade de modo significativamente distinto. Por um lado, Michel Foucault discute em seus escritos a questão do sujeito por diferentes prismas; o sujeito moderno, o sujeito da antiguidade e a possibilidade de um sujeito voltado para a ética. Winnicott, por sua vez, propõe uma constituição subjetiva relacionada ao cuidado e ao que poderíamos entender por certa ética, já que o cuidado e a preocupação com o outro, com a alteridade, fazem parte de um psiquismo saudável e amadurecido em sua teoria. Nas palavras de Mizrahi:

Winnicott concebe então um indivíduo cuja natureza não seria primariamente disruptiva e antissocial, necessitando controle, mas cuja vitalidade, incluindo a sexualidade como um de seus aspectos, seria potencialmente criativa, ansiando justamente pela vitalidade e potência do parceiro relacional e social para se expressar, tendo portanto uma natureza social e ética imanente. Uma subjetividade que recebendo do ambiente um tratamento cuidadoso, internalizaria esse tratamento na forma de um ego cuidador de si, capaz de funcionar como um guia interno, passível de levar o indivíduo por espaços relacionais e sociais de vitalidade compartilhada, onde a potência criativa do outro é buscada como parte do próprio espaço subjetivo de expressão criativa (MIZRAHI, 2018, p. 69)

Temos então Foucault, um filósofo francês conhecido por tecer duras críticas às tecnologias psi, e mesmo à psicanálise, e Winnicott, psicanalista da escola inglesa de psicanálise, partidário de uma psicologia centrada no cuidado e no amadurecimento. Dois pensadores de escolas de pensamento radicalmente diferentes e, à primeira vista, radicalmente opostas, serão parte de uma discussão que não pretende aproximá-los em suas estruturas de pensamento, mas pretende contrapor um como que em resposta ao outro.

Nossa discussão propõe pensar a constituição da subjetividade na racionalidade política neoliberal, que, como veremos, constrói indivíduos psiquicamente voltados para certo individualismo em detrimento da ética e da alteridade (DARDOT E LAVAL, 2016, p. 321). Nos escritos de Foucault, essa discussão se dá, fundamentalmente, em 1979, quando o filósofo discute em seu curso O Nascimento da Biopolítica .Naissance de la biopolitique), a teoria do capital humano, bem como, a noção moderna de um sujeito da economia, ou, homo oeconomicus, e de certa gestão das subjetividades. Nesse sentido, após a apresentação das noções fundamentais acerca dessa constituição específica da subjetividade, faremos um contraponto apresentando os pontos fundamentais da teoria do amadurecimento de Winnicott para pensar a respeito de possíveis características ou consequências psíquicas que a racionalidade neoliberal, produtora de sujeitos voltados para a competição, impõe a essas estruturas subjetivas.

A racionalidade neoliberal seria, para Michel Foucault, a condição de possibilidade de formação de sujeitos focados na negociação perpétua de si mesmos, em praticamente todos os aspectos da vida. O empresário de si é o sujeito que negocia não apenas sua força de trabalho, mas que, desde cedo, direciona esforços para o aprimoramento pessoal, profissional e o das aptidões em geral. Isso porque a racionalidade neoliberal generaliza o ethos de competitividade: a lógica do mercado se torna o princípio norteador de todas as relações humanas. Negociar a si próprio de maneira constante pode ter custos psíquicos, e é a partir dessas imbricações que faremos as articulações a seguir.

Uma subjetividade constituída

Não é incomum lermos, quando desbravamos as inúmeras páginas da obra de Michel Foucault, as palavras “sujeito” (sujet) e “subjetividade” (subjectivité). Hoje, um ditame já ultrapassado, mas que, pelo menos no Brasil, fora muito arrolado pelos corredores universitários, é o de que Foucault seria o pensador do “saber” e/ou dos “saberes” – em referência direta aos seus trabalhos da década de sessenta –, e, mais comum ainda, o filósofo das relações entre “saber” (savoir) e “poder” (pouvoir). Na verdade, entre os pesquisadores que se localizam mais distantes do “núcleo duro” dos estudos foucaultianos, ainda é possível esbarrarmos nestas assertivas. E isto não está de toda forma errado: é apenas um sútil e ingênuo “desvio de foco” no olhar daqueles que tem inúmeras outras referências bibliográficas, além das de Foucault, para analisar. De todo modo, o foco central da obra de Michel Foucault, isto é, o sujeito, se camufla; perde-se dentre tantas incursões históricas, envoltas às inúmeras críticas e retomadas conceituais operadas pelo mesmo, no lastro genealógico da filosofia ocidental.

Inês Lacerda Araújo (2008, p. 93), objetivamente, já mencionou que o ponto nevrálgico da obra do filósofo francês “não são as relações entre saber e poder”: indo mais além, a estudiosa remonta que a intenção dele era muito mais a de “fazer uma história do presente”; história esta onde o sujeito ocuparia um espaço central. Do mesmo modo, segue Márcio Alves da Fonseca (2011, p. 20) afirmando que, apesar da variabilidade temática presente na obra de Foucault, o mesmo “não se desvia do tema central que elege em seus trabalhos: o sujeito”.

Também é um “lugar comum” dividir a obra de Foucault em três partes, ou, domínios: saber; poder e ética. Aqui, não discutiremos os problemas metodológicos desta tomada, no entanto, tal divisão irá sugerir, em consequência, três “matizes” para o sujeito: a primeira que o relaciona com as coisas (o saber); a segunda que o envolve na relação para com os outros (o poder); e, a última, que o faz refletir sobre si mesmo (a ética). (ARAÚJO, 2008, p. 94) Nos três casos o sujeito seria constituído ao invés de dado, isto é, mesmo quando Foucault (2012, p. 1042; ARAÚJO, 2008, p. 93) menciona as tais práticas ou modos subjetivantes (ou de subjetivação, as quais seriam aquelas por onde o sujeito pensa a si mesmo enquanto tal), e as objetivantes (ou de objetivação, aquelas que visam pensar o indivíduo através do holofote das ciências que intencionam normalizá-lo), ainda assim, o assunto não destoa da ideia de que há um sujeito que se constitui em nossa cultura, ou através dela: “Pensar, portanto, nos processos de objetivação é pensar em aspectos da constituição do indivíduo. Da mesma forma que pensar nos processos de subjetivação também é pensar em aspectos dessa constituição” (FONSECA, 2011, p. 23).

Todavia, há um “porém” em tal constituição: este pormenor é o de não torná-lo fruto de “filosofias antropologizantes” – aquelas que perduram na “não dispersão de seus atos” –, mas levá-lo em conta enquanto sujeito histórico, ou seja, portador de diversos caracteres, nos mais variados registros epistêmicos espraiados pela história. (ARAÚJO, 2008, p. 94). Seria, então, um basta às “analíticas da finitude”3..

O caráter histórico do sujeito, na obra de Foucault, nos leva, também, a uma maior proximidade para com o mundo, se pensarmos pelo ponto de vista prático. Por não operar um agrupamento homogêneo de temas e/ou assuntos, Foucault segue autônomo na escolha de seus debates acerca dos mais variados modos de objetivação do indivíduo, em suas mais diversas especificidades discursivas (acerca das relações para com o saber por meio das epistemes) e não-discursivas (na intrínseca relação entre o poder e o saber por vias da análise dos dispositivos).

Doravante, é muito conhecido, dentre os leitores de Foucault, o texto por ele publicado exclusivamente no também famoso livro de Hubert Dreyfus e Paul Rabinow, a respeito de sua obra, qual seja, Michel Foucault: Beyond Structuralism and Hermeneutics4., de 1982, intitulado “The Subject and Power” (“O Sujeito e o Poder”). Nele, Foucault expressa vivamente, mesmo após dezesseis anos do lançamento de Les mots et les choses .As palavras e as coisas, 1966) – e diversas mudanças metodológicas, bem como, de assuntos debatidos –, que o eixo central de seu pensamento ainda permanece intacto:

Eu gostaria de dizer, em primeiro lugar, qual foi o propósito do meu trabalho nestes últimos vinte anos. Não foi o de analisar os fenômenos de poder, tampouco de lançar as bases de tal análise. Em vez disso, eu procurei produzir uma história dos diferentes modos de subjetivação do ser humano em nossa cultura; nesta óptica, eu tratei de três modos de objetivação que transformam os seres humanos em sujeitos. (FOUCAULT, 2012, p. 1041, 1042, tradução nossa)

Isto é, mesmo no registro “genealógico” de seus trabalhos, a matéria principal de sua reflexão não destoara e, muito menos, fora posta de lado. É neste registro que almejamos, no decorrer desta seção, estabelecer nossa discussão, nos localizando em um de seus matizes, aquele a respeito da discussão de Foucault acerca do neoliberalismo.

O homo oeconomicus e a subjetividade empresarial

Localizada na “segunda parte” da obra de Foucault, residiria uma das características constitutivas dos indivíduos modernos; ou melhor, a tirar pelo teor da discussão, dos sujeitos contemporâneos: no final da década de setenta, precisamente em 1979, Foucault desenvolve, à guisa de seus estudos sobre a biopolítica5., a análise de uma questão central da modernidade: a do homo oeconomicus (FOUCAULT, 2004, p. 221-320), proferida e discutida no itinerário de seus cursos dados ao Collège de France. O contexto histórico da análise do filósofo condiz com o período das guerras do século XX e todas as séries de consequências geradas por tais adventos históricos no campo social. Destes, advém o levante do modelo econômico neoliberal que pode ser dividido, basicamente – segundo aborda Foucault no seu curso –, em francês, alemão/austríaco, e, nosso foco de análise aqui, o americano.

Une tarte à la crème en France (sic), isto é, algo muito trivial, ou melhor, “de maneira muito comum”, o neoliberalismo americano fora um locus de análise e discussão eleito corriqueiramente dentre os intelectuais franceses daquela época. (FOUCAULT, 2004, p. 221) Sua emergência, obviamente, se deu de maneira não tão diferente, nos fala Foucault (2004, p. 211), daquelas outras ramificações. Ou seja, seguiu quase pela mesma via das formas alemã/austríaca e francesa, enquanto opositora à três elementos: o keynesianismo; os pactos sociais de guerra e o crescimento da administração pública federal, por meio de programas econômico-sociais; a exemplo, podemos citar de antemão, o New Deal e o plano Beveridge. (FOUCAULT, 2004, p. 222, 223).

A expansão do modelo econômico neoliberal, enquanto opositor a tais sistemas, também teve, em sua origem, um enviesamento que o fez pender tanto às políticas de direita, como para as de esquerda. Ademais, especificamente, e sobre isto Foucault faz questão de demarcar as diferenças, as políticas liberais americanas diferem daquelas supracitadas por meio de uma questão principal, a saber, enquanto os modelos europeus continuavam se subscrevendo apenas nos limites dos ensejos políticos, econômicos e sociais, no caso americano, há um novo adendo, que se apresenta como um divisor de águas: ele “... é toda uma maneira de ser e de pensar” (FOUCAULT, 2004, p. 224).

Então, há um importante vetor de análise na afirmação de Foucault: o (neo)liberalismo americano atuaria não somente através do governo dos Estados ou da economia, mas como “uma maneira particular de viver”, “intimamente amarrada ao governo do individual” (READ, 2009, p. 27). E é por esta via que se dá a entrada da noção de homem econômico .homo oeconomicus) nos estudos de Michel Foucault. Segundo o filósofo francês, Hayek já dissera “o que precisamos é de um liberalismo que seja um pensamento vivo”; ipsis litteris, o liberalismo deveria também atuar no pensamento dos sujeitos, como um modus, à maneira como o socialismo utópico sempre o fizera (inclusive, para Foucault, a isto deveu-se o “seu vigor”). (FOUCAULT, 2004, p. 224, 225)

Este âmbito, o do “pensamento”, até então fora tido como um exemplo não-econômico, por onde a economia política clássica não percorrera e não se debruçara, já que seus principais polos de análise sempre foram “a terra, o capital e o trabalho”. A respeito deste último, em Smith e Ricardo, ou ainda em Keynes, o mesmo sempre fora um “campo inexplorado”; segundo Michel Foucault: os primeiros o restringiram ao fator tempo, “neutralizando-o”; o último entregou-lhe significado por meio do “fator de produção”. (FOUCAULT, 2004, p. 225, 226) Quem realmente atribuiu à questão do trabalho um caráter crítico “real”, segundo nos mostra o filósofo de Poitiers, fora Karl Marx, quando este apresentou o operário como um vendedor. Mas, de quê? De sua “força de trabalho”. Haveria, então, na lógica capitalista, uma “abstração” do trabalho, segundo Foucault. E esta abstração, não compreendida, tampouco abarcada pelos liberais clássicos, deixou lacunas que foram preenchidas por Marx. (FOUCAULT, 2004, p. 227, 228)

A crítica neoliberal retoma justamente esta dimensão do trabalho, em nossas palavras, “esquecida” pelos liberais clássicos, averiguando suas modulações e efeitos, enfim, suas especificidades voltadas, tanto para economia – e como veremos a seguir –, quanto para a vida. Ela não analisa os eventos econômicos pautando-se tão somente pelos processos mesmos, oriundos na maneira pela qual a análise clássica operava, e que colocavam pontos importantes da economia – como o trabalho – apenas como uma “engrenagem” do capitalismo. Abrange mais que isso, como diz Foucault (2004, p. 229), na verdade, lança mão de novas opções epistêmico-metodológicas: a do agir humano, ou, literalmente, do seu comportamento. Seria, então, como pôr-se do ponto de vista de “quem trabalha”, entendendo que a economia é, não mais, uma mera palavra para designar um domínio de saber, mas uma governamentalidade específica, isto é, uma conduta específica, que deverá agora ser avistada do ponto individual do próprio “sujeito econômico ativo”.

Doravante, Foucault deixa muito claro: o substrato final da venda do trabalho – para os neoliberais, ou neo-economistas –, não seria mais condizente com a venda da “força de trabalho”, como Marx analisava; ele modula, vai mais além: agora, o resultado desta venda é de par e igualdade com a venda de um “fluxo”, isto é, o entendimento é de que os indivíduos são como “máquinas” (Foucault utiliza esta expressão remetendo-se a Irving Fisher), seu salário condiz com o início da vida e atuação desta máquina; ele começa baixo, aumenta progressivamente, e, de novo, reduz, na medida em que a máquina-indivíduo irá envelhecer.

Nas palavras de Foucault:

Não é uma concepção da força de trabalho, é uma concepção de capital-competência que recebe, em função de variáveis diversas, um certo rendimento que é um salário, um rendimento-salário, de sorte que é o trabalhador mesmo que aparece como sendo, para ele mesmo, algo como uma empresa. (2004, p. 231, tradução nossa)

A famosa designação da teoria do capital humano, então, fica clara: os sujeitos são agora como empresas, donde o empresariamento de si mesmo prevaleceria. Se somos gente-capital, se somos como “empresas”, na atual engrenagem do capitalismo, então, tudo aquilo que pensamos e almejamos para nós mesmos soaria como um investimento: educação, saúde, bem-estar, segurança, e mesmo ainda, o lazer, seriam investimentos de/para si. Mas sabemos bem os limites para até onde vão tais concepções: a lógica neoliberal – ao contrário do liberalismo clássico, pautado na troca –, é a da concorrência. Isto quer dizer o fomento da lógica concorrencial entre os sujeito-econômicos, ou, homo oeconomicus.

Antes de tudo, há de se levar em conta que esta significação de um “parceiro de troca”, ou, o homo oeconomicus, possui uma genealogia extensa, que advém do próprio período da economia política clássica: em seu primeiro momento, o significado de homo oeconomicus esteve ligado àquele mesmo da teoria liberal dogmática, isto é, a da troca a partir das necessidades. Assim, o homo oeconomicus era o “parceiro de troca”, como já dito. Lembrando também que outra temática central desta discussão, a qual Foucault frisa a diferença em seu curso, qual seja, a do mercado, possui uma clara distância para com o modelo econômico do século XX. Como explica Jason Read (2009, p. 27), nas questões econômicas, o mercado é tanto naturalizado como é base de apoio para uma crítica ao poder do Estado. Daí os pensadores liberais atribuírem à troca o status de matriz geral da sociedade.

Ao contrário disto, no neoliberalismo, há uma segunda roupagem do homo oeconomicus, que o substituiu, colocando-o como sujeito-empresa: “O homo oeconomicus é um empresário, e um empresário de si mesmo”, nos diz Foucault (2004, p. 232, grifos do autor). Há então a substituição do parceiro de troca pelo “empresário de si mesmo, sendo a ele mesmo seu próprio capital, sendo para ele mesmo seu próprio produtor, sendo para ele mesmo a fonte de seus rendimentos” (FOUCAULT, 2004, p. 232, tradução nossa). E, à luz da teoria econômica neoliberal, precisamente em Gary Becker, o homem do consumo é também um produtor, só que um produtor da própria satisfação (FOUCAULT, 2004, 232). Daí as ideias de individualidade e egoísmo contemporâneas: se somos todos como empresas e estamos buscando nossa própria satisfação neste mundo, até onde iria a aspereza e a falta de empatia para com o outro na busca de nossos objetivos e satisfações?

Devemos levar em conta que este sujeito empreendedor de si, muito além da simples pauta da troca e crítica ao poder do Estado, está ancorado em uma racionalidade outra, aquela onde a concorrência impera como fator de inteligibilidade geral. E esta mudança possui efeitos profundos, como afirma Read:

[...] enquanto a troca foi considerada natural, a competição é entendida, pelos neoliberais do século XX, como uma relação artificial que deve ser protegida contra a tendência de os mercados formarem monopólios e intervenções pelo Estado. A concorrência exige uma intervenção constante por parte do Estado, não no mercado, mas nas condições do mercado. (2009, p. 28, tradução nossa)

Esta mudança, do modelo da troca para o da concorrência, acarreta um fator sutil, mais interiorizado, isto é, o da constituição de subjetividade. Quer-se dizer, então: a troca abre espaço à concorrência, e esta última molda a subjetividade dos sujeitos modernos.

Já partindo para o final desta seção, cabe apontar também que o homo oeconomicus, segundo Foucault, é movido pelo seu interesse. Na verdade, ele seria também um sujeito de interesse, muito mais do que um sujeito de direitos, ou, homo juridicus, figura clássica do direito. Este interesse é voltado sempre para aquele de uma “economização” que, segundo Wendy Brown (2015, p. 109)6., significa dizer que o sujeito, assim como o Estado, é transformado, em “identidade e conduta”, pelos efeitos neoliberais, tornando-se algo como uma “firma financeirizada”.

O homo oeconomicus, então, traduz-se como sujeito que visa o lucro e evita o trabalho que não gera capital humano, tendo sua racionalidade voltada para o consumo e a produção de satisfação própria. Ele é pensado também, e daí a importância de se analisar criticamente o neoliberalismo, como sujeito social. Ou seja, a economização da vida, dentro desta noção contemporânea, seria como uma normatização daquele sujeito que se casa, cria filhos, comete delitos, planeja o dia-a-dia, etc. (FOUCAULT, 2004, p. 272) Em resumo, se se está em uma posição marginal na sociedade, isto é, se você não alcançou seus objetivos e metas de vida, isto se deveu a uma falha, ou, fraca produção de capital humano, advinda do próprio sujeito econômico. A culpa é só e somente do sujeito. Isto nos traz, assim, para o âmbito ético acerca da questão (que não discutiremos aqui), o qual, em síntese, quer dizer que a eventual marginalidade do indivíduo, na sociedade e em relação aos outros, dentro da cruel lógica neoliberal, é a de que você enquanto empresa não deu certo. (HAMANN, 2012, p. 104, 105). Diríamos, com nossas palavras, que o neoliberalismo deixou os sujeitos, de forma egoísta, lançados à própria sorte, dentro da mutualidade das relações concorrenciais, pautadas em seus interesses individuais e egoístas.

A constituição da subjetividade em Winnicott

Sabemos das críticas contundentes que Michel Foucault apresentou a respeito das tecnologias psi, e mesmo do arcabouço teórico da psicanálise. Ainda assim, nos proporemos a apresentar um contraponto psicanalítico ao que Foucault mostra a respeito da constituição das subjetividades sob o ethos neoliberal. Cabe, então, uma breve apresentação da teoria de Donald Woods Winnicott acerca da constituição da psiquê.

Donald Woods Winnicott é um dos principais representantes da psicanálise inglesa e contemporâneo de Jacques Lacan, psicanalista francês bastante estudado no Brasil. Pediatra e psiquiatra de formação e atuação por longos anos, Winnicott, assim como Lacan, realiza o que podemos chamar de redimensionamento da psicanálise, sem deixar de estar na esteira de Freud, ou seja, sem deixar de lado aspectos fundamentais da psicanálise clássica. É verdade que Winnicott abandona alguns conceitos da metapsicologia freudiana, como por exemplo a pulsão de morte, e por outro lado, considera, mas retira da posição nuclear o conflito edípico. Winnicott realinha certos conceitos freudianos em sua teoria e se considera herdeiro de Freud, citando tal fato em diversos pontos de seu trabalho. Mas para Winnicott, o cerne da psique está mais atrelado ao amadurecimento saudável do que às possíveis consequências do conflito edípico na estrutura psíquica.

Neste sentido, outro aspecto fundamental é que Winnicott situa suas preocupações na compreensão da saúde, da dinâmica das psicoses e, portanto, não coloca a investigação da origem das neuroses em primeiro plano. Podemos entender que é pela via da saúde, e mais especificamente, pela via da saúde enquanto consequência de uma certa ética do cuidado, que Winnicott procura analisar e descrever os processos psíquicos e os processos de integração e amadurecimento do eu.

Conforme Dias, a contribuição original de Winnicott ao pensamento psicanalítico reside na teoria do amadurecimento pessoal do ser humano e na proposta de uma teoria dos distúrbios psíquicos com foco nas psicoses, não nas neuroses. Para a pesquisadora, Winnicott anuncia um novo paradigma em psicanálise, o qual vai além das metapsicologias. Nas palavras dela:

A originalidade de Winnicott não sai do nada e o mesmo vale para a criatividade científica; suas ideias se forjaram a partir da observação e no interior do debate travado com as áreas afins – a pediatria, a psiquiatria infantil, e a medicina psicossomática. Seu principal interlocutor foi, no entanto, a psicanálise tradicional. Winnicott considerou-se sempre um psicanalista, e reconheceu inúmeras vezes a sua dívida para com Freud e Klein. Esse reconhecimento está em pleno acordo com a sua concepção de criatividade. Ele diz: “Sou um produto da escola freudiana ou psicanalítica. Isto não significa que eu tome como correto tudo o que Freud disse ou escreveu” (DIAS, p. 35).

Corroboramos com Mizhari (2018), quando este afirma que a teoria de Winnicott nos permite conceber certa proposta da natureza humana a partir dos estudos sobre vitalidade. Nos permite ainda, realizar análises do psiquismo a partir de algumas generalizações, sem desconsiderar a importância das individualidades, isto é, das peculiaridades de cada subjetividade (MIZRAHI, 2018, p. 81). Desse modo, podemos dizer que Winnicott está interessado nos aspectos envolvidos na formação de um self vivo e criativo, em contraposição ao interesse de Freud, por exemplo, focado nas relações e nas imbricações do sujeito com suas pulsões versus a interdição, a lei e os demais limites sociais a serem internalizados. Assim, temos que Winnicott, além de recusar a noção de pulsão de morte presente em Freud, propõe a ideia de uma força vital, cujo objetivo não é, como em Freud, a descarga de pulsões, mas a criação e/ou a transformação genuína do mundo pelo sujeito. Winnicott enxerga no ser humano uma espécie de potencial para a realização do que seria legítimo, do que seria transformador. Para ele é fundamental à saúde que ao sujeito seja facilitado o processo de integração de si e de seu potencial para o ato criativo, que seria algo equivalente a dizer que o sujeito precisa antes integrar para depois conhecer, reconhecer e exteriorizar seus desejos genuínos de forma a conferir sentido à própria existência. Esse processo só ocorre se a psiquê infantil encontra um ambiente facilitador (função materna que Winnicott também chama de mãe suficientemente boa) que o prepare e ampare até que tenha condições de lidar com as exigências do mundo.

Em Winnicott, portanto, o processo de subjetivação não é análogo ao da psicanálise clássica, no qual o sujeito precisa elaborar internamente o conflito entre pulsões e realidade social, mas é focado na questão da possibilidade (ou impossibilidade) do ambiente acolher os seus anseios e facilitar gradualmente sua condição de ser vivente, até que esteja psiquicamente amadurecido e integrado num verdadeiro self, e possa seguir no processo vital ao qual Winnicott chama de continuidade do ser (MIZHARI, 2018).

Para Winnicott, no início da vida, o bebê necessita de um ambiente que não permita que se sinta invadido pela realidade externa. Necessita, portanto, de segurança e estabilidade. Neste ponto fundamental, de acordo com Winnicott, o bebê precisa de uma mãe (nos referimos a função materna que não é necessariamente a mãe biológica) que atenda às suas necessidades, pois estão atreladas a sua sobrevivência e, mais do que isso, o bebê nos estágios iniciais de vida precisa de uma mãe que corresponda a seus gestos, pois é nesse processo gradual que serão conferidos os sentidos aos gestos e à própria existência singular do eu (self). Os gestos do bebê precisam ser atendidos, reconhecidos e legitimados em sua espontaneidade. Aqui, a mãe cuida e sustenta o bebê de modo tão sensível, adaptado e identificado, que o bebê a sente inclusive como criação sua. A ilusão da onipotência precisa ser mantida até que o bebê tenha condições de resistir a posterior desadaptação da mãe e somente então ele será capaz de lidar com a realidade externa, já mais constituído e amadurecido. Nas palavras de Winnicott:

A adaptação da mãe, às necessidades do bebê, quando suficientemente boa, dá a este a ilusão de que existe uma realidade externa correspondente à sua própria capacidade de criar. Em outras palavras, ocorre uma sobreposição entre o que a mãe supre e o que a criança poderia conceber. Para o observador, a criança percebe aquilo que a mãe realmente apresenta, mas essa não é toda a verdade. O bebê percebe o seio apenas na medida em que um seio poderia ser criado exatamente ali e naquele momento [...] Então, psicologicamente, o bebê recebe de um seio que faz parte dele e a mãe dá leite a um bebê que é parte dela mesma (WINNICOTT, 1975, p. 27).

Winnicott descreve esse processo em estágios do amadurecimento e não caberia aqui detalhar os pormenores de cada estágio. Basta atentarmos ao fato de que é necessária uma preparação ambiental (a função materna sendo o ambiente) para que o eu se constitua até chegar a um ponto no qual poderá atender as solicitações da realidade externa sem sentir-se ameaçado ou até mesmo aniquilado. Se o bebê não tem, durante o tempo adequado, a sustentação ambiental necessária para a consolidação do eu, podem se desencadear processos patológicos, pois o bebê aprende precocemente a reagir à realidade externa para defender a si. Pensando de modo prático, a título de exemplificação, poderíamos pensar na seguinte situação: um bebê recém-nascido sente o incomodo da fome e esta sensação tem tal proporção que, se a mesma não for prontamente saciada, o bebê sente como se fosse morrer. Além disso, o momento da amamentação é um momento no qual, além do contato com o seio e com o leite (o alimento), o bebê percebe-se continuamente acalentado e sustentado pelo corpo da mãe, o que gradualmente possibilita que desenvolva a percepção sobre o seu próprio eu. O ego, para Winnicott tem importância fundamental na saúde psíquica já que é a partir da integração do ego e do self (si mesmo) que se estruturam (saudavelmente ou não) os demais estados psíquicos. Nas palavras de Winnicott:

A integração está intimamente ligada à função ambiental da segurança. A conquista da integração se baseia na unidade. Primeiro vem o “eu” que inclui “todo o resto é não-eu”. Então vem “eu sou, eu existo, adquiro experiências, enriqueço-me e tenho uma interação introjetiva e projetiva com o não-eu, o mundo real da realidade compartilhada”. Acrescente-se a isso: “Meu existir é visto e compreendido por alguém”; e ainda mais: “É me devolvida (como uma face refletida em um espelho) a evidência de que necessito de ter sido percebido como existente” (WINNICOTT, 2007, p. 60).

A mãe (ou substituto), ao longo do processo de desenvolvimento, precisa estar identificada com o bebê para resistir inclusive a seus ataques, que para Winnicott são parte constitutiva da vitalidade humana. Resistir e continuar os cuidados do bebê, mesmo frente às manifestações de agressividade, vai possibilitar o desenvolvimento saudável do ego, inclusive em termos de, em um ponto específico do amadurecimento, o bebê se perceber como diferenciado e se preocupar com a mãe (fase do concernimento). Em relação à diferença entre um ambiente suficientemente bom e uma adaptação insatisfatória do ambiente às necessidades do bebê, afirma psicanalista inglês:

Digamos que a adaptação ativa seja quase perfeita [...] O movimento do próprio indivíduo descobre o ambiente. Isto, repetido se transforma num padrão de relacionamento. Num caso menos feliz, o padrão de relacionamento se baseia no movimento do ambiente. Isto merece o nome de intrusão que é imprevisível por não ter relação alguma com o processo vital do próprio indivíduo. (WINNICOTT, 1990, p. 148- 149)

Podemos chamar, portanto, de verdadeiro self (ou si mesmo - conforme o próprio Winnicott designa) uma subjetividade constituída em tempo e ambiente satisfatório para que haja condições de seguir no processo de continuidade de ser, dando vazão às manifestações criativas do eu e, portanto, dando vazão às potencialidades criativas de si. Um eu saudável, constituído no cuidado e no reconhecimento, tem condições de sobreviver às condições adversas, bem como, de estar no mundo, ainda que com dificuldades próprias ao contexto social. Um self verdadeiro, podemos dizer, é também um self ético, na medida em que consegue lidar com melancolias e conhece o potencial transformador do reconhecimento do outro, do reconhecimento mútuo e necessário nas relações humanas.

Por outro lado, uma subjetividade, desde cedo invadida pelas demandas da realidade externa, é uma subjetividade, um eu, que precisou se adaptar, desde muito cedo, às condições sentidas como ameaças. Um self assim constituído é, sobretudo, um self reativo e não (como Winnicott consideraria saudável), um self criativo. As defesas frequentes e seguidas para se proteger das invasões da realidade externa culminam na constituição de um falso self, de acordo com Winnicott. O falso self é o que caracteriza o sujeito das adaptações excessivas, o sujeito da busca pela constante adequação às demandas do mundo. Diz Winnicott:

A mãe que não é suficientemente boa não é capaz de complementar a onipotência do lactente, e assim falha repetidamente em satisfazer o gesto do lactente; ao invés, ela o substitui por seu próprio gesto, que deve ser validado pela submissão do lactente. Essa submissão por parte do lactente é o estágio inicial do falso self e resulta da inabilidade da mãe de sentir as necessidades do lactente. (2007, p. 132).

O falso self é o self da reação, um self reativo ao que lhe é externo, o que implica numa tentativa constante de adaptação ao mundo e ao outro, ao mesmo tempo, implicando numa inabilidade para o contato e, possivelmente, uma busca constante por reconhecimento.

Das teorizações de Winnicott a respeito de verdadeiro e falso self, podemos, nesse ponto, concluir que deriva da teoria do amadurecimento uma possível compreensão ética da subjetividade, ou ao menos, um potencial para subjetividades éticas. Isto porque a saúde, para Winnicott, e nos referimos aqui especificamente à saúde psíquica, tem a ver com o viver criativo e com o sentimento de ser real, de habitar um corpo correspondente a um eu psíquico integrado. Saúde inclui ainda a possibilidade de transitar por mundos criados no decorrer do amadurecimento e, mais tarde, ser capaz de estabelecer relações com a realidade objetiva sem sacrificar, silenciar ou, até mesmo, anular a espontaneidade pessoal (DIAS, p. 86).

Conforme vimos, existe, na teoria do amadurecimento de Winnicott (2007), a ideia de uma natureza potencialmente ética na própria vitalidade humana. Portanto, de acordo com o psicanalista inglês, os desequilíbrios nas manifestações de violência e agressividade podem ser explicados pelo padrão de reatividade de falsos selfs, que desde cedo buscam incessantemente os acolhimentos e os reconhecimentos que lhe faltaram primitivamente. Nas palavras de Mizrahi:

o poder desequilibrado que desconsidera o outro, ou que gera a própria submissão passiva e perda de potência diante de outrem, ou diante de um ideal político em descompasso com as próprias necessidades subjetivas, seria, para Winnicott um sintoma de vida reativa, que acontece quando os sujeitos não encontram espaços acolhedores para a expressão de sua vitalidade no campo relacional e social (MIZRAHI, 2018, p. 87).

O sujeito do falso self poderia ser chamado então de sujeito do mal-ser: não chegou a ponto de sentir-se real e reconhecer-se como, ao mesmo tempo, dotado de potencial criativo e agressivo (ALMEIDA, 2019). É um sujeito como que recortado, buscando alternativas para integrar a si mesmo num eu potencial que faça sentido e dê cor à vida. O falso self produz um sentimento de futilidade e vazio existencial, a adaptação pode ser excessiva e pode ser, inclusive, que o sujeito seja socialmente considerado extremamente funcional, mas sua espontaneidade está tão guardada que às vezes não chega mesmo a ser reconhecida pelo próprio sujeito.

Subjetividades não constituídas de modo saudável e desamparo são questões relacionadas do ponto de vista da teoria winnicottiana. Um sujeito sem amparo para ser, em fases primitivas do desenvolvimento, torna-se um sobrevivente, alguém que é obrigado a se haver com um mundo de ameaças, desde muito cedo. Na visão de Winnicott, a subjetividade saudável alcança um sentimento de ser real e com potencial para continuar reinventando a si, somente se foi reconhecida primitivamente pelo olhar do outro. Para ser é preciso ser reconhecido, e, para ser capaz de estar só no mundo, é necessário ter sido antes, com alguém em sua constituição subjetiva. Trata-se de uma espécie de necessidade de amparo originário, ou primitivo.

Desamparo

Para Freud é justamente a condição imanente do desamparo que nos abre para os vínculos. (SAFATLE, 2019, p. 48). E, se a mãe é um dos primeiros e mais importantes vínculos do indivíduo em seu ingresso na vida, essa concepção freudiana ganha legitimidade também na teoria do amadurecimento de Winnicott.

Haveria, também em Freud, certa compensação do desamparo originário de ter nascido, nos cuidados maternos. E podemos pensar em termos de continuidade de vínculos e relações sociais, mais especificamente, em termos de relações sociais num ethos neoliberal. Aqui encontramos o ponto de toque de nossa discussão a partir de Foucault e Winnicott.

O neoliberalismo não pressupõe amparo, não pressupõe formas de relações pautadas pelo amparo. Desde o estado de abandono do sujeito pelo poder político, ao contexto das relações humanas. A generalização das competições, e do implícito “cada um por si”, praticamente inviabiliza o senso do coletivo, do reconhecimento das necessidades do outro. A sensação de ameaça é permanente, insegurança constante e de medo como afeto circulante. É como se o medo fosse o motor social. Um contexto político que abandona o sujeito à própria sorte e ao mesmo tempo faz circular o ideal fantasioso de que todas as realizações são possíveis. O neoliberalismo faz promessas que nunca desejou cumprir e a aposta nelas é a condição de sobrevivência física e psíquica. A sensação de insegurança, que é permanente nessa racionalidade específica, faz da busca pelo aperfeiçoamento de si, ou melhor dizendo, da busca pela constituição de sujeitos, física e intelectualmente mais competitivos, a realidade operante (SAFATLE, 2019, p. 47).

O neoliberalismo, do modo como funciona e como faz os indivíduos funcionarem, não pode prescindir do desamparo. É condição de sobrevivência desse ethos específico, de gestão das condutas e das subjetividades, que as relações que amparem sejam praticamente vetadas. Para Safatle (2019, p. 46), o neoliberalismo teria um funcionamento análogo ao estado de natureza, conforme descrito por Thomas Hobbes. Seria uma realidade social na qual impera o medo e o interesse pessoal. É como se de fato no campo do neoliberalismo estivéssemos todos em disputa pelos melhores lugares. A mera existência do outro se torna risco para os nossos interesses. O sujeito moderno estaria, assim, se colocando em constante suspeita, ao mesmo tempo que se defende de todos os supostos e reais perigos de entrar em colapso, ou de ser engolido pelo outro e perder seus lugares sociais. As competições se iniciam desde cedo e é justamente desde cedo que se investem em capitais humanos, que serão lançados na competitividade perpétua: ser o mais bonito, o mais bem-sucedido, o mais produtivo, culto, etc (DARDOT E LAVAL, 2016, p. 336).

O sujeito moderno (nós, de acordo com o entendimento de Foucault) é um sujeito que se vê reagindo às demandas de mercado, ou seja, trata-se de um sujeito que se constitui psiquicamente, já com a dinâmica das adaptações necessárias à realidade na qual vive, indiscriminadamente. São escassos os espaços de valorização da espontaneidade ou da construção do coletivo. (DARDOT E LAVAL, 2016, p. 321). E, podemos entender que em termos de relações sociais, são escassas as construções de espaços para a escuta, especialmente para a escuta dos sofrimentos que não tem status de legitimidade numa realidade na qual só os melhores se destacam. Se constroem relações humanas de natureza semelhante às do estado de natureza hobbesiano, pois são relações que radicalizam o desamparo também como motor político e social. É uma realidade na qual são cada vez mais raros os espaços para construções coletivas, cada vez mais escassa a noção própria de coletividade. Em última instância, trata-se de um espaço de relação das não relações, já que não se pode falar em relações sociais entre sujeitos num contexto onde a individualidade, o egoísmo e a ausência de escuta, são os imperativos (SAFATLE, 2019, p. 45).

Podemos dizer que o neoliberalismo generaliza o sentimento de abandono: os indivíduos estão entregues à própria sorte sendo, eles mesmos, os supostos produtores de seus sucessos e eventuais fracassos. Mas, ainda de acordo com Safatle (2019) estamos, aqui, diante de um paradoxo: há ao mesmo tempo a necessidade de superar o desamparo originário (do qual fala Freud) com a abertura para vínculos sociais que, entre outras coisas, nos compõe em termos psíquicos. Ao mesmo tempo, há certa hostilidade intrínseca no ethos da competitividade. Como conciliar então a racionalidade hostil e competitiva do neoliberalismo com a necessidade de ser amparado e reconhecido pelo outro?

Sujeito neoliberal e as invasões ambientais

A noção de homem empresa, bem como a de sujeito da eficácia, pressupõe a integração entre vida pessoal e profissional. Mais do que isso, pressupõe a implicação subjetiva em relações e em objetivos que são fundados pela lógica de mercado. Mais uma vez, estamos nos referindo à reprodução da dinâmica da negociação de si, não apenas para fins profissionais, mas para diversas esferas da vida. De acordo com Dardot e Laval (2016, p. 336) a empresa de si mesmo começa cedo e, cada vez mais cedo, há um investimento no potencial individual global desde quando se pergunta aquilo que se quer fazer da vida. Nesse sentido, todas as atividades se caracterizam como atividades empresariais “Tudo deve ser conquistado e defendido a todo momento. A criança mesmo deve ser empreendedora de seu saber” (DARDOT E LAVAL, 2016, p. 336). Operando por esse imperativo o que ocorre é que, cada vez mais cedo, as crianças são investidas pelas demandas por aperfeiçoamento intelectual em detrimento do incentivo lúdico, ético e emocional. É cada vez com menos idade que, sob um pano de fundo pedagógico de “estímulo”, as crianças têm suas agendas mais e mais preenchidas com atividades das quais ainda não tem sequer amadurecimento neurológico para compreender o propósito. Tudo se passa como se cada vez mais cedo o investimento seja em currículos que atendam aos ideais de competitividade, do que em sujeitos formados para a ética e para o amadurecimento psíquico.

Poderíamos afirmar que cada vez mais o que se observa é a constituição de miniempresas de si do que de futuros sujeitos integrados emocionalmente. Isso porque parece haver cada vez menos espaço para o lúdico e para a espontaneidade. A criança é, cada vez mais cedo, invadida por demandas do mundo muito antes de desenvolver capacidades mínimas em termos psíquicos para lidar com elas (ALMEIDA, 2019).

Ainda nesse caminho, a racionalidade neoliberal produz sujeitos que estão e precisam estar globalmente disponíveis. Há aqui uma transformação radical, portanto, na relação e na percepção acerca do tempo. (ALMEIDA, 2019). Estar disponível integralmente é uma conduta que parece cada vez mais se naturalizar. Então, as invasões ambientais (como diria Winnicott) se prolongam para além da infância e permanecem ao longo da história dos sujeitos se aplicando, inclusive, em sua relação com o tempo que cada vez menos é subjetivo e cada vez mais se torna coletivo. Se não se trata mais de colaboradores de empresas, mas de microempresas que competem entre si, é preciso estar atento e corresponder integralmente às “demandas de mercado”.

Entregue à própria sorte, sob a fantasia social da realização, o sujeito neoliberal parece ter cada vez menos percepção acerca do desamparo radicalizado. Impossibilitado de pensar acerca de possíveis angústias e, muitas vezes, iletrado para o sofrimento, o sujeito moderno busca modos de subtrair de si todas as dores que poderiam ser as denunciantes de modos sociais patológicos de relação. Podemos entender que o neoliberalismo está destruindo o cuidado e produzindo ilusão de gozo (DARDOT E LAVAL, 2016, p. 321).

Retomando Freud nesse ponto da discussão é possível inferir que o neoliberalismo está radicalizando o desamparo e impossibilitando relações éticas e/ou de reconhecimento. À medida que os sujeitos só se enxergam enquanto concorrentes, fica impossibilitada a legitimação mútua de emoções, a legitimação mútua de cuidado, que seria a saída, segundo Freud, para o desamparo inerente à entrada do ser humano no mundo.

Podemos afirmar ainda que o neoliberalismo fomenta invasões a sujeitos cada vez mais precocemente e, vimos com Winnicott, as possíveis consequências psíquicas desse processo de necessidade extrema e primitiva de se adaptar ao mundo para não ser, em termos psíquicos, aniquilado. Aqui temos uma das chaves desse contraponto entre neoliberalismo e a teoria do amadurecimento: o neoliberalismo é, podemos entender, a radicalização e a generalização do medo do colapso winnicottiano. Isto porque são nessas dinâmicas de formação subjetiva próprias ao ethos neoliberal que se encontram as características da impossibilidade de amparo. O ambiente, na racionalidade neoliberal, só pode ser o da instabilidade, aquele que tem o medo como afeto circulante, aquele que tem a adaptação à realidade como conduta obrigatória, aquele que tem o silenciamento da espontaneidade como condição de sobrevivência enquanto política vigente. O terreno instável produzido pela racionalidade neoliberal pode ser entendido como um dos terrenos produtores de sofrimentos psíquicos sem precedentes, e mais além, de subjetividades não integradas.

Na esteira de Winnicott, podemos inferir que, em linhas gerais, o sujeito neoliberal tem grandes chances de ser um sujeito não amadurecido, ou tolhido desde cedo em sua espontaneidade, dadas as exigências primárias de adequação à realidade externa. Nesse sentido, cabem os apontamentos de Mizrahi acerca de suas observações na clínica psicanalítica:

Podemos considerar que a atual carência de maternagem acolhedora se ancora possivelmente num contexto de apropriação biopolítica da vida que ultrapassa em muito o espaço familiar e dele se utiliza para fazer funcionar seus dispositivos. Nesse sentido, o encontro analítico não seria um contraponto apenas a um cuidado inicial falho, tal como possa ter sido apresentado ao bebê, mas também para os arranjos sociais que hoje desamparam até mesmo o adulto. Tendo sido perdida, como vimos, a consistência dos suportes coletivos, as mães não suficientemente boas daqueles que nos chegam para a análise talvez apenas repassem para seus filhos a invasão do viver espontâneo realizada hoje, das mais diversas formas, pelo poder. (MIZRAHI, 2010, p. 129).

Entendemos, assim, que no neoliberalismo, há uma radicalização do desamparo a qual é a radicalidade dos sujeitos sem relações e sem reconhecimento de suas subjetividades, processos tão importantes para a constituição saudável em termos psíquicos. Isto porque não há encontro possível com terrenos que sustentem o amadurecimento psíquico quando o ethos social é o do abandono do sujeito à própria sorte em todos os níveis.

Nesse ponto é possível afirmar o neoliberalismo se radicalizou de tal modo que não se utiliza mais somente as potências do corpo, mas se implicam e se constituem as subjetividades em ideais extremamente competitivos (ALMEIDA, 2019).

Considerações finais

Foucault e Winnicott são dois pensadores de escolas de pensamento tão diferentes que raras vezes são encontrados no mesmo estudo. Apesar disso, ambos, cada um a seu modo, fornece ferramentas que possibilitam reflexões acerca da constituição das subjetividades modernas (das nossas subjetividades). Foucault, com sua proposta fundamental de análise do sujeito em diferentes épocas nos permite pensar o cruzamento das subjetividades com a produção de verdades discursivas e extra-discursivas, incluídas aí, as relações políticas, como neoliberalismo, um dos temas de seus escritos. E Winnicott, por outro lado, nos permite conceber a subjetividade em termos éticos, já que propõe que a estruturação psíquica está fundamentalmente pautada pelo cuidado e pelo reconhecimento. Aqui apresentamos, não um diálogo, mas um contraponto winnicottiano às análises de Foucault acerca da subjetividade na racionalidade neoliberal.

Vimos que o neoliberalismo produz um contexto social de generalização de competitividade porque se pauta no investimento das produções de capital humano voltado para a lógica econômica. O ethos neoliberal, conforme proposto por Foucault e por alguns de seus interlocutores culmina na produção de subjetividades norteadas fundamentalmente para lógicas individualistas e busca incessante de sucesso. A nossa proposta aqui foi como que falar através de Winnicott acerca de implicações subjetivas, isto é, das consequências psíquicas desse processo social e político.

Foi possível verificar, nesse sentido, que a racionalidade neoliberal produz a generalização e a radicalização do sentimento de desamparo. Há uma tendência a produzir sujeitos aptos meramente a adaptação e não a criatividade e a espontaneidade, noções e realizações tão importantes no entender de Winnicott para a saúde psíquica. Há uma radicalização do desamparo porque praticamente não há possibilidade de cuidado do outro, há ao contrário, exigências do outro, constantes, às quais implicam em condição de sobrevivência e não de existir criativo.

Entendemos que Winnicott pode contribuir de modo contundente para a reflexão acerca de uma possível retomada ética do sujeito, o que implicaria, em termos foucaultianos, numa retomada do pensar ações de resistência.

Material suplementar
Referências
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Notas
Notas
3 Tema complexo, inaugurado em Les mots et les choses (1966), onde Foucault remonta à recente história tardia das ciências modernas que enquadrariam o homem em seus limites, assim, entregando-lhe significados específicos através da biologia, da filologia e da economia. O efeito por detrás de tais saberes modernos seria o da definição do homem, tanto como objeto, quanto como sujeito do saber. Deste modo, na medida das dissoluções de tais ciências, poderiam também emergir novos moldes ou, o fim próximo da personagem “homem”; por isso Foucault insiste na ideia de que o mesmo é uma peculiaridade do pensamento moderno. Em contrapartida, as analíticas da finitude analisam o sujeito partindo da ideia de que a subjetividade constituída poderá chegar a uma forma quase que essencial e definitiva (a fenomenologia e o marxismo são exemplos desta natureza). (cf. e.g. CASTRO, 2009, p. 211; ARAÚJO, 2008, p. 94-96; GUTTING, 1989, p. 198-200; SABOT, 2006, p. 126-129; GROS, 2017, p. 40-45)
4 Michel Foucault, uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica (1995), na tradução brasileira feita por Vera Porto Carrero.
5 Não definiremos exaustivamente, neste trabalho, esta importante questão presente na obra de Michel Foucault, por se tratar de um termo/conceito aprofundado, o qual nos demandaria tempo e nos levaria a outro debate. Já traçamos algumas de suas características em outros momentos (DE FREITAS, 2020a; 2020b; 2020c; DE FREITAS & BARROS, 2019).
6 Gostaríamos de lembrar a importância do contraponto de Brown a Foucault, qual seja, a de um esvaziamento ou esquecimento do político pelo econômico, isto é, a de um esquecimento do homo politicus, como figura que poderia contribuir muito mais para a compreensão dos sujeitos, no neoliberalismo, mas deixaremos suspensas tais críticas, devido nosso tempo e objeto de argumentação neste texto.
Autor notes
1 Doutoranda em Psicologia Clínica na Universidade de São Paulo (USP), São Paulo – SP, Brasil. Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo – SP, Brasil. Professora da Universidade Paulista (UNIP), São Paulo – SP, Brasil. Psicóloga Hospitalar do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo – SP, Brasil.
2 Doutorando em Psicologia Social na Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém – PA, Brasil. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém – PA, Brasil.
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