Palavras chave: Teses, Dissertações, PPGH/UFGD
DIVULGAÇÃO
TESES E DISSERTAÇÕES (2021)

Resumo
Este trabalho tem por objetivo analisar as representações do feminino propagadas pelo periódico Tribuna durante a década de 1950. O Tribuna foi fundado no ano de 1912 por Pedro de Magalhães e pertence a imprensa corumbaense. Por ser um impresso de temática livre, o jornal faz a cobertura dos acontecimentos locais, nacionais e internacionais; publica diversos anúncios e alguns comunicados das instituições locais. Nota-se que o Tribuna aborda as notícias que estão mais relacionadas aos assuntos do âmbito político e econômico, por isso, dão destaque aos personagens masculinos, como comerciantes, fazendeiros, funcionários públicos, entre outros. Segundo a concepção de gênero vigente no período, os assuntos que pertencem à esfera pública são de interesse dos homens e não das mulheres, questão que explica por que as mulheres ocupam pouco espaço nas páginas de notícias do jornal. Entretanto, elas aparecem. Seja em pequenas notas informativas ou até mesmo em matérias jornalísticas. Esses textos ajudam a apreender aspectos do cotidiano de algumas mulheres que vivenciaram os anos dourados em Corumbá. Pode-se dizer que através de uma articulação entre a historiografia e alguns textos jornalísticos veiculados pelo jornal, esta pesquisa também oferece elementos para pensar o contexto histórico da localidade. Apesar de não pertencer ao segmento da imprensa feminina, o periódico Tribuna dedica um espaço para as leitoras: a seção Sociais. Ao longo das edições dos anos 1950, a seção Sociais apresenta inúmeras dicas de civilidade, culinária, beleza e sugestões de como cuidar do lar e da família. Dicas que são, em sua maioria, direcionadas ao público feminino. Através dessas dicas, é possível identificar discursos que reforçam os papéis tradicionais de gênero e propagam representações do feminino, portanto, esta pesquisa tem como foco de análise a seção Sociais. As dicas presentes na referida seção do periódico, embora revestidas de um tom de aconselhamento que parecem ter apenas a intenção de auxiliar as leitoras, na verdade, são discursos que representam o feminino pautados na ideia de que há uma natureza feminina e têm a finalidade de fazer com que as mulheres vivam de acordo com as condutas ditas corretas. A análise dos discursos e representações do Tribuna revela o imaginário social corumbaense e indica que alguns segmentos se preocupavam com a manutenção dos papéis de gênero. O presente estudo é realizado a partir de uma perspectiva da História Cultural. Os conceitos de representação e gênero, as discussões sobre o discurso e o poder constituem o caminho teórico-metodológico utilizado para analisar as edições do Tribuna.
Palavras-chave: Imprensa corumbaense. Mulheres. Representações.
Resumo
As indígenas mulheres inscrevem histórias no processo colonialista que lhes nega existência desde a intrusão colonial. Considerando a longa história de luta dos povos indígenas no contexto colonialista, esta tese analisa diversos discursos de indígenas mulheres, historiográficos, antropológicos e indigenistas, produzidos entre a segunda metade do século XX e XXI, para compreender as representações de gênero, os modos de inscrição das indígenas e o espaço atribuído às indígenas na situação de violência colonial. Primeiro aponto os silêncios, os apagamentos e as representações sobre as índias, indígenas e mulheres indígenas, que compõem uma forma discursiva de colonizar as histórias das indígenas. Na sequência, abordo as ações de indígenas mulheres, observando as estratégias de construção da sujeita etnopolítica “mulheres indígenas” ao longo da trajetória de atuação por ocasião das mobilizações dos povos indígenas. A historicidade me autoriza a defender que as indígenas mulheres lutaram ante às formas de dominação e de expropriação colonial das mulheridades etnicamente diferenciadas e marcadas por situações de violência de gênero. A politicidade das indígenas mulheres, posicionadas enquanto lideranças entre políticas indígenas e indigenistas, construiu a sujeita etnopolítica “mulheres indígenas” como uma estratégia de atuação política na estrutura racial e patriarcal do Estado brasileiro. Assim, entre os silêncios coloniais e a enunciação de indígenas mulheres, concluo que as protagonistas atravessaram os colonialismos em resistência de longa duração.
Palavras-chave: Indígenas mulheres. Colonialismos. Mulheres Indígenas. Política. Resistência.
Resumo
A presente pesquisa tem como objetivo analisar as representações de gênero nas páginas da revista O Carreteiro, criada em julho de 1970, pela Divisão de Revistas Técnicas da Abril (Abril-Tec). O periódico pretendia levar informações aos motoristas de caminhão, ou como o próprio título se referia, aos carreteiros. Por mais que se trate de uma categoria profissional que é tida como, predominantemente, do sexo masculino, não podemos generalizar que seja uma profissão exercida unicamente por homens, ainda que boa parte das práticas e representações, elaboradas sobre essa categoria profissional, ainda seja representada e construída para esse gênero. Apesar de tal periódico ter sido pensado para os homens, nesse caso, os motoristas de caminhões e carretas, os editores passaram a perceber que O Carreteiro não era lida exclusivamente pelo público masculino, mas também pelo público leitor feminino, como as esposas, as filhas de caminhoneiros e também por caminhoneiras e carreteiras. Assim, o objetivo principal desta tese foi de analisar as representações masculinas, mas, principalmente, as femininas impressas nas páginas da revista O Carreteiro, para que assim, pudéssemos evidenciar as mulheres caminhoneiras e carreteiras, diante dessa profissão. Para o desenvolvimento da tese, foi analisado um total de 320 revistas; as pesquisas foram realizadas na Editora GG Mídias, localizada na cidade São Paulo, atualmente detentora do arquivo impresso do periódico e responsável pela publicação da revista O Carreteiro. Além das fontes impressas, foi realizada uma entrevista com Roberto Muylaert, o criador, idealizador e editor da revista O Carreteiro. As discussões teóricas estão centralizadas nas questões gênero e outras temáticas, como: história do rodoviarismo do Brasil, divisão sexual do trabalho, a imprensa como fonte para os estudos de gênero e sexualidade. Dividida em quatro capítulos, a tese evidenciou como foram elaboradas as representações acerca dos caminhoneiros e carreteiros. Assim sendo, na busca de encontrar e analisar outras representações, O Carreteiro foi de grande valia para visibilizar a imagem do perfil feminino, diante desta categoria profissional.
Palavras-chave: O Carreteiro; divisão sexual do trabalho; caminhoneiros e carreteiros.
Resumo
Este trabalho busca estabelecer uma relação entre a subjetividade de Clarice Lispector (1920-1977) e sua produção enquanto profissional da imprensa, ancorando-se nas obras biográficas de Nádia Batella Gotlib, Clarice: uma vida que se conta (2013), e Clarice fotobiografia (2014), bem como na compilação de suas correspondências, presentes majoritariamente nas obras Correspondências (LISPECTOR, 2002) e Minhas queridas (2007), organizadas por Tereza Monteiro. Considera-se a construção sociocultural binária do gênero (BUTLER, 2014), o perfil dos jornais e das revistas que publicou (MARTINS, DE LUCA, 2015; BAHIA, 2009) e os posicionamentos emancipatórios presentes em seus textos, organizados e compilados por Aparecida Maria Nunes nas obras Correio feminino (2006), Só para mulheres (2008) e Clarice na cabeceira: jornalismo (2012), que compuseram a revista acadêmica A Época (1941); os jornais Comício (1952), Correio da Manhã (1959-1960) e Diário do Povo (1960), além da revista feminina paulista Mais (1975-1977). A análise de sua escrita enquanto discurso (FOUCAULT, 2011; MAIA, 2011) amplia a percepção histórica sobre as relações de poder e de gênero (REVEL, 2005), sobre os perfis, as condições e espaços de publicação (BUITONI, 2009; MORENO, 2017), assim como a influência e inserção de autoras com posicionamentos semelhantes aos seus, como Virginia Woolf, Mary Wollstonecraft e Simone de Beauvoir. Dessa forma, a pesquisa histórica contou com a observação de um olhar feminino em busca da desnaturalização de aspectos de ambas as construções socioculturais (masculina e feminina) e ampliou o entendimento acerca das relações de poder e de gênero e de aspectos conservadores e patriarcais que ocorrem atualmente no Brasil.
Palavras-chave: Clarice Lispector. História das mulheres. Imprensa. Correspondências.
Resumo
Esta pesquisa tem por objetivo analisar as crônicas do escritor Lima Barreto e sua crítica à política e à sociedade do Rio de Janeiro, entre 1889 e 1922. Como fonte principal foram selecionadas as obras Os Bruzundangas, Coisas do Reino de Jambon e Crônicas Seletas, que apresentam representações políticas e sociais da Primeira República. O escritor Afonso Henriques de Lima Barreto viveu a maior parte de sua vida no subúrbio do Rio de Janeiro e foi lá que buscou inspiração para as suas criações literárias. Em suas crônicas representou a cidade e seus moradores, construindo uma narrativa voltada para o homem comum, seu cotidiano, lazer e trabalho. Seu olhar contrastava com o discurso de cidade moderna defendido pelo poder público e pelos intelectuais da época, que se espelhavam na Europa para construir uma imagem de Brasil civilizado. A literatura como fonte nos possibilita pensarmos sobre representações de um passado possível, sensibilidades reveladas pelo autor atento ao seu meio. As intensas transformações urbanas vivenciadas no início do século XX ocasionaram a exclusão do morador pobre do centro da cidade, agravando os problemas econômicos e sociais da população. Buscamos no olhar dissonante do escritor Lima Barreto refletir as representações criadas sobre os mecanismos sociais, políticos e culturais que contribuíram para a estruturação do racismo e da desigualdade na sociedade brasileira.
Palavras-chave: Lima Barreto. Rio de Janeiro. Crônicas. Primeira República.
Resumo
Estigma, moda, arte, marca dos condenados, status de nobreza. A prática da tatuagem existe desde considerável parte da trajetória humana, e seu significado oscilou ao longo da história. No início do século XX, o Brasil vivenciou uma intensa transformação social e política, marcada pela emergência de novas configurações de sociabilidade, especialmente em seus centros urbanos. Neste contexto, o significado social da tatuagem se associou às classes pobres e ganhou a condição de estigma. Contudo, a juventude de classe média reivindicou o uso dessas marcas corporais como um emento de afirmação identitária. A tese que defendo é que o significado da tatuagem na sociedade brasileira, ao longo do século XX, foi formulado e reformulado em função da posição que os tatuados ocuparam nas relações de classe. Enquanto predominou entre as classes pobres, a função atribuída à tatuagem foi a de estigma, de uma marca que demarcava o indivíduo situado às margens econômicas, sociais e culturais. Conforme a juventude de classe média adota essa prática corporal, um novo significado foi construído sobre a tatuagem, associando-a à rebeldia. Contudo, essa ressignificação não excluiu o potencial estigmatizante das tatuagens inscritas no corpo dos indivíduos oriundos das classes pobres. Para a manutenção de seu potencial estigmatizante, novas estratégias e discursos são elaborados a fim de distinguir os tatuados legítimos dos ilegítimos.
Palavras-chave: Tatuagem. História. Ressignificação. Corpo. Poder.
Resumo
O objetivo desta pesquisa visa a analisar a inserção político-partidária das vereadoras natalenses numa perspectiva de gênero, no Poder Legislativo na cidade de Natal-RN, dando enfoque à participação delas no espaço de poder, neste caso a Câmara Municipal de Natal (RN), cujo recorte temporal vai de 1988 até 2016. Além disso, analisa-se a candidatura do mandato da vereadora Amanda Gurgel, bem como o discurso proferido por ela e que a consagrou nacionalmente, e busca-se entender os fatores responsáveis pela baixa representatividade das vereadoras nos espaços de poder, como se identificam com o pensamento feminista. A relevância da nossa pesquisa deu-se com a discussão da revisão de literatura e dos referenciais teóricos e metodológicos utilizados. Lançamos mão do roteiro de entrevistas, o que nos deu condições de compreender a trajetória política das ex-vereadoras e vereadoras, e analisamos sua atuação política em Natal, assim como a implementação das suas agendas políticas feministas. Os principais referenciais teóricos se dão a partir dos estudos de gênero e de pesquisas dos movimentos sociais feministas. Para referendar, usamos os vídeos e documentos produzidos no mandato da vereadora Amanda Gurgel, assim como, a análise do seu discurso na Assembleia Legislativa em Natal, ambos serviram para identificar como se construiu a representação das vereadoras eleitas. Trata-se de uma pesquisa empírica, tendo sido utilizados os aportes da história oral, visto que as vereadoras foram entrevistadas para entendermos seu papel social na política partidária. No nosso entender, não basta ser mulher; é preciso compreender melhor como a mulher vem conquistando seu espaço na sociedade de classes.
Palavras-chave: Gênero. Feminismos. Mulheres. Política. Poder.
Resumo
Esta dissertação é fruto do estudo sobre o processo histórico de formação do Movimento Slam em São Paulo, iniciado em 2008, suas filiações com outros movimentos, tais quais a Poesia Marginal Setentista e a Literatura Marginal e Periférica, e as redes de sociabilidade formadas pelos sujeitos que o integram. O Slam é um movimento cultural de poesia associado às periferias e, consequentemente, ao seu contexto de desenvolvimento, que acompanha o da própria metrópole. Nesse sentido, para sua compreensão voltamo-nos para os sujeitos, traçando perfis por meio da análise de informações inscritas em caderno de campo, de entrevistas realizadas com poetas e integrantes de movimentos culturais e dos livros da coleção “Slam da Guilhermima”, que contém informações sobre os ganhadores das competições e suas poesias, entre os anos de 2013 e 2018. Além disso, como recurso metodológico, as redes sociais se tornaram fontes imprescindíveis. No intuito de entendermos o próprio ethos do movimento, consideramos aspectos políticos nas práticas discursivas dos sujeitos que participam das batalhas do movimento como um todo, bem como do Slam da Guilhermina. Estimamos sua oposição a práticas e representações segregacionistas, discriminatórias e preconceituosas no que diz respeito, majoritariamente, aos negros, mulheres, trabalhadores e periféricos. Sendo assim, ao buscarmos o desenvolvimento do movimento e acompanharmos a trajetória dos que compõe a rede de poetas e organizadores, entrevemos, para além dos aspectos simbólicos e discursivos das narrativas poéticas e suas leituras sobre o passado, práticas sociais de resistência destes que se apropriam de espaços, técnicas e materiais para expor suas demandas e posições.
Palavras-chave: Poesia Slam. Movimento Cultural. Slam da Guilhermina.
Resumo
A presente pesquisa teve como ponto de partida o diálogo da memória e do relato testemunhal com a história e a literatura nas obras do escritor espanhol Jorge Semprún (1923-2011), às quais remetem o intervalo de sua vida clandestina como membro do Partido Comunista de España (PCE), na ditadura espanhola (1939-1975), e os acontecimentos posteriores a sua saída do PCE. Caminhando entre narrativas ficcionais e autobiográficas, e usando como fonte as obras literárias escritas por Semprún, esta tese está focada nas memórias do autor-narrador, e analisa como se dá a construção do indivíduo no período histórico em que essas obras se localizam, mostrando o sobrevivente enquanto ser histórico, e dialogando com pesquisadores que discutem questões relacionadas à memória, à história e às suas particularidades. Este trabalho desenvolveu um questionamento entre esses conceitos, expondo Jorge Semprún como um intelectual que pensava não só o território espanhol, mas também a Europa pós-guerra.
Palavras-chave: História. Memória. Testemunho.
Resumo
Este trabalho investigou o conceito, ideia ou entendimento de “fronteira” presente na obra do general Raul Silveira de Mello (1882-1984). Obra esta que foi publicada originalmente entre 1953 e 1969, e que versa predominantemente sobre a história da fronteira oeste brasileira. Foram apontados os interesses e motivações do autor em escrever a respeito da temática fronteiriça, e as influências intelectuais observáveis em sua escrita. A partir disso, buscou-se demonstrar a noção de "fronteira" apresentada pelo autor. Em tal noção, os limites territoriais entre castelhanos e portugueses, e seus sucessores paraguaios e brasileiros, são definidos: 1) pela atuação dos “grandes representantes” das nações rivais na definição dos limites territoriais; 2) pela atuação dos indígenas e seu determinado papel e “destino” histórico; 3) pela influência sobrenatural que a Padroeira do Forte de Coimbra e a Divina Providência teriam exercido sobre os acontecimentos vivenciados na região fronteiriça. Os livros publicados pelo autor se constituíram na fonte principal deste trabalho.
Palavras-chave: Raul Silveira de Mello. Fronteira Brasil-Paraguai. Conceito de fronteira. História do Forte de Coimbra.
Resumo
Esta pesquisa busca sondar a percepção do Áry (tempo/espaço) enquanto movimentos cíclicos (estações e seus respectivos fenômenos naturais) e as vivências simbólicas (atividades, festividades, ritos e crenças) associadas a cada ciclo e seus eventos. Pretende-se apresentar as maneiras de perceber os ciclos temporais no interior da tradição Guarani Kaiowa, desenvolvidas ao longo da formação milenar desses povos. Tais percepções são específicas e fundamentam-se na filosofia própria do grupo, nos aspectos mitológicos, no meio natural, na religiosidade e, principalmente, nos fenômenos naturais interpretados como conjunto de ocorrências que demarcam os ciclos do Áry Rusu (tempo/espaço primordial). Partindo da especificidade desse povo, adotamos o método da etno-história para analisar tanto as transformações quanto as permanências ocorridas devido ao contato da tradição com a sociedade ocidental. Partimos do pressuposto de que as tradições, os costumes e os saberes do Guarani Kaiowa foram confrontados com eventos históricos desfavoráveis às culturas ameríndias.
Palavras-chave: Tempo/Espaço. Ciclo. Percepção.
Resumo
A presente dissertação tem como objetivo analisar o filme Carne Trêmula (1997) do cineasta Pedro Almodóvar, produzido logo após o movimento político e cultural da Movida Madrileña. O propósito de utilizar este filme como objeto de análise se encontra em compreender a respeito dos desdobramentos sociais que um regime autoritário pode causar, desdobramentos estes que aqui estão relacionados ao feminino e às mulheres, assim como ao masculino e aos homens. Com a intenção de melhor visualizar as referências do feminino e do masculino que o cineasta propõe em seus filmes, principalmente em Carne Trêmula (1997), afinal é possível utilizar narrativas históricas que fazem parte do roteiro de um filme para melhor entendimento de eventos do passado. Aqui passaremos por questões associadas ao regime de Francisco Franco, na Espanha do século XX e como esse regime afetou a expressão social, principalmente a questão imagética do feminino, do sexo e da repressão. Para este fim, analisamos o contexto espanhol do século passado, onde foram estabelecidos fundamentos repressivos que o cineasta se compromete a romper e questionar, assim como, abordamos o franquismo e como este constrói comportamentos repressivos contra as mulheres em específico. Utilizamos, enquanto referenciais teóricos, LAURETIS (1994), BUTLER (2002), HARAWAY (1995), WITTIG (2006) e STRAUSS (2008), entre outros, para melhor alcance da biografia de Almodóvar, avançando o tema para o debate de gênero e o universo feminino e masculino em Almodóvar. Por fim, nos debruçamos mais profundamente sobre a fonte e a relação desta com o movimento cultural da Movida Madrileña. Este objeto de pesquisa se justifica na medida em que formas de pensamentos autoritários, repressivos e os diversos tipos de violências física ou simbólica contra mulheres, não aconteceram somente na Espanha e apenas naquele contexto. Essas práticas insistem em permanecer na atualidade e em diversos locais, sobretudo neste contexto brasileiro de conservadorismo e conflitos culturais, étnicos e identitários. Enquanto o país se debate socialmente e politicamente exigindo o óbvio: respeito de gênero; de sexualidade; de representatividade, esta que por sua vez, é a grande marca dos filmes de Pedro Almodóvar e nosso contexto histórico atual nos permite observar isto. Os filmes que o cineasta ainda produz nos proporcionam outras formas de avaliar a nossa relação com a pluralidade e diversidades que as mulheres vivenciam, fora do visual e do artístico, presente no cotidiano europeu – já que os filmes traduzem o cotidiano de pessoas comuns que vivem na Espanha – e também brasileiro. Portanto, esta pesquisa se configura em um importante símbolo de resistência e de reflexão no que diz respeito aos conflitos que a nossa sociedade permanece a vivenciar e a resistir contra pensamentos reacionários que tentam nos ser outorgados.
Palavras-chave: Cinema. Feminino. Almodóvar. Carne Trêmula.
Resumo
Esta tese se caracteriza como um estudo de caso de um currículo educacional denominado Currículo Integrado, do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, focalizando essencialmente a Unidade Curricular História, em cinco campi - Aquidauana, Corumbá, Dourados, Naviraí e Nova Andradina - que ofertam o Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Informática ou Informática para a Internet. Para que fosse possível adentrar ao objeto, foram necessários a revisão bibliográfica, o conhecimento da legislação, das normativas e das diretrizes que regem a modalidade da Educação Profissional, além de constituir como fonte de pesquisa dois Planos de Cursos, implementados em dois momentos da história da instituição no Mato Grosso do Sul. Como consequência da análise desses e de outros documentos institucionais, tais como Plano de Desenvolvimento Institucional, Estatuto do IFMS e Diretrizes Pedagógicas, atingiu-se como ponto de chegada uma análise que se valeu da metodologia comparativa entre dois ementários do Programa Curricular da disciplina de História, cuja distância temporal entre um e outro é de uma década. Na tecitura da tese, foram realizadas algumas entrevistas semiestruturadas, sendo a primeira com um professor formador da Rede Federal, que elucidou aspectos relevantes da construção e vivência de um currículo que se pretende integrado. Posteriormente, cinco professores de História, um de cada campi, foram entrevistados através de plataformas digitais, opção mais coerente diante do contexto pandêmico de Covid-19. Um ano antes dessas entrevistas, estes docentes colaboraram com o aceite em responder a um questionário exploratório, que forneceu informações preliminares a respeito de suas práticas de ensino de História. A interlocução com o campo da Educação foi um fator elementar para o fazer historiográfico, especialmente por meio das contribuições dos teóricos que abordam o campo curricular. Neste lugar de fronteira, analiso, de um lado, normativas, prescrições e tendências curriculares para a educação profissional, e, de outro, o sentido da Didática da História na educação escolar técnica, cujo caráter essencial é a pretensão de uma formação humanista emancipatória. Para fundamentar a segunda margem fronteiriça, reafirma-se que as trocas, os diálogos e o reconhecimento da diferença são condições para o entendimento do Ensino de História como lugar de fronteira. Ao analisar e comparar as ementas da disciplina História nos dois Projetos Pedagógicos estudados, sinaliza-se possíveis avanços em direção a um Ensino de História mais próximo da realidade social dos estudantes, permeada por diferenças culturais que, ao serem debatidas no âmbito do currículo podem, efetivamente, contribuir para uma formação cidadã crítica e emancipatória. Na parte final da tese, ancorada nos mais recentes trabalhos de Jörn Rüsen, indica-se uma proposta do campo da Teoria da História, o Novo Humanismo, como uma aposta teórico-didática, no âmbito do Ensino de História, para a mediação intercultural, e para a possibilidade de os sujeitos escolares compreenderem o seu lugar social num contexto histórico cada vez mais globalizado.
Palavras-chave: Currículo Integrado. Educação Profissional. Ensino de História.
Resumo
Esta pesquisa é continuidade da pesquisa já realizada em 2013, revisitando algumas considerações que não puderam ser exploradas, devido a opções consideradas de maior relevância para o contexto abordado naquele período. A descrição narrativa das experiências entre dois espaços religiosos, com a contribuição de experiências em transe mediúnico, na tentativa de compreender a passagem do tempo, e as dinâmicas que mobilizam a construção de duas instituições religiosas, fundamentadas no diálogo entre as religiões Umbanda e Espiritismo. A possibilidade de transpor novos sentidos para narrativas colhidas anteriormente não são cristalizadas numa mesma percepção, considerando que estas narrativas foram produzidas com fundamentos importantes que ocasionaram nuances a serem analisadas, sendo o transe mediúnico o foco que estrutura as reflexões desta pesquisa. No contexto da experiência religiosa, duas religiões, com aproximações diacríticas, se expressam nas práticas rituais das atividades destes espaços, apontando bases filosóficas que articulam reflexos no grupo social, desenvolvendo através da estrutura da crença na existência da capacidade da comunicação espiritual, ao interagir nas ações tecidas, promovendo alterações no contexto religioso e social. O transe mediúnico será abordado num estudo de caso, em dois cenários religiosos específicos, num contexto de proximidades, sendo, Umbanda e Espiritismo.
Palavras-chave: Transe. Diálogo. Mediunidade. Experiência. Religião.
Resumo
O presente trabalho propõe analisar a construção dos discursos sobre as mulheres na cidade de Canoinhas-SC, através do jornal Correio do Norte entre 1947 e 1950, com ênfase na coluna “Secção Feminina” que circulou em 1948. Além da coluna que era escrita por mulheres, são analisadas outras matérias escritas e direcionadas às mulheres no recorte temporal proposto. O objetivo da pesquisa é analisar os discursos que pretenderam regular a conduta feminina, e como, através deles, as mulheres foram subjetivadas. Além de buscar descontruir os discursos ditos como universais presentes no jornal, pois eles não cabiam a todas as mulheres. As fontes utilizadas foram cedidas pelo jornal Correio do Norte, ainda em atividade, através de domínio público em 2017. Desse modo, trata-se de um trabalho que visa contribuir para a análise do discurso sobre as mulheres através da imprensa na década de 1940 em regiões afastadas de grandes centros urbanos.
Palavras-chave: Gênero. Imprensa. Mulheres.
Resumo
Propus ouvir, escrever e analisar, por intermédio deste projeto acadêmico de história oral aplicada, 15 histórias entre indígenas e não-indígenas afetados por um drama comum: o suicídio de indígenas das etnias Guarani e Kaiowa nos interstícios da Reserva Indígena de Dourados, referenciada no município de Dourados, ao sul de Mato Grosso do Sul. Completas três décadas de sucessivos registros de asfixia mecânica e enforcamento entre jovens Kaiowa e Guarani, as doloridas experiências de quem testemunhou a comunidade de destino qualificaram o trabalho incursão planejada à memória de expressão oral nos termos da história oral testemunhal: gênero narrativo direcionado a ouvir grupos marcados por episódios traumáticos. Criticando a noção de “vítima”, acolhi a polifonia de argumentações distintas e desiguais, as quais envolveram as trajetórias sofridas em liames de protagonismo defronte à memória ao fenômeno do suicídio étnico. Aqueles que expressaram oralmente suas memórias, colaboradores, reelaboraram gestos recordatórios passíveis de análise crítica quando estes foram devidamente materializados em suporte escrito e autorizado. Abdicado o encargo de “autor”, busquei cumprir função de mediação entre os colaboradores, projetando a construção conjunta do enredo narrativo. Enquanto operação colaborativa preocupada em elencar argumentos com a finalidade central de promover, pela potência da memória coletiva, debate público aos casos de suicídio Kaiowa e Guarani, a dissertação dividiu-se em três partes, organizadas em quatro capítulos interdependentes. Distribuída em dois capítulos, a primeira parte dedicou-se à experiência do projeto: o primeiro capítulo definiu as estruturas do projeto ao responder “de quem”, “como”, “quando”, “por quê”, “por quem” e “para quem” se operou em história oral; por sua vez, o segundo capítulo conta a história do projeto desde dilemas éticos envolvendo discutir o fenômeno do suicídio provocado por jovens indígenas até o sentido de minha presença no campo, a qual fez emergir o outro do outro que fui. A segunda parte do texto, compreendida no terceiro capítulo, ocupou-se em apresentar as trajetórias dos 15 colaboradores inscritos em suas respectivas parcelas da memória coletiva: rezadores Kaiowa, pastores Terena, mediadores Guarani, sobreviventes Guarani, psicólogos indigenistas e pesquisadores indigenistas. A terceira parte da dissertação, por fim, se endereçou ao quarto capítulo, o qual se reportou a análise dos eixos temáticos comuns do corpus documental, ressaltando uma memória de suicídio Guarani e Kaiowa constituída por alianças, disputas e estratégias interétnicas. Este é um texto sobre vida e destinação.
Palavras-chave: História Oral Aplicada. Suicídio Guarani e Kaiowa. Memória de Expressão Oral. História Oral Testemunhal.