Resumo: Melina Agresta é legendista há oito anos. Nesse período, já legendou filmes, séries, documentários, entre outros vídeos, para clientes como Netflix, HBO e Universal, fazendo uso de softwares em plataformas Cloud. Na entrevista concedida à revista Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, a legendista fala um pouco sobre sua experiência profissional e faz avaliações críticas sobre essa profissão. Entre os pontos destacados, Melina admite que o tradutor de legendas é um profissional criativo e visível, cujo estilo pode ser impresso nas legendas a partir da escolha de palavras, do registro linguístico adotado e dos procedimentos utilizados para traduzir expressões para a cultura alvo. A legendista afirma ainda que, se por um lado a legendagem propicia ao tradutor um trabalho dinâmico, por outro os prazos e as normas a serem seguidos dificultam a atuação desse profissional.
Palavras-chave:TraduçãoTradução,LegendistaLegendista,LegendagemLegendagem.
Abstract: Melina Agresta has been a subtitler for eight years. Over this period, she has subtitled movies, TV series, documentaries, among other videos, to be streamed on Netflix, HBO and Universal, by making use of Cloud-based software. In the interview given to the journal Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, the subtitler writes about her professional experience and makes critical evaluations on this profession. Among her highlights, Melina admits that the subtitles translator is a creative and visible professional, whose style can be fingerprinted on his/her subtitles through the choice of words, the linguistic register adopted and the procedures used to render expressions in the target culture. Furthermore, Melina adds that, although subtitling is a dynamic experience, it likewise hinders the subtitler’s performance due to strict deadlines and norms.
Keywords: Translation, Subtitler, Subtitling.
Entrevistas
Entrevista com a legendista profissional Melina Agresta1
Interview with professional subtitler Melina Agresta
Recepción: 30 Marzo 2018
Aprobación: 03 Mayo 2018
Tenho Bacharelado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela PUC Minas, e Master in Screen Translation, pela Scuola Superiore di Lingue Moderne per Interpreti e Traduttori, Università di Bologna, sede de Forlì, Itália.
Para mim, traduzir é eliminar a barreira linguística entre a obra e o receptor. Fazer o papel de ponte, de intermediário, aumentar o alcance de algo que, de outra forma, estaria acessível apenas a um grupo restrito de pessoas.
Faz oito anos que estou nesse ramo. Tenho feito legendagem de filmes, documentários, séries, extras de DVD e, em raras ocasiões, de vídeos institucionais.
Trabalho para empresas estrangeiras que prestam serviços para produtoras de cinema, canais de televisão e plataformas de streaming. Alguns clientes incluem NETFLIX, HBO, Warner Channel, Universal, Paramount, Disney, Amazon Video, Sony, Fox, entre outros.
Cada cliente e projeto têm exigências específicas e a comunicação é feita principalmente por e-mail. Recebemos a proposta de trabalho, as regras de estilo, materiais de referência e exigências do projeto, além dos prazos de entrega. Usamos softwares fornecidos pelas empresas e, na minha experiência, hoje tudo é feito em plataformas Cloud, o que tem seus pontos positivos e negativos. Assina-se um contrato no início do processo de colaboração. Infelizmente, os direitos autorais são cedidos às empresas. Esta é a única forma de contrato que já me foi oferecida.
Acredito que nosso estilo seja fortemente afetado pelo meio em que crescemos, o lugar onde vivemos, nossa bagagem cultural, nossa formação educacional, nossa idade e nosso gênero. Isso se manifesta em todos os aspectos da tradução: na escolha das palavras, no grau de formalidade e ritmo do texto e determina uma maior ou menor qualidade do trabalho.
A tradução é feita individualmente, enviada para o revisor e enviada de volta para o tradutor, que analisa as modificações e sugestões feitas pelo revisor. Em alguns projetos, há também uma revisão final, para garantir uma maior qualidade da tradução.
Não costumo acompanhar o processo de publicação dos meus trabalhos. Alguns clientes possuem revisores próprios que detêm a palavra final sobre os projetos. Em minha opinião, a palavra final deve ser sempre do tradutor, já que é quem leva o crédito pelo trabalho, mas cada cliente possui uma metodologia específica.
Devo dizer que, como me ocupo apenas da legendagem, e não da segmentação e sincronização das legendas com o vídeo, preciso apenas obedecer às diretrizes estabelecidas pelo software utilizado na tradução. Neste, cada legenda tem seu limite de duração previamente definido, cabendo ao tradutor apenas respeitá-lo. Dito isso, é claro que, com a prática, percebemos o que dificulta ou facilita a leitura, e procuramos produzir legendas concisas, fluidas e claras, mantendo a fidelidade ao registro linguístico e ao significado original. Legendas têm sempre um máximo de duas linhas, e uma adequada divisão de texto entre as linhas é essencial para uma leitura rápida, sem dificuldades de compreensão. Tudo isso é pensado em todas as etapas do processo, visando sempre a melhor recepção por parte dos espectadores. Como se vê, os parâmetros técnicos e linguísticos caminham de mãos dadas na tradução audiovisual, e um tradutor só é completo se dominar ambas as áreas.
O principal aspecto positivo é o fato de ser um trabalho criativo e dinâmico. Temos contato com projetos de conteúdos diversificados, o que faz com que os dias nunca sejam maçantes. O maior ponto negativo talvez seja o caráter urgente da área audiovisual. Os prazos, com poucas exceções, costumam ser extremamente curtos. Além disso, lidamos com uma série de regras e exigências que variam de projeto para projeto e de cliente para cliente, algo que, sem dúvida, interfere no processo de tradução.
Produzir algo que soe natural e faça sentido em outra língua, mantendo o significado da língua original e fazendo isso da forma mais objetiva possível.
Imagino que isso seria mais facilmente notado por outra pessoa do que por mim. Reconheço, por exemplo, o trabalho de colegas com quem costumo trabalhar, além do trabalho de tradutores consagrados. Acredito ter um estilo mais formal, na maior parte das vezes. Não costumo usar artigos antes de nomes próprios e prefiro seguir a norma culta, evitando conjugações verbais incorretas, a não ser que o projeto exija outra abordagem. Mas minha maior preocupação é com a fluidez do texto. As frases devem se encaixar e ser coerentes como um todo. Além disso, traduzo palavras e expressões recorrentes sempre da mesma forma e tento ser fiel às idiossincrasias de cada personagem.
Acredito que para os que estão atentos às particularidades da tradução, o legendista pode sim ter algum destaque. No entanto, para o grande público, imagino que isso fique menos claro. Penso que essa invisibilidade faça parte do trabalho. Tradutores tendem a preferir os bastidores, não os holofotes. No entanto, gosto de pensar que, da mesma forma que certas passagens de livros nos marcam, legendas de diálogos e narrações de filmes, séries e tudo o mais, também podem produzir o mesmo efeito. E, se isso é atingido, acho que conseguimos nos tornar visíveis em nossa invisibilidade.
A criatividade é essencial para o trabalho. Encontrar soluções eficazes para a tradução de trocadilhos, gírias e referências de não apenas uma língua, mas uma cultura estrangeira, exige muita capacidade de criação e imaginação. Sendo assim, eu diria que todo legendista é criativo.
Sempre, já que é preciso analisar o conteúdo e o público-alvo de cada projeto. Sinto que, atualmente, evita-se o uso de termos misóginos, homofóbicos ou preconceituosos em geral nas traduções. É também preciso um cuidado maior na adaptação e transposição de trocadilhos e referências culturais, para que o significado original seja mantido e a orientação política e sociocultural do projeto seja respeitada.
https://periodicos.ufmg.br/index.php/textolivre/article/view/16785 (html)