Dossiê
O passado da língua no cinema: um estudo diacrônico do pretérito perfecto na variedade bonaerense
O passado da língua no cinema: um estudo diacrônico do pretérito perfecto na variedade bonaerense
Caracol, núm. 19, pp. 312-342, 2020
Universidade de São Paulo
Recepção: 30 Agosto 2019
Aprovação: 17 Novembro 2019
Resumo: A carência de pesquisas centradas no estudo diacrônico do espanhol portenho e sobre a história dos usos do pretérito perfecto simple(PPS) e pretérito perfecto compuesto(PPC) na Argentina salientam a relevância deste estudo. A partir da comparação de filmes argentinos de dois momentos históricos, separados por um intervalo aproximado de sessenta anos – (a) 1958 (Rosaura a las diez) e (b) 2013 (Corazón de León) – observamos o uso do PPS e PPC e quais fatores poderiam estar por detrás de sua variação. A seguinte pergunta auxiliou o desenvolvimento da pesquisa: Qual é a diferença no uso do PPS e PPC nos dois cronoletos analisados? Verificamos que, apesar da predominância do uso da forma simples, a forma composta não está excluída do uso no espanhol argentino. Ademais, as duas formas assumem valores distintos dos entoados por manuais prescritivos da Língua Espanhola, ou seja, além do valor de passado absoluto, nota-se o uso do PPS com valor de antepresente. Igualmente, o PPC ocorreu no passado, com valor de passado absoluto, para além do uso com valor de antepresente.
PALAVRAS-CHAVE: Pretérito Perfeito, Espanhol portenho, Variação linguística, Mudança linguística, Filme.
Abstract: The lack of research on diachronic study of porteño Spanish and reports about the history of the pretérito perfecto simple (PPS) and pretérito perfecto compuesto (PPC) uses in Argentina highlight the importance of this study. Thus, comparing movies from two historical moments – a sixty years interval, approximately– (a) 1958 (Rosaura a las diez) and (b) 2013 (Corazón de León) – we observed if there is some alteration in the use of the tenses and what factors could be generating this variation. In this way, this question has helped us in the research: What is the difference in the use of the PPS and PPC in the two generations analyzed? We have noted that despite the predominance of the use of simple form, PPC is not excluded from Argentinean Spanish. Moreover, both forms assume different values from those found in prescriptive manuals of Spanish, that is, in addition to the absolute past value, the use of PPS with ante present value has been noted. Likewise, PPC occurred with absolute past value, in addition to the ante present value.
KEYWORDS: Pretérito Perfecto, Porteño Spanish, Linguistic variation, Linguistic change, Movie.
Introdução
Sejam quais forem os interesses que possam impulsionar o estudo da linguagem, parece que sempre haverá um pressuposto comum entre eles: “as línguas não existem sem as pessoas que as falam” (Calvet, 2002, 12). Considerando as diferenças dos indivíduos de uma sociedade, torna-se mais fácil compreender a natureza heterogênea da linguagem, haja vista que a sua dinamicidade, variabilidade e mutação respondem ao comportamento observável nas interações sociais. Chambers (2003, 148) explica-nos que “a classe social a que pertencemos impõe-nos algumas normas de comportamento e as reforça graças à força do exemplo das pessoas com que nos associamos com maior proximidade”.
A Sociolinguística, disciplina que “define seu objeto de estudo como o recurso mais rico e mais complexo para a comunicação humana, usado pela mente humana a fim de conseguir as formas de organização social e cultural que existem nas sociedades humanas” (Lavandera, 1984, 156) compreende que toda aproximação analítica da linguagem deve considerá-la dentro do âmbito da “comunidade de fala” – o que, para Labov (2008), corresponde a “um grupo de falantes que compartilham um conjunto de atitudes sociais frente à língua”.
Na interação com falantes da mesma comunidade, o indivíduo faz uso de traços linguísticos que estão em variação e em processo de mudança linguística. É diante desse pressuposto teórico que nos propomos a observar os usos dos pretéritos perfecto simple (PPS - escribí) e compuesto (PPC - he escrito) em dois momentos históricos, separados por um intervalo de quase 60 anos, na variedade bonaerense. Repousa sobre esse objetivo o fato de que desde sua origem, ainda na língua latina, o perfecto compuesto estabelece uma relação de competição com o perfecto simple (Araujo, 2017, 2018; Araujo; Berlinck, 2013) – como exploraremos mais adiante.
Tendo em vista que nenhuma alteração na língua acontece no vácuo, mas num tempo e lugar específicos (Labov, 2008), percebemos que a variação e a mudança se relacionam com fatores de diferentes ordens, tais como origem geográfica, étnica, faixa etária, sexo, profissão, classe social, grau de instrução, situação de enunciação, entre outros. A fim de atender aos interesses deste estudo, observamos fundamentalmente o eixo do tempo, no qual o comportamento da linguagem é estudado através da comparação de diferentes cronoletos.
Conforme nos explicam Weinreich, Herzog e Labov (2008, 122), a mudança na língua “se dá (1) à medida que um falante aprende uma forma alternativa, (2) durante o tempo em que as duas formas existem em contato dentro de sua competência, e (3) quando uma das formas se torna obsoleta”. Naturalmente, a análise do processo ocorrido até a mudança linguística revela-nos a existência de variações, por isso esses teóricos afirmam que “uma mudança linguística começa quando um dos muitos traços característicos da variação na fala se difunde através de um subgrupo específico da comunidade de fala” (2008, 124).
Voltando-nos para o uso dos pretéritos no espanhol, analisamos alguns estudos descritivos/prescritivos da língua espanhola e identificamos algumas afirmações questionáveis em relação ao uso do pretérito perfecto, em suas formas simples e composta, tais como: (i) a forma composta é muito mais frequente na Espanha que na América – como se tratassem de dois blocos homogêneos (Cartagena, 1999; Moreno de Alba, 2000); (ii) a forma composta é somente usada para expressar o valor de antepresente, isto é, a ação terminativa é posta num trecho temporal que também inclui o momento de fala (Alarcos Llorach, 2005, 166). Em comum, afirmações muito generalistas que pouco representam a realidade do uso das formas verbais nas muitas variedades da língua.
Por outro lado, estudos levados a cabo por Schwenter (1994), Gutiérrez Araus (2001), Araujo (2009, 2013, 2017), Jara Yupanqui (2009), entre outros, vêm demonstrando que o uso das formas do pretérito perfecto no espanhol envolve questões mais complexas frente às simples comparações entre ocorrência de formas em pontos isolados. Isso se dá, pois o espaço, o gênero discursivo, a idade e sexo dos falantes, entre outros fatores, determinam o uso das formas.
Por conta desse complexo grupo de fatores imbricados na variação do uso das formas do pretérito perfecto, optamos por observar o aspecto diacrônico da variação no uso do perfecto simple (PPS) e do perfecto compuesto (PPC) na variedade portenha. Portanto, observamos as diferenças nos usos dessas formas em diálogos de dois filmes argentinos, separados por um intervalo de quase 60 anos: Rosaura a las diez (1958) e Corazón de León (2012).
O interesse pela análise histórica justifica-se porque, tanto na língua espanhola como em outras línguas românicas, a forma composta vem sofrendo um processo de mudança (gramaticalização), como apontam os estudos de Alarcos Llorach (1972), Harris (1982), e Araujo (2017, 2018). Além disso, nota-se uma carência de estudos diacrônicos sobre o espanhol portenho e, fundamentalmente, sobre a história do pretérito perfecto na Argentina. Por conseguinte, esperamos contribuir para a descrição da língua no cinema, alçando a sua importância para estudos linguísticos sincrônicos e diacrônicos – privilegiando as características próprias da oralidade em enunciados gerados nesse domínio discursivo.
Por tomarmos material cinematográfico como corpus de análise, não podemos deixar de mencionar a importância do cinema na identificação social e cultural de uma comunidade, isso porque figuram nos filmes costumes de um povo sócio-historicamente determinado. Se concebemos a produção cinematográfica como “espelho” social (incluindo, evidentemente, os fatos linguísticos), podemos ponderar sobre o comportamento discursivo dos personagens falantes e, desse modo, será possível analisar as características linguísticas próprias do momento em que o filme foi produzido.
É importante reiterar que somos conscientes de que a variedade linguística presente no cinema pode passar por um processo de revisão (roteiro) que implique um nível de monitoramento linguístico. Contudo, parece-nos que ainda assim o roteirista – motivado pelo desejo de reproduzir uma realidade empiricamente comprável e, desse modo, criar uma atmosfera de identificação com seu enunciatário – vale-se de uma variedade linguística próxima ao vernáculo.
Desse modo, acreditamos que o uso do cinema pode ser também uma contribuição metodológica para os estudos em Linguística Histórica, pois abrimos mão do típico corpus escrito – haja vista que os dados orais antigos dificilmente se conservam – e passamos a observar um material linguístico histórico próprio da oralidade.
Contudo, antes de introduzirmos a análise dos dados, descreveremos, na seção seguinte, como algumas gramáticas da língua espanhola definem o uso do PPC e do PPS.
1. Revisão da norma gramatical
A fim de proceder à análise da temporalidade verbal no cinema argentino, iniciamos a reflexão sobre a expressão do passado em espanhol recuperando o tratamento dado por algumas gramáticas às formas do pretérito perfecto. Assim, visamos apresentar os valores canonicamente atribuídos ao PPC e ao PPS. Por sua vez, espera-se que os dados analisados nos filmes refutem ou corroborem o que é apresentado nas gramáticas.
1.1 Gramática de la Lengua Castellana, de Andrés Bello (2004 [1847])
Bello (2004 [1847]) denomina a forma simples de pretérito, que significa a anterioridade do atributo ao ato da palavra (BELLO, 2004) – o que chamaremos de passado absoluto. Conforme a característica aspectual da base verbal, pode-se observar uma situação que chega à sua perfeição e expira ou que subsiste durando. Para o autor, encontramos o primeiro comportamento em verbos desinentes(télicos), e o segundo em verbos permanentes (atélicos) –, tal qual representam os enunciados (1) e (2), respectivamente.

Por sua vez, o Perfecto Compuesto, denominado pelo autor como antepresente, envolve situações passadas que mantêm relação com algo que ainda existe. Esse é o caso de (3), em que a precipitação (ha precipitado) ocorre em um contexto temporal ainda existente (hoy) no ato de enunciação:

O autor ainda alerta para a existência de um uso com valor psicológico, como em ha muerto, em que fatores emocionais do enunciador influenciam a permanência do luto ocasionado pela situação descrita. Por outro lado, se não há fatores emocionais envolvidos, opta-se pela forma simples, murió.
Em síntese, tem-se com a forma simples a expressão de anterioridade passada, sem qualquer relação com o presente (passado absoluto). Por sua vez, com a forma composta, tem-se a expressão de anterioridade presente, isto é, com alguma relação como o momento da fala (antepresente), seja porque a referência temporal em que o evento descrito ocorreu ainda está vigente quando se enuncia, seja por uma relação psicológica.
1.2 Gramática didáctica del Español, de Leonardo Gómez Torrego (2007)
A Gramática Didáctica del Español afirma que o PPS expressa fatos ocorridos numa zona temporal anterior àquela em que se encontra o falante, e os apresenta como já terminados, isto é, com valor de passado absoluto. Desse modo, destacam-se duas características dessa forma verbal: a de expressar ações ocorridas em um segmento temporal anterior ao momento da fala e a de possuir um aspecto perfectivo, ou seja, o fim da ação é percebido antes do momento da enunciação. Em (4), o momento em que a ação ocorreu (ayer) já está terminado e o estado descrito (estuvo) também está concluído, uma vez que podemos supor que hoje Juan já não está em Ávila.

Quanto ao perfecto compuesto, Torrego (2007) alega que o PPC também assume uma perspectiva de passado, mas que mantém relação com a zona temporal em que se encontra o interlocutor. Ou seja, as ações já estão terminadas, porém, diferentemente do PPS, o momento temporal em que elas ocorreram ainda não está encerrado (antepresente), podendo alcançar o instante de fala e, até mesmo, ultrapassá-lo. Assim, em (5), a ação de pasarlo mal já ocorreu, contudo, o tempo (este año) ainda não acabou, o que permite envolver tanto o momento em que o indivíduo “lo pasó mal ”, comoa ocasião em que enuncia.

Assim como Bello (2004), também Torrego (2007) identifica o uso da forma composta expressando uma aproximação psico-temporal de fatos cronologicamente distantes, tal como em (6),em que, ainda que o momento da ação – a morte do pai – já esteja terminado quando o enunciado é proferido, o falante cria um tempo psicológico que engloba os momentos da ação e da enunciação em um único segmento. Desse modo, o interlocutor afirma que a morte do ente ainda é próxima psicologicamente e muito sentida.

Outro uso do PPC apontado pelo autor relaciona-se à possibilidade de expressar a manutenção das consequências de uma ação. Conforme descreve, “a relação [temporal] com o presente do falante explica que, quando as consequências de uma ação se mantêm nesse presente, usamos também o pretérito perfecto.” (Torrego, 2007, 150). Esse uso é exemplificado em (7), em que os estragos da tempestade (efeitos) são ainda sentidos e observados no momento presente.

Uma última possibilidade de uso seria a de expressar a ideia de futuro. Nesse caso, o falante percebe que as consequências da ação se manterão no futuro e por isso elege essa forma. Assim, em (8), o falante consegue expressar, com um tempo de passado, um valor futuro, implicando que em pouco tempo a atividade realizada pelo falante estará encerrada.

Em síntese, novamente encontramos o PPS relacionado à expressão de uma situação passada ocorrida numa concepção temporal encerrada no momento da enunciação (passado absoluto). Por sua vez, o PPC expressa um acontecimento passado relacionado com o presente, seja porque o momento em que dada situação ocorreu ainda está em vigor (antepresente), seja porque há uma relação de maior proximidade afetiva do evento passado distante (aproximação psico-temporal) ou de um evento num futuro próximo.
1.3. Manual de la Nueva Gramática de la Lengua Española, de la RAE (2010)
O Manual de la Nueva Gramática de la Lengua Española nomeia a forma composta de antepresente. Assim, atribui-lhe a função referencial do pretérito, envolta por uma perspectiva de presente. Afirma ainda que o seu uso se dá em ações durativas. A gramática aborda de forma bem abrangente os valoresdo Pretérito Perfecto Compuesto, considerando os variados usos e a contribuição dos constituintes oracionais na composição de seus valores, como quando ocorre a opção pelo demonstrativo “este”, em (9), no qual o demonstrativo evidencia que o tempo de referência ainda não acabou.

O manual destaca os valores de “interpretação prospectiva”, cujo uso expressa futuro, e de “reiteração”, em que um marcador temporal (siempre) enfatiza a manutenção da situação. Esses são os uso observados em (10) e (11), respectivamente:

O valor de “experiência” refere-se àduração de um ato por um tempo incerto quanto ao momento de origem e o fim, uso ressaltado através de marcadores temporais como últimamente, en estos tiempos, en estos días, tal como se observa em (12):

Por sua vez, o “passado imediato” é exemplificado por meio de (13), em que se nota que o uso trata de ações mais recentes que incluem o momento de fala, podendo ter acontecido “no dia de hoje”. É muito utilizado em notícias jornalísticas.

Já sobre o valor “resultativo”é dito que ocorre em situações que implicam um resultado para o momento da fala, como em (14) e (15),em que seobtêm implicitamente informações resultantes do término da ação, já que, na primeira, o objeto está quebrado, e, na segunda, o sujeito está decepcionado.

Quanto ao Pretérito Perfecto Simple, assim como nos demais manuais consultados, afirma-se que essa forma verbal apresenta o término de uma situação, com limites iniciais e finais delimitados, como em (16)

A gramática também afirma que a perfectividade faz com que o uso da forma simples não seja utilizado em casos de ações repetidas, como em (17). Contudo, pode ocorrer a repetição da ação quando o PPS for acompanhado de um complemento de frequência, como em (18), em que a locução adverbial todos losdías intensifica o fato de a mesma ação ter ocorrido outras vezes.

A síntese da análise que faz as três gramáticas sobre o uso do perfecto compuesto indica que o valor de antepresente é apontado por todos os manuais, definido como o uso mais comummente associado à forma. Os valores de “persistência”, “psicológico” e “futuro” são indicados por dois dos gramáticos, enquanto que os valores de “experiência”, “passado imediato” e “resultativo” são apenas marcados pela Nueva Gramática de la Lengua Española, manual com maior indicativo de valores associados ao PPC.
Quanto à forma simples, observa-se uma concordância em indicar o valor de passado absoluto no uso do perfecto simple. Apenas Bello (2004) e RAE-ASALE (2010) identificam algum valor aspectual junto ao uso dessa forma. Concluída a descrição do uso do moderno dos pretéritos no espanhol, passemos a uma breve apreciação de sua evolução.
2. História do pretérito
A compreensão do funcionamento da forma composta fica mais clara se a acompanhamos desde sua origem, quando o auxiliar haber possuía valor semântico semelhante a tener, como descreve Moreno de Alba (2006), em que “he guardado mucho dinero” equivalia a “tengo mucho dinero guardado”. Conforme explica Cartagena (1999), desse uso com valor resultativo, a forma composta foi assumindo, pouco a pouco, valores temporais
“a partir de la situación medieval el antepresente ha ido invadiendo paulatinamente el dominio del pretérito en la norma peninsular. De su empleo meramente resultativo en el ámbito del presente pasa paulatinamente a designar acciones concluidas en el pasado que revisten cierta importancia para la actualidad del hablante y acciones concluidas inmediatamente anteriores al momento del habla”
(Cartagena, 1999, 2950).O processo de evolução dos valores atribuídos ao PPC foram analisados por Harris (1982), ao expor os quatro processos evolutivos da forma nas língua românicas – figura 1.

No primeiro estágio, referente ao estado presente resultante de uma situação passada, a construção não usufruia de um estado de coesão entre haber e particípio, o que se confirma na concordância de gênero e número do particípio com o complemento verbal, como se pode perceber em (19), em que o particípio (comparatum/comprada) está em concordância com o objeto comprado (cultellum/faca).

Na segunda fase, da duratividade a situação apresentada tem início no passado e sua permanência estende-se até o presente, quando se enuncia.O valor durativo é observado no uso do PPC em português, como em (20):

O valor de antepresente, terceiro estágio, manteve-se como o uso mais comum do PPC na língua espanhola - conforme vimos na revisão gramatical. Em (21), nota-se que tanto o evento (tirar) comoa enunciação ocorrem na mesma conjuntura temporal (este año).

Na etapa final, a forma composta generaliza a referência ao passado, envolvendo toda situação anterior ao presente, seja de antepresente ou de passado absoluto. Nessa fase, o PPC entra em confronto com o PPS - tradicionalmente responsável pelo passado absoluto, podendo o conflito ser resolvido de diferentes maneiras, conforme a língua. Vejamos o caso do francês:

O marcador temporal hiersoir(ontem à noite) demonstra que a ação ocorreu em um âmbito anterior ao da enunciação e que, por isso, não mantém relação com ela. Sobre a forma simples no francês, sabe-se que está restrita ao registro literário.
É pertinente observarmos que nem todas as variedades da língua espanhola apresentam um uso comum do PPC expressando exclusivamente o valor de antepresente. Nesse sentido, o uso variável do PPC e do PPS pode ser uma evidência de um processo de mudança no emprego dessas formas. Na América Latina, por exemplo, Kany (1970) acusa a preponderância da forma simples sobre a composta em contextos de antepresente, e verifica esse uso na Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Panamá, Costa Rica, El Salvador, México, Santo Domingo e Cuba. Por sua vez, a atribuição do valor resultativo à forma composta foi verificado no Equador, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Peru e Colômbia. Finalmente, o autor observa o uso do PPC com valor de passado absolutona Bolívia, Peru, e no norte da Argentina.
Howe e Schwenter (2003), por seu turno, concluem que a parte sul do continente tem maior preferência pelo perfecto simple quando se trata de expressar temporalidade passada, independente da distância existente entre o momento do evento e o momento de fala. Por sua vez, o perfecto compuesto assume uma especificação funcional ao ser empregado mais em enunciados sem marcação temporal explícita, incluindo, muitas vezes, situações prototipicamente expressas pela forma simples (passado absoluto).
Uma vez descritos os estágios de evolução do perfecto compuesto, bem como apresentado sucintamente o comportamento sincrônico das formas do pretérito perfecto, passemos para análise dos dados provenientes dos dois filmes argentinos – cujas produções se separam no tempo por um intervalo de mais de meio século. Como vimos, espera-se, a partir do cotejamento desse material, verificar se há alguma particularidade no comportamento de ambas formas verbais, associando as informações provenientes do corpus cinematográfico às descrições sincrônicas e diacrônicas apresentadas.
3. O estudo diacrônico do Perfecto na variedade do espanhol bonaerense
Escolhemos os filmes Rosaura a las diez (1958) e Corazón de León (2012) para compor o corpus deste trabalho por (i) serem produções argentinas; (ii) por dialogaremcom o gênero comédia, sendo a primeira produção voltada ao drama cômico e a segunda, à comédia romântica; (iii) por estarem separados por um período de 54 anos. Pretendemos, assim, avaliar se é possível identificar alguma alteração no uso das formas do pretérito perfecto na variedade diatópica em questão. É pressuposto dessa análise o comportamento mutável do PPC e consequente competição com o PPS na expressão do passado.
3.1 Rosaura a las diez (Soffici, 1958)
A produção narra a vida de Camilo, um misterioso e pacato restaurador e pintor de quadros, que vive há dez anos em um pensionato, localizado em um bairro bonaerense periférico. Em determinado momento, o personagem começa a receber cartas de uma misteriosa mulher, o que desperta a curiosidade dos moradoresdo pensionato. Com isso, descobrem que a mulher de quem Camilo recebe cartas é Rosaura, filha de um viúvo rico, para quem o protagonista prestou serviço. Pouco tempo depois de descobrirem a misteriosa amada, Rosaura é morta.
Cabe destacar que essa produção cinematográfica é baseada na obra literária homônima de Marco Denevi – quem também atuou como co-roteirista da versão para o cinema. Desse modo, essa aproximação do texto literário escrito poderá ser uma variável incidente sobre o uso dos pretéritos perfeitos.
Quanto ao uso das formas verbais, já ao início da obra, contemplamos o depoimento da senhora Milagros acerca do assassinato de Rosaura. Para tanto, a personagem faz uso de formas pretéritas para recuperar os acontecimentos passados, pertencentes à memória dos personagens. Assim, em (23), observamos verbos conjugados na forma do perfecto simple (comenzó e empezó) fazendo referênciaa acontecimentos passados, em um instante temporal igualmente finalizado no momento de enunciação (“hará unos seismeses” e “hace doce años”). Notamos, portanto, o uso do PPS com valor de passado absoluto – conforme indicado nos manuais consultados.

A forma composta também é observada na obra em questão. No enunciado (24), Camilo expressa o seu juízo diante da pintura que retrata a esposa do viúvo para quem o protagonista trabalhou. É uma obra que foi pintada há mais de dez anos. Já em (25), há um comentário acerca de uma das cartas. A personagem comenta que Rosaura se esqueceu de colocar o nome de Camilo. Comum aos dois casos é a recorrência da forma composta fazendo referência à eventos passados sem uma indicação explícita temporal. Contudo, pelo conhecimento compartilhado na obra sobre os eventos descritos, sabemos que dadas situações desenvolveram-se num instante também concluído no momento da fala, criando a ideia do uso do PPC com valor de passado absoluto.

Desse modo, aparentemente o PPC apresenta um cenário não previsto pelas gramáticas consultadas, no qual há competição com o PPS pela expressão do passado absoluto. No entanto, é válido destacar que a referência ao passado é feita sem uma marcação explícita da referência temporal assumida – como faz o PPS por meio de advérbios de tempo, em (23).
O uso do PPC também é feito na expressão do antepresente, tal como observado em (26) e (27):

No enunciado (26), o verbo ha vivido indica uma ação que começou em um tempo desconhecido e que perdura até o momento de fala, o que percebemos através do marcador temporal “hasta ahora”. Ou seja, atrelado ao valor aspectual durativo, identifica-se uma referência de antepresente, posto que a perspectiva temporal assumida segue vigente no ato da enunciação. Na mesma direção, em (27), o verbo “ha estado” vem acompanhado do gerúndio “recibiendo”, que, somado à informação contextual de algo que ainda acontece no momento de fala, é compatível com uma leitura temporal de antepresente junto à leitura aspectual continuativa.
Quanto à forma simples no contexto de antepresente, o enunciado (28) põe em evidência a recorrência do PPS expressando uma situação passada ocorrendo próxima ao momento da fala, pois “llegó” é usado em um momento de euforia por parte da personagem, pelo fato de a sopa ter ficado pronta naquele momento.

Desse modo, identificamos o uso do PPS em embate com o PPC ao avançar no campo semântico reservado à forma composta (antepresente) – segunda descrição normativa considerada previamente.
A fim de proceder à análise quantitativa da aproximação do PPC e do PPS nos contextos de passado absoluto e antepresente, expomos, no gráfico 1, os usos conformeas concepções temporais na produção cinematográfica. Cabe alertar que foram encontrados no total 272 casos do pretérito perfecto na obra. No entanto, não consideramos na análise algumas formas cuja identificação temporal foi duvidosa, de modo que apenas 180 casos foram analisados e computados no gráfico. Desse montante geral, 149 ocorrências (83%) correspondem à forma simples e 31 (17%) à forma composta.

Dirigindo-nos aos contextos temporais específicos, das 56 ocorrências do pretérito perfecto encontradas no antepresente, 62% (35 casos) correspondem à forma simples, ao passo que 38% (21 casos), à composta. Enquanto ao passado absoluto, das 124 ocorrências do pretérito perfecto, temos 92% de ocorrências (114 casos) do PPS e 8% (10 casos) do PPC. Em ambos os contextos temporais, a forma simples apresenta maior recorrência que a composta. No entanto, destacamos a expressividade do PPS no antepresente (63% - 35 formas) por ser o contexto identificado pela norma gramatical como próprio do PPC.
Quanto à forma composta, é importante destacar sua maior recorrência expressando antepresente (38% - 21 formas) – fato que reafirma a tendência diagnosticada pela descrição normativa. No entanto, assinalamos uma recorrência discreta do PPC também no passado absoluto (8% - 10 formas). A importância desse dado reside em não ser previsto pela normatização da língua. Em síntese, apesar de a maior recorrência da forma simples de modo geral e em ambos os contextos, os dados também revelam um uso expressivo da forma composta no filme da década de 1950.
Contudo, considerando a proximidade já pontuada entre o roteiro do filme e o romance homônimo em que se embasa, é possível conjecturar sobre alguma incidência da modalidade escrita literária acerca da produção cinematográfica. Não obstante, qualquer afirmação nesse sentido, exigirá investigações mais aprofundadas a respeito dessa hipótese.
Considerando o estudo da evolução do PPC proposto por Harris (1982), parece que o comportamento da forma composta no cronoleto investigado indica um uso compatível com a fase IV, em que não se limita ao antepresente, mas passa a expressar inclusive passado absoluto.
3.2 Corazón de León (Aizensta; Vera; Carnevale, 2012)
A obra narra os acontecimentos de León, que, após presenciar um conflito de Ivana com o seu ex-marido pelo telefone, arremessado ao chão pela protagonista, decide encontrá-la para devolver o aparelho e, a partir disso, eles se apaixonam.
Quanto ao uso dos pretéritos, notamos, nos fragmentos de (29) e (30), a recorrência do PPS para referir-se a situações passadas ocorridas no contexto temporal de passado absoluto, isto é, em um momento já concluído no momento da enunciação (“ayer” e “hace muchos años”, respectivamente). O uso dessas formas com valor de passado absoluto coaduna o entendimento das gramáticas analisadas acerca do perfecto simple.

Por outro lado, os enunciados 31 e 32 evidenciam que o PPS também opera na expressão do antepresente, posto que todos as situações descritas (“se enteró”, “presente” e “ fue”/“dejó”/“pidió”, respectivamente) ocorrem dentro de uma referência temporal ainda vigente no momento da enunciação, isto é, “todavía” e “esta mañana”, respectivamente.

Quanto à forma composta, apenas dois usos foram encontrados, nos quais se identifica o valor de antepresente, pois ambos os casos resgatam o registro de secretária eletrônica, apresentando ao ouvinte as últimas gravações do período em que esteve ausente. Cabe pensar que, por se tratar de um enunciado sob forte pressão normativista, apresenta elementos de uma norma mais standard e rígida. O enunciado (33) elucida a ocorrência.

A análise quantitativa dos dados indicou uma recorrência total de 303 casos do pretérito perfecto em Corazón de León. No entanto, não consideramos na análise algumas formas cuja identificação temporal foi duvidosa, de modo que apenas 186 casos foram analisados e computados. Desse montante, 184 (99%) ocorrências correspondem à forma simples, e 02 (1%) à forma composta – ambas no contexto de antepresente. Esse cenário revela, na obra mais recente, um uso praticamente absoluto da forma simples, tanto no passado absoluto como no antepresente. Destacamos que apesar de a pujança no uso da forma simples, inclusive na expressão do antepresente, esse comportamento não é mencionado pela norma gramatical.
3.3 Implicações para o estudo da mudança linguística e descrição da língua
O dado que primeiro se destaca no cotejamentos dos dois filmes – e talvez o mais importante para este estudo – é o (quase) completo apagamento da forma composta no filme mais recente (Corazón de León).
Conforme pontuado, o perfecto compuesto apresenta uma incidência geral significativa em Rozaura a las Diez (17% - 31 casos), com maior recorrência na expressão do antepresente (38%) – frente à simples (72%) – e um uso pouco mais discreto no passado absoluto (8%) – contexto em que o PPS é ainda mais expressivo (92%).
Por sua vez, em Corazón de León, observa-se o pleno uso da forma simples, tanto no passado absoluto, como no antepresente – contexto não previsto pela norma gramatical. Como visto, o único uso do PPC corresponde: a fala gravada de uma secretária eletrônica, normatizada, rígida e pré-programada.
A importância fundamental desse dado reside na possível retratação do processo de mudança de um fato linguístico hoje definitório da variedade bonaerense: o uso ampliado do PPS e o uso restringindo do PPC (Kany, 1970; Howe; Schwenter; 2003). Uma vez que nossos dados parecem indicar que até meados do século passado notava-sea recorrência expressiva do perfecto compuesto, ao passo que na produção mais recente o uso da forma composta é completamente borrado, parece que o intervalo entre as produções (mais de 50 anos) foi significativo para o progresso do apagamento do PPC.
Evidentemente que a comprovação dessa inferência exige uma análise mais ampliada a fim de comprová-la com maior detalhamento. Porém, na mesma direção da constatação feita, estão estudos sobre a variedade portenha (Kany, 1970; Howe; Schwenter; 2003; Araujo, 2017), que igualmente descrevem um uso recorrente da forma simples na expressão do passado e a restrição da forma composta a contextos de maior normatização ou com valores aspectuais específicos.
Quanto ao cenário evolutivo do PPC descrito por Harris (1982), parece que em Rosaura a las Diez, a forma composta aproxima-se à fase IV – generalizando-se na manifestação do passado. Notamos nessa produção uma competição do PPC com o PPS pela expressão tanto do passado absoluto, como do antepresente. Contudo, em Corazón de León, percebe-se que é a forma simples que se generaliza na referência ao passado, tornando a proposta de Harris (1982) pouco aplicável à realidade linguística bonaerense atual, retratada na obra mais recente.
Vale pontuar, contudo, que Rosaura a las diez foi baseado na obra literária homônima de Marco Denevi. Essa aproximação marca uma diferença relevante em relação a “Corazón de León”, a qual permite conjecturar sobre o fator: incidência da modalidade escrita literária sobre o uso dos pretéritos perfeitos – variável não presente no segundo filme. Não obstante, qualquer afirmação nesse sentido exigirá investigações mais aprofundadas a respeito dessa hipótese
A inaplicabilidade descritiva está também relacionada às gramáticas consultadas, já que todas polarizam o uso do PPS e do PPC nos polos do passado absoluto e do antepresente, respectivamente. Desse modo, não contemplam a aproximação de uma ou outra forma aos dois contextos temporais – como observado claramente em Rosaura a las Diez – nem identificam a possibilidade da generalização do uso do PPS na referência à anterioridade à fala – como se nota em Corazón de León e outros estudos descritivos sobre a variedade portenha.
Dessa feita, cabe questionar o papel da normatização da língua espanhola que parece ainda muito centrada na variedade peninsular (Araujo, 2009), desconsiderando outras realidades linguísticas muito presentes no ensino da língua espanhola. Parece necessário, portanto, uma revisão descritiva a fim de que se reconheça fenômenos da língua com relativa expansão e recorrência.
Considerações finais
De acordo com a revisão que fizemos da norma gramatical, o valor de antepresente está inclinado de maneira generalizada a se associar ao Perfecto Compuesto, ao passo que o valor de passado absolutoestá associado ao uso do Perfecto Simple. Contudo, por meio da análise dos filmes pudemos questionar a descrição dos usos das duas formas conforme apresentados pelas gramáticas da Língua Espanhola. Isso porque a partir dos dados coletados do filme Rosaura a las diez (1958) foi possível observar ambas as formas se sobrepondo ao contexto de ocorrência da outra.
Além disso, é importante ressaltar a recorrência geral da forma composta no filme mais antigo (17%); percentual que é reduzido bruscamente no filme Corazón de León (2012). A aparente restrição no uso do PPC fica também evidenciada pela exclusiva ocorrência do PPS no passado absoluto (100%) e alto índice dessa mesma forma no antepresente (99%) – colocando novamente em cheque a descrição gramatical.
Assim, percebemos um possível registro do processo de mudança no uso dessas formas verbais no espanhol falado na região de Buenos Aires, fazendo-nos crer em uma transformação linguística da metade do século XX até o começo do século XXI, a favor da generalização do uso do PPS na expressão do passado. Contudo, outros estudos, mais extensos e considerando outros gêneros discursivos, são necessários para evidenciar essa tendência apontada e descrever as especificidades desse processo de mudança.
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Notas
Autor notes
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