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Cartografia da invenção: desaprender no caminhar
Cartography of the invention: unlearning in the journey
Cartografía de la invención: desaprender al caminar
Revista NUPEM (Online), vol. 15, núm. 36, pp. 71-78, 2023
Universidade Estadual do Paraná

Dossiê


Recepción: 09 Mayo 2023

Aprobación: 06 Julio 2023

DOI: https://doi.org/10.33871/nupem.2023.15.36.71-78

Resumo: O presente estudo aborda aspectos do processo de desterrito-rialização de um educador-pesquisa-dor, vivenciados entre 2017 e 2023, período em que passou a cartografar seus processos e devires. Utilizou-se, para tanto, uma metodologia pensada com Deleuze (2011) e Guattari (1990), sempre aberta ao novo. Retrata singularidades de uma pesquisa-experimentação, na qual não apenas a pesquisa foi atravessada, mas também o pesquisador, o grupo de pesquisa, seu ambiente de trabalho e suas relações sociais. É uma proposta de perambulação, assim como carrega em seu objetivo um exercício de deslocamento do centro de gravidade, um desertar, deslocar, abrir fissuras, não só como reflexões acerca da experiência do autor, mas também como provocação aos leitores. Trata-se de uma pesquisa-criação com base em uma experiência do caminhar aberto aos acontecimentos, que verifica nas inconclusões novas formas de se produzir educações menores, a partir de possibilidades inventivas que marcam os trajetos desse caminho.

Palavras-chave: Desterritorialização, Cartografia, Caminhar, Diferença.

Abstract: This study addresses some aspects of the deterritorialization process of an educator-researcher between 2017 and 2023, the period in which he began the cartography of his becoming process. The methodology used is based on Deleuze (2011) and Guattari (1990), thus always open to new ways of thinking. It portrays singularities of research experimentation, in which not only the research was crossed but also the researcher, the research group, their work environment, and their social relationships. It consists of a wandering proposal that aims at moving from the central point, leaving, displacing, and opening cracks not only as a reflection of the author's experience but also as a provocation to the reader. It is a research creation based on an experience open to happenings during the journey, which identifies new ways of producing education by what has not been concluded from inventive possibilities that mark the routes of this path.

Keywords: Deterritorialization, Cartogra-phy, Journey, Difference.

Resumen: Este texto aborda aspectos del proceso de desterritorialización de un educador-investigador entre 2017 y 2023, período en el que comienza a cartografiar sus procesos y devenires. Se usa una metodología pensada con Deleuze y Guattari, siempre abierta a lo nuevo. Retrata singularidades de una inves-tigación-experimentación, en la que no solo se cruzó la investigación, sino el investigador, el grupo de investigación, su entorno de trabajo y sus relaciones. Es también una propuesta de deambular, así como lleva en su objetivo un ejercicio de desplazar el centro de gravedad, desertar, moverse, abrir fisuras no sólo como relato de la experiencia del autor, sino como provocación al lector. Investigación-creación a partir de una experiencia de caminar abierto a los acontecimientos. Tiene como conclusiones nuevas formas de producir educación, una educación menor y sus posibilidades inventivas que marcan los caminos de esta trayectoria.

Palabras clave: Desterritorialización, Cartografía, Caminar, Diferencia.

Introdução

A construção deste texto se dá em processo de desterritorialização de um educador-pesquisador que, após um período de quatro anos afastado do meio universitário e atuando empiricamente como gestor escolar, realiza uma (re)imersão nos atravessamentos que vivenciou desde o início de seu mestrado, em 2017.

Os deslocamentos produzidos com o processo de construção da dissertação de mestrado foram tão impactantes que continuaram ressoando por todos estes anos, mesmo que se tenha distanciado do ambiente acadêmico e do grupo de pesquisa. Como um feixe de luz entrando em um quarto escuro, ou uma rachadura imperceptível, foi dando abertura para aquilo que pedia passagem: o reencontro com o inesperado, o olhar de fora para este processo vivenciado. Uma das frases que mais marcou este professor foi de sua professora-orientadora, coautora deste texto: “Existem aulas que podem demorar 20 anos para fazer sentido. Ficam ressoando”. Não se passaram 20 anos desde o início do cartografar deste educador em seu projeto de pesquisa, mas os seis anos decorridos foram suficientes para retomar uma reflexão acerca dessa trajetória, elaborada no presente texto.

Metodologia

A metodologia que moveu a pesquisa foi a cartografia. Conforme afirmam Virgínia Kastrup, Eduardo Passos e Liliana da Escóssia (2020, p. 17):

A cartografia como método de pesquisa-intervenção pressupõe uma orientação do trabalho do pesquisador que não se faz de modo prescritivo, por regras já prontas, nem com objetivos previamente estabelecidos. No entanto, não se trata de uma ação sem direção, já que a cartografia reverte o sentido tradicional de método sem abrir mão da orientação do percurso da pesquisa. O desafio é o de realizar uma reversão do sentido tradicional de método - não ais um caminhar para alcançar metas prefixadas (metá-hodos), mas o primado do caminhar que traça, no percurso, suas metas.

Um cartógrafo que se permite deixar levar em um processo de desterritorialização. Deixar-se levar na pesquisa mencionada envolveu pensar no processo, com o processo, assim como com os agentes que ocupam e atravessam este educador-pesquisador nos encontros ao longo dos trajetos. Lançando-se em um exercício-jogo de experimentação, produzindo pistas ao longo do caminhar. Permitindo-se errar, construindo-se nas errâncias (Kasper; Tóffoli, 2018). Experimentar movimentos do pensamento: “Pensar é experimentar, mas a experimentação é sempre o que se está fazendo - o novo, o notável, o interessante, que substituem a aparência de verdade e que são mais exigentes que ela. O que se está fazendo não é o que acaba, mas menos ainda o que começa” (Deleuze; Guattari, 2010, p. 133).

Um educador perambulante, cartografando no caminhar com um tempo outro. Movido, com Jorge Larrosa (2016), pelos tensionamentos entre a experiência e suas linguagens. Afetado pelo conceito de “Espaço” e “Lugar” de Yi-Fu Tuan (2012). Instigado pela experimentação de Deleuze e Guattari (1996, 2010). E ainda, com Francesco Careri (2015, 2017) e o Walkscapes, com a prática estética ou com a lógica do caminhar e parar na cidade. Ainda em sintonia com Walter Omar Kohan (2015) e os “Relatos de um viajante educador”. Tempos estes marcados por atravessamentos tantos. Caminhando, partindo, viajando, perambulando, experimentando.

Desaprender no caminhar

Pode-se dizer que este processo foi desconstruído e reconstruído constantemente pelo pesquisador. De início, a dificuldade em lançar-se ao desconhecido. De antemão, trouxe a pesquisa pronta, uma problemática já pré-solucionada. A partir dos encontros com sua professora-orientadora e o grupo de estudos e orientação “SemNomeAinda”, foi deixando-se afetar e sendo provocado a deixar o continente seguro em busca da ilha desconhecida. Pouco a pouco, um feixe foi se abrindo, uma rachadura foi sendo criada. Rachadura inclusive em seu corpo orgânico: até ressonância precisou fazer para ver se estava tudo intacto internamente! Mal sabia que um processo de abertura estava em andamento. Sua professora-orientadora contribuiu para desertar a proposta pré-estabelecida, desterritorializou o que estava territorializado. Foi então que o não visto passou a fazer-se ver.

Este professor-pesquisador lançou-se no espaço em busca de pistas, deixando sua terra segura e abrindo-se a outros espaços. Uma experimentação que afetou o professor, o pesquisador, o jovem de vinte e poucos anos, produzindo devires. Saiu em busca da Ilha Desconhecida, de José Saramago (1998), como em um processo de metamorfose vivenciado pelo personagem Gregor Samsa, na obra de Franz Kafka (2001). Inicialmente, um estranhamento. Um gaguejar da fala, dos pensamentos, das expressões, dos sentimentos. Depois, percorreu mais de 6.000 quilômetros do Sul ao Nordeste do Brasil, com alguns livros em sua bagagem. A proposta inicial envolvia um procedimento: em cada cidade que se estabelecesse leria um livro e partiria para a próxima cidade após a conclusão deste livro. Boa parte da viagem foi conduzida desta maneira. Mas como nem tudo acontece conforme o planejado, esse trajeto também envolveu ruptura de planos, imprevistos, e este professor-pesquisador construiu-se na abertura a estes processos: “Ninguém levanta, cai; e é caindo que, por decréscimo, por diminuição, por desprezo, surgem novas entidades, quase inexistentes, quase nulas” (Lapoujade, 2017, p. 109).

Depois de 28 dias de viagem, retornou para sua cidade natal. Já não encontrou o mesmo espaço que deixou quando partiu. Estava desterritorializado, metamorfoseado, atravessado por outros corpos e experiências. Tratava-se de um novo professor, um novo pesquisador, um novo amigo, um novo profissional. Até um novo surfista (para quem tinha medo de mar e se lançou neste novo esporte). Andou por caminhos nunca trilhados, deixou o processo controlado e garantido de lado para se permitir ao acolhimento do inesperado. Paralelamente, sua atuação como profissional da educação abriu caminhos para novas possibilidades de carreira. De professor tornou-se consultor. Posteriormente, coordenador de uma escola, seguido de coordenador de uma rede com 20 escolas e depois, 40 delas. Mudou-se para outra cidade convidado pela empresa para reorganizar uma instituição de ensino com 5.000 alunos. Em seguida, recebeu o convite para ser diretor de uma escola e voltar para Curitiba (cidade da qual tem partido e voltado desterritorializado).

Neste tempo-espaço de seis anos, muito se atravessou e se criou. Deslocou-se, aprofundou-se, casou-se, adaptou-se, monetizou-se, decepcionou-se, desencantou-se, cansou-se, assustou-se. Deu-se conta de que já não era o mesmo. Como se a caminhada iniciada fosse tomando ritmos diferentes. Quanto mais se afastava de sua pesquisa, do grupo “SemNomeAinda”, mais engessado se tornava. Estava construindo para si um corpo docente funcional, estável e consolidado. Reproduzindo o que uma educação maior (Gallo, 2008) espera de um professor. Caminhava, mas sem experimentar as coisas, sem degustar os momentos. Vivendo sempre a próxima demanda da escola. Não se dava conta, mas quando percebeu, estava criando raiz e não fazendo rizoma (Gallo, 2008).

Na passagem do ano de 2022 para 2023, em seus poucos dez dias de férias do trabalho (pois em uma escola-máquina o tempo é contado), permitiu-se a uma nova abertura. Talvez, como uma retomada de algo do que tenha vivido em sua perambulação durante o processo de mestrado. Viajou até o extremo sul do continente americano, a chamada “Terra do Fogo”, especificamente na cidade de Puerto Natales onde se encontra o Parque Nacional Torres del Paine. Naquele “fim do mundo”, como os habitantes daquele espaço chamam a cidade, foi atravessado por alguns questionamentos e dúvidas que lhe saltaram aos olhos no contato com pessoas do mundo todo, objetos diferentes, modos de existir que escapam às linhas molares (Deleuze, 2011). Entre eles, ciclistas que passam três meses entre o banco da bicicleta e noites dormidas em barracas, mas com muita história para contar pelos trajetos deste pedalar.

Co-movido por essas paisagens, por esses encontros, o educador-pesquisador foi tomado pelo desassossego. Encontros que dispararam questionamentos um tanto abafados pelas rotinas e modo de vida para o trabalho. Questionou-se sobre sua própria existência, sua atuação como educador e sua dureza como pesquisador. Voltou para Curitiba, mas já era outro; não mais o mesmo de quando partiu. A cidade já não era mais a mesma. A escola já não era mais a mesma, a sua casa já era outra, até sua casca já era outra. Decidiu então, reencontrar as escritas de sua dissertação, repensar, reviver o seu processo de mestrado. Em poucos meses releu tudo que tinha escrito ao longo daquele tempo em que esteve dedicado aos estudos acadêmicos e encontrou outros devires, assim como foi afetado novamente. Deixou em sua vida um tempo livre. Reencontrou antigos amigos (já novas pessoas). Releu livros de sua viagem (já novos livros). E começou a estruturar algo que pedia passagem por meio de uma nova cartografia. Uma cartografia-criação, um pesquisar com. Desse processo surgiu um desejo: Cartografar uma educação menor (Gallo, 2008), nesta própria cidade de Curitiba que sempre foi ponto de (re)encontro deste educador. Uma cidade carregada de emblemas construídos: República de Curitiba, Cidade Ecológica, Cidade Sorriso, entre outros títulos atrelados a esta cidade. O objetivo era estar aberto a encontrar virtualidades no caminhar desta. Abertura de um corpo na rua. Abertura para as existências mínimas. Abertura para a criação de outros modos de existência. Outras formas de educação. Uma educação menor (Gallo, 2008) que desloca o olhar para aquilo que não se vê.

Um dos exercícios realizados ao longo deste processo, visto como pista de uma cartografia, foi a prática de uma espécie de diário de bordo existencial, com anotações e comentários acerca das mais diversas situações, dos pensamentos, das leituras, das reflexões, dos encontros e desencontros, das experiências, dos atravessamentos, dos bloqueios, das dificuldades, das descobertas, das invenções e de tantos outros processos. Seguem abaixo alguns destes registros realizados ao longo deste processo cartográfico.

Deslocar-se, perder-se, desterritorializar-se

Um ser que se segura para não cair, por mais que se tente derrubar ele não caía, até que foi tombado. Chamava-se Thiago. Passou a se chamar Caio em um determinado momento. Jogado ao acaso, em busca do nada, daquilo que não se espera. Nas menores coisas, mas que vida há. Todas as vezes que se encontrou firme, a queda foi firmeza. Quanto mais tentava controlar o processo mais era desterritorializado e mais opaca ficava sua visão. Inicialmente foi resistência, como um pilar que fica firme tentando ser sustentação de uma casa antiga. Mas é preciso derrubar a casa, tombar o pilar para que não seja um bloco de concreto e sim estilhaços espalhados por todas as partes. Ao se lançar ao acaso se abre para todas as possibilidades e deixa de ser uno, abrindo-se à multiplicidade. Encontros. Rachaduras. Deslocamentos. Deslocamentos corporais e espaciais. Sente-se imigrante, ou melhor, nômade. Como aqueles que partem e buscam um novo espaço e estão sempre a caminhar. Quando se territorializa, busca ser cigano para se desterritorializar. Constrói paisagens, constrói narrativas, constrói histórias, desconstrói o que fora construído e se reconstrói diverso.

Caminhar, trajetória, perambular

Seja a pé, de carro, bicicleta, barco, avião, jangada, carona, e outras formas de se deslocar neste espaço-tempo, que segundo Doreen Massey (2008) é o das inter-relações, dinâmico, aberto, heterogêneo, visto como esfera da possibilidade de existência da multiplicidade, em construção, aberto e inacabado. Portanto, é neste espaço que se está em movimento, de passagem, em deslocamento, nunca fixo, mas fluxo. Perambular tal como uma alma penada que não encontra habitação e todos sentem sua passagem. Trajetória, linha descrita ou percorrida por um corpo em movimento, o que atravessa. Ação de percorrer um trajeto. É encontro da multiplicidade, da diferença. De um espaço ao outro. Quantos atravessamentos. Indo levando, deixando e transpassando. As temporalidades variam de acordo com o meio que se caminha. Interceptar a paisagem, compô-la de passagem. Paissagem. Trajetagem. Perambulagem. Vadiagem, como aquele que “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Talvez tenha sido contaminado por uma força que o leva sempre a caminhar. Uma vez que caminho se faz caminhando. Nesta estrada da vida, há vidas que pedem carona, outras que pedem passagem, outras que pulsam de forma selvagem.

Educação formal, escola-máquina

Formalizar, formar, forma, disciplinar, disciplinas, sinal, ordem, ordenar, enfileirar, passar de ano, reprovar, estar acima da média, inclusão, aula especial, segmentos, quadro, enquadrar, conselho de classe, recuperação final, reclassificação, hora-atividade, permanência, professora regente, orientadora, secretaria, inspetor, monitor, boletim - de ocorrência, advertência, suspenção, expulsão, intervalo, recreio, regimento escolar, grade curricular, família chata, aluno turista, aluno laudado, aluno bom e aluno ruim, atrasado, aluno que tem futuro e aluno não tem futuro, aluno estranho, aluno malcriado, aluno abandonado, aluno que dá trabalho, aluno tranquilo, aluno agitado, aluno passivo e tantos outros adjetivos que só cabem em uma escola-máquina. Aquela dos tempos modernos, hoje são tempos modernos, das linhas de produção, que não as linhas de fuga. Linhas duras, enfileiradas, com lugar marcado, notas marcadas, vidas marcadas.

Educação menor

É um malabarista no sinaleiro/semáforo. Um senhor com um carrinho de mão cantando aos quatros ventos. Um puma no meio da Patagônia Chilena em busca de uma presa. Um aluno que não quer ir para a escola. Uma criança parada, pelo segurança do shopping, por estar descalça e com um pacote de balas à venda. Ouvir a conversa entre pessoas dentro do ônibus. O silêncio de um elevador. A música que sai da caixinha de som do ciclista o qual também é coletador. A curiosidade dos olhares de algo que rompeu com a ordem de uma cidade, seja um acidente, uma briga, uma gritaria ou um batuque do maracatu. O chafariz que se torna banheira de hidromassagem na praça Osório. Os cartazes que muito dizem: “trazemos a pessoa amada em pouco tempo”; “trabalho sem diversão faz de Jack um bobão”; Jack não está mais ali. Será que já correu ou foi trabalhar? A cidade corre, apaga, exclui, esconde, retira os retirantes, manda para fora, busca expulsar, suspender, repreender, suspeitar, vigiar, organizar, controlar, mandar, editar, comandar, bater, matar. Mas é preciso resistir, inventar, criar, viver, pulsar, mostrar, encantar, caminhar, perambular, ensinar, aprender, mobilizar, solidarizar, multiplicar, cantar, dançar, sorrir e caminhar.

Inconclusões: em busca do que não se vê

O pintor passa por uma catástrofe, ou por um incêndio, e deixa sobre a tela o traço dessa passagem, como do salto que o conduz do caos à composição (Deleuze; Guattari, 2010, p. 239).

Com essas experimentações o solo desertou e o professor foi se inventando. Como afirmam Deleuze e Guattari (1996, p. 62): “As árvores têm linhas rizomáticas, mas o rizoma tem pontos de arborescência”. Desse modo, estamos em constante des-re-territorialização. Muitas vezes não percebemos o processo de enraizamento enquanto ele nos engessa, nos torna mornos. Faz-nos fixos e não fluxos. E este texto afirma a disposição deste professor-pesquisador pelo desejo pulsante em manter-se em um processo de caminhar. Parar apenas se for para captar, observar, atravessar, mas nunca para pausar, acomodar, homogeneizar.

O processo é sempre um entre que se faz no trajeto. Uma pesquisa desse modo nunca é, mas sim estará sempre sendo. Os ecos desse processo após esses seis anos gritam forte. É preciso parar para senti-los, ouvi-los. Sem deixar de caminhar. Afirmando o gosto pelos caminhos incertos, abertos ao acaso dos encontros, nos quais a educação menor se potencializa. Onde a vida pulsa, por maior que seja a dureza de uma cidade que corre.

Com esses movimentos de deserção, de desorientação, possibilidades outras se abrem. Quando se desorienta, vários são os caminhos os quais se podem seguir. Assim este cartógrafo-professor-pesquisador segue... Disposto a lançar-se cada vez mais em busca da desconstrução desta educação-máquina e na invenção de educações menores. A metodologia escolhida para a pesquisa foi fundamental para que se pudesse acompanhar as experiências ocorridas e a criação de outros modos de vida. Espera-se que as reflexões acerca desta perambulação e a proposta em questão possam inspirar outros(as) educadores(as) para peregrinações em novos campos de experiências, abrindo espaço para educações menores por meio da experimentação. Cartografar existências mínimas (Lapoujade, 2017) na cidade de Curitiba. Encontrando sorrisos nas cáries desta cidade. Buscando uma cidade da ecologia dos dejetos, daquilo que está em decomposição e que faz parte de uma ecosofia da decomposição, se pensado o conceito com Guattari (1990). Da República de Curitiba, mas pautada em uma etimologia de República. Res Publica, do latim: coisa do povo, coisa pública. Olhar a cidade ao inverso, dobrar estes conceitos, inverter Curitiba e seus emblemas por meio do que não se vê.

Referências

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