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A ambiguidade da definição ostensiva e a convergência entre Wittgenstein e Agostinho

The ambiguity of the ostensive definition and the convergence between Wittgenstein and Augustine

Clodoaldo da Luz 1
Universidade Federal do Paraná, Brasil

A ambiguidade da definição ostensiva e a convergência entre Wittgenstein e Agostinho

Griot: Revista de Filosofia, vol. 22, núm. 2, pp. 156-167, 2022

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Recepción: 17 Marzo 2022

Aprobación: 29 Mayo 2022

Resumo: A definição ostensiva, ao basear-se na ostensividade, visa indicar que a linguagem humana se norteia, tão somente, na gesticulação e indicação. Nesse sentido, semelhante teoria linguística exclui, em grande parte, a considerável eminência da simbologia e internalização inscritos na dinamicidade e interioridade inerentes à linguagem humana. Desse modo, a definição ostensiva, com a pretensão de ser a tese paradigmática sobre a linguagem humana, não a explicitaria, tampouco sintetizaria em si toda a riqueza presente na linguagem humana. Perante isso, o presente artigo visa refletir acerca da ambiguidade da definição ostensiva e a convergência entre Wittgenstein e Agostinho. Ambos, embora distante temporalmente, não endossam a definição ostensiva como base de suas teses sobre a linguagem humana. Assim, em primeiro lugar, será apresentada uma conceituação sobre a definição ostensiva. Para depois, investigar sobre a crítica de Wittgenstein sobre tal conceito linguístico e, por fim, ponderar que, também, Agostinho não tem a definição ostensiva como base de sua concepção sobre a linguagem.

Palavras-chave: Definição ostensiva, Linguagem humana, Wittgenstein, Agostinho.

Abstract: The ostensive definition, based on ostensiveness, aims to indicate that human language is based only on gesture and indication. In this sense, such linguistic theory largely excludes the considerable eminence of symbology and internalization inscribed in the dynamics and interiority inherent to human language. Thus, the ostensible definition, with the intention of being a paradigmatic thesis about human language, would not explain or synthesize in itself all the richness present in human language. Before that, or this article intends to reflect on the ambiguity of the ostensive definition and the convergence between Wittgenstein and Augustine. Both, temporarily distant, do not endorse the ostensible definition as the basis of their theses about human language. Also, first, a concept about the ostensive definition will be presented. Deepen Wittgenstein's critique of such a linguistic concept and, finally, consider that Augustine did not have an ostensible definition as the basis of his conception of language.

Keywords: Ostensible definition, Human language, Wittgenstein, Augustine.

Introdução

Wittgenstein, conforme se verá, fora um ferrenho opositor da definição ostensiva pelo fato dela ter a pretensão de tentar abarcar a essência das coisas e, assim, de ser conceituada como o modo paradigmático da apreensão, aprendizagem e assimilação da linguagem. Todavia, não tão somente Wittgenstein se mostrou avesso a semelhante concepção, pois, Agostinho, embora distante de tal problema, conceberá que a ostensividade não caracteriza o modo exemplar de apreensão e ensino da linguagem, tampouco pode conceder ao homem a possibilidade de desvelamento da realidade.

Ambos concordam que a definição ostensiva não desvela ao homem a essência da realidade e nem pode, de forma imprescindível, ajudá-lo na gênese e desenvolvimento da linguagem. Contudo, divergem acerca da tese fundamental sobre a qual seria o norte da comunicação. Perante tal panorama, será, primeiramente, apresentada uma definição sobre a definição ostensiva; para, num segundo, discorrer acerca da crítica de Wittgenstein sobre tal conceito linguístico; e por fim, refletir sobre o arrimo da linguagem segundo a concepção agostiniana.

Conceituação da definição ostensiva

O filósofo austríaco, Ludwig Wittgenstein (1889-1951), fora, sobretudo nas Investigações Filosóficas, um crítico ferrenho de uma possível relevância demasiada ao aspecto designativo da linguagem.

Semelhante superestimação é atribuída à contemporaneidade filosófica ocidental, a qual, ao empoderar de forma incisiva da ostensividade, concebe que ela contém e aponta ao homem o que seria a essência, não tão somente da linguagem, mas também da própria coisa:

há os que afirmam que as palavras designam pura e simplesmente as coisas singulares, pois, além de coisas singulares e palavras, nada existe. Ou, então, numa outra linha muito mais forte na tradição ocidental, diz-se que com uma palavra se podem designar muitas coisas, porque as palavras designam não coisas singulares, mas a essência comum a muitas coisas. O comum a todas elas é a essência, é aquilo que faz com que a cadeira seja cadeira, por exemplo (OLIVEIRA, 2006, p. 120).

A definição ostensiva, ao designar pela palavra o rol de coisas que nela poderiam ser enquadradas, não pretende designar pelo gesto e/ou palavra tão somente a coisa. Sua pretensão vai além de indicar e assemelhar várias coisas, pois intenta desvelar a própria coisa ao homem, mostrando a sua essência. Ao querer mostrar o que faz cada objeto ser ele mesmo, a definição ostensiva, num âmbito macro, deseja lograr ao homem a essência da própria realidade.

Desse modo, a definição ostensiva pode ser conceituada nesses termos:

A definição ostensiva é uma definição que procede por ostensão, ou seja, simplesmente mostrando o que se pretende. Por exemplo, como se alguém pudesse definir ostensivamente uma sombra como uma imagem real, ou o sabor de um abacaxi, simplesmente ao exibir um abacaxi. Desse modo, ficando na dependência da compreensão do ouvinte, a fim de saber qual recurso pode ser dispensado e qual seria a amplitude do exemplo a ser tomado. Uma ostensão direta é uma exibição do objeto ou característica pretendida, em que, ostensivamente, mostra-se uma coisa para chamar a atenção para outra. Por exemplo, alguém que mostra uma fotografia para indicar uma pessoa ou um termômetro para indicar a temperatura2 (Simon, 1996, p. 273, tradução nossa).

A definição ostensiva traz em si uma grande probabilidade de equívoco por causa da ambiguidade que a caracteriza. Isto porque, um mesmo objeto ou palavra pode trazer consigo uma variada gama de possibilidades. Por exemplo, uma pessoa que deixa dois dedos em riste pode querer expressar o número dois, ou ‘paz e amor’, ou as duas coisas ou mais.

O engano inscrito nesse aspecto da definição ostensiva, bem como seu limite e incapacidade de ser um pretenso fundamento para a linguagem será, conforme se verá, o porquê da crítica de Wittgenstein a semelhante concepção.

Os jogos de linguagem e as formas de vida como resposta à concepção da definição ostensiva

A problemática da linguagem permeou a obra filosófica de Wittgenstein, o qual após rever sua primeira grande obra Tractatus Logico Philosophicus de 1922, principiou, após o término da 2ª Guerra Mundial no ano de 1945, a elaboração de seu livro Investigações filosóficas, que fora lançado postumamente em 1953.

No princípio desta obra, Wittgenstein (Cf. 1999, p. 27) cita o seguinte trecho da obra Confissões de Agostinho:

Assim, pois, quando chamavam alguma coisa pelo nome, eu a retinha na memória e, se ao pronunciar de novo tal palavra, moviam o corpo na direção do objeto eu entendia e notava que aquele objeto era denominado com a palavra que pronunciavam, porque o chamavam quando o pronunciavam, porque assim o chamavam quando desejava mostrar.

Que esta fosse sua intenção, era-me revelado pelos movimentos do corpo, que são como linguagem universal, feita com a expressão do rosto a atitude dos membros e o tom da voz, que indicam os afetos da alma para pedir, reter, rejeitar ou evitar alguma coisa. Deste modo, das palavras usadas nas e colocadas em várias frases e ouvidas repetidas vezes, ia eu aos poucos notando o significado e, domada a dificuldade da minha boca, comecei a dar a entender minhas vontades por meio delas (AGOSTINHO, 2002, p. 37-38).

O respectivo excerto da referida obra agostiniana serviu de marco referencial para o autor das Investigações filosóficas conceituar a concepção que, segundo sua inferência, poderia ter sido o retrato da linguagem humana na visão agostiniana. Analisando este fragmento das Confissões de Agostinho, desconsiderando todo o restante da obra agostiniana, transparece que fora, de fato, a indicação ostensiva acompanhada com palavras a base do aprendizado da linguagem para Agostinho.

Por causa desse fragmento, Wittgenstein considera que Agostinho possa ter esboçado um quadro da linguagem:

Nessas palavras temos, assim me parece, uma determinada imagem da essência humana. A saber, esta: as palavras da linguagem denominam objetos – frases são ligações de tais denominações. – Nesta imagem da linguagem encontramos as raízes da ideia: cada palavra tem uma significação. Esta significação é agregada à palavra. É o objeto que a palavra substitui (Loc. Cit. WITTGENSTEIN, 1999, p. 27).

Nessa esteira, Wittgenstein transparece pontuar que Agostinho teria se servido da ostensividade como norte para alicerçar sua ideia acerca da linguagem do homem. A ostensão seria a base na qual palavra e objeto coincidiriam, em que a palavra seria não tão somente uma mera representação do objeto, mas sim a própria coisa, no sentido de mostrar a essência do mesmo objeto referenciado.

A exposição da concepção da linguagem de Agostinho é utilizada, segundo Matthews Cf. 2007, p.43-44), por Wittgenstein, no escopo de analisar e criticar uma concepção da linguagem de Gottlob Frege (1848-1925) e Bertrand Russel (1872-1970).

Segundo Baker e Hacker (Cf. 2009, p. 165), tal propósito, também é utilizado para solapar a concepção acerca da linguagem inscrita nas teorias linguísticas da Filosofia Moderna e Contemporânea. Isto porque é uma pressuposição do pensamento em voga na Filosofia Moderna – seja empirista, racionalista ou kantiana -, do idealismo representacional, não menos do que o idealismo puro, e do representacionismo cognitivo contemporâneo, que as línguas que todos nós falamos são linguagens privadas neste sentido, a ideia de que os fundamentos da linguagem, não menos do que os fundamentos do conhecimento jazem na experiência privada. Solapar esta imagem com todas as suas complexas ramificações é o propósito dos argumentos da linguagem privada de Wittgenstein.

Além destas críticas endereçadas, Wittgenstein, igualmente, busca retificar a sua concepção sobre a linguagem exposta no seu livro Tractatus Logico Philosophicus 3, escrita em 1922. Perante isto é que ao ler o início das sessões das Investigações Filosóficas, compreende-se facilmente que a particular imagem da linguagem que Wittgenstein atribui para Santo Agostinho ele, também, atribui para si em seu Tratado (Cf. FOGELIN Apud SLUGA; STERN, 1996, p.46).

Decerto, Wittgenstein, numa espécie de retratação, reconsideração de sua concepção linguística presente em seu Tractatus Logico Philosophicus, visa acentuar a complexidade da comunicação humana, a qual não que pode ser sintetizada na ostensividade.

Com a exposição do trecho das Confissões de Agostinho Wittgenstein pretende apresentar o que ele considera ser o quadro agostiniano da linguagem, o qual se funda num ensino ostensivo embasado na definição ostensiva, por indicação dos objetos e/ou conveniência tácita entre o emissário e o receptor, que mais se assemelha a um treinamento:

Pensemos numa linguagem para a qual a descrição dada por Santo Agostinho seja correta; a linguagem deve servir para o entendimento de um construtor A com um ajudante B. A executa a construção de um edifício com pedras apropriadas; estão à mão cubos, colunas, lajotas e vigas. B passa-lhe as pedras, e na sequência em que A precisa delas. Para esta finalidade, serve-se de uma linguagem constituída das palavras ‘cubos’, ‘colunas’, ‘lajotas’, ‘vigas’. A grita essas palavras; - B traz as pedras que aprendeu a trazer ao ouvir esse chamado – Conceba isso como linguagem totalmente primitiva.

Santo Agostinho descreve, podemos dizer, um sistema de comunicação; só que esse sistema não é tudo aquilo que chamamos de linguagem.[...]

Imagine uma escrita, na qual se utilizariam letras para a designação da acentuação e como sinais de pontuação...Imagine pois que alguém compreendesse aquela escrita, como se simplesmente cada letra correspondesse um som e como se as letras não tivessem também funções totalmente diferentes. A tão simples concepção da escrita equivale a concepção agostiniana da linguagem.

1. Quando se considera o exemplo do § 1, talvez se pressinta em que medida o conceito geral da significação das palavras envolve o funcionamento da linguagem como uma bruma que torna impossível a visão clara.[...]

O ensino da linguagem não é aqui nenhuma explicação, mas sim um treinamento.[...]

Uma parte importante desse treinamento consistirá no fato de quem ensina mostra os objetos, chama a atenção da criança para eles, pronunciando uma palavra, por exemplo, a palavra ‘lajota’, exibindo essa forma. Não quero chamar isto de ‘elucidação ostensiva’ ou ‘definição’, pois na verdade a criança ainda não pode perguntar sobre a denominação. Quero chamar de ‘ensino ostensivo das palavras’ (Op. Cit. WITTGENSTEIN, 1999, p. 27-28).

Na concepção de Wittgenstein a assimilação da linguagem seria semelhante a um adestramento, no qual a pessoa, obediente aos passos do adestrador, obteria o aprendizado, otimizando a comunicação interpessoal e chegando à suficiência para a salutar convivência e interação com os demais. Assim, sendo, o quadro da linguagem no viés agostiniano, conforme apresentado por Wittgenstein, teria como o baluarte, no processo de ensino e aprendizagem, a ostensividade das palavras, ou seja, o que mais tarde será conceituada como definição ostensiva.

Tal método presente no quadro agostiniano da linguagem indicado por Wittgenstein, ratifica que “as definições fornecem o único meio possível de correlacionar palavras com coisas...as definições ostensivas são a base da linguagem” (Op. Cit. MATTHEWS, 2007, p. 44). Significando, conforme Matthews, (Cf. Loc. Cit. 2007, p. 44) que a pessoa sai de seu isolamento epistemológico através da indicação e assinalação do nome das coisas para ela, fazendo-a capaz de expressar seus desejos por intermédio das palavras que foram ensinadas e, assim, apreendidas pela definição ostensiva.

O grande porém desta concepção da linguagem calcada na definição ostensiva é que ela se enreda na ambiguidade pelo fato de que o modo pelo qual cada experiência incide é de âmbito particular, sendo impossível a terceiros ter contato introspectivo destas experiências, pois elas são de fórum íntimo e inalienável; e o comportamento observável se dá pelo que é externado, o qual não transmite fidedignamente o que se quer exprimir e muito menos o que se está pensando o que se encontra na mente, levantando a problemática da ambiguidade, pela qual uma mensagem quer ser transmitida, no entanto outra é assimilada. Recaindo num ceticismo, perante a possibilidade da existência de linguagens privadas e no solipsismo, em que a experiência do eu é o que reflete e abarca o que há e é o que de fato exprime a realidade.

Ciente desta problemática referente a definição ostensiva, Wittgenstein analisa e expõem a incongruência desta concepção da linguagem frente a diversas possibilidades e ocasiões que envolvem a linguagem:

A definição do número dois ‘isto se chama ‘dois’ – enquanto se mostram duas nozes – é perfeitamente exata. – Mas como se pode definir o dois assim? Aquele a que se dá a definição não sabe então, o que se quer chamar com “dois”; suporá que você chama de “dois” este grupo de nozes! – Pode supor tal coisa; mas talvez não o suponha. Poderia também, inversamente, se eu quiser atribuir a esse grupo o de nozes um nome, confundi-lo com um nome para número. E do mesmo modo, quando elucido um nome para número. E do mesmo modo, quando elucido um nome próprio ostensivamente, poderia confundi-lo com um nome de cor, uma designação de raça, até com o nome de um ponto cardeal. Isto é, a definição ostensiva pode ser interpretada em cada caso como tal e diferentemente (Op. Cit. WITTGENSTEIN, 1999, p. 37, itálico do autor).

Tal dificuldade de padronização da linguagem, de modo que cada e todo gesto ou até mesmo palavra possa ser de entendimento universal, é devido a complexidade envolvida na comunicação humana. Perante isso, Wittgenstein pensou a linguagem como um jogo, suscitando, assim, sua teoria dos jogos de linguagem. Tal tese significa que o jogo de linguagem seria um sistema de comunicação pelo qual a pessoa aprende ou ensina a sua língua nativa, aprendendo dos demais as regras e a ‘jogabilidade’ dos gestos e das palavras para a sua interação com seus pares (Cf. Glock, 1996, p. 194).

Os jogos de linguagem, assim, como parte da resposta de Wittgenstein à definição ostensiva, prevê que é impossível enquadrar a linguagem em sua amplitude numa estrutura lógica. A elaboração de sua teoria dos jogos de linguagem traz consigo sua concepção dos modos de vida, nos e pelos quais ele corrobora o seu posicionamento contrário à eficácia da definição ostensiva devido a sua ambiguidade.

Eis os excertos que Wittgenstein ratifica tal posicionamento:

Chamarei esses jogos de ‘jogos de linguagem’, e falarei muitas vezes de uma linguagem primitiva como de um jogo de linguagem [...].

O termo ‘jogo de linguagem’, deve aqui salientar que o falar da linguagem é uma parte de uma atividade ou de uma forma de vida. Imagine a multiplicidade dos jogos de linguagem por meio destes exemplos e outros: Comandar, e agir segundo comandos – Descrever um objeto conforme a aparência ou conforme medidas – Produzir um objeto segundo uma descrição (desenho) – Relatar um acontecimento – Conjeturar sobre o acontecimento Expor uma hipótese e prová-la. Apresentar os resultados por meio de tabelas e diagramas – Inventar uma história; ler. Representar teatro Cantar uma cantiga de roda – Resolver enigmas – Fazer uma anedota; contar – Resolver um exemplo de cálculo aplicado – Traduzir de uma língua para outra – Pedir, agradecer, maldizer, saudar, orar. - É interessante comparar a multiplicidade das ferramentas das linguagens e seus modos de emprego, a multiplicidade das espécies de palavras e frases com aquilo que os lógicos disseram sobre a estrutura da linguagem. (E também o autor do Tractatus Logico-Philosophicus.) [...].

Esta e sua correlata, a elucidação ostensiva, são, como poderíamos dizer, um jogo de linguagem peculiar. Isto significa propriamente: somos educados, treinados para perguntar: 'Como se chama isso’ – ao que se segue a denominação [...].

Quem chega a um país estrangeiro aprenderá muitas vezes a língua dos nacionais por meio de elucidações ostensivas; e precisará frequentemente adivinhar a interpretação dessas elucidações, muitas vezes correta, muitas vezes falsamente (Op. Cit. WITTGENSTEIN, 1999, p. 30.35-36.37.39, itálico do tradutor).

A assimilação dos respectivos jogos de linguagem, por meio dos quais o gesto e/ou a palavra pode ser compreensível, está a cargo dos modos de vida. Esses fazem parte do emaranhado e complexo relacionamento interpessoal, no qual a pessoa tem a tarefa de assimilar e perpassar, num âmbito cooperativo, as instruções e a normatividade ‘jogáveis’ para si e para os demais participantes. Deste modo, pode-se pensar o modo de vida como uma cultura ou uma formação social, em que a totalidade das atividades comuns, embutidas nos jogos de linguagem, são incorporadas (Cf. Op. Cit. Glock, 1996, p. 125).

Os múltiplos jogos de linguagem presentes na comunicação humana também se deve, conforme visto em Wittgenstein, pelos modos de vida. Assim, semelhante teoria suscitada por Wittgenstein elucida que as variadas ferramentas presentes na linguagem dependem e muito do modo pelo qual se vive. Isto porque as conveniências já postas em determinada sociedade ou modo como se vive determinam demasiadamente a significação da palavra e do gesto.

O seguinte trecho reforça tal ideia: “Assim, pois, você diz que o acordo entre os homens decide o que é correto e o que é falso?’ – Correto e falso é o que os homes dizem; e na linguagem os homes estão de acordo. Não é um acordo sobre as opiniões, mas o sobre o modo de vida” (Op. Cit. WITTGENSTEIN, 1999, p. 98, itálico do autor).

A maneira de como se vive marca e demarca fortemente a significação da comunicação verbal e não verbal. Um exemplo disso pode ser visto numa comunidade na qual o gesto de deixar dois dedos em riste, para os membros de alguma comunidade, signifique paz e amor. Porém, para outras pessoas pode representar V de vitória. Dessa forma, a definição ostensiva não seria capaz de abranger a totalidade da significância gestual e verbal, tampouco a essência das coisas e muito menos da realidade.

É possível perceber que os jogos de linguagem estão em uma importante dependência em relação aos modos de vida, pois são criados e incutidos nos modos de vida (Cf. Op. Cit. Glock, 1996, p. 197). Semelhante relação de subordinação se deve, ao que tudo indica, pelo fato de que as pessoas, ao visarem sua convivência, têm em mente o modo pelo qual o farão; depois desta decisão, a qual muitas vezes ocorre de forma tácita, os membros se articulam para estabelecer as regras, as normativas e a significância de cada gesto e/ou palavra. Desse modo, o modo de vida elegido constitui o moderador para a incorporação ou não do que constitui os jogos de linguagem, bem como a maneira de sua ‘jogabilidade’.

Assim, a desconfiança de Wittgenstein na eficácia da definição ostensiva, no que tange a transmissão e a recepção de informação devido a sua ambiguidade, demonstra as limitações de tal concepção. Partindo deste pressuposto, a concepção da linguagem em Agostinho, assenta-se, de fato, na definição ostensiva conforme apresenta Wittgenstein?

Uma possível resposta a essa indagação pode residir no fato de que Wittgenstein, ao indicar a concepção de Agostinho sobre a linguagem, analisa e critica a versão sobre como Agostinho aprendera as primeiras palavras como fora exposto nas Confissões, mas sem tomar por inteira a reflexão de Agostinho sobre esse fato. Pois, Wittgenstein “omite importantes observações preliminares que figuram no começo desse parágrafo. Essas observações são cruciais para o entendimento de Agostinho sobre aprendizagem ostensiva” (MATTHEWS, 2006, p. 52).

O fato de desconsiderar outros trechos da obra agostiniana, por parte de Wittgenstein, segundo aponta Matthews, consiste num deslize que o levou para uma consideração equivocada acerca da tese de Agostinho em relação à linguagem humana. Por isso, em essência, faz-se oportuno apresentar a ideia de Agostinho acerca da linguagem humana.

A tese agostiniana do Mestre Interior e a convergência entre Wittgenstein e Agostinho

A definição ostensiva, diferentemente da indicação de Wittgenstein, não é a base da concepção agostiniana no que se refere a linguagem. Eis a passagem que ratifica tal assertiva:

Não mo ensinaram os mais velhos apresentando-me as palavras com certa ordem e método, como logo depois fizeram com as letras; mas foi por mim mesmo, com o entendimento que me deste meu Deus, quando queria me manifestar meus sentimentos com gemidos, gritinhos, e vários movimentos do corpo, a fim de que atendessem a meus desejos; e também ao ver que não podia exteriorizar tudo o que queria, nem ser compreendido por todos aqueles a quem me dirigia (AGOSTINHO, 2002, p. 37).

O fragmento acima das Confissões indica que Agostinho (354-430) não sustenta a sua concepção sobre a linguagem humana na definição ostensiva. Perante semelhante constatação fica a questão: se Agostinho, conforme visto, rechaça a ostensividade como marco referencial da linguagem humana, qual seria a sua tese no que se refere semelhante temática?

Uma possível resposta a tal questionamento pode ser encontrada em outro livro de Agostinho: De Magistro (em português Do Mestre). Essa obra é mencionada por ele na sua obra Confissões: “Há um livro meu que se intitula Do Mestre, no qual Adeodato dialoga comigo” (AGOSTINHO, 2002, p. 196, itálico do autor).

Dialogando com Adeodato, Agostinho chega à inferência de que a finalidade da linguagem consiste em aprender e ensinar (Cf. AGOSTINHO, 2002, p. 354). Num ponto posterior da discussão Agostinho interpela Adeodato acerca da possibilidade de se ensinar uma mensagem através de uma indicação ostensiva. Nesse questionamento está envolta a temática de uma aprendizagem baseada numa ostensividade:

A discussão em Do Mestre passa então a tratar de questões se o significado de uma palavra pode ser mostrado apontando. Essa é a questão da aprendizagem ostensiva.[...]

A aprendizagem ostensiva, tal como é discutida por Agostinho com Adeodato, inclui não só apontar com um dedo para o objeto significado, mas também demonstrar ou mostrar alguma coisa sem um sinal (MATTHEWS, 2007, p. 50-51, itálico do autor).

As discussões sobre a possibilidade de a ostensividade lograr ao homem a possibilidade de ensinar e aprender traz a negação de Adeodato a respeito dessa possibilidade. Isto ocorre, após Agostinho questionar se é possível por meio de mostrar tudo o que se pretende fazer somente por meio de indicações e sem maiores explicações (Cf. AGOSTINHO, 2002, p. 394).

Eis a resposta de Adeodato:

Por exemplo: se quando estou fazendo outra coisa, alguém me perguntasse que é caminhar e eu, imediatamente, buscasse demonstrar-lhe a coisa sem usar sinais começando a caminhar, como poderia evitar que ele entendesse que caminhar é apenas o quanto andei? Ora se ele pensar isso, teria sido levado ao engano, pois julgará que quem andar mais, ou menos, do quanto eu andei, não caminhou (AGOSTINHO, 2002, p.394).

Aqui, na resposta de Adeodato, já se tem uma crítica sobre a ostensividade como parâmetro e paradigma de como se deve transmitir a mensagem. Assim, na obra agostiniana, já apresentando uma limitação da ostensividade como modo de aprendizagem e aperfeiçoamento da linguagem humana, traz uma crítica ao que posteriormente, mais especificamente na modernidade e contemporaneidade, será conceituado como definição ostensiva.

Nessa esteira, à luz da resposta da discussão entre Agostinho e Adeodato, o simples gesto de andar, não importando se são muitos ou poucos passos, não consegue em si transmitir a ideia de caminhar para o receptor. Mesmo que se dê passadas largas ou curtas não se consegue, a contento, passar a mensagem exata. Assim, muitas poderiam ser as suposições: a ideia de se estar com pressa, de querer ir passear, de estar pensativo, de estar andando de forma descompassada, etc.

Deste modo, no exemplo agostiniano fica patente que o simples gesto de caminhar não consegue trazer em si a ideia de caminhar, tampouco a sua essência. Além do que,

O exemplo do caminhar torna-se emblemático em Do mestre para a ambiguidade de ostensão. Sem dúvida, caminhar é diferente de estugar o passo. Caminhar também é diferente de, digamos, andar de um lado para o outro, dar 55 passos, ficar perambulando e uma série de outras coisas que um demonstrador poderia ter usado para exemplificar sua demonstração. A aprendizagem ostensiva está, segundo parece, crônica e inevitavelmente infestada de tais ambiguidades. (Op. Cit. MATTHEWS, 2007, p.51, itálico do autor).

Ser ambígua, perante a asserção de Matthews, é o distintivo da definição ostensiva. Diante dessa constatação, é possível apontar que a concepção agostiniana da linguagem humana vai de encontro com a definição ostensiva.

Sob essa ótica, pode-se entender a ponderação de Agostinho, no diálogo com Adeodato, sobre a debilidade de tal metodologia ao citar o exemplo de alguém que ensina com justaposição de gestos outro a caçar:

Agostinho...Pergunto: se alguém, que não conhece as armadilhas que se tendem aos pássaros com varas e visco, deparasse com um caçador com este arnês, e que vá indo pelo caminho sem ter começado ainda sua tarefa e, este vendo o caçador, apressasse o passo, e estranhando em seu íntimo tudo aquilo, se perguntasse o que poderia significar aqueles apetrechos; e o caçador, sentindo-se observado e admirado, para fazer mostra de si, exibisse a cana e o falcão, conseguisse atrair e apanhar um passarinho, diga-me: o caçador, sem usar de Sinai, mas usando a própria coisa, não estaria a ensinar ao seu espectador o que esse queria saber?

Adeodato: Parece-me que o caso é semelhante àquele que mencionei, isto é, de quem pergunta o que é caminhar. Neste caso também não acho que foi mostrada toda arte de caçar (Op. Cit. AGOSTINHO, 2002, p.397).

O exemplo do caçar, trazido por Agostinho, elucida que a ostensividade não consegue ser eficiente para mostrar ao homem o que é caçar. Sob essa esteira, é incapaz de perpassar com clareza a mensagem pretendida. Pelo contrário, facilmente pode levar ao engano, podando as possibilidades de uma salutar interação e dialogicidade. E, consequentemente, não desvela a essência das coisas ao homem.

Com estes pressupostos a crítica e a análise de Wittgenstein, apontando que Agostinho “descreve o aprendizado da linguagem humana como se a criança chegasse a um país estrangeiro e não compreendesse a língua desse país; isto é, como se ela já tivesse uma linguagem, só que não essa” (Op. Cit. WITTGENSTEIN, 1999, p. 39), não condiz com a concepção agostiniana sobre a linguagem, por diferir do quadro agostiniano da linguagem apresentado por Wittgenstein. Pois tanto um quanto o outro não coadunam e não assentam suas concepções sobre a linguagem no ensino e aprendizagem ostensivos provenientes da definição ostensiva. Assim, eles convergem neste ponto. Todavia, divergem acerca de qual seria a teoria mais plausível acerca da linguagem humana.

Deste modo, quais seriam as teorias que ambos apresentam para refutar a predominância da ostensividade e para assentar seus respectivos posicionamentos sobre a linguagem humana? Uma possível resposta que dá conta de solucionar a referida indagação passa por uma consideração de Matthews, na qual aponta que Agostinho

era tão cético sobre a eficácia da aprendizagem ostensiva quanto Wittgenstein. Mas ao passo que Agostinho responde a esse ceticismo com um parente próximo do inatismo platônico, Wittgenstein responde com um recurso a ‘critérios externos’ e, de um modo geral, a jogos de linguagem e a formas de vida, para a atribuição de ‘episódios internos’ (MATTHEWS, 2007, p.104).

A ponderação de Matthews elucida a postura cética de Agostinho e Wittgenstein quanto a uma eficiência da ostensividade na linguagem humana. Esse é o ponto convergente dos dois, contudo, estão distantes na resposta à ostensividade.

Wittgenstein, conforme visto, norteia sua reflexão sobre a linguagem humana nas suas teses dos jogos de linguagem e das formas de vida. Por seu turno, valendo-se da matriz filosófica neoplatônica, Agostinho, ao assumir um posicionamento cético em relação a uma pretensa eficiência da ostensividade na aprendizagem, apreensão e aperfeiçoamento da linguagem humana, tem na sua teoria do Mestre Interior a sua base:

Quanto às coisas que compreendemos, não consultamos a voz de quem fala, que é exterior, mas a verdade que dentro de nós reside, em nossa mente, estimulados, talvez pelas palavras a consultá-la. Quem é consultado ensina em verdade, e este é o Cristo que habita, como foi dito, no homem interior, isto é a verdade única de Deus e a eterna Sabedoria, que toda alma racional consulta, mas que se revela ao homem na medida de sua própria boa ou má vontade (AGOSTINHO, 2002, p.40)1.

A tese do Mestre Interior instaurada por Agostinho indica Deus na condição da fonte da verdade e, de forma consequente, da gênese, apreensão e aprimoramento da linguagem humana. Já, por outro lado, Wittgenstein, percebendo a riqueza da multiplicidade da interação humana e se escorando em elementos extrínsecos ao homem, aponta para a flexibilidade e conveniência presente nas relações humanas, pois suas teorias dos jogos de linguagem e dos modos de vida indicam que a linguagem não constitui tão somente o uso e rearranjo de palavras, senão o contexto, por meio do qual a comunicação verbal e não verbal pode adquirir várias significações e, por isso, é de uma flexibilidade e conveniências mutáveis e flexíveis (Loc. Cit. FOGELIN Apud SLUGA; STERN, 1996, p. 46).

Deste modo, além dos jogos de linguagem, o contexto, o modo de vida, delineia uma rica pluralidade e diversidade na linguagem humana. Com efeito, evidenciando a adaptabilidade humana que se faz presente na comunicação e interação interpessoal. Haja vista que a sociabilidade, propiciada e alavancada pela linguagem, não é enrijecida, senão viva, dinâmica e contextualizada.

Já em Agostinho imbuído pela busca da Verdade, que em sua concepção habita em si, juntamente com a centralidade no sagrado, indica que “deveríamos afastar completamente da fala ordinária para aprender diretamente de Cristo, que é, ao mesmo tempo, o Mestre Interior e o Verbo Divino” (MCGRADE, 2008, p. 102), pois nele “se torna possível a comunhão dos homens em uma mesma verdade” (GILSON, 2006, p. 155), pelo fato de que “A verdade fundamenta-se na razão das coisas e foi estabelecida por Deus” (AGOSTINHO, 1991, p. 140-141).

A comunicabilidade humana serviria, segundo Agostinho, como o meio salutar para a busca da Verdade. Pelo fato de a Verdade ser revelada pelo Mestre interior, a linguagem é adquirida, ensinada e otimizada no homem pelo dom concedido do Mestre ao aprendiz, no caso de Deus ao homem. No viés agostiniano, a interação iterativa humana, por meio da linguagem, é, também, possibilitada para satisfazer o anelo à Verdade. Tendo em vista que, ao serem criadas e estabelecidas pelo Mestre Interior, todas as coisas convergem para Ele e Nele se fundamentam. Enfim, a linguagem é concedida ao homem pelo Mestre Interior, o Qual o capacita e o convida à união com os seus pares, visando contemplar a Verdade.

Na convergência entre Wittgenstein e Agostinho frente a ambiguidade da definição ostensiva, é perceptível a certeza dos dois quanto a eficácia de tal metodologia diante da problemática da linguagem. Perante isso, conquanto, sejam distintos sobre os elementos que subsidiam e norteiam as suas análises sobre a linguagem humana, as suas concepções convergem na elucidação da ambiguidade inscrita nos limites da definição ostensiva.

Considerações finais

Wittgenstein e Agostinho, embora distam acerca da tese central sobre a linguagem, ‘são próximos’ no que tange uma possível implausibilidade de o homem aprender a ser comunicar, de forma entendível, e apreender a realidade por meio da definição ostensiva.

O primeiro, ao suscitar a tese dos jogos de linguagem, critica veemente a definição ostensiva como o modo exemplar de aprendizagem, assimilação e maturação do conhecimento. O segundo, conquanto, não tenha se detido, e nem poderia fazê-lo, a refutar a definição ostensiva, afasta-se dela ao conceber que o Mestre Interior ensina intrinsecamente o homem.

Referências

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AGOSTINHO, Santo. Confissões. De magistro. Tradução de Alex Marins. São Paulo: Martin Claret, 2002.

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DANCY, Jonathan; SOSA, Ernest; STEUP, Matthias (organizadors). A Companion to Epistemology. 2ª ed. Oxford: Wiley-Blackwell A John Wiley & Sons, Ltd., Publication, 2010.

GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. Tradução de Cristiane Negreiros Abbud Ayoub. São Paulo: Discurso Editorial/Paulus, 2006.

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Oliveira, Manfredo Araújo de. Reviravolta Linguístico-Pragmática na Filosofia Contemporânea. 3ª ed., São Paulo: Loyola, 2006.

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WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico Philosophicus. Tradução de José Arthur Giannoti. São Paulo: Editora Nacional, 1961.

Notas

2 No original. “Ostensive definition: A definition that proceeds by ostension, or in other words by simply showing what is intended, as one might ostensively define a shade such as magenta, or the taste of a pineapple, by actually exhibiting an example. It relies on the hearer's uptake in understanding which feature is intended, and how broadly the example may be taken. A direct ostension is a showing of the object or feature intended, whilst in deferred ostension one shows one thing in order to direct attention to another, e. g. when showing a photograph to indicate a person, or a thermometer to indicate the temperature” (Loc. Cit. Simon, 1996, p. 273).

3 No prefácio da sua obra Investigações filosóficas, Wittgenstein chega a reconhecer que há “erros graves que publicara no primeiro livro” (Op. Cit. WITTGENSTEIN, 1997, p. 25). Dentre as teorias que almeja corrigir é a da afiguração, a qual concebe que o mundo é afigurado pela palavra, de que a palavra exprime a realidade: “A figuração é um modelo da realidade. Na figuração, seus elementos correspondem aos objetos” (WITTGENSTEIN, 1961, p. 59).

Notas de autor

1 Doutorando(a) em Filosofia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba – PR, Brasil.
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