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Epistemologias feministas e escrita: a realização de uma pesquisa como processo de reflexão sobre um estar no mundo
Feminist epistemologies and writing: carrying out a research as a reflection process on being in the world
Epistemologías feministas y la escritura: realizar una investigación como proceso de reflexión sobre el ser en el mundo
Revista NUPEM (Online), vol. 15, núm. 36, pp. 29-42, 2023
Universidade Estadual do Paraná

Dossiê


Recepción: 15 Mayo 2023

Aprobación: 25 Agosto 2023

DOI: https://doi.org/10.33871/nupem.2023.15.36.29-42

Financiamiento

Fuente: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

Nº de contrato: 001

Descripción del financiamiento: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Resumo: O artigo busca discutir como, na trajetória de consolidação de uma pesquisa, a escrita se mostra distante da execução mecânica de etapas, constituindo-se a partir de uma variedade de mudanças que conduzem menos a uma conclusão em si, e mais a uma transformação de um estar no mundo. Esse processo, no relato apresentado, é mediado sobretudo pelo contato com uma epistemologia feminista. Se Haraway desenha as bases da pesquisa feita a partir de um conhecimento situado e Matos-de-Souza (2022, p. 14) define o autobiográfico enquanto gesto de “tentar registrar, de alguma maneira, o que toca e transforma os seres humanos em sua relação com o mundo”, a discussão se encaminha para pensar como a biografia de uma pesquisa se entrelaça com a biografia de quem a realiza, assim como, também, com as narrativas de agentes humanos e não humanos que abrem caminhos a serem percorridos no desenrolar da experiência.

Palavras-chave: Epistemologias fe-ministas, Pesquisa situada, Literatura brasileira contemporânea.

Abstract: The article aims at debating how, in the trajectory of consolidating a research, the act of writing is not a mechanical execution of tasks, but is made of a variety of changes that converge less into a conclusion itself, and more into a transformation of a state of being - a process which, in the presented report, is mediated by the contact with a feminist epistemology. While Haraway designs the fundamentals of a research based on situated knowledges, and Matos-de-Souza (2022, p. 14) defines an autobiographic approach as a gesture of “trying to register, somehow, what touches and transforms human beings in their relation to the world”, the discussion reflects on how an act of researching could bond with the researcher’s biography, as much as with both human and nonhuman agents’ narratives which open pathways to be crossed during the experience.

Keywords: Feminist epistemologies, Situa-ted research, Brazilian contemporary literature.

Resumen: El artículo tiene como objetivo discutir cómo, al consolidar una investiga-ción, el acto de escribir no se trata de una ejecución mecánica de tareas, sino que sucede después de una variedad de cambios que convergen menos en una conclusión en sí misma, y más en un proceso de transformación de un estado de ser - proceso que, en esta discusión, es mediado sobre todo por el contacto con una epistemología feminista. Si Haraway dibuja los fundamentos de una investigación basada en el conocimiento situado y Matos-de-Souza (2022, p. 14) define un abordaje autobiográfico como un gesto de “intentar registrar, de alguna manera, lo que toca y transforma al ser humano en su relación con el mundo”, la discusión reflexiona sobre cómo un acto de investigación podría vincularse con la biografía del investigador, así como con narrativas de agentes tanto humanos como no humanos que abren caminos a recorrer durante la experiencia.

Palabras clave: Epistemologías feministas, Investigación situada, Literatura brasileña contemporánea.

2018, ou: como apreender uma mudança?1

Há sete anos iniciei a pesquisa que daria origem à tese de doutorado intitulada “Pequenos retratos de gestos: histórias sobre mulheres e livros” (Goulart, 2021)2. Localizar o início preciso de um estudo não é algo simples e tampouco tão exato quanto se pode imaginar, mas é possível rememorar um evento marcante na definição do tema. Em uma reunião de orientação, apresentei à Claudete Daflon o livro “Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade” (2017), no qual bell hooks rememora as experiências que viveu como professora para discutir como a sala de aula pode ser um lugar de contestação de relações de poder autoritárias. Logo então comentei: estou profundamente tocada, inquieta, instigada por esse livro. Muito generosamente, a professora Claudete respondeu: se isso é o que motiva você, por que não fazemos desse texto o ponto de partida da sua tese?

À época, descrita por Heloisa Buarque de Hollanda como a de uma “Explosão feminista” (2019a), víamos uma profusão de mulheres reunidas segundo a proposta de debater textos escritos por mulheres, em articulações que tomavam a forma de clubes de leitura como o Leia Mulheres e tantos outros, a exemplo do Clube de Leitura Antirracista, o Clube Lesbos e o Lendo Mulheres Negras. E nos descobríamos arrebatadas pela ressonância que ganhava a pesquisa de Regina Dalcastagnè (2005), que, de forma incômoda, descreve o campo da literatura brasileira da virada do milênio como um espaço marcadamente masculino, branco e heterossexual.

Considerados agora, esses fatores rapidamente podem se combinar como, de um lado, um problema, e, de outro, uma ferramenta, entre muitas possíveis, para solucioná-lo. A hipótese da pesquisa passou a ser, desse modo, a de que o campo literário vivia profundas transformações, e que a organização de mulheres ativistas em torno da leitura de alguma forma movimentava, ao expor suas reivindicações e agendas, as políticas editoriais do país. Enquanto refletíamos sobre esse cenário, bell hooks fornecia, em suas proposições sobre a construção de comunidades de aprendizado, uma inspiração para a realização de uma investigação das relações entre paisagens da recepção e circulação de livros e as políticas de publicação e edição no panorama da literatura brasileira. De fato, a tese seguiria na direção de corroborar essa hipótese. Contudo, como este artigo busca discutir, o método de abordagem passaria por mudanças substanciais ao longo do período de escrita.

A leitura do projeto que se originou do interesse em investigar as relações entre leitoras e produtoras me lembra do que não consegui esquecer um dia sequer, no decorrer dos meses do doutoramento: que comprovar a ideia inicial, a de que há uma mudança em curso no campo literário brasileiro, parecia algo ousado desde o início. Assim, para desenvolver uma proposta audaciosa, propus, em um primeiro momento, abordagens de grande amplitude: do levantamento de dados à realização de entrevistas; da elaboração de tabelas à comparação de parâmetros; da pesquisa de campo em ambientes de leitura à análise do material de divulgação de editoras. A expectativa de responder a uma pergunta ampla parecia possível de ser atendida com uma igualmente ampla investigação. Enumero, então, alguns dos objetivos específicos traçados no projeto: Analisar, verificar, mapear... e realizar alguns levantamentos. Parecia um bom plano. No entanto, a mudança começou a se dar no desenvolvimento da pesquisa. Já nos primeiros estudos, que planejavam adentrar nas epistemologias decoloniais e feministas, junto das atividades de investigação sobre pesquisa situada, foi possível perceber que a tarefa de alcançar essas respostas, ainda que fosse possível, não seria necessária ao desenho da tese.

Dois anos após a data da defesa do doutorado, releio um dos artigos que se tornaram basilares na tarefa de recomposição do projeto, e então deparo-me com a indagação: como pensar deixando de lado a ideia de progresso? A pergunta, proposta por Isabelle Stengers, vem acompanhada de uma outra indagação: “Por que levar a sério as práticas quando sabemos que elas estão em processo de serem destruídas pelo capitalismo?” (Stengers, 2005, p. 185, em tradução livre). Essas são questões que, nas leituras realizadas há cinco ou seis semestres, não chamaram a atenção que lhes dedico agora. Defino então este agora: neste momento curso pós-doutorado em uma universidade localizada na região Centro-Oeste do Brasil, e, enquanto releio a tese, noto que uma das reflexões mais substanciais existentes no tecido do material ali composto é a noção de processualidade.

2020, ou: de um exaustivo levantamento numérico a uma sutil percepção de gestos

À época da escrita dos capítulos da tese, vivíamos o desalento de experienciar uma pandemia que insistia em não ter fim, sobretudo diante do inacreditável negacionismo que se espalhava pelo país. E o projeto de uma tese construída junto a um trabalho de campo era deixado de lado. No mesmo passo, era necessário encontrar alternativas para contornar a impossibilidade de frequentar reuniões dos clubes de leitura, por sua interrupção durante a pandemia do Covid-19.

Assim, em meio a uma discussão sobre crise, sobre alterar os planos iniciais, sobre retraçar a rota e definir novos caminhos, progredir conforme os parâmetros definidos tornava-se quase uma impossibilidade. E a noção de avanço dava lugar a uma ecologia de trocas; ou, como o título final da tese revela, a um estudo em que se entrelaçam gestos. Nesse contexto, na medida em que tinha contato com textos centrados em uma perspectiva feminista que propõe um conhecimento situado e segundo a qual o público e o privado se mostram inter-relacionados e indiscerníveis entre si, aos poucos ganhava espaço a ideia de pensar em narrar a própria biografia da pesquisa. Desenvolvia-se, então, a possibilidade de elaborar um texto que se centrasse no surgimento de personagens interessantes, fossem leitoras, escritoras, ativistas, filósofas ou editoras; a descoberta de fragmentos de sua história; a experiência de lidar com a diferença; o diálogo entre visões de mundo distintas. Sem a necessidade de comparar suas práticas ou pontos de vista. Contemplá-los em suas diferenças, situando suas atividades.

O encontro com Isabelle Stengers e seu já citado frutífero ensaio dedicado a pensar em práticas teve participação ativa nesse desenho e, por sua vez, foi mediado pela filosofia de Donna Haraway e seus escritos sobre redes, fios e camas-de-gato, elaborados na intercessão entre sua formação em biologia, seu ponto de vista feminista e seu trabalho como professora. Assim Haraway nos narra: vivemos em conjunto com espécies de companhia, sejam nossos parentes, amigos, cães, gatos, ou até mesmo bactérias - pois em suas diversas floras um corpo é repleto de microformas de vida que possibilitam a digestão de alimentos e a defesa contra ameaças: “Sentir fome, comer, e parcialmente digerir, parcialmente assimilar, e parcialmente transformar: essas são as ações das espécies de companhia” (Haraway, 2016, p. 65, em tradução livre). Pessoas não conseguem existir sozinhas, ela nos diz, e ideias não se traçam sozinhas.

Pensando em como viver junto em um momento de isolamento social, e pensando juntas, juntos, juntes, em grupos de estudos que surgiram espontaneamente no contexto de interrupção das atividades presenciais na Universidade, encontrei a possibilidade de mergulhar nas publicações de Donna Haraway. O interesse pelas produções da filósofa crescia à medida que descobria que boa parte de sua atenção está voltada aos processos de circulação de textos, ideias, discursos, considerando seus efeitos de produção não só de sentido, como também de mundos. Por exemplo, no ensaio “‘Gênero’ para um dicionário marxista: a política sexual da palavra”, de 1991, a pesquisadora narra como foi convidada para fazer parte da ampliação de uma enciclopédia do pensamento marxista. Nesse contexto, ressalta que práticas editoriais participam da “canonização da linguagem, da política e das narrativas históricas” (Haraway, 2004, p. 203-204). Trabalhando com um conhecimento que não se propõe transparente, a ideia de demarcar as condições de produção de um texto intensifica a desconstrução do mito da imparcialidade do sujeito moderno - e, naquele momento da pesquisa, se mostrava interessante como prática e como reflexão epistemológica, pois o próprio corpo, como uma materialidade do lugar de enunciação, tornava-se constitutivo da produção científica.

Essa busca pela bibliografia da escritora possibilitava pensar não só em metodologias mais instigantes para a realização da pesquisa, como também abria espaço para reflexões sobre questões importantes próprias do tempo presente, e que no período da escrita se mostravam agudas e se tornavam fonte ora de angústia, ora de ansiedade. Enquanto acompanhava as notícias sobre a disseminação de um vírus que evidenciava as relações entre o humano e o além do humano, os escritos de Haraway iam também na direção discutir em que medida a ideia de isolamento em si é passível de revisão. Em um momento em que era necessário alterar as dinâmicas relacionais e manter-se longe da Universidade, seus textos também propiciavam uma gama de questões sobre saberes e sociedade, sobre fluxos e trocas constantes, ainda que muitas vezes imperceptíveis, sobre lugares de enunciação e suas implicações. “Staying with the trouble” é o nome de seu livro mais recente, lançado em 2016, e, numa tentativa de tradução, me deparo com uma cartela de possibilidades. Tumulto, perturbação, desordem, incômodo, bagunça - muitas são as opções que enumero na tentativa de pensar em um nome que trate de nossa situação atual. Habitamos um denso presente, diz a escritora, feito de heranças deixadas por outras pessoas, e precisamos aprender a conviver com os problemas próprios desse tempo: “Lidar com o problema requer o aprendizado de estar verdadeiramente presente. Não como protagonistas efêmeros entre passados edênicos e futuros apocalípticos, mas como criaturas mortais entrelaçadas em uma miríade de configurações inacabadas de lugares, matérias, significados” (Haraway, 2016, p. 1, tradução livre).

Para demonstrar que a processualidade está relegada ao esquecimento nas visões de mundo predominantes no Ocidente, Haraway fala sobre um poderoso mito em nossa cosmologia. Afirmando-se criada em meio a familiares católicos, essa escritora aponta que as narrativas da cosmologia cristã deixam de herança a ilusão de uma presença redentora. O mito de Adão e Eva originários, da mulher nascida da carne do homem, tem como consequência, afirma Haraway, o estabelecimento de uma série de tecnologias e métodos; influências em nosso modo de nos relacionarmos com nossos universos, seja na ideia de inocência, pecado, culpa, julgamento; seja esperança de redenção em um apocalipse que representa o fim da História. Por outro lado, em uma posição radicalmente distinta, o que Haraway nos coloca é a indispensável dimensão de coletividade colocada em um agora, e que se estende tanto às nossas ações quanto aos nossos saberes: “isso é o que chamo cultivar responsabilidade; é também conhecimento e atuação coletivos, uma ecologia de práticas” (Haraway, 2016, p. 34, tradução livre). Dos vínculos entre posicionamentos comprometidos, surge então a noção de articulação entre modos de ser, agir e vir a ser.

Pesquisa e escrita se efetuaram, então, no desenrolar da pandemia da Covid-19, que apresentava a necessidade de retraçar planos; um tempo de assumir responsabilidades, olhar para gestos, admitir a mudança de opinião, a incompreensão, o dissenso. De questionar certezas e visões globalizantes. Tempo de mudar de ideia e replanejar. As propostas teóricas e de construção de pensamento de Donna Haraway, seu senso de humor, alguns de jogos de palavras e as muitas narrativas que essa filósofa oferece afetaram fortemente o trabalho no sentido de abordar o conhecimento de modos menos esquemáticos ou excessivamente racionais, menos numéricos, encontrando na articulação de histórias um lugar em que as mulheres que reúno na pesquisa poderiam se entrecruzar.

Essa ideia ganhou corpo na medida em que a pesquisa sobre a autora unia, de um lado, sua envolvente habilidade de contar histórias segundo seu ponto de vista feminista, e do outro, suas arrojadas propostas teóricas. No artigo “Conhecimentos situados”, de 1988, que na versão em português ganhou o título “Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial” (1995), a pesquisadora disserta sobre a questão da objetividade na ciência. A objetividade, argumenta, é uma junção entre a racionalidade e a posição de quem a enuncia. À lógica de uma verdade, única, imutável, Haraway sobrepõe histórias múltiplas, com variados pontos de vista, afirmando: “a corporificação feminista resiste à fixação e é insaciavelmente curiosa a respeito das redes de posicionamentos diferenciais. Não há um ponto de vista feminista único porque nossos mapas requerem dimensões em demasia” (Haraway, 1995, p. 33). Apenas ao se tornar local, parcial, incorporado, o pensamento se torna não generalizante. Se feito em multiplicidade, ganha tons, matizes, variações.

O interessante nessa visão sobre o conhecimento é que sua construção não só não admite a possibilidade de objetividade fora de um contexto e de uma rede de relações, como também tem o diálogo como parte intrínseca de sua constituição, tecida pela curiosidade, tanto quanto pela conversa. E essa conversa não deixa de lado o que escapa à compreensão, o que, nas teorias da comunicação clássicas é considerado ruído: “o feminismo ama outra ciência: a ciência e a política da interpretação, da tradução, do gaguejar e do parcialmente compreendido” (Haraway, 2016, p. 32). Como tem sido minha conversa com Haraway: feita a partir do não entendido, que gera a busca por outros textos, que, por sua vez - labirinto, atalho, desvio -, abrem caminho para novas ideias.

Ao mesmo passo, a pesquisa encaminhava as reflexões no sentido de compreender qual era o desejo que se colocava naquele momento, pois, tendo acesso a uma bibliografia feminista, pude me deparar com textos que evidenciavam seu lugar de produção, que localizavam seus cruzamentos geográficos, culturais, sociais, e que propunham um olhar sobre o mundo a partir de anseios, sonhos, medos, frustrações e toda a gama de elaborações que cabem a uma experiência de estar no mundo. Estabeleci a tese, portanto, me colocando em meio a singularidades que têm uma multiplicidade de histórias para narrar, e que se mostram capazes de fazer escolhas levando em conta critérios políticos, ou seja, que dizem respeito à distribuição de recursos, ao acesso, a lugares por frequentar.

Enquanto a pesquisa possibilitava o contato com formulações que, em sua constituição, propõem sensíveis reflexões sobre um estar no mundo, uma pergunta ia se consolidando: por que buscar números e apresentar uma resposta quantitativa, como estabelecido no projeto inicial, se os próprios textos escritos por mulheres propunham outras formas de se relacionar com o conhecimento, formas não tão definitivas, não tão exatas? Infelizmente, ou felizmente, na esfera dos eventos e no encadeamento de ideias, as relações de causa e efeito não são tão previsíveis como se imagina. A consequência de um ato está relacionada a toda uma rede histórica, atravessada por fluxos de outros atos.

Assim, ao passo que uma nova abordagem dos saberes se desenhava, a compreensão do novo desenho da tese por vir exigiu também o emprego de ferramentas que auxiliassem em uma visualização dos novos caminhos a seguir. Em um curso de Sociologia da Literatura promovido como projeto de extensão da USP, gratuito e aberto à comunidade, tive acesso a uma breve apresentação de uma ferramenta de análise de corpus. Disponível em um site de uso gratuito, Voyant permite a visualização de termos recorrentes em qualquer texto submetido à análise. Por meio de nuvens, gráficos, tabelas e outros recursos, é possível observar a distribuição de itens ou expressões por seções e combinações com outros elementos lexicais. O recurso a um mapeamento de palavras-chave e à correspondente representação gráfica da composição das ideias foi significativamente interessante para demonstrar as mudanças pelas quais passou o trabalho, ao comparar duas versões do projeto de pesquisa.


Imagem 1:
Representação espacial dos termos mais frequentes no projeto de pesquisa
Fonte: Elaboração própria.


Imagem 2:
Representação espacial dos termos mais frequentes na reconfiguração do projeto
Fonte: Elaboração própria.

A comparação entre o projeto feito após concessão da bolsa de pesquisa financiada pela Capes e sua outra versão, retraçada durante o período de isolamento social, permite identificar alguns aspectos. Enquanto na versão inicial destacam-se os termos “análise”, “levantamento”, “dados”, na segunda elaboração tornam-se palavras-chave “espaço”, “práticas”, “tempo”. Chama a atenção também que “literatura”, um dos termos mais frequentes no primeiro arquivo, é substituída por “leitoras”. Essa nuvem de ideias demonstra, em minha análise, como a avaliação numérica e generalista foi cedendo espaço a uma proposta narrativa embasada nos estudos de gênero desenvolvidos no período. Nesse sentido, a própria ferramenta é interessante como parte de uma mudança de olhar: a tabela sistemática dá lugar a uma rede de palavras. Seria leviano afirmar que os números deixaram de importar à pesquisa. O lugar da abordagem numérica foi o da importante obtenção de informações sobre retratos de leituras. Entretanto, os dados abriram espaço para investigações sobre movimentações, atuações, gestos, atividades e articulações. Passei então a considerar propositivo ter como epicentro a discussão sobre estratégias e práticas que considero efetivas. Donna Haraway (1995, p. 36) nos lembra: “Saberes localizados requerem que o objeto do conhecimento seja visto como um ator e agente, não como uma tela, ou um terreno, ou um recurso [...]. De fato, levar em conta a agência dos ‘objetos’ estudados é a única maneira de evitar erros grosseiros e conhecimentos equivocados de vários tipos nessas ciências”.

Diante da proposta de investigar se os grupos de leitoras organizadas em clubes, redes de sociabilidade e de relações, exerceriam influências sobre as instâncias de publicação de livros, me vi enredada em definições conceituais demais, numéricas demais, generalistas demais, austeras demais em sua proposta. A busca por uma compreensão do funcionamento do campo editorial como autônomo ou heterônomo, muito influenciada pelos estudos de Bourdieu, ou de Dalcastagnè, no caso da literatura brasileira, parecia uma forma de me mostrar capaz de provar meu argumento. Todavia, uma mera pergunta em uma reunião de orientação desmontou as 15 páginas de citações de artigos e as mais tantas por vir. A pergunta: para quê, por quê?

A resposta a esta pergunta está relacionada, é claro, a aspectos biográficos, elaborados no decorrer dos anos e que podem e devem ser evidenciados. Em parte, por me sentir um pouco estrangeira como comunicadora (graduada no curso de Produção Editorial) que se encontrou na pesquisa enquanto pós-graduanda na área de Letras, e talvez buscando um capital cultural mensurável na forma de domínio de explicações teóricas, tentei entender, delimitar, racionalizar os limites de cada uma das classificações que Bourdieu apresenta ao pensar o campo literário. Diante da profusão de conceitos - tão variados quanto capital social, capital econômico, habitus, ethos, trocas simbólicas, bens simbólicos, economia do gosto - passei a me relacionar com as leituras do sociólogo francês de maneira instrumental. Deixei, porém, de observar que um campo pode ser também uma forma de criar uma representação espacial da distribuição de agentes em uma série de relações.

Destaco, nesse sentido, um trecho de um dos artigos que acessei na tentativa de compreender o funcionamento dos campos. Em uma nota de rodapé, o próprio Pierre Bourdieu (2018, p. 226) narra dificuldades que encontrou na realização de uma de suas pesquisas:

Para verificar a correspondência entre o espaço de posições e o espaço das tomadas de posição, pesquisamos 537 textos de 510 autores publicados pelos editores selecionados para nosso estudo, que foram traduzidos para o francês entre julho de 1995 e julho de 1996, considerando, para cada um dos títulos, as seguintes variáveis: gênero (romance, novela, relato, conto), editor de origem e editor de chegada, língua de origem (no caso do inglês, distinguiram-se “inglês” e “americano”), nome do tradutor, nome e sexo do autor, ano de publicação da edição original e da tradução francesa (1995 ou 1996), avaliação da crítica, preço, número de páginas, número total de autores estrangeiros publicados pela mesma editora, número de autores de mesma língua nacional. Dada a amplitude da pesquisa necessária para conduzir esse projeto, ele foi abandonado.

Admiro a sinceridade desse consagrado sociólogo ao admitir que, mesmo com uma grande equipe, um bom plano metodológico e uma consistente experiência em pesquisa, projetos amplos demais podem também ser incompletos. O impossível flerta com as ambições totalizantes. A expectativa envolvida na idealização por vezes impede a ação, paralisa por se assemelhar ao impossível, o inalcançável, o perfeito. Em outro lugar, contar histórias é uma forma de criar uma microrrealidade no aqui e no agora. Expandir o horizonte das histórias já narradas. Fazer pesquisa me tem mostrado que, se contemplo cada elemento com paciência e atenção, posso me deixar afetar por sua forma, suas injunções, suas demandas. E se, entretanto, nos concentrarmos em pequenas possibilidades, sutilezas, minúcias, pequenos passos, universos reduzidos? Natalia Borges Polesso (2020, p. 1-2), uma das personagens abordadas na tese, conversa com esse questionamento ao se ater à dimensão da experiência no desenho de um projeto: “Ou se escala a montanha e dali se observa o todo ou se vai ao rés do chão para se observar o mínimo, a gruta, a curva, o capim molhado, os edifícios, por trás de suas vidraças, as casas e as gentes. Desejar apenas o olhar vertical sobre o mapa é privar-se da viagem, do percurso, da experiência, do que pode ser o horizonte, e o que vem depois”.

Assim, voltando a atenção à gestualidade como estratégia para tentar compreender relações de trocas, exclusões, disputas, coexistências, redes, alianças, precisei, para escrever a tese de doutorado, ouvir muitas mulheres - vivas ou não. Procurei elencar e considerar os fatores que orientam a circulação de um livro. Me vi contemplando alguns campos e tive a sensibilidade alterada a partir do contato com as epistemologias feministas, tanto em sua valorização do ponto de vista parcial e de um conhecimento corporificado, quanto em sua fundamental consideração de sermos atravessadas por outros seres do mundo, que podem até mesmo nos ajudar a viver melhor em tempos complexos. Como faz a poeta Júlia de Carvalho Hansen (2016, p. 16) ao dizer “procuro no vento a consciência das plantas”, descobri, então, que, convivendo com a mediação da inteligência vegetal, consigo dar novas formas de vida ao meu corpo e aos textos, conforme os modos de expressão de agências não humanas. Se o alecrim promove a circulação sanguínea e a clareza de ideias, com aroeira sinto aquecido um centro de criação - seja ele representado por mãos, respiração ou ventre. Trago essa imagem como forma de afirmar que nossas relações são mediadas em níveis tão diversos quanto a gama de propriedades medicinais que encontro na camomila.

2021, ou: narrar alguns vínculos

No livro basilar mencionado ao início deste ensaio, hooks convoca sua comunidade leitora a considerar o corpo na produção do conhecimento e a deixar de lado uma suposta separação entre análises objetivas e a existência de sentimentos e sensações que não cessam de se manifestar. Escolhendo seguir o caminho da síntese entre esses dois polos, o que hooks (2017, p. 258) propõe, então, é que a paixão faça parte da construção de conhecimento: “Eros é uma força que auxilia o nosso esforço geral de autoatualização [...]. Ele pode proporcionar um fundamento epistemológico para entendermos como sabemos o que sabemos”. O interessante dessa proposta é que a paixão é colocada não apenas como parte do que realizamos, mas também como motor e motivo.

Enquanto doutoranda que escrevia a tese em meio à pandemia, pude buscar temas que me pareciam relevantes, urgentes, necessários. Enquanto doutoranda interessada nas escrituras feministas, pude também fazer desses estudos parte de uma práxis, pensando em como esses temas se relacionavam com a minha história e com as mulheres de minha família: mulheres da classe trabalhadora que se orgulhavam em narrar as histórias de vida e de resistência; suas forças e fragilidades; desafios e construções diárias em uma sociedade que concede privilégios apenas a uma parte da população. Esses pares aparecem, na tese, na forma de uma discussão sobre agência e estrutura. Em um país cuja história é a da colonização e de relações de poder desiguais, quais são os espaços para a construção de mudanças?

Como este ensaio narra, a processualidade da pesquisa e da escrita possibilitou, em sua espiral de reinvenções, que a tese se centrasse nas mudanças não a partir de um mapeamento numérico, e sim pelo estudo de histórias de agentes que participam desse momento, mobilizando, para isso, forças como a do Eros sobre a qual fala bell hooks. Teci, desse modo, um trabalho feito de encontros diversos: com essas leitoras e seus clubes de leitura; com as escritoras que fazem parte das escolhas de leitura dos clubes; com pesquisadoras que abordam o tema da escrita e da publicação de livros no Brasil.

O caminho da transdisciplinaridade, por sua vez, se tornou indispensável, na medida em que diferentes discussões se somavam e questionavam a fronteira entre os saberes. Ao longo da investigação, passei a me voltar a trabalhos de pessoas que aparecem transversalmente em toda a escrita dos capítulos, como inspiração, fonte, marco, indicação de posições estratégicas. Uma delas é Heloisa Buarque de Hollanda, que incansavelmente pesquisa e articula e questiona o que já fez, reinventa e traz à tona nomes e textos que ainda não lemos e cuja leitura, ao menos em minha experiência, sempre vale a pena.

O trabalho dessa pesquisadora (Hollanda, 1994; 2019a; 2019b, 2019c, 2020) aparece em sua força no momento em que contemplo algumas movimentações que encontro na crítica feminista no Brasil contemporâneo, em um enfrentamento da necessidade de falar sobre temas como gênero e a questão étnico-racial. Abordo esses temas levando em conta suas relações tanto com o panorama da publicação de livros, quanto com os movimentos feministas. Uma das protagonistas da tese se torna, então, a escritora mineira Cidinha da Silva, em suas múltiplas frentes de atuação, sobretudo como ficcionista e editora independente. Contemplo um pouco da vasta produção que Cidinha da Silva publica em seus livros e em outros canais do ambiente da web, buscando observar quais questões essa agente do campo apresenta, e como se dá a sua elaboração sobre seu trabalho. O interessante, na investigação dos textos de Cidinha, é observar como o seu exercício de autorrepresentação realizado em uma profícua escrita de si exerceu, por sua vez, grandes mudanças na abordagem da pesquisa, uma vez que a investigação de sua atuação se entrelaçou com as reflexões sobre o método de escrita do trabalho.

Tendo sido abordada na tese a partir de três ações: “movimentar”, “vender” e “abrir caminhos”, Cidinha da Silva é uma escritora que, de muitas formas, traz à tese o tema das trocas e das negociações. Se essa editora independente fala sobre caminhos abertos, na tessitura da tese narro o percurso de minha investigação, apontando como se estabeleceu a trajetória pela qual tive contato com a produção dessa escritora. Ao ressaltar a importância das agências humanas e não humanas - ou além do humano - em seu trabalho, Cidinha da Silva conduziu uma ampliação da discussão, me impelindo, com sua escritura, a realizar uma investigação sobre um estar no mundo mediado por forças cosmológicas outras, a exemplo dos Exuzilhamentos que por vezes são tema de sua prosa. A partir dessa narrativa, em que o tema principal é o das trocas honestas, meu olhar sobre uma “ecologia de práticas” - que busca enquadrar na tese ações e posturas de diversas singularidades articuladas em redes - se torna uma “ecologia de trocas”.

Ao passo que me concentrei em narrar pequenos gestos, eu e as pessoas com quem conversei no percurso da pesquisa construímos uma investigação sobre um conhecimento que se estabelece no contato. Nesse sentido, dialogo fortemente com Verónica Gago (2020, p. 12), uma importante teórica na trajetória da pesquisa, quando propõe “a potência do pensamento sempre tem corpo. E nesse corpo se congregam experiências, expectativas, recursos, trajetórias e memórias”. O recorte se dá, então, ao buscar ouvir o que as pessoas que leem e que escrevem podem nos dizer sobre suas experiências de acesso e contato com o texto. A tese se constrói como uma costura de visões, de acordo um olhar que acabou se mostrando interessado, curioso, envolvido e comovido. Sobre um conhecimento que se situa em um aqui, e agora, como Gago (2020, p. 12) afirma, um “pensar situado é inevitavelmente parcial. Parcial não significa uma pequena parte, um fragmento ou um estilhaço, mas sim um retalho em uma arte de bricolagem, uma montagem específica. Como tal, funciona como um ponto de entrada, uma perspectiva, que singulariza uma experiência. Um pensar situado é um processo”.

O que busco apresentar, então, é um modo de entrelaçar a atuação de uma complexa rede de agentes, apreendendo um pouco do que observo e do que elas desejam dizer. Trata-se de um processo de compreensão de modos de se relacionar com textos, escritoras, livros e leitura, em que deixo as próprias pessoas falarem e articulo também seus exercícios de autorrepresentação. Como os relatos não podem ser separados da própria processualidade que é parte da pesquisa, considero bem-vinda a imagem da montagem que Gago traz. Essa pesquisadora propõe a bricolagem como forma de apreender gestos em processo, e, em seus livros, cria densos estudos sobre o que apresento na tese como “saberes do movimento”.

Por último, no escopo dos estudos decoloniais, destaco uma proposta epistemológica que por vezes se assemelha a um vendaval, um furacão, disposto a propor uma radical transformação de nossas formas de conhecer - racionais em demasia, modernas, colonizadas. Essa contribuição vem da importante Gloria Anzaldúa, que soma a um olhar sobre complexos modos de estar no mundo uma apreensão de sentimentos, de formas de conhecer contraditórias, dolorosas, sofridas. Essa escritora chicana, que afirma “que o pesar e a depressão podem se originar no mundo externo” (Anzaldúa, 2002, p. 553), foi uma companhia de escrita em tempos em que lamentamos a perda de pessoas queridas. A força que encontro na produção de Anzaldúa está, exatamente, na sua disposição a experienciar esses sentimentos e a transformá-los em parte de seu trabalho. Em sua proposta teórica, filosófica e epistemológica, que tem em si uma promessa de descolonizar os saberes que nos informam, Anzaldúa sugere que o conhecimento deve se estabelecer também nessa dimensão: a da experiência. Reproduzo aqui, então, um dos fragmentos que mais me marcaram ao longo da pesquisa:

Ao criar uma narrativa pessoal, você também cocria uma história de um grupo/uma cultura. Você estuda a descrição do mundo que lhe é oferecida, captando buracos nos paradigmas que constroem a realidade nesse momento. Você dúvida de que a ciência ocidental tradicional seja o melhor sistema de conhecimento, o único, verdadeiro e imparcial árbitro da realidade. Você questiona sua definição de progresso, cujo destino manifesto imperializa a energia e extingue suas realidades e esperanças de uma vida melhor. Você agora enxerga a história do ocidente como a do controle patriarcal e hierárquico, do medo e do ódio às mulheres; da dominação da natureza; da promessa de expansão do poder da ciência e da tecnologia; da sedução do comércio, e, para ser justa, da celebração de direitos individuais - liberdade, criatividade e ingenuidade. Você vira de cabeça para baixo essa narrativa, olhando o que há por trás dela, resistindo, e subvertendo seus pressupostos. De novo, a denúncia do que há de velho nessa cultura não é suficiente - você deve fornecer novas narrativas incorporando potenciais alternativos (Anzaldúa, 2002, p. 560).

Com esse convite que Anzaldúa apresenta, ao oferecer uma alternativa à racionalidade moderna por meio de uma narrativa, a tese se volta também a enfatizar o que pode haver de desejo em cada pessoa. Se a racionalidade moderna se recusa a abraçar os gestos imbuídos de paixão, de vitalidade, o trabalho se construiu, então, a partir de uma base sensível fornecida por teóricas que propõem um conhecimento que se faz também com ánimo.

Como é possível observar ao longo deste texto, a ideia de simultaneidade atravessa este ensaio cujo objetivo é refletir sobre o processo de elaboração da pesquisa - pesquisa que se mostrou modificada diante de um posicionamento feminista que coloca a necessidade de questionar as fronteiras entre as disciplinas, os saberes, as esferas públicas e a privada, o individual e o político e a separação entre vida íntima e trabalho. E, em mais um recurso à coexistência de gestos em uma temporalidade, destaco que, ao mesmo tempo que todos esses caminhos se estabeleciam, a orientadora da tese lançava um livro em que discutia os cruzamentos entre história de vida individuais e um comum partilhado. Em “Meu país é um corpo que dói”, a pesquisadora Claudete Daflon (2022) aborda o ensaio como gênero propício a uma abordagem transdisciplinar que evidencia o caráter relacional de qualquer pesquisa, de qualquer discurso. Nessa discussão, ela sustenta: “Para um trabalho de criação relacional, uma perspectiva crítica igualmente relacional. Como fazê-lo? Peço ajuda”. Agradeço à Claudete pela ajuda e pelas trocas estabelecidas junto aos laços que criamos como professora e aluna.

Para concluir, é imprescindível dizer que, enquanto o pensamento científico racional moderno separa e, ao mesmo passo, generaliza, considerar seres e ações em seus vínculos é uma forma de estabelecer uma ecologia de práticas. Trata-se de valorizar gestos tais como eles são: ferramentas que auxiliam na definição de ações em um dado enquadramento, e que, com alcance limitado, se dão em conexões. As ações estão, para Stengers (2005, p. 191, tradução livre), condicionadas por vínculos: “vínculos são o que possibilita que as pessoas sintam e pensem, que sejam capazes ou que se tornem capazes”.

Assim, narrar aparece neste processo de pesquisa como forma de construir e movimentar um espaço comum. De possibilitar a formação de articulações. De lançar afetos no mundo. Mulheres como Isabelle Stengers, Gloria Anzaldúa, Verónica Gago, María Lugones, Virginia Woolf, Marisol de la Cadena e Donna Haraway fazem parte da própria matéria bruta que molda o trabalho de escrita da tese, em sua proposta de assumir, como parte intrínseca à produção de conhecimento, o ato de tatear, a experiência de tentar, o gesto de especular, o desejo de caminhar. E de nos ajudar a refletir que uma pesquisa pode ser séria, comprometida, responsável e ao mesmo tempo pode falar da experiência, do corpo, de formas de estar no mundo. Pode falar do medo, dos erros, da insegurança, da ansiedade - de uma necessária discussão sobre saúde mental, enfim, em nossos tempos de produtivismo ilimitado - que aparecem aqui e ali na versão final da tese. E também da curiosidade, do prazer da descoberta, da alegria em compartilhar conhecimento.

Referências

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DAFLON, Claudete. Meu país é um corpo que dói. Rio de Janeiro: Relicário, 2022.

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Notas

1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Notas

2 Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense, com bolsa Capes ao longo de 36 dos 48 meses de trabalho. Este artigo é derivado do corpo da tese, especificamente do capítulo final, dedicado a apresentar uma discussão teórico-metodológica sobre epistemologias feministas e o processo de pesquisa realizado nos anos de doutoramento.


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