Resenhas
La hoja de mar (:) efecto archipiélago I. Juan Carlos Quintero Herencia. Leiden: Almenara, 2016, 420 p.
La hoja de mar (:) efecto archipiélago I. Juan Carlos Quintero Herencia. Leiden: Almenara, 2016, 420 p.
Revista Caracol, núm. 18, 2019
Universidade de São Paulo

| Quintero Herencia Juan Carlos. La hoja de mar (:) efecto archipiélago I. 2016. Leiden. Almenara. 420 p.pp. |
|---|
Recepción: 15 Marzo 2019
Aprobación: 06 Mayo 2019
La hoja de mar (:) efecto archipiélago I. Juan Carlos Quintero Herencia. Leiden: Almenara, 2016, 420 p.
“las islas son mundos aparentes./ cortadas en el mar / transcurren en su soledad de tierras sin raíz./ en el silencio del agua una mancha/ de haber anclado solo aquella vez/ y poner los despojos de la tempestad y las ráfagas/ sobre las olas”
las islas, Reina María Rodríguez
Fenda, brecha, vazio. Essas são trêspalavras utilizadas por Juan Carlos Quintero Herencia em seu livro La hoja de mar (:) Efecto archipiélago I ao explicar o que busca nas análises ali desenvolvidas. Debruçar-se para pensar o Caribe enquanto objeto teórico não é algo sem implicações iniciais. Ao adentrarmos essa área do conhecimento, é natural deparar-se com teorias fundadoras e textos canônicos de leitura obrigatória. Grande parte deles dedica-se a refletir a respeito das implicações geográficas de existir enquanto ilha, os efeitos desse aislamiento, do isolamento se pensado em relação ao continente. Não obstante, o que deixamos de lado ao desconsiderarmos o mar? O que poderíamos depreender se levássemos em consideração o efeito das águas sobre as ilhas?
A fixação pela busca de uma identidade, de uma nacionalidade, ou qualquer fantasia discursiva que tente preencher o vazio ocupado pelas águas ao redor da ilha acarreta o desenvolvimento de uma crença que dita que o sentido de um arquipélago não existe em si mesmo e só pode ser encontrado se o mantivermos em constante relação com o continente. Terra, telúrico, solo, pequenez. Quintero Herencia aponta seu livro em outra direção. E se colocássemos nosso foco sobre o mar? E se, em vez de olharmos apenas o mar como aquilo que isola uma ilha geograficamente ou que sufoca um pequeno pedaço de terra, conseguíssemos perceber que uma ilha é, na mesma medida, algo que surge em uma fenda marítima, em uma brecha aberta pelas águas? As implicações desta mudança de perspectiva são muitas, posto que não pensaríamos mais no que significaria estar num pedaço de terra limitado, mas ser um corpo que sente os efeitos de estar nessa brecha de mar.
El mar es lo que (se) siente. La mar se lleva en el cuerpo. Esse corpo que sofre os efeitos do mar é rastreado pelo autor ao longo de seu ensaio-poema. Durante muito tempo os corpos – ou sensórios – caribenhos foram afetados por discursos ou por uma divisão dosensível – em termos de Jacques Rancière – que insistiam em encaixá-los em uma teoria caribenha telúrica, disposta a definir termo a termo no que implica o “insular”. Em seu livro, Quintero Herencia propõe a subjetivação desses corpos e a reorganização do sensível. Para isso, persegue o que seria comum entre eles e poderia uni-los, de forma a questionar a ordem policial vigente, a qualmantém as imagens sobre o Caribe operando como tal. O comum não estaria na República o Confederación Antillana de Todos Nosotros los Sabrosos, ou seja, não existe uma semelhança entre as ilhas do Caribe como se tenta provar incessantemente em muitos textos dedicados ao tema. É inegável que danos profundos foram comuns, tais como a colonização, a escravidão, a imposição de uma cultura hegemônica. Isto, entretanto, não implica no dever de se autorreferenciar a tais episódios constantemente. O que uniria os corpos que sentem o mar e o levam consigo seria o rompimento, a rachadura, a fenda marítima.
Baseando-se na experiência sensorial dos sujeitos que sentem os efeitos do mar, vislumbra-se o arquipélago, metáfora que os (re)une e representa justamente o modo em que os corpos sentem os efeitos do mar sobre a terra. O efeito arquipélago é essa experiência, a qual possibilita a linguagem. Isso posto, uma política arquipelágica implicaria no questionamento dos sentidos atribuídosà paisagem caribenha, posto que os discursos produzidos a seu respeito já são uma maneira de interpretá-lo e, justamente por isso, são passíveis de questionamentos. A subjetivação dos corpos sob o efeito arquipélago não implica em assumir uma identidade, mas expor as falhas desses discursos na ordem do sensível em vigor. Rompe-se, portanto, com o binômio ilha versus continente, porque o arquipélago é a consequência do efeito da água em cada um dos corpos que sente, independentemente da questão geográfica.
Ao longo dos capítulos, os questionamentos se materializam quando o autor submete alguns textos a essa perspectiva arquipelágica, isto é, traz para a superfície os efeitos das águas neles. Distintos textos são analisados, como La isla que se repite, de Antonio Benítez Rojo, Insularismo. Ensayos de interpretación puertorriqueña, de Antonio S. Pedreira, Los factores humanos de la cubanidad, de Fernando Ortiz, Coloquio con Juan Ramón Jiménez, escrito por José Lezama Lima. Somado a isso, também são tomadas em conta as poéticas de diversos autores, como o próprio José Lezama Lima, o livro de poemas El mar y tú. Otros poemas, de Julia de Burgos, a obra de Luis Palés Matos e, como não poderia deixar de ser, a obra do cubano Virgilio Piñera.
O olhar e a perspectiva aquáticas de Quintero Herencia buscam encontrar o ponto em que tais textos derrapam em uma teoria mítica sobre o Caribe em si, ou emuma definição sobre o que significa o insularismo, além de imagens que tentem sintetizar a experiência da ilha. Em todos eles, o autor encontra essa brecha marítima, a fenda em que as ondas penetram o texto, onde as águas salgadas insistem em molhá-lo, mostrando-nos o quanto o arquipélago se faz presente nessas sensorialidades.