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O TEXTO ELETRÔNICO E SUAS PARTICULARIDADES TEXTUAIS
Flavia Susana Krug
Flavia Susana Krug
O TEXTO ELETRÔNICO E SUAS PARTICULARIDADES TEXTUAIS
THE ELECTRONIC TEXT AND ITS TEXTUAL SPECIFICITIES
Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, vol. 12, núm. 1, pp. 37-47, 2019
Universidade Federal de Minas Gerais
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Resumo: Criou-se um imenso mundo virtual de informação, a partir do advento da Internet. Neste universo prático da informação, disponível a qualquer instante, somaram-se ambientes tramados para interligar as pessoas. A leitura, especialmente a literária, além da escrita numa velocidade espantosa, modificadas e dispostas nos mais diversos formatos, alteraram-se, consideravelmente, e atualmente ler não é mais como antigamente. Dos rolos impressos às telas digitais, o leitor utiliza artefatos diferenciados para o contato com a leitura. De forma não linear, tem-se, portanto, uma infinidade de opções para se completar o processo de leitura de um texto, agora também disposto no meio eletrônico. Virar a página atualmente corresponde a um diferente formato quando acionada pelo toque na tela ou do mouse. Neste artigo, optou-se por refletir brevemente acerca da leitura nas telas, o formato do texto eletrônico e sua textualidade digital.

Palavras-chave:leituraleitura,textualidadetextualidade,texto eletrônicotexto eletrônico,leitorleitor.

Abstract: An immense virtual world of information has been created from the advent of the Internet. In this practical universe of information, available at any time, we have added environments designed to interconnect people. Reading, especially literary, as well as writing at an astonishing speed, modified and arranged in the most diverse formats, have changed considerably, and nowadays reading is no longer as it was in the past. From the rolls printed to the digital screens, the reader uses differentiated artifacts for the contact with reading. In a non-linear way, we have, therefore, an infinity of options to complete the process of reading a text, now also available in the electronic medium. Currently turning the purchased page corresponds to a different format when triggered by touching the screen or the mouse. In this article we have chosen to reflect briefly on the reading on the screens, the format of the electronic text and its digital textuality.

Keywords: reading, textuality, electronic text, reader.

Carátula del artículo

Linguística e Tecnologia

O TEXTO ELETRÔNICO E SUAS PARTICULARIDADES TEXTUAIS

THE ELECTRONIC TEXT AND ITS TEXTUAL SPECIFICITIES

Flavia Susana Krug
Universidade de Passo Fundo, Brasil
Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, vol. 12, núm. 1, pp. 37-47, 2019
Universidade Federal de Minas Gerais

Recepção: 15 Fevereiro 2019

Aprovação: 18 Fevereiro 2019

1. Introdução

Sendo cada vez menos leitores do impresso, mesmo assim somos leitores em tempo integral por meio de diferentes produtos: computador, Internet, Ipad, Iphone, e-mails, reportagens, postagens, frases, fatos, acontecimentos, relatos, histórias, fóruns e afins. O que nos chamar a atenção, ser instigante e prático ganhará nosso olhar por meio de incontáveis cliques. Seremos nós, uma tela de computador e uma infinidade de opções instigantes que nos prenderão a uma máquina capaz de nos transportar para vários locais do mundo sem ao menos nossos pés saírem do chão.

A leitura que agora também se apresenta na tela do computador, além do texto em outros parâmetros, assumiram a forma eletrônica modificando a maneira de ler. Neste novo formato de leitura, o leitor tem a possibilidade de ser autor, editor, classificador, distribuidor, proprietário em diversos sentidos do texto escrito por ele ou por outra pessoa. Destarte, som, imagem fixa ou em movimento, texto, código e signo são elementos responsáveis pela formação da linguagem hipermidiática, suas peculiaridades como interativas, criativa, não linear, seguidora de percursos informacionais organizados pela forma hipertextual.

Ler é adquirir conhecimento, viajar e conhecer novos lugares sem se mover. Quando se lê, se percebe o mundo a partir de diferentes olhares. Entretanto, o importante é que o leitor desfrute de tal experiência independente da forma como a leitura lhe for oferecida, seja no livro físico ou em um aplicativo digital. O que realmente será relevante é que o gosto pela leitura seja despertado da melhor maneira possível. Estimular a leitura, principalmente a literária, com o auxílio das novas tecnologias é permitir que haja protagonismo, bem como valorização do leitor.

Ler é uma prática que faz parte das nossas vidas desde o momento em que começamos a entender o mundo que nos cerca. A leitura não corresponde apenas a decodificar símbolos ou sinais e, sim, compreender, interpretar o que se lê, requer uma participação ativa do sujeito leitor, que deve dar sentido ao texto. Por meio da leitura, o sujeito constrói seu conhecimento e exerce sua cidadania, amplia seus horizontes, exercita sua imaginação, melhora sua reflexão crítica e alimenta a troca de ideias.

O texto não mais está distribuído, organizado e estruturado nos rolos impressos como antigamente. Vários estudiosos preocupam-se em observar os textos do mundo das telas digitais, instigando-nos a refletir sobre esta nova cultura na qual a leitura adquire diferentes formas que se concretizam rapidamente. Este novo formato de leitura no universo digital possibilita a visão de imagens sintéticas com as quais mantemos contato diariamente, obtendo, consequentemente, novas formas de escrita e do ato de ler. As maneiras de leitura continuam atravessando processos de redefinição, demonstrando que serão capazes de se reinventarem sempre.

A relação entre leitor e leitura acompanhou inúmeras transformações ao longo da existência do ser humano. Com o advento da Internet, a leitura tornou-se mais expansiva, sendo possível seu acesso em qualquer local e a qualquer momento. Dessa forma, a leitura digital viabilizou a permissão para o leitor ter acesso facilitado aos mais variados materiais que o aproximam do conhecimento diferenciado, estimulando-o a ler mais apenas com o auxílio das tecnologias.

Em conformidade com Chartier (2014, p. 68),

Ler é um ato de coragem e de rebeldia, pois a maioria dos textos propõem algum desafio ao leitor. Ao praticar a leitura, ora estamos a par dos acontecimentos ao nosso redor, ora nos distraímos em busca de novos espaços e conhecimentos. O ato de ler – independente se um jornal, uma revista ou um livro, se em meio impresso ou digital – sempre trará algo de novo, pois é um exercício mental e permite que o leitor tenha argumentos para discutir as questões que ele julgar importantes. Nesse viés, ler antes de toda consideração, suportes e conteúdo, deve ser julgado como um gesto incondicionalmente positivo.

No atual contexto, o universo da Internet soberanamente abrange o mundo da leitura digital. Cada dia maior, mais flexível e em vasta expansão, interage com os mais diferentes coletivos humanos, unindo-os por diversos interesses. Estes novos grupos, dotados de multimodos e curiosidades estabelecem novas formas de comunicação, modificam sua forma de vida e disseminam a informação abrangendo diferentes culturas.

Nesse sentido, para Chartier (2014, p. 71),

A leitura transforma a vida e o mundo. Ler apenas por obrigação faz com que dois dos sentidos da educação se percam: a reflexão e a criticidade. É preciso atenção para a importância da leitura neste universo digital, pois não há nada mais contextualizado à leitura do mundo do que o uso do universo, especialmente o digital, o qual oferece acesso instantâneo aos mais diversos e ricos materiais. No entanto, é preciso tomar cuidado, pois nem tudo que está disponível possui qualidade. Ainda assim, se bem classificados, os materiais disponibilizados digitalmente podem trazer inúmeras contribuições ao universo escolar.

Consoante Chartier (2014), inovadores formatos de leitura surgiram criando e recriando novos estilos de leitores os quais rompem obstáculos e buscam incondicionalmente a informação, dividindo pontos de vista, compartilhando pensamentos e ideias. Por sua vez, estes novos leitores agora muito mais errantes do que em outras épocas, movimentam-se livremente e percorrem territórios informativos disponibilizados pela hipermídia.

2. A leitura. O leitor. O texto.

Ao falarmos ou escrevermos não produzimos palavras isoladas, soltas, perdidas. Por mais minúsculas que elas sejam, estarão dentro de um determinado contexto e farão parte de uma situação de comunicação, a qual, para ocorrer, envolverá interlocutores, assunto, espaço e tempo. Nesse sentido, existirá a enunciação, relacionando-se ao discurso de forma dinâmica, viva e comunicativa.

Palavras faladas ou escritas constituirão o enunciado do texto, produto de ampla ação comunicativa. Para que haja sentido, o texto dependerá do contexto situacional no qual estiver inserido, participando de enunciados que, partilhados por todos, promoverão a comunicação. Para o pesquisador Chartier (2014, p. 76), “o texto não é uma simples abstração, existindo graças à maneira como é transmitido”. O texto enquanto produto tem a capacidade de ser gravado, registrado, fixado, interpretado e compreendido, a partir de situação única jamais repetida.

O texto designa toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano. Por meio dele, qualquer forma de comunicação é realizada em virtude dos signos. Acerca do ponto de vista da linguística, o texto tem por objetivo privado a investigação das palavras ou frases individuais, a fim de reforçar que ele é unidade básica para a linguagem (KOCH, 1984, p. 36).

Em sua forma impressa, o texto lido palavra a palavra, página por página, requer contato sensível do leitor com seu material de maneira a parecer um ato potencialmente único. Em cada uma das páginas escritas, o leitor aprofundará sua curiosidade para o próximo passo dado pelo autor, seguido de encaminhamentos lineares que garantem às páginas reencontrar gestos têxteis. Neste sentido, as palavras tecidas nas páginas encadeiam frases que absorvem o mundo atribuindo significado para o leitor.

Contudo, segundo Costa Val (2006), é essencial para o texto a relação entre as ideias, bem como a explicitação delas por meio do uso de recursos coesivos úteis, o que nem sempre é obrigatório de forma a compor textualidade. Entretanto, havendo a presença deles, regras deverão ser obedecidas as quais transgredirão de outras específicas, estabelecendo, assim, situacionalidade e aceitabilidade para o sentido das palavras, formando, então, um conjunto de elementos e fatores que tornarão o texto repleto de comunicação. É necessário adequar a tessitura dele, de maneira relevante, para que, em outras palavras, tanto autor quanto texto sejam percebidos significativamente pelo interlocutor.

O leitor interage sensivelmente com a escrita disposta no livro impresso e a leitura realiza seu papel socializante, permitindo-lhe dominar competências acerca do pensamento, da linguagem e do conhecimento. A leitura participa do desenvolvimento do ser humano e engloba aspectos ideológicos, culturais e filosóficos que ao comporem o pensamento do ser humano, exigirá dele uma posição crítica do “ser” leitor.

O processo de ler é complexo, nada fácil de ser realizado. Envolve aspectos cognitivos interativos, requerendo o conhecimento prévio do leitor. Sua bagagem cultural e social juntar-se-á com informações textuais a fim de proporcionar sentido para a compreensão do texto. O leitor perceberá que o significado do texto não está somente nas palavras que nele constam, tampouco na mente do autor, mas inegavelmente quanto à sua interação no ato de ler. Ao unir as informações que ele adquiriu ao longo de sua existência, promoverá o entendimento pleno do texto, inferindo a ele significado relevante, compreendendo as provocações que se deseja realizar no leitor.

A leitura propicia o contato das pessoas com grupos e povos, proporcionando conhecimento sobre o homem e o mundo ao qual ele pertence. Deverá ocorrer de forma significativa para obter contato proveitoso entre o leitor e o mundo real. A leitura, por sua vez, é primordial para o ser humano, uma vez que o desenvolve intelectual e socialmente, tornando-o responsável pelo seu êxito pessoal e sua expansão comunicativa. Ler, nesse sentido, acarretará liberdade, autonomia e conquista do seu lugar na sociedade, assim como proporcionará compreensão e interpretação do conteúdo lido, a partir do entendimento sobre o assunto que apresentar.

Contudo, Chartier destaca (2014, p. 131) que

A leitura é essencial para integrar o sujeito na sociedade. Ler corresponde a uma dimensão ampla que vai além de codificar símbolos e sinais. A leitura permite ao leitor não ficar alheio, tampouco distante das diversificadas formas de comunicação do mundo contemporâneo.

Pensando desta forma e percebendo a relevância social e individual da leitura, é fato que na atualidade não mais podemos nos referir a ela como elemento que é disponibilizada apenas nos livros, jornais, revistas e afins. Ler, atualmente, mudou de forma. Disposta em tela, a leitura diferencia-se do texto no papel mesmo que seja na forma escrita. Cada qual tem suas particularidades e requer um tipo de comportamento do leitor para sua apreciação.

No caso da leitura nas telas do computador, esta apresenta-se escaneada e dinâmica. Ao pinçar palavras-chave para alcançar novos textos, esta ação torna o leitor imersivo na nova maneira de se encontrar com a leitura. Ler na tela possibilita ao leitor atravessar fronteiras visíveis. A leitura ao mesmo tempo que for embaralhada pelo leitor poderá ser também entrecruzada.

Para Haylles (2009, p. 43),

Se por um lado o mundo informacional evoluiu nossa capacidade de multitarefa e atenção a distintas atividades simultaneamente, essa atenção se tornou mais superficial. Quem passa tempo demais submetido a isso, tem maiores dificuldades de absorver textos e ideias mais complexas. A busca deve ser pelo equilíbrio e a leitura é a ferramenta perfeita para balancear nossa concentração.

O leitor, em constantes movimentos de ir e vir, reunirá diversos textos num mesmo ambiente de leitura, retornando ao ponto inicial, saltando, pausando, criando adendos sempre que preferir com constante praticidade. O leitor ativo navega e brinca com o novo formato da leitura virtual, explorando suas incontáveis possibilidades, adotando a função de detive por assim dizer, em busca de estratégias, avanços, transformações e incansável adaptação ao mundo da informação que se auto refaz a cada minuto. Este novo leitor tem perfil desbravador, antecipando-se muitas vezes às suas próprias escolhas, haja vista ser volátil e possuir genial habilidade em lidar com procedimentos muito particulares do ato de navegar no ambiente do texto virtual.

3. No hipertexto: a textualidade digital do texto eletrônico

Entendemos o termo textualidade permitir ao texto não ser apenas um aglomerado de frases ou uma determinada quantidade de orações. Na Internet, espaço de comunicação surrealista (LÉVY, 2002), a realidade textual é mantida passando a ideia de nada ser excluído, tudo ser possível em seu universo. Produtora do imaginário, oferece ao leitor uma suposta liberdade, correspondendo a incontáveis buscas que proporcionam identificações. O suporte digital, por sua vez, aparece dinâmico e motivador, oferecendo livre transitoriedade e acesso a uma infinidade de opções dispostas ao leitor, para que ele assuma a postura de leitor virtual.

Para aprender a fazer uso do aparato tecnológico que subsidiam diversas interações da atualidade com o intuito de se apropriarem dos novos gêneros textuais, de acordo com Soares (2002, p. 152):

[...] a tela como espaço de escrita e de leitura traz, não apenas novas formas de acesso à informação, mas também novos processos cognitivos, novas formas de conhecimento, novas maneiras de ler e de escrever, enfim, um novo letramento, isto é, um novo estado ou condição para aqueles que exercem práticas de escrita e de leitura na tela.

A partir deste percurso, numa trama hipertextual, a leitura provocará estímulos culturais e sensoriais que permitirão ao leitor avançar, retroceder e estabilizar-se na complexa rede de informações do universo virtual. No sentido contrário ao da leitura tradicional, esse complexo de relações estruturadas pelo conjunto de leitores virtuais, lhe permitirá ultrapassar o imaginário intelectual. No universo eletrônico, a textualidade apresenta consideráveis mudanças para as práticas de leitura.

O hipertexto com suas características marcantes da leitura na tela possibilita o rompimento linear das narrativas. O texto, por sua vez, assume, então, estrutura em grande escala, constituindo-se de ligações entrelaçadas que lançam o leitor de um caminho a outro por meio de incontáveis passagens. Apresenta profundas modificações em seus conteúdos exigindo que diferentes formas de leitura sejam a ele aplicadas. Leitura privada, autônoma e protagonista, o texto eletrônico é o mundo que, atualmente, domina o leitor por meio das telas (LEVY, 2003, p. 34).

Concisão e objetividade são fortes características do hipertexto, e o tornam relevante para a leitura, pois agregadas à rede, atendem imediatamente as expectativas do leitor imersivo virtual que deseja a lógica da velocidade.

Nesse sentido, Chartier (2014, p. 123-124) afirma que

A textualidade eletrônica desafia a ordem do discurso. Um suporte – neste caso a tela do computador – confronta o leitor com vários tipos de textos, no mundo da cultura manuscrita e, por razão ainda maior, na cultura impressa, estavam distribuídos entre objetos distintos. Agora todos os textos o que quer que sejam, podem ser produzidos ou recebidos no mesmo suporte e numa forma usualmente escolhida pelo próprio leitor. Isso cria uma continuidade textual que não mais diferencia gêneros com base na sua inscrição material. [...] Ler na tela do computador é geralmente uma leitura descontínua que usa palavras-chave ou pistas temáticas para encontrar os fragmentos desejados [...] e isso é feito sem que o operador necessariamente tenha qualquer conhecimento da identidade daquele fragmento ou de sua inerente coerência dentro da totalidade textual da qual ele é extraído.

A Internet, ferramenta fantástica, reveladora de inúmeros novos caminhos para desenvolver a interatividade do leitor e o texto, possibilita a abertura do mundo e suas infinitas formas de contato a partir de cliques ou toques. Tais oportunidades só ocorrerão se o sujeito estiver atento, preparado, motivado e for conhecedor da compreensão do mundo virtual.

No universo digital informação é elemento indispensável para acessá-lo independendo da natureza de sua origem. Para transportá-las, editá-las ou apenas armazená-las, a tecnologia é o recurso responsável para tal. Nunca em tempo algum, o ser humano teve tamanha quantidade de conhecimento e informação disponíveis em tão poucos milésimos de segundos em um único acesso.

O mundo digital apresenta-se fraccionado, descompassado e não exige interpretação em relação ao que nele está escrito, apenas que o leitor seja hábil e interaja com ele, diferente da cultura escrita que, por sua vez, apesar de ampla e duradoura, é linear e completa. A leitura e o tempo, a partir do surgimento da Internet, selaram alianças em velocidade igual ao surgimento desta última. A Internet, à medida que insere o sujeito leitor no seu mundo digitalizado, coloca-o à frente das possibilidades de aprender e formar-se socialmente de maneira diferenciada. A leitura na tela exige do leitor demasiada atenção, pois se apresenta pulverizada, dispersa, haja vista as informações estarem disponibilizadas em inúmeras ramificações (links), excessivamente entorno umas das outras.

O mundo eletrônico propõe outros tipos de leitura incitadas pelas novas formas de relacionamento do leitor virtual com os textos. Requer, ainda, a necessidade de aprendizado acerca da convivência com o novo e o diferente, a fim de inseri-lo no mundo constante das mutações (CHARTIER, 2014, p. 124-125).

Segundo Chartier (2014, p. 127),

Poucas foram as gerações que tiveram o vislumbre do testemunho acerca de tantas mudanças tecnológicas como a geração nascida em meados do século XX, essa mesma geração que agora, adulta, ocupa os bancos universitários, as redações de jornais e revistas, as diretorias das grandes empresas, essa geração que cresceu lendo livros impressos e agora resiste à ideia de novos suportes para a leitura. [...] cada vez mais a escrita em geral – e a literatura em particular – encontra novos e variados suportes digitais com características distintas e capazes, inclusive, de modificar o texto em si, numa revolução com poucos precedentes tão violentos na longa história da cultura escrita.

Por mais que precisemos aprender a ler o universo digital, será fácil fazê-lo porque temos sua percepção por completo, de maneira tubular e central, que nos permite não o perder de vista. O leitor é convidado a percorrê-lo como um todo. Ler imagens é diferente de se ler a escrita. Pela imagem temos liberdade de aproximação de várias maneiras. Por mais que precisemos decifrá-la, mesmo assim ela nos garantirá maior facilidade de entendimento. A globalidade que a imagem proporciona a torna consideravelmente mais fácil e simples de ser lida (CHARTIER, 2014, p. 126).

Muitos autores concordam que o espectador, na verdade, é quem realmente se move entre a leitura do texto digital, por meio do contato e a visualização de um fluxo inimaginável de imagens em movimento, sempre à procura dos destaques da materialidade dos inúmeros textos que o universo digital lhe proporciona.

O texto eletrônico é feito de tessituras múltiplas, misto e em constante modificações. Apresenta intertextualidade latente e eleva sua linguagem e a forma como se apresenta, a fim de possibilitar, por exemplo, que vários autores façam parte dele. Dessa forma, impossibilita-nos a definição do seu caráter autoral ser individual. Requer, ainda, que o leitor adquira postura ativa para que ele seja perscrutado.

Para Haylles (2009, p. 22),

A transformação que a tecnologia induz na maneira de agir, com uma ação comunicativa de unidade básica da interação humana, deve ser vista como aquisição de conhecimento de mundo, uma vez que a denominada revolução informática promove mudanças radicais na área do conhecimento, que passa a ocupar um lugar central nos processos de desenvolvimento, em geral.

Nesse sentido, o leitor desenvolverá estratégias para ler o texto eletrônico de maneira que lhe seja possível compreendê-lo, não respondendo tão somente aos estímulos do meio digital. Tornar-se-á hábil ao fazê-lo. Adquirirá a capacidade de interpretar o sentido do texto ao enviar comandos para o computador, e este, por sua vez, disponibilizará na tela instantânea e parcialmente, o que foi solicitado pelo leitor virtual. O termo parcial aqui utilizado serve para reforçar que a leitura ágil e sem limites do mundo virtual, exigirá em contrapartida à praticidade que oferece ao leitor, que ele mergulhe e avance de maneira não linear e não sequencial pelos inúmeros entrelaçamentos dispostos no vasto universo digital.

Dessa forma, de acordo com Darnton (2010, p. 78-79),

[...] também chama a atenção para as potencialidades do livro eletrônico na criação textual, ainda que não especificamente literária, ao romper com a lógica sequencial e horizontal do livro impresso, que deve ser lido página a página. É por isso que penso em mergulhar: quero escrever um livro eletrônico. Eis como minha fantasia toma forma. Ao contrário de um códice impresso, um e-book pode conter diversas camadas, organizadas em forma de pirâmide. Leitores podem fazer download do texto e realizar uma leitura superficial da camada superior, redigida como uma monografia comum. Se ficarem satisfeitos, podem imprimir o texto, encaderná-lo (máquinas de encadernar podem hoje ser conectadas a computadores e impressoras) e estudá-lo ao seu bel-prazer na forma de brochura confeccionada sob medida. Caso encontrem algo em especial que lhes interesse, bastará um clique para passar a uma outra camada, contendo um ensaio suplementar ou um apêndice. Os leitores podem ir ainda mais fundo no livro, explorando corpus de documentos, bibliografia, historiografia, iconografia, música de fundo, tudo que eu possa oferecer para permitir a compreensão mais completa possível do meu tema. Por fim, os leitores transformarão o meu tema em seu próprio tema: encontrarão seu próprio caminho dentro dele, lendo horizontalmente, verticalmente ou diagonalmente até onde os levarem os links eletrônicos.

Pessoa e computador interagem dividindo suas informações individuais. Nesta trama tecnológica a informação articula-se de maneira fragmentada. O leitor, assíduo participante dessa esfera de leitura, constrói seu espaço, tempo, identidade e memória em um ambiente que lhe proporciona novas habilidades cognitivas e realidade intelectual que, aliadas à tecnologia, possibilitam acesso imediato à informação em um incalculável espaço de tempo possível. Nesse viés, os atos de ler e pensar demandarão ao sujeito leitor diferentes formas de ser e estar no mundo.

De forma convergente, Haylles (2009, p. 26) explica que

No contexto de uma sociedade dita informacional, com avanços tecnológicos significativos, observamos como a produção e a transmissão dos conhecimentos sofreram inúmeras modificações. No que tange à área da comunicação, com a produção de ferramentas de mídias sociais, sites de redes social, aplicativos diversos para smartphones, entre outros, por exemplo, torna-se imprescindível que os efeitos da linguagem possam ser considerados e assumam uma grande importância, pois a linguagem é o vínculo social nas sociedades mais desenvolvidas e não assume, como na perspectiva tradicional, apenas as funções de comunicação e informação.

Outro ponto importante a ser considerado será a finalização da leitura realizada pelo leitor e sua capacidade de não se dispersar do seu objetivo inicial pelos incontáveis caminhos que a rede oferece. Sem generalizar o leitor, sua capacidade de leitura será influenciada consideravelmente por variáveis como sua experiência em leitura, o conhecimento acerca dos gêneros textuais e ainda pela quantidade de suportes que ele conhecer e utilizar.

4. Considerações finais

Ler e ler mais, talvez seja uma das mais populares resoluções quando apresentam falas sobre leitura na contemporaneidade. Teoricamente é simples. Não há necessidade de ferramentas complexas ou conhecimentos inacessíveis, especialmente em um momento em que as Tecnologias da Informação predominam como um dos maiores eventos já conhecidos pela humanidade. Na prática, os espaços de tempo no dia a dia tornam-se cada vez mais competitivos, especialmente para os leitores quanto ao excesso de tarefas que os cercam e os seguem.

Não há dúvidas de que a era digital trouxe um infinito de facilidades, assim como a Internet aproximou todos e tudo de maneira universal; colocou à disposição de qualquer pessoa, uma quantidade de conhecimentos e informações tão imensa que, por ter as respostas para quase tudo à mão, nem sempre se consegue entender com sensibilidade as respostas para muita coisa. A distração é um dos grandes problemas do mundo moderno.

Mesmo o leitor apaixonado pela leitura se vê numa rotina diferente da rotina que o conduzia há algum tempo. Há transformação em cada segundo da vida cotidiana e o universo muda a todo instante, influenciando nossos hábitos, nossas vidas, exigindo que ocorra adaptação com urgência acerca das novidades ou que se deixe simplesmente que elas assolem a todos. Pode-se optar por tornar obsoletas as suas transformações abdicando de usufruir a tecnologia presente no nosso dia a dia.

A neurociência se encarrega de divulgar com mais intensidade, nos últimos anos, muitas pesquisas e estudos realizados em várias universidades ao redor do planeta, que demonstram como a Internet e outras características da atual revolução digital comprometeram-se em modificar a maneira de funcionamento cerebral.

Assim, é possível perceber que a linguagem interativa predomina em locais jamais pensados de se alcançar. A comunicação tornou-se ágil e capaz de se renovar diariamente. Vive-se no tempo da territorialização virtual, questionamentos, leitura não linear, pensamentos abreviados, novos termos, palavras e signos que instalam variadas formas cognitivas de comunicação entre os seres humanos.

Dentre muitas outras atividades, informar, conhecer, comunicar, interagir, expressar, disseminar, também correspondem a muitas ações possíveis dentro e fora de contextos tecnológicos, tornando-se viáveis por meio da linguagem. Ações, assim, impulsionam a vida em sociedade, sendo essencial para sua evolução e desempenho, modificando-se e se adaptando aos contextos, bem como suas transformações ao longo dos tempos, reafirmando, portanto, toda a sua força e vivacidade.

Hoje em dia a comunicação entre as pessoas, a busca por informações a qualquer momento, dia ou horário com incrível facilidade, o transporte de dados, documentos, valores sofreram alterações em suas realizações não apresentando distância alguma. Tem-se o alcance sobre o mundo apenas utilizando o mouse. O sensacional universo da Internet facilitou consideravelmente a vida das pessoas por proporcionar vantagens jamais pensadas em outras épocas.

Na sociedade pós-moderna é possível observar de que maneira a construção, a disseminação e a legitimação dos conhecimentos modificaram-se, indubitavelmente, especialmente sobre o desenvolvimento de novas tecnologias da informação, comunicação e expressão. Neste viés, a conjuntura de modificação do conhecimento e das mais diferenciadas relações de explorar, principalmente o potencial de ensino e aprendizagem por meio das tecnologias, só acarretará ganhos para os leitores, oferecendo-lhes, inclusive, aprendizado contextualizado acerca de suas práticas sociais cotidianas.

No formato do texto eletrônico com suas incontáveis mudanças e novidades, a leitura, especialmente a literária, trouxe consigo novas formas de ser praticada, as quais influenciaram substancialmente no ato de ler. Por não se apresentar linear proporciona o rompimento da ação tradicional da leitura, conferindo-nos autoridade suficiente para a construção dos nossos próprios caminhos até ela tornando-a criativa, instigante, prática e alternativa.

Dessa forma, a linguagem não se porta mais como a mesma ou ainda por ser concebida como algo lógico e formal. Há muito envolvido nesse inovador meio de produção de sentidos e por isso um jogo de linguagem não pode ser definido claramente. Entretanto, o que pode ser feito é uma análise das características similares entre diversas maneiras de linguagem que, a partir da Internet, inter-relacionam pensamento, linguagem e mundo.

A linguagem não é um fenômeno estático, tendo em vista que está em constante movimento e evolução. Quanto mais utilizada, próxima do real e usada entre os indivíduos quando estão face a face, mais interessante se torna. Neste sentido, as tecnologias e a evolução digital conseguem criar pontes e elos com certa facilidade, possibilitando comunicação diferenciada, propiciando melhor interpretação.

O texto desta forma oferecido ao leitor proporciona experimentar e adquirir outras formas de ler não tão rasas como as tradicionais e possibilita novas experiências acerca da criatividade da linguagem. Por meio do universo digital é assegurada a oportunidade para quem não possui facilidade com a escrita e a leitura familiariza-se com o este ambiente escolhendo a melhor forma de usufruí-lo.

Percebe-se, claramente, que como resultado deste ambiente onipresente e o grande volume de interação com a tecnologia, os leitores da era digital pensam e processam as informações bem diferentes das gerações anteriores. Inclusive, muitas destas diferenças vão mais longe e mais intensamente do que muitas pessoas suspeitam ou percebem. Cada sujeito vivencia experiências distintas que levam a diferentes estruturas de pensamento, interpretação e compreensão.

Os recursos tecnológicos representam instrumentos de informação que auxiliam consideravelmente tanto o processo reservado e íntimo de leitura, assim como a prática dele coletivamente ou no ensino e aprendizagem das competências leitoras. Tanto os professores como a escola, por exemplo, devem reconhecer a relevância das tecnologias na produção e divulgação do conhecimento, haja vista que o leitor da contemporaneidade acompanha a cultura digital com pleno domínio para manipular ferramentas tecnológicas, utilizando-as, assim, a favor desse processo.

As tecnologias, como mecanismos intuitivos, supõem que o aprendizado seja facilitado de maneira natural. Ora, crianças e adolescentes possuem certo domínio dos meios tecnológicos, já que utilizam suas funcionalidades para o entretenimento e distração. Nesse sentido, o leitor da atualidade, aquele que acompanha as inovações do mundo informatizado, associando as viabilidades da leitura digital a partir de recursos tecnológicos, precisa ampliar suas formas de construção do saber, de maneira que lhe seja favorável a compreensão crítica da linguagem mediada pela tecnologia de forma mais eficiente e eficaz, além do suporte humano: professor, viabilizador do conhecimento.

Ler é algo dinâmico que requer interação entre o leitor, o texto e o mundo. A leitura é um instrumento de comunicação que auxilia consideravelmente no processo de interação com o mundo, além da introspecção do ser humano em relação à realidade que o cerca. Ler permite aos sujeitos serem resgatados e trazidos à realidade, fazendo-os refletir e transformar o mundo que os cerca.

Material suplementar
Referências
CHARTIER, R. A mão do autor e a mente do editor. Trad. George Schlesinger. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
COSTA VAL, M. da G. Redação e Textualidade. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
DARNTON, R. A questão dos livros. Trad. Daniel Pelizzari. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
HAYLES, K. Literatura Eletrônica: novos horizontes para o literário. Trad. Luciana Lhullier e Ricardo Moura Buchweitz. São Paulo: Global, 2009.
KOCH, I. G. V. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cortez, 1984.
LÉVY, P. Uma perspectiva vitalista sobre a cibercultura. In: LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002, p. 12-14.
LÉVY, P. Inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2003.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica. 2002.
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