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Chope dos Mortos – a tradução de jogos de palavras em um estudo direcionado pelo corpus
Nilson Roberto Barros da Silva
Nilson Roberto Barros da Silva
Chope dos Mortos – a tradução de jogos de palavras em um estudo direcionado pelo corpus
Beer hall of the dead – the translation of puns in a corpus-driven study
Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, vol. 11, núm. 1, pp. 24-42, 2018
Universidade Federal de Minas Gerais
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Resumo: Este trabalho discute a tradução de jogos de palavras (JPs) na direção português-inglês, mais especificamente o JP intitulado ‘Chope dos Mortos’, que faz parte do romance O xangô de Baker Street (SOARES, 1995). O artigo é o recorte de nossa tese de doutorado, e tem como objetivo analisar a tradução do JP citado para a língua inglesa. Utiliza-se da abordagem teórico-metodológica da Linguística de Corpus para selecionar o JP como dado a ser analisado na pesquisa e identifica-se como um estudo direcionado pelo corpus, conforme discutido por Tognini-Bonelli (2001). A análise baseia-se principalmente nas estratégias de tradução de JPs apresentadas por Delabastita (1996) e considera, dentre outras, as postulações de Raskin (1985) e Attardo (1994). Como resultado, verifica-se que as estratégias de tradução usadas para recriar (traduzir) o JP em inglês são compatíveis com a estratégia JP → JP, em que um JP é traduzido por outro na língua-alvo, sendo permitidas diferenças em termos de estrutura formal, estrutura semântica ou função textual.

Palavras-chave:TraduçãoTradução,Jogos de palavrasJogos de palavras,Linguística de CorpusLinguística de Corpus.

Abstract: This study discusses the translation of puns in the Portuguese-English direction, more specifically the pun 'Beer hall of the dead', which is part of the novel O xangô de Baker Street (SOARES, 1995), translated into English as 'A samba for Sherlock'. The article derives from our doctoral thesis, and aims to analyze the translation of the pun into the English language. It uses the theoretical-methodological approach of Corpus Linguistics to select puns as data to be analyzed and is characterized as a 'corpus-driven approach' as discussed by Tognini-Bonelli (2001). The analysis is based mainly on the strategies of pun translation presented by Delabastita (1996) and takes into account theoretical conceptions of Raskin (1985) and Attardo (1994). As a result, it verifies that the translation strategies used to recreate the pun in English are compatible with the PUN → PUN strategy, in which a pun is translated by another one in the target language, being allowed differences in terms of formal structure, semantic structure, or textual function.

Keywords: Translation, Puns, Corpus Linguistics.

Carátula del artículo

Linguística e Tecnologia

Chope dos Mortos – a tradução de jogos de palavras em um estudo direcionado pelo corpus

Beer hall of the dead – the translation of puns in a corpus-driven study

Nilson Roberto Barros da Silva
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Brasil
Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, vol. 11, núm. 1, pp. 24-42, 2018
Universidade Federal de Minas Gerais

Recepción: 04 Marzo 2018

Aprobación: 25 Abril 2018

1 Introdução

O estudo do qual emana o presente artigo parte da constatação de que há uma quantidade pouco expressiva de pesquisas envolvendo a análise da tradução de jogos de palavras (JPs), especialmente na direção português-inglês. Sendo assim, considerando a quantidade significativa de JPs no romance O xangô de Baker Street (SOARES, 1995), este trabalho tem como objetivo geral analisar o tratamento dado ao JP ‘Chope dos Mortos’ pelo tradutor do romance (CLIFFORD LANDERS) para a língua inglesa, com o auxílio do aparato teórico-metodológico da Linguística de Corpus.

Um aspecto importante dos JPs é que esse tipo de texto1 normalmente envolve humor (CHIARO, 1992) e, possivelmente em razão disso, pode ser observado em situações diversas de comunicação, como em conversas informais, palestras, exposições em salas de aula; jornais e revistas, dentre outros. Trata-se, portanto, de um tipo de texto presente no cotidiano das pessoas, e, sendo uma manifestação da língua, não poderia passar despercebido dos estudos linguísticos.

Beckett (1957 apud DELABASTITA, 1996, p. 127), faz um gracejo envolvendo a questão dos JPs com uma passagem bíblica do Gênesis (Antigo Testamento): “no princípio havia o jogo de palavras”2. Ao comentar a citação, Delabastita (1996) propõe que os JPs são inerentes à própria linguagem e, portanto, “naturais à mente humana”3, o que sugere que os JPs se vinculam à estrutura das línguas. Se a proposição de Delabastita (1996) está correta e, se de fato, os JPs representam a manifestação linguística de um fenômeno que diz respeito ao processamento da linguagem humana, então o fato em si é motivo para que esse tipo de texto tenha um lugar nos estudos linguísticos. O autor vai além e propõe uma reflexão acerca dos JPs e de sua tradução para outras línguas, tema central desta pesquisa. A questão posta por Delabastita (1996) é: se, de fato, os efeitos e os sentidos nos JPs relacionam-se diretamente à estrutura da língua em que são produzidos, o que fazer para que esses efeitos e sentidos funcionem em outra língua? É sobre essa questão que este trabalho pretende refletir, pois, embora já se tenham passado 26 anos da afirmação de Chiaro (1992, p. 2) de que “[...] são poucos os estudos que consideram JPs em contraste com outras línguas”4, a realidade atual não apresenta mudanças relevantes.

Portanto, com vistas a atingir seu objetivo principal, o estudo tem como objetivo específico verificar se as estratégias empregadas na tradução do JP são capazes de recriar seus efeitos e sentidos no texto-alvo. Esse objetivo baseia-se na hipótese de que não é possível garantir, em todos os casos de tradução de JPs, que os seus efeitos e sentidos funcionem igualmente no texto-alvo.

2 Humor e a tradução de jogos de palavras

Se, por um lado, concordamos com Redfern (1984), para quem os JPs não precisam ser necessariamente, engraçados, por outro, observamos que o humor faz-se presente em uma grande quantidade desse tipo de enunciado. Para Chiaro (1992), por exemplo, humor e JPs são realidades inseparáveis. Sendo assim, esta seção inicia-se com uma discussão mais teórica sobre humor para, mais adiante, debruçar-se sobre a tradução de jogos de palavras.

2.1 O humor em teoria

A teoria dos dois scripts, como é normalmente referida no Brasil a Semantic Script Theory of Humor, de Victor Raskin (1985), tem raízes na Gramática Gerativa, proposta por Noam Chomsky, em 1965. Para Raskin (1985), se o falante de uma língua é capaz de distinguir uma frase gramatical de uma agramatical (postulado da gramática gerativa), também é capaz de distinguir um enunciado humorístico de um não humorístico. É o que se pode chamar de ‘competência humorística’.

A hipótese principal da teoria dos dois scripts é que “um texto pode ser caracterizado como piada, se atender às seguintes condições: a) É compatível, totalmente ou em parte, com dois scripts diferentes; b) Os dois scripts são opostos” (RASKIN, 1985, p. 99 apud ATTARDO, 1994, p. 197)5.

A noção de script é fundamental para a compreensão da teoria do humor desenvolvida por Raskin (1985). De acordo com Attardo (1994, p. 198), um script é: [...] uma porção organizada de informação a respeito de alguma coisa (no sentido mais amplo). É uma estrutura cognitiva internalizada pelo falante, que lhe proporciona informação sobre como as coisas são feitas, organizadas etc.6

Em outras palavras, um script pode ser entendido como uma rede finita de informações acerca de um determinado tópico. As informações contidas em um script podem ser exemplificadas a partir do adjetivo ‘almofadinha’, atribuído ao personagem Alberto Fazelli, de O xangô de Baker Street, personagem responsável pela elaboração do JP ‘Chope dos Mortos’, em análise na seção 5 deste artigo. O modelo de script a seguir é adaptado de Attardo (1994).

Sujeito: Menino, rapaz, homem

Atividade: Atividades diversas, atividades que exijam pouco esforço físico

Gosta de dar ordens

Boemia

Local: Locais diversos, clubes, casa, sofá

Condição: Em geral, menino mimado

Pessoa muito delicada

Não pode ser constrangido

A sobreposição de scripts é um dos aspectos fundamentais da teoria de Raskin (1985) e está intimamente relacionada com o fator oposição. No processo de combinação dos scripts presentes em um enunciado humorístico é possível observar que uma mesma porção de texto é compatível, no todo ou em parte, com mais de uma possibilidade de leitura ou interpretação. Por exemplo, a sequência de fatos em que uma mulher: recebe um convite pelo telefone, vai tomar banho, troca de roupa e sai de carro, pode encaixar-se no script IR A UM BAR, (local onde se passam os acontecimentos presentes no JP selecionado para este trabalho), ou a qualquer outro lugar, como ao teatro, cinema etc., da mesma forma que poderia se encaixar no script IR A UM MOTEL. Nesse exemplo, há uma sobreposição total, já que o texto é totalmente compatível com ambas as possibilidades.

O desfecho de uma piada se dá, geralmente, com a mudança de um script para um script oposto, esse fato é o grande responsável pelo efeito chistoso, o riso. A mudança de scripts se dá por meio do que Raskin (1985) chamou de script-switch trigger, isto é, o ‘gatilho’, que pode ser uma pergunta, afirmação etc. que faz com que o conteúdo semântico da interação passe de um script a outro. A afirmação de que a sobreposição de scripts é um dos aspectos fundamentais da teoria dos dois scripts não deve ser interpretada como condição única para a construção do humor. Com efeito, esse é um fator que não pode ser deixado em segundo plano, no entanto, há textos que revelam a presença de scripts sobrepostos sem que haja, necessariamente, a intenção humorística (ATTARDO, 1994, p. 203), como é o caso, por exemplo, de textos poéticos, ambíguos etc.

De acordo com Attardo (1994, p. 204), “a oposição de scripts se enquadra em três classes: verdadeiro vs. não-verdadeiro, normal vs. anormal, possível vs. impossível. As três classes são exemplos de uma oposição básica entre situações reais e irreais nos textos”7.

Outro aspecto fundamental da teoria dos dois scripts tem relação com o Non-Bona-Fide Communication Mode (Modo não Confiável de Comunicação) (RASKIN, 1985), ou o Modo não bona-fide de contar piadas, conforme ideias de Possenti (1998, p. 22) e Rosas (2002, p. 32). Ainda que haja a pressuposição de que a piada ou o discurso humorístico, qualquer que seja, implique a negação da verdade, uma vez que ele lança mão de exageros, absurdos etc., Raskin (1985 apud ROSAS, 2002, p. 33) sugere que “[...] o discurso humorístico não é simplesmente uma negação da comunicação ‘séria’: ele se apoia num princípio de cooperação particular, cuja base está na mudança do modo de comunicação”. Em outras palavras, o modo de comunicação próprio das piadas (e de JPs, por extensão) não viola o princípio de cooperação de Grice (1975), que se baseia na contribuição/cooperação entre os interlocutores para um bom fluxo da conversação, conforme exigido, no momento em que ela ocorre (apud ROSAS, 2002, p. 32).

Considerando aspectos pragmáticos da língua e o fato de que, segundo Grice (1975 apud KOCH, 1992, p. 27), “[...] o princípio básico que rege a comunicação humana é o princípio da cooperação”, temos um princípio cooperador que se resume no estabelecimento de quatro máximas ou postulados conversacionais:

- Máxima da Quantidade: não diga nem mais nem menos do que o necessário.

- Máxima da Qualidade: só diga coisas para as quais tem evidência adequada; não diga o que não sabe ser verdadeiro.

- Máxima da Relação (Relevância): diga somente o que é relevante.

- Máxima do Modo: seja claro e conciso; evite a obscuridade, a prolixidade, etc”. (KOCH, 1992, p. 27-28).

Para Raskin (1985), a interação humorística seguiria um tipo diferente de cooperação comunicativa, responsável pela introdução do ‘modo não confiável de contar piadas’. Trata-se, portanto, do estabelecimento de um ‘novo contrato’, que também se resume em quatro máximas:

- Máxima da Quantidade: Dê exatamente o tanto de informação necessária à piada.

- Máxima da Qualidade: Diga apenas o que é compatível com o universo da piada.

- Máxima da Relação: Diga apenas o que é relevante para a piada.

- Máxima do Modo: Conte a piada de maneira eficiente. (RASKIN, 1985, p. 103).

As máximas conversacionais conforme apresentadas por Raskin (1985) representam, portanto, a ‘apropriação’ das máximas conversacionais de Grice (1975) ao universo ‘restrito’ das piadas. Os pontos apresentados serão retomados na seção 5 deste artigo, na qual se analisa a elaboração e a tradução do JP ‘Chope dos Mortos’. A seguir faz-se uma revisão do quadro de estratégias de Delabastita (1996) para a tradução de JPs.

2.2 As estratégias de tradução de jogos de palavras por Delabastita (1996)

Este trabalho adota a definição de JP apresentada por Delabastita (1996), para quem, de modo geral, JPs são fenômenos textuais em que características estruturais das línguas são exploradas com o objetivo de gerar um confronto comunicativo de estruturas linguísticas com formas mais ou menos semelhantes e sentidos mais ou menos diferentes.

Ao discutir a tradução de JPs, Delabastita (1996) traz à tona uma questão central à pesquisa que dá origem a este artigo: a própria traduzibilidade dos JPs. Além disso, o autor discute aspectos teóricos subjacentes à tradução de JPs e à tradução de qualquer tipo de texto, como a proposição de que a ideia de traduzibilidade encontra-se sempre atrelada à visão de tradução de cada indivíduo. É o que se verifica na citação a seguir:

Na verdade, há muito mais em questão do que a simples pergunta: jogos de palavras são traduzíveis? Para começar, qualquer resposta a essa questão tende a ser teoricamente tendenciosa na medida em que vai depender do tipo de tradução que se tem em mente (em termos de tipos e graus de equivalência, bem como de gêneros e situações comunicativas), mas também da própria posição do falante em face à atividade de tradução (se a pessoa está falando como um professor de tradução, como um tradutor profissional, um crítico, um teórico, um historiador, um filósofo da linguagem)8 (DELABASTITA, 1996, p. 127, grifo do autor).

A tradução de JPs, assim como a tradução de enunciados humorísticos em geral, nas suas mais diversas formas de manifestação, tem sido objeto de debates (às vezes de controvérsias) tanto no âmbito dos Estudos de Tradução quanto fora dele. Nessas circunstâncias, ressalta-se a pertinência da discussão apresentada por Delabastita (1996), na citação anterior, não se trata de uma simples questão de possibilidade ou impossibilidade de traduzir. Como afirma o autor, há bem mais em jogo, os resultados, as estratégias e a própria realização, não apenas da tradução de JPs, mas também de poesia ou de humor em geral, dentre outros, encontram-se intimamente relacionados àquilo que se julga ser ‘tradução’.

É tendenciosa qualquer afirmação acerca da traduzibilidade de JPs, assim como é tendenciosa qualquer afirmação acerca da traduzibilidade de outros tipos de textos, inclusive daqueles que, aparentemente, não apresentam grandes desafios ao tradutor, como a maioria dos textos jornalísticos, cartas etc. Isso porque a tradução ocorre na língua, e essa não é um objeto de contornos bem definidos, como assinala Arrojo (2002).

Para estudiosos como Katharina Reiss e Hans Vermeer (1996), a tradução de qualquer tipo de texto baseia-se na função que desempenhará o texto traduzido. De modo geral, a ideia é que o texto traduzido funcione tão bem quanto o texto ‘original’. Para esses autores, questões como a transferência vs. reconstrução dos sentidos ou fidelidade vs. liberdade encontram-se em segundo plano.

A propósito de tradução e de JP, Redfern (1997, p. 264) postula que a atividade de tradução em si, independentemente do tipo de texto, envolve o “lidar com jogos de palavras”9 . Ela implica (por parte do tradutor) ter o que o autor chama de punning mind, isto é, uma mente que seja aberta a um grande número de associações e que as realize de forma rápida.

Para Toury (1997), que discute a questão da traduzibilidade de spoonerismos, em primeiro lugar, e de JPs, por extensão, traduzibilidade relaciona-se principalmente a questões de aceitabilidade, ou seja, o status do gênero textual na comunidade cultural onde está inserido é decisivo para que seja aceito como texto, traduzido ou não. Por outro lado, o autor ressalta que a noção de traduzibilidade de textos em geral tem sido tratada como uma ideia de gradação. Em outras palavras, tradução e traduzibilidade não são aspectos estanques que simplesmente se realizam ou não, mas que se realizam até certo ponto.

Quanto à traduzibilidade de JPs propriamente, este trabalho baseia-se no quadro de oito estratégias de tradução de JPs apresentado por Delabastita (1996), conforme modelo a seguir.

1) JP → JP: o JP do texto-fonte é traduzido por um JP no texto-alvo que pode diferir do JP original, em termos de estrutura formal, estrutura semântica ou função textual, como, por exemplo, o JP a seguir10, construído com base no duplo sentido da palavra ‘comer’. Neste trabalho, ‘TF’ refere-se a ‘texto-fonte’ e ‘TA’ refere-se a ‘texto-alvo’.

TF: Quando ela está para atravessar os portões do quartel, o sargento grita do meio do pátio:

- Agora, que ele é comunista, é, ou não estaria preso. Aqui se faz, aqui se paga, é ou não é? Cuidado, hein, tia! Eu não sei se, além de criancinhas, os comunistas também não comem viúvas.

Maria Eugênia jamais conseguiu descobrir se havia ou não um duplo sentido nas palavras de Olegário.

TA: As she is about to go through the barracks gate, the sergeant shouts from the middle of the courtyard: ‘But he is a commie, or he wouldn’t be in prison. We reap what we sow. Am I right or am I right? Be careful, aunt. I don’t know if besides babies the communists eat widows too.’

Maria Eugênia never managed to discover whether or not Olegário’s words had a double meaning.

2) JP → não JP: o JP é traduzido por uma frase em que não há JP. A frase pode preservar seus dois sentidos, mas em um texto em que não há JP, ou selecionar um dos sentidos em detrimento do outro. Pode também ocorrer que ambos os componentes do JP sejam traduzidos de forma completamente diferente do texto-fonte. Um exemplo desse tipo de estratégia é:

TF: […] O homem que estou buscando tem quatro indicadores.

A informação supera a capacidade de entendimento de Olegário.

Como assim? Esse sujeito conhece quatro informantes da polícia?

Nada disso. Ele tem um indicador extra em cada mão.

TA: […] The man I’m looking for has twelve fingers.

This information surpasses Olegário’s capacity to assimilate it.

Huh? The guy’s in charge of a dozen police informers?

Not at all. He has an extra forefinger on each hand.

3) JP → RRR (Recurso Retórico Relacionado): o JP é substituído por um recurso retórico a ele relacionado, como repetição, aliteração, rima, referências diversas, ironia, paradoxo etc., que têm como objetivo recapturar o efeito do JP do texto-fonte. A tradução do enunciado a seguir reflete esse tipo de estratégia:

TF: Um vulto voa em volta da viga.

TA: A mass moves over the mast.11

4) JP → zero: o trecho que contém o JP é simplesmente omitido no texto-alvo.

TF: Quem dá sopa pra malandro é cozinheira de cadeia.12

TA: ___________________________________________

5) JP TF = JP TT: o tradutor reproduz o JP do texto-fonte e, na medida do possível, seu contexto imediato, na forma original, sem, de fato, traduzi-lo. Em outras palavras, o JP do texto-fonte é transcrito no texto-alvo, conforme procedimento observado no JP a seguir:

TF: Consta que uma edição italiana do Kama-Sutra, recolhida imediatamente de circulação, dedica um capítulo aos prazeres conseguidos por um homem com dois indicadores adicionais conhecido pela alcunha de Il Manusturbatore.

TA: It is documented that an Italian edition of the Kama Sutra, immediately withdrawn from circulation, dedicates a chapter to the pleasure that is attained by a man with two extra forefingers, known by the nicknameIl Manusturbatore.

6) Não JP → JP: o tradutor insere um JP em partes do texto em que não há JP no texto-fonte. Esse procedimento ocorre principalmente como forma de compensação, cujo objetivo é contrabalançar a perda de JPs no texto-alvo. Segue um exemplo dessa estratégia de ‘compensação’:

TF: HIT THE BARS AFTER WORK.

Happy hour is happier when the recreation you choose is good for both body and mind. That’s why more and more people are devoting that time to biking, walking or working out. It can improve your outlook, increase your energy and decrease your risk of heart disease. And it’s guaranteed not to cause a morning hangover. To learn more, visit our web site at www.americanheart.org or call 1-800-AHA-USA1.

American Heart Association

Fighting Heart Disease and Stroke

TA: DEPOIS DO TRABALHO FAÇA UM BRINDE À SAÚDE13

Seu fim de tarde fica mais gostoso quando a atividade que você escolhe faz bem tanto para o corpo quanto para a mente. É por isso que mais e mais pessoas estão optando por andar de bicicleta, caminhar ou malhar, em vez de praticar levantamento de copo. São escolhas que podem melhorar seu visual, aumentar sua energia e diminuir o risco que você corre de ter problemas cardíacos. Tudo isso com a vantagem de não causar ressaca na manhã seguinte. Para maiores informações, visite a nossa página no endereço www.americanheart.org ou ligue para 1-800-AHA-USA1.

American Heart Association

Combatendo as doenças coronárias e o derrame cerebral.

7) Zero → JP: o tradutor adiciona material textual totalmente novo contendo JP, sem justificativa aparente no texto-fonte. A estratégia é utilizada especialmente como um recurso compensatório.

TF: The sun holds such bright promise as a clean, renewable energy source. And yet for years, it remained out of reach. Clean, yet too expensive.

TA: O sol abriga uma promessa radiante como fonte de energia limpa e renovável que, no entanto, continua fora de alcance. Uma fonte de energia limpa, mas ainda muito cara.

Fontes de energia não renováveis, como o petróleo, por exemplo, têm ‘prazo de validade’ e vão se esgotar mais cedo ou mais tarde, por isso, é necessário encontrar meios de tornar a energia do sol uma alternativa viável. Energia para o futuro: eis a SOLução!14

8) Técnicas Editoriais: notas de rodapé ou de fim de documento, comentários em prefácios e posfácios, notas do tradutor, apresentação de soluções diferentes e/ou complementares para o mesmo problema do texto-fonte etc.

Embora as técnicas editoriais sejam apresentadas por Delabastita (1996) como estratégias de tradução, na verdade são usadas principalmente para comunicar fatos acerca do processo e do resultado da tradução.

Dentre as estratégias apresentadas, as cinco primeiras descrevem procedimentos tradutórios a partir de JPs (por exemplo, JPs previamente identificados em um texto-fonte). São elas: 1) JP → JP; 2) JP → não JP; 3) JP → RRR (Recurso Retórico Relacionado); 4) JP → zero e 5) JP TF = JP TT. Em contrapartida, as três últimas estratégias não partem de JPs propriamente, mas da ausência desses em determinado trecho do texto-fonte, em contraste com o texto-alvo. São elas: 6) Não JP → JP; 7) Zero → JP e 8) Técnicas Editoriais.

A pesquisa da qual resulta este artigo, por sua vez, parte da análise de JPs que foram identificados por meio da exploração de linhas de concordância geradas a partir de itens da lista de palavras-chave do romance O xangô de Baker Street (SOARES, 1995). Portanto, em função da metodologia aplicada, a pesquisa parte da análise de JPs (previamente identificados), e não da ausência deles no texto-fonte. Por essa razão, as cinco primeiras estratégias apresentadas por Delabastita (1996) se aplicam à investigação enquanto as três últimas não, já que não partem de JPs, mas de situações relacionadas à sua ausência no texto-fonte. Contudo, apresentou-se o quadro completo de estratégias de tradução de JPs por Delabastita (1996), com o intuito de propiciar a visão geral da proposta do autor.

Na seção a seguir discorre-se acerca da interface entre a Linguística de Corpus e a tradução e se observa que a Linguística de Corpus tem sido usada em outros trabalhos de tradução envolvendo jogos de palavras.

3 Linguística de Corpus e tradução

Bowker e Pearson (2002, p. 9) definem a Linguística de Corpus (LC) como

[...] uma abordagem ou metodologia para o estudo do uso da língua. Trata-se de uma abordagem empírica que envolve o estudo de exemplos do que as pessoas de fato dizem, em vez de criar hipóteses sobre o que elas poderiam ou deveriam dizer. A Linguística de Corpus também faz uso extensivo da tecnologia computacional, o que significa que os dados podem ser manipulados de uma forma que seria simplesmente impossível quando se lida com material impresso15.

Um aspecto central da LC diz respeito à própria noção de corpus (VIANA, 2010). Ao afirmar que “havia corpora antes do computador”, Berber Sardinha (2004, p. 3) refere-se ao fato de que a palavra latina corpus (plural corpora) designa um ‘corpo’ ou conjunto de documentos como, por exemplo, uma coletânea de textos jornalísticos, de frases engraçadas, de citações da Bíblia, e assim por diante. Nessa perspectiva, as pesquisas linguísticas que envolviam ou envolvem a análise desses materiais, ou outros do tipo, podem ser consideradas como sendo baseadas em corpus. Para Tognini-Bonelli (2012, p. 14), a Linguística histórica ou diacrônica “sempre foi baseada em corpus”16, uma vez que as principais evidências da evolução da língua são perceptíveis a partir da comparação entre si de textos de diferentes épocas e localizações (Cf. McCARTHY; O’KEEFFE, 2012).

Entretanto, com o surgimento, em 1964, do Brown University Standard Corpus of Present-day American English, o primeiro corpus eletrônico, e, mais tarde, com a popularização dos microcomputadores, a partir da década de 1980 (ZANETTIN, 2012; BERBER SARDINHA, 2004), a ideia de corpus linguístico em formato eletrônico ganha força e auxilia no desenvolvimento da LC como abordagem de pesquisa linguística. Pode-se afirmar que a LC, como se conhece hoje, nasce e se desenvolve juntamente com a noção de corpus computadorizado.

Por essa razão, se, para as mais diversas áreas que se dedicam à pesquisa linguística, a palavra corpus representa um conjunto de dados em geral, para a LC um corpus existe “necessariamente em formato eletrônico” (TAGNIN, 2013, p. 29). Mas, quais os pontos de convergência entre a LC e os Estudos da Tradução? É a esse respeito que se pretende discorrer a seguir.

A partir da década de 1970, principalmente, e com o amadurecimento das discussões envolvendo os Estudos da Tradução e o seu consequente reconhecimento internacional (VENUTI, 2000) como disciplina independente, a tradução vem se firmando e ganhando espaço na academia, como objeto de estudo. Com os novos tempos, novos desafios se somam às questões tradicionais. Isso aponta para a tradução como uma área em pleno desenvolvimento como um campo disciplinar, com questões ‘essenciais’ clássicas e também questões atuais a serem resolvidas com o auxílio de recursos materiais modernos e concepções teóricas novas.

Uma das questões que podem ser consideradas recentes nos Estudos de Tradução diz respeito à existência de características materiais do texto traduzido que são próprias desse tipo de texto. Ou seja, há evidências de que o texto traduzido apresenta características próprias que o distinguem de textos originais, como, por exemplo, a ‘simplificação’ (BAKER, 1993). Segundo essa perspectiva, o texto traduzido tende a ser mais simples que o original, apresentando sentenças mais curtas e linguagem menos variada do ponto de vista lexical, como forma de facilitação da leitura.

A investigação linguística como um todo tem registrado ganhos inequívocos com o desenvolvimento da LC, que propiciou à área dos Estudos de Tradução um ferramental novo e abordagens também novas para os estudos da linguagem. Se já havia corpus antes do computador (BERBER SARDINHA, 2004), conforme apontado anteriormente, também já havia corpus paralelo, ou seja, aquele que consiste de um conjunto de textos em uma língua e suas respectivas traduções em uma ou mais línguas (KENNING, 2012). Portanto, o uso de corpus (no sentido amplo de coleção de material para pesquisa) por tradutores em sua prática profissional não é novidade. Kübler e Aston (2012, p. 502), por exemplo, afirmam que existe entre esses profissionais “uma longa tradição do uso de ‘textos paralelos’ [...]”17. É importante ressaltar que, embora os autores se refiram a ‘textos paralelos’, na verdade estão falando de textos ‘comparáveis’, já que, segundo os próprios autores, essas coletâneas são “textos semelhantes, em domínio e/ou gênero ao texto-fonte e/ou texto-alvo” 18 (Cf. WILLIAMS, 1996).

Observa-se, no entanto, que a consulta a essas coletâneas de textos, antes do surgimento dos computadores e, portanto, em formato não eletrônico, demandava tempo e um grande volume de trabalho por parte do tradutor. Esse trabalho era ainda maior no caso de consultas aos textos comparáveis, com a finalidade de extrair informações relevantes à tradução, como, por exemplo, o levantamento de termos típicos de um domínio para a confecção de glossário a ser usado em um trabalho de tradução. Desse modo, uma das vantagens da utilização de corpora eletrônicos na tradução é justamente a possibilidade da consulta rápida e eficaz a uma grande quantidade de textos, com o auxílio de ferramentas computacionais desenvolvidas especialmente para esse fim.

Sem desprezar a utilidade de outros recursos para a tradução, como os dicionários, enciclopédias, as próprias ferramentas de busca disponíveis na internet etc., Kübler e Aston (2012, p. 503) enfatizam a relevância do uso de corpus. Sugerem que os corpora eletrônicos “permitem ao tradutor a aquisição e aplicação de habilidades centrais a sua atividade: as de interpretar e avaliar textos” 19.

Com a popularização dos microcomputadores e o desenvolvimento de ferramentas computacionais criadas especialmente para a exploração de corpora eletrônicos, os Estudos de Tradução passaram a contar com um novo paradigma de pesquisa, os estudos de tradução baseados em corpus. Para Tymoczko (1998), os estudos da tradução baseados em corpus (Corpus-based Translation Studies - CTS) promovem mudanças qualitativas e quantitativas tanto nos conteúdos quanto nos métodos da disciplina Estudos de Tradução. Uma das pioneiras a vincular a LC aos Estudos de Tradução foi Mona Baker, em Corpus Linguistics and translation studies: implications and applications (BAKER, 1993).

Pesquisas realizadas no domínio dos estudos de tradução baseados em corpus estendem-se pelos mais diversos campos de atuação da linguística e da literatura. Entretanto, como não se pretende traçar um panorama do estado da arte nesse domínio, chama-se a atenção apenas para os estudos que mais se aproximam dos objetivos desta pesquisa, como os trabalhos que tratam da convencionalidade, criatividade e idiossincrasias na linguagem: O jeito que a gente diz (TAGNIN, 2013); Arriving at equivalence. Making a case for comparable corpora in Translation studies (PHILIP, 2006); Lexis and Creativity in Translation – a Corpus-based Study (KENNY, 2001); Conventionality, Creativity and Translated Text: The Implications of electronic Corpora in Translation (STEWART, 2000).

Não foram identificados trabalhos baseados em corpora com foco principal na tradução de JPs, entretanto, dentre os trabalhos que abordam convencionalidade, criatividade e idiossincrasias na linguagem, Kenny (2001), no Capítulo 6, Lonely words – Creative Hapax Legomena and Writer-Specific Form, discute também a tradução de JPs. Ao discutir a tradução de linguagem criativa, “formas criativas de palavras existentes ou a criação de palavras novas”20 (KENNY, 2001, p. 142), a autora identifica e discute JPs utilizando, inclusive, a definição de Delabastita (1996), que é adotada também neste trabalho. Este estudo, por sua vez, distingue-se daquele realizado por Kenny (2001) – e dos demais apresentados anteriormente – por ter a tradução de JPs como enfoque principal. Além disso, ele analisa a tradução de JPs na direção português-inglês, enquanto a investigação de Kenny (2001) é feita na direção alemão-inglês.

Na próxima seção, discorre-se acerca da Linguística de Corpus enquanto metodologia e/ou abordagem (Corpus based/driven) e apresenta-se brevemente a forma pela qual se chegou à análise da tradução de Jps.

4 Metodologia

As pesquisas linguísticas que utilizam a Linguística de Corpus (LC) como abordagem ou metodologia dividem-se em dois grandes grupos principais: os ‘estudos baseados em corpus’ (corpus-based) e os ‘estudos direcionados pelo corpus’ (corpus-driven). Tognini-Bonelli (2001) faz uma distinção bastante didática com o intuito de caracterizá-los. Embora todas as pesquisas linguísticas que se baseiem em um corpus possam ser consideradas como ‘estudos baseados em corpus’, a autora, do ponto de vista metodológico, propõe que os ‘estudos baseados em corpus’ (corpus-based) são aqueles em que o pesquisador utiliza o corpus com o objetivo principal de testar e explicar suas hipóteses e que, nos ‘estudos direcionados pelo corpus’ (corpus-driven), o pesquisador não parte, necessariamente, de hipóteses previamente formuladas; é a observação dos dados que deve propiciar evidências para a sua formulação (Cf. BAKER, HARDIE e McENERY, 2006).

Embora essa não seja uma divisão consensual entre os estudiosos da área e se admita a pertinência da afirmação de McEnery e Hardie (2012, p. 150), para quem “essa distinção, na prática, é um pouco mais fluida”21, a pesquisa da qual este artigo é um recorte adota a classificação de Tognini-Bonelli (2001) e identifica-se principalmente como um ‘estudo direcionado pelo corpus’. Isso porque se considera que os dados analisados não foram escolhidos previamente, ou seja, antes da elaboração do corpus, mas foram selecionados a partir de padrões evidenciados pelo próprio corpus.

Para se chegar aos JPs do romance O xangô de Baker Street (SOARES, 1995), realizou-se a exploração da lista de palavras-chave do corpus, bem como a análise de linhas de concordância geradas a partir das palavras-chave. A lista de palavras-chave e as linhas de concordância foram geradas com o auxílio da ferramenta computacional WordSmith Tools 6.0 (SCOTT, 2012), especialmente desenvolvida para análise lexical no âmbito da Linguística de Corpus.

Na primeira parte da seção 5, a seguir, realiza-se a análise da elaboração do JP ‘Chope dos Mortos’, em português, evidenciando-se aspectos relacionados à construção do humor. Posteriormente, discute-se a tradução desse JP para a língua inglesa, com base no quadro de estratégias de tradução de Delabastita (1996).

5 Análise do JP ‘Chope dos Mortos’

No romance O xangô de Baker Street, o ‘Bar do Necrotério’, de propriedade do personagem Alemão, é conhecido também como ‘Chope dos Mortos’. O nome peculiar deve-se ao fato de o bar situar-se ao lado do ‘Depósito de Cadáveres da Ordem Terceira da Penitência’, no Largo da Carioca, Rio de Janeiro.

Um dos pontos mais frequentados pela boemia da cidade, o ‘Chope dos Mortos’ registra a presença de personalidades reais da literatura e da música brasileiras do século XIX, trazidos à ficção por Jô Soares. À mesa cativa dos fundos do bar, encontram-se Olavo Bilac, Aluísio Azevedo, Chiquinha Gonzaga, dentre outros personagens fictícios e não fictícios.

O JP em análise, apresentado a seguir juntamente com sua tradução para a língua inglesa, é proferido por Alberto Fazelli, personagem que sempre paga a conta da ‘malta’, forma como se autodenomina a turma de boêmios da qual fazem parte os personagens citados. Fazelli propõe mais uma rodada de chope para comemorar a capacidade de dedução de Chiquinha Gonzaga, a única representante do sexo feminino no grupo e também a única a matar a charada proposta pelo delegado Mello Pimenta, acerca do assassinato misterioso de uma mulher. É nesse contexto que Fazelli propõe o JP:

TF: Mais chope para os vivos, no "Chope dos Mortos!" - pediu Alberto Fazelli.

TA: More beer for the living in the Beer Hall of the Dead!" requested Alberto Fazelli.

O JP baseia-se em uma realidade extralinguística, ou seja, a sua construção envolve o engendramento de sentidos sem o recurso aos trocadilhos. Por colocar em paralelo duas realidades com sentidos opostos, quais sejam, ‘chope para os vivos’ e ‘Chope dos Mortos’, a estratégia de construção do JP apresenta afinidade com aquilo que Bergson (2001) define como ‘inversão’. O autor refere-se mais especificamente às cenas nas quais se registram trocas de papéis, como no caso do “réu que dá uma lição de moral no juiz” (BERGSON, 2001, p. 70) ou “da criança que pretende dar lições aos pais” (BERGSON, 2001, p.70). Contudo, o autor também afirma: “É assim que rimos [...] enfim daquilo que se classifique sob a rubrica do mundo às avessas” (BERGSON, 2001, p. 70, grifo do autor).

De forma semelhante, Raskin (1985) sugere que um texto pode ser caracterizado como humorístico se for compatível, de forma integral ou parcial, com dois scripts que se oponham em um sentido especial, como, por exemplo, morte/vida, bom/mau, triste/alegre.

Se, por um lado, o efeito humorístico de um enunciado não pode ser determinado ou garantido a priori, porquanto aquilo que é engraçado para uma pessoa ou comunidade pode não o ser para outra, por outro lado, percebe-se que o JP em análise procura ser engraçado, ou, pelo menos, procura divertir os interlocutores.

Vale ressaltar que, se o objetivo do enunciado fosse simplesmente realizar a função comunicativa de solicitar mais chope ao dono do bar, é provável que o personagem Fazelli tivesse pronunciado apenas algo como ‘Mais chope!’ ou ‘Mais chope para a turma!’ etc., e não ‘Mais chope para os vivos, no Chope dos Mortos’, já que, em geral, tende-se a comunicar obedecendo ao princípio da economia linguística.

Isso leva a uma questão de interesse que envolve as máximas conversacionais de Grice (1975), um desdobramento daquilo que define como ‘princípio de cooperação’. Segundo Rosas (2002, p. 32), o princípio de cooperação de Grice pode ser definido como: “Contribua para a conversação conforme exigido, no momento em que ela ocorre, pelo objetivo ou rumo da troca verbal de que você está participando”. Decorrem daí os subprincípios, ou máximas conversacionais de Grice, conhecidas como máximas da ‘relação’, da ‘qualidade’, da ‘quantidade’ e do ‘modo’.

Conforme proposto, se a intenção do personagem Fazelli fosse apenas a de solicitar ao dono do bar que mais chope fosse servido à mesa, o mais provável é que ele tivesse atendido à máxima da ‘quantidade’, que, por sua vez, se desdobra em “a) torne sua contribuição tão informativa quanto necessário (aos objetivos do intercâmbio em questão); b) não torne sua contribuição mais informativa que o necessário” (ROSAS, 2002, p. 32).

Contudo, ao requisitar mais chope para a ‘malta’, Fazelli se estende além do que seria necessário para a realização da função comunicativa. À solicitação de mais chope, ele acrescenta o óbvio: ‘para os vivos’. A percepção é que o personagem realiza o acréscimo com o objetivo principal de viabilizar a ‘inversão’ por meio da frase que completará o JP: ‘no Chope dos Mortos’. Ao expressar o enunciado, o personagem transmite uma quantidade de texto notadamente superior àquela que em geral se observa nesse tipo de interação, a de solicitar mais bebida no bar. Logo, o personagem ‘infringe’ a máxima da ‘quantidade’.

Embora não esteja no escopo desta análise uma discussão mais densa acerca dos mecanismos linguísticos responsáveis pela realização do humor, entende-se como relevante para este trabalho a seguinte questão: o humor resultaria da violação de uma das máximas conversacionais propostas por Grice? Para Attardo (1994), a resposta é sim, já que, segundo ele, “uma grande quantidade de piadas envolve a violação de uma ou mais das máximas de Grice [...]. Data da época do próprio Grice a alegação de que as piadas poderiam ser vistas em termos de violações das máximas [...]” (ATTARDO, 1994, p. 271)22. Ao reportar essa violação das máximas de Grice como estratégia para a elaboração de piadas, e, por extensão, de humor, o autor refere-se a uma violação consciente, deliberada, e em harmonia com o mesmo princípio de cooperação do qual emanam as referidas máximas. É o que se depreende da proposição a seguir:

Na discussão de Grice acerca das máximas, um dos usos cooperativos possíveis das máximas é a sua desobediência, ou seja, a sua violação patente (Grice usa 'flagrante'), que permite ao ouvinte inferir que uma determinada máxima está sendo violada na medida em que outra máxima está sendo obedecida (Grice 1989:30). O exemplo de Grice é a resposta à pergunta sobre como vai X em seu novo trabalho, com “Ele gosta de seus colegas e não foi pra cadeia ainda”. Em face disso, a resposta viola a máxima da relevância, mas em se presumindo que o falante continua comprometido com o Princípio Cooperativo, pode-se inferir que a máxima está sendo desobedecida, a fim de sugerir que X é (potencialmente) desonesto (ATTARDO, 1994, p. 273)23.

Por outro lado, a percepção de Rosas (2002) é que esse tipo de interação em que o interlocutor ‘transgride’ uma máxima com o objetivo de criar efeito de humor (na definição de Raskin, a mudança do modo de comunicação confiável/bona-fide para o não-confiável/não bona-fide) não implica propriamente uma violação das máximas conversacionais de Grice, mas caracteriza

[...] simplesmente o estabelecimento de um novo tipo de contrato, cujas regras diferem daquelas que regulam a comunicação usual. [...] pois, como já observara o próprio Raskin, o discurso humorístico não é simplesmente uma negação da comunicação ‘séria’: ele se apoia num princípio de cooperação particular, cuja base está na mudança no modo de comunicação, que deixa de ser bona-fide para tornar-se não bona-fide (ROSAS, 2002, p. 32-33).

Independentemente do nome atribuído à violação proposital das máximas conversacionais de Grice, o que está posto, a partir da discussão dos autores citados, é que se trata de uma estratégia que visa à realização do efeito humorístico. Este trabalho, por sua vez, adota a forma apresentada por Rosas (2002) e passa a tratar o fenômeno do distanciamento intencional de uma das máximas conversacionais de Grice como “o estabelecimento de um novo tipo de contrato, cujas regras diferem daquelas que regulam a comunicação usual” (ROSAS, 2002, p. 32-33). Aqui, a ‘comunicação usual’ é entendida como a interação verbal que não tem como objetivo principal o efeito de humor.

Dessa forma, considera-se que o personagem Fazelli tem a intenção de divertir seus amigos ao proferir um enunciado humorístico, construído por meio de uma ‘inversão’. Essa ‘inversão’ envolve o estabelecimento de um ‘contrato’ diferente de comunicação, em que informação extra é veiculada com o objetivo primordial de viabilizar mecanismos que auxiliem a elaboração do efeito de humor.

Dada a sua natureza polissêmica, o JP em análise não oferece maiores desafios ao tradutor. Vale para ele a observação de Delabastita (1996), para quem, os JPs baseados em polissemia podem ser traduzidos sem grandes perdas mesmo entre línguas consideradas historicamente como não relacionadas, já que, de alguma forma, a polissemia está calcada em uma realidade extralinguística.

A tradução do JP para o inglês, conforme indicado, é ‘More beer for the living in the Beer Hall of the Dead! requested Alberto Fazelli’. Comparando-se com o JP do texto-fonte: ‘Mais chope para os vivos, no Chope dos Mortos! – pediu Alberto Fazelli’, observa-se que a estratégia adotada pelo tradutor foi a de manter forma e sentido do texto-fonte no texto-alvo, o que, pelas razões já apresentadas, realizou sem precisar enfrentar grandes problemas, pelo menos aparentemente.

Embora a estratégia de tradução utilizada permita modificações, nesse caso específico elas não são percebidas, exceto pelo acréscimo da palavra ‘Hall’. O nome do bar, ‘Chope dos Mortos’, foi traduzido por ‘Beer Hall of the Dead’, contudo, por se tratar de um elemento que constitui o JP, considera-se não como o acréscimo de um elemento ao texto, mas como uma maneira de tornar o JP mais ‘convencional’ no texto-alvo. Portanto, a estratégia de tradução empregada coincide com o que Delabastita (1996, p. 134) classifica como JP → JP, ou seja, “o jogo de palavras do texto-fonte é traduzido por um jogo de palavras do texto-alvo, o qual pode apresentar algumas diferenças em relação ao jogo de palavras do texto-fonte, em termos de estrutura formal, estrutura semântica ou função textual”24.

6 Conclusão

Este artigo, resultante de nossa tese de doutorado, teve como objetivo principal analisar o tratamento dado pelo tradutor ao JP ‘Chope dos Mortos’, presente no romance O xangô de Baker Street, e como objetivo específico verificar se as estratégias empregadas na tradução do JP seriam capazes de recriar seus efeitos e sentidos no texto-alvo.

Ao final do estudo, foi possível verificar que a estratégia usada na recriação do JP na língua inglesa foi a estratégia de tradução JP → JP (DELABASTITA, 1996), em que o jogo de palavras do texto-fonte é traduzido por um jogo de palavras no texto-alvo, podendo apresentar diferenças em termos de estrutura formal, estrutura semântica ou função textual.

Observa-se também que as estratégias usadas pelo tradutor permitiram reconstruir o efeito de humor no texto-alvo, da mesma forma que foram capazes de manter, com bastante proximidade, os sentidos presentes no JP do texto-fonte. Essa constatação instiga a realização de mais estudos envolvendo a tradução de JPs, especialmente se considerada a nossa hipótese inicial de que não é possível garantir, em todos os casos de tradução de JPs, que os seus efeitos e sentidos funcionem igualmente no texto-alvo.

No que concerne à didática da tradução, ressalta-se a aplicabilidade da análise da tradução de JPs ao ensino de tradução, uma vez que a tradução de JPs implica a exploração de mecanismos semânticos que transitam no interior das línguas envolvidas no processo tradutório. Além disso, lidar com a tradução de JPs pressupõe o emprego de escolhas textuais capazes de refletir concepções teóricas de alunos e professores de tradução, o que se configura como um convite para a reflexão acerca da dependência das escolhas textuais em relação às concepções de tradução dos envolvidos no processo tradutório (Cf. BALLARD, 2014).

Finalmente, evidencia-se a aplicação da tecnologia computacional aos estudos da tradução, nesta pesquisa materializada na LC, cujos pressupostos teórico-metodológicos determinaram a seleção e análise dos dados, os JPs do romance O xangô de Baker Street (SOARES, 1995).

Material suplementario
Referências
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Notas
Notas
1 Aqui compreendido com base nos pressupostos da Linguística Textual, conforme evidenciados por Fávero e Koch (2002, p. 18).
2 São de nossa autoria todas as traduções neste artigo, salvo quando especificado. No original: “[...] in the beginning was the pun [...]”.
3 No original: “[...]natural to the human mind”.
4 No original: “[…] few studies have been carried out which consider word play in contrast across languages”.
5 No original: “A text can be characterized as a single-joke-carrying-text if both of the [following] conditions are satisfied:

i) The text is compatible, fully or in part, with two different scripts

ii) The two scripts with which the text is compatible are opposite […]”.

6 No original: “A script is an organized chunk of information about something (in the broadest sense). It is a cognitive structure internalized by the speaker which provides the speaker with information on how things are done, organized, etc.
7 No original: “The script oppositions fall into three classes: actual vs. non-actual, normal vs. abnormal, and possible vs. impossible. The three classes are all instances of a basic opposition between real and unreal situations in the text”.
8 No original: “There is indeed a lot more at stake than just the question is wordplay translatable? For a start, any answer that this question may prompt is bound to be theoretically biased insofar as it will depend on the type of translation one has in mind (in terms of kinds and degrees of equivalence, as well as of genres and communicative situations), but also on the speaker’s own position vis-à-vis the actual business of translation (whether one is speaking as a teacher of translation, as a practitioner, a critic, a theorist, a historian, a philosopher of language)”.
9 No original: “[...] coping with puns, [...]”.
10 Os JPs que ilustram as estratégias de tradução 1) JP → JP; 2) JP → não JP; 3) JP → RRR (Recurso Retórico Relacionado); e 5) JP TF = JP TT são extraídos do livro ‘O homem que matou Getúlio Vargas – biografia de um anarquista’ (SOARES, 1998) e sua tradução para o inglês, ‘Twelve fingers – biography of an anarchist’ (SOARES, 2001), por Clifford E. Landers.
11 O exemplo não atende à definição de JP apresentada por Delabastita (1996), em que um JP põe em paralelo estruturas linguísticas com formas semelhantes e sentidos diferentes, adotada neste trabalho, contudo, a estratégia de tradução utilizada reflete o procedimento tradutório apresentado por ele.
12 Extraído de http://www.osvigaristas.com.br/frases/trocadilhos/, postado por Ricardo. Acesso em: 19 de fevereiro de 2015.
13 O exemplo é uma adaptação da proposta de tradução do texto Hit the bars after work, utilizado por Adriana Pagano, no livro ‘Traduzir com autonomia’ (ALVES, MAGALHÃES e PAGANO, 2003, p. 23). Decidimos adaptar a tradução do texto oferecida pela autora, em virtude da dificuldade de encontrar exemplos desse tipo de estratégia.
14 Este trecho foi extraído de Alves, Magalhães e Pagano (2003, p. 25) e também foi adaptado por nós, em virtude da dificuldade de encontrar na literatura exemplos desse tipo de estratégia de tradução.
15 No original: “An approach or a methodology for studying language use. It is an empirical approach that involves studying examples of what people have actually said, rather than hypothesizing about what they might or should say. […] Corpus Linguistics also makes extensive use of computer technology, which means that data can be manipulated in ways that are simply not possible when dealing with printed matter.
16 No original: “[…] historical linguistics has always been corpus-based […]”.
17 No original: “[…] a long tradition of using ‘parallel texts’ […]”.
18 No original: “[...] collections of texts similar in domain and/or genre to the source and/or target text […]”.
19 No original: “[...] allow translators to acquire and apply skills which are, after all central to their trade – ones of text interpretation and evaluation”.
20 No original: “[…] creative presentations of existing words, or new coinages”.
21 No original: “[…] this distinction is slightly more fluid in practice […]”.
22 No original: “A large number of jokes involves violations of one or more of Grice’s maxims[…]. The claim that jokes could be viewed in terms of violations of maxims dates back to Grice himself […]”.
23 No original: “In Grice’s discussion of the maxims, one of the possible cooperative uses of the maxims is their flouting, i.e., their patent (Grice has ‘blatant’) violation, which allows the hearer to infer that a given maxim is being violated only insofar as another maxim is being obeyed (Grice 1989:30). Grice’s example is that of answering the question about how X has been doing on his new job, with ‘He likes his colleagues and he hasn’t been to prison yet’. On the face of it, the answer violates the maxim of relevance, but if one assumes that the speaker is still committed to the CP, one can infer that the maxim is being flouted in order to imply that X is (potentially) dishonest”.
24 No original: “PUN → PUN: the source-text pun is translated by a target-language pun, which may be more or less different from the original wordplay in terms of formal structure, semantic structure, or textual function”.
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