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Éthique de la communication et de l'information. Une initiation philosophique en context technologique avance
Larissa Farias Rezino
Larissa Farias Rezino
Éthique de la communication et de l'information. Une initiation philosophique en context technologique avance
Griot: Revista de Filosofia, vol. 21, núm. 3, pp. 448-453, 2021
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
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Éthique de la communication et de l'information. Une initiation philosophique en context technologique avance

Larissa Farias Rezino
Universidade Federal de São Carlos, Brasil
Griot: Revista de Filosofia, vol. 21, núm. 3, pp. 448-453, 2021
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Recepción: 20 Septiembre 2021

Aprobación: 22 Octubre 2021

BERNS, Thomas; REIGELUTH, Tyler. Éthique de la communication et de l’information. Une initiation philosophique en contexte technologique avance. Bruxelles: Éditions de l’Université de Bruxelles, 2021.

O livro “Éthique de la communication et de l'information. Une initiation philosophique en context technologique avance” - para melhor situar os leitores, a tradução literal seria: “Ética da Comunicação e da Informação. Uma introdução filosófica no contexto tecnológico avançado” - é uma publicação recente realizada em Maio de 2021. Escrito por Thomas Berns, professor de filosofia na Universidade Livre de Bruxelas com estudos em Filosofia Política e Filosofia do Direito, atualmente Berns pesquisa novas formas de normatividade; e por Tyler Reigluth, docente na Universidade Católica de Lille na cadeira de Ética, Tecnologia e Transumanismo do laboratório ETHICS. Reigluth articula Filosofia Política e Tecnologia concentrando suas pesquisas nos temas de aprendizagem e educação na era da Inteligência Artificial. A obra nasceu e se formou a partir de inúmeros cursos e disciplinas ministrados na Universidade Livre de Bruxelas, de modo que os estudantes desses cursos compõe de forma indireta e direta o trajeto argumentativo.

O livro chega em boa hora uma vez que estamos mais imersos no mundo virtual e tecnológico, devido ao contexto pandêmico, do que propriamente no mundo que se faz para além das telas. A tal ponto que o limite entre a virtualidade e a imanência encontra-se mais tênue – característica fortemente marcada na sociedade do século XXI. Mas que, em contrapartida, esse novo mundo virtual percursor das maiores tecnologias, permanece sendo um espaço obsoleto no que tange à esfera jurídica e, consequentemente, às noções e ações éticas. É uma obra que “nos convida a cuidar das nossas relações, sejam elas quais forem, não em nome de um princípio moral universalizante, mas em nome de uma necessidade política que cada um de nós pode experimentar em situações em que nenhum princípio pode ajudar” (BERNS; REIGELUTH, 2021, p. 159). O que deixa a temática ainda mais curiosa, pois o espaço virtual é, em inúmeros casos, um ambiente propriamente moralizante. Tais aspectos reforçam a importância do livro cuja temática gira em torno de um problema atual, e mesmo por isso, complexo, eminente e ainda pouco investigado.

Todavia, é um engano pensar que o avanço técnico está restrito ao plano virtual. Explanando a ideia segundo a perspectiva da obra, no momento histórico atual nada foge à comunicação e à informação. Elas se expandiram para todas as direções alcançando nossa genética, nossa saúde mental e indo até aos extremos como à estratégia militar. Os autores sublinham a relevância da comunicação e da informação em nossa realidade de tecnologias avançadas e, justamente, encontram nas tecnologias a massificação das informações na comunicação que se expande para os mais variados planos da vida humana seja jurídico, econômico, social, etc. Por tornar-se a máxima expressão da realidade é que a comunicação está cada vez mais genérica e atravessada por inúmeras formas de experiências. A comunicação tornou-se um aspecto central do sistema econômico dentro daquilo que os autores chamam de “capitalismo cognitivo2” que, por sua vez, é equivalente a "sociedade da informação". Assim, seria um vetor regulador de todos os elementos da vida comum a todo indivíduo, tanto na esfera publica e como na esfera privada, e o que garante a estrutura democrática na era pós-ideológica. Como esclarecem os autores no início da obra:

Da livre concorrência no mercado à relação entre casais, passando pela logística, estratégia militar, genética, organização política e saúde mental, nada parece escapar à comunicação e à informação. De fato, elas tendem a se tornar a expressão de uma realidade cada vez mais genérica e ubíqua, atravessando um número crescente de campos de experiência. A comunicação é [...] o elemento comum das ciências da vida, das ciências matemáticas e das ciências humanas. A simples disponibilidade da informação seria equivalente à transparência da realidade e a comunicação enquanto tal seria uma virtude moral para cultivar e difundir. A informação é o recurso constantemente valorizado, explorado e monetarizado, enquanto que a comunicação é a lógica universal que rege todas as nossas relações, todas as nossas trocas. Em suma, ela desenha a possibilidade de uma equivalência generalizada do conhecimento, da economia, do social, do político, do técnico, da vida... (BERNS; REIGELUTH, 2021, p. 11).

Uma vez que a estrutura social está gerenciada pela comunicação e pela informação, a própria noção ética tornou-se um desdobramento das mesmas. A dissipação da comunicação a tornou cada vez mais automatizada devido às novas tecnologias da informação que se apropriam e aprimoram a lógica da comunicação. De forma que um dos pontos centrais da obra parte da análise da transversalidade e da generalidade do fenômeno contemporâneo que atrela informação e comunicação para pensar, principalmente, questões sobre processamento de informações e acerca do futuro incerto da comunicação. Bem como a questão ética que paira sobre a realidade virtual. A comunicação aparece como um horizonte ético e as técnicas a ela inerentes se tornam instrumentos para a ação ética. Mesmo por isso a argumentação ética do livro tem como norte recusar toda e qualquer instrumentalização da filosofia pela tecnologia e toda e qualquer redução da tecnologia a um nível puramente instrumental.

O livro vai além do que, supostamente, propõe em seu título no uso da palavra “introdução” ou como a palavra “manual”, como sugerem os autores. Berns e Reigluth ressaltam que o caráter pedagógico da obra é o objetivo central. Segundo eles, o livro serve como um manual filosófico no sentindo de proporcionar as pessoas que o leem uma introdução ao universo da generalização da informação e da comunicação, como meio de subsidiar argumentos para pensar a possibilidade de uma ética nesse contexto. Para tanto, apresentam as tradições do pensamento ocidental que alicerçam a era contemporânea e as noções de técnica, do público/privado e da teoria do performativo. Um dos destaques desse livro consiste em uma espécie de observação atenta e crítica sobre a transversalidade e a generalidade dos fenômenos da informação e da comunicação, com a finalidade de responder a seguinte questão levantada: “O que é uma ética de comunicação?”.

Assim, ao longo de quatro capítulos, o livro percorre por pensamentos e temáticas de variadas épocas que compõem o leque das expressões máximas do universo em questão. Logo no primeiro capítulo, os autores abordam Martin Heidegger e Gilbert Simondon. O primeiro é um dos mais conhecidos pensadores do século XX e que com sua teoria sobre a techné pondera o uso técnico como uma expressão mais próxima do domínio da arte do que propriamente do domínio da ciência. Tal teoria é uma das principais referências na área. O segundo é um filósofo e tecnólogo francês contemporâneo. Sua teoria da individuação e o seu pensamento de especialistas na parte técnica, ainda discretos no Brasil, já se tornaram, para os pesquisadores da área, uma das principais referências no campo. Dadas as diferenças entre esses pensadores, os autores encontram um ponto comum visto na transversalidade da comunicação que se relaciona com o fenômeno técnico como um ponto de reflexão para a filosofia contemporânea. Ambos os filósofos geram ferramentas teóricas para os autores pensarem o tema da cibernética. Com Heidegger e Simondon, os autores questionam os fundamentos sobre os quais as alegações de generalização e de transversalidade da informação se baseia.

Sequencialmente, os autores pensam a publicidade e aquilo que é publico e privado tendo em vista a noção de que o espaço público tem uma ligação constitutiva com a lei e a liberdade – como é apontado por pensadores como Immanuel Kant e Jürgen Habermas, nomes ímpares para a história da filosofia. Através da perspectiva desses pensadores, os autores partem de uma tomada republicada que entende que o espaço público é visto como algo distinto tanto da esfera privada quanto do Estado. Ou seja, que foge dos interesses privados quanto do domínio do poder público. O limite entre o espaço público e o espaço privado na era da informação e da comunicação foi abandonado, o que rompe com a ideia utópica de que a comunicação é algo horizontalizado e livre. Essa nova lógica faz surgir um novo regime de comunicação que é desconfortável ao padrão comumente entendido como ético e força a sociedade atual a pensar novas formas éticas para lidar com esse espaço sem fronteiras claramente demarcadas.

No terceiro capítulo as questões giram em torno do tema da performatividade, ou melhor, seria dizer, sobre a lógica comunicativa entre o seu desenvolvimento e o seu limite: sobre a possibilidade de se comunicar e o tipo de comunicação que pode surgir, até mesmo a impossibilidade da comunicação e de se comunicar ou a impossibilidade de parar de comunicar. A performatividade “refere-se à ideia geral de que uma declaração linguística, um discurso, traz consigo uma forma de ação que produz um efeito e, portanto, tem certa eficácia” (BERNS; REIGELUTH, 2021, p. 105). Nessa direção, produz-se constantemente formas de comunicação que, de maneira consciente ou não, geram um efeito sobre o outro. Havendo, com isso, uma constância da comunicação e da reação sobre a forma que me comunico ao outro. “O desafio é compreender que tipo de ação é essa, a necessidade e a urgência com a qual produz o seu efeito, a vulnerabilidade e o poder que resulta para os sujeitos em questão e, finalmente, com qual critério a sua eficácia pode ser avaliada” (BERNS; REIGELUTH, 2021, p. 105). Para desenvolver tais ideias performativas os autores dialogam com uma variedade de pensamentos, como de John Austin, Jacques Derrida, Judith Butler, Pierre Bourdieu, para pensar as consequências técnicas e legais da teoria do performativo.

No último capítulo, os autores encerram o livro com uma pertinente investigação acerca das tecnologias por detrás dos processos de comunicação. Questões antes postas no livro retornam aqui de uma maneira mais especulativa a fim de levantar hipóteses sobre as práticas estatísticas e algorítmicas contemporâneas. Também neste capitulo, Berns e Reigluth problematizam o limite do o que é visto e do que não é visto no espaço da comunicação e da técnica em uma realidade em que tudo está conectado e se comunica sem que tenhamos claras as dimensões que a informação alcança ou não. Em outras palavras, “deixamos atrás de nós, muitas vezes sem o nosso conhecimento, vestígios digitais que são produzidos e processados para fins muitas vezes muito diferentes daqueles que pensamos ter através das atividades que os geram” (BERNS; REIGELUTH, 2021, p. 38). Por fim, os autores buscam estabelecer um diagnóstico desta nova situação que produz novas relações sociais, econômicas e, também, novas formas de governar que eles chamam de "governabilidade algorítmica" (gouvernementalité algorithmique).

No mais, os autores passam por outros pensadores e temas que compõem a argumentação de cada um dos quatros capítulos, como por exemplo: Friedrich Nietzsche, Wittgenstein, Jean-François Lyotard, Gilles Deleuze, e outros; para pensar outros temas do campo investigativo como a ideia de liberdade de expressão, conhecimento, especificidade, entre outros.

Do que foi dito até aqui, vale sublinhar que a “Éthique de la communication et de l'information. Une initiation philosophique en context technologique avance” apresenta uma serie de hipóteses filosóficas que confrontam a evidente relação entre tecnologia e comunicação, tendo como desafio central desmistificar os desdobramentos de tal relação como meio de iniciar questionamentos de forma profunda no pensamento filosófico contemporâneo. “Em suma, este livro propõe uma viagem filosófica que não procura tanto oferecer uma nova ética da informação e comunicação, mas sim produzir mudanças nos nossos quadros habituais de pensamento” (BERNS; REIGELUTH, 2021, p. 10), a fim de que “através desses deslocamentos, [seja possível desenvolver] certa sensibilidade ética, ou seja, uma disposição que tem o cuidado de reconhecer a confusão dos problemas comunicacionais contemporâneos, sem nunca tentar neutralizá-los ou desativá-los antecipadamente” (BERNS; REIGELUTH, 2021, p. 10). Os professores/autores apresentam um possível diálogo com as questões atuais por meio da investigação filosófica e não com a instrumentalização da própria filosofia diante de cenário confuso que cresce a cada dia. Mesmo por isso, não parece seguro pensar a obra de forma pejorativa, como um livro introdutório, mas para seguir a brecha aberta pelos escritores e pensá-la como um manual; diria, então, que é um livro-manual de primeiros socorros para o mundo contemporâneo.

Referência

BERNS, Thomas; REIGELUTH, Tyler. Éthique de la communication et de l’information. Une initiation philosophique en contexte technologique avance. Bruxelles: Éditions de l’Université de Bruxelles, 2021.

Notas

2 “O que é justamente chamado ‘capitalismo cognitivo’ aprofunda ainda mais a porosidade entre o público e o privado, ao ponto de que esta distinção se tornar frequentemente inoperante para apreender situações de comunicação eficazes” (BERNS; REIGELUTH, 2021, p. 137).

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