Editorial
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É com prazer que apresentamos o número 8 da Revista Brasileira de Sociologia, que traz doze artigos inéditos sobre temáticas variadas.
No que poderia ser considerado uma homenagem a Rodolfo Stavenhagen, falecido em novembro último, Diogo Valença de Azevedo Costa nos presenteia com uma análise das principais ideias sobre classes sociais, colonialismo e relações interétnicas desenvolvidas pelo antropólogo/sociólogo mexicano. Numa perspectiva distinta, Jorge Alexandre Barbosa Neves e Flavia Pereira Xavier também exploram conexões entre diferentes formas de desigualdade, a partir de um estudo comparativo de estruturas ocupacionais, classes sociais e raça no Brasil e nos Estados Unidos. Passando ao domínio da sociologia política, o artigo de Maria Laura Eberhardt examina o uso do mecanismo de revogação dos mandatos políticos (recall) na América Latina com base no estudo de sua aplicação ao governo de Hugo Chávez, na Venezuela, em 2004.
Com o ensaio de Octávio Sacramento, o foco recai sobre as diferentes disposições presentes nas relações íntimas na pós-modernidade, com ênfase na tensão entre forças individualizantes, de um lado, e o papel homogeneizador da narrativa cultural do amor romântico, de outro. O artigo de Raíza Cavalcanti estabelece um diálogo entre a teoria dos campos de Pierre Bourdieu e a concepção de democracia agonística de Chantal Mouffe na construção do conceito de “agenciamentos artísticos” como centro e foco de suas reflexões em sociologia da arte. Também com foco na ação, Daniel Guerrini inspira-se na noção weberiana de “personalidade” para investigar a noção de dever como categoria sociológica fundamental na análise das sociedades capitalistas contemporâneas.
Vanda Mendes Ribeiro, por seu turno, traz uma contribuição ao estudo das desigualdades escolares na educação básica, ao propor uma metodologia para identificar redes de ensino mais equitativas na geração de aprendizagens. Ainda no campo da educação, Karina Gomes Giusti discorre sobre a psiquiatrização de comportamentos próprios à infância no sistema escolar, caracterizando este processo em termos de estratégia biopolítica.
Os sentidos da ideia de diversidade cultural constituem o foco do artigo de Marcelo Alario Ennes, que examina suas diferentes acepções com base em três concepções distintas de diferença: como desigualdade, como direito e como “expressão de formas mais ambivalentes nas quais concepções essencializadas e despolitizadas da diversidade convivem com a ampliação de noções e práticas de direitos”. Na interface entre sociologia rural e estudos de gênero, Maria Luísa Duarte Azevedo Barbosa e Débora F. Lerrer discutem a relação entre posse da terra e desigualdades de gênero, mostrando que a conquista da titularidade tende a conferir maior poder de barganha às mulheres do campo, seja no âmbito público, seja no privado. Gabriela Schiavoni, por sua vez, analisa as características do “regime de familiaridade” como uma forma de coordenação econômica, tomando como exemplo a comercialização de alimentos nos mercados locais de produtores (ferias francas) da provincia de Missiones, na Argentina. Por fim, Ícaro Yure Freire de Andrade procura demonstrar a importância de elementos estilísticos presentes no gênero de horror para a compreensão de tensões e dilemas sociais próprios à modernidade, tendo como estudo de caso o filme À meia-noite levarei sua alma, de José Mojica Marins. Boa leitura!
Cynthia Hamlin
Co-Editora