Temática livre
Aulas remotas na percepção de docentes universitários: relação professor e aluno no processo ensino-aprendizagem
Remote classes from the perspective of university professors: professor and student relationship in the teaching-learning process
Clases a distancia en la percepción de los profesores universitarios: relación profesor y alumno en el proceso de enseñanza-aprendizaje
Aulas remotas na percepção de docentes universitários: relação professor e aluno no processo ensino-aprendizagem
Revista NUPEM (Online), vol. 15, núm. 36, pp. 224-236, 2023
Universidade Estadual do Paraná
Recepción: 26 Septiembre 2022
Aprobación: 18 Febrero 2023
Resumo: Com a pandemia da Covid-19, as universidades precisaram se adaptar para dar sequência à formação acadêmica. A pesquisa oportunizou avaliar as aulas remotas, na percepção de docentes universitários, pautados em: facilidades e dificuldades, relação professor/aluno e avaliação do processo de ensino-aprendizagem. Os dados foram coletados por meio de um questionário aplicado com 51 professores em setembro de 2020. Assim os resultados apontam como facilidades: a interação por meio de novas tecnologias, home office e a possibilidade de assistir novamente às aulas. Como dificuldades foram apresentadas: a falta de atenção dos alunos e a baixa participação nas aulas. Os docentes consideraram a qualidade das aulas como “boa”, porém houve prejuízo na relação entre professor e aluno. Por fim, ao avaliar o processo de ensino-aprendizagem, constatou-se que não ocorreu da mesma forma como nas aulas presenciais, contudo as mudanças da nova modalidade, a remota, mostrou ser possível o reinventar em tempos de crise.
Palavras-chave: Aula virtual, Pro-fessores universitários, Pandemia de Covid-19, Ensino-aprendizagem.
Abstract: With the Covid-19 pandemic, universities needed to adapt to continue their academic training, using remote classes as a strategy. This research made it possible to evaluate such classes, in the perception of university professors, regarding the following topics: facilities and difficulties; teacher/student relationship, and the evaluation of the teaching-learning process. The respective data were collected through the application of a questionnaire with 51 teachers in September 2020. The obtained results point to advantages, such as the interaction with new technologies, working from home, and the possibility of attending classes again. As for the difficulties, there is the lack of attention from the students, and the absence in classes. Besides, the teachers considered the quality of the classes as “good”, but there was a poor teacher-student relationship, due to the hindered contact. Finally, when evaluating the teaching-learning process, it was seen that it is not the same as in face-to-face classes. Thus, the present study concluded that changes and reinvention are of great importance in times of crisis.
Keywords: Remote class, University professors, COVID-19 pandemic, Teaching-Learning.
Resumen: Con la pandemia del Covid-19, las universidades necesitaban adaptarse para continuar con su formación académica, utilizando como estrategia las clases a distancia. La investigación permitió evaluar tales clases según en la percepción de los profesores universitarios, considerando las facilidades y dificultades, la relación profesor/alumno y la evaluación del proceso de enseñanza-aprendizaje. Los datos fueron recolectados a través de un cuestionario con 51 docentes en septiembre de 2020. Los resultados indican como facilidades: la interacción a través de nuevas tecnologías, el trabajo en home office y la posibilidad de asistir a clases nuevamente. Como dificultades, se apuntaron: la falta de atención de los alumnos y la baja participación en las clases. Los profesores consideraron la calidad de las clases como “buena”, pero hubo una reducción en la relación profesor-alumno, debido a la dificultad de contacto. Igualmente, cuando se evalúa el proceso de enseñanza-aprendizaje, se consideró que no era lo mismo que en las clases presenciales. El estudio concluyó que los cambios y la reinvención son de gran importancia en tiempos de crisis.
Palabras clave: Clase virtual, Profesores universitarios, Pandemia de Covid-19, Enseñanza-Aprendizaje.
Introdução
A pandemia da Covid-19, anunciada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em março de 2020, acarretou impactos sociais, econômicos e educacionais no mundo. Certamente será um marco histórico, em decorrência das mudanças na rotina de vida, isolamento social, adoecimento, perdas de familiares e muitas incertezas para o futuro.
Essa realidade resultou em mudança no modo de ensinar e aprender, evidenciando que as tecnologias passam a ocupar uma posição diferenciada. Nesse contexto, o uso da tecnologia, até então muito mal empregada por grande parte dos educadores, torna-se recurso fundamental durante o período da pandemia (Vercelli, 2020). Eletrônicos para acesso à internet, antes frequentemente discutidos quanto ao uso com crianças, passam a fazer parte da vida dos estudantes, inclusive para a idade pré-escolar (Berry, 2020).
No ensino universitário essa realidade não é diferente, foram necessárias mudanças e adequações tecnológicas para mediar os processos de ensino-aprendizagem (Reis et al., 2021). O rápido acesso e ilimitado sobre o mundo, principalmente quando o distanciamento social (físico) é uma ação preventiva e profilática, na educação os conhecimentos acadêmicos passaram a ser disseminados a distância ou de forma remota, com eficácia e rapidez nunca antes vistas (Churkin, 2020). E, por intermédio das tecnologias da informação e da comunicação (TICs), a sociedade passa a fazer uso desses recursos para a participação de reuniões, aulas, palestras, oitivas, treinamentos, votações, julgamentos e outras atividades, antes presenciais.
Nas instituições de Ensino Superior, para preservar a segurança de suas comunidades e seguir as orientações de saúde pública, universidades e faculdades em todo o mundo mudaram rapidamente para modelos de ensino-aprendizagem totalmente on-line, implementaram trabalho remoto para a maioria dos funcionários e fecharam inúmeros espaços públicos e programas (Wigginton et al., 2020).
No Brasil essa mudança foi assegurada pela Portaria n. 343 e alterada na Portaria n. 345 (Brasil, 2020a), publicada em março de 2020, no Diário Oficial da União (DOU). A portaria “dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19” (Brasil, 2020a, p. 1). Para evitar contato físico entre professores e acadêmicos, algumas instituições optaram pela suspensão temporária das aulas. Outras optaram por aulas remotas, interagindo com os acadêmicos por sistemas de web conferências.
Este processo de ensino permite que professores e alunos tenham condições de realizar interações e organização da aprendizagem, de forma mais próxima à educação presencial, atendendo à autorização da Portaria mencionada (Arruda, 2020). Diante do apresentado, a presente pesquisa tem como objetivo avaliar a percepção de docentes universitários sobre as aulas ministradas de forma remota durante o primeiro ano da pandemia por Covid-19.
Ensino remoto em tempos de pandemia
Com o advento da pandemia por Covid-19 foram necessárias mudanças no ensino superior a fim de garantir a continuidade nas atividades acadêmicas, como relatado anteriormente. A qualidade do conteúdo/informações e a “testagem” de novas ferramentas digitais, como forma de manter a aproximação professor-aluno, foram desafios enfrentados por professores universitários. Os avanços tecnológicos em ascensão nas últimas décadas propiciaram uma nova perspectiva de ensino na formação acadêmica e para o ensino-aprendizagem no intuito de atender o objetivo maior: combater o vírus e preservar vidas (Barreto; Rocha, 2020).
Pesquisas apontam que os professores têm dificuldades de lidar com as inovações em sua prática, pois promovem reflexões “de quem eles são, dos seus valores, representações e atitudes” (Riedner; Pischetola, 2021, p. 67). Inicialmente, percebeu-se resistência, por parte dos docentes, em aceitar as novas TICs. Entre as justificativas, o fato de essa modalidade de ensino não fazer parte da rotina. E, ao buscar conhecê-las e aplicá-las, o professor identifica fortes possibilidades de acesso a novas formas de proporcionar conhecimento.
Nesse contexto, as tecnologias tornaram-se referência potencializadora para a manutenção da conexão educacional, pelas inúmeras soluções tecnológicas e por manter a aproximação professor-aluno (Arruda, 2020, p. 264): “Por meio das tecnologias, demonstraram importantes iniciativas no sentido de considerar a excepcionalidade do momento e desconstruir possíveis imobilismos que pudessem comprometer a importância da educação na vida das pessoas”.
O uso das TICs, no início da pandemia, gerou algumas controvérsias. Entre elas, o fato de a Educação a Distância (EaD) apresentar algumas características no Brasil, mas que diferem das aulas remotas. Para a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), a educação por meio da EaD ocorre de forma assíncrona, quer dizer, o aluno pode assistir às aulas no horário que melhor lhe convier, com as aulas geralmente gravadas (Progetti, 2020). Já as aulas remotas, denominadas síncronas, ocorrem em tempo real, com a presença do professor em horário previamente agendado, com a participação de alunos de uma turma, em que a interação acontece e as dúvidas podem ser sanadas a qualquer momento.
Da mesma forma, para Hodges et al. (2020), a educação remota on-line digital se diferencia da Educação a Distância pelo caráter emergencial que propõe usos e apropriações das tecnologias em circunstâncias específicas de atendimento, na qual, outrora, existia regularmente a educação presencial. Vercelli (2020) corrobora, quando trata das aulas remotas, em universidade particular de São Paulo, em ambiente virtuais, como Google Meet, no curso de mestrado em Educação, para promover a interação professor/aluno. O autor destaca os seguintes aspectos positivos das aulas: permanência da qualidade das aulas; ampliação do vínculo com colegas e professores; otimização do tempo (não haver a necessidade de deslocamento para Universidade); economia com o transporte. Destaca que nada substitui o ensino presencial, mas as aulas remotas podem ser utilizadas em determinados momentos da formação.
Diante de todas essas mudanças, encontra-se a figura do docente, que precisa estar aberto a “aprender” essas novas tecnologias e aplicá-las em suas aulas remotas. Diante disso, temos a realidade do home office, termo que teve origem em meados de 1970, caracteriza-se como uma forma de trabalho flexível, decorrente das evoluções tecnológicas que aconteceram ao longo dos anos, possibilitando assim uma forma de trabalho tanto para a organização quanto para o sujeito (Haubrich; Froehlich, 2020).
Nesse sentido, foram apresentados alguns fatores envolvidos nas aulas remotas, que são um “modelo” de ensino-aprendizagem recente, merecedor de muitos estudos e pesquisas, para poder, no futuro, ser utilizado como estratégia diferenciada nos contextos de aprendizagem no Ensino Superior.
Material e métodos
A pesquisa é qualitativa e quantitativa, considerada como uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, parcialmente traduzível em números, mas acessível à atribuição de significados, mediante uma análise indutiva dos dados coletados em campo (Gil, 2008).
Participaram da pesquisa 51 docentes universitários de uma Instituição de Ensino Superior (IES) do Meio-Oeste Catarinense, atuantes no primeiro semestre de 2020, nos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Ciências Biológicas, Direito, Educação Física, Enfermagem, Engenharia Civil, Engenharia de Software, Farmácia, Fisioterapia e Psicologia. Quanto à formação do grupo investigado, 17 docentes são especialistas, 23 são mestres e 7 são doutores.
O instrumento de coleta de dados foi um questionário, construído no Google Forms, composto por questões de respostas curtas, questões múltipla escolha e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), elaboradas a partir dos objetivos propostos nesta pesquisa. O projeto de pesquisa foi cadastrado na Plataforma Brasil e apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, sendo aprovado pelo CAAE: 36380220.2.0000.0117, com Parecer n. 4.217.692. Como forma de compreender e analisar os dados coletados, utilizou-se a análise de conteúdo, que se “caracteriza como um método de investigação do conteúdo simbólico das mensagens” (Beuren et al., 2006, p. 137).
Resultados e discussões
Perfil dos participantes
Dos 51 docentes entrevistados, 28 são mulheres e 23 homens, predominando uma faixa etária de 20 a 50 anos. Quanto ao tempo de atuação junto à instituição, 2 atuam há menos de 1 ano; 22 atuam entre 1 e 6 anos; 9 atuam entre 7 e 17 anos; 4 entre 18 e 20 anos, e 14 docentes atuam na IES há mais de 21 anos (Tabela 1). Portanto, quanto ao tempo de atuação na instituição, a maioria dos pesquisados respondeu estar há menos de 6 anos na instituição (entre 1 e 6 anos) ou mais de 21 anos.

Quando relacionamos faixa etária e gênero, é possível observar no grupo pesquisado que entre os docentes mais jovens predominam profissionais do gênero feminino. No grupo de docentes na faixa de 38 a 43 anos os resultados são os mesmos e, a partir dessa faixa etária, quase não há variação de gênero no grupo pesquisado, com fraca predominância para o gênero feminino (Gráfico 1).

A partir da relação entre as variáveis é possível afirmar que esse resultado mostra o cumprimento da igualdade de gênero como proposto nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 5), na Organização das Nações Unidas (ONU, 2023). Entre as metas propostas por este objetivo, o item 5.5 se propõe a “garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.”
Facilidades e dificuldades das aulas remotas
A educação, como outros setores sociais, também se deparou com desafios, necessitando se adaptar à nova realidade. Em muitas circunstâncias, as atividades de ensino foram realizadas com enfrentamento de dificuldades, mas necessárias, para poder prosseguir com as atividades no contexto da pandemia. Nesse sentido, buscou-se compreender as facilidades e dificuldades vivenciadas pelos docentes universitários no que se refere às aulas remotas.
Entre as dificuldades neste processo de ensino, os professores relataram a falta de atenção e participação dos acadêmicos nas aulas remotas, como as dificuldades mais evidenciadas por esse grupo de docentes (Tabela 2). Em seguida, a falta de contato com outros professores, evidenciando a importância da interação social “face a face” no cotidiano educacional. Também, “existe uma questão social, relacionada com os recursos que os alunos devem ter disponíveis, como conexões apropriadas de internet e bons dispositivos computacionais para acompanhar as aulas” (Kronbauer, 2020, p. 622).

Quanto à pouca participação nas aulas, inúmeros fatores podem estar presentes, como a falta de motivação pessoal, dificuldade do professor em promover a interação (como nas aulas presenciais). Ou os docentes relatam a dificuldade do contato com outros professores, fato que evidencia a relevância da troca e aprendizado por meio da interação social com os colegas (Raposo; Maciel, 2005). Importante contextualizar que em ambiente domiciliar o acadêmico está sujeito a diversas distrações, às quais não há possibilidade de controle pelo docente.
Diante disso, é necessário que o professor esteja atento à elaboração das aulas para torná-las mais atrativas. É imprescindível utilizar recursos virtuais criativos, conteúdos contextualizados e relacionados ao cotidiano do estudante. Dessa forma, é possível construir ambiente propício para que a aprendizagem se torne mais significativa, dando oportunidade para que ele possa interagir na aula.
Diferentemente do que ocorre durante as aulas presenciais, nas quais basta o aluno erguer o braço para interagir com o professor, essa ação é mediada por uma tela que, muitas vezes, não está instalada em um espaço adequado aos estudos (Catanante; Campos; Loiola, 2020). Para os autores, estudar de maneira sistemática exige um espaço adequado, com boa iluminação, ausência de distrações, acesso científico e tecnológico. Portanto, muitas dificuldades encontradas estão associadas ao contexto social, à falta de políticas públicas que corroboram com o descaso de grande parte da população brasileira.
Em relação às facilidades proporcionadas pelo ensino remoto, na percepção dos pesquisados, 37 professores selecionaram a interação por meio de novas tecnologias no ensino remoto como ponto facilitador do ensino virtual. Os pesquisados fazem referência à percepção de que as instituições precisam se ressignificar e se redescobrir, abrindo as portas para um novo contexto tecnológico. Para isso, a instituição precisa estar preparada para a inclusão tecnológica, tanto dos alunos quanto na formação continuada de professores. Estudos mostram que muitos professores apresentam dificuldades para atividades simples, como preenchimento de diário de classe (Bronzoni et al., 2020).
A instituição estudada faz formação contínua aos novos professores e, nos últimos anos, proporcionou formações para uso de tecnologias da Google for Education. Contudo, a pandemia promoveu um processo de aceleração na digitalização do conhecimento e rotinas escolares, fato que resultou em mudanças nos processos de ensino (Martins, 2020; Oliveira; Carreiro, 2020).
Outro aspecto considerado facilitador foi o fato de que as aulas são ministradas de casa, sendo o trabalho home office considerado para muitos como o trabalho do futuro. Muitos trabalhadores nessa modalidade consideram vantagens, redução de deslocamento, alimentação, gestão individual, maior contato familiar e melhor qualidade de vida (Haubrich; Froehlich, 2020). Já os benefícios para a empresa se devem ao fato do aumento da produtividade, menores custos, flexibilidade no planejamento do trabalho. E, como benefícios para a sociedade, salienta a diminuição da poluição, geração de emprego, além das fronteiras regionais, permitindo desenvolvimento regional e flexibilidade de emprego às pessoas com dificuldade para deslocamento.
Qualidade da aula remota
Referente à qualidade das aulas remotas, foi apresentada a seguinte pergunta: “Como você avalia a qualidade das suas aulas remotas?”. Nas respostas, 40 docentes consideraram as suas aulas boas; 6 regulares; 4 como ótimas e 1 como ruim (Tabela 3).

Um facilitador do ensino remoto citado acima é o fato de os professores assistirem às aulas novamente. Esse acesso pode ser compreendido como um momento de autoavaliação, como processo pelo qual um indivíduo avalia por si mesmo (Régnier, 2002), pois possibilita refletir sobre sua performance em relação à sua atividade profissional, possíveis mudanças de atitudes e, consequentemente, melhor desempenho.
Analisar a condução de sua própria aula pode definir alternativas para aprimorá-la. Por exemplo, se, no presencial, uma aula de 50 minutos tende a ser cansativa, no ensino remoto pode ser ainda mais improdutiva. Esse tipo de atividade exige um investimento de energia física, mental e emocional, mesmo considerando que essa mudança é um mal necessário, fruto do inevitável curso da vida, do qual somos vítimas em tempos de pandemia (Valente et al., 2020).
Quanto à adaptação dos conteúdos ou materiais didáticos, os docentes relatam a necessidade de adaptá-los, tanto para os conteúdos quanto para o material didático. Rosa (2020) também considera que, em razão da pandemia causada pelo novo coronavírus, foi preciso que os professores tivessem de reformular e adequar seus planos de aula para esse novo modelo de ensino, além de buscar novas estratégias de ensino.
Relação professor/aluno em tempos de pandemia
Na relação professor e aluno as aulas virtuais impactaram no aprendizado e motivação do aluno. Em especial no Ensino Superior, pode contribuir na formação acadêmica e profissional, preparando o indivíduo para o mercado de trabalho. Nesse sentido, buscou-se compreender, na percepção dos docentes, de que forma as aulas remotas impactavam na relação entre professor e acadêmico. Conforme gráfico 2, para 28 dos docentes participantes da pesquisa, a relação professor e aluno enfraqueceu durante a pandemia e, para outros 16 professores, houve prejuízo no contato com esses alunos.

Esses dados nos mostram o quanto, na percepção dos docentes, houve prejuízo nessa relação, pois foi uma mudança abrupta, sem haver muito planejamento e compreensão do que seriam aulas remotas. As emoções podem estar presentes na busca do conhecimento, nas relações com objetos físicos ou com as concepções de outros indivíduos (Valente et al., 2020). Afeto e cognição constituem aspectos inseparáveis, pois o convívio com novas pessoas no âmbito universitário pode contribuir para um elevado índice de acadêmicos que possuem alguém para conversar, dar e receber afeto (Malafaia et al., 2019).
Com a pandemia, a relação em sala de aula sofreu alterações, as quais foram necessárias na busca por distanciamento social. Portanto, no ensino a distância e remoto houve uma dificuldade inerente quando comparados ao ensino presencial no que diz respeito à comunicação e interação, pois há consenso de que não há interação remota que substitui a interação face a face (Bronzoni et al., 2020).
Cabe ressaltar que, no ensino presencial, o contato visual permite ao docente compreender as percepções do aluno por meio das expressões corporais, verificando, de forma imediata, se o aluno atingiu ou não a compreensão do tema proposto (Marcondes; Degásperi, 2014). Desse modo, é possível a apresentação de novas medições sobre o mesmo tema. Destaca-se que, essa virtual distância é severamente reduzida por meio da afetividade, pois demonstra ao aluno que ele não está só nesse processo longo do saber (Marcondes; Degásperi, 2014). Portanto, no ensino remoto, o professor precisa instigar a empatia dos alunos, sua confiança, para manter um ambiente produtivo e contribuir para o fortalecimento dos laços afetivos.
Processo de avaliação no ensino remoto
A avaliação é uma ação de suma importância para o processo de ensino-aprendizagem, já que demonstra os conhecimentos, atitudes ou aptidões que os discentes adquiriram em determinado conhecimento construído. E, nesse contexto, demanda de ferramentas tecnológicas, métodos inovadores de ensino-aprendizagem, para que promova mudanças em sala de aula.
Por conta disso, perguntamos aos participantes: “Em sua opinião, por meio das aulas remotas, foi possível realizar a avaliação do processo ensino-aprendizagem de forma adequada?” A partir de suas respostas constata-se que, para 45,1% dos docentes foi possível realizar o processo de avaliação, mas não da mesma forma se as aulas ocorressem presencialmente (Gráfico 3). Considerando que os professores já estivessem habituados a realizar e acompanhar o processo ensino-aprendizagem, no formato de aulas remotas foi necessário fazer adaptações nas avaliações, para que pudessem ter um retorno mais fidedigno do aprendizado e que não comprometesse o acompanhamento ao aluno.

O processo avaliativo dos discentes no período de pandemia do Coronavírus precisava de uma atenção maior em razão da sua importância metodológica e pedagógica: “Até porque parece que tudo continua igual ao que sempre foi, provas e trabalhos valem a aprovação ou reprovação, porque são necessários” (Salatino; Morés, 2020, p. 90).
Essa incerteza do retorno às aulas presenciais trouxe consigo a necessidade de planejar estratégias, tanto para a rotina de aula quanto para o método de avaliação. Muitos questionamentos surgiram, vindos dos gestores escolares, professores e todos os envolvidos em cada etapa do processo de ensino. Sabe-se que as metodologias utilizadas para a avaliação sempre foram motivo de questionamento pelos docentes e discentes quanto à sua real eficácia (Arruda, 2020).
Nesse contexto, o Conselho Nacional de Educação, por meio do parecer CNE/CP n. 5/2020, modifica a avaliação de forma presencial em caráter excepcional, abrindo a possibilidade para a “realização de testes on-line ou, por meio de material impresso entregue ao final do processo de suspensão das aulas” (Brasil, 2020b, p. 14).
Ao adotar o ensino remoto emergencial, é necessário manter a avaliação do processo de ensino-aprendizagem para verificar se os objetivos educacionais como um todo foram atingidos, quer dizer, se o aluno adquiriu, além do conhecimento técnico necessário, as competências, habilidades e atitudes requeridas para o novo perfil de profissional requerido (Joye; Moreira; Rocha, 2020; Silva; Meinhardt, 2018).
Ao longo da história da educação no Brasil, a avaliação sempre foi vista como um processo complexo. Na situação atual da Covid-19, não é possível avaliar os alunos como nas aulas presenciais, tendo de reinventar o que era uma educação convencional. Considerando as informações expostas, é de suma importância ressaltar que os professores e os alunos precisam estar abertos a novas formas de trabalho e, principalmente, à forma de avaliação.
Considerações finais
Este artigo teve como objetivo apresentar algumas considerações sobre o impacto da pandemia da Covid-19 no Ensino Superior em uma universidade comunitária. A pesquisa mostrou que uma das principais dificuldades encontradas pelos docentes foi a falta de atenção dos alunos. E, como facilidade, a interação é feita por meio das tecnologias, sendo que foi possível ter uma boa qualidade de aula, mas houve a necessidade de adaptação quanto ao conteúdo proposto. No que se refere ao relacionamento professor/aluno, houve enfraquecimento em consequência do distanciamento. Nos processos de avaliação do ensino-aprendizagem, os docentes consideram que foi possível fazer, mas não do mesmo modo do que no ensino presencial.
Com base nas afirmações apresentadas, nota-se que é de suma importância se reinventar em tempos de crise. A Covid-19 tem mostrado que as mudanças precisaram acontecer de forma aprimorada e urgente, a fim de beneficiar todos os envolvidos nesse processo, visto que no início de 2020 não havia data prevista para o retorno imediato das aulas. Considerando os efeitos no processo educacional, todos os envolvidos tiveram de unir forças e ideias para melhorar as estratégias de ensino na universidade, observando-se os impactos que a mudança gerava no ambiente de aprendizagem.
Nesse momento de pandemia deve-se, também, buscar valorizar os esforços que a educação está fazendo para minimizar as possíveis perdas, para que, assim, com o retorno das aulas presenciais, não tenham tantos danos no processo de ensino-aprendizagem. Há a necessidade de refletir sobre a situação desafiadora que está sendo vivenciada, a qual emerge para a necessidade de explorar e criar formas de avaliar e planejar o processo de ensino-aprendizagem.
Agradecimentos
Ao Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina (UNIEDU) pelo financiamento à pesquisa.
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