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A incorporação das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) pelos professores de língua portuguesa das escolas estaduais de ensino médio de Linhares – ES
The incorporation of digital information and communication technologies by portuguese language teachers of high school in the state schools of Linhares – ES
Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, vol. 11, núm. 2, pp. 105-120, 2018
Universidade Federal de Minas Gerais

Educação e Tecnologia

O autor de submissão à revista Texto Livre cede os direitos autorais à editora da revista (Faculdade de Letras da UFMG), caso a submissão seja aceita para publicação. A responsabilidade do conteúdo dos artigos é exclusiva dos autores. É proibida a submissão integral ou parcial do texto já publicado na revista a qualquer outro periódico.

Recepción: 25 Agosto 2017

Aprobación: 17 Noviembre 2017

DOI: https://doi.org/10.17851/1983-3652.11.2.105-120

Resumo: Este artigo objetiva investigar como está ocorrendo a incorporação das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), em especial o computador e a internet, na prática pedagógica dos professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio da rede estadual de Linhares – ES. Para tal fim, realizou-se pesquisa de campo, utilizando o questionário como instrumento de coleta de dados. O público-alvo foram os alunos concluintes do Ensino Médio das escolas estaduais de Linhares – ES. Esta pesquisa é descritiva, de abordagem qualitativa. Os dados indicam que os professores de Língua Portuguesa, em sua maioria, não integram esses recursos em sua prática pedagógica. A principal finalidade dos que levam os alunos ao laboratório de informática é a realização de pesquisas, seguida, em menor proporção, pela preparação de slides para apresentação de trabalhos, digitação de textos, realização de leitura de obras literárias, envio de e-mail e exibição de vídeos relacionados ao conteúdo da disciplina. Espera-se que essa pesquisa possa ser usada como subsídio para nortear ações que visem ao melhor aproveitamento dos recursos disponibilizados pelas tecnologias digitais de informação e comunicação no espaço escolar, contribuindo também no direcionamento de políticas de formação inicial e continuada para o uso pedagógico dessas tecnologias.

Palavras-chave: Incorporação, Língua portuguesa, Tecnologias digitais de informação e comunicação.

Abstract: This article aims at investigating how the incorporation of digital information and communication technologies (TDIC), in particular the computer and the internet, is taking place in the pedagogic practice of Portuguese language teachers of Linhares-ES state network. For this purpose, a field research was performed using the questionnaire as a data collection instrument. The target audience was the high school graduating students from Linhares state schools-ES. This research is descriptive, of qualitative approach. The data indicate that most Portuguese language teachers do not integrate these resources into their pedagogical practice. Of those who take the students to the computer lab, the main use is for conducting some research, followed, in smaller numbers, to prepare slides for presentation of works, typing texts, reading literary works, sending an e-mail and display of videos related to the content of the course. It is hoped that this research can be used as a subsidy to guide actions aimed at making better uses of the resources available through the digital information and communication technologies in the school space, also contributing in the direction of initial and continued training policies for the pedagogical use of these technologies.

Keywords: Incorporation, Portuguese language, Digital information and communication technologies.

1 Introdução

Vivemos em uma época na qual as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) se fazem imprescindíveis em nosso dia a dia, haja vista que estão praticamente em toda parte, permitindo a execução mais rápida de tarefas, possibilitando os mais diversos acessos e estabelecendo novas relações em nossa sociedade.

Nesse sentido, desde 1997, por meio do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (PROINFO), o Ministério da Educação (MEC) busca promover o uso pedagógico das tecnologias digitais de informação e comunicação na rede pública de Ensino Fundamental e Médio. O MEC compra, distribui e instala laboratórios de informática nas escolas públicas de educação básica e, em contrapartida, os governos estaduais e as prefeituras providenciam a infraestrutura necessária para a utilização. A partir de 12 de dezembro de 2007, com a publicação do Decreto nº 6.300 do Ministério da Educação, esse programa foi revisado e passou a ser denominado PROINFO.

Pretendendo atender às suas ações, o governo federal também implantou o Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia Educacional (PROINFO Integrado). O seu objetivo é oferecer formação aos agentes educacionais para o uso didático- pedagógico dessas tecnologias nas escolas, juntamente com a disponibilização de conteúdos e recursos digitais oferecidos pelo Portal do Professor, pela TV Escola e DVD Escola, pelo Domínio Público e pelo Banco Internacional de Objetos Educacionais. Além disso, há também o projeto Um Computador por Aluno (UCA), cujo intuito é promover a inclusão digital.

Também o governo do Espírito Santo lançou em 2007 o Programa Sala de Aula Digital, com o objetivo de suprir as escolas públicas estaduais de equipamentos de alta tecnologia aliados à prática pedagógica, buscando melhorar o desempenho dos alunos, a sua inclusão digital e a atualização dos profissionais das escolas.

De acordo com o Currículo Básico Escola Estadual, o programa propõe disseminar as melhores estratégias pedagógicas identificadas com o uso das tecnologias digitais de informação e comunicação no cotidiano escolar, compreendendo uma série de ações como estagiários, professor dinamizador, capacitação, pesquisa, PC do professor, TV multimídia, pen drives, quadro digital interativo e Um Computador por Aluno (UCA) (ESPÍRITO SANTO, 2009).

Porém, não basta equipar as escolas, é preciso saber se de fato essas tecnologias têm sido utilizadas e de que forma, pois o papel do professor é dar um sentido a elas, utilizando-as como suporte à aprendizagem, aproveitando as inúmeras possibilidades pedagógicas, tornando o ensino mais atrativo e mais próximo da realidade do educando na era do conhecimento.

Os resultados desta pesquisa poderão ser usados como norteadores de ações que visem ao melhor aproveitamento dos recursos disponibilizados pelas tecnologias digitais de informação e comunicação no espaço escolar, contribuindo para a melhoria da qualidade da educação, possibilitando a abertura de espaços para estudos, discussões e reflexões acerca da formação inicial e continuada dos professores no que tange ao uso dessas tecnologias no ensino de Língua Portuguesa.

2 Percurso Metodológico

A pesquisa realizada possui uma abordagem qualitativa, pois objetivou investigar de que forma os professores de Língua Portuguesa utilizam as tecnologias digitais de informação e comunicação como ferramentas de aprendizagem. No entanto, a coleta e a análise de dados, pelas suas características intrínsecas, levam-nos a uma abordagem quantitativa/qualitativa, no que diz respeito à análise e apresentação dos resultados, uma vez que aspectos quantitativos também foram tratados visando obter indicadores importantes para a realização da análise.

Tendo em vista o seu objetivo geral, este estudo se desenvolveu de forma descritiva, uma vez que se desejou investigar como as tecnologias digitais de informação e comunicação estão sendo utilizadas na prática pedagógica dos professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio da rede estadual de Linhares – ES. Para Gil (2010, p. 28), as pesquisas descritivas “[...] têm por objetivo levantar opiniões, atitudes e crenças de uma população”.

Neste trabalho, os dados foram obtidos por meio da pesquisa de campo. A população-alvo da pesquisa foi constituída dos alunos do 3° ano do Ensino Médio das escolas estaduais de Linhares, cidade localizada na região norte do Espírito Santo, situada a 135 km de Vitória, capital do estado. De acordo com o último censo realizado pelo IBGE, Censo Demográfico 2010, o município possui uma população de 141.306 habitantes e é o maior em extensão territorial do estado, apresentando uma área de 3.504,137 km2. É cortado no sentido norte-sul pela rodovia BR-101, sendo esta a principal via de ligação do município com os demais municípios capixabas e com o país.

Na área educacional, de acordo com o Censo 2013 realizado pelo IBGE (BRASIL, 2014), o município tem 45 escolas de Educação Infantil, sendo 38 municipais e 7 da rede privada, apresentando 4.449 matrículas. No Ensino Fundamental, há 86 escolas, sendo 41 da rede municipal, 38 da rede estadual e 7 da rede privada, totalizando 23.150 alunos matriculados. No Ensino Médio, há 14 escolas, sendo 9 da rede estadual, 4 da rede privada e 1 da rede federal, totalizando 5.098 alunos matriculados, sendo 4.149 da rede pública estadual, e há 248 docentes atuando nas escolas de Ensino Médio da rede estadual.

Trabalhamos com amostragem selecionando, dentre as 9 escolas da rede estadual, 3 delas, em virtude de concentrarem o maior número de alunos dessa modalidade da Educação Básica: EEEFM “Bartouvino Costa”, EEEM “Emir de Macedo Gomes” e EEEFM “Polivalente de Linhares I”. Essas escolas oferecem o Ensino Médio nos turnos matutino, vespertino e noturno, sendo a pesquisa realizada em cada um desses turnos com todos os alunos do 3º ano.

A coleta de dados se deu por meio da aplicação de um questionário de questões fechadas, com o intuito de investigar as atividades que os alunos realizam no ambiente escolar, em especial no laboratório de informática, usando as tecnologias digitais de informação e comunicação nas aulas de Língua Portuguesa.

O pré-teste foi aplicado a 5% dessa amostra, cuja escolha se deu aleatoriamente. Ao se subtrair da amostra inicial de 598 estudantes os 29 alunos que participaram do pré-teste, tem-se a composição final do corpus a ser analisado, sendo a amostra para o estudo constituída de 569 alunos. Marconi e Lakatos (1996, p. 90) afirmam que o pré-teste “deve ser aplicado em populações com características semelhantes, mas nunca naquela que será alvo de estudo”. Os dados coletados foram submetidos a tratamento estatístico simples.

3 Análise e discussão dos dados

De acordo com o Gráfico 1, 54,3% dos alunos pesquisados são do turno matutino, 22,1% do vespertino e 23,6% do noturno. Portanto, a maioria dos alunos pesquisados estuda no turno matutino. Isso se deve ao fato de que uma das escolas pesquisadas, a EEEM “Emir de Macedo Gomes”, única a ofertar apenas o Ensino Médio, possui o maior número de matrículas dessa etapa da Educação Básica, ofertando a maioria das vagas para os alunos concluintes no turno matutino.


Gráfico 1
Turno em que os alunos estudam.
Fonte: dos autores.

Com relação ao acesso aos recursos tecnológicos, quando questionados se possuíam computador/tablet/notebook em casa, a maioria deles, 83%, disse que sim, contrapondo-se a apenas 17% que afirmaram não possuir nenhum desses recursos, conforme demonstrado no Gráfico 2. Dos que afirmaram possuir tais recursos, 91,5% afirmaram que estão conectados à internet, e 8,5% não possuem conexão, conforme apontado no Gráfico 3. Esses dados mostram que a maioria dos alunos concluintes do Ensino Médio da rede estadual tem acesso às tecnologias digitais disponíveis e à internet.


Gráfico 2
Acesso a recursos tecnológicos (computador/notebook/tablet/) disponíveis em casa.
Fonte: dos autores.


Gráfico 3
Conexão do computador/notebook/tablet com a internet.
Fonte: dos autores.

No que tange ao uso do laboratório de informática da escola durante as aulas, a maioria dos alunos, 52%, afirmou que o tem utilizado em algumas disciplinas, 45% disseram que nenhum professor o utiliza durante as aulas, e apenas 3% responderam que todos os professores o utilizam, conforme destacado no Gráfico 4.


Gráfico 4
Uso do laboratório de informática.
Fonte: dos autores.

Assim, percebemos que o uso das tecnologias digitais de informação e comunicação ainda é restrito a algumas disciplinas, pois quase metade dos alunos respondeu que seus professores praticamente não as têm inserido em suas práticas de sala de aula, o que revela um certo distanciamento entre a realidade da escola e a realidade na qual se encontra a sociedade em geral, permeada pelos diversos recursos tecnológicos.

“A incorporação das tecnologias educacionais no fazer diário do professor é bem mais complexa do que se supunha e depende de outras variáveis” (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2006, p. 40). Passa, certamente, pela formação do professor, pelo conhecimento dos recursos que podem ser usados em favor do processo de ensino e aprendizagem.

Dos alunos que afirmaram fazer uso do laboratório de informática da escola durante as aulas, quando questionados sobre a frequência com que têm aulas nesse espaço, 62% disseram que raramente, 19% pelo menos uma vez por mês, 16% pelo menos uma vez no trimestre, 5% nunca tiveram aula no laboratório de informática e 1% pelo menos uma vez por semana, conforme demonstrado no Gráfico 5.


Gráfico 5
Frequência de uso do laboratório de informática.
Fonte: dos autores.

A pesquisa mostra que o laboratório de informática é um espaço do ambiente escolar pouco frequentado pelos alunos, pois dos que afirmaram que o utilizam, a maioria disse serem raras as vezes em que isso ocorre.

Portanto, esse uso marginal das tecnologias acaba indo de encontro aos objetivos do PROINFO (BRASIL, 2007), que tem o intuito de fomentar, por meio do uso pedagógico das tecnologias digitais de informação e comunicação nas escolas, a melhoria do processo de ensino e aprendizagem, contribuindo com a inclusão digital dos alunos e a preparação para o mercado de trabalho.

Para Moran (2013), vivemos na sociedade da informação e do conhecimento, logo não basta ter um laboratório na escola para uso pontual durante as aulas, é necessário que professores e alunos tenham acesso contínuo a todos os serviços digitais oferecidos.

Quando questionados em relação à frequência de aulas de Língua Portuguesa no laboratório de informática, a maioria, 67,2%, afirmou que nunca teve, 28,5% afirmaram que raramente, 3% pelo menos uma vez no trimestre, 1,1% pelo menos uma vez no mês e 0,2% pelo menos uma vez por semana, conforme apontado no gráfico 6.


Gráfico 6
Frequência de aulas de Língua Portuguesa no laboratório de informática.
Fonte: dos autores.

Os dados indicam que a maioria dos professores de Língua Portuguesa não está incorporando as tecnologias digitais de informação e comunicação à prática pedagógica, e quando o fazem é de maneira esporádica. Para Tajra (2008, p. 12) esses recursos tecnológicos “[...] devem ser inseridos no cotidiano da vida escolar, visto que já estão inseridos no cotidiano de todos nós, mesmo dos que pertencem às classes econômicas menos favorecidas.”

Brito e Purificação (2006) afirmam que têm sido criadas novas formas de comunicação, novos estilos de trabalho, de ter acesso ao conhecimento e de produzi-lo, e que a escola não pode ficar à margem da sociedade. É necessário integrar a utilização do computador e da internet na ação pedagógica do professor.

É necessário também se preocupar com a formação de leitores para esse novo meio, promovendo o letramento digital, formando leitores autônomos, propiciando a exploração das diversas possibilidades comunicativas oferecidas pelo hipertexto e pela hipermodalidade. Para Xavier,

há uma nova ordem mundial – a tecnocracia – que se vislumbra inevitável anunciando a hegemonia da globalização nas relações econômicas, do neoliberalismo como ideologia política e da informática digital no domínio tecnológico. Esta conjuntura nos tem imposto um formato de texto sobre o qual os discursos doravante deverão se (hiper)textualizar. [...] A compreensão dessa nova ordem, bem como nossa sobrevivência nela, passa necessariamente pela aprendizagem da leitura e da escrita do/no hipertexto que tende a mediar as relações dos sujeitos na sociedade de informação [...] (XAVIER, 2010, p. 208).

É preciso que a escola prepare seus alunos para um funcionamento da sociedade cada vez mais digital. Xavier (2007) também afirma que vivemos em uma sociedade que privilegia a modalidade escrita da língua, logo as instituições escolares desempenham papel importantíssimo na promoção da alfabetização e do letramento.

De acordo com estudos realizados, o autor pontua que práticas pedagógicas que utilizam o computador conectado à internet podem também propiciar

[...] independência e autonomia na aprendizagem; abertura emocional e intelectual; preocupação pelos acontecimentos globais; liberdade de expressão e convicções firmes; curiosidade e faro investigativo; imediatismo e instantaneidade na busca de soluções; responsabilidade social; senso de contestação; tolerância ao diferente (XAVIER, 2007, p. 137).

O fato de a maioria dos professores de Língua Portuguesa não inserirem em sua prática pedagógica as tecnologias digitais de informação e comunicação é uma questão que deve ser tratada com urgência, pois, ao término da Educação Básica, os alunos terão que realizar uma prova instituída pelo governo federal, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). E dentre as nove competências avaliadas na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, duas são relacionadas às tecnologias digitais da informação e comunicação. Além disso, é preciso aproximar a realidade da escola da realidade que o aluno encontrará ao inserir-se no mundo do trabalho. Para Almeida (2008, p. 33) as tecnologias digitais da informação e comunicação são “constituídas, denominadas, indicadas como uma nova arquitetura social relacionada aos desafios da globalização. O seu uso e domínio são apontados como uma necessidade dos atores sociais da contemporaneidade”. Dessa forma, a escola, enquanto local propício para a formação do indivíduo, tem a missão de ser multiplicadora do letramento digital. Assim,

Inserir no Enem habilidades relativas aos conhecimentos das TICs significa alinhar-se com os usos e as necessidades vigentes no sistema escolar e na realidade social. E esse é um passo importante para que possamos ter um panorama verdadeiro da realidade educacional do concluinte do Ensino Médio no Brasil (SILVA, 2012, p. 16).

Essa matriz de competências, que estrutura todo o exame, foi criada por diversos profissionais, especialistas em psicologia do desenvolvimento, pesquisadores e professores das diferentes áreas do conhecimento presentes nas propostas curriculares das escolas brasileiras de Ensinos Fundamental e Médio.

Sua elaboração foi norteada por documentos importantes, como o texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), e ainda os textos da Reforma do Ensino Médio e as Matrizes Curriculares de Referência para o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB).

Não planejar aulas que propiciem o desenvolvimento dessas competências é negar ao aluno o direito de receber uma educação de qualidade, que lhe possibilite concorrer de forma igualitária com outros alunos ao acesso às vagas nas diversas instituições federais de ensino e programas do governo.

Dos que afirmaram que têm aulas de Língua Portuguesa no laboratório de informática, quando questionados a respeito das atividades que realizam, a maioria, 93%, faz pesquisas na internet, 27% preparam slides para apresentação de trabalhos, 26% digitam textos, 18% realizam leitura de obras literárias, 8% enviam e-mail, 8% assistem a vídeos cujo conteúdo é relacionado à disciplina, 1% realiza outras atividades, 0% edita vídeo, 0% acessa blog, 0% acessa redes sociais, 0% utiliza planilha eletrônica, 0% participa de fórum de discussão, 0% utiliza jogos educativos, conforme destacado no Gráfico 7.


Gráfico 7
Atividades que os alunos realizam no laboratório de informática nas aulas de Língua Portuguesa.
Fonte: dos autores.

Nota-se que o uso do laboratório de informática da escola durante as aulas de Língua Portuguesa tem sido basicamente para realizar pesquisas. “A internet é uma mídia que facilita a motivação dos alunos pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece” (MORAN, 2001, p. 53).

Porém, é necessário que essa pesquisa seja orientada pelo professor para que os alunos não se percam em meio ao turbilhão de informações, e saibam selecionar as mais importantes. Moran enfatiza que

Ensinar utilizando a internet exige uma forte dose de atenção do professor. A navegação precisa de bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não se deter, diante de tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações, as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo à medida que “clicamos” o mouse nos links que nos levarão mais perto do que procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. [...] Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação torna-se mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente (MORAN, 2001, p. 52).

O professor deve orientar os educandos nesse processo para que atribuam significado às informações que lhes chegam, tendo critérios na hora de escolher os sites, de avaliar as páginas, de comparar textos que apresentam visões diferentes, enfocando as questões importantes.

Para Moran (2001), por meio da internet é possível trabalhar com pesquisa individual e em grupo. A pesquisa individual permite que cada aluno a faça em seu próprio ritmo, e a em grupo possibilita o desenvolvimento da aprendizagem colaborativa. Ao se trabalhar com pesquisas na internet o professor permite que cada aluno faça no seu próprio ritmo.

Além de realizar pesquisas, nas aulas de Língua Portuguesa os alunos vão ao laboratório de informática também para digitar textos, preparar slides para apresentação de trabalhos, enviar e-mail e assistir a vídeos cujo conteúdo é relacionado à disciplina. O percentual de alunos que afirmou realizar essas atividades é bem pequeno, porém elas também acontecem na prática dos professores.

Para Tajra (2008), os editores de texto propiciam o desenvolvimento das habilidades linguísticas, sendo, portanto, um importante recurso a ser utilizado pelo professor de Língua Portuguesa na realização de atividades como criação de relatórios, cartas, poesias, músicas, entrevistas, livros e jornais. A criação de slides também é uma atividade bem aceita pelos alunos, pois eles podem apresentar seus trabalhos por meio do computador.

Moran considera que o vídeo é um importante recurso a ser utilizado pelo professor, pois é visual, envolve linguagem falada, linguagem musical e escrita, e atinge os alunos por todos os sentidos e de todas as maneiras.

[...] o ver, o visualizar, o ter diante de nós as situações, as pessoas, os cenários, as cores, as relações espaciais (próximo-distante, alto-baixo, direita-esquerda, grande-pequeno, equilíbrio-desequilíbrio). Desenvolvem um ver entrecortado – com múltiplos recortes da realidade – através dos planos, e muitos ritmos visuais: imagens estáticas e dinâmicas, câmera fixa ou em movimento, uma ou várias câmeras, personagens quietos ou movendo-se, imagens ao vivo, gravadas ou criadas no computador. Um ver que está situado no presente, mas que o interliga não linearmente com o passado e o futuro (MORAN, 2001, p. 37).

Porém, a pesquisa indica que o vídeo é pouco explorado pelos professores, apesar de ser um excelente recurso. Hoje temos o “celular em mãos”, e pequenos vídeos podem ser feitos no próprio cenário escolar, mesmo sem grandes recursos de edição.

Quanto ao e-mail, Marchuschi (2010) considera que é um gênero digital, sendo um importante meio de comunicação interpessoal, criado a partir dos anos de 1970 e usado com grande frequência até hoje. Paiva (2010, p. 90) afirma que por meio dele é possível a “[...] transmissão de vários tipos de dados: textos diversos (formato texto, Powerpoint, tabelas, gráficos), imagem (desenhos, fotos), som (fala, música) e vídeo”. É um importante recurso a ser utilizado pelo professor, pois pode viabilizar o estudo e a discussão de tópicos de um determinado conteúdo, superando a limitação de tempo e de espaço. No entanto, para isso, é necessário que o professor seja usuário do gênero e-mail em seu dia a dia para que saiba aplicar todas as possibilidades que o gênero oferece em suas práticas de sala de aula.

Edição de vídeo, acesso a blog, redes sociais, uso de planilha eletrônica, jogos educativos e participação em fórum de discussão praticamente não são desenvolvidos pelos professores, pois nenhum aluno afirmou realizar essas atividades.

Quando questionados se nas aulas de Língua Portuguesa já estudaram blog, hipertexto, chat, fórum de discussão e e-mail, 98% disseram que nunca estudaram blog, 2% afirmaram que sim, conforme demonstrado no Gráfico 8. 96% afirmaram que nunca estudaram hipertexto, contrapondo-se a 4% que afirmaram que já estudaram sobre ele, conforme destacado no gráfico 9. No que tange ao estudo do chat, 98% afirmaram que não estudaram, e 2% disseram que sim, conforme apontado no gráfico 10. 97% disseram que não estudaram sobre fórum de discussão, e 3% disseram que sim, como podemos observar no Gráfico 11. Com relação ao e-mail, 92% disseram que não estudaram, e 8% disseram que sim, conforme indicado no Gráfico 12.


Gráfico 8
Estudo de blog.
Fonte: dos autores.


Gráfico 9
Estudo de hipertexto.
Fonte: dos autores.


Gráfico 10
Estudo de chat.
Fonte: dos autores.


Gráfico 11
Estudo de fórum de discussão.
Fonte: dos autores.


Gráfico 12
Estudo de e-mail.
Fonte: dos autores.

Xavier (2007) considera que o letramento digital é uma necessidade educacional e de sobrevivência. Blog, chat, fórum de discussão e e-mail são considerados gêneros digitais provenientes dos ambientes virtuais e necessitam ser estudados no ambiente escolar, pois os textos da contemporaneidade têm mudado, exigindo novas competências, capacidades de leitura e produção de textos, sendo necessário também abordar a hipertextualidade e as relações entre as diversas linguagens que compõem um texto. Para o autor,

o hipertexto e a internet parecem viabilizar uma forma de aprendizagem ideal que se baseia no contexto e no modo natural como ela se dá. Aprendizagem assim é considerada pela corrente socioconstrutivista como muito mais duradoura e eficaz, pois permite que o aluno absorva “o como fazer” motivado por uma situação de real necessidade e sem a utilização de exercícios mecânicos pré-construídos com esse propósito (XAVIER, 2007, p. 144).

Os textos no ambiente digital são compostos de muitas linguagens e “[...] exigem capacidade e práticas de compreensão e produção de cada uma delas (multiletramentos) para fazer significar” (ROJO, 2012, p. 19). O ENEM também atribui importância a essa questão. A Matriz de Referência de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias para o ENEM apresenta as competências que deverão manifestar os educandos ao término da Educação Básica, juntamente com a lista dos conteúdos a serem avaliados e, dentre eles, está o

estudo dos gêneros digitais: tecnologia da comunicação e informação, impacto e função social – o texto literário típico da cultura de massa, o suporte textual em gêneros digitais, a caracterização dos interlocutores na comunicação tecnológica; os recursos linguísticos e os gêneros digitais; a função social das novas tecnologias (BRASIL, 2014).

Quando se clica em um link, o computador automaticamente irá buscar uma imagem ou um outro documento, independentemente de onde vem a informação e de quem a escreveu, permitindo o acesso a informações do mundo todo. A internet permite que o indivíduo troque, armazene e obtenha informações globalizadas, possibilitando uma maior democratização da informação e, consequentemente, do saber.

Diante disso, é fundamental que os professores de Língua Portuguesa incorporem as tecnologias digitais à ação docente, pois, ao mesmo tempo que as usam como suporte pedagógico, também desenvolvem nos alunos as competências e as habilidades desejadas atualmente.

Porém, os dados da pesquisa indicam que o estudo dos gêneros digitais não está sendo contemplado na prática dos professores. Logo, os estudantes das escolas de Ensino Médio da rede estadual de Linhares – ES não têm a oportunidade de estudar todos os conteúdos necessários a que têm direito. O ENEM tem como um dos objetivos promover a reestruturação do currículo escolar, sendo necessário realizar a aproximação do conteúdo cobrado nas avaliações externas com o conteúdo ministrado nas escolas.

Quando questionados se sabem o que são gêneros digitais, 80% afirmaram que não, e 20% disseram que sim, conforme destacado no Gráfico 13.


Gráfico 13
Estudo de gêneros digitais.
Fonte: dos autores.

Esses dados comprovam que está havendo um distanciamento entre o que se considera importante que a escola trabalhe e o que é trabalhado de fato. Para Marcuschi (2010, p. 23), “[...] o meio eletrônico oferece peculiaridades específicas para usos sociais, culturais e comunicativos que não oferecem nas relações interpessoais face a face [...]”, e precisam ser considerados no espaço escolar. Xavier pontua que

[...] os profissionais de educação e linguagem precisam desenvolver estratégias pedagógicas eficazes em seus mais variados espaços educacionais (salas de aula e laboratório de informática, por exemplo) para enfrentar os desafios que estão colocados: alfabetizar, letrar e letrar digitalmente o maior número de sujeitos, preparando-os para atuar adequadamente no Século do Conhecimento (XAVIER, 2007, p. 147).

Assim, percebe-se que os gêneros digitais não estão contemplados na prática pedagógica dos professores. Dentre os alunos que responderam que sabem o que são gêneros digitais, a maioria disse ter tomado conhecimento pelos amigos, figurando as aulas de Língua Portuguesa quase que em último lugar.

Para Moran (2001), aprendemos não somente na escola, mas na família, nos meios de comunicação, com os amigos, na igreja, na empresa, com a internet, pois estamos sempre interagindo, transmitindo e buscando ideias, valores e conhecimento, porém “a educação escolar precisa compreender e incorporar mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações” (MORAN, 2001, p. 36).

4 Considerações finais

Os dados da pesquisa apontam que os professores de Língua Portuguesa, em sua maioria, não estão integrando as tecnologias digitais da informação e comunicação em sua prática pedagógica, provocando um distanciamento entre o que diz a legislação que rege a educação brasileira e o que é realizado na prática.

A principal finalidade dos poucos professores que levam os alunos ao laboratório de informática é a realização de pesquisas, seguida, em menor proporção, pela preparação de slides para apresentação de trabalhos, digitação de textos, realização de leitura de obras literárias, envio de e-mail e exibição de vídeos relacionados ao conteúdo da disciplina.

Diante dos dados obtidos, percebemos que é necessária uma formação inicial aos futuros professores, que lhes permita proporcionar aos alunos oportunidades de aprendizagem com apoio da tecnologia. Estar preparado para utilizá-la, sabendo como ela pode dar suporte ao aprendizado, é habilidade necessária aos docentes na sociedade em que vivemos. Além disso, é imprescindível um programa de formação continuada que ofereça subsídios para que o professor que já atua em sala de aula se sinta de fato preparado e consiga utilizar as tecnologias na ação docente, pois uma formação deficitária em nada ou pouco contribui para melhorar a prática pedagógica.

Portanto, espera-se que esse estudo possa ser usado como subsídio para nortear ações que visem ao melhor aproveitamento dos recursos disponibilizados pelas tecnologias digitais da informação e comunicação no espaço escolar. E, ainda, que possa contribuir no direcionamento de políticas de formação inicial e continuada para o uso pedagógico desses recursos, tendo em vista a formação do cidadão para enfrentar a diversidade tecnológica do mundo, a sua complexidade e os desafios encontrados ao longo da vida profissional, social e cultural.

Referências

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BRASIL. Decreto nº 6.300, de 12 de dezembro de 2007. Dispõe sobre o Programa Nacional de Tecnologia Educacional – PROINFO. Brasília, 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6300.htm. Acesso em: 14 dez. 2013.

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