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Para além da fronteira geográfica: encontro de culturas no Vale do Guaporé entre Brasil e Bolívia
Beyond geographical borders: meeting of cultures in the Guaporé Valley between Brazil and Bolivia
Más allá de la frontera geográfica: encuentro de culturas en el Valle del Guaporé entre Brasil y Bolivia
Revista NUPEM (Online), vol. 15, núm. 35, pp. 72-86, 2023
Universidade Estadual do Paraná

Dossiê


Recepción: 01 Enero 2023

Aprobación: 11 Abril 2023

DOI: https://doi.org/10.33871/nupem.2023.15.35.72-86

Resumo: A presente pesquisa de campo tem cunho exploratório e tem como objetivo analisar o encontro de culturas na fronteira guaporeana entre brasileiros e bolivianos. A coleta de dados foi feita através de observa-ções e os resultados evidenciam o encontro da diversidade e a influência boliviana no território rondoniense. Essas trocas permanentes de conhecimento são antigas e se iniciaram no período de povoamento da região, a partir do século XVIII. A diversidade de povos que ali se estabeleceram formando uma união geográfica e criaram raízes em comum, desse modo, é vista e sentida até os dias atuais entre os países.

Palavras-chave: Fronteira, Brasil, Bolívia, Diversidade.

Abstract: This field-exploratory research is based on the analysis of the multicultural meeting on the geographical frontier from Guaporé between Brazilians and Bolivians. The data collection was made through observations, and the results evidence the presence of cultural diversity and a Bolivian influence in the Rondonian territory. That permanent exchange of cultures is old and began during the region's settlement, starting in the eighteenth century. Consequently, the diversity of people who established themselves there and shared common roots is still notable today.

Keywords: Frontier, Brazil, Bolivia, Cultures.

Resumen: Investigación de campo exploratoria que se concreta en un análisis del encuentro de culturas en la frontera guaporina entre brasileños y bolivianos. La recolección de datos se realizó a través de observaciones y los resultados muestran el encuentro de la diversidad cultural y la influencia boliviana en el territorio rondonés. Estos intercambios permanen-tes de culturas son antiguos y se iniciaron en el período de poblamiento de la región, a partir del siglo XVIII. La diversidad de personas que allí se asentaron y crearon raíces en común se ve y se siente hasta el día de hoy.

Palabras clave: Frontera, Brasil, Bolivia, Diversidad.

Introdução

Na fronteira amazônica ocidental, às margens dos rios Guaporé e Mamoré, a influência da cultura boliviana adentrou nos povoados das cidades de Costa Marques e Guajará-Mirim. Chamado de Iténez pelo povo boliviano, ao lado de Costa Marques as influências culturais e o contato diário na fronteira ampliam uma influência do povo boliviano, em especial, os descendentes de indígenas, sobre os moradores do Vale do Guaporé1, a maioria, ribeirinhos ou beradeiros2 (este último, um epíteto mais peculiar aos moradores de tapiris em terras quilombolas), da cidade de Costa Marques.

Na fronteira, pode-se destacar para observação e pesquisa, Costa Marques, ela pode ser considera uma “das cidades gêmeas localizadas em pontos das fronteiras políticas” (Becker, 2005, p. 79), famosa por agregar em sua população um comércio constante com o lado boliviano de Buena Vista, este último, lugar de dimensões pequenas, caracterizado por construções em palafitas3 às margens do rio Guaporé.

O legado social que tem o encontro desses povos e suas culturas é algo singular, transformando a divisão fronteiriça que oficialmente é um ato de soberania política, apenas num simbolismo geográfico, sobretudo porque a convivência entre brasileiros e bolivianos extrapola os laços amicais e se configuram em relações contínuas de desenvolvimento social, miscigenação étnica e cultural e laços de sobrevivência por meio de trocas comerciais.

Debruçar-se sobre este fenômeno peculiar de intensa convivência pacífica em que pesem diferenças culturais no ambiente de delimitação geográfica é o que se pretendeu na pesquisa exploratória, caracterizada pela pesquisa bibliográfica a partir de descritores como: fronteira; Vale do Guaporé; cultura e complementada pelo trabalho de campo, com dados coletados através de observações, realizadas na cidade de Costa Marques (Rondônia) e no distrito de Buena Vista (Bolívia) e outras regiões especificas do Vale do Guaporé. Costa Marques é um dos 52 municípios de Rondônia/Brasil. O município de Costa Marques teve uma estimativa populacional em 2021, de 19.255 mil habitantes. Buena Vista, é um distrito do município de Magdalena, localizado ao norte do Departamento de Beni/Bolívia.

As observações ocorreram ao longo de meses após conviver semanalmente na região, em média dois anos, por motivos de trabalhos e em outros momentos com finalidade exclusivamente acadêmica. As observações e coletas de informações através de entrevistas com perguntas abertas, foram realizadas na praça principal da cidade, em festejos, no porto, nas feiras em ambos os lados e dentre outros considerados importantes locais para o desvendar do objeto pesquisado.

Os objetivos traçados para a investigação foram: Geral: Analisar os espaços de construção e reconstrução de práticas socioculturais entre pessoas de origem boliviana e guaporeana nas cidades fronteiriças. Específicos:1) descrever elementos culturais mais presentes na cidade de Costa Marques e Buena Vista, ambas cidades fronteiriças com intensa comunicação entre si; 2) averiguar se há algum impacto nas relações entre as pessoas de ambas as cidades pelo fato de ser uma zona de fronteira; 3) verificar se há áreas de fricção cultural nos ambientes coletivos.

Apresenta-se incialmente um resumo do contexto socioeconômico e geográfico da cidade de Costa Marques, no lado brasileiro e no povoado de Buena Vista, do outro lado do rio, vinculado à cidade boliviana de Magdalena. Rondônia traz um cenário de consolidação dos fluxos de população entre Bolívia e Brasil geralmente caracterizada por uma maior diversidade e complexidade sociocultural resultante do antigo fenômeno migratório que se tornou um marco na história da colonização do Vale do Guaporé: “A sociedade guaporeana formava-se a partir de uma complexa gama de extratos sociais” (Teixeira; Fonseca, 1998, p. 73).

Num segundo momento analisa-se a dinâmica migratória de bolivianos e brasileiros, no vaivém da fronteira, observando-se às trocas culturais que incluem a língua, os costumes, os casamentos e festanças entre outros. Dessa forma, obtém-se deste fenômeno corriqueiro, mais um componente para a pesquisa, que é a articulação entre diferentes identidades, entre os povos do Guaporé e a compreensão desses novos fluxos, aliado a inquietude diante das transformações sociais que ocorrem dos dois lados da fronteira (Baeninger, 2012).

Num terceiro momento, apresenta-se a dinâmica da cultura boliviana e suas variantes articuladas na cidade de Costa Marques por meio de processos identitários que se revelam em trocas diárias nos espaços específicos, como no porto, nos locais de comércio, na igreja e sucedâneos. Esta é uma inserção cultural que traz novos elementos, dentre eles, nos quesitos religiosos, com a incorporação de valores dominantes do catolicismo ou na culinária boliviana, que já faz parte do cardápio do cotidiano dos costamarquenses. Para Geertz (1989), essas relações sociais são compreendidas como um conjunto cultural, um mecanismo de controle que contribui para os processos sociais.

Nas considerações finais, uma conclusão ainda não definitiva sobre a influência geral em territorialidade brasileira, dos bolivianos residentes em Costa Marques ou de brasileiros no lado oposto da fronteira. Resume-se uma análise preliminar dos espaços de construção e reconstrução de práticas socioculturais entre pessoas diferentes em sua origem, mas que se adaptaram no desfrute das ações coletivas e já se miscigenaram como sujeitos em busca de uma vida alegre e pacífica, como se a região existisse sem divisão política.

Contexto geográfico e socioeconômico dos povos da região guaporeana

A colonização do Vale do Guaporé no século XVIII, já é por si só, um encontro de etnias diversas, sobretudo porque, o ciclo do ouro e as disputas territoriais pelas terras envolveram diversos povos entre dominadores e dominados, atuando neste cenário, portugueses, africanos, indígenas e espanhóis. O legado que ficou apresenta-se em demarcação de comunidades e territórios ao longo de “1.342 km de fronteira com a Bolívia” (Seplan, 2012, p. 30).

Oliveira (2005, p. 79) disse que, quanto à migração “na década de noventa do século XX, a migração interna no estado de Rondônia direcionou-se para duas principais regiões: uma situada às margens da BR-429” e dentre as inúmeras localidades ao longo da BR-429, às margens do rio Guaporé, encontra-se o antigo distrito de Guajará-Mirim, a cidade de Costa Marques que se localiza no ponto final da BR-429, habitada por uma população de 19.255 mil habitantes, estimativa para 2021 (IBGE, 2022). Aproximadamente, encravadas numa das regiões mais bonitas do estado de Rondônia: o Vale do Guaporé, famoso por suas reservas biológicas e pela multiplicidade de suas espécies naturais (SEPLAN, 2012).

É uma região bastante conhecida e, de certa forma, até estudada, por abrigar o maior simbolismo histórico da conquista portuguesa no oeste amazônico, construído a pedido “do Rei Dom José” (Pinto, 2003, p. 63), “o Real Forte Príncipe da Beira, cujas obras foram iniciadas em 1776 e dadas por concluídas em 1783” (Teixeira; Fonseca, 1998, p. 50), e que tem sido aclamado por turistas e pela sociedade local como uma das principais relíquias do patrimônio histórico de Rondônia (Imagem 1).


Imagem 1:
Real Forte Príncipe da Beira, em Costa Marques, as margens do Rio Guaporé (RO), Brasil
Fonte: Dados da pesquisa.

O Real Forte Príncipe da Beira é um dos grandes monumentos históricos construídos no período colonial. O objetivo da fortificação era proteger o lado português de um possível confronto com os espanhóis, uma vez que essas terras antes pertenciam a Espanha, conforme Tratado de Tordesilhas em 14944. A fortaleza foi construída entre a segunda e terceira década depois do Tratado de Madri em 17505.

Na região guaporeana, além do Forte Príncipe da Beira, que caracteriza os processos históricos da sua região, também apresenta em seu transcorrer fluvial, aldeias indígenas, povoados quilombolas como “Pedras Negras e Santo Antônio” (Teixeira; Fonseca; Angenot, 2009, p. 21), além de distritos em pleno desenvolvimento, como é o caso de São Domingos, no km 58 da BR-429.


Imagem 2:
Comunidade Quilombola de Santo Antônio, em São Francisco do Guaporé, as margens do Rio Guaporé (RO), Brasil
Fonte: Dados da pesquisa.

Apresentado na imagem 2 uma demonstração de construções tradicionais da comunidade quilombola de Santo Antônio, uma representação de parte da cultura guaporeana. Santo Antônio está localizada entre os municípios de São Francisco do Guaporé e Costa Marques. A foto foi feita em uma das viagens a região do Vale do Guaporé, na ocasião especifica uma viagem realizada juntamente com acadêmicos e professores.

Em Costa Marques, há uma zona de comércio no lado boliviano que permite o que se pode definir como uma integração binacional, relevando a miscigenação étnica e socioeconômica corporificada nas descendências multirregionais (SEPLAN, 2012).

Os habitantes do lugar, principalmente do lado brasileiro, em sua maioria, são pertencentes às camadas de baixo poder aquisitivo, muitos ainda vivem da agricultura familiar com a constituição de núcleos familiares residentes em lotes iguais ou menores que 42 alqueires. Os lotes são geralmente ocupados por imigrantes de outros estados que encontraram em Rondônia, uma forma de conseguir terras para o cultivo, doadas pela política de assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), ou comprada a preços módicos. Conforme Lima e Veloso (2002, p. 130),

Em Rondônia, ocorreu concomitantemente o crescimento da população e da área desflorestada, em função do próprio modelo de ocupação do estado, proporcionando pelo assentamento de colonos através do INCRA, ao longo do eixo da BR-364, gerando um formato conhecido como “espinha de peixe”. Através deste estilo de ocupação territorial, as estradas são abertas às margens das rodovias existentes, formando linhas brancas laterais entre as áreas desmatadas.

Essa leva migratória, embora bem menor nos dias de hoje, é típico de um processo de colonização que, em Rondônia ocorreu majoritariamente no século passado: “Nos anos de 1970, o que sustentou a fronteira foram os incentivos fiscais e a migração generalizada do país inteiro, esta induzida pelo governo federal” (Becker, 2005, p. 80), configurada na época do regime militar, onde famílias inteiras eram trazidas em projetos de colonização, visando integrar para não entregar a Amazônia. Várias dessas famílias foram abandonadas à própria sorte em razão do malogro dos projetos impostos pelos governos dos generais.

Do lado boliviano, as condições são bem mais precárias e a estrutura do povoado de Buena Vista é bem mais desconfortável em termos de estrutura habitacional. Os migrantes bolivianos se estabeleceram em Costa Marques desde o início do século XX, mormente com o advento dos ciclos da borracha. Lá permaneceram até meados dos anos 1980, quando organizaram a estrutura dos seus pequenos comércios em um lugar especificado pela prefeitura do município localizado próximo ao porto (Barboza, 2012).

Porém, tiveram que buscar alternativas para continuar a buscar sua sobrevivência, sobretudo pela informalidade do comércio, tido pelos comerciantes brasileiros como desleal na concorrência de preços, por vender produtos importados, livres das obrigações fiscais, ao contrário dos brasileiros que sempre pagaram altos impostos pela comercialização de suas mercadorias.

Diante dessa situação foram cronologicamente abandonando o comercio do lado brasileiro, conforme apresenta a imagem 3 estruturas de palafitas abandonadas.


Imagem 3:
Palafitas abandonadas em Costa Marques, as margens do Rio Guaporé (RO), Brasil
Fonte: Dados da pesquisa.

A saída foi migrar e se fixar as margens do rio, no lado boliviano, em frente aos velhos casarões da época áurea da borracha, na orla do porto costamarquense. Como durante o período de chuvas, a subida do nível das águas no Rio Guaporé, intensifica-se a partir do mês de novembro, os bolivianos tiveram como única alternativa, construir palafitas para suas moradias e pontos comerciais na margem do Rio Guaporé em território da Bolívia (Imagem 4).


Imagem 4:
Buena Vista, às margens do Rio Guaporé, na Bolívia
Fonte: Dados da pesquisa.

Estas edificações constituem-se, além de residências, em comércios de intenso movimento. Vende-se tudo: aparelhos eletrônicos, roupas, brinquedos, bebidas, além de um intenso movimento de pequenos barcos, as chamadas catraias6 transportando visitantes e turistas para as compras, numa espécie de zona de livre comércio. Há uma geração de empregos diretos e indiretos, útil aos costamarquenses.

Contudo, não é só do comércio de mercadorias importadas da Ásia que sobrevive o povo residente na zona fronteiriça. As trocas culturais também preenchem o vaivém de catraias que singram as águas escuras do rio. Isso dá azo à interpretação sobre o conceito de cultura de Geertz (1989, p. 10): “O homem é amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa à busca de significado”. Para Geertz (1989) a cultura é inerente ao ser humano, é um processo continuo que reflete nas ações humanas.

No distrito de Buena Vista, ligado juridicamente à cidade de Magdalena e ao Departamento de Beni, residem aproximadamente, quarenta famílias, perfazendo um total estimado de 150 pessoas, não entrando nesta estimativa, os costamarquenses que trabalham no comércio, nem os bolivianos residentes em Costa Marques que já conseguiram o visto permanentes em razão da miscigenação com brasileiros.

Malgrado, muitas crianças bolivianas tenham conseguido autorização para estudar nas escolas municipais ou estaduais, mas a localidade boliviana conta com uma unidade educacional que é a Escuela Telecentro Buena Vista, uma grande palafita que abriga os estudantes filhos dos comerciantes locais e até mesmo de bolivianos residentes no lado brasileiros que preferem a preservação de sua cultura nacional, Hall (2002, p. 47) escreveu que “as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural”, por isso matriculam seus filhos, muitos já miscigenados com brasileiros, para que estudem e preservem a cultura do pais de origem.

O governo boliviano providenciou mais segurança ao instalar no local a Armada Boliviana, um posto de controle militar e administrativos, embora conte com um efetivo pequeno que não ultrapassa dez homens, incluindo o comando. O contato com brasileiros é constante durante todo o ano pela questão do comércio, nas denominadas Palashopping7 (Imagem 5).


Imagem 5:
Buena Vista, as margens do Rio Guaporé, Bolívia
Fonte: Dados da pesquisa.

Se Buena Vista fosse alçada a categoria de cidade boliviana, seria na verdade, uma cidade gêmea de Costa Marques, tamanha as afinidades que ambas possuem no campo cultural. Enquadram-se na definição de Becker (2005, p. 53), quando classifica cidades com afinidades socioeconômicas e culturais como “lugar de convergência de redes de relações, as cidades gêmeas rompem com as delimitações fronteiriças oficiais fundadas na soberania nacional”.

Miscigenação cultural e étnica entre brasileiros e bolivianos

Para compreender o processo de miscigenação cultural de brasileiros e bolivianos na fronteira entre Costa Marques e Buena Vista é mister considerar as peculiaridades do contexto etnográfico amazônico e construir uma abordagem no texto que releve essencialmente diversas contribuições, no âmbito das pesquisas qualitativas e que despertem o interesse acadêmico pelo estudo das identidades dos povos ribeirinhos, atendendo à realidade de particularidades produzidas pelos moradores de Costa Marques e povoados adjacentes, para isso Burke (2000, p. 141) defende que “os historiadores deveriam escrever sobre movimentos de uma maneira que reconheça o valor de outras tradições culturais em vez de encará-los como barbarismo ou ausência de cultura”.

É plausível demonstrar que esta abordagem deve vir despida de quaisquer manifestações de separação das etnias como objeto de pesquisa, sobretudo porque, a identidade destes povos merece um estudo mais complexo para uma definição de conceitual deveras acurada. Como afirma Teixeira (2009, p. 3)

Sendo um conceito, a identidade possui diferentes dimensões e envolve reivindicações essencialistas sobre quem pertence ou não a um determinado grupo identitário. Essas reivindicações podem estar baseadas na natureza em relação às identidades étnicas, nas relações de parentesco ou em versões essencialistas da história e do passado da sociedade em questão.

Brasileiros e bolivianos, especialmente os que formam o agrupamento caboclo conhecido como ribeirinho ou beradeiros, têm em especial, uma miscigenação étnica que os acompanha desde os encontros em seringais, durante os ciclos econômicos da borracha e permanece até a atualidade.

A construção coletiva de elementos culturais na fronteira guaporeana, inclusive, marcha contra as mudanças no paradigma cultural dos anos 1960 que segundo Cevasco (2003, p. 24), “o foco não é mais a conciliação de todos nem a luta por uma cultura em comum, mas as disputas entre as diferentes identidades nacionais, étnicas, sexuais ou regionais”.

Neste contexto, o encontro entre duas culturas distintas se representa em realidades como foco no coletivo e passam com a convivência a receber influências recíprocas, malgrado, em razão das agruras para sobreviver, não possuírem diferencias sociais substanciais, excetuando-se na questão linguística.

Isto ocorre pelo isolamento cultural ante o pouco contato com centros ditos “civilizados” que caracteriza as comunidades brasileiras e bolivianas da região. Rodrigues (1998, p. 17) já defendia em seus estudos antropológicos realizados em terras acreanas: “Com estigmas de deserto e de inferno verde e com uma trajetória histórica acentuadamente marcada pela exploração de recursos naturais, a cultura amazônica tem sido determinada por dois elementos significativos: o isolamento e a busca da identidade”.

Mas são elementos que não impedem de desenvolver-se dentro do processo cultural, a efetivação de trocas, apropriação oral do uso da língua, da música, da culinária, dos costumes, de valores morais próprios, de crença e modo de viver e outros atributos afins, em consonância com a união estável, bastante comum entre os dois povos, geralmente, unidos por relações de amancebos, que formam gerações e preservam a cultura local, agregada a costumes binacionais. Essa miscigenação étnica tem sido mantida em razão da fixação do caboclo em seu habitat natural, às margens do rio Guaporé. A vida cotidiana intensifica a produção da cultura dos moradores de Costa Marques e Buena Vista em relações recíprocas, corolário da vivência construída durante anos entre este povo que partilha de muitos aspectos comuns. Geertz (1989) observa essa relação cultural como um sistema simbólico, ou seja, um conjunto de códigos que intensifica a interação entre os moradores da região.

Por meio desta miscigenação, constroem uma espécie de cultura própria e criam uma concepção do social que enfatiza a dimensão coletiva para quem se dispuser a dela fazer parte, sobretudo, porque a cultura é um processo histórico perene e essencial ao ser humano, e, como afirma Vannucchi (2002, p. 24), “a partir dela o homem se identifica e modifica de acordo com as suas necessidades”.

Pela razão de Rondônia ter “1.342 km de fronteira com a Bolívia” (SEPLAN, 2012, p. 30), a assimilação cultural por parte dos ribeirinhos é inevitável, absorvendo diversas variantes da cultura boliviana, entre estas, cita-se a culinária como ponto forte, talvez em função de se evidenciar aspectos como o consumo diário, produzida em regiões costamarquenses, onde mora grande parte da comunidade de cambas “são os membros das comunidades nativas das regiões baixas, principalmente guaranis e chiquitanos” (Souchaud; Baeninger, 2008, p. 273) alguns já miscigenados com brasileiros. Afirma Baeninger (2012, p. 259): “Além do incremento de bolivianos nas regiões metropolitanas (RM’s) de São Paulo e do Rio de Janeiro, a presença daquela população tem ocorrido fortemente em áreas urbanas fronteiriças nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre”.

Essa miscigenação é o resultado dos encontros casuais, os romances fazem parte desse cotidiano nas fronteiras, no contexto do universo multicultural dos bolivianos que vivem e trabalham no lado boliviano da fronteira, mas tem sua vida social nas festas noturnas no lado brasileiro. Isto redunda em “casamento entre cambas e brasileiros” (Baeninger, 2012, p. 96). E, sobretudo, nas relações estáveis que numa observação empírica, traduz-se como uma mistura étnica dentro dos padrões de normalidade para os moradores do Vale do Guaporé.

Desde sua ocupação, a região que compreende o atual estado de Rondônia sempre se caracterizou por fixar em suas terras, muitos indivíduos em processo de migração constante e por razões ligadas diretamente aos ciclos econômicos (Teixeira; Fonseca, 1998).

Portanto, sua cultura e seus costumes de uso comum, formaram-se a partir de um mosaico de intercâmbio de saberes, crenças, encontros étnicos e posterior miscigenação, enfim, tudo que é lançado conceitualmente com o nome cultura, que para Cuche (1999, p. 11) ainda não há uma definição sem discordância ou livre de debates, se considerarmos que:

A noção de cultura compreendida em seu sentido vasto, que remete aos modos de vida e de pensamento, é hoje bastante aceita, apesar da existência de certas ambiguidades. Esta aceitação nem sempre existiu. Desde o seu aparecimento no século XVIII, a ideia moderna de cultura suscitou constantemente debates acirrados. Qualquer que seja o sentido preciso dado à palavra - e não faltam definições de culturas - sempre existiram desacordos sobre a aplicação a esta ou aquela realidade.

A posição privilegiada das cidades guaporeanas resulta em movimentos migratórios e nesse ínterim, o intercâmbio cultural acontece com significativa intensidade em múltiplas áreas do comportamento humano e se constitui, enquanto espaço de encontro de gente com culturas diferentes, um ato permanente de confraternização dos povos que oferecem o melhor de suas tradições:

Os traços culturais que demarcam a fronteira podem mudar, e as características culturais de seus membros podem igualmente se transformar - apenas de tudo, o fato da contínua dicotomização entre membros e não membros permite-nos especificar a natureza dessa continuidade e investigar a forma e o conteúdo da transformação cultural (Poutignat; Streiff_Fernart, 1998, p. 195).

O aproveitamento dos valores e experiências surge da reciprocidade cultural, a proximidade da fronteira e o contato ininterrupto entre bolivianos e brasileiros, especialmente nas cidades de Costa Marques e Guajará-Mirim (Vale do Guaporé), suscita o desejo em compreender essa diversidade social criada pelos fluxos de influências reciprocas em diversos setores, aliado ao processo inquieto das transformações culturais que se cristalizam na fronteira (Freyre, 2003).

Para isso, aborda-se a importância desta, baseado no que conceitua Thompson (1992, p. 17) é “preciso preservar a memória física e espacial, como também descobrir e valorizar a memória do homem”. As memórias do universo de Pollack (1992, p. 200), quando fala da memória herdada e afirma que “podem existir acontecimentos regionais que traumatizaram tanto, marcaram tanto uma região ou um grupo, que sua memória pode ser transmitida ao longo dos séculos com altíssimo grau de identificação”.

A diferença da língua nunca se apresentou como o problema para os moradores da região em razão de ser apenas uma questão que pode ser remediada naturalmente, a partir do uso do “portunhol”, explicado pelas hibridações étnicas e sociais presentes na região guaporeana, cujo esteio é a singularidade dos contatos linguísticos entre bolivianos e brasileiros, e o sentido que esta representa para os próprios ribeirinhos, como elementos de formação de suas “identidades, tais como o vestuário, a língua, a moradia, ou o estilo geral de vida” (Poutignat; Streiff_Fernart, 1998, p. 194).

Barbosa (1993, p. 158) diz que “língua, sociedade e cultura são indissociáveis, interagem continuamente, e constituem, na verdade, um único processo complexo”, a língua do indivíduo ribeirinho do Vale do Guaporé e a dos bolivianos que habitam na fronteira geram contribuições que na realidade, transforma-se em fatores de identificação cultural.

No caso do migrante boliviano que vive em Costa Marques, a situação é um pouco diferente. Apesar de incorporarem algumas práticas da cultura brasileira, como os ritos religiosos que incluem frequentar a missa aos domingos ou buscar sua fé na tradicional e seu lar na festa do Divino Espirito Santo, eles procuram manter no universo familiar, seus valores de origem como a língua, a música, a comida, a organização da moradia, as comemorações civis e a educação familiar.

Desta forma, nota-se que esta zona de fronteira interessa sobremaneira aos estudos de contato entre culturas, a partir da descrição das atitudes de sociabilidades de brasileiros e bolivianos, bem como das práticas socioculturais resultantes, incialmente, de uma relação preliminarmente comercial, mas que ultrapassa os limites do trabalho pela sobrevivência, para se transformar numa bem-sucedida experiência de convívio fraterno. Para Burke (2000, p. 20), a “opinião de que uma cultura forma um todo, uma opinião implícita em demonstrações como essas, foi aos poucos sendo formulada com clareza cada vez maior”.

O encontro de culturas e intercâmbio de costumes na fronteira

Somos um povo mestiço desde o início da colonização e vivemos de intercambiar valores com outros povos e outras culturas. Para brasileiros e bolivianos, essa premissa é uma tarefa cotidiana e costumeira nas margens do rio Guaporé. O leque de trocas é bem amplo e inicia-se a partir da culinária, estendendo-se a outras manifestações culturais.

Thompson (1992, p. 44) diz que “a relação entre história e comunidade não deve ter mão única em qualquer dos dois sentidos: antes, porém, ser uma série de trocas, uma dialética entre informação e interpretação, entre educadores e suas comunidades, entre classes e gerações”.

Os bolivianos já se acostumaram com a comida brasileira, com petiscos como o espetinho de carne vendido livremente pelas ruas de Costa Marques. Também manifestam suas expressões corporais pelo consumo de músicas brasileiras ritmadas pelo forró ou pelo gênero sertanejo. A prática do catolicismo é secular e baseada, em especial, na centenária festa do Divino Espírito Santo que inclusive congrega alguns povoados localizados na Bolívia. Possibilitando dentro dos limites a transculturação, como afirma Holanda (1998, p. 40), a “experiência e a tradição ensinam que toda cultura só absorve, assimila e elabora em geral os traços de outras culturas, quando estes encontram uma possibilidade de ajuste aos seus quadros de vida”.

Da mesma forma que vendem seus produtos aos visitantes e aos moradores brasileiros que atravessam o rio para passear nas palafitas de Buena Vista, também são consumidores dos produtos brasileiros, das festanças tradicionais como, por exemplo, as festas cívicas onde geralmente desfilam no sete de setembro como reciprocidade aos brasileiros que participam do seis de agosto, data da independência da Bolívia.

Os brasileiros, por seu turno, estão acostumados com as iguarias vendidas pelos bolivianos em Costa Marques ou em Buena Vista. O cardápio é diversificado e inclui iguarias tradicionais como a salteña (embora esse petisco não seja de origem boliviana, é produzida e muito consumida pelos dois povos), a patasca, espécie de sopa com milho e ingredientes da carne bovina, os pães caseiros e principalmente o massaco, no café da manhã, define-se que “a fronteira foi e é um contexto de trocas culturais, onde foram incorporados costumes, crenças, culinária, música, vestimentas e, em especial, a língua, fator de identidade de uma determinada comunidade” (Baeninger, 2012, p. 302).

Alunos bolivianos também estudam nas escolas brasileiras, fato facilmente identificado pelos sobrenomes tradicionais das famílias, exemplo na escola “José Alves de Almeida” sobrenomes como Bastilhos, Justiniano, Vaca, Suarez, Rivarola, Arza, entre outros. As danças folclóricas são aprendidas facilmente pelos ribeirinhos, sendo a mais famosa a La Cumbia, ritmo sempre bem-vindo e compartilhado por jovens e adultos durante os festejos noturnos ou nos bailes populares, sob o consumo de cerveja Paceña, a mais popular da Bolívia.

Grosso modo, é a troca e a apropriação destes costumes tradicionais que despertam afinidades em seus diversos aspectos culturais que se materializam quando o brasileiro é motivado a deslocar-se especialmente com a finalidade de vivenciar aspectos e situações que podem ser considerados particularidades da cultura boliviana com reciprocidade dos bolivianos, Freyre (2003, p. 28) a convivência não é “apenas uma característica, mas uma vantagem do Brasil”.

A esses aspectos se somam o fato de os ribeirinhos brasileiros praticamente terem os mesmos modos de vida dos ribeirinhos bolivianos. São pessoas simples que vivem do extrativismo vegetal, conserva sobremaneira, a produção de subsistência em seus locais de morada, com venda do excedente e têm na pesca e na caça, o complemento das suas refeições diárias.

A união estável apresenta-se como uma relação forte, baseada em decisões de constituir família, originando a miscigenação étnica entre os dois povos, cujos filhos forma uma nova parcela social que une os dois lados do Guaporé. É um estrato social que se enquadra na afirmação de Ribeiro (2001, p. 453): “Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na ingenuidade”.

Para somar o quadro exposto acima, considera-se ainda, a participação de nordestinos que aqui vieram e estabeleceram-se durante os ciclos econômicos da borracha em números robustos, levando-se em conta que muitos tomaram mulheres ribeirinhas como esposas (brasileiras e bolivianas) e constituíram núcleos familiares, não mais voltando aos seus lugares de origens.

Acrescenta-se ainda a esse caldeirão cultural, migrantes de um processo mais recente (anos 1980 e 1990), que vieram do sul e sudeste do país em busca de oportunidades. Mesclaram-se aos povos ribeirinhos, apropriando-se desse mosaico cultural e apropriando-se dos hábitos, costumes e de parte da cultura geral de ribeirinhos brasileiros e bolivianos, reafirmando o pensamento de Da Matta (1987, p. 24) de que “quando vejo um costume diferente é que acabo reconhecendo, pelo contraste, o meu próprio costume”.

Considerações finais

Os objetivos traçados para a pesquisa foram alcançados, com o aporte teórico dos estudos que envolvem variantes como miscigenação cultural e étnica e o trabalho de campo. Como proposto, discorreu-se sobre um diálogo que se tornará possível, a partir do conhecimento sociológico e antropológico dos povos que vivem na fronteira Brasil/Bolívia no Vale do Guaporé, que este e outros estudos podem revelar.

É objetivo dos autores deste texto, que conviveram por alguns anos trabalhando na região e posteriormente com finalidade acadêmica, registrar o comportamento cultural dos habitantes fronteiriços, seu clima de paz com poucos conflitos, comprovando desta forma, as diversificadas relações diárias de brasileiros e bolivianos, fundamentais para não nos tornarmos capazes de questionar criticamente a hegemonia de uma cultura sobre a outra, modismo em voga em várias regiões brasileiras neste século tomado por recrudescimento do racismo e da xenofobia.

O Vale do Guaporé, onde se localiza o Município de Costa Marques, é um lugar de encontro de todos os estratos sociais que sobrevivem na Amazônia, entre nativos e migrantes, entre indígenas e caboclos, entre brasileiros e bolivianos de todos os segmentos étnicos. São indivíduos que formam diferentes agrupamentos étnicos e que convivem em harmonia, num amplo sistema de relações sociais pautado pelo intercâmbio cultural, caracterizando “um complexo de relações sociais” (Cevasco, 2003, p. 150). Observou-se que, embora na região encontra-se todos os estratos sociais, no entanto prevalece o de vulnerabilidade socioeconômica dos habitantes da cidade de Costa Marques.

Todos esses segmentos populacionais da fronteira, formados por caboclos, índios, negros, brancos e bolivianos formam na região de Costa Marques, um mosaico que dá cores variadas à população do estado de Rondônia. É este contexto de interação que nos leva a Hall (2002, p. 47) quando afirma que “no mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural”.

Considera-se que a relação entre os ribeirinhos que habitam esta fronteira Costa Marques e Buena Vista é regida de forma peculiar, ou seja, o contato cultural entre essas pessoas possuidoras de conhecimentos distintos, que convivem no largo espaço de fronteira, realizando um exercício diário de interação e aproximação, é extremamente único.

Referências

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Notas

1 O Vale do Guaporé é um território localizado na porção sul/sudoeste do estado de Rondônia, abrangendo os municípios de Costa Marques, São Francisco do Guaporé, Alta Floresta, Alvorada d’Oeste, Primavera, Cerejeiras, Rolim de Moura, São Felipe, Alto Alegre, Pimenteiras, São Miguel do Guaporé, Parecis, Seringueiras e Cabixi (Silva, 2012).
2 Diz-se daquele que nasceu ou mora na margem de um rio, na beira de um rio.
3 Palafita é um sistema construtivo usado em edificações localizadas em regiões alagadiças cuja função é evitar que as casas sejam arrastadas pela correnteza dos rios.
4 O Tratado de Tordesilhas foi um acordo feito entre os reinos de Portugal e Espanha, em 07 de junho de 1494, que definiu os limites das áreas de exploração entre ambos na América do Sul. A divisão se daria a partir de um meridiano estabelecido a 370 léguas de Cabo Verde. Nessa partição, as terras descobertas a oeste da linha imaginária pertenceriam aos espanhóis e as terras descobertas a leste pertenceriam aos portugueses. O fim do tratado se deu com a formação da União Ibérica, quando os reinos de Portugal e Espanha foram unificados (Brasil Escola, s./d.).
5 O Tratado de Madri foi um acordo que Portugal e Espanha assinaram em 1750 para resolver as disputas territoriais entre as duas nações na América (Brasil Escola, s./d.).
6 Embarcação miúda robusta, de duas proas, para serviço nos portos.
7 Nome atribuído pelos habitantes da região a arquitetura das construções, onde todas as casas estão assentadas continuamente sobre palafitas.


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