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Ciberespaço e emoções: a digitalização do medo na crise de segurança pública e aquartelamento da Polícia Militar / ES de 2017

Cyberspace and emotions: the digitization of fear in the crisis and public security of military barracks of Military Police / ES 2017

Patrícia Pereira Pavesi
Universidade Estadual do Espírito Santo, Brasil
Maria Cristina Dadalto
Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil

Ciberespaço e emoções: a digitalização do medo na crise de segurança pública e aquartelamento da Polícia Militar / ES de 2017

Revista Brasileira de Sociologia, vol. 7, núm. 16, pp. 207-234, 2019

Sociedade Brasileira de Sociologia

Recepção: 01 Abril 2019

Aprovação: 26 Maio 2019

Resumo: Em fevereiro de 2017, o Espírito Santo vivenciou dias de medo. Nas cidades da Região Metropolitana da Grande Vitória e nas principais cidades de porte médio, em especial, os moradores permaneceram por dias sitiados dentro de suas casas. Assassinatos, assaltos, roubos ocorreram em vários lugares. Os policiais militares estavam recolhidos nos batalhões. O Estado somente conseguiu retomar o controle da situação com a chegada da Força Nacional. Os sentimentos de medo e a percepção de insegurança produzidos se substancializaram e potencializaram em interações estabelecidas em Redes Sociais Digitais. Esse processo é debatido neste artigo à luz da etnografia digital. Partimos de um caderno de campo cujo tratamento de mídias nativas é a base da discussão na qual se procura problematizar a temática das emoções a partir das configurações que elas tomam em ambientes digitais em que emergem e circulam.

Palavras-chave: Crise de Segurança Pública, Redes Sociais Digitais, Medo.

Abstract: In February 2017, the Espírito Santo experienced days of fear. In the cities of the Greater Vitória Metropolitan Region and the main mid-sized cities, in particular, the residents remained for days under siege inside their homes. Assassinations, assaults, robberies occurred in several places. The military police were gathered in the battalions. The state was only able to regain control of the situation with the arrival of the National Force. The feelings of fear and the perception of insecurity produced became substantial and potentiated in interactions established in Digital Social Networks. This process is debated in this article in light of digital ethnography. We start with a field book whose native media treatment is the basis of the discussion in which we try to problematize the theme of emotions from the settings they take in digital environments where they emerge and circulate

Keywords: Public Security Crisis, Digital Social Networks, Fear.

Fevereiro de 2017, especificamente o período entre os dias 04 e 25, representou dias de absoluto caos na segurança pública do Espírito Santo. Tal situação foi decorrente de um movimento designado “Movimento de Mulheres, Parentes, Amigos e Simpatizantes da PM/ES” (doravante Movimento), que paralisou as atividades e os serviços burocráticos e de rua realizados pela Polícia Militar. Como resultado, viu-se, de um lado, um aumento acentuado da criminalidade violenta; de outro, a generalização de um sentimento de insegurança e medo na sociedade, com moradores sitiados em suas casas, ruas vazias, comércios fechados, condomínios e empresas contratando segurança privada.

A paralisação provocou, somente em seus primeiros sete dias, praticamente o mesmo número de mortes violentas de todo o mês de fevereiro do ano de 2016, em todo o Espírito Santo: 122 homicídios. Comparativamente, entre os dias 4 e 10 de fevereiro de 2016, foram apontados 25 homicídios no Estado; com a paralisação da PM em 2017, o número de mortes nesse período foi de 121, um aumento de 384%[1].

Jornais locais divulgaram que, segundo o Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sindipol-ES), foram registradas 213 mortes durante os dias da paralisação – em apenas um único dia ocorreram 43 homicídios (FOLHA VITÓRIA, 2018). De acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil no Estado (OAB-ES), o perfil dos mortos até o dia 10 de fevereiro era: 90% de homens na faixa dos 17 aos 20 anos de idade, vítimas de disparos de armas de fogo. Encontravam-se entre os mortos usuários de drogas, pessoas com antecedentes criminais, vítimas de balas perdidas e pessoas com deficiência (G1-ES, 2017).

Número de mortes em fevereiro de 2017 ES
Figura 1
Número de mortes em fevereiro de 2017 ES
Sindicato dos Policiais do Espírito Santo (Sindipol-ES).

Tabela 2
Homicídios Dolosos (HD) e Crimes Letais Intencionais (CLI) no Espírito Santo
1º Trimestre 20151º Trimestre 20161º Trimestre 2017
HD444332452
CLI446354467
TOTAL890686919
Boletim Informações Criminais (BIC) do Espírito Santo / IJSN

De acordo com o BIC de maio de 2016, nos meses de janeiro a março de 2015, ocorreram 444 homicídios dolosos, índice que chegou a 332 no mesmo período em 2016. Em 2017, no primeiro trimestre, aconteceram 452 homicídios dolosos. Comparativamente, foram 120 homicídios a mais em relação ao ano anterior, resultando em uma taxa de 11,4 homicídios por 100.000 habitantes nesse período. Ainda fundamentado nos levantamentos do BIC, o número de CLI, no primeiro trimestre de 2016, foi de 354. Em 2015, ocorreram 446, portanto, houve uma redução substantiva em 2016. Por outro lado, a quantidade de CLI no primeiro trimestre de 2017 subiu para 467, ultrapassando os valores de 2015 e, por consequência, tendo um acréscimo de 113 vítimas no período.

No período da paralisação das atividades e dos serviços burocráticos e de rua realizados pela Polícia Militar no Estado, os noticiários informaram também que foram roubados e furtados mais de 660 veículos – a média era de 550 veículos por mês (UOL NOTÍCIAS, 2017) – e que foram saqueadas 300 lojas, estimando-se um prejuízo de 300 milhões de reais ao comércio (BRASIL 247, 2017). Ainda por causa da violência, nos dias 9 e 10 de fevereiro, a Vale, operadora do trem de passageiros da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), não movimentou o trem nos trechos do Estado. Além disso, até o dia 20 de fevereiro, 28 prefeituras de municípios do Estado anunciaram o cancelamento da programação de Carnaval.

A incapacidade do Governo de impor a lei e a ordem nos primeiros dias do Movimento assinalava a insuficiência histórica das ações de políticas públicas de segurança e proteção aos cidadãos e seus bens e ao patrimônio público, apesar da excepcionalidade da situação. Adorno (1998, p. 29), ao refletir sobre os fatos da sociedade contemporânea, refere-se a Foucault, assegurando que: “o anacronismo resulta, portanto, da eterna repetição do mesmo. Não há lugar para o acontecimento. A história não é a atualidade do presente, do novo, do inesperado, do inaudito, do que muda e do que é mudado”.

Durante o período de crise na segurança pública, foram atingidos principalmente moradores das cidades da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) e das cidades de porte médio do interior do Estado, mas o sentimento de medo foi generalizado e difundido por meio das Redes Sociais Digitais (RSD), como Facebook, Instagram, YouTube e WhatsApp. Os principais protagonistas desse processo, os produtores de conteúdo digital, eram os moradores da Região Metropolitana de Vitória e localidades do interior do Estado que registravam e propagavam o que viam e ouviam no seu bairro, na sua rua, na sua cidade, alastrando a percepção de insegurança por todo o Estado.

No processo de coleta de dados, ocorrido durante os dias em que se desenrolou o Movimento e nos meses seguintes, percebemos que o sujeito a quem era dirigido o sentimento expresso pela população nas RSD é tal e qual aquele sustentado por Misse (2010, p. 17):

O mais conhecido desses tipos é o sujeito que, no Brasil, é rotulado como “bandido”, o sujeito criminal que é produzido pela interpelação da polícia, da moralidade pública e das leis penais. Não é qualquer sujeito incriminado, mas um sujeito por assim dizer “especial”, aquele cuja morte ou desaparecimento podem ser amplamente desejados. Ele é agente de práticas criminais para as quais são atribuídos os sentimentos morais mais repulsivos, o sujeito ao qual se reserva a reação moral mais forte [...].

A análise de Misse (2010) se coaduna com o levantamento apresentado pelo Atlas da Violência 2018, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (IPEA, 2018). No documento, os pesquisadores exibem dados estarrecedores: no ano de 2016, no Brasil a taxa de homicídios de indivíduos não negros diminuiu 6,8% e a taxa de vitimização da população negra aumentou 23,1%. Os dados revelam que, em 2016, houve uma taxa de homicídio para a população negra de 40,2%, um indicador 16 vezes maior se comparado com o resto da população. De acordo com os pesquisadores, “implica dizer que 71,5% das pessoas que são assassinadas a cada ano no país são pretas ou pardas” (IPEA, 2018, p. 4).

Ainda segundo o IPEA (2018), o Espírito Santo constava num pequeno grupo de seis Estados no qual a população não negra subsiste numa situação com menor grau de antagonismo em relação à segurança pública: “há nove estados nos quais as taxas de homicídio de negros decresceram na década 2006-2016. Entre esses, destacamos as três maiores reduções: São Paulo (-47,7%), Rio de Janeiro (-27,7%) e Espírito Santo (-23,8%)” (IPEA, 2018, p. 41).

Sendo assim, o contexto específico vivenciado no Espírito Santo em fevereiro de 2017 foi potencializado pelo Movimento, tendo em vista que o estado vinha alterando, até 2016, o seu ranking na listagem dos estados mais violentos do país. Como exemplo, podemos citar os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em 2012, que indicavam que o Espírito Santo ocupava o segundo lugar no ranking nacional de homicídios, com 56,9 mortes por 100 mil habitantes (RODRIGUES; DADALTO, 2013) em contraste com os dados de 2016.

Contudo, consideramos a violência como fator estruturante da história do Espírito Santo, especialmente nos processos de mudança no ordenamento político e econômico vinculado às atividades extrativistas da madeira, às disputas de fronteira territoriais e aos conflitos por terra, bem como nos ciclos do desenvolvimento industrial, a partir da década 1970, que atingiram a RMGV e atualmente se estendem para o interior do Estado.

Observe-se também que os programas voltados às políticas de segurança pública estão na pauta dos governos estaduais desde o período da redemocratização. O governo capixaba foi o primeiro a aderir ao Sistema Único de Segurança Pública, em 2003. Em 2005, publicou o Plano Estratégico Espírito Santo 2005-2025 (ES 2025), elaborado em parceria com grupos empresariais organizados, propondo a modernização do aparelho de segurança e um salto de qualidade e eficácia na gestão dos sistemas de segurança (BITTENCOURT, 2016).

Desse modo, o objetivo deste artigo é propor uma reflexão em relação aos sentimentos produzidos e substancializados em interações estabelecidas nas RSD durante a crise de segurança pública desdobrada no Espírito Santo, em fevereiro de 2017. Para tal, metodologicamente, partimos do conjunto de dados de um caderno de campo digital composto no período da paralisação da Polícia Militar, tomando como fontes principais as plataformas YouTube, Facebook, Instagram e WhatsApp[2], suplementadas com a descrição do evento disponível na Wikipédia[3].

A opção pela descrição do evento a partir dos dados da Wikipédia se justifica na compreensão, de antemão, de que este sítio, em função de seu status de livre colaboração pautada na filosofia do software livre, é uma expressão, ainda que difusa e não sincrônica, de um grupo identitário específico. Esta plataforma constitui-se uma fonte pertinente, não menos que os veículos de comunicação local. A Wikipédia é contemplada na categoria mídia nativa, em função da multiplicidade de atores que podem incidir na construção de seu conteúdo, sem a atribuição a um sujeito individual, grupo de pessoas ou organização de cunho estatal ou corporativo. Além disso, os eventos na Wikipédia se apresentam regulados de forma cronológica.

A partir da descrição, propomos uma análise sobre o manejo das sentimentalidades relacionadas aos fatos narrados na “voz” de representantes dos moradores da RMGV e do interior que, diante do computador ou portando dispositivos móveis por meio do rastreamento das hashtags #grevePMES, #EspíritoSantopedesocorro e #SemMedo, expressaram-se em vídeos e textos.

Desta forma, o tratamento etnográfico de mídias nativas é a base da discussão na qual procuramos problematizar a temática dos sentimentos de percepção de insegurança e medo e as configurações que eles tomam em ambientes digitais, em que emergem e circulam.

A crise de segurança nas RSD

A suspensão das atividades da Polícia Militar culminou em uma série de eventos e alterou significativamente a rotina da maior parte das cidades capixabas. Nas RSD, neste período e em especial na primeira semana, a população sobressaltada e crítica atribuiu ao Movimento diversos nomes, mas o mais utilizado foi “feriado/semana do bandido”. Segundo dados do caderno de campo digital, coletados das plataformas digitais YouTube, Facebook e WhatsApp, bem como dos sites de jornais locais, os eventos obedeceram à seguinte cronologia:

3 de fevereiro de 2017 – no período da manhã, esposas, amigos e demais familiares de policiais protestaram em frente ao destacamento da Polícia Militar, bloqueando a saída de viaturas no Bairro Feu Rosa, na Serra. Nenhum veículo saiu do destacamento para atender às regiões de Jacaraípe, Nova Almeida, Manguinhos, Feu Rosa e Vila Nova de Colares. Segundo a Polícia Militar, os protestos foram pacíficos. A paralisação efetivamente começou na madrugada de sábado, 4 de fevereiro, com protestos nas cidades da Grande Vitória, Linhares e Aracruz, Colatina e Piúma. Os manifestantes reivindicavam a correção da remuneração dos policiais militares pela inflação do período, além do retroativo referente à ausência dessa correção desde 2010, do auxílio-alimentação, e dos adicionais de periculosidade e de insalubridade.

Também pediam a anistia geral de sanções administrativas e judiciais que poderiam ser impostas aos policiais e manifestantes.

de fevereiro de 2017 – foram enviados para o Estado 1.200 soldados das Forças Armadas e da Força Nacional. O Governador nomeou a greve de “chantagem”.

de fevereiro de 2017 – houve confrontos entre os próprios civis. Grupos de moradores da região foram aos quartéis na tentativa de convencer os manifestantes a desocuparem o local. Moradores protestavam exigindo a volta do policiamento. O Exército precisou controlar a manifestação.

de fevereiro de 2017 – a Polícia Civil fez paralisação pela morte de um policial civil em Colatina. Também nesta data é publicada, no Diário Oficial, a transferência do controle da segurança do Governo do Espírito Santo às Forças Armadas.

10 de fevereiro de 2017 – a Polícia Militar indicia 703 policiais militares pelo crime de revolta. Se condenados, a pena é a detenção de 8 a 20 anos, em presídio militar e a expulsão da corporação. Representantes dos policiais militares fecharam acordo com o Governo para cessar o Movimento. A negociação terminou sem reajuste salarial para a categoria, mas ficou acertado que o Governo iria desistir das ações judiciais contra as associações e iria formar uma comissão para regulamentar a carga horária dos policiais. Uma das manifestantes que ocupavam a porta do Batalhão de Missões Especiais, em Vitória, negou que o Movimento tivesse se encerrado após a reunião entre associações e Governo. No dia seguinte, os manifestantes ignoraram o acordo entre o Governo e as associações, alegando falta de legitimidade.

de fevereiro de 2017 – a Justiça Estadual ordenou identificar, intimar e citar todas as pessoas que estivessem bloqueando o Quartel de Maruípe ou os batalhões da Polícia Militar. O juiz responsável autorizou, nesse caso, o uso da força policial. Quem não saísse da frente dos batalhões poderia ser multado em dez mil reais ao dia.

de fevereiro de 2017 – após reunião com o Governo do Estado, mediada pelo Ministério Público do Trabalho, houve consenso entre as partes.

de fevereiro de 2017 – as mulheres e familiares do Movimento desocuparam os quartéis de manhã.

02 de março de 2017 – foi realizada a primeira audiência para negociar benefícios.

Assim, dadas as controvérsias em relação às origens e à coordenação que levou à paralisação nos trabalhos de parte significativa do efetivo da PM/ES, bem como as diferentes atribuições dadas pelos usuários das plataformas pesquisadas, mantivemos neste artigo a designação “Movimento de Mulheres, Parentes, Amigos e Simpatizantes da PM/ES”, especialmente pela reivindicação dessa identidade feita pelos organizadores das manifestações e pelos interlocutores desse Movimento nas RSD (Facebook, YouTube, Instagram, WhatsApp) e em depoimentos coletados por diferentes agências de comunicação de circulação local, nacional e internacional.

Ainda que as entidades representativas dos policiais militares em alguns momentos tenham tentado falar em nome da categoria, nem elas, nem os próprios policiais militares se autodesignaram como propositores e coordenadores das ações. A Figura 2 registra uma cena representativa do Movimento, com mulheres acampadas em frente ao portão do Quartel Militar de Maruípe, na capital Vitória.

Mulheres do Movimento de Mulheres Parentes Amigos e Simpatizantes da PMES acampadas
Figura 2
Mulheres do Movimento de Mulheres Parentes Amigos e Simpatizantes da PMES acampadas
Tânia Rêgo/Agência Brasil[4]

O foco da análise será colocado sobre o agente genérico, o “território”, e, ao mesmo tempo, sobre o “fluxo” de agentes e agências indexado por hashtags nas RSD. Isto porque, segundo Costa-Moura (2014, p. 142), as hashtags são usadas para

marcar mensagens individuais como pertencentes a um grupo específico, ou marcar as mensagens como relevantes para determinados tópicos ou assuntos. Funcionam também como balizas para que os usuários encontrem e sigam (se filiem à cadeia) ou articulem listas de contatos ou apoios públicos com outros usuários de interesses semelhantes. Além disso, aparecem de modo informal, apenas para expressar algo em uma mensagem (como um contexto, por exemplo), sem nenhuma intenção de categorizá-la para busca posterior ou compartilhamento.

Por meio do rastreamento das hashtags #grevePMES, #EspíritoSantopedesocorro e #SemMedo, procuramos apresentar, de forma reflexiva, o manejo das sentimentalidades relacionadas ao evento na voz dos moradores usuários das RDS[5], diante de notebooks e computadores ou portando dispositivos móveis.

A afirmação de que boa parte dos usuários do ciberespaço, em particular das RSD, divide-se em nativos ou migrantes é razoavelmente aceita em diversos níveis de análise. Por sua vez, a condição de produtor/coprodutor dos conteúdos e territórios midiáticos é alvo de controvérsias. Partimos da premissa de que a recepção das tecnologias de informação e comunicação não é passiva. À medida que o consumidor de produtos midiáticos ganha centralidade e é reconhecido como produtor, torna-se relevante compreender qual seria o teor desta produção, suas propriedades e regimes de construção e legitimação.

Assim, acreditamos que a forma menos incompleta para designar estas experimentações-produções seria a categoria mídias nativas, proposto pelo sociólogo Di Felice (apud PEREIRA, 2007). Partindo dessa categoria, incluímos em seu gradiente de sentidos qualquer produção midiática caseira desenvolvida por seja qual for o sujeito, empreendendo narrativas próprias, com ou sem roteiro previamente desenvolvido, através do manuseio de dispositivos eletrônicos que possibilitem a sua configuração. São eles igualmente partícipes de um ecossistema, no interior do qual habitam aqueles que criam conteúdos na rede (DI FELICE, 2018).

Nessa direção, o material etnográfico proposto para esta reflexão, à medida que circulou nas RSD, tornou-se agente, ganhou vigor e vida relativamente autônoma, e assim foi categorizado como entes digitais. A nossa percepção dos entes se afasta da visão heideggeriana, que os submete ao ser que lhes daria vida (HEIDEGGER, 2002). Os entes digitais são per si actantes e impactam significativamente as experiências de pessoas comuns quando com eles dialogam no intuito de narrar in loco eventos significativos, conforme seus próprios critérios de avaliação, seleção e edição. Eles são o cerne da mídia nativa na acepção ampliada do termo proposto por Di Felice (2018).

Campo empírico de pesquisa

Existem diversas formas de coleta e análise de dados no e pelo ciberespaço no que diz respeito aos sentimentos. Malini, Ciarelli e Medeiros (2017, p. 2) registram que “o papel da análise de sentimento cresceu significativamente com a rápida difusão das redes sociais, microblogs e fóruns”. Por sua vez, Liu (2010) sinaliza a importância de se entender as opiniões expressas pela demonstração de sentimentos no processo de tomada de decisões. Muitas destas análises propõem categorizações de agências e movimentos de associação no ciberespaço.

Ainda, Boyd (2010) indica a existência do que chama de “audiência invisível”. Ela consiste na apreciação mútua de pares em RSD. Parte da energia investida pelo usuário tem como núcleo a preocupação em controlar a audiência, procurando os denominados “amigos” e “seguidores”. No processo de agenciamento dos sentimentos, diante de temas controversos, as dinâmicas das redes de associações são afetadas.

Outra forma de lidar com a análise dos sentimentos nas malhas digitais passa pela constituição de enormes bancos de dados que são recolhidos a partir da mineração por meio de softwares. O tratamento de dados minerados por softwares possibilita a construção de uma percepção mais global acerca das ondas e frequências emocionais acionadas por distintas redes. Neste sentido, Bollen, Pepe e Huina (2011, p. 4) defendem que

a análise de sentimentos de um corpora de texto-minuto (tais como os tweets) é eficiente. Tal contribuição é pautada na ordem da linguagem, onde a ferramenta de coleta de dados a partir da seleção de termos, expressões e palavras procura inferir os sentidos possíveis do material armazenado, obtida através de uma abordagem sintática, baseada no termo que não requer nenhum treinamento ou aprendizagem de máquina.

Para este trabalho, percorremos o ponto de vista metodológico proposto por Hine (2004) ao considerar que a intenção firmada passa por “olhar para o que aconteceu on-line e ter a imagem completa do porquê ele era socialmente relevante ou significativo” (HINE, 2004, p. 4). A pesquisa etnográfica no e pelo ciberespaço vem sendo desenhada nas duas últimas décadas a partir dos esforços de pesquisadores. Parte de uma intensa discussão que vai da condição ontológica deste novo território, passando pela complexa produção de avatares (corpos, emoções, autonomia), alcançando a miríade de associações características dos ciberambientes.

Nesta direção, para esta análise, nos alinhamos às perspectivas de estudo que investem mais objetivamente sobre as interações nestes cenários, concebendo-os como portadores de idiossincrasias próprias e complexas que não permitem a mera transposição da etnografia face a face para o rastreamento de ambientes digitais.

Dessa maneira, o procedimento de coleta de dados passou por um trabalho artesanal, buscando o rastreamento in loco dos agentes nos trajetos que perfazem na web. Isso implicou acompanhar diariamente perfis, páginas, blogs, fóruns ou qualquer outro espaço em que os agentes da pesquisa transitaram ou em que temas/eventos que estes agentes procuravam compreender eram atualizados, replicados, debatidos. Os agentes em questão se apresentavam em dois tipos de substância: os sujeitos - moradores do ES e donos de perfis nas RDS que serviram de fonte primária para a pesquisa - e as hashtags. As hashtags aqui são compreendidas como o amálgama da ação humana e da ação não humana (maquínica). Elas constituem actantes digitais de natureza diversa da humana, ainda que elementos que as componham constem como entidades autônomas.

Também o recurso à Etnografia Multi Sited (MARCUS, 1995) indica a necessidade da transposição de fronteiras por parte do etnógrafo, pautando a pesquisa com a consideração das agências dos sujeitos em redes e conexões como práticas que se modulam em diferentes escalas. Para Marcus (1995, p. 105), “o pesquisador deve seguir as cadeias, as trajetórias e os fios que fazem parte de um fenômeno específico e tratar de fazer conjunções ou justaposições de situações, estabelecendo uma conexão ou associação entre elas”. Tal recurso se justifica, pois entendemos que estamos lidando com um contexto multissituado ao rastrear agentes híbridos em sua circulação em plataformas digitais distintas.

O caderno de campo digital

Durante o período do Movimento, a reclusão domiciliar da população foi potencializada a partir da recepção de relatos textuais, imagens e vídeos de ocorrências, como assaltos, agressões e execuções, propagados pelas RSD. Também as agências de comunicação locais, e mesmo as percepções diretas vividas nas ruas ou presenciadas das varandas e janelas das residências dos moradores, intensificavam o sentimento de insegurança e medo.

As equipes de cobertura jornalística concentravam-se, na maior parte do tempo, na entrada do Primeiro Batalhão da PM / ES, em Vitória, onde em tese estaria o comando do Movimento. A cobertura dos eventos, na RMGV e no interior, era precária, dado o estado de alerta e as várias zonas fechadas por grupos criminosos locais. Neste contexto, já começava a ser construída a representação de que a grande mídia estaria tão confusa quanto qualquer outro morador da cidade.

Nesse cenário, os moradores passaram a registrar imagens, com seus dispositivos móveis, e a produzir textos de narrativas autorais e/ou com base em fontes institucionais sobre os eventos e divulgar essa produção nas RSD. Em pouco tempo, as RSD assumiram, para seus usuários, o papel de difusoras mais confiáveis e cronologicamente mais ágeis de notícias. Da imprensa, na TV ou no Rádio, eram esperadas apenas as informações referentes aos agentes político-institucionais, ao Governo, à situação em frente aos quartéis e às repercussões na mídia nacional dos eventos vividos no Estado. Inúmeras postagens autorais e memes sinalizavam a baixa confiança nos veículos de comunicação tradicionais, mesma desconfiança identificada nas jornadas de junho de 2013 e revelada na coletânea de textos sobre o movimento organizada por Cava e Cocco (2014).

Na intenção de explorar vídeos publicados no YouTube e as reverberações provocadas em seu processo de circulação entre as mídias Facebook, WhatsApp e Instagram, tomaremos três momentos paradigmáticos (controversos) no contexto do “feriado/semana do bandido”: a chegada da Força Nacional, os saques ao comércio e a intervenção urbana #SemMedo. Essas situações constituíram-se como eventos significativos (SAHLINS, 2004), produzidos nos ciberterritórios durante o período que durou o Movimento e cuja natureza das interações e revalidações de categorias nativas, bem como as negociações no plano dos sentimentos, procuramos compreender.

Pela quantidade de material que se produziu ininterruptamente, a opção foi discutir sem seccionar os domínios observados. Com a circularidade das informações e as ressignificações emergidas em cada ciberambiente, organizamos as reflexões a partir de eixos segundo imperativos do campo empírico. O trânsito no ciberespaço se faz a partir de um conjunto de negociações, que incluem um grupo de objetos técnicos e distintas redes que operaram naquele território, de modo que o território se converte em laboratório e é marcado por uma série de controvérsias que evidenciam a gama de redes em que o labor do etnógrafo está envolvido (LAW, 1994).

Os eixos ordenadores que emergem a partir de eventos e geram desacordos e questionamentos em relação aos sentidos da parte de quem os vivencia – ou seja, a partir de eventos que colocam o repertório de categorias nativas em risco – são denominados por Latour (2001) como controvérsias. Esclarecemos ainda que os relatos disponibilizados neste trabalho são peças apresentadas de forma aleatória, mas que obedecem às categorizações mencionadas. O procedimento se justifica em função do limite de caracteres para produção do artigo e o intuito de privilegiar a discussão.

A chegada da Força Nacional

Com o decreto de Intervenção Federal no Espírito Santo, os primeiros veículos do Exército Brasileiro oriundos do Rio de Janeiro começaram a chegar no dia 7 de fevereiro. O número de soldados foi aumentando ao longo dos dez dias seguintes, até alcançar a cifra de 3.454 militares. A vinda dos militares era aguardada com ansiedade pela população. Havia expectativa de restauração da ordem, uma vez que a ação do Governo local estava desacreditada.

Exército na BR101 na SerraES
Figura 3
Exército na BR101 na SerraES
Divulgação / Ministério da Defesa

A chegada do Exército foi regada a aplausos das sacadas dos edifícios de diferentes bairros da capital. Com a distribuição do efetivo pelas cidades, começaram a ser veiculados, nas diferentes plataformas no circuito das RSD, vídeos nativos, transmitindo em tempo real a passagem do Exército nas áreas residenciais, especialmente nos bairros considerados nobres pela população. A maior parte dos vídeos publicados no YouTube era gravada das sacadas, varandas e janelas de edifícios, possivelmente por meio de aparelhos celulares. O cenário comum a todos era uma narrativa espontânea do produtor e, ao fundo, gritos, aclamações, muitas palmas, assobios e até mesmo a queima de fogos de artifício.

Em vídeos lançados na rede, era possível ouvir os portadores dos dispositivos técnicos saudando de forma emocionada os militares, chamando-os de “heróis”, incentivando-os a “colocar ordem, matar bandidos” e defender aqueles que os próprios portadores de dispositivos técnicos, produtores e publicadores dos vídeos, nomeavam como “cidadão de bem”. Os vídeos nos sítios nas RSD receberam comentários em tons ora de revolta contra aqueles que eram designados como “bandidos”, ora de satisfação pela chegada dos heróis e pela volta da ordem, ora de odes ao retorno do Regime Militar e a possíveis candidaturas políticas, como a do então deputado Jair Bolsonaro.

As imagens da recepção feita pela população à Força Nacional, assim como as reações aos saques e à intervenção urbana #SemMedo, foram o gatilho para a vivência/expressão de emoções em diferentes tonalidades e escalas. Selecionamos alguns vídeos e comentários feitos pelos seguidores para a composição parcial deste relato.

Os vídeos foram assim identificados: “exército chega ovacionado no Espírito Santo (igual a gol da seleção) e já entra em ação!” (182.165 visualizações); “Espírito Santo pede socorro. (99.214 visualizações); “Povo aplaude chegada do exército no Espírito Santo” (3.450 visualizações) e “Finalmente exército chega ao Espirito Santo e é recebido com aplausos e festa” (2.615 visualizações).

Quanto aos comentários, foram selecionados os seguintes textos que circularam nas RSD, após a exibição dos vídeos:

“Eu não sei, mas o exército devia matar pelo menos 50%, o resto matava depois.”

“Chega de políticos Safados, vagabundo, intervenção militar para salvar nossa nação; povo tá tão desesperado por segurança que vê 4 caminhões do exército e já comemora...”

“Orgulho de ser militar do exército! Vamos combater a bandidagem e acabar com o crime de uma vez!! #BolsonaroPresidente”

“Tive o privilégio de estar aí e descer a borracha em mal elemento, obrigado a todos que nos deram suporte e motivação.”

“Os caras já chegam ferrando os ladrões que maravilha”

“Só acho que o EXÉRCITO deveria estar atrás de bandido, dentro dos bairros onde o tiro tá comendo solto e NÃO sendo usado pra apagar foguinho. Ficam parados em frente ao quartel e o bicho comendo. VIERAM PRA FAZER FIGURAÇÃO??? 😲 😲 😲 😲 #ESpedesocorro #OrePeloEs”

“Acho lindo a TV mostrar que está tudo bem na Praia do Canto, Praia da Costa, Jardim Camburi, Itapoã, entre outros bairros nobres! Não ouvi falar que a Força Nacional subiu os morros de Vitória ou entrou em Feu Rosa, Vila Nova e outros bairros. Convido-os a passar uma noite nesses bairros pra ver como está a situação!”

“Não acabou! Força Nacional ajudando o governador a fazer a população de idiota! Bem a cara desse governo PH mesmo!” “Vamos lançar uma enquete, alguém aí viu algum carro da força nacional atuando? Pode ser em vídeo .. pq eu não vi nenhum até agora, só vi o exército.”

“sim, o que tem de vídeo mostrando “gente de bem” roubando é gigantesca. O Brasil decaiu tanto que até isso precisamos aprender a ver. #e usoucapixaba#ESpedesocorro”

Os saques ao comércio

Nos primeiros dias da “semana do bandido”, o comércio de rua não sofreu alterações no seu funcionamento. Foi a partir da paralisação do transporte coletivo, em função de uma onda de assaltos aos ônibus, que os comerciantes, desde pequenos empreendedores aos grandes lojistas, cerraram as portas de seus estabelecimentos. Rapidamente, surgiram as postagens de imagens e narrativas textuais, oriundas de diversas localidades do Estado, sobre ocorrências de saque. Boa parte dos registros de saque que a própria imprensa exibiu na TV era proveniente da mídia nativa, enviada pelos “internautas” (designação que os editores adotaram em releases dos jornais locais), através do aplicativo WhatsApp.

As narrativas dos internautas abarcavam desde os dramas pessoais dos pequenos empreendedores a longos takes de quebra de portas e de transferência, sobretudo, de eletrônicos dos stands das lojas para carros, bicicletas, carrinhos de compra. Os saques mais expressivos se deram na RMGV e na cidade de Cachoeiro do Itapemirim. A grande surpresa girava em torno da constatação de que o sujeito saqueador era aquele considerado “cidadão de bem”. Com este pressuposto, as autoridades municipais criaram postos de devolução dos itens furtados com premiação por meio das isenções do registro policial e do indiciamento dos protagonistas. Muitos dos chamados “cidadãos de bem” registraram vídeos se retratando e/ou fazendo a devolução dos bens que extraviaram[6].

Os vídeos dos saques rastreados foram: “ESPIRITO SANTO PEDE SOCORRO”, com 99.214 visualizações; .VIDEO: #1 : Caos em Espírito Santo... Saques e vandalismo” (3.424 visualizações); “Vídeo: Internautas registram os saques na Ricardo Eletro de Cachoeiro” (1.867 visualizações); “Vídeo: Internautas registram os saques na Ricardo Eletro de Cachoeiro” (1.867 visualizações); “vídeo: CAOS NO ESPIRITO SANTO - GREVE DA POLÍCIA - ARRASTÕES, SAQUES e ASSALTOS” (19.416 visualizações); “Invasão e saque na loja da Ricardo Eletro em Vitoria - Espirito Santo” (64.192 visualizações).

Quanto aos comentários reativos aos vídeos, selecionamos:

Só no nosso país, nosso governo do ES, olha ... é gente de classe média, classe baixa, classe alta só roubando ... gente vem com carrinho de compra pra fazer feira, só que a feira deles não é de comida não, é roubo”

“Triste ver a população roubando as coisas das lojas como se fossem animais”

“Tem que ter pena de morte no Brasil”

“Mas não acaba guerra com guerra’ leva flores pros bandido pedindo paz pra vê o que acontece !!!! #Bolsonaro2018”

“ja pensou ki pika seria se os policias do RJ entrasse em grave, seria tenso.”

“Impressionante como o desarmamento aqui funciona né? 90% dos bandidos todos armados.”

“Estou horrorizada, muito triste, amiga temos que orar muito 😓😓😓” “Nossa, quanta tristeza, muitos desse ladrões são jovens; arriscar a vida por uma televisão; e o pior que os moradores não têm arma de fogo pra se defender, em caso deles decidirem roubar as casas com pessoas dentro. Nunca, meu sonho è voltar pro Brasil, mais que nunca voltarei, nem que seja pra visita, que Deus ajudem vocês ai.♥♥♥

Intervenção Urbana

Na noite do dia 9 de fevereiro, Rike Soares, dono de três casas de shows em Vitória, transitou pelas ruas da capital com um carro de som tocando a música “Imagine” (John Lennon) e projetando nas fachadas dos edifícios residenciais a hashtag #SemMedo. Quase que a totalidade dos moradores, alojados em suas casas por uma semana, aplaudiu de suas sacadas a iniciativa. Vários vídeos foram produzidos e rapidamente lançados nas RSD.

O conjunto de imagens foi replicado após o horário de exibição dos telejornais locais, de forma que a circulação intensa em diferentes redes foi impulsionada basicamente pela ação dos usuários das RSD. Os comentários eram indexados com a hashtag #SemMedo, projetada pelo empresário, e suscitaram diferentes reações, desde aclamação a críticas relativas às limitações estéticas da intervenção, ao oportunismo e ao caráter despolitizado da performance.

Os vídeos rastreados foram: “Carro de som em Vitória ES” (1.430 visualizações); “Carro toca ‘IMAGINE’ de John Lennon e ilumina #SEM MEDO em Vitória, ES” (57.124 visualizações); “Moradores de Vitória surpreendidos em meio ao caos: Mensagem direta ao som de IMAGINE / John Lennon” (504 visualizações). Quanto aos comentários dos vídeos, selecionamos:

“E aí quando a gente acha que tá tudo meio que perdido vem uma pessoa de bem dessas aí... muito legal... colocando o som na rua com o carro ... e olha que coisa mais linda gente... #semmedo”

“Mas o som impediu o pessoal de roubar?”

“Meu, a intenção não era “acabar com os crimes” e sim, passar um conforto para as pessoas que estavam com medo de sair de suas casas. O ser humano é tão ignorante, que até nas boas coisas que as pessoas tentam fazer, eles acham ruim.”

“A t e n ç a o c h e g o u c h a t u b a h e i m”

“Desculpa, mas se o cara tivesse vindo com Chatuba de Mesquita ele não teria sido um babaca apenas.”

“Por que não tocou Highway To Hell do AC/DC? KKKKKKKKKK”

“Boatos que ele virou a esquina e foi roubado aushasuahs”

“Aaaaaaaatencaaaaaao chegou chatuuuuuba heinnnnnnn!!!”

“Sou mais a montagem que tem a música do chatuba”

“Isso resolveu toda a violência em Vitória?”

“Caralho, deixa eu gritar “irado”, “que lindo”, “Uhuuuuu”, “Sem medo” trancado, de dentro do meu prédio, me cagando de medo de ser estuprado, roubado e assassinado! Brasil é um piada mesmo!”

“Negoh tem que entender que a intenção da pessoa não era acabar com a violência combater bandidos ou ir contra a polícia e sim dar um acalanto uma esperança as pessoas que assim como ele estavam passando por esse momento tão difícil mostrar que mesmo em meio ao caos existem pessoas boas dispostas a lutar por dias melhores que as pessoas não podem se curvar ao medo que elas têm que seguir em frente e pela reação dos moradores por onde ele passou a mensagem dele foi bem transmitida.”

“Eu achei uma excelente iniciativa e com uma maravilhosa música, quem conhece a letra sabe o que estou dizendo. Infelizmente o mundo está precário de pessoas boas! Diante de tudo o que está acontecendo, eu fico me perguntado quantos dessas pessoas que estavam roubando lojas, mercados entre outros, também estavam na passeata contra corrupção? Quantos delas realmente precisavam daquilo que roubaram? Isso é uma coisa engraçada de se pensar, porque se o mundo não tivesse autoridade de punição isso seria considerado normal? Onde está a Ética da sociedade que deseja um país melhor mas não faz nada para melhorar!”

“Ser humano nota dez! Deus o guarde.”

“Dane-se a música, música não resolve nada; porte de arma para cidadão de bem, já.”

“Eu quero é um fuzil pra cada bom homem que essa música vai tá tocando é no beco dos vagabundos.”

“Há esperança. Aqui no canal nós nos emocionamos ao ver esta mensagem... Sabemos a realidade dura que o povo tem passado mas levantem as forças, pressionem o governo e vamos conseguir. #AbraçoES

#AmoES #VidaLongaAoES”

A estética digitalizada do medo

O rastreamento de hashtags numa perspectiva etnográfica implica a exploração dos diferentes modos de expressão dos sujeitos e/ou entes digitais. A revisão reflexiva do caderno de campo digital privilegiou o conteúdo imagético propriamente dito (ainda que não desenvolvamos neste artigo uma análise densa dos vídeos, fotografias e memes) e as expressões textuais e icônicas selecionadas, na intenção de refletir sobre a produção, manifestação e compartilhamento dos sentimentos nas RSD.

Algumas questões emergiram: as sentimentalidades e os humores produzidos em interações no e pelo ciberespaço guardam algum tipo de especificidade? Eles são substancializados a partir de categorias afetivas culturais exclusivamente atualizadas no e pelo ciberespaço? As emoções podem se autonomizar e se converter em agentes, especialmente aquelas em que as pessoas se encontram submetidas à situação de insegurança e medo extremo?

Argumentamos que, em contexto de comoção coletiva, as imagens funcionam como disparadoras de emulações e catarses e como produtoras de narrativas apoiadas em roteiros sentimentais expressivos e implosivos. Para nós, esta questão fica evidenciada, especialmente em situação de insegurança e medo. A panaceia resultante de imagens, contextualizadas e não contextualizadas, de sons humanos e não humanos expostos em diferentes volumes, de edições e ausência de edição de vídeos, de frases, de acontecimentos amplia os sentidos e sentimentos de medo e insegurança.

Durante o Movimento, as notícias sobre assassinatos, as visualizações de saques, o louvor à chegada da Força Nacional, a intervenção urbana #SemMedo proporcionaram a possibilidade de construção e organização da realidade do evento a partir da experiência atualizada/re-atualizada como medo e insegurança. Koury (2005, p. 103) destaca, em relação às imagens, que “sempre presentes e deslocadas do sujeito que a observa e autônoma a ele e com vida própria, elas se permitem colocar para o observador como os olhos que imprimem o real”. No período da paralisação, observamos que as expressões das emoções em contextos informacionais, que são ao mesmo tempo manifestações dos agentes humanos e emergência de agentes digitais (híbridos de homem-máquina), exprimiram-se como formas de atualização/ re-atualização de experiências.

Desta forma, as emoções vivenciadas nas e pelas redes digitais, do ponto de vista do agente humano, incidem decisivamente na construção simbólica dos eventos a partir do olhar do produtor e do receptor que decidem, em rede e em interação com a máquina (software e hard), “o que vale a pena conservar no caos ou na existência multifacetada de um cotidiano” (KOURY, 2005, p. 103).

Nesse sentido, ainda do ponto de vista do actante humano, a crise de segurança no Espírito Santo em 2017 se constituiu nas RSD como uma miríade de dramas coletivos protagonizados por agentes que constroem interpretações dos eventos a partir da experiência do risco. A insegurança pela ruptura do ordinário sacudiu o repertório de categorias nativas, cujo processo se cristalizou, dentre outras formas, em emoções. A sensação de risco motivadora do medo resultou em pane do sistema simbólico compartido.

Por conseguinte, emergiram os mexericos, sobretudo no WhatsApp, em termos como já haviam sido identificados por Elias e Scotson (2000, p. 129): “o grupo mais bem integrado tende a fofocar mais livremente do que o menos integrado, e que, no primeiro caso, as fofocas das pessoas reforçam a coesão existente”. Neste sentido, foi significativa, reforçando a análise realizada por Elias e Scotson, a rejeição da população à versão transmitida pelo Jornal Nacional, da Emissora Rede Globo, sobre o fim da paralisação. Como exemplo, uma postagem que circulou nas plataformas pesquisadas afirmava ironicamente: “E quando o Jornal Nacional diz uma coisa e o Whatsapp outra?”.

Para Granovetter (1973), os laços que caracterizam as interações estabelecidas nas RSD por meio da sobreposição de redes de amizade entre indivíduos variam diretamente com a força de suas conexões. O autor sugere que o impacto do princípio de difusão da influência, da informação, de oportunidades, de mobilidades e de organizações comunitárias é explorado. O debate proposto por Granovether fortalece nosso argumento sobre o impacto das RSD de promover níveis maiores de confiança do que os depositados em agências de comunicação, corroborando os sentimentos de medo e de insegurança durante os eventos do Movimento.

Nesse contexto, os boatos circularam na forma videográfica e nas reações expressas nos comentários, rapidamente replicados, aumentando a sensação de insegurança e de medo da população. A postagem de um vídeo ainda “inédito” nas RSD também potencializava a performance do usuário que estava a todo momento controlando a audiência, a partir dos sentimentos que ele suscitava nos “add” de suas redes. Era um fenômeno paralelo que ocorria e que, recorrendo a Elias (1994, p. 213), podemos considerar como sendo o medo de perda de prestígio que é

aos olhos dos demais, instilado sob a forma de auto compulsão, seja na forma de vergonha, seja no senso de honra que garante a reprodução habitual da conduta característica, e como sua condição um rigoroso controle das pulsões em cada pessoa.

Nesse sentido, também podemos considerar que o medo, como experiência em rede nos ciberambientes, é constituído na dimensão digital da cidade. Não há separação entre a cidade material e a digital (LEMOS, 2007). Entretanto, ênfases em experiências on e off-line são impressas em determinados contextos. No contexto de aquartelamento da PM/ES, que se desdobrou no “sitiamento domiciliar” da maior parte dos moradores das cidades capixabas, claramente, a vida pública, as interações cotidianas passaram a ser preferencialmente exercidas no ciberespaço.

Sendo assim, as RSD, enquanto infovias, foram os espaços de dramatização da quebra do ordinário, o lugar onde todos podiam se encontrar, se expressar, trocar informações – já que não se sentiam seguros com a cidade material nem tampouco com o papel da mídia. De certa forma, as RDS também se configuravam como o território da produção da sensação de “estabilidade mínima”, ainda que substancializada na reciprocidade e no compartilhamento dos sentimentos, especialmente do medo.

Desse modo, o reconhecimento da dimensão digital da cidade e a possibilidade de construção das interações nas infovias dão suporte para compreender a produção intensiva de narrativas digitais. A emergência e a circulação das mídias nativas em contextos de instabilidade são um bom caminho para compreender que “a estética do medo é a constatação material mais figurativa na transformação da cidade” (ECKERT; ROCHA, 2008, p. 82). Como produto dessa dinâmica, especialmente durante o Movimento, as RSD potencializaram os sentimentos de medo e insegurança vigentes na sociedade capixaba, amedrontada com os níveis de violência em curso desde o final do século XX.

Destacamos, contudo, que a opção pelo rastreamento das hashtags #grevePMES, #EspíritoSantopedesocorro e #SemMedo não consistiu numa simples e pragmática opção metodológica. As hashtags são entes digitais complexos, demarcam fronteiras e cursos distintos no fluxo das redes de sociabilidade. Elas ligam sujeitos não apenas pelo conteúdo descritivo das temáticas em torno das quais se constituem. As hashtags ligam experiências por meio do devir imagético e textual. Sentimentos também são indexados e ordenados em fluxo por elas.

Na “semana do bandido”, o medo e a percepção de insegurança foram as substâncias que moveram as interações entre as pessoas. O território privilegiado para as suas manifestações/produções/retroalimentações foi o ciberespaço. Novamente, Eckert e Rocha (2008, p. 76) reforçam nosso argumento, ao pontuarem que “a cultura do medo vivida pelos grupos urbanos em questão desestabiliza a previsibilidade da cosmovisão de grupos e de suas ações rotineiras com base em referências institucionais e papéis socialmente objetivados”.

Também as noções relativas à conduta diária foram questionadas com a suspensão e/ou restrição temporária das interações no mundo das materialidades. O cotidiano off-line dos moradores de grande parte das cidades do Estado foi articulado à ação individual e coletiva de uma maneira específica. Dessa forma, o ciberespaço apresentou-se como um lugar onde se estabeleceram mapas mentais e um tipo diferente de educação sentimental.

A hashtag como um ente digital cumpriu também, em alguma medida, o papel de avatar, o “avatar do medo” substancializado em bites. Para Eckert e Rocha (2008, p. 94), “trata-se aqui de se conceituar o medo como valor”. Esse medo se torna agente digitalizado, híbrido e cambiante, “contendo qualidades simbólicas, um ‘valor’ [...] em nome do qual se realiza o processo de articulação das ideias relacionais que amalgama a ideia de cultura como sistema simbólico e de sociedade como atualização de uma nova ordem social” (ECKERT; ROCHA, 2008, p. 94).

O medo, tornado avatar pelas expressões dos sujeitos que se valem da hashtag para acessá-lo e/ou criá-lo, atua como um agente mais que humano e que transita no seio da cultura e dela é partícipe e coprodutor. A indexação pela hashtagé um jogo no qual jogam os agentes individuais e coletivos por meio dos seus próprios avatares, numa arena de alteridades que se produzem mutuamente. Nesse sentido, tratou-se não apenas da emergência de novas linguagens da emoção, engendradas no e pelo ciberespaço, mas emergiram também novos agentes e novos modos de interação e associação: emoções de medo e insegurança hibridizadas com elementos maquínicos, cristalizadas em entes virtuais, tornadas avatares.

Considerações finais

Nesse artigo, procuramos apresentar uma revisão reflexiva do caderno de campo digital produzido durante a crise de segurança pública no Espírito Santo, em fevereiro de 2017. O propósito foi levantar algumas questões gerais do ponto de vista da constituição e circulação dos sentimentos de medo e da percepção de insegurança da sociedade capixaba, nas RSD, durante o período do Movimento de paralisação da Polícia Militar.

Os comentários registrados pelos seguidores das hashtags #grevePMES, #EspíritoSantopedesocorro e #SemMedo expressaram os imperativos colocados pela própria natureza dos eventos em torno dos quais eles emergiram e que pautaram a tematização da cultura do medo e do risco. Nesse sentido, também os comentários potencializaram os sentimentos do cidadão comum sobre a figura do “bandido”, conforme reflete Michel Misse (2010). O mais preocupante foi verificar que, para grande parcela desses cidadãos comuns – que escrevem nas RSD, aqui presente de forma aleatória –, “bandido bom é bandido morto”; embora aquele que é considerado “cidadão do bem” cometa crimes, mas não recebe o mesmo tratamento por parte da sociedade e das instituições.

No entanto, pensar nos sentimentos a partir de interações no ciberespaço pressupõe a consideração de agentes híbridos. Neste sentido, em situações de violência extrema, tal como a vivenciada pela população capixaba em fevereiro de 2017, entendemos que acontece a transubstanciação do medo em entes digitais encorpados em registros videográficos, textuais e icônicos, tal como pressupõem Eckert e Rocha (2008), bem como acontece o estreitamento dos laços fortes, como apontado por Granovetter (1973).

As hashtags funcionaram, assim, como indexadoras das experiências do risco e, mais que categorizadoras, podem ser entendidas como uma das possibilidades de avatarização do medo. O medo-hashtag é um ente digital que emerge de mídias nativas e ganha a condição de agente autônomo, cambiante e anacrônico que passa a interagir com os usuários das RSD. Como tal, são potencializadores de sentimentos que conduzem às mais diversas reações da sociedade.

A intenção deste debate é contribuir para a reflexão acerca das emoções produzidas nas interações em ciberambientes, abrindo novas possibilidades de encarar, pela etnografia, o tema da violência e segurança pública. Não analisamos pontualmente cada uma das categorias de mídias nativas apresentadas. No momento, uma reflexão mais geral em torno das emoções parece ser a contribuição possível.

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Notas

[1] Os dados do ano de 2017 são do Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol-ES). As informações dos anos anteriores são da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SESP-ES). Disponível em: <http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2017/02/em-7-dias-es-ja-tem-quasenumero-de-mortes-de-todo-fevereiro-de-2016.html>. Acesso em: 24 fev. 2019.
[2] A abundância da produção e divulgação de vídeos em RSD favoreceu a escolha dos vídeos que formaram o caderno de campo digital, no entanto, dificultou a identificação dos mesmos nas Referências, tendo em vista que, em tentativas de acessos posteriores, alguns vídeos já não estavam mais disponíveis, característica de conteúdos de internet.
[3] “A Wikipédia é um projeto de enciclopédia colaborativa, universal e multilíngue estabelecido na internet sob o princípio wiki. Tem como propósito fornecer um conteúdo livre, objetivo e verificável , que todos possam editar e melhorar. [...] Todos os editores da Wikipédia são voluntários. Eles integram uma comunidade colaborativa, sem um líder, na qual os membros coordenam os seus esforços no âmbito dos projetos temáticos e diversos espaços de discussão. [...] Todos podem publicar conteúdo on-line desde que sigam as regras básicas estabelecidas pela comunidade [...]”. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal>. Acesso em: 19 ago. 2019.
[4] Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_da_seguran%C3%A7a_p%C3%BAblica_no_ Esp%C3%ADrito_Santo_em_2017>. Acesso em 24 fev. 2019.
[5] As plataformas Facebook, Instagram e o aplicativo WhatsApp restringiram a nossa margem de coleta a alguns tipos de dados, uma vez que permitiam acessar apenas as postagens de pessoas da nossa rede de “amigos” e seguidores. Neste sentido, o YouTube foi o sítio que permitiu o acesso a um universo maior de dados.
[6] Polícia indicia 60 por saques em Cachoeiro. Foram recuperados 663 objetos levados pelos saqueadores no auge da crise de segurança, durante greve da PM. Disponível em: <https://jornalfato.com.br/policia/policia-indicia-60-por-saques-em-cachoeiro-2,236366.jhtml>. Acesso em: 14 maio 2018.
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