Resenhas
Resenha: As culturas do grupo Texto Livre: um estudo de viés etnográfico sob a ótica da complexidade
REVIEW: THE CULTURE OF THE GROUP FREE TEXT: A STUDY OF ETHNOGRAPHIC BIAS FROM THE PERSPECTIVE OF COMPLEXITY
Resenha: As culturas do grupo Texto Livre: um estudo de viés etnográfico sob a ótica da complexidade
Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, vol. 13, núm. 1, pp. 175-177, 2020
Universidade Federal de Minas Gerais
CASTRO Carlos Henrique Silva de. As culturas do grupo Texto Livre: um estudo de viés etnográfico sob a ótica da complexidade. 2019. São Carlos. Pedro & João Editores. 378 ppp. |
---|
Recepção: 15 Janeiro 2020
Aprovação: 24 Janeiro 2020
Resumo: A obra “As culturas do grupo Texto Livre: um estudo de viés etnográfico sob a ótica da complexidade” foi escrita pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, doutor em linguística aplicada (Linguagem e tecnologia) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG/2015) com período sanduíche na University of California, Santa Barbara. Faz parte do corpo docente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde atua como professor permanente do Mestrado Profissional Interdisciplinar em Ciências Humanas e na Licenciatura em Educação no Campo.
A obra “As culturas do grupo Texto Livre: um estudo de viés etnográfico sob a ótica da complexidade” foi escrita pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, doutor em linguística aplicada (Linguagem e tecnologia) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG/2015) com período sanduíche na University of California, Santa Barbara. Faz parte do corpo docente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde atua como professor permanente do Mestrado Profissional Interdisciplinar em Ciências Humanas e na Licenciatura em Educação no Campo.
O livro aborda, em pesquisa de viés etnográfico sob a ótica da teoria da complexidade, como menciona seu título, a cultura digital, a cultura livre, as redes de colaboração, as comunidades de prática, o ensino, a aprendizagem, a universidade, a lógica etnográfica, os conceitos de complexidade, entre outros. A obra é fruto da pesquisa de doutorado do professor, defendido na UFMG em 2015.
A obra se encontra dividida em 6 (seis) capítulos, que são: Capítulo 1 – Introdução; Capítulo 2 – Quadro teórico em que a pesquisa se insere; Capítulo 3 – A etnografia como epistemologia; Capítulo 4 – Metodologia para um estudo etnográfico com dados digitais; Capítulo 5 – Taxionomia cultural do grupo Texto Livre; e Capítulo 6 – Considerações finais.
O autor delineia os anseios por essa pesquisa, as motivações pela área educacional e tecnologias digitais. Assim, elege o grupo Texto Livre (TL) para traçar registros de seu objeto de estudo. O TL envolve cursos de graduação e pós-graduação, nas modalidades presencial e a distância, e sua estrutura é composta por práticas de uso de tecnologias livres em projetos educacionais. Para tanto, seleciona 16 (dezesseis) documentos com interação entre os membros do TL e relatos contextuais que servem de base para a construção dos dados para o trabalho.
ra a construção dos dados para o trabalho.A metodologia empregada pelo autor é de orientação etnográfica, a qual é descrita como uma lógica imprevisível e de muitas descobertas. Em uma visão êmica das comunidades pesquisadas, o autor trabalha o conceito de cultura livre, mostrando a importância do compartilhamento, da colaboratividade de conhecimentos e da meritocracia. Segundo o autor, tais conceitos são fundamentais para a cultura livre, que, então, poderia ser entendida como uma cultura de compartilhamento, colaboração e reconhecimento a partir da disponibilização de um software livre (SL) (CASTRO, 2019).
Outro conceito trazido para a discussão, na análise dos documentos selecionados inicialmente, é a teoria da complexidade que se entrelaça com a etnografia a fim de compreender as práticas culturais do TL e como as práticas contribuem para as relações e para os membros. Sendo assim, até o momento do capítulo primeiro foram apresentados o objeto, o contexto, a pesquisa de linguística aplicada (LA), o método do trabalho e as práticas do TL.
É necessário compreender a cultura como prática de um determinado grupo, buscando entender conhecimento como algo dinâmico que se dá a partir das interações. As práticas irão delimitar a maneira como as ações ocorrerão, é o que define a comunidade de prática (CoP). Assim, há os sistemas adaptativos complexos (SAC), dos quais não se separam os componentes. Destaca-se então, a relevância dos SL, a importância de um sistema aberto, pois permite a troca de conhecimentos com quem está interagindo com o sistema. O autor ressalta a complexidade como um elemento fundamental, pois a dinâmica está presente.
Aparecem, então, as emergências que são produto da interação em um sistema complexo e que não obedecem à linearidade e à auto-organização. Assim, os integrantes do projeto buscaram a ordem, que dará significação para o sistema buscando adaptar-se. Por exemplo, ao empregar uma nova tecnologia, as práticas do grupo visaram a uma ressignificação gerando alteração do sistema inicial e, com isso, um novo significado. Recorre-se, aqui, à etnografia como forma de entender a emergência e o sistema complexo.
Utiliza-se, para tanto, o conceito de línguacultura, que descreve exatamente o elucidado acima. Cultura é uma construção e, pelo trabalho do etnógrafo, é possível avaliar e perceber diariamente o processo de significação que está contido na línguacultura. Contextos e significados estão interligados. Cada leitura é distinta, o que parte do pressuposto de interação ou posição.
A etnografia com epistemologia na teoria da complexidade é trabalhada quando a ação de um grupo não representa uma ação rotineira, ou seja, depende da participação e da interpretação, o que gera a quebra de padrão. Nesse sentido, a língua e a etnografia são guias que mostram mudança de domínios sociais, de parte do grupo para outro, ou de uma prática para outra. Nessa perspectiva, a etnografia irá se concentrar em por que os pontos relevantes mudam, a fim de dar espaço a outras culturas.
O trabalho etnográfico foi realizado pelas propostas de Spradley, com alterações para os dados digitais. Sendo assim, iniciou-se com perguntas mais gerais que, ao tempo, acabavam por gerar perguntas mais específicas. O autor buscou, na descrição interativa do TL, identificar as raízes do grupo a partir das interações que resultaram em sua formação. A primeira evidência, a partir de um diálogo, é que o TL nasceu no tripé ensino, pesquisa e extensão. Essa comunidade poderia trazer estratégias de ensino e, em troca, receberia o trabalho científico, o que nos induz à cultura livre como colaboração e compartilhamento.
Os dados, no geral, foram contrastados e, assim, a etnografia permitiu ler os padrões. A teoria da complexidade, por sua vez, busca entender os padrões complexos do grupo. Assim, Castro (2019) procurou identificar os pontos relevantes e contrastar com os dados disponíveis. Segundo ele, o produzido sempre é compartilhado e fica nítido o diálogo entre academia e a cultura livre. A interação entre tutores e coordenação formam um fractal comunitário do TL, sendo o bom desempenho das práticas online fundamental para o diálogo. A colaboração é a base da cultura livre e essencial para o funcionamento das práticas do grupo.
Na construção de cultura, no modo de evento online, os dados levantados mostraram a emergência do periódico Revista Texto Livre, a partir da necessidade de se publicarem os trabalhos apresentados no EVIDOSOL. Sendo assim, verifica-se como se dá a continuidade do diálogo entre cultura livre e universidade e como agregam maior interatividade às questões teóricas, como as complexidades das CoPs que formam o grupo TL e os fenômenos fractais.
É nítido que, nessas comunidades, a participação é o que auxilia na construção da identidade. O que Castro (2019) faz é mostrar como isso acontece no grupo Texto Livre, coletando dados, analisando-os minuciosamente e organizando essas experiências para que a compreensão de comunidade de prática como um processo complexo seja um conhecimento coletivo a partir das outras experiências comunitárias.
Como o próprio título do livro sugere, a obra é abordada a partir de uma ótica etnográfica e uma perspectiva da teoria da complexidade, em que a cultura é tratada nos mais diversos campos. Entende-se que a obra tem uma linguagem específica, o que, para um pesquisador das ciências humanas, possa não ser tão compreensível por se tratar de um objeto muito específico, num primeiro momento. No entanto, depende muito do que se deseja extrair como objeto na leitura. Para entender sobre a pesquisa etnográfica, o conceito de cultura, o livro é muito enriquecedor. Para o meu objetivo de pesquisa, foi fundamental para que pudesse extrair os mais variados aspectos acerca da cultura.
O livro compreende-se em um processo circular que envolve variedade, pluralidade e atravessamento de distintas perspectivas, não se restringindo a teorias segmentadas. Com isso, a obra, apesar de densa por ter muita teoria voltada para a linguística, é de uma bagagem imensurável para as ciências humanas, em um todo, pois apresenta a linguagem etnográfica mesclada com teorias que exprimem a pluralidade do conceito de cultura. Sendo assim, almeja-se que o presente trabalho seja relevante para as Ciências Humanas, especialmente, no que tange às práticas interdisciplinares.
Ligação alternative
https://periodicos.ufmg.br/index.php/textolivre/article/view/24079 (html)