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“A gripe espanhola como lição”: a pandemia de 1918-1919 nos jornais “O Globo” e “Folha de S. Paulo” (1941-2020)
“The Spanish flu taught a lesson”: the 1918-19 pandemic in the newspapers “O Globo” and “Folha de S. Paulo” (1941-2020)
“La gripe española como lección”: la pandemia de 1918-19 en los periódicos “O Globo” y “Folha de S. Paulo” (1941-2020)
Revista NUPEM (Online), vol. 13, núm. 29, pp. 13-35, 2021
Universidade Estadual do Paraná

Dossiê


Recepción: 16 Diciembre 2020

Aprobación: 24 Marzo 2021

DOI: https://doi.org/10.33871/nupem.2021.13.29.13-35

Resumo: A gripe espanhola, como ficou conhecida a pandemia de influenza de 1918-1919, tem sido recordada pelos veículos de mídia, especialmente durante a pandemia da Covid-19. Ao longo de 2020, os jornais estabeleceram paralelos entre as experiências subjetivas, os efeitos sociais e econômicos, e as medidas de isolamento social adotadas nos dois contextos. Neste artigo, analisamos as referências à pandemia de 1918-19 em “O Globo” e na “Folha de S. Paulo”, entre 1941 a 2020. Argumentamos que a gripe espanhola foi mencionada, nesse período, como parâmetro para outras epidemias, a partir do foco sobre o contágio e a letalidade da doença. Entretanto, durante a pandemia da Covid-19, os jornais destacaram aspectos históricos da gripe espanhola e valorizaram o diálogo com historiadoras e historiadores, desde uma perspectiva na qual a história figura como uma lição a ser observada no presente e no futuro pós-pandemia.

Palavras-chave: Gripe espanhola, Covid-19, O Globo, Folha de S. Paulo.

Abstract: The Spanish flu, as the 1918-1919 influenza pandemic became known, has been remembered by media outlets, especially during the COVID-19 pandemic. Throughout 2020, newspapers drew parallels between subjective experiences, social and economic effects, and measures of social distancing adopted in both contexts. In this article, we analyzed the references to the 1918-19 pandemic in “O Globo” and in “Folha de S. Paulo”, between 1941 and 2020. We argue that the Spanish flu was mentioned, in that period, as a parameter for other epidemics, from the focus on the contagion and lethality of the disease. However, during the COVID-19 pandemic, the newspapers highlighted historical aspects of that pandemic and valued the dialogue with historians, from a perspective in which history appears as a lesson to be observed in the present and in the post-pandemic future.

Keywords: Spanish flu, Covid-19, O Globo, Folha de S. Paulo.

Resumen: La gripe española, como se conoció la pandemia de influenza de 1918-1919, ha sido recordada por los medios de comunicación, especialmente durante la pandemia de Covid-19. A lo largo del 2020, los periódicos trazaron paralelismos entre las experiencias subjetivas, los efectos sociales y económicos y las medidas de aislamiento social adoptadas en ambos contextos. En este artículo analizamos las referencias a la pandemia de 1918-19 en “O Globo” y en “Folha de S. Paulo”, entre 1941 y 2020. Argumentamos que la gripe española fue mencionada, en ese período, como parámetro para otras epidemias, desde el foco en el contagio y la letalidad de la enfermedad. Sin embargo, durante la pandemia de Covid-19, los periódicos destacaron aspectos históricos de esa pandemia y valoraron el diálogo con historiadoras e historiadores, desde una perspectiva en la que la historia aparece como una lección que observar en el presente y en el futuro pospandémico.

Palabras clave: Gripe española, Covid-19, O Globo, Folha de S. Paulo.

Introdução1

“Senhor presidente,

No domingo esteve aqui o Oswaldo Cruz, assombrado. Ele viu como o senhor vem se comportando diante da pandemia do coronavírus. Repito o que ouvi dele: “Coisa de pajé, de benzedeira”. O Oswaldo, com sua formação alemã, é um homem de palavras duras, mas creio que ele não exagera.

Escrevo-lhe com autoridade. Vosmecê está na cadeira em que estive de 1902 a 1906. Eu deveria ter voltado à Presidência em 1918, mas peguei a gripe espanhola e morri. Durante meu governo, com a ajuda do Oswaldo, instituí a vacina obrigatória contra a varíola e livrei o Rio de Janeiro dessa moléstia.

[...] Vosmecê não tem ideia do que enfrentamos. Misturaram-se pajés de segunda, médicos renomados, políticos oportunistas e até mesmo militares indisciplinados, formando aquilo que veio a ser chamado de a Revolta da Vacina. Atente, capitão, em 1904 nosso Brasil teve uma revolta popular contra uma vacina. [...]

Para vosmecê, que não gosta de ativismos populares, vale a memória de que a maior revolta popular ocorrida no Rio de Janeiro derivou de uma articulação oportunista que manipulou a ignorância. A vacina era um pretexto. O que eles queriam era o poder. A varíola foi extinta, mas a ambição dos homens é mal incurável.

Agora, pelo que me mostrou o Oswaldo, estamos numa situação inversa, é o presidente quem desafia as autoridades sanitárias, buscando fortalecer-se politicamente pelo menoscabo de uma pandemia. [...]

Quis o Padre Eterno que eu morresse numa epidemia. Logo eu, que dei mão forte ao Oswaldo para sanear o Rio de Janeiro. A vacina abateu a varíola. Os mata-mosquitos, autorizados a entrar nas casas, controlaram a febre amarela. Em um ano o número de vítimas caiu de 548 para 54.

É verdade que, aos 70 anos, eu era um velhinho e vivia resfriado. No seu Brasil, gente como eu precisa de orientação e isolamento. Pelo que me contam, os governadores e seu ministro da Saúde estão agindo direito. A única voz dissonante tem sido a sua.

Temos duas calamidades, a pública e a vossa.

Despeço-me respeitosamente, do seu

Francisco de Paula Rodrigues Alves”

(Gaspari, 18 mar. 2020, p. 14)

Em 2020, Rodrigues Alves (1848-1919) foi relembrado por dezenas de artigos, entrevistas, podcasts e vídeos de diferentes veículos de mídia. A razão das inúmeras citações ao brasileiro, que ocupou a Presidência da República de 1902 a 1906, se deve ao modo como a sua morte, em 16 de janeiro de 1919, é contemporaneamente associada na imprensa e nos livros de história à gripe espanhola2.

Nascido em Guaratinguetá, Rodrigues Alves esteve à frente do governo de São Paulo em três ocasiões e exerceu o cargo de senador por três mandatos. Como Presidente da República, destacou-se por comandar uma reforma urbana na cidade do Rio de Janeiro e implementar um programa de controle das epidemias que assolavam a então capital da República. Seu governo também foi marcado pela ocorrência, em 1904, da Revolta da Vacina e do levante da Escola Militar da Praia Vermelha (Schwarcz; Starling, 2020).

Em 1918, Rodrigues Alves conseguiu unir novamente as oligarquias regionais em torno da sua candidatura e se tornou o primeiro presidente brasileiro a ser eleito para um segundo mandato. Entretanto, não tomou posse no dia 15 de novembro, conforme estabelecia a Constituição de 1891. Nos últimos meses de 1918, enquanto a imprensa voltava os seus olhos para a gripe espanhola, circularam especulações sobre a gravidade de seu estado de saúde, que aumentaram com o adiamento da sua posse. Rodrigues Alves teria participado do pleito eleitoral com a saúde já bastante debilitada por uma anemia perniciosa (doença provocada pela incapacidade do organismo em absorver a vitamina B12) de que sofria há alguns anos (Schwarcz; Starling, 2020). Apesar de a imprensa ter noticiado na época a causa de sua morte “assistolia aguda no curso de uma anemia perniciosa” (Schwarcz; Starling, 2020, p. 302), o boato de que ele teria morrido de gripe espanhola ganhou força e chegou até os dias de hoje.

Esse dado anedótico da biografia de Rodrigues Alves foi propagado na imprensa, muitas das vezes, em períodos marcados por epidemias. Nesses contextos, a pandemia de 1918-1919 serviu como parâmetro para descrever o pior cenário para o qual poderiam se desdobrar eventos sanitários desse tipo. O mais recente foi o da pandemia de gripe tipo H1N1, que ficou conhecida como gripe suína, em 2009 (Alvarez et al., 2009; Bertolli Filho, 2015). Não foi diferente quando começaram a ser divulgadas as primeiras notícias sobre a pandemia do coronavírus SARS-CoV-2. Porém, como procuramos notar, em 2020, a exemplo da crônica que abre este artigo, escrita por Elio Gaspari, se impôs uma percepção da história como uma lição a ser aprendida. Desse modo, a gripe espanhola emergiu especialmente como um passado que pode orientar a nossa ação diante da pandemia de Covid-19.

Além de evocar mais uma vez a controversa causa da morte de Rodrigues Alves por gripe espanhola, a crônica “Rodrigues.Alves@com para Bolsonaro” (Gaspari, 2020) explora particularmente a imagem do Presidente da República que teria escutado os conselhos da ciência, apoiado às ações do médico sanitarista Oswaldo Cruz e vencido às epidemias de varíola, febre amarela e peste bubônica, no Rio de Janeiro no início do século XX. No texto, Rodrigues Alves escreve uma carta para o atual Presidente da República, oferecendo os conselhos da sua experiência. Cabe lembrar, que em meados de março de 2020, os brasileiros começavam a adotar as primeiras medidas de distanciamento social contra a Covid-19, entretanto, já era evidente a relutância de Jair Bolsonaro em seguir os protocolos sanitários então recomendados pelo seu Ministério da Saúde, como usar máscara em locais públicos e evitar aglomerações.

Na “Folha de S. Paulo”, a comparação entre as posturas adotadas pelos presidentes brasileiros durante as pandemias de 1918-1919 e de 2020 voltaria à baila no artigo de Naief Haddad, publicado em 28 de março. Haddad entrevistou as historiadoras Cláudia Viscardi, Gisele Sanglard, e o historiador Pietro Sant’Anna. Todos eles ressaltaram que os políticos que estiveram na Presidência nos anos da gripe espanhola, Venceslau Brás, Delfim Moreira e Epitácio Pessoa, “agiam em consonância com a equipe federal de saúde pública e, de modo geral, guiavam as decisões a partir de critérios científicos” (Haddad, 28 mar. 2020, p. 5). Haddad aponta ainda que Venceslau Brás confiou ao médico Carlos Chagas, então diretor do Instituto Oswaldo Cruz, a gestão das ações para o enfrentamento da gripe na capital federal (Haddad, 28 mar. 2020).

Neste artigo, analisamos os sentidos a partir dos quais a pandemia de 1918-1919 foi lembrada nos jornais “O Globo” e “Folha de S. Paulo”, a partir da década de 1940, quando localizamos no jornal carioca a primeira referência àquela pandemia. Procuramos identificar os usos desse passado nos contextos de epidemias e, recentemente, durante a pandemia de Covid-19. Ao mesmo tempo, buscamos observar em que medida a narrativa jornalística sobre a gripe espanhola dialogou com a produção acadêmica ao longo desse período. Assinalamos, que, durante a pandemia de Covid-19, em 2020, a presença das historiadoras e historiadores na imprensa foi mais significativa do que em outros contextos de epidemias, nos quais a gripe espanhola emergiu como referência. Além disso, foi constantemente reiterada a ideia de que o conhecimento histórico poderia tanto nos orientar no presente quanto apontar caminhos para o futuro pós-pandemia.

Na primeira seção do artigo apresentamos o cenário histórico da pandemia de 1918-1919 e os principais vieses desse tema que foram analisados pela historiografia brasileira. Na seção seguinte, examinamos as alusões que foram feitas à gripe nos jornais “O Globo” e “Folha de S. Paulo”, respectivamente, a partir dos anos de 1940 e 1960, até o final da década de 2010. Por último, na terceira seção, abordamos o tratamento desse tema durante a pandemia de Covid-19 e discutimos os sentidos atribuídos à história e as narrativas da gripe espanhola produzidas pelos jornais estudados.

A gripe espanhola na historiografia

A pandemia de 1918-1919 é considerada uma das mais letais da história. Estima-se que 500 milhões de pessoas tenham sido contaminadas pela doença e que cerca de 50 milhões tenham morrido pela influenza, um número muito superior aos mortos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que chegaram a 15 milhões. Uma das hipóteses sobre o começo da pandemia sugere que o primeiro caso de influenza foi registrado num campo de treinamento militar no estado do Kansas, Estados Unidos, em janeiro de 1918. Em abril, a gripe teria alcançado à Europa, levada pelos soldados norte-americanos, e se espalhou por todo o continente até agosto. A partir deste mês, a segunda onda da gripe, mais virulenta do que a primeira, atingiu a Índia, o Japão, a China, o continente africano e as Américas Central e do Sul. Já a terceira onda ocorreu entre fevereiro e maio de 1919 (Lamarão; Urbinati, 2015).

A movimentação das tropas durante a Primeira Guerra Mundial contribuiu para a rápida disseminação da doença. Para não expor a fragilidade dos seus exércitos, nos países europeus envolvidos no conflito, a imprensa foi proibida de veicular notícias sobre a epidemia, que fazia milhares de vítimas entre seus soldados. A Espanha, neutra no conflito, foi uma exceção. Como foram quase os únicos a relatarem o avanço da epidemia sobre sua população, a doença ficou conhecida como espanhola (Goulart, 2005).

No Brasil, os primeiros textos jornalísticos sobre a influenza foram publicados entre agosto e setembro de 1918 e recebidos com despreocupação. Por várias semanas, os jornais a nomearam como uma gripe comum e benigna. O tom das notícias começou a mudar no início de setembro, quando brasileiros que participavam das missões médico-militares enviados pelo Brasil para apoiar os países Aliados no patrulhamento do Atlântico Sul, contraíram a doença, possivelmente, nos portos de Serra Leoa e de Dacar. Nesse mesmo mês, a influenza fez as primeiras vítimas em solo brasileiro. A doença teria sido trazida pelo navio inglês “Demerara” que passou pelos portos de Recife, Salvador e Rio de Janeiro e, posteriormente, seguiu viagem para o Uruguai e a Argentina (Souza, 2005).

A partir do registro das primeiras mortes na Capital Federal, a cobertura da epidemia pela imprensa mudou radicalmente. Os jornais noticiaram a alteração repentina do cotidiano das cidades, o esvaziamento das ruas, o medo da população, o fechamento das escolas e a paralisação de diversos serviços. Além disso, os jornais passaram a cobrar diariamente das autoridades de saúde pública e do governo, ações para conter a epidemia e mitigar o sofrimento da população. No Rio de Janeiro e em outras capitais, houve crise de abastecimento, especialmente de alimentos e medicamentos, aumento repentino do custo de vida, falta de leitos hospitalares para os doentes e colapso dos serviços funerários. Naquela época, pelos dados conhecidos hoje, o caso mais sério no Brasil foi o da então capital federal, o Rio de Janeiro, onde a gripe provocou cerca de 15.000 óbitos.

Apesar do amplo espaço recebido na imprensa da época, durante muito tempo, a gripe espanhola foi esquecida e poucos trabalhos abordaram o tema. O historiador Alfred Crosby (2008), que estudou a ausência da gripe espanhola na memória norte-americana, aponta que um dos motivos que ajudam a compreender esse fenômeno é o fato da pandemia ter coincidido com o final da Primeira Guerra Mundial, fazendo com que a doença fosse apenas mais um aspecto desse período (apud Farias, 2008).

No Brasil, apenas três trabalhos foram publicados logo após a pandemia. O primeiro deles, “A proposito da Pandemia de Grippe em 1918” (1919), pelo ex-Diretor Geral da Saúde Pública, Carlos Seidl. O segundo, “Grippe Epidemica no Brazil e especialmente em São Paulo” (1920) foi publicado pelos médicos Carlos Luiz Meyer e Joaquim Rabello Teixeira. E o terceiro, “O Pandemonio de 1918” (1924), por Moncorvo Filho (Bertucci, 2002 apud Farias, 2008, p. 12).

Um aumento na produção historiográfica sobre o tema pode ser percebido, a partir dos anos de 1980, e, sobretudo, após 2009, quando ocorreu a pandemia provocada pelo vírus influenza H1N1, conhecida como gripe suína (Farias, 2008; Pierro, 2020).

Nas últimas décadas, a gripe espanhola foi objeto de dissertações, teses e artigos de pesquisadores brasileiros que analisaram o assunto com perspectivas e recortes espaciais diversos. Ricardo Augusto dos Santos (2006) se debruçou sobre imagens da peste e da gripe espanhola e chamou a atenção para as manifestações simbólicas coletivas semelhantes nos dois contextos, como a associação da epidemia ao castigo divino, a estigmatização dos doentes e a exclusão de grupos considerados suspeitos de transmitirem a doença. As alterações no cotidiano social provocadas pela epidemia, a supressão dos ritos da morte e a disseminação do pânico e do medo, na cidade do Rio de Janeiro, foram discutidas por Nara Brito (1997), por meio de uma pesquisa cuidadosa nos jornais “Correio da Manhã” e “O País”.

A historiografia tem abordado ainda a interface entre os debates políticos, sociais e científicos. Adriana da Costa Goulart (2005) apontou o desgaste da imagem do governo de Venceslau Brás e do diretor da Saúde Pública, na capital federal, Carlos Seidl, pelos efeitos da gripe espanhola. Em contrapartida, dialogando com Nara Brito (1995), Goulart argumenta que “o episódio pandêmico acabou contribuindo para o processo de mitificação da figura de Oswaldo Cruz” e para “o reconhecimento de Carlos Chagas como seu herdeiro científico” (Goulart, 2005, p. 125). Além de reiterar a importância da colaboração dos homens de ciências no projeto de modernização do país, a pandemia de 1918-1919, segundo Goulart, colocou na ordem do dia o debate sobre a expansão e a centralização dos serviços de saúde pública.

Souza (2005) ressaltou o modo como a epidemia foi instrumentalizada pelos grupos políticos rivais, num cenário de precariedade dos serviços de saúde pública e de péssimas condições de moradia na capital baiana. Por sua vez, as controvérsias científicas em torno da gripe e os debates que tiveram espaço nas associações médicas, nos periódicos especializados e na imprensa, durante a epidemia de 1918 e 1919, foram estudados por Silveira (2005) e Bertucci (2002, 2018).

Além do foco sobre a capital federal, o avanço da gripe espanhola em outras capitais brasileiras tem sido igualmente objeto da historiografia. A respeito de São Paulo, Bertolli Filho (2003) traçou uma distribuição socioeconômica da doença indicando que ela provocou um número maior de mortes entre a população mais pobre da cidade. A chegada e os efeitos da doença em Belo Horizonte foram estudados por Silveira (2004); na cidade de Recife, por Farias (2008); e em Manaus, por Gama (2013). Olinto (1995) teve como foco a cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul; Muniz e Farias (2019), a cidade de Bragança, no Pará; e Damacena Neto, o estado de Goiás (2011).

No começo de 2020, a pandemia de Covid-19 fez aumentar o interesse pela história da gripe espanhola. Segundo reportagem do “O Globo”, em 17 de março, data que marcou o início da quarentena no país, a seção da Hemeroteca Digital Brasileira no site da Biblioteca Nacional teve cerca de 300 mil acessos. Esse teria sido o maior “tráfego da história do site”, que, no final do mês, registrou o recorde de “6,2 milhões de acessos, quase 1 milhão a mais em relação ao mês anterior”. Uma explicação para esse crescimento, segundo a reportagem, é que por conta da pandemia “apenas o acervo digital ficou disponível” para consulta do público. Entretanto, naquele mês houve um aumento significativo das buscas relacionadas às epidemias e o termo “gripe espanhola” foi o quarto mais buscado em março, enquanto influenza ficou em nono (Torres, 11 abr. 2020, s./p.).

Nos meses de março e abril de 2020, a pandemia de 1918-1919 foi recordada quase diariamente pelo “O Globo” e pela “Folha de S. Paulo”. Diversas matérias fizeram referências a estudos historiográficos e/ou entrevistaram especialistas. Além disso, desde então o tema norteou diferentes projetos editoriais. Em maio de 2020, a editora Intrínseca publicou a primeira edição em português do livro do jornalista e historiador norte-americano, John Barry, intitulado “A Grande gripe: a história da gripe espanhola, a pandemia mais mortal de todos os tempos”. No mês de julho, a Arte & Letra reeditou “O mez da grippe” (1981), do escritor, diretor e roteirista paulistano Valêncio Xavier. Fora de catálogo desde o seu último lançamento pela Companhia das Letras, em 1998, o livro foi redescoberto durante a pandemia e esgotou todos os exemplares disponíveis no site Estante Virtual (Torres, 9 jun. 2020, p. 1).

Em outubro, as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, lançaram “A bailarina da morte”, pela Companhia das Letras. As autoras se debruçaram sobre dissertações e teses acadêmicas para narrar a história da gripe espanhola no Brasil. Com capítulos dedicados às diversas capitais brasileiras, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Manaus, Belém e Porto Alegre, o livro refaz os caminhos pelos quais o vírus da influenza se disseminou pelas diferentes regiões do país, articulando-os aos elementos do cenário social, político e da organização da saúde pública na época. No capítulo final, as autoras retomam a controvérsia em torno da causa da morte do presidente Rodrigues Alves, frequentemente evocada como uma das vítimas da gripe espanhola. Além do diálogo com os historiadores, a obra acena também para uma audiência ampliada.

A gripe espanhola como parâmetro para as pandemias pós-1918

Narrativas sobre a gripe espanhola não são escritas apenas por historiadores. A partir de uma epistemologia própria, de processos de construção e reconstrução de sentidos diferentes do discurso acadêmico de um modo geral, os textos jornalísticos também constroem memórias e narrativas históricas. Segundo Sônia Meneses, os veículos de mídias produzem “um tipo de conhecimento histórico” fora do campo da história institucionalizada, que “congrega tanto elementos do campo historiográfico tradicional, como do próprio lugar da produção midiática” (Meneses, 2012, p. 37).

Nas últimas décadas, tem ocorrido uma demanda crescente pela história e não necessariamente pela história produzida pelos historiadores. Ao lado de veículos de mídia mais recentes, tais como blogs, podcasts e canais no Youtube, a imprensa continua a ocupar um papel importante na produção de divulgação de conteúdos históricos. Além de enfatizar a dimensão pública da história, esse dado sugere uma série de questões a respeito de como se dá a produção de narrativas históricas dentro e fora do espaço acadêmico, bem como para o estudo dos jornais como fontes históricas.

Dentre essas questões está a necessidade de pensar sobre os usos da história no espaço público e as modificações na forma como o discurso histórico é veiculado publicamente3. Além disso, a respeito da metodologia de trabalho com fontes impressas, conforme assinala Tania Regina de Luca, é preciso atentar ao fato de que “a imprensa seleciona, ordena, estrutura e narra de uma determinada forma, aquilo que elegeu como digno de chegar até o público” (Luca, 2005, p. 139). O historiador, ao lidar com esse tipo de fonte precisa dispor das ferramentas de análise do discurso e observar as condições materiais e técnicas dessas fontes, isto é, o suporte e a organização do conteúdo, as relações com o mercado, a publicidade e o público a que se dirige (Luca, 2005).

Durante muito tempo, os historiadores consideraram os impressos um material pouco confiável. Luca salienta que existia uma preocupação “de se escrever a História da Imprensa, mas relutava-se para mobilizá-los para a escrita da História por meio da imprensa” (Luca, 2005, p. 111). Em grande medida, isso se dava em função da tradição historiográfica predominante entre o século XIX e as primeiras décadas do século XX, que defendia ser missão do historiador a busca pela verdade dos fatos. Apesar da crítica a essa concepção de história já ter sido realizada pela chamada “Escola dos Annales”, na década de 1930, não houve uma transformação imediata na forma como a imprensa era concebida pelos historiadores. Uma mudança significativa ocorreu, sobretudo, a partir da década de 1970, quando surgiu o que se denomina de “nova história”, abrangendo novos objetos, novos problemas e novas abordagens dos estudos históricos (Luca, 2005, p. 112).

Nos acervos históricos dos jornais “O Globo” e “Folha de S. Paulo”, as primeiras alusões à gripe espanhola aparecem, respectivamente, a partir das décadas de 1940 e 1960. A epidemia foi mencionada brevemente em matérias de viés histórico, dentre os quais de cunho biográfico, como homenagens e obituários (Folha de S. Paulo, 06 jun. 1971); em textos sobre acontecimentos contemporâneos à pandemia de 1918-1919, como o carnaval depois da influenza e a participação brasileira na Primeira Guerra Mundial (O Globo, 17 ago. 1948); em artigos sobre tradições religiosas e culturais, como a festa religiosa no bairro do Brás (Folha de S. Paulo, 04 fev. 1974); em notícias referentes ao lançamento de livros sobre epidemias (Gois, 02 abr. 2020); e, por fim, em menor número, em textos que abordaram especificamente a gripe espanhola (Lopes, 08 jan. 2018).


Gráfico 1:
Distribuição das citações à gripe espanhola entre as décadas de 1940 a 20104
Fonte: Dados da pesquisa.

No entanto, grande parte das referências à pandemia de 1918-1919 está relacionada à ocorrência de surtos de gripe e epidemias, o que tem ligação com a forma da imprensa narrar os acontecimentos, procurando estabelecer seu contexto e nexos. Segundo Valdir de Castro Oliveira (2014, p. 53), “ao noticiar uma epidemia, raramente um jornal se atém ao surto em particular, mas sempre se refere a outros que ocorreram em tempos passados e em outros lugares”. Bertolli Filho, ao estudar os textos jornalísticos produzidos sobre a gripe suína, em 2009, assinalou que a gripe espanhola “tornou-se referência para as epidemias ocorridas após 1918” (Alvarez et al., 2009; Bertolli Filho, 2015, p. 131).

No “O Globo” e na “Folha de S. Paulo”, entre 1940 a 2010, a gripe espanhola foi utilizada como parâmetro para avaliar a gravidade das epidemias que ocorreram ao longo do século XX e começo do XXI. Os textos jornalísticos se referem à gripe espanhola como cenário dos mais devastadores conhecidos até então. A letalidade da doença é o principal dado evocado nas menções feitas àquela pandemia. Em geral esse enquadramento procura demonstrar a benignidade da epidemia vigente, como também alertar sobre a possibilidade de que um evento como aquele pudesse se repetir. Na maior parte das vezes, não se nota grande preocupação em mencionar elementos do contexto histórico da gripe espanhola, e não raro identificamos dados inexatos mesmo acerca do ano em que essa epidemia ocorreu (O Globo, 18 nov. 1964; Folha de S. Paulo, 06 abr. 1976).

No “O Globo”, as primeiras menções à pandemia de 1918-1919 foram feitas na década de 1940. Entre 1941 e 2019, o termo gripe espanhola aparece pelo menos 321 vezes no seu acervo histórico digital. Nos anos de 1940, além de menções breves, a doença ganhou destaque, por exemplo, na matéria “O Brasil na guerra de 1914” (O Globo, 17 ago. 1948). Nele, a epidemia foi mencionada como mais um dos agravantes do cenário da Primeira Guerra Mundial, tendo em vista a violência e a “rápida propagação” da doença que atacou “milhares de soldados” (O Globo, 17 ago. 1948, p. 4). Nas décadas seguintes e em contextos de epidemias, a gripe de 1918-1919 foi identificada correntemente por expressões que realçaram sua letalidade, tais como: “peste medieval temporã” (Corção, 30 maio 1968, p. 2), “a maior peste desde a peste negra” (Cotrell, 03 fev. 1969, p. 1) “o pior assassino do século XXI” (O Globo, 14 maio 2001, p. 25), “a pior gripe da história” (Fraiser, 07 out. 2002, p. 44), e como “um dos maiores inimigos da humanidade” (O Globo, 06 out. 2005a, p. 31).

Na “Folha de S. Paulo”, a primeira alusão à gripe espanhola é de 1963. Até 2019, a expressão foi mencionada cerca de 189 vezes no seu acervo histórico digital. Também neste jornal, a gripe de 1918-1919 foi recordada frequentemente a partir da imagem da “pior pandemia já vista pela humanidade” (Geraque, 28 abr. 2009, p. 14).

Entre os anos de 1957 e 1958, “O Globo” caracterizou a pandemia do vírus influenza tipo A subtipo H2N2, a chamada gripe asiática, como um episódio epidêmico mais brando do que a gripe espanhola. Comparações como essas se repetiram na pandemia de 1968-1969, durante a gripe de Hong-Kong (Cotrell, 03 fev. 1969), provocada pelo vírus influenza tipo A H3N2, e também por ocasião da gripe russa, de 1977-1978; ou ainda durante um surto de gripe suína, em 1976, causado pelo vírus H1N1, o mesmo da gripe espanhola (O Globo, 29 fev. 1976). Nesses casos, relembrar a gripe espanhola serviu para tranquilizar a população, e ressaltar que o cenário corrente não era catastrófico se comparado ao daquela pandemia.

O mesmo aspecto pode ser verificado na “Folha de S. Paulo”, nas notícias a respeito de um surto de gripe nos Estados Unidos, em 1976. Em texto de 06 de abril, o jornal noticiou a confirmação de cinco casos da doença provocados pelo mesmo vírus “que produziu a epidemia de gripe ‘espanhola’”, a qual, segundo a informação imprecisa divulgada pelo jornal, teria ocorrido, “entre 1916 e 1919” (Folha de S. Paulo, 06 abr. 1976, p. 6). O texto enfatiza que já existiam recursos terapêuticos para tratar a doença, e, por isso, não ocorreriam tantas mortes quanto na gripe espanhola (Folha de S. Paulo, 06 abr. 1976).

Além dos surtos e epidemias de gripe, a pandemia de 1918-1919 também foi lembrada com o sentido de um evento modelar para a epidemia de HIV/Aids, na década de 1980. No “O Globo”, a comparação entre o vírus da Aids e o da gripe espanhola aparece, por exemplo, em “Cientista francês prevê enfraquecimento do vírus”. Publicado em 1988, o texto aborda a apresentação do médico François Catalan num simpósio sobre doenças sexualmente transmissíveis. De acordo com o artigo, Catalan acreditava que o vírus HIV se tornaria menos virulento com o passar dos anos e as pessoas ficariam mais resistentes à doença, assim como ocorreu com o vírus H1N1 que provocou a pandemia de gripe espanhola (O Globo, 20 out. 1988).

Nas últimas décadas, as descobertas e controvérsias científicas e o desenvolvimento de novas tecnologias e de novos medicamentos passaram a ter maior destaque nos jornais. Nas colunas de ciência e saúde, a gripe espanhola foi lembrada por notícias relacionadas a estudos científicos sobre os vírus que poderiam desencadear novas epidemias. Entre 1997 e 1999, “O Globo” divulgou que um grupo de pesquisadores havia retomado as pesquisas sobre o vírus da pandemia de 1918-1919, a partir das amostras do patógeno conservadas em laboratório e encontradas em corpos de vítimas da doença, que ficaram congelados em um cemitério da Noruega. O objetivo desses estudos era concluir o mapeamento genético do vírus (McKenna, 08 nov. 1997, 20 ago. 1998, 17 fev. 1999, 17 nov. 1999).

Na “Folha de S. Paulo”, a iminência de uma epidemia de grandes proporções foi assinalado no texto de Gabriela Scheinberg, publicado em 11 de janeiro de 2000 (Scheinberg, 11 jan. 2000). De acordo com a matéria, os médicos esperavam uma nova epidemia de gripe há cerca de 30 anos, tendo em vista a perspectiva de que, em média, a cada três décadas o vírus da influenza reaparecia numa variação mais agressiva, provocando uma nova epidemia. Scheinberg destaca que a primeira delas foi a gripe espanhola, seguida pela pandemia de gripe asiática, em 1957-1958, e a de Hong Kong, em 1968-1969 (Scheinberg, 11 jan. 2000).

As alusões à gripe espanhola apareceram associadas ainda às epidemias da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), em 2003, da gripe aviária, em 2004 e 2005, e da pandemia de gripe suína, em 2009.

No “O Globo”, entre os anos 2004 a 2007, reportagens sobre a gripe aviária fizeram constantes referências à gripe espanhola. A maior parte delas ressaltava que a epidemia poderia tomar proporções semelhantes às de 1918-1919, na hipótese de a doença vir a ser transmitida de pessoa a pessoa. Em outubro de 2005, “O Globo” noticiou que o médico David Navarro, nomeado na Organização das Nações Unidas (ONU), coordenador dos esforços globais para tentar conter a gripe das aves, estimava um número de óbitos pela gripe aviária “três vezes maior do que o total de mortes registradas pela pandemia da gripe mais letal de todos os tempos, [...] que teria matado cerca de 50 milhões de pessoas em 1918 e 1919” (O Globo, 01 out. 2005, p. 40).

A recriação do vírus da gripe espanhola em laboratório, por pesquisadores norte-americanos, foi destaque na primeira página do “O Globo” de 6 de outubro de 2005. Segundo a matéria, os pesquisadores acreditavam que, em 1918, o vírus H1N1 sofreu mutações e conseguiu migrar das aves para os seres humanos e essa descoberta aumentava “ainda mais o temor em relação à atual epidemia de gripe das aves na Ásia” (O Globo, 06 out. 2005b, p. 1).

Os jornais também publicaram resenhas de livros sobre a gripe espanhola. Em 1998, a “Folha de S. Paulo” publicou a respeito da segunda edição do livro “O mez da grippe” (1981), de Valêncio Xavier. O artigo destacava o tratamento original do período da gripe espanhola pelo autor, a partir de fragmentos de textos, anúncios dos jornais da época e de depoimentos de mulheres que sobreviveram à epidemia (Folha de S. Paulo, 01 out. 1998, s./p.). Em 2002, “O Globo” resenhou o livro “Gripe, a história da pandemia de 1918” (Jansen, 28 jul. 2002, p. 41), escrito pela jornalista do “New York Times”, Gina Kolata. E, em 2003, publicou uma resenha do livro “A gripe espanhola em São Paulo, 1918”, escrito pelo historiador Cláudio Bertolli Filho (Gaspari, 18 maio 2003, p. 15).

A partir da década de 2010, localizamos artigos dedicados especialmente à história da gripe espanhola. Em 2012, Ricardo Bonalume Neto escreveu para a “Folha de S. Paulo”, uma matéria sobre a pesquisa de Wladimir Alonso e outros três pesquisadores, que estudaram o impacto da gripe espanhola em navios da Marinha do Brasil durante a Primeira Guerra Mundial. O artigo apresenta informações sobre a missão médica-brasileira e o modo como, em pouco tempo, a doença “contaminou a quase totalidade das tripulações dos navios brasileiros; perto de 90% em alguns navios” (Bonalume, 02 abr. 2012, p. 9).

No mesmo jornal, em 2018 (ano que marcou os 100 anos da pandemia), o jornalista Reinaldo José Lopes abordou aspectos relacionados às formas de transmissão e à letalidade da doença, a partir da perspectiva de uma infectologista e de um epidemiologista. O texto foi acompanhado por um infográfico que colocou em perspectiva comparativa o número de mortes provocadas por diferentes epidemias ao longo da história. Já a linha fina da matéria e o seu último parágrafo encaminharam a reflexão para a perspectiva de que novos vírus provoquem, no futuro, “catástrofes similares” à da gripe espanhola (Lopes, 08 jan. 2018, p. 6).

A gripe espanhola nos jornais durante a pandemia de Covid-19

Em 2020, as referências à gripe espanhola emergiram nos veículos de mídia associadas à pandemia do novo coronavírus. Os primeiros casos da Covid-19 foram notificados em Wuhan, na China, em dezembro de 2019, e rapidamente o vírus se espalhou para o restante do mundo. O foco do surto na cidade chinesa teria sido um tradicional mercado de animais silvestres vivos. O SARS-CoV-2 teria migrado dos morcegos para os seres humanos, talvez tendo os pangolins como hospedeiros intermediários. Essa associação a uma zoonose coloca a Covid-19 ao lado de outras doenças emergentes nas últimas décadas, como o ebola (2014), a gripe aviária (entre os anos de 2003 e 2004), a gripe suína (2009), e, em se tratando de doenças causadas especificamente por coronavírus, da Síndrome Respiratória Aguda Grave-SARS (em 2002 e 2003), e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio-MERS (2012).

No Brasil, o primeiro caso de Covid-19 foi notificado no dia 21 de janeiro, na cidade de São Paulo. O paciente havia retornado da Itália, país que nos meses seguintes se tornaria o novo epicentro da doença. Sua rápida propagação - facilitada pela intensa movimentação aérea de pessoas entre os diversos países do mundo - assim como o crescimento do número de vítimas da doença, contribuiu para que fosse reiterado nos jornais o paralelo com a pandemia de 1918-1919. Até o momento em que escrevemos este artigo - 10 de março de 2021 -, os dados da Covid-19 apontam os números devastadores de 268.370 de mortes causadas pela doença no Brasil, e 2.608.231 no mundo.

Ainda no mês de março de 2020, quando começamos a conhecer os impactos individuais e coletivos, da pandemia, já vivenciávamos uma alteração radical no cotidiano. As primeiras medidas de restrição do convívio social adotadas para conter a circulação do coronavírus, tais como quarentenas e o fechamento dos estabelecimentos comerciais, dos espaços de lazer, de estudos e de trabalho, foram aplicadas primeiro em cidades da China e, depois, se repetiram em diferentes países. Nesse contexto de incertezas, a pandemia de 1918-1919 vem sendo objeto de olhares mais recorrentes e minuciosos nos jornais.

No “O Globo” e na “Folha de S. Paulo”, as narrativas produzidas a respeito da gripe espanhola contaram agora com uma maior participação das historiadoras e historiadores do que em outros contextos, por meio de referências às suas pesquisas, de entrevistas concedidas aos jornalistas (Helal Filho, 18 mar. 2020), da publicação de textos (Del Priori, 30 mar. 2020) e da gravação de vídeos (Folha de S. Paulo, 22 jun. 2020) e podcasts (O Globo, 31 mar. 2020).

Nesta seção, refletimos sobre o modo como a gripe espanhola foi retomada pelos jornais pesquisados, ao longo de 2020, e os sentidos mobilizados por essas alusões. A nosso ver, essa doença emergiu nas narrativas sobre a pandemia da Covid-19 não apenas para dimensionar a crise sanitária atual. Como vimos na seção anterior, a letalidade da gripe espanhola foi recordada em outros períodos epidêmicos, a partir de 1918, e não foi diferente agora com a pandemia do coronavírus.

No último ano, entretanto, as narrativas se voltaram para a história da gripe espanhola também com o objetivo de encontrar respostas para as questões colocadas pela Covid-19. Dessa perspectiva, o interesse pela pandemia de 1918-1919 parece ter sido acompanhado por um novo enquadramento do trabalho dos historiadores, não mais como um pesquisador ocupado essencialmente com acontecimentos de um passado sem qualquer relação com o presente. Mas, como um intelectual que participa do debate público e que reflete também sobre o presente e o futuro.

Entre os meses de janeiro e novembro de 2020, a gripe espanhola foi mencionada pelo menos 164 vezes nos diversos cadernos da “Folha de S. Paulo”. No mesmo período, o número de citações à pandemia de 1918-1919 chegou a cerca de 172, no “O Globo”.


Gráfico 2:
Distribuição das citações à gripe espanhola entre janeiro e novembro de 2020
Fonte: Dados da pesquisa.

No “O Globo”, o primeiro texto a mencionar a gripe espanhola foi o editorial publicado no dia 24 de janeiro, “Aguarda-se um plano contra o novo coronavírus”. O texto comparou as medidas restritivas empregadas em Wuhan para conter a propagação do vírus a um cenário de ficção científica. Considerando o fluxo de viajantes entre o Brasil e a China, o artigo alertou para o risco de que a doença desembarcasse no Brasil e cobrou um “esforço articulado” das autoridades federais, estaduais e municipais para o monitoramento da “situação de emergência” (O Globo, 24 jan. 2020, s./p.).

Ao se referir à pandemia de 1918-1919, a exemplo de outros contextos epidêmicos, o editorial assinalou que “500 milhões, um terço da população mundial à época, foram infectados, tendo morrido 50 milhões de pessoas. No Brasil, 35 mil, dos quais 12.700 no Rio e 6 mil em São Paulo”. Ao final, o mesmo editorial alertou que apesar dos novos recursos disponibilizados pela medicina e pela tecnologia, os vírus se disseminam rapidamente, portanto, havia a necessidade de planejamento e prevenção (O Globo, 24 jan. 2020, s./p.).

No início de fevereiro, a pesquisadora Marilda Siqueira, Chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo da Fundação Oswaldo Cruz, foi entrevistada pela jornalista Ana Lucia Azevedo, do “O Globo”. Marilda Siqueira lembrou que infecções respiratórias como a doença causada pelo novo coronavírus “tiveram grande impacto na saúde pública”, no passado mais distante, como a gripe espanhola, e no passado mais recente, caso da Sars e da Mers. Enfatizou ainda que a Covid-19 preocupava as autoridades de saúde porque o tratamento dos casos graves requer hospitais de maior complexidade e que, além disso, ainda não existiam medicamentos e uma vacina para combater o vírus (Azevedo, 03 fev. 2020, s./p.).

No dia 11 de março, a pandemia foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Dois dias depois, “O Globo” publicou um editorial defendendo a adoção de medidas rígidas para conter a propagação do vírus. Na visão sustentada pelo jornal, a inspiração para o Brasil deveria vir de países como a Itália, os Estados Unidos e os países da América Latina, os quais já vinham tomando ações acertadas para evitar aglomerações de pessoas. O texto chamou a atenção, principalmente, para um gráfico que havia sido publicado pelo jornal “Washington Post”, comparando o número de mortes provocadas pela gripe espanhola nas cidades norte-americanas da Filadélfia (250 por grupo de 100 mil pessoas) e de St. Louis (50 mortes por grupo de 50 mil pessoas). Conforme explicou o editorial, a quantidade de óbitos em St. Louis foi muito menor que na Filadélfia, porque a cidade implementou ações de prevenção apenas dois dias após a identificação do primeiro caso da doença, enquanto na Filadélfia “a vida continuou como se tudo estivesse normal. O governo só começou a agir quando a gripe havia se alastrado” (O Globo,13 mar. 2020, p. 2).

“O Globo” voltaria a este tema no editorial de 15 de maio, agora com uma crítica direta ao presidente da República, que, nas palavras do jornal, se recusava a “aprender com os cientistas e a História” (O Globo, 15 maio 2020, p. 2). O principal argumento do texto era o estudo publicado pelos economistas do Banco Central americano, Fed, do BC de Nova York e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Sergio Correa, Stephan Luck e Emil Verner. Segundo o estudo, as 43 cidades norte-americanas que aderiram ao isolamento social durante a gripe espanhola tiveram uma recuperação econômica mais consistente após a pandemia. Essa pesquisa recebeu inúmeras citações em “O Globo” e na “Folha de S. Paulo” e, ao lado da comparação entre os efeitos da pandemia de 1918-1919 na Filadélfia e em St. Louis, mencionados anteriormente, provavelmente foi a ‘lição’ da gripe espanhola mais reiterada por ambos os jornais.

Na “Folha de S. Paulo”, as primeiras alusões à gripe espanhola apareceram no mês de fevereiro, quando a China, ainda era o epicentro do surto do novo coronavírus. Uma nota publicada pelo jornal destacou que as fotografias dos centros de quarentena improvisados na cidade chinesa, para o isolamento dos doentes, estavam sendo comparadas na “mídia social chinesa” às cenas da gripe espanhola (Folha de S. Paulo, 06 fev. 2020, s./p.). No mesmo período, entretanto, chama a atenção a preocupação deste jornal com tranquilizar a população sobre a Covid-19.

Em 28 de janeiro de 2020, a “Folha de S. Paulo” publicou o editorial intitulado “Sem pânico”. A linha fina do texto “Surto de coronavírus na China não é motivo de terror, mas para prontidão das autoridades” resumia seu conteúdo, que, assim como o editorial do “O Globo”, já lidava com o “espectro” da Gripe de 1918. Embora se dirigisse igualmente às autoridades brasileiras, assinalava, que até o momento não havia informações suficientes para nortear as ações necessárias para a prevenção da doença. O mesmo artigo lembrava que, em 2002 e 2003, a Síndrome Respiratória Aguda Grave assustou o mundo, porém não confirmou as projeções alarmantes da época (Folha de S. Paulo, 28 jan. 2020, p. 2).

Em começos do mês de março, outros textos reiteraram o tom desse editorial, colocando a epidemia do novo coronavírus em perspectiva histórica. A Covid-19 não só foi apontada como uma doença de baixa letalidade quando comparada a outras pandemias recentes, como também, a exemplo delas, passível de ser controlada. Em 02 de março, Regiane Soares ressaltou que epidemias como a de influenza do H1N1, em 2009, a Zika, em 2016, e a Aids, na década de 1980, provocaram pânico na população, contudo, “com as descobertas de medicamentos e tratamentos, [...] passaram a fazer parte do cotidiano” das pessoas (Soares, 02 mar. 2020, s./p.).

Após a declaração da pandemia do novo coronavírus pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os paralelos com a pandemia de 1918-1919 se tornaram cada vez mais frequentes. No entanto, prevaleceu a preocupação com informar, principalmente, sobre os cuidados necessários para evitar a propagação da doença e de desacreditar o medo de que a pandemia evoluísse para uma situação semelhante à da gripe espanhola.

Seguindo essa perspectiva, em 11 de março, Henrique Gomes destacou o avanço do conhecimento científico no último século. De acordo com o texto, na época da gripe espanhola não se fazia ideia de onde vinha ou como tratar a doença. O autor menciona que o nome influenza derivou de uma teoria que apontava a “influência de um desalinhamento dos planetas” como evento desencadeador da doença, e que “sangramento, champanhe e laxante” foram empregados no tratamento dos pacientes. Já com relação à Covid-19, os cientistas haviam concluído o sequenciamento genético do coronavírus apenas duas semanas após a identificação dos primeiros casos e já estavam realizando estudos para a produção de uma vacina. Gomes menciona, além disso, que um grupo de pesquisa na Alemanha teria identificado um medicamento disponível no mercado que poderia prevenir a doença (Gomes, 11 mar. 2020, s./p.).

De fato, em 1918, a gripe era uma enfermidade rodeada por controvérsias. Em 1892, experiências feitas pelo bacteriologista alemão Richard Friedrich Johann Pfeiffer indicaram um bacilo como o patógeno causador da doença. Nas primeiras décadas do século XX, outros pesquisadores levantaram a hipótese de que se tratava de um vírus. Mas, apenas na década de 1930, com microscópios mais potentes, os cientistas chegaram a um veredito sobre o tema. Durante uma epidemia de gripe na Inglaterra, eles conseguiram isolar o vírus e reproduzir a doença em laboratório. A partir da década seguinte, novos tipos de vírus influenza e diversos subtipos foram descobertos e, nos anos de 1940, foi desenvolvida a primeira vacina contra a doença (Silveira, 2005).

Esse tema foi abordado na “Folha de S. Paulo” em “Livro sobre gripe espanhola traz semelhanças com a crise da Covid-19”, sobre a obra do historiador norte-americano John Barry (Balago, 18 maio 2020), e em “O que aprendemos (e o que não) com a gripe espanhola de 1918”, que transcreveu entrevistas das historiadoras Christiane Maria Cruz de Souza e Lilia Schwarcz (Santana, 22 jun. 2020).

Ainda no mês de março, o infectologista Esper Kallás alertou sobre a gravidade da pandemia do novo coronavírus, a partir da ideia desenvolvida pelo historiador da ciência Alfred Crosby, de “epidemia em solo virgem”. Para o historiador citado por Kallás, as epidemias podem se tornar devastadoras quando estão associadas à entrada de “um germe completamente desconhecido por uma população” (Kállas, 19 mar. 2020, p. 3). As epidemias de varíola, tifo e sarampo, introduzidas pelos europeus no continente americano, nos séculos XV e XVI, haviam sido deste tipo. A Covid-19 era o exemplo mais recente de uma epidemia em solo virgem, portanto, potencialmente devastadora, uma vez que devido ao seu ineditismo, os seres humanos precisarão de algum tempo para produzir respostas imunes à doença. Apesar de o autor reconhecer que estaríamos diante de um cenário preocupante, ele termina o texto de forma otimista, vislumbrando um contexto científico distante de 1918 (Kállas, 19 mar. 2020).

A diferença entre os contextos da pandemia de 1918-1919 e da Covid-19, da perspectiva dos conhecimentos acumulados pelos cientistas, continuou sendo enfatizada pelo jornal “Folha de S. Paulo” ao longo dos meses. No entanto, é de meados de março um dos primeiros textos a refletir sobre o que seria possível aprender com a história da gripe espanhola: “Lições da gripe espanhola em tempos de coronavírus”, do jornalista Paulo Markun (15 mar. 2020).

Markun destaca como primeira lição os efeitos benéficos da adoção precoce de medidas de distanciamento social, a partir do exemplo histórico da cidade de Saint Louis, estado do Missouri, nos Estados Unidos, que, em 1918, adotou “a tática de achatamento da curva de expansão da epidemia" (Markun, 15 mar. 2020, s./p.). De acordo com Markun, os médicos locais foram colocados em alerta máximo e a população aconselhada sobre a importância de evitar multidões. O prefeito ordenou o fechamento das escolas, igrejas, cinemas, tribunais e salões de bilhar e proibiu todas as reuniões públicas, “apesar da grita dos empresários” (Markun, 15 mar. 2020, s./p.). O resultado foi que “a epidemia avançou mais devagar, permitindo que os doentes fossem tratados em casa por enfermeiras voluntárias” (Markun, 15 mar. 2020, s./p.).

O segundo aprendizado sugerido pelo texto lembrava a censura das informações sobre a influenza, em 1918. Na época, a Espanha, que se manteve neutra durante a Primeira Guerra Mundial, foi um dos poucos países que noticiaram o avanço da epidemia no continente europeu, enquanto os países envolvidos no conflito temiam expor aos inimigos as baixas que a doença havia provocado em seus exércitos. Foi por esse motivo que a doença acabou sendo apelidada de espanhola.

Paulo Markun ainda cita um artigo da historiadora Adriana da Costa Goulart, autora de uma dissertação de mestrado sobre a gripe espanhola, na cidade do Rio de Janeiro, e reproduz um trecho da revista “Careta”, de 05 de outubro de 1918, que foi mencionado por Goulart. O trecho explicava que a gripe espanhola era uma arma bacteriológica criada pelos alemães e que estes vinham espalhando a doença por vários países, lançando-a nas praias através dos seus submarinos. Apontado como uma das mentiras que circularam na época sobre a influenza - a exemplo das atuais relacionadas com o novo coronavírus e mais recentemente às vacinas contra a Covid-19 - a partir desse fragmento, o jornalista lembrou o problema das fake news e reiterou a importância da divulgação de informações precisas e baseadas na ciência.

Entre os meses de março e abril, o descontrole da epidemia na Itália, o aumento assombroso do número de vítimas da doença, a crise funerária naquele país e, também, em Guayaquil, no Equador, aumentou a preocupação sobre os desdobramentos da epidemia no Brasil. Os jornais passaram a reforçar cada vez mais que os cuidados de higiene, o uso de máscaras e o distanciamento social eram as únicas defesas reais contra a Covid-19, uma vez que não dispúnhamos de uma vacina e de medicamentos eficazes para o tratamento da doença. Nesse sentido, os jornais exerceram seu papel estratégico não apenas por apresentar informações sobre a doença e preparar a população para o que pode acontecer, como também tiveram um papel educativo (Talamoni, 2015).

A ênfase nos textos se deslocou sensivelmente das diferenças para as aproximações entre a pandemia de 1918-1919 e a de 2020. Na “Folha de S. Paulo”, foram destacadas as ações comportamentais e sociais para conter a propagação do vírus, especialmente o distanciamento social (Lopes, 21 abr. 2020) e os protestos contra essas medidas (Côrrea, 11 maio 2020). As matérias assinalaram que na época da gripe espanhola também foram improvisados hospitais em escolas e clubes esportivos, que foram comuns as cenas de espaços urbanos completamente vazios e a suspensão dos rituais de luto, como os velórios e as visitas aos cemitérios (Cardoso, 06 abr. 2020). O uso de remédios caseiros ou de medicamentos conhecidos na época sem eficácia comprovada para o tratamento da gripe, sobretudo, o uso do sal de quinino, que chegou a ser recomendado por autoridades sanitárias (Santana, 22 jun. 2020), foi comparado à polêmica sobre a utilização da cloroquina e da variante desse medicamento, hidroxicloroquina, para o tratamento da Covid-195.

No início de abril, Esper Kállas escreveu sobre o tratamento por meio da “imunização passiva”, que usava os anticorpos encontrados no plasma de pessoas que haviam passado por uma infecção, para o tratamento de outros doentes que não conseguiam oferecer uma resposta imunológica. Segundo o infectologista, desde o primeiro estudo científico publicado sobre o tema, em 1890, várias doenças já haviam sido tratadas a partir dessa estratégia, inclusive, nas “situações de combate a doenças infecciosas que não têm tratamento específico, podem ser mortais e se espalham rapidamente” (Kállas, 08 abr. 2020, s./p.). Entre elas, o infectologista menciona que, durante a gripe espanhola, o plasma convalescente teria sido administrado em cerca de 1700 pacientes e reduzido pela metade a mortalidade nesse grupo (Kállas, 08 abr. 2020).

No final de junho, Henrique Gomes publicou, na “Folha de S. Paulo”, o texto “O que aprendemos (e o que não) com a gripe espanhola”. Nele, ressaltou que “apesar dos cem anos que separam as duas epidemias, as iniciativas tomadas no século passado não foram muito diferentes das atuais” (Santana, 22 jun. 2020, s./p.). A passagem se refere às medidas de distanciamento social. O artigo apresenta um vídeo produzido pelo jornal, com a participação da antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz e da historiadora Christiane Maria Cruz de Souza. No vídeo, Schwarcz destaca que tais ações, hoje fazem parte dos protocolos da Organização Mundial da Saúde, mas, naquela época, não foram tomadas de maneira antecipada.

Investindo em outras similaridades entre os dois contextos, o vídeo apresenta anúncios, em jornais de 1918, de medicamentos que prometiam a cura da gripe. Entre eles, menciona-se que o sal de quinino ganhou destaque entre autoridades e especialistas da saúde pública e foi a principal aposta farmacêutica contra a epidemia. Souza ressaltou a popularidade do medicamento, que chegou a ser indicado como preventivo para a doença. Schwarcz, por sua vez, destacou os riscos que estavam implicados no uso leigo do sal de quinino - o vídeo menciona efeitos colaterais que incluíam desde vômitos à perda temporária da audição - e o define como “cloroquina dos nossos dias” (Folha de S. Paulo, 22 jun. 2020, s./p.).

A respeito das lições deixadas pelas pandemias, Christiane Maria Cruz de Souza ressaltou a importância das medidas sanitárias para evitar a circulação do vírus, nas situações em que não se tem “uma bala mágica, um remédio que vai atuar naquele agente patogênico” (Folha de S. Paulo, 22 jun. 2020, s./p.). Já Lilia Schwarcz, apontou que num contexto em que não existia ainda no Brasil um Ministério da Saúde, a situação da pandemia evidenciou a necessidade de uma gestão centralizada da saúde pública (Folha de S. Paulo, 22 jun. 2020). A primeira tentativa de criar essa organização foi o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), em 1920, que teve Carlos Chagas como o seu primeiro diretor. Já um Ministério da Saúde só seria criado na década de 1930. O diálogo entre a equipe da saúde e o presidente, assim como a centralização das ações de combate à pandemia, na visão de Lilia Schwarcz, seria o aprendizado de 1918 que teríamos esquecido na pandemia de Covid-19 (Folha de S. Paulo, 22 jun. 2020).

Considerações finais

Entre as décadas de 1940 e 2010, os jornais “O Globo” e “Folha de S. Paulo” elaboraram recorrentemente narrativas sobre a pandemia de 1918-1919, sobretudo, em contextos de epidemias. Os usos políticos e as formas por meio das quais a história da gripe espanhola foi recordada se modificaram ao longo desse período.

A gripe espanhola foi correntemente apresentada como o pior cenário possível de uma epidemia. Sua evocação tinha o objetivo de dimensionar as proporções de um evento pandêmico e inspirar os cuidados necessários para que uma tragédia semelhante não se repetisse. Em 2020, a gripe espanhola virou notícia mais uma vez e ensejou a produção de novas narrativas históricas pelos jornais no contexto da pandemia de Covid-19. A urgência de refletir sobre a crise sanitária iluminou o interesse público sobre o tema e fomentou a colaboração de diferentes atores, da imprensa tradicional e dos diversos veículos de mídia, para além do espaço acadêmico, na produção de novas narrativas sobre o episódio de 1918-1919, interessadas nos desafios do presente.

Além de um cenário para dimensionar o impacto da pandemia atual, como ocorreu em outros contextos, em 2020, a história da gripe espanhola foi mobilizada nos jornais, principalmente do ponto de vista de um passado que poderia oferecer lições e orientar o futuro pós-pandemia. Considerada como o cenário mais parecido com o da pandemia de Covid-19, no que diz respeito às ações necessárias para o enfrentamento da doença, a pandemia de um século atrás foi relembrada para defender a adoção e a manutenção das medidas precoces de isolamento social, dos cuidados higiênicos, do uso de máscaras, assim como a ação centralizada e coordenada entre autoridades da saúde pública e lideranças políticas.

Nesse contexto, a colaboração mais assídua das historiadoras e dos historiadores nos veículos de mídia vem reiterando a importância das reflexões em torno da História Pública, que tem se ampliado no Brasil, nas últimas décadas, e colocado em evidência o debate sobre a divulgação de história, pensando numa dimensão ampliada do conhecimento histórico e dos seus públicos.

Fontes

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Notas

1 Gostaríamos de prestar solidariedade às famílias das centenas de milhares de vítimas da Covid-19 no Brasil.
2 “O Globo” (Gois, 06 abr. 2020) e a “Folha de S. Paulo” (Castro, 20 mar. 2020) publicaram a respeito da controvérsia em torno da morte de Rodrigues Alves.
3 Para uma discussão a respeito da história pública, ver Santhiago, Almeida e Mauad (2016) e Carvalho e Teixeira (2019).
4 O gráfico foi elaborado com base no levantamento realizado no acervo digital dos jornais.
5 Como destaca André Felipe Cândido da Silva (2020), os dois medicamentos desenvolvidos para o tratamento da malária foram utilizados em doentes graves da Covid-19. Apesar dos alertas feitos pela comunidade científica, sobre os riscos envolvidos no seu uso, e da falta de resultados conclusivos a respeito da sua eficácia contra o coronavírus, o medicamento foi mencionado pelos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e o brasileiro, Jair Bolsonaro, para o tratamento da Covid-19. O Ministério da Saúde, no Brasil, chegou a publicar uma portaria autorizando os médicos do país a receitar o medicamento para os casos leves da doença.


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