Dossiê

Pandemias na ordem do dia: Covid-19 e a gripe espanhola (re)tratada na imprensa brasileira

Pandemics on the agenda: Covid-19 and the Spanish flu portrayed in the Brazilian press

Pandemias en la agenda: Covid-19 y la gripe española (re)tratada en la prensa brasileña

Maycon Dougllas Vieira dos Santos
Universidade de São Paulo, Brasil
Thiago Barbosa Soares
Universidade Federal de Tocantins, Brasil

Pandemias na ordem do dia: Covid-19 e a gripe espanhola (re)tratada na imprensa brasileira

Revista NUPEM (Online), vol. 13, núm. 30, pp. 12-25, 2021

Universidade Estadual do Paraná

Recepción: 10 Diciembre 2020

Aprobación: 29 Abril 2021

Resumo: Nosso principal objetivo neste texto consiste em analisar os discursos provenientes das repor-tagens publicadas acerca do passado epidêmico de gripe espanhola no Brasil, estampadas nos jornais de grande circulação nacional, e que utilizaremos para nossa análise, tais como: “Portal G1”, “El País”, “Jornal Cidade”, principalmente entre os meses de abril e maio de 2020. Essas reportagens se inter-relacionam com os aspectos da situação pandêmica do presente, evocando, na construção da narrativa, uma memória discursiva, que indicializa determinados aspectos, contrastes e efeitos de sentidos variados. Abordaremos, neste empre-endimento investigativo, os consa-grados pressupostos da Análise de Discurso de tradição francesa, mais especificamente, os estudos de Michel Pêcheux, Michel Foucault e Eni Orlandi, para desenvolver nossas análises. Daremos destaque ao conceito de memória discursiva, e como ela pode iluminar os debates que a própria imprensa se propõe a realizar quando reconstitui a historicidade da epidemia de gripe espanhola no Brasil.

Palavras-chave: Análise do discurso, Memória discursiva, Gripe Espanhola, Covid-19.

Abstract: Our main objective in this text is to analyze the speeches from the published reports about the Spanish flu epidemic past in Brazil, printed in newspapers of great national circulation, which we will use for our analysis, such as “Portal G1”, “El País”, “Jornal Cidade”, mainly between the months of April and May 2020. These reports are interrelated with aspects of the present pandemic situation, evoking, in the construction of the narrative, a discursive memory, which indicates certain aspects, contrasts and effects of varied meanings. We will approach, in this investigative enterprise, the established assumptions of Discourse Analysis of French tradition, more specifically, the studies of Michel Pêcheux, Michel Foucault and Eni Orlandi, in order to develop our analyzes. We will highlight the concept of discursive memory, and how it can illuminate the debates that the press itself proposes to carry out when it reconstructs the historicity of the Spanish flu epidemic in Brazil.

Keywords: Discourse analysis, Discursive memory, Spanish Flu, Covid-19.

Resumen: Nuestro principal objetivo en este texto es analizar los discursos de los informes publicados sobre el pasado epidémico de gripe española en Brasil, impresos en diarios de gran circulación nacional, que utilizaremos para nuestro análisis, como “Portal G1”, “El País”, “Jornal Cidade”, principalmente entre los meses de abril y mayo de 2020. Estos relatos se interrelacionan con aspectos de la actual situación pandémica, evocando, en la construcción de la narrativa, una memoria discursiva, que indica ciertos aspectos, contrastes y efectos de variados significados. Abordaremos, en esta empresa investigadora, los supuestos consagrados del Análisis del Discurso de la tradición francesa, más concretamente, los estudios de Michel Pêcheux, Michel Foucault y Eni Orlandi, para desarrollar nuestros análisis. Destacaremos el concepto de memoria discursiva, y cómo puede iluminar los debates que la propia prensa se propone llevar a cabo cuando reconstruye la historicidad de la epidemia de gripe española en Brasil.

Palabras clave: Análisis del discurso, Memoria discursiva, Gripe española, Covid-19.

Introdução

L'histoire, l'histoire se répète

Seuls changent les mots

(Claudio Capéo)

As intenções e os propósitos que nos levaram a escrever o presente texto são diversos, contudo, figura entre esses a necessidade advinda das circunstâncias sociais, políticas e econômicas de 2020 de se projetar luz sobre o modo por meio do qual a imprensa/mídia retrata pandemias de alcance global. Logo, nestas linhas introdutórias tentaremos abarcar todos os nossos intentos, para deixar evidente, de antemão, que não é possível resolver as problemáticas que giram em torno do tema em questão. Visto que no momento em que este texto está sendo gestado, os processos envoltos da pandemia de Covid-19 ainda estão em aberto, e provavelmente, ficarão assim por algum tempo.

Ou seja, por estarmos imersos integralmente na própria lógica temporal que pretendemos discutir ao longo do trabalho, torna-se um exercício complexo de analisar, no âmbito discursivo, as múltiplas vozes de um passado epidêmico (ou pandêmico), que encontraram no tempo presente formas de se atualizarem. “Disso se deduz que há uma relação entre o já-dito e o que se está dizendo que é a que existe entre o interdiscurso e o intradiscurso ou, em outras palavras, entre a construção do sentido e sua formulação” (Orlandi, 2003, p. 32).

Portanto, existem pelo menos dois limites distintos: o primeiro é o desafio de se “afastar” de um objeto ou uma problemática que ainda não foi encerrada por completo. Esse distanciamento é quase uma obrigatoriedade para que, então, as conclusões obtidas pela análise de um tempo presente não sejam afetadas pelo próprio momento. Será possível não cair nesta armadilha? O historiador Ulpiano Bezerra de Meneses (1992) nos recorda que todo tipo de memória é demandada pelas questões do presente1. Sendo assim, se os vestígios memoriais e discursivos da situação epidêmica de gripe espanhola no Brasil tornaram-se um assunto tão em voga nos últimos meses, é porque certamente há um elo desta com a atual pandemia global. Ou seja, uma demanda do presente que busca, em algum passado relativamente semelhante, respostas aos anseios e incertezas que assolam os sujeitos deste tempo.

Esta é uma das razões pelas quais pretendemos palmilhar certas características do passado histórico da pandemia de gripe espanhola (isolamento das cidades, fechamento dos comércios, hospitais abarrotados de “espanholados”), o que justifica a escolha desta como um evento discursivamente atualizado nos dias atuais. Ou seja, surgiram discursos na grande imprensa brasileira atualmente sobre uma exacerbada semelhança entre a gripe espanhola e o Covid-19, fato este que encontrou na imprensa brasileira um espaço de legitimação e chancela de uma simbiótica e perigosa vinculação.

Chamamos de perigosa, pois, temos por hipótese de que na medida em que as reportagens sobre a história da gripe espanhola são publicadas nos principais jornais brasileiros elas evidenciam as situações parecidas com a pandemia global, esquece-se de destacar as diferenças factuais, circunstanciais e históricas. Cabe aqui perguntar: a quem interessa esta semelhança? Será que as diferenças não foram levadas em consideração de maneira proposital?

Ao que parece, a tendência que muito provavelmente permanecerá no âmbito do debate público, é a de produzir reflexões que se alinhem às opiniões médicas e políticas que utilizem o passado para viabilizar as tomadas de decisões do presente. Pretendemos fazer o caminho reverso, sem deixar de tracejar a discursividade da tragédia causada pela atual situação pandêmica. No entanto, não se pode ignorar que até mesmo esta dimensão possui traços que destoam da gripe espanhola ou de como ela reverberou em solo brasileiro2.

O que vislumbramos nos últimos meses foi um significativo interesse, por parte da imprensa brasileira, pela história da gripe espanhola no Brasil. Quase todos os jornais de grande circulação trouxeram reportagens acerca da temática, quase sempre trazendo apenas as semelhanças entre a epidemia de 1918 e a Covid-19 de 2020. Em uma rápida e provisória leitura, poderíamos dizer que as pretensões por parte do jornalismo brasileiro seriam apontar quais os caminhos que serviram de lições da história para os tempos pandêmicos que vivemos atualmente. Porém, estaremos atentos aos aspectos discursivos destas reportagens que, escancaradamente, retroalimentaram uma memória discursiva acerca da gripe espanhola, e que a moldaram em formatos jornalísticos e noticiosos, combinadas com o cotidiano da pandemia retratada diariamente.

Assim, nosso principal objetivo consiste em analisar os discursos provenientes das reportagens publicadas acerca do passado epidêmico de gripe espanhola no Brasil (“Portal G1”, “El País”, “Jornal Cidade”). Reportagens estas que se encontram estampadas desde o início da pandemia de Covid-19, mais especificamente entre os meses de abril e maio de 2020, e que se inter-relacionam com os aspectos da situação pandêmica do presente, evocando, na construção da narrativa, uma memória discursiva, que, ao que tudo indica, realça determinados aspectos, sem deixar de destacar as devidas diferenças. Utilizaremos os pressupostos da Análise de Discurso de tradição francesa, mais especificamente, os estudos de Michel Pêcheux, Michel Foucault e Eni Orlandi, para desenvolver nossas análises. Destacaremos o conceito de memória discursiva, e como esse pode iluminar os debates que a própria imprensa se propõe a realizar quando reconstitui historicamente a epidemia de gripe espanhola no Brasil.

Memória discursiva ou interdiscurso? Um mapeamento

Antes de adentrarmos especificamente à análise das reportagens, acreditamos ser necessário apresentar e delimitar o quadro teórico e metodológico no qual iremos nos inscrever. Para tal, perfilaremos sob os domínios da Análise de Discurso (AD) de tradição francesa, destacando a noção de memória discursiva, sem deixar de cotejar termos conceituais, tais como: interdiscurso e esquecimento. A memória discursiva sobre a gripe espanhola no Brasil, assim como qualquer outra, não é algo estático, fossilizado no passado ou um repositório homogêneo de informações, onde os indivíduos as acessam no presente sem transformá-las ou deformá-las, ou selecionar este aspecto e não outro de sua constituição. A memória discursiva, ou a memória do dizer, é “necessariamente um espaço móvel de divisões, de disjunções, de deslocamentos e de retomadas, de conflitos de regularização” (Pêcheux, 1999, p. 56).

Partindo, então, de Michel Pêcheux, no qual tece em seu texto “Papel da memória” (1999) uma definição precisa de memória discursiva, nos propusemos pensar como a memória do passado pandêmico se insere na ordem do acontecimento, no real histórico, que a todo o momento estabelece relações com o presente, até mesmo para ter uma forma de significar de um jeito e não de outro. Em outras palavras, talvez se partíssemos da indagação “como os indivíduos lembram-se de tal acontecimento?”, e a partir daí, já perceberíamos que, certamente, as sociedades organizam suas respectivas memórias de acordo com as formações ideológicas que circulam os sujeitos, fundando e (re)significando os sentidos, no caso, de um tempo epidêmico sendo rememorado na imprensa brasileira. “Com efeito, a relação que associa significações de um texto às condições sócio-históricas desse texto não é absolutamente secundária, mas constitutiva das próprias significações” (Pêcheux, 2011, p. 68).

Com isso em nosso horizonte, o percurso teórico através do qual caminharemos advém dos estudos “pecheutianos” e “foucaultianos”, que nos faz compreender que o discurso é o que está no entremeio da língua e da fala, que desvela os efeitos de sentidos entre os pontos A e B, ou como diz Eni Orlandi (2003, p. 21), “efeitos de sentidos entre interlocutores”. Ou seja, analisar um discurso não é procurar o sentido por de trás dele, ou o que ele esconde através das palavras, mas revelar como os significados se estruturam em efeitos que têm suas condições de produção trazidas tanto no ato de dizer quanto na memória do dizível. Traduzindo para os termos de nosso trabalho, o que pretendemos analisar não são os discursos ou o passado histórico da epidemia de gripe espanhola no Brasil em si mesmo, mas, sim, verificar a maneira como o fenômeno está sendo lembrado e (re)memorado atualmente.

Dito isso, para este tópico, iremos precisar algumas bases teóricas e metodológicas, para então avançar na análise. Eni Orlandi, em seu livro “Análise de discurso: princípios e procedimentos” (2003) mobiliza uma interessante discussão a respeito dos dispositivos teóricos e analíticos reunidos pelo analista do discurso. Para Orlandi, “há uma parte que é da responsabilidade do analista e uma parte que deriva da sua sustentação do rigor do método e no alcance teórico da Análise de Discurso. O que é de sua responsabilidade é a formulação da questão que desencadeia a análise” (Orlandi, 2003, p. 27).

A questão que engendrou nossa análise foi “como a gripe espanhola está sendo lembrada pela imprensa brasileira?”, e partindo do pressuposto metodológico discutido por Eni Orlandi, há uma parte que é de nossa responsabilidade, qual seja, formular a questão e mobilizar os conceitos que, certamente, não seriam mobilizados diante de outras questões. Isto quer dizer que, segundo Orlandi, cada análise possui um caráter de singularidade, pois o analista, a depender da filiação teórica na qual se inscreve, irá se situar em quadros teóricos nos quais irá se fundir com os limites e domínios gerais da Análise de Discurso. Ainda segundo Eni Orlandi, “Daí dizermos que o dispositivo teórico é o mesmo mas os dispositivos analíticos, não. O que define a forma do dispositivo analítico é a questão posta pelo analista, a natureza do material que analisa e a finalidade da análise” (Orlandi, 2003, p. 27).

A finalidade de nossa análise nos levou a certos recortes conceituais, no qual percebemos que o conceito que melhor poderia lançar luz para o debate que propomos realizar é o da memória discursiva. Não somente esse, mas também o interdiscurso, o esquecimento e o acontecimento. Diante de todos os procedimentos teóricos da Análise de Discurso, escolhemos trabalhar com estes conceitos levando em consideração o caráter histórico. Nosso objeto de estudo é um acontecimento do passado que, no presente, está sendo relembrado pela imprensa no Brasil. Logo, seria quase impossível não levar em conta o real histórico que situa o passado e seu contexto específico e a circulação das ideias desse passado em um outro tempo, que muito se assemelha, por conta da atual pandemia, mas que inevitavelmente não são a mesma situação, visto que são tempos históricos distintos. Portanto, nossa análise caminhará na esteira da narrativa histórica, bem como da memória histórica, alinhado com os aspectos da memória discursiva.

Por que estamos optando por trazer os aspectos históricos? Tentaremos, brevemente, responder este questionamento metodológico, e relacionar com a indagação que compõe o título desta seção. A memória discursiva fora inicialmente mobilizada por Jean-Jacques Courtine, que segundo Marie-Anne Paveau (2007, p. 2), “é, com efeito, um conceito que propõe, ao mesmo tempo, um desenvolvimento, um aprofundamento e quase uma alternativa àquela de formação discursiva, e que visa a ancorar a análise do discurso na história, integrando os tempos (curtos, médios ou longos) da memória no estudo da materialidade linguageira”.

Courtine elabora este conceito pouco tempo depois de Pêcheux empreender o que ficou conhecido como interdiscurso, o que moldou de maneira significativa o eixo da formulação e eixo do formulável. A partir de então, passou-se a ser entendido que o intradiscurso é o eixo do que é dito, enquanto o interdiscurso seria aquilo que constitui o que é dito, o formulável do dizer. Neste último eixo, os sentidos que já significam, o “já-dito” também se inscrevem na ordem do enunciado. Logo, tudo aquilo que já fora dito sobre uma determinada palavra ou sobre determinado acontecimento, por exemplo, também significa e (re)ordena os sentidos de um determinado discurso. Orlandi, então, consagra a memória discursiva como interdiscurso. Ou seja, está na base do dizível e, segundo a autora, sustenta cada tomada da palavra.

Ora, se a memória discursiva é “aquilo que fala antes, em outro lugar, independente” (Orlandi, 2003, p. 31), como ela podia ter um fim no que está dito? Para isso, faremos, de maneira provisória, um mapeamento das diferenças destes dois conceitos. A memória discursiva é o que está no interdiscurso, mas é “algo mais”. Esse algo considera os aspectos sócio-históricos nos quais estão situados um determinado domínio do discurso. Isto quer dizer que quando a imprensa aciona a memória discursiva sobre a gripe espanhola no Brasil, aquela determinada matéria possui um interdiscurso no qual apresenta o “já-dito”, mas há algo da memória histórica que também significa naquele discurso. Esta memória é transfigurada ao favor da formação discursiva de quem a está evocando, o que talvez explique as razões pelas quais são apresentadas as semelhanças entre a gripe espanhola e a Covid-19, sem devidamente mostrar as diferenças de ambas.

Outra grande diferença é que, enquanto o interdiscurso é o que está posto e combinado no intradiscurso, a memória discursiva integra os dispositivos analíticos em um devido aparato “individualizado” pelo analista para então ver “do lado de fora” como essa memória está sendo mobilizada. O trajeto da memória discursiva sobre a gripe espanhola será demonstrado a partir da própria análise das referidas matérias escolhidas para este trabalho, destacando as caracterizações feitas pelos jornalistas, tais como: a adoção do isolamento social na época, por exemplo. E por fim, talvez o que mais explicita de fato a diferença conceitual entre a memória discursiva e o interdiscurso é o esquecimento. A memória do dizer é constituída de esquecimento, e só a partir disso é que produz seus respectivos sentidos. Segundo Ludmila Belotti Funo (2012, p. 5):

No entanto, há uma particularidade que define a natureza da memória discursiva: trata-se do fato que quando enunciamos há essa estratificação de formulações já feitas que presidem nossa formulação e formam o eixo de constituição de nosso dizer. Mas, são formulações já feitas e esquecidas. Por isso é que podemos afirmar que a memória discursiva é constituída pelo esquecimento.

Ainda, segundo autora, o esquecimento pode tanto ameaçar a constituição de um dizer quanto uma importante chave para constituir uma memória social. E é dentro deste escopo que gostaríamos de pensar nossa análise: que a memória histórica da gripe espanhola fora tragada pelo tempo pandêmico do presente, e alguns de seus traços esquecidos ou não-relembrados em detrimento de certos destaques, negociando com a memória discursiva aquilo que, convenientemente, fora estampada nos jornais de grande circulação nacional, concordando então com a historiadora Tânia Regina de Luca (2005, p. 139), que nos diz que “a imprensa periódica seleciona, ordena, estrutura e narra, de uma determinada forma, aquilo que se elegeu como digno de chegar até o público”.

Para finalizar este tópico, traçaremos, ainda que en passant, a noção fundamental para a estruturação de nossa análise, qual seja, a de acontecimento. Retomando o que fora discutido anteriormente sobre o aparato já “individualizado”, vimos também o quão significativo é pensar nosso objeto de análise na ordem do acontecimento, mesmo porque: 1) invariavelmente, a pandemia de Covid-19 tornou-se, em todos os sentidos, o grande acontecimento de nossa era e 2) a aproximação que a imprensa brasileira realizou ao relembrar a gripe espanhola em suas reportagens também é um tipo específico de acontecimento, no qual se formula determinados traços acontecimentais e recorta outros, delineia algumas características e encampa outras.

Conforme ressalta Soares (2021, p. 183):

compreendemos que o acontecimento, como conceito, carrega algo da própria Análise do Discurso, algo que ainda repercute e parece que repercutirá por muito tempo [...] A relatividade do acontecimento parece dizer respeito à própria análise, segundo a qual se traz o acontecimento para a evidência do discurso de sua constituição [...] O caráter absoluto do acontecimento se refere à emergência da disciplina, oriunda de dois grandes projetos, capaz de se manter sempre atual sem deixar de trazer em seu bojo sua própria discursividade como sua emergência, seu surgimento, seu nascimento.

Portanto, o “regime acontecimental” que envolve as duas pandemias retratadas e rememoradas nas páginas dos jornais de grande circulação nacional revela o que Soares está evocando como o caráter relativo do acontecimento, porém, como este fato está no plano discursivo, e considerando que todo acontecimento é passível de ser discursivisado (portanto, analisado), cada vez que utilizamos os pressupostos da Análise do Discurso, estamos trazendo o aspecto absoluto da acontecimentalidade do projeto empreendido por Pêcheux e Foucault no que diz respeito à essência do que é o discurso. E é nesta esteira que pretendemos abarcar nossa análise, partindo dos conceitos de memória discursiva, interdiscurso, esquecimento e acontecimento.

A gripe espanhola (re)lembrada no presente

Desde o início da pandemia de Covid-19 no Brasil, quase todos os jornais de grande circulação nacional publicaram matérias e reportagens sobre a história da gripe espanhola. A incidência maior de publicações fora do período onde quase todos os estados brasileiros passaram a adotar como medida principal o distanciamento e isolamento social, principalmente entre os meses de março e abril deste ano. Inclusive, era esta a ênfase dada às reportagens: a necessidade que havia naquela época de adotar medidas de isolamento para conter o avanço da gripe espanhola. Um dos primeiros jornais a publicarem notícias desta natureza foi o Portal do G1:

Reportagem sobre a gripe espanhola em Curitiba, de 1 de abril de 2020
Imagem 1:
Reportagem sobre a gripe espanhola em Curitiba, de 1 de abril de 2020
Fonte: Portal G1 (2020, s./p.).

Em todo momento, há uma simbiose realizada pela notícia da gripe espanhola com o coronavírus. O acontecimento anterior é transformado em presença atualizada no fio discursivo da materialidade do texto da matéria. Temos o exemplo do trecho inicial que diz que “autoridades também recomendaram que pessoas evitassem aglomerações, assim como acontece hoje em relação ao coronavírus” (Portal G1, 2020, s./p.). Temos aqui o acionamento de uma memória discursiva sobre a gripe espanhola sendo projetada para, em certa medida, obter uma justificativa, através do passado, para a tomada de decisões governamentais chanceladas pelas organizações médicas do presente. A memória do dizer ultrapassa as condições de tempo para ser atualizada como um tipo de reconstituição de um evento agora não tão distante mais.

Não haveria outra razão para tanto apreço a esta temática do que gerar um elo do passado com o presente, e se lá atrás os sujeitos foram obrigados a cumprir o isolamento, por que seria diferente nos dias de hoje? O fato é que este jogo de memórias que circula em dois tempos históricos distintos é nada mais do que, após falar da história da gripe espanhola, trazer informações da atual pandemia, e fazer da gripe espanhola uma aliada que legitima o cotidiano relatado pela imprensa acerca da situação global atravessada atualmente. Em outros termos, a memória do acontecimento da gripe espanhola parece carregar em seu bojo discursivizado na atualidade a operacionalidade argumentativa suficiente para lançar luzes nos primeiros modos de cuidar do acontecimento da Covid-19.

Outro veículo que também publicou notícias sobre o tema foi o jornal El País:

Reportagem sobre a gripe espanhola no Brasil, de 15 de março de 2020
Imagem 2:
Reportagem sobre a gripe espanhola no Brasil, de 15 de março de 2020
Fonte: El País (2020, s./p.).

Embora esta tenha sido uma reportagem muito bem articulada, trazendo falas de deputados federais da época, e tentando a todo o momento apresentar a atmosfera caótica vivida no Brasil, a mesma ainda assim, relembrou alguns aspectos da gripe espanhola elidindo os calorosos debates que surgiram após o agravamento da pandemia de Covid-19. Debates principalmente relacionados à suspensão das aulas, de automedicação e o Sistema Único de Saúde, que combina com a total desorganização do atual Ministério da Saúde. Aqui, é possível explorar nas zonas do dizer, o interdiscurso que relaciona o passado (memória histórica) da gripe espanhola, com aspectos presentes que diz mais do que se quer falar na própria constituição parafrástica. O resgate de algumas condições de emergência de um acontecimento, no caso da gripe espanhola, dificulta a representação das próprias condições de existência de outro fato aludido na reportagem, a pandemia de Covid-19.

Ora, será que quando a matéria vem no subtítulo que “naquele ano, as escolas brasileiras aprovaram todos os alunos” (El País, 2020, s./p.), a imprensa, talvez, esteja também sugerindo que se faça o mesmo no presente? Conforme Maria Betânia Moura (2008, p. 1), “o acontecimento jornalístico, acontecimento discursivo, não se dá no tempo do enunciador, mas numa temporalidade em que o passado é o memorável tecido pelo próprio acontecimento, que tem também o futuro como uma latência”.

A gripe espanhola, transformada em acontecimento jornalístico, revela também, um futuro latente proposto pela própria notícia, o que pode ser exemplificado como a suspensão das atividades escolares e ter no horizonte, segundo os jornalistas, a aprovação automática em todo território nacional, conforme acontecera no passado, sem considerar que neste passado, a taxa de alfabetização escolar no Brasil era ínfima, o que tornava mais viável realizar algo deste porte. Aqui se percebe o apagamento das condições de produção de emergência do acontecimento da gripe espanhola que chegou até o Brasil, pois a equivalência de status do vírus anterior com o atual reconfigura, entre outras coisas, as dimensões de letalidade de um para diminuir a do outro, isto é, a gripe espanhola passa a ser discursivizada como a Covid-19 do passado.

Ao retornar ao histórico da gripe espanhola, a imprensa brasileira publicou apenas os traços que se assemelham com a pandemia de Covid-19. No próprio subtítulo, diz que “a busca por remédios milagrosos teve um efeito colateral inusitado, a criação da caipirinha” (El País, 2020, s./p.), e o tom irônico advindo pela palavra “inusitado” toca em uma zona do discurso do presente, sobretudo sobre os usos de medicamentos politicamente defendidos por representantes governamentais, tais como a “cloroquina”. Ora, se no passado a busca era por remédios “milagrosos”, o caráter divino permaneceu na defesa de um medicamento que, aos olhos do atual presidente da República, poderia curar o indivíduo acometido pelo vírus da Covid-19. Sem dizer explicitamente, a imprensa joga com as palavras para defender seu próprio posicionamento político. O Jornal Cidade também publicou no mesmo período uma reportagem sobre a temática:

Reportagem sobre a gripe espanhola no Brasil
Imagem 3:
Reportagem sobre a gripe espanhola no Brasil
Fonte: Jornal Cidade (2020, s./p.).

Enquanto as matérias anteriores deixavam nas entrelinhas, esta já apresenta no título de forma evidente que não há sombra de dúvidas que os dois tempos pandêmicos são significativamente parecidos, mesmo sendo possível matizar estas semelhanças. O que mais chama atenção é a pergunta que é feita no título “A história se repete?” (Jornal Cidade, 2020, s./p.), tornando passível de compreender que, na verdade, não se trata de uma indagação, mas de uma posição adotada pela própria notícia acerca da tamanha proximidade que há entre a gripe espanhola e a Covid-19.

Basicamente, a reportagem apresenta todas as possíveis semelhanças entre os dois períodos, trazendo alguns trechos de relatórios médicos que indicavam que aquele era o “maior surto epidêmico vivido na história” e uma fala de uma historiadora que diz que a “ideia de que a história se repete pode ser questionável” (Jornal Cidade, 2020, s./p.). Esta historiadora, inclusive, deixa claro que a história de fato nunca se repete. Mas se este fosse o posicionamento do jornal, por que não foram evidenciadas as disparidades que tornassem a assertiva falsa? Se a história não se repete, por que o título veio em forma de indagação?

Existe uma contradição lógica, mas não evidente, pois o caráter de noticiabilidade no qual o discurso jornalístico ocupa na sociedade autoriza que se possa dizer de um jeito, mesmo que haja contradições, arbitrariedades e traços de subjetividade. Ainda segundo Maria Betânia Moura (2008, p. 6), o conjunto de enunciados que formam as estruturas narrativas de uma notícia jornalística, delimita seu discurso, “de modo a não perder suas especificidades, garantidas pela adoção dos critérios de noticiabilidade: atualidade, novidade (singularidade), interesse, proximidade”. Logo, o espaço discursivo no qual o jornalismo ocupa permite que reportagens como essa sejam autorizadas a circular, mesmo tendo a ciência de que de fato a história nunca se repete, ao mesmo tempo, através do regime de verdade vinculado ao sujeito-jornal, o “Jornal Cidade” pode afirmar a negativa, questionar o presente e o passado, uni-los através de uma memória discursiva, e selecionar os aspectos semelhantes, sem destacar as devidas diferenças.

Gripe espanhola e Covid-19: distâncias que se cruzam

O enfoque deste tópico está mais relacionado em apontar os parâmetros e as fronteiras de nossa análise. É como se neste momento colocássemos nosso objeto de estudo em uma casa de espelhos, e os diferentes feixes, com diferentes perspectivas sendo apresentados aos nossos olhos, sem, contudo, termos a possibilidade de enxergar a totalidade dos fatos e acontecimentos. Estaríamos fazendo de maneira semelhante ao que a imprensa brasileira realizou nas reportagens, mobilizando a memória discursiva da gripe espanhola de modo a selecionar um tipo de passado que pudesse ser “colado” ao presente da pandemia de Covid-19.

No entanto, talvez, nossa proposta aqui seja não se alinhar aos discursos defendidos nas páginas publicadas em veículos de informação sobre a temática, mas de contrapô-las aos próprios fatos lembrados e esquecidos, para tentar observar, não completamente, a problemática de se recorrer a uma memória histórica sem, contudo, evidenciar como este passado histórico está, também, distante do presente. Ora, isto não quer dizer que por estar distante que não haja de fato semelhanças entre 1918 e 2020. Porém, a maneira simplista que a imprensa adotou para diminuir esta distância é, no mínimo, arbitrária. Este tópico trilhará o espinhoso caminho de apreender como as distâncias entre a gripe espanhola e a Covid-19 se “cruzam”, revelando o que também não foi dito, nos próprios termos das notícias, construindo uma história, para se utilizar um termo de Walter Benjamim, “a contrapelo”3.

Provisoriamente, poderíamos dizer que a epidemia de gripe espanhola e a pandemia de Covid-19 seguiram, de maneira próxima, quase o mesmo percurso “natural” da doença, sendo que ambas vieram através de sujeitos contaminados no exterior, e que ao desembarcarem no país, fora confirmado que estavam acometidos pelo vírus. No entanto, a dinâmica de contágio possui traços sociais. Sendo assim, as epidemias que ocorreram em toda a história humana, sobretudo as que estão sendo relatadas neste trabalho, foram também afetadas pelo próprio contexto histórico-social onde determinada doença ou vírus surgiu. De acordo com Adriana Costa Goulart (2005, p. 104-105):

Historicamente, epidemias e ideologias se difundem da mesma forma, proporcionando o aparecimento de conflitos sociais e de resistência ao intervencionismo e às tentativas de medicalização da sociedade. A classificação de um estado como doença não é um processo socialmente neutro, e, na administração de saúde, torna-se uma linha tênue entre legitimação e estigma.

Portanto, uma das questões que podem aproximar os dois momentos pandêmicos de nossa história é que houve reações sociais quanto ao modo que os governantes e autoridades médicas agiram em relação à doença, bem como as atitudes dos sujeitos leitores reagindo ao que se lia sobre a situação vivida no país, por exemplo. Mas, estas reações são específicas de sua própria lógica temporal, que muito pouco tem de semelhante. Ainda segundo Goulart (2005), o nome “espanhola” vinha do fato de que na Espanha não se fazia segredo a despeito dos impactos da doença, ao contrário de muitos outros países que adotaram, inclusive o Brasil, um tom mais suavizado sobre a gripe espanhola.

E mesmo durante a passagem desta em solo brasileiro, ainda que se fizessem reportagens cotidianas do “terror” provocado pela epidemia, a imprensa da época não abandonou os pedidos de tranquilidade. Porém, este discurso tranquilizador precisa ser historicizado e compreendido no seu próprio tempo histórico. A imprensa adotara esta atitude proveniente de uma outra memória discursiva, aquela vinda dos tempos medievais de que a saúde do corpo e da mente são indissociáveis, e que uma mente “saudável” e livre do medo e do pânico que possa ser gerado por um surto pandêmico, estaria menos predisposto a obter a doença. Esta memória, segundo Liane Maria Bertucci (2009, p. 462), fora reatualizada durante o período da gripe espanhola. Segundo a autora:

Quando a epidemia de gripe espanhola tornou-se uma triste realidade para os brasileiros, apelos para que a população mantivesse a calma, afastasse o pânico ou o medo exagerado, atualizaram no início do século XX preceitos médicos de séculos anteriores, preceitos que podiam até ser condenados pela moderna medicina do novecentos, mas que estavam vivos na mentalidade dos homens da década de 1910.

Vemos aqui um possível distanciamento entre os dois períodos pandêmicos, visto que a imprensa brasileira em quase nenhum momento adotou o tom de tranquilidade, na medida em que os principais jornais de grande circulação possuem todas as informações de novos casos e mortes diárias provocadas pela Covid-19, em tempo real. Não estamos defendendo que a imprensa haja com negligência no que diz respeito em informar à sociedade sobre a situação vivida pela pandemia. Mas, o fato é que houve uma mudança significativa, e por que não dizer um completo abandono desta memória de tranquilização, e que encontrara na memória da gripe espanhola, uma nova maneira de encarar a situação do presente?

Outro ponto que intersecciona a gripe espanhola e a Covid-19 é o papel atuante da imprensa, principalmente no que tange em informar à população sobre a circulação da doença no país, denunciar o descaso dos governos municipais, estaduais e federais quanto ao combate da pandemia, dentre outros. Durante a gripe espanhola, os jornais atuaram para além de simples editoriais informativos. Ainda segundo Bertucci (2018, p. 54):

A proposta de isolar a cidade não foi efetivamente discutida em outubro de 1918, mas os jornais também apresentaram outras sugestões, menos radicais, que podem ter concorrido para ações de combate à epidemia e seus efeitos [...] O Estado de S. Paulo insinuou que o governo poderia ajudar financeiramente a subsistência de gripados pobres e operários e as fábricas estavam paralisando suas atividades devido à epidemia e solicitou que os paulistanos fizessem donativos para as vítimas necessitadas da gripe espanhola.

Houve efeitos práticos diante das solicitações feitas pela imprensa da época, e as diversas organizações civis realizaram envios de donativos, medicamentos, para os “espanholados”. Alguns jornais também disponibilizaram seus espaços para composição de leitos, e ainda segundo Bertucci, ao passo em que se acrescia o medo e o pavor causados pela epidemia, aumentava também o espectro de solidariedade, advinda principalmente pelas pessoas comuns, muito mais por elas do que pelas autoridades médicas e políticas.

E se este é um ponto que “cruza” com o atual momento que vivemos, a mesma se distancia quando se percebe que há poucos indícios noticiosos por parte da imprensa quanto ao incentivo de solidariedade civil. Traduzindo para os termos de nossa análise, enquanto a imprensa brasileira seleciona certas especificidades da memória discursiva da gripe espanhola, a mesma mobiliza o esquecimento de aspectos de generosidade que fora provocada na época.

Conclusões

Michel Foucault em sua emblemática obra “A ordem do discurso” (2005) nos recorda que não há uma “fonte originária” de um discurso, e que a partir desta fonte, todos os sentidos viriam deste lugar inicial. Ou seja, a própria constituição da memória da gripe espanhola é atravessada por uma outra memória, mais antiga, a respeito de como se encarava uma doença. E que assim como a imprensa na época da gripe espanhola filiou-se a estes sentidos outros, o jornalismo brasileiro atual optou também por selecionar um passado histórico que combinasse com as características da pandemia de Covid-19.

Foucault também nos lembra em seu livro “Arqueologia do saber” (2013) de que as formações discursivas são carregadas de sentidos anteriores a ela, que fala antes, de um outro lugar, e que continuamente são atualizados e rememorados, o que não foi diferente no caso que analisamos no presente trabalho. A memória discursiva sobre a gripe espanhola viera também com a própria atualização feita na época de sua aparição no Brasil, o que ficara registrado nos jornais de seu tempo, e retroalimentado no presente a partir de um movimento de apagamento (ou esquecimento) para então significar dentro do espaço discursivo da pandemia de Covid-19. Esquecimento este importante para que o discurso midiático ocupasse um lugar de opinião e posicionamento político bastante articulado e unívoco.

Enquanto na gripe espanhola, a imprensa parecia dividida quanto à forma que as autoridades médicas e políticas tratavam da situação, ou se a melhor opção seria a adoção ou não do isolamento social, nos tempos atuais, ao que tudo indica, a imprensa brasileira utiliza de seu caráter noticioso para, a todo o momento, defender esta prática, a única que talvez possa minimizar o contágio. Assim, através do claro posicionamento que a imprensa brasileira possui atualmente sobre a pandemia de Covid-19, buscou-se na memória discursiva da gripe espanhola atualizada hoje um passado que legitimasse suas respectivas opiniões cujas conotações refletem um posicionamento profundamente político.

Referências

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JORNAL CIDADE. A história se repete? 100 anos depois, pandemia da Covid-19 se assemelha à gripe espanhola. Jornal Cidade. 25 maio 2020. Disponível em: https://bit.ly/3z4VrK2. Acesso em: 19 ago. 2021.

LUCA, Tânia Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla (Org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p. 111-153.

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Notas

1 Segundo o historiador Ulpiano Meneses (1992, p. 11), a “elaboração da memória se dá no presente e para responder a solicitações do presente. É do presente, sim, que a rememoração recebe incentivo, tanto quanto as condições para se efetivar”.
2 Há uma notícia publicada no “Jornal Folha PE” que nos diz que “a pandemia de gripe espanhola é considerada ‘a mãe das pandemias’ por ter matado mais de 50 milhões de pessoas ao redor do globo, cuja população era de 2 bilhões, com uma letalidade de 2,7%. Em números absolutos, a pandemia do novo coronavírus já pode ser considerada a mais mortal da história do Brasil. Na época da gripe espanhola, a população do País era de pouco mais de 28 milhões de habitantes. Hoje, são mais de 210 milhões” (Portal Folha PE, 2020).
3 Walter Benjamim (2012, p. 15) nos diz que “Não há documento de cultura que não seja também documento de barbárie. E, do mesmo modo que ele não pode libertar-se da barbárie, assim também não o pode o processo histórico em que ele transitou de um para outro. Por isso o materialista histórico se afasta quanto pode desse processo de transmissão da tradição, atribuindo-se a missão de escovar a história a contrapelo”.
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