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OLAUDAH EQUIANO OU GUSTAVUS VASSA: O QUE HÁ EM UM NOME1
Paul E. Lovejoy
Paul E. Lovejoy
OLAUDAH EQUIANO OU GUSTAVUS VASSA: O QUE HÁ EM UM NOME1
Olaudah Equiano or Gustavus Vassa: what’s in a name?
Olaudah Equiano o Gustavus Vassa: ¿Qué hay en un nombre?
Fronteiras: Revista de História, vol. 24, núm. 43, pp. 14-37, 2022
Universidade Federal da Grande Dourados
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Resumo: Este artigo trata da polêmica sobre os significados do nome do autor de The Interesting Narrative of the Life of Olaudah Equiano, or Gustavus Vassa, the African (Londres, 1789). A polêmica reside nas formas como Equiano ou Vassa, em parte se relacionava com o seu local de nascimento. A escolha do nome que ele cotidianamente usava provoca questões sobre o modo como os estudiosos querem compreender o autor, mas também como o próprio homem se representava na época em que viveu e escreveu sua autobiografia. Argumento que o autor de The Interesting Narrative usou seu nome de nascimento, Olaudah Equiano, como prova de sua origem africana, e não como um nome pelo qual queria ser conhecido, Gustavus Vassa. Assim, o dilema é porque os estudiosos se referem a ele por seu nome africano, quando ele optou por não o fazer. Sugere-se que o uso do nome de nascimento tem mais a ver com a política de representação e correção política das gerações posteriores de estudos, não com a intenção do homem. A razão para o debate sobre seu nascimento tem mais a ver com o confronto atual entre erudição literária e interpretação histórica do que com possíveis interpretações e representações errôneas do passado.

Palavras-chave: Autobiografia, Narrativa Escrava, Equiano, Abolição, Nome de Pluma.

Abstract: This article deals with the controversy over the author's name of The Interesting Narrative of the Life of Olaudah Equiano, or Gustavus Vassa, the African (London, 1789). The controversy is in the ways in which Equiano or Vassa in part related to his birthplace. The choice of the name he used daily raises questions about the way scholars want to understand the author, but also how the man himself represented himself at the time he lived and wrote his autobiography. I argue that the author of The Interesting Narrative used his birth name, Olaudah Equiano, as proof of his African origin, rather than a name he wanted to be known by, Gustavus Vassa. So, the dilemma is why scholars refer to him by his African name when he chose not to. It is suggested that the use of the birth name has more to do with the politics of representation and political correctness of later generations of scholarship, not the intent of the man. The reason for the debate over his birth has more to do with the current confrontation between literary scholarship and historical interpretation than with possible misinterpretations and misrepresentations of the past.

Keywords: Autobiography, Slave narrative, Equiano, Abolition, Nom de plume.

Resumen: https://orcid.org/https://doi.org/10.30612/frh.v24i43.16560

Palabras clave: Autobiografía, Narrativa de Esclavos, Equiano, Abolición, Nombre de la Pluma.

Carátula del artículo

DOSSIÊ 19: HISTÓRIA, MEMÓRIA E PRÁTICAS DAS PERIFERIAS BRASILEIRAS, AFRICANAS E LATINO-AMERICANAS: CIDADANIA, INVISIBILIDADE SOCIAL E SILÊNCIO

OLAUDAH EQUIANO OU GUSTAVUS VASSA: O QUE HÁ EM UM NOME1

Olaudah Equiano or Gustavus Vassa: what’s in a name?

Olaudah Equiano o Gustavus Vassa: ¿Qué hay en un nombre?

Paul E. Lovejoy
York University (YORK U), Canadá
Fronteiras: Revista de História, vol. 24, núm. 43, pp. 14-37, 2022
Universidade Federal da Grande Dourados

A pessoa retratada em The Interesting Narrative of the Life of Olaudah Equiano, or Gustavus Vassa, the African (Londres, 1789) era conhecida em sua época como Vassa, e às vezes como o africano, embora hoje seja conhecido como Equiano. A questão que se levanta aqui é se nós devemos nos referir a essa pessoa literária como Equiano, ou Gustavus Vassa, o homem por trás da autobiografia. Em parte, isso se relaciona com o local onde ele nasceu e como ele se relacionava com seu local de nascimento, que é um assunto muito contestado. Vincent Carretta levantou uma possibilidade recentemente, chegando a afirmar que Vassa nasceu na Carolina do Sul, e não na África. Tal controvérsia também se relaciona com o que o autor de The Interesting Narrative quis dizer sobre sua referência em ser “Africano”, às vezes “Etíope” e até “Líbio”. Que nome os estudiosos literários e historiadores devem usar agora para identificar o homem e sua história, e por que isso importa?

Certamente, nomes literários são comuns, principalmente para autoras mulheres, como as irmãs Bronte. Alguns outros exemplos do nome literário versus o nome legal vêm à mente, incluindo George Eliot (nome legal Mary Anne Evans), Isak Dinesen (Karen Blixen), Lewis Carroll (Charles Dodgson), Mark Twain (Samuel Clemens), HD (Hilda Doolittle), O. Henry (William Sydney Porter) e George Orwell (Eric Arthur Blair), ou talvez mais apropriado para comparação, Linda Brent (Harriet Jacobs). Os autores escolheram “nomes de pluma” por várias razões, como observou Carmela Ciuraru (2011, p. 14-24). Às vezes, os autores queriam disfarçar seu gênero; outras vezes, os escritores temiam ou procuravam evitar o reconhecimento. Ocasionalmente, os nomes eram encurtados para fins de marketing. Normalmente, os autores foram posteriormente conhecidos por seus pseudônimos, embora não seja assim no caso de Harriet Jacobs, que inicialmente escreveu sob um pseudônimo para evitar uma possível reescravização, mas sempre foi conhecida por seu nome próprio. Embora Ciuraru (2011) considere várias motivações para “pseudonimato”, nenhuma das razões que explicam esses outros parece se aplicar ao caso de Vassa. Gustavus Vassa não estava tentando disfarçar sua identidade, mas usou os dois nomes na capa de sua autobiografia. Tampouco gostava de usar seu nome de nascimento, que posteriormente se tornou seu pseudônimo. O nome de nascimento, no entanto, tornou-se o significante do homem, mas de fato – e como este artigo indica – isso foi atribuído a ele por gerações posteriores, não por ele mesmo em sua própria vida ou mesmo nas mentes de outros que o conheceram em seu tempo.

Ao contrário dos padrões comuns em que os nomes de pluma eram promovidos pelos próprios indivíduos, Vassa recebeu o nome de pluma Olaudah Equiano por atribuição depois de morto. Pelo menos desde 1960, quando Thomas Hodgkin publicou pela primeira vez trechos de The Interesting Narrative, virtualmente todos os estudiosos se referem ao autor como Equiano, não Vassa (HODGKIN, 1960, p. 155-166; ANDERSON, 1986), nome pelo qual ele parecia desejar que a posteridade se lembrasse dele (CAREY, 2008, p. 231). Mas essa afirmação não é clara; de fato, as evidências disponíveis sugerem que ele realmente queria ser − e foi − chamado Gustavus Vassa. Em pelo menos uma ocasião, ele próprio parece ter protestado apaixonadamente contra o uso de seu nome de nascimento. Em informações recentemente descobertas no verso de uma carta escrita de Vassa para Granville Sharp em 6 de maio de 1780, há uma nota, certamente escrita algum tempo após a morte de Vassa, em 1797, que afirma que Vassa “caía em ataques se alguém pronunciasse seu real nome, que era Olaudah Equiano”.2 De acordo com a nota, a fonte de informação foi J. Phillips de Middle Hill, Cornwall, cujo pai, James Phillips, foi o impressor Quaker que publicou muitas das principais obras abolicionistas da década de 1780, incluindo a tese de Cambridge de Clarkson. Ele conhecia Vassa pessoalmente (CARRETA, 2005, p. 241, 249, 251, 253). A nota de Phillips na carta de Vassa introduz a interessante ideia de um “nome real”, que parece que Phillips equiparou com o nome de nascimento e uma identidade africana. O comentário não apenas sugere que Vassa não usou o nome Equiano, exceto para fins de estabelecer seu nascimento africano, mas na verdade preferiu não usar seu nome africano em contextos pessoais. Ele usou seu nome de nascimento como parte da prova de que havia nascido na África e que sua escravização e transporte eram aspectos cruciais de sua identidade, mas parece que ele não estava reivindicando o nome.

Como Vassa, aqueles que foram enviados da África como escravos certamente se lembravam dos nomes de seu nascimento, mas nem sempre os usavam. Os nomes de nascimento tinham um simbolismo especial para os africanos escravizados, como para a maioria das pessoas, e às vezes esses nomes sobreviviam, como no uso de nomes Akan na Jamaica e em outros lugares. Na Jamaica, Muhammad Kaba Saghanughu era conhecido como Dick quando chegou à propriedade Spice Grove da África Ocidental em 1777, mas adotou o nome de seu falecido mestre, Robert Peart, quando se tornou um morávio em 1813. Mesmo assim, sempre manteve seu nome muçulmano, e pediu a outros muçulmanos que o chamassem por esse nome (DADDI ADDOUN; LOVEJOY, 2007, p. 201-220; DADDI ADDOUN; LOVEJOY, 2004; WARNER-LEWIS, 2009). Mahommah Gardo Baquaqua foi chamado de José, quando era um escravo no Brasil de 1845 a 1847, mas recuperou seu nome após sua fuga em Nova York e durante a sua residência no Haiti (LAW; LOVEJOY, 2007; LOVEJOY, 2006, p. 90-105; LOVEJOY, 2008). Embora os indivíduos às vezes reafirmassem o uso de nomes de infância, os nomes de escravos geralmente ficavam quando as pessoas alcançavam a emancipação. Eram os nomes pelos quais os indivíduos passaram a ser conhecidos, como foi o caso de Venture Smith, que recebeu o nome “Venture” porque seu preço de compra constituía o capital total do jovem Robinson Mumford, que o comprou em Anomabu, na Costa do Ouro, em 1739. Ele foi chamado Smith em homenagem ao seu último mestre, que lhe permitiu comprar sua liberdade, e a de sua esposa e filhos (SMITH, 1798; STEWART, 2009). No entanto, ele parece nunca ter usado seu nome de nascimento, que ele registra em sua autobiografia como Broteer, o filho mais velho de Saungm Furro.

Vassa não foi, portanto, o único a lembrar seu nome de infância, mas usou apenas o nome que lhe foi dado como escravo, exceto no título de sua autobiografia e em algumas cartas aos jornais da época e depois, no qual Carretta e outros estudiosos claramente têm se amparado. Vassa sempre usou o nome Gustavus Vassa, mesmo após a publicação de The Interesting Narrative, na qual ele popularizou seu nome de nascimento como Equiano, que parece ser derivado de Ekwuno, Ekweano, Ekwoanya ou Ekwealuo, todos nomes comuns em Igbo (ACHONOLU, 1989; AFIGBO, 1981). Na primeira edição, Vassa afirmou que quando era escravo "era obrigado a levar o nome atual [Vassa], pelo qual sou conhecido desde então" (CARRETA, 2003, p. 53). Na nona edição em 1794, ele revisou essa declaração, admitindo apenas que era o "nome que sou conhecido desde então". Aparentemente, ele não sentia mais a obrigação de usar seu nome de escravo porque havia se tornado amplamente conhecido sob o nome de Gustavus Vassa, mas o nome de nascimento tinha significado em termos de sua africanidade. Daí o que está no nome Vassa/Equiano levanta o conceito de nome literário, ou “pseudônimo”, e a política de tal distinção permite uma melhor compreensão do homem e de seu tempo e, de fato, sua contínua relevância e influência no movimento abolicionista. As teorias de nomeação em um contexto literário também fornecem coordenadas úteis para o que pode ser dito sobre Equiano e a política de sua nomeação ou erro de nomeação (WATSON 1994, p. 95-119; CIURARU, 2011; YELLIN, 2004). Os nomes pelos quais os outros o chamavam; o nome pelo qual ele se chamava; o nome pelo qual ele foi legalmente reconhecido na Grã-Bretanha; e as maneiras pelas quais ele se referia a africanos, etíopes, líbios e pessoas de sua própria “nação”, que eram “eboé”, isto é, Igbo (SIDBURY, 2007, p. 79-106).

Que a autobiografia fosse um tratado político, argumenta-se aqui, revela a resposta à questão do que está em um nome. Seu nome de nascimento foi útil para estabelecer suas credenciais como africano porque sua autoridade se baseava em seu nascimento africano, seu sequestro e sua resistência ao tráfico atlântico de escravos. No entanto, desde quando tinha cerca de 12 anos em 1754 até sua morte em 1797, ele era conhecido em público e em particular como Gustavus Vassa. Depois de 1786, ele geralmente se identificava na imprensa como Gustavus Vassa, o africano, mas raramente pelo nome de nascimento. Como autor e abolicionista ele se identificava pelo nome que era conhecido, ou seja, Gustavus Vassa, não Olaudah Equiano. ''Vassa'' era o nome legalmente atribuído a ele pelo Império Britânico (este era o nome dele em seus papéis de alforria também). E como cidadão britânico, agora livre com os documentos para provar isso, ele estava disposto, por proteção, conveniência e consistência, a passar por Vassa, mas isso pode ter algo a ver com as restrições em que ele teve que viver e sobreviver em um país em que a escravidão ainda era legal. Vassa recebeu outros nomes; durante a sua travessia do Atlântico, ele era conhecido como Michael, enquanto na Virgínia ele era chamado de Jacob, antes de finalmente ser chamado Gustavus Vassa quando estava sendo levado para a Inglaterra (VASSA, 1789, p. 63). Em seu país natal, Igboland, ele observou que:

nossos filhos foram nomeados a partir de algum evento, alguma circunstância, ou presságio imaginado no momento de seu nascimento. Fui chamado de Olaudah, que em nossa língua significa vicissitude, ou afortunado também; um favorecido, e tendo uma voz alta e bem falado. (VASSA, 1789, p. 41).

Seu mestre, o capitão Michael Henry Pascal, foi o responsável por lhe dar o nome de Gustavus Vassa, que é registrado em The Interesting Narrative como uma imposição indesejada. De acordo com o relato de Vassa,

Algumas pessoas do navio costumavam me dizer que iam me levar de volta ao meu país, e isso me deixou muito feliz. Fiquei bastante feliz com a ideia de voltar; e pensei que se eu chegasse em casa que maravilhas teria para contar. Mas eu estava reservado para outro destino, e logo fui desenganado quando avistamos a costa inglesa. Enquanto eu estava a bordo deste navio, meu capitão e mestre me nomeou Gustavus Vassa. Eu naquela época comecei a entendê-lo um pouco, e me recusei a ser chamado assim, e disse a ele o melhor que pude que eu seria chamado Jacó; mas ele disse que eu não deveria, e ainda me chamou de Gustavus; e quando me recusei a responder ao meu novo nome, o que a princípio fiz, isso me rendeu muitas algemas, por isso me submeti e pelo qual sou conhecido desde então. (VASSA, 1789, p. 64).

É preciso perguntar se a aparente relutância, relatada em retrospectiva, era um artifício literário próprio, que enfatizava a compreensão do destino de Vassa, como Paul Edwards e Rosiland Shaw argumentaram em relação à concepção Igbo, “chi” (EDWARDS; SHAW, 1989, p. 146-156). A concepção Igbo sustenta que cada indivíduo tem uma divindade pessoal e, portanto, um destino individual. Talvez seja possível que o Metodismo de Vassa através da Conexão Huntingdon tenha sido uma retenção ou adaptação da visão de mundo Igbo, que não era incompatível com as ideias de predestinação.

A ideia de que ele foi literalmente espancado para aceitar esse nome vale a pena ser analisada. Como explicar sua relutância em aceitar o nome dado a ele por seu mestre? Ele não poderia ter entendido o significado do nome bíblico, Jacó, até muito mais tarde, embora o nome seja consistente com os muitos “hebreusismos” em The Interesting Narrative. Tampouco saberia que o rei Gustavo Vassa da Suécia (de 1496 a 1560) era o libertador de seu povo e o herói nacional da nação sueca na época. Portanto, suponho que ele realmente não protestou contra seu nome da maneira que descreve, mas disse que o fez mais tarde para efeito, por um motivo. Não faz sentido que ele tenha feito objeções na época, mas em 1788 e 1789, quando escreveu The Interesting Narrative, ele entendeu o significado dos dois nomes, como seus leitores também entenderiam. Foi de uma maneira pouco modesta que ele informou a seus leitores que ele havia apenas relutantemente aceitado seu destino, determinado por seu chi, que foi imposto a ele, como refletido em seu nome. Vassa estava obviamente dando a si mesmo o arbítrio, mesmo que sua resistência fosse suprimida, mas certamente ele projetou seu conhecimento posterior de seu xará como um reconhecimento implícito de sua própria autoridade. Vassa parece ter dado significado ao seu nome atribuído porque se baseava no conhecimento público da monarquia sueca, embora em 1755, na época em que ele estivesse protestando, ele não pudesse saber disso, mais do que saberia que Jacob escalou uma escada e confrontou Deus.

A escolha do nome parece ter sido profética, embora ainda não esteja claro por que o capitão Pascal escolheu esse nome entre todos os nomes, em 1754. Conhecido como Gustavus Eriksson antes de sua coroação, o rei Gustavo I era filho de Erik Johansson, senador e nacionalista sueco, que foi morto no massacre de Estocolmo em 1520, sob as ordens do rei Cristiano II da Dinamarca (ROBERTS, 1953). Gustavo foi preso, mas escapou para liderar os camponeses de Dalarna à vitória sobre os dinamarqueses, sendo eleito Protetor da Suécia em 1521. Em 1523, o Riksdag em Strangnas o elegeu rei, encerrando a União Kalmar que o rei Cristiano II da Dinamarca estava tentando impor. Dois séculos depois, o dramaturgo inglês Henry Brooke registrou esses feitos heroicos em sua peça, Gustavus Vassa, The Deliverer of his Country, publicada em 1739. A peça foi proibida por razões políticas e não foi encenada em Londres até 1805. No entanto, foi apresentada em Dublin em 1742 como The Patriot, e foi republicada em 1761, 1778, 1796 e 1797. De acordo com Vincent Carretta, "a republicação... manteve a peça e seu discurso de escravidão política diante do público britânico" (CARRETA, 2003, p. 252). Além disso, o exemplo também foi mantido diante do público porque o rei reinante da Suécia de 1771 até sua trágica morte em 1792 foi o popular Gustavus Vassa III, que foi assassinado pelo Conde Ankarstrom em um baile de máscaras, morrendo de ferimentos em 29 de março de 1792. A tragédia serviu de inspiração para Un Ballo in Maschera, de Giuseppe Verdi. O significado do nome Gustavus Vassa (particularmente para um africano) figurou na imaginação londrina como uma imagem de um Moisés africano comparável ao modelo sueco, e o público foi lembrado dessa imagem através do assassinato. Como Vassa reagiu a esses eventos? Suas próprias tribulações estavam de alguma forma relacionadas ao assassinato do rei sueco? O momento desses eventos é importante, conforme discutido abaixo, e é útil considerar como a constelação de eventos pode ter tido impacto em Vassa.

Quando criança, ele teria aprendido que a relação de um indivíduo com o sobrenatural era especial, dependendo de um chi pessoal. Como ele afirmou em The Interesting Narrative, “eu particularmente me considero um favorito do Céu e reconheço as misericórdias da Providência em cada ocorrência de minha vida” (VASSA, 1789, p. 31). Sua aparente relutância quando nomeado Vassa parece ter sido relacionada à necessidade de aceitar seu destino. De fato, seus comentários sobre seu destino pessoal são consistentes com essa interpretação. A bordo do navio para a Inglaterra com seu novo mestre, Pascal, ele notou que “ainda não consigo conjecturar meu destino”. Ele desejava retornar para a África, mas acabou aceitando ao fato que a ele “estava reservado outro destino” (VASSA, 1789, p. 64). O reconhecimento dessa construção filosófica Igbo deve ter se tornado mais coerente para Vassa à medida que envelhecia e refletia sobre sua vida.

Gustavus Vassa usou apenas o nome Olaudah Equiano em relação à história de sua vida para atestar seu nascimento africano. Esse propósito literário relacionava-se à importância política da identificação como africano no movimento abolicionista. Acadêmicos e o público estudantil adotaram seu nome ‘‘africano’’, que de fato fazia parte de sua declaração política, e não o nome que ele realmente usou, um assunto digno de reflexão. Diz mais sobre quem se identifica com o ‘‘Equiano’’ literário e seu ativismo político no movimento abolicionista do que com a identidade do autor em seu cotidiano.

O historiador Thomas Hodgkin foi aparentemente o primeiro estudioso a usar o nome Olaudah Equiano, quando publicou trechos da autobiografia de Vassa em Nigerian Perspectives (HODGKIN, 1960, p. 155-166). Hodgkin parece ter se referido ao homem como Olaudah Equiano porque seu foco estava no relato de Vassa sobre sua pátria nigeriana.

Em 1962, Christopher Fyfe se referiu ao homem como Gustavus Vassa em A History of Sierra Leone, porque era "o nome que ele usava" (FYFE, 1962, p. 13, 15, 18-19, 25-26). Paul Edwards, um crítico literário, já estava seguindo o exemplo de Hodgkin ao chamar Vassa por seu nome de nascimento, Olaudah Equiano (EDWARDS, 1962, p. 401-402). Em 1967, o antropólogo G.I. Jones tentou reconstruir de onde Vassa poderia ter vindo na Nigéria, e decidiu usar apenas o primeiro nome, Olaudah. No entanto, o capítulo de Jones, Olaudah Equiano of the Niger Ibo, parece ter ajudado a estabelecer o nome entre os estudiosos (JONES, 1967, p. 60-98). No mesmo ano, Edwards publicou sua edição de The Interesting Narrative, que ele atribuiu a Olaudah Equiano (EDWARDS, 1990; EDWARDS and WALVIN, 1983; EDWARDS and DABYDEEN, 1991), que posteriormente foi o nome quase universalmente usado.3 No caso da biografia de Vincent Carretta, além disso, é claro que o título Equiano, the African: biography of a Self-Made Man, refere-se tanto à biografia de Vassa como a “um self-made man”, e à criação da figura literária, Equiano, o africano. Carretta considera que Vassa, o autor, provavelmente não nasceu na África, mas sim na Carolina do Sul e que criou a figura literária Equiano e seu nascimento africano como parte de uma campanha de autopromoção. Os problemas com essa interpretação expõem a ladeira escorregadia entre a invenção autobiográfica e a reconstrução biográfica (LOVEJOY, 2006, p. 317-347; CARRETTA, 2007, p. 115-119; CARRETTA, 2005, p. 1-16; BUGG, 2006, p. 1422-1442).

Embora Vincent Carretta tenha afirmado uma vez que “exceto por sua aparição na página de rosto, o nome Olaudah Equiano nunca foi usado pelo autor de The Interesting Narrative em comunicação escrita pública ou privada”, Carretta mais tarde percebeu que Vassa se chamava Equiano em outro lugar, mas ainda é seguro dizer que “seja em correspondência impressa, não publicada, ou em seu testamento, ele sempre se identificou como Gustavus Vassa”.4 Ele se identificou com ambos os nomes ao assinar uma carta a William Dickson, que assinou a primeira edição de The Interesting Narrative, publicada em 25 de abril de 1789, onde Vassa escreve como um dos “Filhos da África”, e em uma carta datada de 14 de maio de 1792, Grosvenor Street, para “os Lordes Espirituais e Temporais, e os Comuns do Parlamento da Grã-Bretanha”.5 Em Plaisterers' Hall, perto da London City Wall, estão todos em nome de Vassa, sem referência ao seu nome de nascimento, como é o caso de toda a documentação conhecida. Cada um desses documentos era um registro legal na nação britânica, então faz algum sentido que ele assinasse com seu nome legalmente reconhecido.

Daí o registro de seu batismo no registro paroquial da Igreja de Saint Margareth de 9 de fevereiro de 1759: “Gustavus Vassa um negro nascido na Carolina com 12 anos de idade” (CARRETTA, 2003, p. 261). O livro de listas para a expedição ao Ártico de 1773 lista um Gustavus Weston, identificado como um marinheiro, de 28 anos, nascido na Carolina do Sul, e que Carretta conclui ser Vassa, embora, como observou John Bugg, haja alguma razão para duvidar disso. Temos certeza de que Vassa estava a bordo, o que sabemos por The Interesting Narrative.6 No entanto, a entrada prova pouco. Mesmo que Vassa seja equiparado a Weston, como ex-escravo, ele provavelmente carregava documentação que provava que era livre e, na maioria dos casos, essa prova vinha de registros de batismo e cartas de emancipação. Vassa tinha os dois, que pode ter levado consigo a maior parte do tempo. Como um homem livre na expedição ao Ártico, era improvável que ele contradissesse o que estava em seu registro de batismo e sua documentação de emancipação. Fica claro em The Interesting Narrative que ele tinha documentos particulares com ele que apoiariam essa interpretação. Embora ele estivesse na lista do Arctic-bound Race Horse, Vassa não era um marinheiro comum. Ele serviu como assistente do Dr. Charles Irving em sua destilação da água do mar e na realização de outros experimentos científicos.7 Quer seu nome sueco tenha sido ou não transcrito com precisão, a prova de que ele estava livre dependia de sua identificação batismal declarando seu nascimento na Carolina do Sul e sua alforria de Robert King, que é reproduzida em The Interesting Narrative. Era improvável que Vassa tivesse mudado seu testemunho batismal, verdadeiro ou não. Portanto, os registros do Race Horse apenas atestam seu status de liberto e não verificam independentemente um nascimento na Carolina do Sul.8

Além disso, deve-se notar que logo após seu batismo em 1759, ele afirma que “tinha falado com frequência a várias pessoas (...) a história de meu sequestro com minha irmã e de nossa separação, como já relatei antes; e com a mesma frequência expressei minha ansiedade por seu destino e minha tristeza por nunca mais tê-la encontrado” (VASSA, 1789, p. 79). De fato, já em 1754, ele ansiava por um retorno à África. Em seu caminho para a Inglaterra, ele se lembrou que “algumas pessoas do navio costumavam me dizer que iam me levar de volta ao meu próprio país, e isso me deixou muito feliz” (VASSA, 1789, p. 64). Essas memórias contradizem diretamente o registro de batismo, embora tenha sido alegado que tais detalhes poderiam ter sido inseridos mais tarde na fabricação de uma história de nascimento africano. Apesar dessa possibilidade, há uma referência consistente e constante em The Interesting Narrative a contar às pessoas sobre sua provação e sua identificação como alguém da África, de 1754 a 1759 e de 1775 a 1779, muito antes de Vassa ter imaginado escrever uma autobiografia política dedicada à rainha Charlotte, a rainha mulata.

As origens africanas de Vassa foram demonstradas ainda mais em 1775 e 1776 quando o Dr. Charles Irving o empregou em uma expedição e esquema de plantação na Costa do Mosquito da América Central porque ele assumiu que Vassa seria capaz de recrutar seus próprios “compatriotas”, que ele parece ter feito.9 Em 1779, em um pedido ao Lord Bishop de Londres de que ele estava “desejoso de retornar à África como missionário”, ele também se descreveu como “um nativo da África, e tem conhecimento dos costumes dos habitantes do país” (VASSA, 1789, p. 221-222). Da mesma forma, ele disse que era “da Guiné” no Morning Herald de Londres em 29 de dezembro de 1786 (CARRETTA, 2005, p. 3). Em todos os casos, mencionando ou não seu nome, ele estava apenas usando o nome Vassa até onde se pode ver. Gustavus Vassa não é apenas o nome que aparece em registros de batismo, entradas navais, cartas para jornais e em sua correspondência privada, mas também aparece em sua certidão de casamento com Susannah Cullen, com quem se casou na Igreja de St. Andrew’s, Soham, Cambridgeshire, em 7 de abril de 1792, e em seu “Will e Codicil”, seu nome é declarado como Gustavus Vassa.10 Quando sua esposa morreu em fevereiro de 1796, o Cambridge Chronicle and Journal relatou: “Na terça-feira morreu em Soham, após uma longa doença, que ela apoiou com coragem cristã, a Sra. Susannah Vassa, a esposa de Gustavus Vassa, o africano”.11 Novamente, estes incluem documentos legais, então há uma lógica considerável para o uso de seu nome legal aqui.

Os dois filhos de Vassa também eram chamados pelo nome dele; Anna Maria nasceu em 16 de outubro de 1793 e foi batizada na Igreja de St. Andrew's, Soham, em 30 de janeiro de 1794. Joanna nasceu em 11 de abril de 1795 e foi batizada em Soham, em 29 de abril de 1795. Anna Maria faleceu em 21 de julho de 1797, com 4 anos e foi enterrada na Igreja de St. Andrew’s, Chesterton, Cambridge, onde sua pedra comemorativa registra que ela era filha de “Gustavus Vassa, o africano” (OSBOURNE, 2007, p. 11). Sua irmã, Joanna, casou-se com o reverendo Henry Bromley; o casal parece não ter tido filhos. Joanna morreu em 10 de março de 1857 aos 61 anos e foi enterrada no Abney Park Cemetery em Stoke Newington, em 16 de março de 1857. Reverendo Bromley viveu mais 20 anos e acabou sendo enterrado ao lado dela em 12 de fevereiro de 1878. A inscrição na lápide de Joanna diz “Memória de Joanna esposa amada de Henry Bromley, filha de Gustavus Vassa, o africano. Nasceu em 11 de abril de 1795 e morreu em março de 1857”. O Ipswich Journal relatou sua morte da seguinte forma: “MORREU. 10º inst., em Benyon-terrace, Beckingham-road, Londres, em seu 62º ano, Joanna, esposa do Rev. Henry Bromley, filha de Gustavus Vasa, o africano, e protegida do falecido John Audley, alguns anos desde um residente bem conhecido e altamente respeitado em Cambridge”.12

Nas cartas aos jornais e na correspondência privada, Vassa também usava o nome que lhe foi dado como escravo, embora já se identificasse como “africano” segundo relatos que fez já em 1759, na época de seu batismo, e da “Guiné” desde pelo menos 1779.13 Em 1788, ele também se identificou com a Etiópia, de acordo com uma carta no The Public Advertiser, 28 de janeiro de 1788, endereçada a “A J. T. [James Tobin] Esq; Autor dos LIVROS chamados CURSORY REMARKS & REJOINDER”, ele assinou “Seu fervoroso servo, GUSTAVUS VASSA, o etíope e falecido comissário do rei para o assentamento africano”. Anunciante como “GUSTAVUS VASSA, o etíope, e falecido comissário para o assentamento africano, Jardins de Baldwin”. Aparentemente, etíope e, de fato, líbio eram sinônimos de africano em seu esforço para comunicar o fato de que ele tinha vindo do continente.14

Em 5 de julho de 1788, Vassa estava se identificando como “africano”. No Morning Post e no Daily Advertiser, ele assinou “GUTAVUS [sic] VASA, o africano”, como fez em uma carta no Diário; ou Woodfall's Register, 25 de abril de 1789, “Ao Sr. William Dickson, ex-secretário particular do Exmo. Edward Hay, Governador da Ilha de Barbados.15 Nós somos, Senhor, Seus servos mais obedientes e humildes, OLAUDAH EQUIANO, ou GUSTAVUS VASSA [e muitos outros]”. Foi notado em 9 de maio de 1789 no The Gazetteer and New Daily Advertiser de Londres que “o célebre Olaudah Equiano, ou Gustavus Vassa, que recentemente publicou suas Memórias, falará”, conforme inscrito em várias cartas de 1789 a 1794.16

Em 1794, por exemplo, Vassa assinou An Essay on Colonization de Carl Bernhard Wadstrom, e ele se listou como “Gustavus Vassa, um nativo da África”. Em uma reunião do “COMITÊ dos ASSINANTES para custear a despesa dos réus nos julgamentos tardios por HIGHT TREASON, realizada na casa dos Srs. Clarkson, Essex-street, Strand, Londres, na quinta-feira, 7 de maio de 1795”, observou-se que “Gustavus Vassa” era um dos 37 assinantes, embora fosse apenas um dos dois cuja assinatura era inferior a £1. Seu envolvimento político continuou depois disso, pelo menos até sua doença final. Em 7 de novembro de 1796, o The Telegraph informou que

Sábado sendo o Aniversário da memorável absolvição de THOMAS HARDY, uma numerosa reunião dos Amigos da Liberdade foi realizada na Taverna Coroa e Âncora, no Strand, para celebrar aquele triunfo da Liberdade tão propício para os Direitos do Povo* tão honroso para júris ingleses... Gustavus Vassa, o célebre africano, fez algumas observações a respeito do tráfico de escravos.

Granville Sharp, que o atendeu em seu leito de morte, novamente se referiu a ele como Gustavus Vassa em seu relato da visita (HOARE, 1820). Daí a descoberta da glosa na carta de Vassa para Sharp em 1780 que pretende relatar o descontentamento de Vassa por ser chamado por seu “nome verdadeiro” é particularmente significativa.17

Como Edwards e Shaw argumentaram, Vassa manteve um senso de destino, mas podemos apenas imaginar como ele aprendeu sobre a abolição dinamarquesa e a morte do rei sueco, ambos ocorridos na época em que ele estava em Edimburgo. Em 1792, a imagem pública de Vassa estava no auge. Seu casamento havia sido noticiado na imprensa, e suas longas e bem-sucedidas turnês de divulgação de livros promovendo a abolição eram bem conhecidas. Esses eventos coincidiram com eventos revolucionários no Caribe francês. A decisão de Wilberforce de reintroduzir uma moção para abolir o comércio britânico de escravos naquele momento eletrizou a situação, uma vez que as implicações radicais da abolição confrontaram o radicalismo da Revolução Francesa. Foi nesse contexto que dois jornais londrinos, The Oracle e Star, publicaram histórias de que Vassa não nasceu na África, mas nas Índias Ocidentais dinamarquesas, na ilha de St. Croix. A acusação era um ataque direto ao uso de seu nome de nascimento africano por Vassa em sua autobiografia e em cartas aos jornais, já que a implicação de ter nascido no Caribe era que o nascimento africano era uma invenção. Ao acusar Vassa de enganar o público, o editor do The Oracle (25 de abril de 1792) acusou:

É um fato que o público pode depender, que Gustavus Vassa, que afirmou publicamente que foi sequestrado na África, nunca esteve naquele continente, mas nasceu e foi criado na ilha dinamarquesa de Santa Cruz [St. Croix], nas Índias Ocidentais... O que, perguntaremos a qualquer homem de bom entendimento, deve ser essa causa, que pode apoiar-se em falsidades tão audaciosamente propagadas quanto facilmente detectadas? 18

Essas alegações eram espúrias, com intenção maliciosa, mas até certo ponto antecipavam interpretações recentes de que Vassa pode ter nascido na Carolina do Sul. A resposta de Vassa aos seus críticos contemporâneos é digna de nota e informa a aparente contradição entre a existência de documentos que afirmam um nascimento na América e o relato de Vassa. Claramente os editores dos jornais londrinos não sabiam da certidão de batismo na Igreja de Saint Margareth ou dos registros de alistamento para a expedição ao Ártico de 1773. A questão permanece, no entanto, se a adoção de seu nome de nascimento foi destinada a confirmar que ele teria nascido na África e se através da autobiografia conseguiu expressar sua identidade perdida. Sua afirmação de que resistiu à atribuição do nome de Pascal a ele atesta a morte social da escravidão, na qual a identidade africana foi negada, mas que Vassa conseguiu reivindicar em seus escritos.

Vassa protestou contra os esforços para despojá-lo de sua identidade, mas claramente estava chateado com as implicações do editorial do The Oracle. Em uma carta para Thomas Hardy, o fundador da London Corresponding Society, com quem Vassa e sua esposa viveram em 1792, Vassa escreveu: “Senhor, lamento dizer-lhe que alguns Malandros afirmaram nos jornais, The Oracle, 25 de abril, e Star, 27º. − que sou natural de uma ilha dinamarquesa, St. Croix, no WT Índias”. Ele queria que Hardy pegasse uma cópia do Star “e cuidasse dele até que você veja ou tenha notícias minhas”, assinado “Gustavus Vassa, o Africano”.19 É claro que havia muita fofoca sobre suas origens e Vassa temia que isso afetasse a venda de seu livro e, assim, inibisse o movimento abolicionista. De fato, se seu sequestro, venda para a costa e sua versão da Passagem do Meio fossem fictícios, a credibilidade de Vassa teria sido completamente prejudicada, como seus críticos no The Oracle e no Star tentaram fazer. Mas com certeza havia mais a suas reações do que apenas seu ressentimento em relação aos editoriais difamatórios. Vassa devia estar ciente da abolição dinamarquesa, da moção Wilberforce e da morte do rei Gustavo Vassa III. Além disso, a interação desses eventos e seu casamento recente, e a presença de sua nova esposa, devem ter tido um impacto em suas reações. Seus nomes, além disso, refletiam sua reputação. Seu nome de infância estabeleceu seu nascimento africano e seu nome sueco estabeleceu sua missão profética; juntos, estes eram vitais para seu senso de identidade.

Publicamente, Vassa respondeu às acusações de que ele nasceu escravo dinamarquês no prefácio da nona edição de The Interesting Narrative, que apareceu em 1794:

Uma falsidade odiosa tendo aparecido no The Oracle de 25 e no Star de 27 de abril de 1792, com o objetivo de ferir meu caráter, desacreditar e impedir a venda de minha narrativa, afirmando que nasci na Dinamarca ilha de St. Croix, nas Índias Ocidentais, é necessário que, nesta edição, eu tomei nota disso, e basta-me apelar para aquelas numerosas e respeitáveis ​​pessoas de caráter que me conheceram quando cheguei na Inglaterra, e não sabia falar outra língua além da África. (CARRETTA, 2003, p. 5).

Vassa não afirmou que sua descrição do interior da Baía de Biafra foi inteiramente baseada em suas próprias experiências. Ele notou que seu relato era um “esboço imperfeito que minha memória me forneceu os costumes de um povo entre o qual eu respirei pela primeira vez”, e reconheceu que ele havia obtido informações de alguns dos “números de nativos de Eboé” que ele encontrou em Londres.20 Suas discussões em Londres influenciaram o que ele escreveu, assim como suas citações de Anthony Benezet e outras fontes, mas o peso da evidência ainda indica que Vassa tinha conhecimento em primeira mão da África.21 Apesar disso, seus críticos no The Oracle insultaram Vassa sobre seu local de nascimento, “Ex hoc uno disce omnes − este fato diz tudo”.22 Vassa foi acusado de ser uma fraude, não o homônimo de um rei sueco, mas um escravo dinamarquês, como os suecos já foram.

O ataque à credibilidade de Vassa como testemunha da escravidão, a forma que tomou e o momento em 25 de abril de 1792, foram um comentário sobre o movimento abolicionista. O decreto dinamarquês foi promulgado em 16 de março e, embora não tenha encerrado o envolvimento dinamarquês no comércio de escravos por mais uma década, inspirou a moção renovada de Wilberforce para abolir o comércio de escravos. Segundo Erik Gobel,

as notícias do sensacional édito dinamarquês de 16 de março de 1792 chegaram a Londres apenas algumas semanas depois, e o texto completo foi logo traduzido para o inglês e publicado no Times. Esta foi a razão imediata pela qual o assunto da abolição foi novamente abordado por William Wilberforce, que levantou a questão novamente na Câmara dos Comuns em 2 de abril de 1792 (GOBEL, 2001).23

A sátira mordaz no The Oracle e no Star foi uma resposta à aprovação de uma moção para abolir o tráfico de escravos na Câmara dos Comuns em 22 de abril. Embora seja difícil documentar, deve-se supor que a abolição dinamarquesa foi amplamente discutida nos círculos da abolição e no Parlamento. Que a moção era controversa foi revelado quando foi posteriormente derrotada na Câmara dos Lordes em 8 de maio (GOBEL, 2001, p. 262). O efeito total do ataque público a Vassa é difícil de avaliar, mas Vassa levou as acusações contra ele a sério o suficiente para responder no prefácio da próxima edição de sua autobiografia. O momento da sátira sugere que considerável escárnio circulou em maio, tanto antes como depois que a Câmara dos Lordes rejeitou a abolição. Implicitamente, o ridículo público projetou uma inversão de papéis para os dinamarqueses, que acabavam de instituir a abolição, e os suecos, que subitamente haviam perdido o descendente popular de seu “libertador” por meio de assassinato. O ataque zombou explicitamente do ineficaz edito dinamarquês e do principal proponente “africano” da abolição por insinuação de assassinato, como provou o destino do rei Gustavo Vassa III. A derrota da moção para abolir o tráfico de escravos na Câmara dos Lordes talvez tenha prenunciado a repressão de 1794, além disso. A abolição do tráfico de escravos e a reforma parlamentar estavam começando a ser associadas ao terror percebido da Revolução Francesa e às revoltas atualmente em andamento no Caribe francês (LINEBAUGH; REDIKER, 2000, p. 334-341). Vassa experimentou a ameaça dessa repressão, conforme relatado em uma carta de Colchester em 20 junho de 1794, quando teve de regressar a Londres para saber se era ou não procurado para interrogatório:

Não tenho dúvidas, mas você ouviu falar do falso relato que os Filhos de Belial levantaram de tarde ao dizer que os mensageiros do Rei estavam me procurando, e meus amigos aqui me persuadiram a ir para Londres – então eu fiz e perguntei sobre Cavalheiros no Poder – meus amigos – e eles foram ao Conselho Privado e foram informados de que não havia mensageiros atrás de mim. Então fui a Soham para ver minha família, o que está bem. (BUGG, 2006, p. 15).

John Bugg especula sobre quem esses “amigos” poderiam ter sido, provavelmente incluindo William Wilberforce, mas dado o relacionamento de Vassa com Hardy e outros reformadores, não é surpreendente que Vassa e seus associados estivessem preocupados.

A viagem de toda a vida de Equiano foi providencial, ou assim pareceu a Vassa quando escreveu sua autobiografia. Muitos contemporâneos, incluindo líderes abolicionistas, parecem ter pensado que Vassa havia sido escolhido para libertar seu povo da escravidão, uma missão que se refletia no significado de seu nome, Gustavus Vassa. O menino escravo Olaudah Equiano era o Moisés de seu povo, não apenas “seus compatriotas”, mas de todos os africanos, que às vezes chegou a incluir em sua definição de seu povo, como líbios, etíopes e africanos, bem como seus próprios “compatriotas” “Eboé”. Sua identificação com a “África” ​​implicava que ele reconhecia um destino comum com todos os seus irmãos e irmãs escravizados. Como seu homônimo sueco tirou seu povo da subjugação sob a opressão dinamarquesa, ele faria o mesmo. O paralelo com Moisés e o êxodo foi imediatamente lembrado na ironia de dar a um escravo o nome de tal herói. Aceitando seu destino, seu chi, Vassa desempenhou, portanto, um papel importante no movimento abolicionista. Ele era amigo do abolicionista britânico, o reverendo James Ramsay, possivelmente conhecendo-o primeiro nas Índias Ocidentais, e depois novamente em Londres, quando Ramsay se tornou um publicitário na luta contra a escravidão (RAMSAY, 1784; SHYLLON, 1977). Ele contou a Granville Sharp sobre o caso Zong em 1783, em que 132 africanos escravizados da Baía de Biafra foram lançados ao mar vivos para receber seguro dos subscritores. O escândalo foi uma grande influência mobilizadora no movimento abolicionista.24 No final da década de 1780, ele era um reconhecido defensor e um dos principais líderes dos “negros pobres” de Londres (BRAIDWOOD, 1994; SHYLLON, 1977; GERZINA, 1995, p. 133-164; FRYER, 1984, p. 191-214). De novembro de 1786 a maio de 1787, ele estava trabalhando no projeto Serra Leoa (onde os negros de Londres seriam reassentados na África Ocidental), mas depois se retirou, tornando-se no final o porta-voz das queixas e fracassos do projeto (BRAIDWOOD, 1994; SHYLLON, 1977, p. 150-158; WILSON, 1980). Sua imagem naquela época era a de um africano, assinando seu nome com outros como um dos “filhos da África” em várias cartas aos jornais.25

Os documentos batismais e navais levantam questões importantes, especialmente porque “Equiano” foi reivindicado como “Americano”, enquanto ele se autodenominava “Africano” em The Interesting Narrative. Esse texto tornou-se o arquétipo da “narrativa de escravos”; veio a predominar na América do Norte, enquanto Equiano, o “africano”, estava lutando contra o tráfico de escravos britânico, na Grã-Bretanha (GATES, 2011; EDWARDS and WALVIN, 1983; SHYLLON, 1977).26 Na verdade, Vassa passou apenas alguns meses na Virgínia em 1754, e mais tarde em navios comerciais para a Carolina do Sul, Geórgia e Filadélfia como escravo, e depois como um homem livre navegando para a Geórgia e Carolina do Sul. Depois de visitar o País de Gales em 1783, ele foi para Nova York em 1784 e Filadélfia em 1785 e 1786 em condições bastante diferentes de suas experiências anteriores (SHYLLON, 1977). Ele não era apenas um homem livre, ele também era bem conhecido, residindo com membros proeminentes de círculos abolicionistas em ambas as cidades. Como britânico, demonstrou grande interesse pela ciência através de sua amizade com o Dr. Irving, expressou-se musicalmente através de seu domínio da trompa francesa, participou de sociedades de debate, mais notadamente a London Corresponding Society, como um de seus primeiros membros e demonstrou seu compromisso com o casamento inter-racial através de sua ligação com Susannah Cullen.

Vassa e Equiano representam duas personas, uma criada para ganho ambicioso e interesse próprio e a outra representante da causa abolicionista? Eu acho que não. A autobiografia de Vassa é apenas parte do que sabemos sobre o homem. Certamente, The Interesting Narrative é um documento chave na reconstrução da vida de Vassa e sua influência política no mundo atlântico do final do século XVIII, mas está longe de ser a única fonte sobre sua vida. A questão não é a validade da autobiografia, se algo está sendo lembrado com precisão ou distorcido por algum propósito de ofuscação ou intenção política, mas se as gerações subsequentes e os estudiosos escolhem interpretar ambiguidades de uma maneira particular. Vassa foi uma figura histórica proeminente, e importa se ele estava ou não dizendo a verdade sobre seu nascimento, razão pela qual ele usou seu nome de nascimento no título de sua autobiografia e ocasionalmente assinou duas vezes seu nome em cartas para jornais, sempre identificando-se como africano. O nome literário adotado pelos estudos modernos para identificar Vassa explora interpretações históricas atuais do movimento abolicionista que exigem uma voz que possa representar o escravizado, tenha o indivíduo nascido ou não na África ou nas Américas.

Embora ele provavelmente continue a ser chamado de Olaudah Equiano por causa da importância de sua autobiografia, o uso de seu nome de nascimento complicou a compreensão do homem que as pessoas em sua época conheciam como Gustavus Vassa, o africano, não Olaudah Equiano. Os seus estudiosos atuais podem estar confusos, mas sua esposa quase certamente não estava. Se ela o chamava de “Gus” ou “Ola”, não sabemos, mas ela certamente não poderia duvidar de seu nascimento africano porque ela saberia que ele era circuncidado. A circuncisão não era praticada na Anglo-América do século XVIII. A própria circuncisão de Vassa é, portanto, reveladora de suas origens africanas, especialmente em referência à sua discussão sobre a escarificação e, portanto, o significado de seu nome de nascimento para a dupla identidade na autoria de The Interesting Narrative.27 Sua descrição da escarificação ichi, que ele era jovem demais para receber porque não havia atingido a puberdade, informa suas referências à circuncisão, outra prática ritualizada de escarificação realizada em sua terra natal. Como registra a The Interesting Narrative, o jovem passou por lugares onde as pessoas não circuncidavam, o que ele considerava surpreendente, e em contraste com seu próprio “país”. O contexto ritualizado da circuncisão foi uma das razões pelas quais ele comparou sua cultura com judeus e muçulmanos. Como isso se relaciona com o nome dele? Naquela época, na Grã-Bretanha, ao contrário, a circuncisão era considerada bárbara, longe de ser ritualizada, em completa contradição com a experiência cultural de Vassa.28 A circuncisão só era praticada em hospitais britânicos um século depois. Quando criança, Vassa não poderia ter sido e não teria sido circuncidado na Carolina do Sul, se tivesse nascido lá. Não havia contexto ritual, e é duvidoso que os senhores tivessem tolerado a prática em qualquer caso. As várias referências de Vassa à circuncisão demonstram sua autenticidade africana; ele menciona e discute a circuncisão pelo menos cinco vezes em um livro destinado a um público que abominava a prática. Ele não diz que a circuncisão é bárbara – longe disso – nem está tentando vender a ideia. As referências não têm nenhum propósito óbvio de justificação ou explicação. Por que ele mencionou tanto a circuncisão se a memória do ritual e o contexto não eram importantes para ele? Ele poderia ter adquirido essa sensibilidade de outra pessoa, ou lendo sobre isso? Os rituais envolvidos na circuncisão, assim como o significado da escarificação ichi, estavam na memória de Vassa de sua terra natal e foram importantes na evolução de sua identidade como ibo e africano. No entanto, seu nome de nascimento era um reflexo de onde ele veio, mesmo enquanto continuava a se identificar como Gustavus Vassa.

O que há em um nome para o autor de The Interesting Narrative tem mais a ver com a política de representação e o politicamente correto de uma geração posterior de estudiosos, não com a intenção do homem, em contradição com a interpretação de Brycchan Carey e Vincent Carretta. Como Julia Watson argumentou, “nomear, desnomear, renomear, nomear incorretamente, ser chamado pelo próprio nome – esses tropos indicavam estágios na formação ou alienação da identidade autobiográfica” (WATSON, 1994, p. 92, 102). O autobiógrafo pode retornar a um determinado nome africano como um sinal de origem que precede e desafia a opressão (WATSON, 1994, p. 99). Vassa usou seu nome de nascimento para significar suas origens africanas, cujo significado foi argumentado por Henry Louis Gates Jr. (2011, p. 87). A imposição do nome de nascimento como significante muito tempo depois de sua morte, no entanto, permitiu a postulação de uma série de dicotomias, como o local de nascimento ser na África e/ou Carolina, e se o homem foi ou não self-made, ou seja, criando sua identidade e se beneficiando dessa criação, em oposição a um ativista comprometido, motivado por princípios e sacrifícios. O verniz da interpretação desaparece se for reconhecido que Vassa operou conscientemente em um modo de expressão e implementação diferente do que os estudiosos e historiadores literários subsequentes têm compreendido. A dicotomia entre homem evangélico e empresário crasso se evapora. A razão para o debate sobre seu nascimento tem mais a ver com o confronto atual entre erudição literária e interpretação histórica do que com possíveis interpretações errôneas e deturpações do passado.

Material suplementario
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Notas
Notas
1 Tradução do texto Olaudah Equiano or Gustavus Vassa – what’s in a name? , Paul E. Lovejoy, publicado na revista Atlantic Studies: Literary, Cultural and Historical Perspectives, Volume 9, Issue 2 (2012), April 2012, pages 165-184, https://doi.org/10.1080/14788810.2012.664957.

* Tradução: Nielson Rosa Bezerra e Ana Ribeiro.

** Revisão: Fernando Perli.

2 Gustavus Vassa para Granville Sharp, 6 de maio de 1780, no movimento antitráfico de escravos − Grã-Bretanha − Correspondência, Coleção Serra Leoa, Série VI, Suplemento 1, Caixa 1, Pasta 1, Universidade de Illinois em Chicago. Sou grato a Neil Marshall por obter uma cópia desta carta. A nota completa é a seguinte, em referência à identificação da assinatura, Gustavus Vassa: ''um negro e um africano, que escreveu sua própria vida[.] Ele tinha ataques se alguém pronunciasse seu nome real, que era Olaudah Equiano [.] Meu pai o conhecia - J. Phillipps de Middle Hill.''
3 Por exemplo, Walvin usa o nome Equiano, como em An African's Life, assim como Gates (2011). Ver também: SCHYLLON, 1977; FRYER, 1984; OGUDE, 1989, p. 1-16; ACHOLONU, 1989; COSTANZO, 1987; ITO, 1997; RODGERS, 1997; TORRINGTON, 2009; ROLINGHER, 2004.
4 Geralmente, ele se assinava como Gustavus Vassa ou Vasa, o africano, às vezes “um africano”; ver CARRETA, 2003, p. 253.
5 The diary; ou Woodfall’s Register, 25 de abril de 1789, citado em SHYLLON, 1977, p. 271-272. A carta para "Lords Spiritual and Temporal", citada em SHYLLON, 1977, p. 261, em março de 1789, tem datas diferentes, dependendo da edição de The Interesting Narrative.
6 Ver Carretta (2003), p. 286, n. 486, citando as coleções sobreviventes para o Race Horse (National Archives, Londres, ADM 36/7490).
7 Dr. Charles Irving foi um cirurgião naval e inventor. Ele foi creditado com o desenvolvimento de um aparelho para destilar água do mar e transformá-la em água potável. A Marinha Real começou a usar seu processo de dessalinização em 1770 e, em 1772, o Parlamento concedeu a Irving £ 5.000 pela invenção, embora, na verdade, um aparelho semelhante tenha sido demonstrado em 1764 pelo Dr. James Lind (1716-1794), e havia pelo menos dois outros dispositivos semelhantes em operação antes de Irving desenvolver o seu. O aparelho de destilação de Lind já estava em uso em vários navios da Marinha Real, principalmente no H.M.S. Dolphin, enquanto circunavegava o mundo, e em navios do serviço mercante. A invenção de Irving era inteiramente derivada e devia praticamente tudo ao trabalho anterior de Lind, o pai fundador da medicina naval e marítima, um modesto “homem da ciência”, que nunca cortejou os holofotes. Ver Paul Lovejoy (2009). A Gentleman's Magazine, vol. 42, maio de 1772, identificou incorretamente Charles Irving como “o mesmo que inventou a cadeira marinha alguns anos atrás” (SAVOURS, 1984, p. 402-28). Carretta (2005, p. 137) erroneamente aceitou o erro do Gentleman's Magazine.
8 Como observa Bugg (2006, p. 1425), ‘‘Gustavus Weston’’ poderia ter sido Charles Gustavus Weston, de Brompton, cujo filho de mesmo nome ascenderia ao posto de capitão? Ou Gustavus Weston poderia ter sido o Gustavus Westman que mais tarde foi processado em Lancashire? Gustavus Weston/Feston poderia ter sido o soldado Gustavus Denniston?”
9 Sweet (2009, p. 303) sugere que a referência de Vassa à Líbia ao descrever pessoas de sua própria “nação” refuta a alegação de que Equiano estava comprando escravos da Baía de Biafra. Vassa usa claramente o termo “Líbia” como substituto para África e Etiópia, no entanto, e não como ponto de embarque. De fato, a maioria dos navios que chegavam à Jamaica na época em questão vinha da Baía de Biafra.
10 National Archives, London, PROB/10/3372 CF/2236.
11 Cambridge Chronicle and Journal, 20 de fevereiro de 1796, e citado em Carretta (2005, p. 363).
12 The Ipswich Journal, 21 de março de 1857.
13 As várias cartas estão amplamente espalhadas, muitas publicadas em Carretta (2003), mas não todas. Veja também SHYLLON, 1977, p. 244-271; Arthur Torrington, Vincent Carretta e John Bugg descobriram mais correspondências, a maioria das quais foi convenientemente organizada em Sapoznik (2008).
14 Para uma discussão sobre quando o reconhecimento de “África” se tornou importante no discurso de pessoas de ascendência africana na diáspora anglófona, ver SIDBURY, 2007, p. 38-40. Sidbury observa que a identificação com a África se tornou um elemento comum na formação de associações e instituições de autoajuda, mas também o uso do termo “África” foi usado em reconhecimento ao nascimento na África.
15 Dickson (1789). Dickson era assinante da Equiano’s Narrative.
16 Veja The Cambridge Chronicle and Journal; e anunciante geral dos condados de Cambridge, Huntingdon, Lincoln, Rutland, Bedford, Herts, Isle of Ely, etc., 1º de agosto de 1789, “Your humilde Servant, GUSTAVUS VASSA, The African”. Cambridge, 30 de julho de 1789; Sheffield Register, Yorkshire, Derbyshire, & Nottinghamshire Universal Advertiser, 27 de agosto de 1790, “GUSTAVUS VASA, o africano livre, agora em Sheffield* suas maneiras polidas, sua mente iluminada, e em todos os aspectos em um par com os europeus”; The Manchester Mercury, and Harrop's General Advertiser, 31 de agosto de 1790, “Eu sou, cavalheiros, seu humilde servo obediente, GUSTAVUS VASA, O AFRICANO, Manchester, 18 de agosto de 1790”; enquanto o Newcastle Chronicle e Newcastle Courant, 6 de outubro de 1792, ambos imprimem ‘‘GUSTAVUS VASSA; the AFRICAN, Newcastle, 4 de outubro de 1792”. Em 15 de março de 1794, o Norfolk Chronicle publicou uma carta de “GUSTAVUS VASSA, o AFRICANO”. Aos habitantes desta cidade e seus arredores, e de Bury St. Edmund.''
17 Carta de Vassa para Sharp, 6 de maio de 1780.
18 O artigo também acusava William Wilberforce, Henry Thornton e William Thornton “preocupados em colonizar a ilha de Bulam em plantações de açúcar. É claro que seus interesses colidem com os dos atuais fazendeiros e, portanto, seu clamor contra o comércio de escravos”. Ver The Oracle, 25 de abril de 1792, e a discussão em Carretta (2003, p. 237-238).
19 Carta de Vassa para Thomas Hardy, Edimburgo, 28 de maio de 1792, National Archives, Londres, TS 24/12/2, e reimpresso em Carretta (2003, p. 361-362).
20 Vassa (1789, p. 38). Deve-se notar que Carey chega à surpreendente conclusão de que Vassa poderia ter aprendido tais detalhes de qualquer pessoa da África, como se a África fosse um país. Segundo Carey (2008), os poucos detalhes nas sequências africanas que não puderam ser encontrados em relatos publicados são vagos e generalizados e poderiam facilmente ter sido fornecidos por amigos e conhecidos africanos de Equiano. Devemos lembrar que havia milhares de pessoas de origem ou descendência africana vivendo em Londres na década de 1780, e não há razão para que Equiano não pudesse simplesmente pedir a uma delas algumas informações sobre o interior africano.
21 Benezet, Some Historical Account of Guinea. Benezet citou extensamente várias observações europeias da África Ocidental, mas nada no interior da Baía de Biafra, saltando do Reino do Benin para o Kongo e Angola em suas descrições e relatórios. Ele cita algumas informações sobre Barbados que provavelmente Vassa poderia ter usado, mas não em sua terra natal. É claro que Vassa incorporou visões generalizadas e romantizadas da África que adquiriu ao ler Benezet e outras fontes. Embora essas descrições possam ter influenciado Vassa no que ele escreveu, as descrições geográficas são de fato razoavelmente precisas e refletem o que Vassa teria se lembrado. Ao parafrasear “autoridades”, parece-me que Vassa estava apenas reforçando o que havia visto e experimentado.
22 The Oracle, 25 de abril de 1792.
23 John Bugg (2006, p. 1434) também observa a influência da abolição dinamarquesa no momento da moção de Wilberforce.
24 Para o caso Zong, ver Walvin (1998). De acordo com Granville Sharp, "Um relato do assassinato de 132 escravos negros a bordo do navio Zong, ou Zung, com algumas observações sobre o argumento de um eminente advogado em defesa dessa transação desumana" (British Library, Ms. 1783), em 19 de março de 1783, “Gustavus Vasa, um negro, me chamou, com um relato de cento e trinta negros sendo jogados vivos ao mar, de bordo e navio negreiro inglês” (HOARE, 1820, p. 236-41). Os assassinatos foram cometidos em dezembro de 1781.
25 Para a importância da identificação como ‘‘Africano’’ no mundo atlântico britânico nesse período, ver Sidbury (2007).
26 Em outra ocasião, argumentei que o relato de Vassa deveria ser considerado uma “narrativa da liberdade” em vez de uma “narrativa escrava” (LOVEJOY, 2001, p. 91-107).
27 A importância da circuncisão na Narrativa Interessante de Vassa foi chamada à minha atenção por Karl Magnuson, que empreendeu uma história da circuncisão e das atitudes britânicas em relação à prática. Estou em dívida com Rodrigo Barahona, cujo ensaio de primeiro ano, "Equiano's Early Life: True or False?" retrata a circuncisão em The Interesting Narrative.
28 Karl Magnuson, Circumcised Mind: the Dark Side of the Anglo-American Myth (no prelo). Desejo agradecer ao Dr. Magnuson por me permitir ler seu manuscrito e por nossas discussões sobre Vassa e circuncisão. Ver também: Darby (2005, p. 22-43).
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