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Considerações sobre o clítico se em construções médias com os verbos espanhóis matar e morir
Caracol, núm. 19, pp. 394-424, 2020
Universidade de São Paulo

Dossiê


Recepção: 05 Agosto 2019

Aprovação: 26 Outubro 2019

Resumo: Este artigo pretende considerar o clítico se como médio em sentenças com os verbos matar e morir na língua espanhola. Para isso, proporemos a hipótese de que tal clítico não se sustenta como reflexivo energético (Maldonado, 1988) em todas as suas possíveis construções, sendo que certas características propostas pela semântica gerativa (Lakoff, 1970; McCawley, 1973; Hofmann, 1993), além do processo de anticausativização, proposto por Zubizarreta (1985), deverão ser considerados na tentativa de demonstrar que algumas dessas construções podem ser estabelecidas como médias.

PALAVRAS-CHAVE: clítico se, verbos matar e mori , construções médias, semântica gerativa, anticausativização.

Abstract: This paper intends to consider the clitic se as middle in sentences with the verbs matar and morir in Spanish. In order to do so, we will propose the hypothesis that this clitic is not sustained as an energetic reflexive (Maldonado, 1988) in all its possible constructions. Considering so, certain characteristics proposed by generative semantics (Lakoff, 1970; McCawley, 1973; Hofmann, 1993), in addition to the anticausativization process proposed by Zubizarreta (1985), should be considered in an attempt to demonstrate that some of these constructions can be established as middle constructions.

KEYWORDS: clitic se, verbs matar e mori , middle constructions, generative semantics, anticausativization process.

Introdução

O presente estudo tem por objetivo mostrar como a língua espanhola é capaz de oferecer construções estruturais diversas, as quais não seriam encontradas na língua portuguesa. Pelo fato de a língua não ser estanque, estar sempre em processo de variação e mudança, há a impressão de que os clíticos propendem a desaparecer na língua portuguesa, mas, caso sobrevivam, a sua posição será completamente pré-verbal (Pagotto, 1992, 1996).

Por outro lado, no que se refere aos clíticos na língua espanhola, são bem menores as variações graduais que possam propiciar uma mudança linguística, pois trata-se de uma língua não econômica em relação aos seus usos, dada a possibilidade de o espanhol admitir o emprego de clíticos mesmo que seus objetos correspondentes estejam também presentes na sentença (Oliveira, 2016).

Indo ao encontro do que fora proposto pelos semânticos gerativos (Lakoff, 1970; McCawley, 1973; Hofmann, 1993), a intenção é a de demonstrar que a língua espanhola, além de fazer uso de construções médias com o verbo morir, também o faz com o verbo matar, recurso este capaz de ir além da forma binomial ativa e passiva tão enraizada morfológica, sintática e semanticamente na língua portuguesa. E tal fato faz com que se ampliem as possibilidades de perceber e refletir sobre certas construções e situações.

Deste modo, no presente trabalho, procuraremos, primeiramente, realizar um breve panorama sobre os clíticos reflexivos da língua espanhola na Seção 1, para proporcionar uma maior familiarização para aqueles que têm o português como língua materna. Dado o comportamento não econômico dos pronomes no espanhol, certas dúvidas e ambiguidades podem ser geradas.

A partir da segunda seção, teceremos um trabalho de cunho analítico, pois, em decorrência do levantamento dos dados, tornou-se necessário um maior aprofundamento do comportamento dos verbos que a literatura considera como reflexivos em espanhol, principalmente o dos opcionais, como apontado por Chaves (2007). Trata-se de uma tentativa de abordar o clítico se sob o viés teórico de Maldonado (1988), como reflexivo energético, relacionando-o a Langacker (1990), que evidencia a capacidade de movimento e interação entre os seres e objetos.

Acreditamos que a proposta de Maldonado (1988) se sustenta quanto à análise do verbo caer, mas defendemos a hipótese de que ela não se manteria em relação às possíveis construções com os verbos matar e morir, como fora sugerido pelo autor. Para isso, autorizaremos o sentido anticausativo na predicação, termo este proposto por Zubizarreta (1985) e percebido como um processo em que o argumento externo agentivo do verbo transitivo é deletado. E, para que este processo se efetive, estenderemos seu uso através de Spencer (1991), que o relaciona à voz média.

Na Seção 3, faremos um levantamento de voz e valência através de Tesnière (1959), além de diátese, também apontado por Cançado (2012). Utilizaremos o termo construção média, cuja significação medial será a compreendida por Gonda (1975) e Camara Jr (1972). E para que o objetivo do presente trabalho se concretize, o qual considera o clítico se como medial em algumas construções com os verbos matar e morir do espanhol, recorreremos à semântica gerativa, principalmente a Lakoff (1970) e Hofmann (1993), para relacioná-la a certas características morfológicas e sintáticas. Na Seção 4, tem-se as considerações finais.

Usaremos o português brasileiro enquanto contraponto e o inglês como subsídio dos autores citados no decorrer da terceira seção.

1. Um breve panorama sobre os clíticos reflexivos átonos da língua espanhola

Os reflexivos são analisados como pronomes pessoais que requerem um antecedente na própria oração (RAE y ASALE, 2010). Tais clíticos, por carecerem de acento, apoiam-se foneticamente no verbo contíguo e indicam que a ação verbal recai sobre o próprio sujeito. No Quadro 1 temse distribuídos os pronomes reflexivos átonos de acordo com as pessoas do discurso (nominativo).

Quadro 1
Distribuição dos pronomes reflexivos átonos da língua espanhola.

Fonte: Adaptado de Real Academia Española y Asociación de Academias de la Lengua Española (RAE y ASALE) (2010, 305)

Em sentenças como em (1), observamos o emprego do pronome reflexivo, visto que faz referência à mesma pessoa, ao sujeito da oração:




De acordo com a RAE y ASALE (2010), apenas o pronome se é inerentemente reflexivo, sendo que os demais podem ou não ser reflexivos em função do contexto sintático, pois não estariam marcados morfologicamente para tais interpretações, como se observa em (2a), com o pronome pessoal te em função acusativa, e em (2b), a sentença reflexiva:




Refletindo a respeito do que a RAE y ASALE (2010) propuseram sobre o se como inerentemente reflexivo, a partir de uma perspectiva diacrônica, isto se faria valer, já que, em latim, a forma correspondia apenas ao pronome reflexivo de terceira pessoa do singular e do plural no caso acusativo (Faria, 1995).

Contudo, ao analisar a língua espanhola sincronicamente, as construções passivas e impessoais com se, assim como as possíveis médias, foco deste trabalho, fazem com que tal clítico não seja um pronome meramente reflexivo.

Os verbos reflexivos em Espanhol: foco nos reflexivos opcionais

A partir da breve apresentação dos pronomes reflexivos átonos, torna-se necessária a explicitação dos verbos considerados como reflexivos em espanhol, podendo estes classificarem-se em três tipos: os próprios, que são verbos de ação-processo, considerados os únicos verdadeiros casos de construções reflexivas em que o agente e o paciente se fundem em um só, como em (3a); os reflexivos opcionais, verbos estes considerados monovalentes4 e que, em geral, são os de ação [exemplo (4a)] ou os de processo [exemplo (4b)]; e os verbos reflexivos inerentes, como em (5a), que são semanticamente monovalentes e carecem de uma contraparte que seja formalmente um verbo transitivo ou intransitivo. Assim, verbos como arrepentirse e atreverse não possuem, como contrapartida, os verbos arrepentir e atrever, respectivamente (Chaves, 2007, 193).




Em (3), ao contrário dos verbos reflexivos inerentes, o reflexivo próprio pode ser equiparado a um verbo tipicamente transitivo, como levantarse/ levantar, bañarse/bañar. Em (4a, b), trata-se de verbos ditos intransitivos, como reír/reírse, olvidar/olvidarse.

Vale ressaltar que em sentenças como El muchacho se comió el postre, cujo verbo comer é transitivo, mas pode ser usado também como intransitivo, temse, conforme Di Tullio (2014, 181), o se como facultativo, e sua possibilidade de omissão ocorreria porque este não constitui um argumento do verbo. Essa autora denomina esse pronome como se estilístico.

Ao utilizar-se o pronome reflexivo, a atenção finda-se no único participante da sentença, posto na posição canônica de sujeito, e que corresponderia a um agente [exemplo (4a)], ou mais bem a um paciente [exemplo (4b)]. Desta forma,

por medio de la operación de reflexivización, este participante se repite como un argumento de objeto. Esto significa, en el fondo, una degradación del participante, puesto que este aparece entonces categorizado como un argumento menos relevante en la cláusula. Es decir, el agregar un nuevo argumento de objeto directo (que prototípicamente categoriza pacientes) que sea correferencial con el sujeto (que prototípicamente categoriza agentes) indicaría que el único participante a nivel semántico se comporta también como un paciente, y que, por tanto, el evento carece de un verdadero instigador voluntario

(Chaves, 2007, 192).

Percebe-se o realce dado a quem ocupa a posição de argumento externo enquanto agente, na qualidade de entidade causadora, obedecendo ao topo da hierarquia temática dos constituintes, seguido pelo tema (Larson, 1988). Mas, a partir da explicitação em (6a), observamos a possibilidade de o pronome permitir o sentido anticausativo7 na predicação, quando comparada ao uso do verbo intransitivo em (6b):




Ao mantermos o sentido de perder o equilíbrio ou o de exercer força além do que um objeto poderia suportar em (6a), a sentença não se manteria sem a presença do pronome se. Entretanto, caso quiséssemos o sentido de queda por ação voluntária em sinônimo a jogar-se, como em (6b), o pronome se tornaria a sentença agramatical. Em (6a), temos a ocorrência de se determinada pelo sentido implicado no item lexical, pois este não pode ocorrer sem aquele, tendo-se, portanto, um uso inerente ao verbo.

A partir do exemplo em (6a), tem-se reforçada a proposta de construção energética de Maldonado (1988), na qual o clítico seintroduces a reading of ‘unexpected change’” (Maldonado, 1988, 154), e corroborada por suas sentenças agramaticais (7a, b), devido à presença do pronome:




Tais asserções vão ao encontro da concepção arquetípica denominada billiard-ball model proposta por Langacker (1990), a qual considera que

we tend to conceive of our world as being populated by discrete objects, each of which (at a given moment) occupies a distinct location. Some of these objects are capable of moving about and interacting with others, particularly through direct physical contact. Motion is driven by energy, which some objects are capable of supplying internally and others must receive from outside sources. When physical contact is initiated with any degree of force, energy is transmitted from the mover to the impacted object

(Langacker, 1990, 215).

Obviamente, tal argumentação perpassa por objetos inanimados, pelas forças naturais que agem constantemente, como a gravidade, vista em (7a, b), assim como pelos seres animados, aqueles que possuem controle em provocar mudanças. Essas entidades e forças são transpostas à linguagem através de estruturas simbólicas que requerem determinadas formas de contextualização.

Deste modo, enfatiza-se a construção reflexiva energética, função dada ao clítico se, proposta por Maldonado (1988) e calcada na teoria de Langacker (1990), cujo clítico exprime o traço de acidentalidade, como visto em (6a).

Tem-se, portanto, a oposição entre construções absolutas e energéticas (Maldonado, 1988, 156), em que, naquelas, o evento pode ser estático ou dinâmico, mas decorre em direção às expectativas, como em (6b) e em (7a, b), não importando o conflito de forças que são empregadas. Quanto às energéticas, o evento não pode ser antecipado e vai contra as expectativas, sendo que o pronome em questão seria, portanto, capaz de transformar sentenças absolutas em energéticas.

Como a teoria de se como construção reflexiva energética ajustou-se ao verbo caer, podemos, a começar deste momento, adentrar ao funcionamento de outro verbo reflexivo opcional de processo: morir/morirse, o qual está representado nas construções em (8), a partir das quais tentaremos depreender melhor se tal teorização se mantém.




Em (8a, c, d, e), tem-se o clítico, enquanto que (8b) não apresenta tal pronome. Diante destas sentenças e, de acordo com De Mello (1996), dentre os fatores que avigoram o uso ou não do clítico, podemos enfatizar o de afetividade e o de morte violenta, não natural, respectivamente.

Quando o contexto simbolizar uma morte natural, sem implicações externas, em decorrência de alguma doença, como estaria subentendido em (8a), a sentença evoca o clítico; já em casos de mortes violentas, como em (8b), não se associa o pronome ao verbo, exceto por questões diastráticas, como em (8c), podendo ser utilizado tanto em fala formal quanto não formal na Cidade do México (De Mello, 1996). Em enunciações subjetivas, situações afetivas, como em (8d), o verbo será duplamente pronominal, seguindo-se essa ordem restrita, sendo o átono me dativo possessivo. Por fim, como um adendo, quando o verbo estiver com sentido figurado, o clítico também se fará presente, podendo ser anteposto ao verbo conjugado, como em (8e), ou posposto e adjungido ao verbo principal, como em (9):




Hipérbole à parte, atentemo-nos em analisar as sentenças uma a uma, para melhor percebermos as nuanças. Primeiramente, examinemos a (8b), única sentença sem o uso do pronome, contrapondo-se à (8c), como já mencionado, em que temos um cenário de morte não natural, el desastre. Em mortes violentas, na morte em acidente ou até quando se trata de morte em decorrência de suicídio, tem-se como mais usual o uso do verbo matar no espanhol (Estévez, 2007), sendo que o contexto deverá resolver a ambiguidade:




No português, a expressão se matou implicaria em suicídio, mas, no espanhol, o contexto deverá evidenciar se se tratou de uma ação alheia ou não à vontade do sujeito da oração.

Em (8d), Se me murió el abuelo, o pronome átono se não pode ser considerado argumental porque apenas caracteriza o verbo pronominal em questão, não correspondendo a uma ação sintática. A sentença obedeceu a ordem privilegiada em espanhol, sendo menos comuns construções como El abuelo se me murió, o que corroboraria o fato de não termos argumento externo na sentença, sendo el abuelo, por consequência, argumento interno do verbo morirse.

E ao seguir esse raciocínio,

the proposal that the internal arguments of a verb be distinguished from the external one in being linked to a syntactic frame makes an interesting prediction, which is apparently correct. The external argument may remain syntactically unrealized (under conditions to be made precise) because it is not lexically associated with a syntactic frame. In effect, there are constructions in which an external lexical argument, although lexically present, is syntactically absent

(Zubizarreta, 1985, 250).

Temos, então, em (8d), a presença da hipótese inacusativa de Burzio (1986), pois o verbo da sentença, ao não atribuir papel temático ao sujeito, não atribuiria caso acusativo (e vice-versa); e através do Filtro de Caso, em que todo sintagma determinante pronunciado deve pertencer a uma cadeia marcada com caso (Mioto; Silva; Lopes, 2013), o argumento interno el abuelo receberia caso nominativo.

Na mesma sentença, pelo verbo ser duplamente pronominal, o clítico me, ao receber a função de dativo possessivo, não permite a permuta desta forma átona pelo que seria seu correspondente reflexivo na forma tônica, como em (11), pois teríamos mudança de sentido:




Temos, acima, um sentido figurado, podendo-se interpretar, pragmaticamente, que o falante está irritado ou triste por algo que o seu avô causou, além de que, sintaticamente, para mí estaria apenas como adjunto.

Há autores que defendem que a combinação entre se + me forma o chamado dativo de interés (Maldonado, 1994), ou seja, o me inferiria que o falante tem interesse na cena, mas não está diretamente envolvido nela. O dativo de interés tem, portanto, a função de evidenciar que algo aconteceu acidental ou inesperadamente, e aquele que fala sofreu as consequências disso. Desta maneira, o átono se, integrante do verbo, como em (8d), vai ao encontro das expectativas de Maldonado (1988) enquanto possuidor do traço de acidentalidade. Finalmente, em (8a), Pablo se muere, o clítico é capaz de tornar a sentença semanticamente ambígua, sendo a primeira leitura a de morte de Pablo, com o se conotando uma morte não violenta, ou seja, refere-se a um evento acabado, a um resultado final; e a segunda a de que Pablo estaria morrendo paulatinamente, talvez por conta de alguma doença.

Nesta última leitura, portanto, o verbo implicaria em um prosseguimento do processo. Conforme De Miguel (1999, 3024), o aspecto incoativo expressa mudança de estado e pode expressar tanto o início ou o término deste quanto o seu progresso, ou seja, um evento incoativo “puede ser contemplado también en su desarrollo intermedio, en progreso”.

Deste modo, na sentença (12), em que uma expressão adverbial é encaixada, a ambiguidade pode ser desfeita, corroborando o processo em andamento e pertinente à segunda leitura:




Tem-se em foco a fase intermediária, na qual um elemento dêitico tornaria a sentença agramatical: *Pablo se muere poco a poco a la noche/a las ocho de la mañana, a não ser com sentido figurado ou poético.

Do mesmo modo, na sentença (12), o verbo também não poderia ser aspectualmente classificado como achievement, já que, de acordo com Cançado (2012), o verbo morrer entraria nessa estrutura pelo fato de só apresentar o ponto final do evento.

Observa-se, também, que a sentença admite a locução por sí solo, própria para a interpretação média (Peña; Sellés, 2002), ao contrário da expressão a sí mismo, própria para o sentido reflexivo (Macambira, 1978; Di Tullio, 2014), como podemos observar em (13a, b):




A ambígua sentença (8a), replicada em (12) e em (13a), iria de encontro à teoria de se como construção reflexiva energética proposta por Maldonado (1988), pois sentenças por ele formuladas, como em (14a, b), não se bastariam em relação a todos os sentidos plausíveis, como aquele proposto inicialmente na sentença (12):




Tais sentenças, consideradas pelo autor como ocorrências indesejáveis, seriam energéticas por irem contra as expectativas dos participantes. O verbo morirseimplies a high level of accidentality” (Maldonado, 1988, 161) e a ausência do pronome tornaria as sentenças agramaticais, além de que, ainda de acordo com o autor, o marcador dativo le, em (14b), também seria capaz de reforçar que Juan afetou-se com a morte de seu pai.

Porém, apesar de haver um certo grau de acidentalidade e de poderem ir contra as expectativas daqueles que participam dos eventos, tal traço semântico investido no clítico se não pode ser estendido a todas as suas possíveis construções, também em decorrência das possibilidades de flexão verbal.

Portanto, na sentença Pablo se muere, em ambos sentidos, é imprescindível a presença do pronome, e este tem papel nuclear na sentença, ou seja, a ocorrência do se, defendido aqui como clítico médio e que será melhor discutido na próxima seção, incute as funções lógicas de agente e paciente, fazendo com que o único participante no evento absorva tais papéis temáticos, mesmo que possa haver carência de volição que o caracterize como um incitador efetivo em tal evento (Chaves, 2007).

3. A voz média, a diátese média e as construções médias

Cabe-nos, primeiramente, conceituar alguns termos. A designação valência foi estabelecida por Tesnière (1959). Segundo esse autor “le nombre de crochets que présente un verbe et par conséquent le nombre d’actants qui’il est susceptible de régir, constitue ce que nous appellerons la valence du verbe” (Tesnière, 1959, 238). Deste modo, certos aspectos linguísticos podem ser melhor esmiuçados, já que:

la façon de concevoir psychologiquement le verbe en fonction de sa valence par rapport à ses actants éventuels est ce qu’on appelle en grammaire la voix. La voix du verbe dépend donc essentiellement du nombre des actants qu’il est susceptible de comporter

(Tesnière, 1959, 238).

Outro termo adotado por Tesnière (1959) foi o de diátese da gramática grega, correspondendo a subvozes que indicariam o modo como os actantes são expressos nas sentenças, ou seja, as formas as quais um verbo consegue avocar, trazer para si. Com isso, podemos aderir ao que Cançado (2000) atribuiu como diátese:

uma relação semântica qualquer entre um predicador, seja ele um item lexical ou uma expressão complexa, e seu argumento, ambos se caracterizam pelo papel determinado por essa relação, onde ao papel do predicador chamaremos de “diátese” e ao papel do argumento chamaremos de “papel temático”

(Cançado, 2000, 304).

Dentre as diáteses propostas por Tesnière (1959), há a ativa, em que a ação transita do primeiro actante sobre o segundo; a passiva, em que o primeiro actante sofre a ação exercida pelo outro; e a reflexiva, em que o primeiro e segundo actantes são a mesma pessoa, como em (15):




A partir dessas definições, estamos propensos a estabelecer, como diáteses, os possíveis papéis que o verbo assumiria em relação aos seus argumentos, podendo estes ser apresentados de distintas formas; e como voz, as manifestações morfológicas e sintáticas da diátese, estando aliciada a flexão verbal.

Tanto no português quanto no espanhol, tem-se duas vozes para o verbo, a ativa e a passiva, mas, nas antigas línguas indo-europeias, como o sânscrito e o grego, havia também a voz média. Conforme Camara Jr (1972, 182), “A grande oposição que em regra se verifica, dentro das frases de sujeito ativo, é, entretanto, a do verbo ativo, stricto sensu, e o verbo que a gramática grega denominou médio ou medial”.

De forma geral, a voz média descreve uma ação que toma o sujeito sintático como seu centro, ou seja, o sujeito está incluso na ação, enquanto que, na voz ativa, tem-se uma ação que procede a partir do sujeito sintático, mas este não está incluso nela (Steinbach, 2002). “La voz media se interpreta como la forma de expresar que la acción que denota el verbo ‘afecta’, en mayor o menor grado, al sujeto (incide sobre el sujeto, interesa al sujeto, indica un cambio en el sujeto, etc.)” (Mendikoetxea, 1999b, 1636).

Diante do levantamento exaustivo e aprofundado das diversas fontes teóricas a respeito do assunto realizado por Gonda (1975), em que este também fora citado por Camara Jr (1972), ficou estabelecido que a função essencial da voz média é a de indicar que “a process is taking place with regard to, or is affecting, happening to, a person or a thing” (Gonda, 1975, 143), significação esta que será mantida no presente trabalho.

No latim, além da presença de pronomes regimes adjungidos ao verbo na forma ativa e correspondendo à função medial (Brugmann, 1905), havia também a voz medial que se expressava nas desinências verbais, assim como no grego e no sânscrito. Tais verbos, em latim, eram denominados depoentes, sendo que estes possuíam forma passiva, mas significação ativa.

Consequentemente, verbos como cair e morrer, exemplificados no presente trabalho, eram depoentes nessa língua, como podem ser observados seus paradigmas peculiares em (16a, b) (Faria, 1995, 176):




Quanto à classificação de verbos, ou classes de verbos, é necessário se atentar a questões de significação, ou melhor, à relação entre a potencialidade semântica dos verbos e suas propriedades morfossintáticas (Mendikoetxea, 1999a). Consequentemente, tem-se a função medial como um rico recurso de linguagem, e o português e o espanhol também se valeram dela tornando pronominais alguns verbos, sendo que o espanhol os utiliza mais fortemente, cujas construções remontam às origens do espanhol medieval (Chaves, 2007).

Não obstante, pelo fato de os pronomes átonos não possuírem as características dos morfemas flexionais, torna-se preferível a utilização da expressão construção média e a de verbos médios, em virtude de tais clíticos estarem adjungidos aos verbos em questão. Spencer (1991) investigou tais verbos, e suas conclusões, na língua inglesa, podem ser perpassadas ao português, já que

apart from the fact that middle verbs have active and not passive morphology, there is an important difference between English middles and passives. Although in both constructions there is an ‘understood’ notional subject, or implicit argument, it is only in the passive that this agent can be expressed

(Spencer, 1991, 245).

Deste modo, nas sentenças abaixo, elencadas pelo autor, a (17b) evidencia a morfologia ativa na construção média no inglês, assim como no espanhol e no português, respectivamente traduzidos:




Em (17b) temos, portanto, a forma média, cuja flexão verbal é ativa, ao contrário do que vemos em (17c), sendo a passiva com o agente expresso entre parênteses. A construção média em (17b) pode ser chamada, seguindo a Spencer (1991), de anticausativa, “because the transitive form has roughly the meaning ‘cause X to V’, where V is the intransitive form” (Spencer, 1991, 245).

O termo anticausativização, proposto por Zubizarreta (1985), compreende um processo em que o argumento externo agentivo do verbo transitivo é deletado. Como visto em (17b), o inglês não possui um morfema que marque a função anticausativa, já, no português, o clítico se pode ou não se fazer presente, o que cumpriria esse papel. Quanto ao espanhol, tal clítico deverá obrigatoriamente estar presente.

Outro fato que caracteriza o processo anticausativo das construções médias, de acordo com Spencer (1991), é o de que os verbos têm a possibilidade de derivarem significados adjetivos, potencializando o aspecto incoativo enquanto término de estado e estendendo a sentença para O vaso quebrado (El jarrón roto). Assim, evidencia-se ainda mais sua característica de argumento interno, pois adjetivos resultativos não podem ser argumentos lexicais externos (Simpson, 1983).

Ao considerarmos a sentença (10), Matias se mató en un accidente de auto, estando subentendido o não suicídio na cena, poderemos depreender a construção média em (18b):




Vê-se, em (18b), a possibilidade de uma interpretação média no espanhol, diferentemente do português, já que matar-se apenas denotaria o suicídio no evento, inferindo uma característica reflexiva ao clítico. Obviamente, no espanhol, o contexto deverá evidenciar se se trata de um verbo médio e, assim confirmado, teremos um verbo bivalente convertido em monovalente, alternando sua valência e apagando o argumento externo, fortalecendo o caráter anticausativo que o verbo foi capaz de assumir.

Outra questão interessante é o fato de, a partir dos adjetivos resultativos, propostos por Simpson (1983), o espanhol admitir a construção em (19), utilizando o particípio do verbo matar:




Vale lembrar que, na língua espanhola, o particípio de morrer é muerto, enquanto que o do verbo matar é matado, não admitindo outras formas, distintamente do português, que admite a forma irregular morto para ambos os verbos, fato este consolidado por razões estilísticas históricas, pois foi

singular a aversão que sempre manifestaram os escritores portuguezes pelo particípio derivado naturalmente do verbo matar [...] A gente letrada christan, quinhentista e seiscentista, conservou-se fiel à tradição de pedir o particípio emprestado ao verbo morrer, dando-lhe significação ativa

(Said Ali, 1931, 166).

Para que possamos deduzir por que as pessoas evitam certas palavras, devemos excluir certas conclusões, tidas como axiomas, baseando-nos na possibilidade de evasão de conteúdo. No espanhol, não houve essa ampliação de significado, não sendo possível tal uso conjugado, então a sentença (19) evidenciaria ainda mais a morte de Matias alheia à sua vontade, desfazendo a possível ambiguidade.

Até o momento, defendeu-se a possibilidade de interpretação média para o verbo matar em espanhol. Mas, o maior desafio estará em estabelecer tal interpretação para o verbo morir na sentença (8a), Pablo se muere, em ambos sentidos já discutidos, e ir novamente de encontro à teoria de se como reflexivo energético de Maldonado (1988). Tal sentença está retorquida em (20):




Para que a construção média se faça presente, é imprescindível que partamos de uma perspectiva semântica gerativa, como a proposta por McCawley (1973), e elencada por Spencer (1991), em que o verbo kill em inglês pode ser considerado como um tipo de causativo, gerando sentenças sinônimas em (21a, b):




Lakoff (1970) também propõe uma relação semântica entre kill, die, dead, e em uma sentença superficialmente simples, como em (21a), haverá sempre uma estrutura subjacente, como a observada em (21b).

Esse assunto foi destrinçado por Hofmann (1993) e estabeleceu-se que a noção de dead carregará sempre dois elementos, o causativo [Coz] e o incoativo [Bcm]. O autor também observou como diferentes palavras em diversas línguas possuem mesma significação, diferindo-se apenas nas suas combinações em determinadas estruturas sentenciais. Assim, foi proposto um esquema que englobaria os possíveis traços semânticos em uma sentença como Z kills X:


Figura 1
Esquema semântico para a sentença Z kills X.
Fonte: Hofmann (1993, 241).

É como se a sentença fosse uma matriosca, na qual podemos relacionar kill a cause to die e ao aspecto incoativo come to be not alive (Goddard, 2011, 441).

Argumentamos que, apesar de morrer se apresentar como processo, há também uma estrutura causativa, pois, como exemplificado em (21b), Tom caused Dick to die. Além disso, devido ao fato de um predicado se definir “como un evento de causa externa cuando existe una causa (agente, instrumento, fuerza de la naturaleza o circunstancia) que actúa directamente en la consecución de la eventualidad que denota el verbo” (Mendikoetxea, 1999a, 1588), entende-se que o câncer seria a causa da morte progressiva de Pablo, ou seja, essa doença seria observada como uma circunstância alheia à sua vontade, estando o sujeito gramatical “afetado” pela ação ou processo verbal, conforme Mendikoetxea (1999b), e salientando o sentido médio.

Para tanto, o verbo morir participaria da alternância causativa com o verbo matar: Pablo se muere (de cáncer) (poco a poco) (por sí solo).

Por consequência, insere-se tal sentença ao viés oferecido pelos semânticos gerativos, pois estes “treated even highly idiosyncratic lexical relationships such as the suppletion between kill and die as effectively underlain by a kind of ‘agglutinative’ syntax” (Spencer, 1991, 69). Mesmo a contraparte média supletiva não estando relacionada lexicalmente à sua forma transitiva, o bloqueio raramente será completo fora do núcleo lexical, pois, como palavras comuns geralmente têm alguns elementos adicionais de significado, causa e morte podem ser percebidos como o mesmo evento.

Em vista disso, em espanhol, seremos capazes de equiparar a sentença (22a) às sentenças (22b, c), fenômenos estes causativos genuínos e com seus verbos médios através do processo de anticausativização:




Porém, defende-se também que o espanhol, diferentemente do inglês e do português, é capaz de, como visto, separar a causa e a potencial morte no tempo, salientando a necessidade de uma estrutura subjacente como proposto por Lakoff (1970), possibilitando El cáncer cause Pablo to die.

Portanto, a sentença Pablo se muere se fará possível, enquanto potencial morte, prosseguimento de processo, que já fora reformulada em (12), Pablo se muere poco a poco, e em (13a), Pablo se muere poco a poco por sí solo. Como consequência, adquire-se o sentido médio, pois, de acordo a Brugmann (1905), a presença do pronome regime correspondente à função medial varia de acordo com o sujeito e, assim, tem-se licenciada uma sentença como em (23), sem sentido figurado, ou poético:




4. Considerações finais

Propomos, neste estudo, a possibilidade de construções médias a partir do uso do clítico se no espanhol. Devido à escassez de trabalhos compreendidos nessa área, realizamos inferências que acreditamos serem as mais adequadas a partir de sentenças que são possíveis nessa língua.

Argumentamos que o se não pode ser mantido como reflexivo energético em certas construções no espanhol, corroborando o fato de termos um clítico médio como vestígio do que se propunha como diátese média no latim. Pensar dessa forma ampliaria as nossas possibilidades de percepção e expressão da realidade.

Salientamos que, de acordo com a semântica gerativa, é possível equiparar os verbos matar e morir por supleção, possível fora do núcleo lexical, fazendo com que causa e morte façam parte do mesmo evento. E, apesar de serem lexicalmente diferenciados, uma sintaxe aglutinante, como apontado por Spencer (1991), daria conta de tal fenômeno, assim como o de anticausativização.

Outra questão, que merece atenção, é a de que o espanhol, ao permitir construções com o verbo morirse que aliciam o caráter médio do se, faz com que se amplie a perspectiva do verbo em questão, para além do que fora considerado pela literatura como reflexivo opcional.

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Notas

1 Com relação às orações exemplificadas no presente trabalho, aquelas cujas respectivas fontes não são mencionadas significam que foram elaboradas pela própria autora.
2 Para a segunda pessoa do singular, há também o pronome vos, empregado no espanhol rioplatense, que não será considerado no presente trabalho. Ressalta-se, apenas, que este pronome possui como acusativo e dativo a forma te, assim como no reflexivo, igualando-se ao pronome tú. A mudança ocorre na flexão do verbo: tú tienes x vos tenés (Menegotto, 2005).
3 Consideramos as formas usted/ustedes pelo fato de seu uso estar difundido nos países hispano-americanos, em quase toda a região de Andaluzia e nas Ilhas Canárias (Lapesa, 1996). Mantemos a forma vosotros pelo seu emprego no espanhol peninsular.
4 Verbos monovalentes ou “predicados de um lugar”. Os predicados podem ser classificados por sua valência, ou seja, pelo número de argumentos que exigem (Calvo, 2011). O termo valência foi introduzido por Tesnière (1959), como veremos na Seção 3.
5 Tal sentença está em acordo à análise de verbos reflexivos próprios realizada por Chaves (2007), a qual difere da realizada por Di Tullio (2014). Para esta autora, a construção com levantarseimplica um verbo de mudança de posição cuja ação não pode dissociar o agente do paciente, ou seja, “no se puede hacer consigo mismo lo que se hace con otro” (Di Tullio, 2014, 174). Neste caso, por mais que a autora reconheça que o pronome em questão cumpra algumas funções típicas verificadas aos verdadeiros reflexivos, estes por ela exemplificados em construções como “Leo se afeitó” (Di Tullio, 2014, 173), o pronome se de levantarse não compreenderia um objeto direto, pois a sentença não admitiria o reforço por a sí mismo.
6 Através de uma perspectiva diacrônica, os verbos desayunarse/desayunar, muito utilizados no espanhol, tiveram, primeiramente, o uso da forma pronominal e intransitiva; depois, apareceu a forma não pronominal intransitiva, até manifestar-se o uso não pronominal e de forma transitiva (Torrego, 2005, 610).
7 Como salientado na Introdução, o termo anticausativização será detalhado na Seção 3. Por ora, valemo-nos enquanto processo no qual é suprimido o argumento externo agentivo do verbo.
8 Mortŭus est (Morto está), sendo est a conjugação correspondente à terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo sum (ser/estar).
9 Lapsus sum (Caído estou), sendo sum a conjugação da primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo sum (ser/estar).
10 Por reconhecer que o sintagma Un accidente de auto seria um sujeito que expressa causa, e não propriamente um agente, a correspondente passiva perifrástica Matias fue muerto (por un accidente de auto) causaria um estranhamento pelo fato de esse tipo de oração poder indicar uma maior necessidade da presença de um agente quando comparada a orações incoativas, médias, impessoais e passivas com se (Mendikoetxea, 1999b, 1672). Do mesmo modo, por esta autora afirmar que há matizes de interpretação, a questão ainda se encontraria em aberto pela carência de estudos comparativos sobre o assunto no espanhol atual.

Autor notes

Contato: marianebelando@yahoo.com.br



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