Dossiê
Sociedade, cultura e fronteiras: relações, sensibilidades e conflitos em uma perspectiva interdisciplinar
Society, culture and borders: relationships, sensibilities, and conflict in an interdisciplinary perspective
Sociedad, cultura y fronteras: relaciones, sensibilidades y conflictos en una perspectiva interdisciplinar
“Acredite em mim, a verdadeira alegria é assunto sério!”
Sêneca, Cartas, 23.4.
É com alegria que apresentamos a publicação deste dossiê “Sociedade, cultura e fronteiras: relações, sensibilidades e conflitos em uma perspectiva interdisciplinar”, fruto de trabalho colaborativo entre a Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Foz do Iguaçu (Unioeste), a Universidade Estadual do Paraná, campus de Campo Mourão (Unespar), ambas universidades públicas paranaenses e a Université Paul-Valéry, em Montpellier, França.
O objeto é a discussão sobre as relações entre pessoas, cidades, grupos sociais e indivíduos, em percursos por trânsitos urbanos e transfronteiriços. As pesquisas transbordam fronteiras geopolíticas pensando relações, sensibilidades e conflitos; elementos de ordem política, cultural e estética. O dossiê também aborda as tecnologias que interferem no espaço cotidiano, assim como a produção de conteúdo digital-audiovisual: estudos que enfoquem esses aspectos e dialoguem com a percepção de território e formas arquitetônicas, agindo na afetividade humana e atmosferas sociais, desde uma perspectiva inter e transdisciplinar. Espera-se, com esses encontros de pesquisadores, das humanidades em geral, contribuir para pautar o debate acerca dos temas elencados, ampliá-los em seus conteúdos e formas debordantes.
Em formato on-line de acesso aberto, esta obra tem como objeto apresentar produções científicas interdisciplinares em seus diferentes percursos. Diferentes áreas estão aqui contempladas, bem como espaços geográficos nacionais e internacionais, o que nos deixa entusiasmadas com seu possível alcance e reverberação.
A chamada para a materialidade deste projeto obteve uma bela repercussão entre intelectuais das mais diversas áreas, o que transborda nas pesquisas e artigos aqui apresentados, consequência de vários olhares que fazem ciência.
O conjunto de artigos navega nas sendas interdisciplinares, com textos que denotam o avanço científico nas ciências humanas, possibilitando pensar que a disciplinaridade não é um entrave; como já expressou Renato Ortiz (2004), acerca desse movimento; mas que se trata de um começo, uma viagem entre saberes ainda compartimentados.
Nessa obra, ousamos desafiar a organização disciplinar de fazer ciência e transitamos por espaços plurais, dialógicos e, por vezes, marginais. Aqui, os leitores irão encontrar abordagens diversas, cujo intuito é o de produzir uma ciência que extrapola os lugares “reservados” para ela. Os autores que deitam suas ideias nessas páginas nos convidam ao deleite com a pluralidade do conhecimento científico, que, por ser sério e rigoroso, é também prenhe de alegria. Assim, dez trabalhos compõem este dossiê, todos com contribuições para as ciências humanas interdisciplinares.
Fábio La Rocca brinda este dossiê com uma discussão ontológica sobre os espaços da cidade contemporânea, investigando como a cidade é e como se apresenta, no artigo intitulado “A constelação sensível do imaginário das ambiências urbanas”.
Na investigação etnográfica “‘Las máquinas son nuestras’: indagaciones sobre el drama social y la gestión de ilegalismos en el contexto de una protesta agraria en la frontera argentino brasileña”, Laura Ebenau e Brígida Renoldi focalizam o drama social que resultou no protesto agrário contra as medidas de segurança frente à pandemia, ocorrido em zona de fronteira entre Brasil e Argentina, em meados de 2020.
Dentre as pesquisas de campo, temos o trabalho “Alteridade na prisão: a extensão universitária e a não-violência do rosto”, de Regiane Cristina Tonatto e Denise Rosana da Silva Moraes. As autoras discutem práticas dialógicas na prisão feminina, a partir da Filosofia da Alteridade, de Emmanuel Levinas (1906-1995).
Marina Lemos Carcereri Mano e Andréa Vieira Zanella, no texto “Tango, tensões e resistências: o caso do Milonga na Praça”, apresentam a história de resistências do baile de tango Milonga na Praça dos Namorados Beto Stodieck, região central de Florianópolis (SC), entre 2016 e 2020.
Em “Para além da fronteira geográfica: encontro de culturas no Vale do Guaporé entre Brasil e Bolívia”, Wilma Suely Batista Pereira e Clebson Carlos de Oliveira nos trazem uma pesquisa exploratória de campo sobre o encontro de culturas na fronteira guaporeana entre brasileiros e bolivianos.
A obra cinematográfica “Zama” (2017), de Lucrecia Martel, é temática do artigo intitulado “O filme “Zama”: estética e devires decoloniais”, escrito por Ana Carolina Acom, que discute a decolonialidade.
Também focalizando a decolonialidade, relacionada à problemática da territorialidade, a pesquisa “A ocupação de Guarapuava: desigualdades socioespaciais e educacionais a partir da perspectiva decolonial latino-americana”, de autoria de Viviane de Lara, Mônica Matos Barbosa e Jefferson Olivatto da Silva, investigam a hierarquização das relações sociais produzidos em torno da ideia de “raça”, no espaço urbano da cidade de Guarapuava.
Em “Crimigração: a fronteira institucional de intersecção entre a política migratória e a política criminal - o caso da União Europeia e Estados Unidos da América”, Josuel Belo dos Santos e Gustavo de Souza Preussler fazem a crítica à “crimigração”, postura estatal que se expressa em agendas, especialmente nos Estados Unidos e países do bloco europeu, que criminalizam as imigrações ao invés de propiciarem a regularização e o acesso a direitos e emancipação social.
Transposta ao ambiente virtual, a pesquisa de campo, denominada “netnografia”, permitiu aos autores Carlos Eduardo da Silva, Heleno Szerwinsk de Mendonça Rocha e Ana Paula Nunes Chaves, no artigo “O pequeno notável dentro do amazonialismo: o Acre em memes da internet”, a análise da construção dos significados sobre a Amazônia presentes nos memes virtuais.
Em “Fissuras da modernidade: a cidade como referência do pecado”, Leandro Antônio dos Santos apresenta reflexão sobre a cidade do Rio de Janeiro da bélle époque como referência do pecado, na obra de Nelson Rodrigues.
Com isso, convidamos: venham conhecer esta obra! Esperamos que contribua com o avanço da ciência e fortalecimento da interdisciplinaridade.