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Invenções de nação e reinvenções de si: o Chile por Roberto Montandón (1942-1952)[1]
Inventions of a nation and self-reinventions: Chile by Roberto Montandón (1942-1952)
Invenções de nação e reinvenções de si: o Chile por Roberto Montandón (1942-1952)[1]
História Unisinos, vol. 21, núm. 3, pp. 444-457, 2017
Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Recepción: 22 Julio 2016
Aprobación: 14 Julio 2017
Resumen: O artigo examina aspectos da vida e da obra de Roberto Arturo Montandon Paillard (1909-2003), em especial sua atuação no Chile, por meio da qual veio a se tornar “Don Roberto Montandón”, fotógrafo e estudioso do patrimônio cultural. Aborda-se como esse suíço de nascimento viu e apresentou o país que adotou como seu, no período em que passou de estrangeiro a cidadão chileno. São analisados textos e imagens por ele publicados na revista En Viaje, entre 1942 e 1951, e brevemente comentados três livros de sua autoria editados entre 1950 e 1952. Compreende-se que o período enfocado comporta três deslocamentos na vida de Montandón: um deslocamento identitário (no que tange à identidade de autor e à identidade civil); um deslocamento de perspectiva quanto à relação com o Chile e suas paisagens (da geografia para a história, do turismo para o patrimônio cultural); um deslocamento quanto às formas preferenciais adotadas por ele para se expressar (da produção textual para a produção fotográfica). Nesse período, inventa um Chile e reinventa a si próprio.
Abstract: The article examines some aspects of the life and work of Roberto Arturo Montandon Paillard (1909-2003), particularly his activities in Chile, through which he became “Don Roberto Montandón”, a photographer and researcher of cultural heritage. There is a particular interest in understanding how this man born in Switzerland saw and presented the country he adopted for himself, especially in the period before getting the Chilean citizenship (acquired at the end of the 1940s). Texts and images he published in En Viaje (a Chilean magazine) between 1942 and 1951 are analyzed and combined with a brief comment about three books written by Montandón and published between 1950 and 1952. It is proposed that the focused period has three shifts in Montandón’s life: a shift of identity (with respect to his identity as an author and his civil identity); a shift of perspective on the relationship with Chile and its landscapes (from geography to history, from tourism to cultural heritage); a shift of expression (from photographic to written expression). In this period, Montandón promotes an invention of Chile and also a self-invention.
Keywords: Chile, Roberto Montandón, En Viaje magazine, cultural heritage, photography.
Palavras chave: Chile, Roberto Montandón, revistaEn Viaje, patrimônio cultural, fotografia
Em 29 de novembro de 2003, na capital chilena, Roberto Montandón encerrou uma vida longa e produtiva, em vários campos de atuação. Fotografar − algo a que se dedicara antes de sua transferência definitiva da Suíça para o Chile, ocorrida na década de 1930 − veio a tornar-se, naquele país da América do Sul, uma de suas atividades mais constantes, mesmo que nem sempre prioritária. Ela pode ser assinalada ao menos desde sua colaboração na revista chilena En Viaje, entre 1942 e 1951, sendo que, em parte desse período, também trabalhou na área de turismo, em órgãos públicos do Chile[3]. A fotografia ainda marcou seu trabalho de documentação do patrimônio cultural chileno, na extensa colaboração com o Consejo de Monumentos Nacionales, entre 1949 e 2001[4]. Além disso, entre as décadas de 1950 e 1960, Montandón teve importante papel à frente do Laboratorio Central de Fotografía y Microfilm da Universidad de Chile[5]. Embora não fosse arquiteto nem engenheiro civil − formara-se como engenheiro agrônomo −, teve sob sua responsabilidade a coordenação de obras de restauração de diversas edificações isoladas ou conjuntos patrimonializados, como o Pukara de Lasana, as igrejas de San Pedro de Atacama, de Tarapacá e de Santa Maria de Achao, o Campanário de Matilla, as fortificações (ou “castillos”) no estuário do Rio Valdívia e o forte de Ahui, bem como o Palácio La Moneda[6]. Sua autoridade foi reconhecida no campo da arquitetura: entre 1969 e 1982, ministrou aulas de história da arquitetura, na condição de professor agregado, em seminários da Escuela de Arquitectura da Universidad de Chile, e em 1973 foi designado membro honorário do Colegio de Arquitectos de Chile (Rodríguez Villegas, 2003, p. 414)[7]. Por conta de seus estudos históricos sobre arquitetura, ganhou lugar na Sociedad Chilena de Historia y Geografía e na Academia Chilena de la Historia[8]. São diversas, portanto, as dimensões da vida de Roberto Montandón que suscitam análise. Neste artigo, porém, atenho-me às formas como esse suíço de nascimento viu, representou e apresentou o país que adotou para si. Questão que me parece particularmente pertinente, considerados os seus investimentos pessoais na construção de representações sobre o Chile por meio de seus escritos, pela participação em ações formais de patrimonialização de bens culturais chilenos e através da intensa produção de imagens visuais. Certamente não foi o mesmo Roberto Montandón que elaborou tais representações, durante os mais de 60 anos de residência chilena. O Chile por ele vivenciado também não foi o mesmo. Não suponho, portanto, homogeneidade e imutabilidade em relação ao Chile, a Montandón ou às imagens produzidas por ele acerca daquele país: por suas próprias condições de produção e existência, tais imagens (visuais ou não) carregam a promessa de diferença operada pela historicidade. Estou igualmente atenta às armadilhas que envolvem a própria enunciação de um sujeito e de uma nação, em especial os componentes ilusórios associados às ideias de unidade e de percurso (ou de trajetória). No que tange aos sujeitos, Pierre Bourdieu advertiu, em meados dos anos 1980, quanto à ilusão retrospectiva que costuma permear a abordagem da vida de um indivíduo: traça-se um fio narrativo que transforma elementos do passado em indícios e antecipações do futuro. A imprevisibilidade, as incoerências, as desconexões, os muitos possíveis presentes a cada momento são então mitigados ou apagados frente aos supostos sinais de uma vocação ou de um destino. Ainda conforme Bourdieu (1998, p. 184, 187), outro poderoso componente a reforçar a ilusão de unidade do sujeito é seu nome próprio: de forma enganadora, a constância do nome tende a nos alhear de suas inúmeras maneiras de ser, pensar e agir, em distintos tempos e espaços. No que se refere às nações, há, nos discursos e nas práticas que as afirmam, a ilusão de que, como coletividades, permitem mais integrar do que desintegrar, mais aproximar do que afastar, não obstante as diferenças e desigualdades que as atravessam. Haveria uma unidade possível, calcada, conforme distintos discursos de nação, em um território comum, uma mesma língua, uma etnia, costumes partilhados, um mesmo destino histórico ou uma combinação desses vários aspectos. Quanto a isso, cabe lembrar Benedict Anderson, que, em livro referencial originalmente publicado em 1983, entendeu ser a nação uma “comunidade política imaginada”, cujos membros – imagina-se − podem e devem se irmanar, não obstante, em sua maioria, desconheçam-se (Anderson, 2008, p. 32-34). A tendência de Anderson a positivar a concepção de nação, dando pouco peso à sua apropriação violenta pelos nacionalismos, foi bastante criticada (Balakrishnan, 2000; Chatterjee, 2000). Apesar das críticas, cabe reconhecer que, mesmo quando promovidos ataques contra determinadas coletividades, não raro em nome da proteção e do bem-estar das coletividades tidas como nacionais, são estas apresentadas como sustentadas por laços identitários de caráter fraterno − o que favorece a percepção de um “nós”, formado pelos integrantes da nação, contra “eles”/“os outros”. Compreender o caráter inventivo (e, portanto, criativo) que envolve tanto as percepções sobre os indivíduos como os discursos sobre as nações, por sua vez dotados de historicidade, reforça a complexidade da iniciativa de narrar aspectos da vida de uma pessoa, bem como a empreitada de interrogar os fios narrativos ou as miradas peculiares que presidiram a elaboração de representações acerca da biografia de indivíduos e de nações. Neste artigo, ao mesmo tempo que busco escapar da ilusão biográfica, tento captar uma dada configuração criativa de representações sobre uma nação: destaco as representações sobre o Chile produzidas por Roberto Montandón em período de sua vida particularmente marcado por transições e deslocamentos − os anos de 1942 a 1952. Na maior parte desse período, Montandón foi formalmente um estrangeiro perante as autoridades do Chile, mas, nos anos finais, vivia a condição de cidadão chileno. Como já referido, nessa fase elaborou parte importante de sua produção textual, a saber, os artigos para a revista En Viaje, além de ter publicado seus primeiros livros (Montandón, 1950a, 1951f, 1952). Quanto aos deslocamentos, as reflexões aqui reunidas estão organizadas em torno de três deles:
Juntamente com os livros de Montandón editados entre 1950 e 1952 e os artigos de sua autoria na revista En Viaje[9], foram mobilizados, como fontes de pesquisa, documentos que compõem seu arquivo pessoal, atualmente custodiado pelo Consejo de Monumentos Nacionales, em Santiago.
(i) um deslocamento identitário, no que se refere à identidade de autor, tal como consta na revista En Viaje − de “R.A. Montandon” a “Roberto Montandón”, não por acaso colocando em xeque seu nome −, e no que tange à identidade civil (de estrangeiro a cidadão chileno);
(ii) um deslocamento de perspectiva quanto à abordagem de paisagens naturais e culturais do Chile (de enfoque predominantemente geográfico e turístico para enfoque marcadamente histórico e patrimonial, na clave das “relíquias históricas”);
(iii) um deslocamento de formas preferenciais de expressão (da expressão escrita para a fotográfica).
Identidade civil, identidade de autor: de R.A. Montandon a Roberto Montandón
Nascido na cidade de Neuchâtel, Suíça, em 14 de abril de 1909, nosso personagem viajou pela primeira vez ao Chile com pouco menos de 20 anos, em 1928, conhecendo antes de tudo a região norte e suas salitreiras. No discurso de recepção do suíço na Academia Chilena de la Historia, proferido em 28 de agosto de 1973, comentou Guarda Geywitz:
[...] el joven de diecinueve años que [en 1928] es Roberto no ha llegado a esta localidad [de Santiago], sino al norte, a las salitreras. Ha tenido el primer contacto con el desierto y este mundo enteramente nuevo para él, habitante de la húmeda Suiza, lo ha fascinado; jamás lo olvidará y así, al regresar a Europa, el atractivo de ese paisaje árido y majestuoso lo acompañará en sus afanes, llamándolo a un retorno que esta vez será definitivo (Guarda Geywitz, 1973, p. 174-175).
A adoção do Chile como seu novo país ocorreria, assim, em outra viagem, realizada na década de 1930. Conforme Guarda Geywitz (1973, p. 175), essa viagem teria acontecido em 1936, sob a influência do encanto pela paisagem desértica e das relações familiares na região sul. Já para Rodríguez Villegas, em texto de 2003, seria 1938 o ano da viagem decisiva; menciona, contudo, viagem anterior, ocorrida em 1935, com o fim de visitar familiares não no sul, mas no norte, “vinculados a la construcción de ferrocarriles salitreros en la región de Antofagasta” (Rodríguez Villegas, 2003, p. 413)[10]. As salitreiras do norte seriam objeto de interesse duradouro de Montandón, talvez em decorrência desses laços. Note-se que as oficinas salitreiras Humberstone e Santa Laura, monumentos nacionais chilenos desde 1970, foram tornadas patrimônio da humanidade em 2005; a apresentação do documento de postulação encaminhado à UNESCO, datado de 2003 (ano da morte de Montandón), alude à memória de “Don Roberto Montandón Paillard, quien dedicó parte de su vida a la conservación de estas salitreras” (Consejo de Monumentos Nacionales, 2003).
Não foram obtidos, no processo de pesquisa, dados mais precisos acerca de seus familiares, nem mesmo foi possível verificar se estavam afinal estabelecidos tanto no sul como no norte, ou se mantinham com o norte apenas vínculos de trabalho. Veja-se que na região do Atacama existe o pueblo de Montandon, integrante da atual comuna Diego de Almagro (anterior “Pueblo Hundido”), próximo a Potrerillos, na província de Chañaral. No pueblo de Montandon há inclusive estação ferroviária, que compõe os equipamentos da linha férrea concebida na década de 1910 por dois engenheiros, o “anglo-saxão” George Edgar (ou Edgard) Montandon e o chileno Hermógenes Pizarro (Danús Vazquez, 2007, p. 280; Lopez, 2014; Palma, 2014). O engenheiro “anglo-saxão”, segundo as fontes consultadas, faleceu antes de concluída a construção da ferrovia. Haveria parentesco de George Montandon com Roberto Montandón? Na consulta ao “Archivo Fotográfico Roberto Montandón Paillard”, no Consejo de Monumentos Nacionales, foram encontradas duas imagens fotográficas referentes ao “monumento a George Edgar Montandon”. Seriam, todavia, registros decorrentes de elos familiares e afetivos? Ou simples resultado da curiosidade por alguém com o mesmo nome de família? Perguntas para as quais não foram encontradas respostas[11].
Toda migração pode envolver fatores de atração e de expulsão. Na bibliografia relativa a Roberto Montandón, são vislumbrados os de atração: a fascinação por um ambiente natural bastante distinto daquele em que nascera e crescera, particularmente no que se refere ao norte chileno; os laços familiares, que poderiam facilitar a residência no Chile; o início da carreira profissional do jovem engenheiro agrônomo, tanto mais em uma conjuntura mundial marcada pelos esforços de superação da Grande Depressão. O Chile não estava isento das consequências da crise econômica: o ramo da família de Montandón ligado à produção salitreira provavelmente sofreu os efeitos do declínio daquela atividade, iniciado na década de 1910 (sobretudo com a invenção do salitre sintético) e agravado nos anos 1930. Mas, a partir da década de 1930, o país assistiria a esforços para acentuar sua industrialização e o processo de urbanização; a capital chilena seria significativamente transformada pela expressiva chegada de migrantes, pela expansão do consumo (inclusive o ligado ao entretenimento) e pela presença gradativamente mais forte dos referenciais da “vida moderna”. Enquanto setores tradicionais da economia debatiam-se em dificuldades, como o setor agrícola, outros emergiam com força, como o setor turístico (Medina, 2015, p. 154-177; Garay Vera, 2015, p. 222-223, 247-249).
A situação europeia desenhava, na segunda metade dos anos 1930, um cenário político cada vez mais conturbado e polarizado entre projetos de extrema direita e esquerda, com progressivo domínio dos primeiros, nos governos de vários países − notadamente na Itália sob Mussolini, em Portugal sob Salazar e na Alemanha sob Hitler, sendo que, entre as forças em luta na Guerra Civil Espanhola, viria a destacar-se, na liderança dos nacionalistas insurretos, o general Francisco Franco. Quanto às relações entre os Estados, a anexação da Áustria e a invasão da região dos Sudetos pela Alemanha, em 1938, deixaram mais concreta a possibilidade de uma segunda grande guerra europeia, com desdobramentos mundiais, conflito que afinal eclodiu no ano seguinte. De forma distinta, o Chile dos anos 1930 assistiu à expansão e à articulação de forças políticas de centro-esquerda, sendo as reformas sociais uma demanda compartilhada por mais de um partido político (Riquelme Segovia e Fernández Abara, 2015, p. 24-61). Como milhares de europeus naquele período, Montandón optou por deixar seu continente rumo à América, e sua escolha recaiu sobre o território chileno.
A primeira etapa da vida de Montandón no Chile contemplou a colaboração com a revista En Viaje, periódico promovido pela Empresa de Ferrocarriles del Estado. Segundo Garay Vera (2015, p. 248), a empresa “no sólo administraba los trenes y sus estaciones y garitas, sino que además gestionaba planes turísticos y construía lugares de descanso y hoteles”. En Viaje, portanto, era fundamentalmente um veículo de propaganda turística, embora abarcasse outros aspectos, por guardar muitas semelhanças com a literatura de almanaques: continha informações gerais sobre temas variados, no tocante a biografia, história, literatura, arte, política, saúde, esporte e religião; voltava-se para o entretenimento, com seções de palavras cruzadas ou adivinhações; fornecia dados sobre atividades essenciais da empresa promotora, como horários de trens; reunia textos mais diretamente relacionados a viagens (sobre a “arte de veranear”, transportes, gastronomia, agências de viagens...), ao mesmo tempo em que abrigava notícias sobre temas candentes no debate público, que abarcavam desde a situação política internacional até questões locais.
Na revista En Viaje, o primeiro texto seguramente atribuível a Montandón foi publicado em fevereiro de 1942 e se intitulou, emblematicamente, “Chile”, embora no sumário daquela edição aparecesse como “Chile visto por un turista extranjero”. Na abertura daquele texto, apresentado como extrato do livro Geografia turística de Chile e da Revista Sudamericana de Viajes[12], o autor foi identificado como “R.A. Montadon” [sic].
Dois estranhamentos, portanto, na identificação do autor: a ausência de uma letra no nome de família, provavelmente decorrente de erro de impressão, e um nome intermediário, abreviado (“A.”). Conforme dados obtidos no processo de pesquisa, seu nome completo era Roberto Arturo Montandon Paillard − sem o acento agudo no segundo “o” de Montandon. Arturo era também o nome de seu pai, Arturo Montandon de Traver; Paillard vinha do nome da mãe, Berthe Paillard de Noiraigues (a respeito, ver Ministerio del Interior, 1943). No Chile, Roberto Montandón cada vez menos utilizaria, publicamente, o nome Paillard, como se adotasse o procedimento habitual, em países de tradição hispânica, com relação ao segundo nome de família[13].
Em todos os demais textos por ele publicados no periódico En Viaje, ao menos aqueles em que a autoria foi claramente assinalada, houve ênfase em um dos nomes de família: Montandon. A autoria foi inicialmente indicada de maneira mais impessoal, atribuída a “R.A. MONTANDON” (sendo os textos encerrados com as iniciais R.A.M.). A impessoalidade se reduz a partir de 1947, ao menos em decorrência da identificação de um dos prenomes, aparecendo o autor como “Roberto A.” e como “Roberto” (neste último caso, com as iniciais R.M. no final de cada texto). Fixou-se, afinal, a forma “Roberto Montandón”.

Figure 1. Headers of Montandón articles published in En Viaje magazine.
Fonte: Montandón (1942a, p. 49; 1945e, p. 172; 1946b, p. 5; 1946a, p. 48; 1947b, p. 40)Decorridos quase oito anos de colaboração regular, o autor com as iniciais “R.A.”, que já tivera revelado um dos seus nomes próprios (Roberto), ganhou rosto: seu retrato apareceu ao lado dos de outros colaboradores, no número de En Viaje de novembro de 1949, quando foi apresentado como “Roberto Montandón, técnico en turismo”. Montandón não parecia posar para a foto; aparentemente ao ar livre e em trajes mais informais, mirava o horizonte e não a câmera fotográfica.

Figure 2. Photos of En Viaje magazine’s collaborators.
Fonte: En Viaje (1949, 193:67).Nas páginas da revista En Viaje, a identidade que logo de início foi atribuída ao autor (“turista estrangeiro”), duplamente distante de uma identidade chilena, sofreu um processo de atenuação e de apagamento. O instrumento de atenuação foi o tratamento dado a um dos nomes de família (“Montandon”). Na revista, no período estudado, a grafia do nome permaneceu inalterada na maior parte do tempo, por força do registro gráfico preponderantemente adotado (com todas as letras maiúsculas). Mas, nas vezes em que essa forma de registro se modificou, com adoção da maiúscula apenas para a letra inicial do nome, apareceu o acento agudo – “Montandón” –, o que fez com que o nome ganhasse aparência “hispânica”. Com base na documentação consultada principalmente no Consejo de Monumentos Nacionales, pode-se aventar a hipótese de que esse procedimento foi uma decisão dos editores e não uma ação deliberada do autor: veja-se que, em documentos de arquivo diretamente produzidos por nosso personagem (tais como os documentos que contêm dados biográficos e as cópias dos textos datilografados que foram posteriormente publicados na revista En Viaje), o nome de família do autor aparece sempre grafado sem o acento agudo − apenas “Montandon”. Quanto ao apagamento da condição estrangeira, é operado nas estratégias narrativas do autor, que utilizou, em vários dos materiais publicados, a primeira pessoa do plural. Com isso, pressupôs um conjunto de leitores chilenos, com os quais se irmanou, na clave de uma identidade nacional. Veja-se, como exemplo, excerto do artigo “Naturaleza, turismo y hoteles”, publicado em janeiro de 1946:
En un país tan excepcionalmente dotado como el nuestro, hablar de crisis del turismo suena a herejía, a ignorancia, a derrotismo, porque es cierto que nos hemos acostumbrado a las críticas malévolas, demoledoras, en vez de formular críticas positivas, constructivas (Montandón, 1946b, p. 5, grifos meus).
Note-se ainda que esse processo de “chilenização”, perceptível quanto à identidade de autor, conectou-se à identidade civil: Roberto Montandón Paillard recebeu sua cidadania chilena em 1949. Sua “chilenidade” ganhou, aliás, adendo importante quando, em 1951, casou-se com Sofía Basaure Baeza, chilena nascida em Santiago (Curriculum Vitae, 1972; Rodríguez Villegas, 2003, p. 414; Genealogía Chilena, 2015).
Da geografia à história, do turismo ao patrimônio
Tuve el privilegio de conocer Chile desde hace muchos años, no las ciudades sino que el interior, y pude así formarme la imagen, no hacer un inventario metódico, sino que por lo menos recordarme de muchas cosas, que cuando llegó el momento de poder iniciar una actividad en este sentido [de evaluación del patrimonio arquitectónico], me sirvieron mucho (Roberto Montandón, in Nordenflycht, 2006a, grifos meus).
O acentuado interesse de Montandón por viagens e pelo contato com a diversidade de povos, tradições e costumes que elas poderiam proporcionar possivelmente teve a influência do tio George Montandon − que não deve ser confundido com o engenheiro de ferrovia com morte trágica, anteriormente referido. O próprio Roberto apresentou esse tio como docente de antropologia em universidades de Paris e Genebra, e a ele atribuiu, em 1972, importância significativa em sua formação (Curriculum Vitae, 1972)[14]
No trecho anteriormente destacado de entrevista concedida, em 1992, a José de Nordenflycht, Montandón atribuiu grande importância às viagens que realizou “muitos anos” antes, principalmente ao interior do Chile: elas teriam permitido que formasse “a imagem” do país, do que nele era significativo e que poderia vir a ser considerado patrimônio cultural. Parte das reflexões provocadas por essas viagens pode ser conhecida nos textos publicados por Montandón na revista En Viaje. Mas como se estabeleceu a colaboração com a revista? Tratava-se de colaboração espontânea? Ou seus artigos eram encomendados pelos responsáveis pelo periódico?
Também a esse respeito, novamente, dispomos apenas de indícios. Na documentação textual do “Archivo Roberto Montandón”, no Consejo de Monumentos Nacionales, encontra-se cópia de carta datada de 14 de julho de 1947, enviada de Antofagasta para “Carlos” − muito provavelmente, Carlos Barella, diretor da revista En Viaje na década de 1940 (ver Memoria Chilena, 2015). A carta encaminhava artigo e dava indicação de que, ao menos nesse caso, o tema fora de livre escolha do autor, embora a publicação passasse pelo crivo do diretor:
[...] Parti de viaje sin haber tenido tiempo en Santiago de copiar mi articulo que habia escrito a lapiz. No se si el articulo le guste. Me detengo en Vallenar porque hasta ali, es el tramo mas desconocido de la carretera y porque La Serena esta demasiado descrita por plumas muchisimo mejores que la mia. Antofagasta y Vallenar tambien, pero en fin, he tratado de hacer algo original (Carta a Carlos, 1947, grifos meus)[15].
As colaborações de Montandón para En Viaje abarcaram, em linhas gerais: artigos sobre aquilo que, no seu entender, mereceria ser conhecido por um viajante ou turista no Chile; artigos sobre aspectos “pitorescos” das viagens em geral, ou que a elas poderiam ser relacionados[16]; textos sobre aspectos pontuais relativos ao turismo, inclusive políticas públicas para a área (entre eles: Montandón, 1945a, 1951g); textos que salientavam características da fauna, e que certamente mobilizavam os conhecimentos de Montandón como engenheiro agrônomo (exemplos: Montandón, 1945c, 1948b, 1949f, 1949g, 1949h, 1949i, 1949j), ou que tratavam de práticas esportivas ao ar livre (Montandón, 1948a, 1948e). Convém ainda assinalar os artigos que poderiam entrar no rol das “curiosidades” e que provavelmente interessariam a uma parte do público da revista, como o texto sobre “El problema de la Lemuria” (Montandón, 1950b), acerca de suposto continente desaparecido sob as águas marinhas, ou o artigo sobre o costume de enviar cartões com votos de felicidades no Ano Novo (Montandón, 1951h).
No que se refere aos textos sobre o Chile “para conhecer”, podem ser diferenciados os marcadamente panorâmicos − com considerações sobre praticamente todo o território, mesmo que tomado, como referência, um aspecto específico − e aqueles menos abrangentes, voltados geralmente para uma localidade. Seguem extratos de textos panorâmicos − primeiramente, trecho do texto de estreia, em fevereiro de 1942, “Chile”:
Más de cuatro mil kilómetros de costa en línea recta, una angosta faja de tierra de setecientos cuarenta mil kilómetros cuadrados, apoyada en los tremendos macizos cordilleranos y, desde las cálidas arenas del norte hasta los hielos patagónicos, una variedad de climas que han modelado la más rica colección de paisajes, hacen de Chile un país excepcionalmente aventajado en el terreno turístico (Montadon [sic], 1942a, p. 49, grifos meus).
Desde o primeiro texto publicado na revista En Viaje, Montandón acentuou a perspectiva de um Chile “geográfico”, constituído por paisagens de sucessivos contrastes, de oeste a leste, de norte a sul; contrastes que se referiam ao relevo, à vegetação, à hidrografia, ao clima. O olhar sobre o conjunto do território ainda foi exercitado em “Las termas en Chile”, de dezembro de 1944:
Chile, como muy pocos países participa del patrimonio singular de contar, a través de toda su extensión, con innumerables vales cordilleranos, adonde, al lado de los afloramientos minerales, surgen fumarolas y manantiales de las más diferentes características fisio-químicas.
En plena cordillera, en sus contrafuertes, en el valle central y región de la costa, nuestro país ostenta la riqueza sin paralelo de sus vertentes medicinales. (Montandón, 1944, p. 25-26, grifos meus)[17]
Ou a visão das praias, em texto de janeiro de 1945:
Desplegar el mapa de Chile es recibir, de golpe, la sensación dubitativa del viajero que vacila ante un sin número de rumbos sin acertar en decidir su elección.
Penínsulas y caletas, promontorios atormentados y ensenadas trazadas al compás: roquedales y arenas que invitan y atraen irresistiblemente. [...]
Las playas chilenas cumplen con esa ley del contraste geográfico, impuesto a Chile por sus 36 grados de latitud y a través de manifestaciones tan variadas, consecuencia de los climas modeladores de escenarios son, ante todo, el triunfo de la naturaleza (Montandón, 1945e, p. 172, 175, grifos meus).
Trata-se de uma geografia que se conhece em sequência, na cadência curta dos grandes marcos das paisagens da extensão longitudinal do país (litoral, vales, Cordilheira dos Andes) e na cadência longa de suas latitudes (do deserto às geleiras). Geografia que forma um conjunto coerente, não obstante os contrastes, reforçados pela riqueza e excepcionalidade de espécies de fauna e flora. Quando lugares específicos (cidades, pueblos) são apresentados nesses textos, de alguma forma se amoldam ao meio natural. Viajar para conhecer o Chile seria antes de tudo viajar para conhecer suas paisagens naturais; significaria conhecer as expressões da natureza e seus desafios, o que resultaria em experiências muitas vezes intensas, que testariam os limites de quem se engajasse na aventura.
Parte expressiva dos destinos apontados por Montandón exigia muito de quem os visitasse, como se entrevê no texto de abril de 1942 sobre “El cráter del volcán Copahue (apuntes de viaje)”: nesse local, situado entre Chile e Argentina, “La atmosfera es diáfana; el aire leviano; en ese medio ambiente la vida cobra su verdadero sentido” (Montandón, 1942b, grifos meus). Pode-se colocar em dúvida se muitos dos locais descritos por ele atenderiam a demandas propriamente turísticas, ao menos na visão que se tornou predominante a partir da segunda metade do século XX − perspectiva massificada, que se afastou do grand tour de perfil elitista dos séculos XVIII e XIX (Urry, 1996, p. 204), e que só mais tarde geraria o turismo segmentado, inclusive voltado para consumidores de experiências “radicais”. Na revista En Viaje, Montandón parece dialogar mais com o viajante (“el viajero”) do que com o turista-padrão.
Não obstante o encantamento pela geografia, o olhar de Montandón demonstrou ser sensível à presença humana e à diversidade cultural. As paisagens chilenas não eram contrastantes apenas em seus aspectos naturais: reuniam vestígios materiais de distintas culturas, diferentemente distribuídas no tempo. Neste sentido, a viagem poderia proporcionar experiências de contato com variadas formas de expressão cultural, tanto contemporâneas como passadas. Daí a tematização das “relíquias” existentes no território.
Embora o espaço territorial fosse amplo, a geografia das relíquias, tal como esboçada por Montandón, era mais circunscrita: igrejas de Chiloé, fortes no estuário de Valdívia e, muito marcadamente, igrejas, campanários e pukaras do norte. Em diversos textos de En Viaje, o norte foi ressaltado[18], como em “Relíquias históricas de Chile”, publicado em maio de 1945:
Las esplendorosas y ostentosas manifestaciones de fervor religioso en la época colonial y las estupendas hazañas arquitecturales de civilizaciones precolombinas, patrimonio actual de otras naciones del continente, no han llegado hasta nosotros.
Sin embargo, el viajero que recorre rutas conocidas o se adentra hacia la cordillera en la región norte de Chile, se detiene ante reliquias y sitios históricos que despiertan su curiosidad a la vez que su sensibilidad (Montandón, 1945f, p. 48).
Quando Montandón passou a atuar junto ao Consejo de Monumentos Nacionales, dedicou-se, com intensidade, à região do Deserto do Atacama e, em especial, ao altiplano. Os dois números iniciais dos “Cuadernos del Consejo”, de sua autoria, enfocam o Pukara de Lasana e as igrejas e campanários daquela área.
Não se pode afirmar que Montandón tenha abandonado a perspectiva geográfica, ou mesmo a abordagem turística; o projeto de livro sobre a “geografia turística” do Chile parece ter prosseguido por alguns anos, e a quantidade de mapas e cartas geográficas que compõem seu arquivo reforça a persistência do interesse pela geografia. Mas o interesse pela história e pelo patrimônio cultural, bem como pelos povos originários, ganhou mais peso em suas preocupações e atividades – provavelmente, a partir da segunda metade da década de 1940 −, a ponto de posteriormente ser associado a uma “vocação”.
A ideia de vocação emerge em documento que reúne dados biográficos sobre Montandón e que compõe a documentação arquivística de caráter textual existente no Consejo de Monumentos Nacionales. Embora redigido na terceira pessoa do singular, muito provavelmente foi escrito pelo próprio Montandón:
Sus andanzas por el país [en la década de 1940] y sus contactos con aldeas y pueblos alejados donde el tiempo se ha detenido y sus construcciones del período colonial que luego le seduce, sus visitas personales a Bolivia y Perú tras las huellas de lo pre-hispánico e hispánico, despierta[n] en él un vivísimo interés por la arquitectura colonial y su protección, interés que luego toma el carácter de vocación. Incursiona en la historia americana y en la arquitectura, disciplina que estudia con el entusiasmo del autodidacta.
[...] “La población indígena en el continente americano”, que termina en 1956 tras un viaje de ocho meses por las tres Américas, constituyó una investigación destinada a una Historia de América que debía reunir decenas de trabajos independientes. Este proyecto no logró llegar a término por acuerdo común de supresión de la obra, entre la Dirección de la Historia y la Casa Editora. En el curso de ese largo viaje recoge no solo datos sobre la población indígena pero también una invalorable experiencia acerca de la arquitectura colonial que robustece su entonces nueva vocación (Roberto Montandón, datos dispersos, s.d., grifos meus).
Aquilo que, em viagens despretensiosas, proporcionara contatos com algo que seduziria Montandón (a saber, as singularidades da arquitetura colonial no território chileno), acabaria por impulsionar sua incursão mais profunda pela história da América e da arquitetura, de modo a estudá-las não somente a distância como in loco (cabendo salientar a longa viagem, de oito meses, pelas três Américas). Em considerações que parecem próprias da ilusão retrospectiva, relata-se o momento de emergência de uma vocação. Não se trata, contudo, de eleger uma única vocação, para toda uma vida: o próprio texto matiza seu peso em relação a outras facetas biográficas − não “a” vocação, mas uma vocação “nova”. E, juntamente com esse deslocamento na direção do histórico e do patrimonial, por intermédio da arquitetura, é possível flagrar a aproximação mais decisiva em relação à fotografia.
Do escrito ao fotográfico
En Viaje era uma revista ilustrada voltada para o turismo. A imagem – sobretudo a fotográfica – cumpria importante função, embora não fossem de alta qualidade técnica as reproduções à disposição dos leitores. Seus textos nem muito longos nem muito densos buscavam proporcionar leitura agradável, de maneira que a revista estimulasse futuras viagens ou, talvez, viesse a acompanhá-las, com seus leitores instalados em um dos vagões de trem da Empresa de Ferrocarriles del Estado. Atento a isso, Montandón produziu vários textos em tom de crônica, mas não se furtou a redigir outros mais elaborados, frutos de pesquisa acurada no âmbito da geografia, da história ou da arqueologia.
A maioria dos textos de Montandón publicados na revista En Viaje foram acompanhados de imagens fotográficas; na ausência de fotografias, havia desenhos. Considerados os cenários com frequência pouco usuais percorridos por Montandón, bem como a colaboração mais e mais estreita com a revista (o que talvez lhe tenha granjeado certo controle sobre a versão final do material a publicar), é bastante provável que tenham predominado, na composição gráfica de seus textos, imagens de sua autoria. Sem ignorar a riqueza e o volume do material fotográfico aí implicado, mas ao mesmo tempo sem esquecer o foco deste artigo, e levando em conta a ausência de créditos na maioria das fotografias publicadas no período em questão, apresento a seguir apenas duas dessas imagens. Elas estão contidas em artigo de En Viaje de 1945, sobre as “relíquias” chilenas, e sua autoria pode ser atribuída a Montandón de maneira relativamente segura, pois guardam muitas semelhanças com fotografias contidas em algumas de suas publicações posteriores, em livro.

Figure 3. Images contained in the article entitled “Historical Relics of Chile” (En Viaje).
Fonte: Montandón (1945f, p. 48-49). Sem indicação de autoria; presumivelmente de Montandón.Nas duas imagens selecionadas, o posicionamento do fotógrafo privilegiou a verticalidade dos campanários, que aparecem em primeiro plano e funcionam como chaves de leitura. Um dos campanários está integrado à estrutura da igreja (em Chiu-Chiu); o outro é uma construção autônoma, implantada vários metros à frente do pequeno templo católico de Toconao. Não obstante essas diferenças significativas, a composição das imagens estabelece entre elas mais aproximações do que distanciamentos.
Quanto ao tratamento das imagens, percebe-se a intenção de adoção da luz suave, que permite, em princípio, a visualização de detalhes − opção mais comum em uma prática fotográfica de intenção documental. Contudo, a intensa claridade local parece ter invadido os registros, de tal maneira que os contornos das edificações em parte se dissolveram, confundindo as construções com o restante da paisagem. Similarmente às características dos materiais produzidos pelas pioneiras missões heliográficas francesas do século XIX, constituídas para proceder ao levantamento dos monumentos franceses (Rouillé, 2009, p. 106-107; Vasquez, 2012, p. 90-91), as imagens concentraram-se nas edificações, não havendo a presença de pessoas ou animais. Mesmo carregando em sua materialidade as marcas de longa existência, as construções em questão denotam robustez. As duas fotografias funcionam, assim, como bons exemplos do que, no artigo de 1945, já referido, é compreendido por Montandón como “la humildad de aquellas pequeñas iglesias, genuino producto de ese arte rústico colonial” (Montandón, 1945f, p. 48).
Um exercício que compare essas imagens com aquelas contidas em três livros de Montandón publicados no início dos anos 1950 – duas publicações do Consejo de Monumentos Nacionales e uma publicação do Instituto Panamericano de Geografía e Historia – pode agregar elementos de interesse para a discussão aqui encaminhada. Em todos os três livros, textos, fotografias e mapas têm a autoria de Montandón explicitada.
A primeira publicação, que é também o primeiro número dos “Cuadernos del Consejo”, está dedicada ao pueblo-fortaleza de Lasana, compreendido por Montandón como berço da cultura atacamenha (Montandón, 1950a, p. 13-14). O texto do livro, breve, é acompanhado de 22 imagens fotográficas (entre elas, uma vista aérea). Chama atenção o equilíbrio entre a parte escrita e a visual, sendo que as imagens são por vezes minuciosamente comentadas pelo autor, de modo a guiar o olhar do leitor para a lógica construtiva do pukara. Como no artigo sobre as “relíquias”, publicado na revista En Viaje em 1945, repete-se, nas imagens, a ausência de pessoas, provavelmente em decorrência do esforço de mostrar a construção como ruína − esvaziada, nessa condição, de práticas e sujeitos daquele presente.
No segundo dos “Cuadernos del Consejo”, que trata das igrejas e capelas coloniais do Deserto do Atacama, reaparecem a igreja de Toconao (apenas uma imagem fotográfica, justamente da torre campanário) e a de Chiu-Chiu (sete imagens fotográficas em um total de 27, o maior número para um mesmo templo). Uma das imagens de Chiu-Chiu põe em destaque sua abóboda, na fachada principal, no corpo do texto descrita como “la parte más impresionante de la iglesia” (Montandón, 1951f, p. 15); indica-se que a partir da entrada abobadada se acessa a nave e por consequência “la penumbra de sus recintos interiores” (Montandón, 1951f, p. 15).
Ao salientar a penumbra no interior da igreja de Chiu-Chiu, na publicação de 1951, Montandón forneceu pistas acerca de um processo de mudança na forma como compreendia as edificações religiosas coloniais do deserto, e a partir do qual passará a associar aquela arte rústica colonial (como a descrevera em 1945) às acomodações mestiças da arquitetura do Barroco. Uma vez supostamente encontrada sua nova “vocação” − o estudo da arquitetura colonial, a ser protegida −, Montandón percorreu, além do Chile, países como Peru e Bolívia. Interessado nas manifestações arquitetônicas barrocas, em suas conexões europeias e, principalmente, suas singularidades latino-americanas[19], fotografou-as, além de recolher material bibliográfico e iconográfico a esse respeito. Cabe notar que, em seu arquivo pessoal, foram localizadas reproduções de material fotográfico referente a manifestações da arquitetura barroca em mais de um país, inclusive o Brasil[20].
O tema da arquitetura barroca surgirá mais enfaticamente, em seus escritos, na década seguinte (ver Montandón, 1967). Todavia, antes disso, foi traduzido fotograficamente no emprego de fortes contrastes de luz e sombra; é o que pode ser observado em imagens do livro Chile: monumentos históricos y arqueológicos.

Figure 4. Light and shadow contrasts.
Fonte: Montandón (1952). Fotos indicadas como de autoria de Roberto Montandón.Muito embora o chiaroscuro não seja uma exclusividade do Barroco, tudo indica que ele foi empregado, nas imagens de Montandón referentes às capelas, igrejas e campanários situados na pré-cordilheira do “Norte Grande”, tal como apresentadas no livro de 1952, como forma de remeter àquele movimento artístico. Essa parece ser uma justificativa plausível também para os enquadramentos muito fechados em partes restritas das edificações, como é particularmente perceptível em relação à igreja de Chiu-Chiu. Além disso, as escolhas fotográficas de Montandón contribuíram para acentuar, nas edificações em questão, uma impressão de sobriedade, aridez e dureza − aspectos que remetem às propriedades de seu lugar geográfico.
Ainda quanto à publicação de 1952, convém salientar um desequilíbrio em favor da parte destinada às fotografias: os textos propriamente de conteúdo são apresentados em 26 páginas, enquanto as imagens fotográficas ocupam 39[21]. Isso é bastante significativo se comparado, por exemplo, ao livro relativo ao Brasil, na mesma coleção[22]. A relevância do fotográfico, no livro, é um indicador inequívoco do seu maior peso nas preocupações e atividades de Montandón naquele momento. Isso pode ser igualmente entrevisto em informação que aparece no mesmo livro, sobre iniciativa de promoção de exposição fotográfica, efetivamente realizada em 1950 pelo Consejo de Monumentos Nacionales:
En el curso del año 1950, el Consejo ha exhibido en varias ciudades del país una exposición fotográfica (200 fotografías de gran tamaño), titulada “Aspectos del patrimonio histórico-cultural de Chile”, como una forma de difundir el conocimiento de este patrimonio (Montandón, 1952, p. 19).
Dada a atuação de Roberto Montandón junto ao Consejo, naquele período, supõe-se que parte expressiva das fotos, se não mesmo a sua totalidade, fosse de sua autoria. A exposição sem dúvida assinalou a percepção do potencial difusor que a fotografia teria, no tocante ao patrimônio cultural, para um público de não especialistas, e é provável que tenha fornecido diretrizes para um projeto atualmente considerado referencial na fotografia chilena: a exposição “Rostro de Chile”, realizada dez anos depois, na qual Montandón teve participação fundamental[23].
À maneira de conclusão
Vimos que, na década de 1940, na revista chilena En Viaje, emergiu, como autor, o estrangeiro R.A. Montandón, que no decorrer das edições do periódico, naqueles mesmos anos, foi transformado em Roberto Montandón, técnico em turismo. Seus textos representaram o Chile antes de tudo por meio da geografia do país, celebrada em sua diversidade e nos fortes contrastes físico-naturais. Mas uma geografia peculiar, marcada pela presença, em determinados pontos do território, de edificações remanescentes de experiências históricas anteriores ou concomitantes à dominação espanhola, gradativamente passou a ser salientada nos artigos publicados. E, na geografia das relíquias, aquelas situadas no norte chileno tiveram lugar especial, sobretudo igrejas e campanários dos séculos XVII e XVIII na área da pré-cordilheira, além de pueblos-fortalezas como o Pukara de Lasana, na mesma região.
A atenção dada por Montandón a essa geografia das relíquias, na revista En Viaje, antecedeu sua atuação como assessor técnico do Consejo de Monumentos Nacionales, função que assumiu apenas em 1949. É bastante provável que os textos por ele publicados na revista En Viaje, a este respeito, tenham colaborado para que assumisse aquela função, depois de alguns anos de trabalho na área do turismo. No Consejo, como assessor, Montandón esforçou-se por espelhar a geografia das relíquias em ações que ampliassem o acervo protegido, sobretudo no norte chileno. Neste sentido, o livro editado no México, em 1952, refletiu esse primeiro momento da atuação de Montandón no Consejo de Monumentos Nacionales, com a sistematização de informações e a proposição de novos bens a valorar e preservar.
Ao enfocar bens culturais situados no norte do Chile, Montandón ofereceu uma contribuição renovadora das representações identitárias da nação chilena, que, ao menos no plano das ações de patrimonialização, por meio do Consejo de Monumentos Nacionales, continuavam a lidar, na prática, com uma base territorial anterior à Guerra do Pacífico (1879-1884). Afinal, até 1949 eram consideradas monumentos nacionais (com exceção feita à Ilha de Páscoa) apenas uma antiga residência de ex-presidente chileno (Manuel Montt), em Petorca, e fortificações do período colonial situadas na região sul, sem que houvesse referências a bens culturais localizados em áreas antes pertencentes ao Peru ou à Bolívia[24]. O olhar estrangeiro/chilenizado de Montandón favoreceu − primeiramente por meio dos textos e fotografias publicados na revista En Viaje e posteriormente em sua atuação como assessor técnico do Consejo − a produção de um discurso que reforçava o caráter “chileno” do norte, uma área com marcante presença de povos originários, fortes ressonâncias interculturais e apenas na segunda metade do século XIX incorporada ao território do país.
Entre o final dos anos 1940 e o início dos anos 1950, as crônicas leves publicadas na revista En Viaje gradativamente perderiam lugar, nas atividades de Montandón, para estudos de fôlego que respaldassem a patrimonialização de bens culturais e sua preservação. A fotografia tornou-se, então, instrumento pragmático de registro e prova, bem como de difusão do acervo protegido. “Chilenizado”, perseguindo a “nova vocação” para a história, fazendo-se fotógrafo do patrimônio cultural chileno, Montandón manteve-se aberto, porém, a novas invenções e reinvenções, de si e do Chile, cada vez mais marcadas, nas décadas seguintes, pela criação conjunta e colaboração com outros atores do campo fotográfico e do campo patrimonial.
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ROBERTO Montandón – datos dispersos [sem autoria, local ou data]. Archivo Roberto Montandón, documentos textuales, CL-CMN-RM-166_2078, Consejo de Monumentos Nacionales, Santiago de Chile.
MONTANDÓN, R. [s.d., s.l.]. Igrejas de Minas Gerais, Brasil [identificação feita pela autora do artigo]. Archivo Roberto Montandón, documentos fotográficos, CLCMRM-NA4679, NA4682 e NA4697, Consejo de Monumentos Nacionales, Santiago de Chile.
Notas